lunaltt
lunaltt
LUNA
5 posts
Don't wanna be here? Send us removal request.
lunaltt · 7 months ago
Text
texto escrito após meu quase-algo-que-tinha-muito-potencial-pra-ser-a-relação-mais-foda-da-minha-vida-terminar-de-vez-pq-eu-sou-uma-otaria eba
Tudo vai começar em uma conversa aleatória com seu melhor amigo. Ele te mostra um colega dele e você o acha bonitinho, pensa no quanto Ele é seu tipo, e quando seu melhor amigo fala "Pior que você também é bem o tipo Dele." você já sabe que perdeu. Seu amigo vai comentar sobre você com O garoto, Ele vai falar que você é bonita, mas nada além do seu melhor amigo e do melhor amigo Dele zoando vocês dois vai acontecer.
E aí chega Junho. Você está no pior momento da sua vida e em um fim de semana decide sacudir a poeira para variar. É o dia que Ele te segue no instagram, algo bobo, mas que chama sua atenção. Se pega postando bobeirinhas só para chamar a atenção dele, posta mais vídeos e fotos de si mesma, e a cada like Dele, você se anima mais e mais. Gosta da atenção e não se sente nem um pouco culpada por isso.
Passa Junho, Julho e Agosto, e é só no finalzinho de Agosto que o movimento começa. Estava no bar que sempre vai com seus amigos e Ele aparece. Decide fazer um joguinho bobo, mas apenas para "ver qual é a Dele". Finge não o ver, quer saber se Ele vai falar com você ou te ignorar. Ele fala, e você solta um "Nossa, finalmente nos conhecemos pessoalmente!" e Ele sorri, simpático, e concorda "Pois é!".
Não estava bem naquela noite, tinha passado por uma decepção com outras amizades e antes de ir para o bar tinha chorado horrores. Por conta de tal decepção, mal o enxergou, mas depois que parou para pensar, conseguiu notar alguns sinais. Sempre que conversava com alguém, Ele parecia estar prestando atenção em você, se ia para um canto, em questão de segundos Ele estava do seu lado, como se houvesse algo magnético entre os dois. Se lembra de um momento em particular: Quando gritou uma obscenidade para uma amiga e Ele, que estava bem distante, deu risada, se sentiu envergonhada por ter sido notada justamente quando falou algo tão vulgar, mas sorriu quando Ele comentou o quão engraçada você é.
No final da noite, pegou carona com o melhor amigo Dele para a casa de outro amigo. Ele foi junto, no banco de trás com você. Riram durante todo o caminho, Ele comentou de novo o quão engraçada você era e as histórias que Ele contava te deixavam com um sorriso tão leve no rosto que você nem lembrava o motivo de ter iniciado a noite tão decepcionada. No entanto, não nota nada disso até uns dias depois. Pensa que está maluca, mas seu coração diz que definitivamente tinha algo ali. Chega até a ficar meio incomodada, pois sabe que algo foi despertado, só não conseguia nomear o que.
Só deixa de sentir que estava maluca quando Ele começa a conversar com você. Puxa papo com você praticamente todos os dias e agora seu Whatsapp é preenchido por mensagens engraçadinhas e flertes da parte Dele. Começa a se sentir mais felizinha, naquela semana teria a festa de aniversário surpresa do seu melhor amigo, e fica animada com a possibilidade de o ver novamente. Comenta com seus amigos, que se divertem ao ver você tão felizinha e super apoiam que vocês fiquem.
Seu melhor amigo, que não sabia da festa surpresa que teria no último sábado de Agosto, te chama para o mesmo bar de sempre na sexta. Você aceita, afinal, nada seria melhor do que ver Ele dois dias seguidos. Você comenta com Ele e quando Ele confirma, você passa a semana inteira saltitante. Quando chega sexta, você está super confiante, pensa que nada pode dar errado e que já o tem na palma da mão. Só meses depois você descobre que na verdade era o inverso disso. Assim que Ele chega, vocês não conseguem se desprender um do outro. Todo o grupo conversa em um canto enquanto você e Ele estão em outro, no próprio mundinho. Percebe como Ele é meio tímido, faz piadinhas pra mascarar o nervosismo e não consegue evitar de achar aquilo adorável. Tenta avançar várias vezes, abandonar a conversa e começar com os beijos, mas Ele não cede, fica super sem graça com seus avanços. Aquilo só te deixa com mais vontade.
Se afasta por um momento e conversa com uns amigos Dele, que o xingam e falam "Meu deus, como Ele é pau mole, não é possível." e você dá risada, concordando, afinal, já tinha usado todas as suas armas de flerte e até agora nada tinha acontecido. Você até pensa em desistir, mas quando Ele volta pro seu lado e pede desculpa, você diz "Ta tudo bem, a gente pode só continuar conversando.". Mas o inesperado acontece: Vocês estão conversando, começam a falar dos ex namorados toscos que tiveram, e enquanto você tá contando alguma história, Ele diz "Ah vai, só um beijinho."
Você nem hesita, abre um sorrisão e o beija. É um dos melhores beijos que você já deu na vida, e sabe que vai ser difícil superar. Dá risada quando se afasta e vê a boca Dele manchada com seu gloss, tira uma foto e ri mais ainda quando Ele tenta tirar, só bagunçando mais ainda. A noite passa de forma tranquila, revezam entre conversar c o resto do grupo, dar uns beijinhos e conversar apenas entre si, está tão encantada que a insegurança e a ansiedade insistem em fazer sua aparição especial, você até tenta ignorar, mas elas te perseguem como uma sombra. Pergunta se Ele está incomodado com o fato de você estar "muito em cima" Dele e Ele ri e diz que não. Sua cabeça adora pregar peças em você. Quando você precisa ir embora, vai se despedir Dele por último, se beijam e é tão gostoso que você fica igual uma gatinha manhosa na frente Dele, o fazendo rir e insistir para você ir, já que seu carro de aplicativo já tinha chegado.
No dia seguinte você conta tudo pros seus melhores amigos, está radiante e quase consegue sentir seus olhinhos brilhando enquanto fala Dele. Nesse dia acontece a festa surpresa, você é a última a chegar pois chega junto com o aniversariante. Não lembra de muito desse dia, mas lembra perfeitamente de quando estava parada na frente Dele, Ele sentado, você encaixada no meio das pernas Dele, você puxando um cigarro do maço enquanto Ele fazia um carinho na sua perna por debaixo do vestido longo que usava. Se lembra de percorrer os dedos pelo cabelo Dele e Ele olhar pra cima, fazendo um biquinho e pedindo um beijo, que você obviamente cedeu. Se lembra também depois do parabéns, os dois sentados no sofá do quintal, você com as pernas em cima da Dele enquanto fumava mais um cigarro. As mãos atrevidas Dele vão para debaixo do seu vestido, tentam te provocar, vocês nem se importam se os outros convidados estão vendo ou o que estão achando. Trocam beijos e mais beijos, seu corpo pega fogo, mas sabe que nada vai rolar. Não ali. Não naquele dia.
Quando volta pra casa, continuam com as conversas, moram em cidades diferentes então não se vêem com frequência. Conversam todos os dias, o dia inteiro, conforme as conversas vão acontecendo se conhecem melhor, têm várias e várias piadinhas internas. Todos os seus amigos já sabem quem Ele é e todos dizem a mesma coisa "Amiga, aproveita". O apoio dos amigos é o que te pega. Todos escutam as histórias felizes, amando ver você com o sorriso bobo e os que não conhecem Ele já o adoram, simplesmente pela forma como você o descreve, como você diz o quão bem Ele te faz. Você mal espera para o ver novamente. Decide fazer algo que é inusitado para si mesma e o chama para ir ao cinema. Odeia dates e odeia ser a que os inicia, mas algo Nele te faz sentir que vale a pena quebrar com tal insegurança, e quando Ele aceita, você se agradece por ter sido corajosa.
Quando se encontram no shopping, não trocam um beijinho sequer, só dão um abraço tímido e começam a conversar. Compram os ingressos e ficam rodando pelo shopping até o filme começar. Você não consegue parar de rir e nem se lembra a última vez que se sentiu tão viva, tão bem consigo mesma. Se sente como uma adolescente novamente, afinal, o date foi nada mais nada menos do que um cinema, um sorvetinho e ficar rodando pelo shopping enquanto conversam. Você está mais encantada do que nunca por Ele, até tiram uma foto juntos e o quanto vocês dão um casal lindo é de partir o coração. No meio do rolê, encontram com alguns amigos Dele, ficam os 4 batendo papo e depois de encontrar com mais 2 amigos em comum, decidem finalizar o rolê. Ele decide ir para casa, teria uma prova importante no dia seguinte, enquanto você vai com seus amigos pro bar. Dão um selinho na hora de ir embora, o que te deixa completamente bobinha, afinal, passaram a tarde inteira juntos mas só ali que deram o primeiro beijo do dia.
Estava meio frustrada pelos amigos Dele terem se metido no meio do rolê, mas o humor muda quando você vê Ele chegando no bar. "Ué, você não tem prova amanhã?", você pergunta. "Sim, mas eu queria ficar mais um tempinho com você.", Ele responde. E ficam juntos no bar a noite inteira, como um verdadeiro casal. Ele não consegue tirar as mãos do seu corpo e você adora dar beijinhos atrevidos no pescoço Dele, que sabem que o desmontam todinho. Se provocam a noite inteira, flertes não tão sutís e você se pergunta se aquele é o mesmo cara que no dia que ficaram estava com tanta vergonha de sequer falar com você.
Mais duas semanas passam, você está no auge da sua paixão. Já não tem mais ansiedade e não tem mais dúvidas, gosta Dele e ponto. Não sabe como Ele se sente em relação a você, mas nem se importa tanto com isso, está tão apaixonada que se afunda na própria sensação. Tudo estava no caminho certo, as lembranças dos finais de semana que passaram juntos te deixam sorrindo boba, o apoio dos amigos te deixa mais feliz que nunca, a forma como Ele se mostra presente e parece gostar de você faz seu coração transbordar. Mal pode esperar para o ver novamente, e quando tem a chance, Ele diz que também quer te ver. Você pula de alegria.
Se encontram no bar de sempre, já chegam trocando um selinho, Ele rindo do fato de você já ter chegado meio altinha, pois tinha bebido antes com uma amiga. Ficam grudados a noite inteira, não se importa mais se está muito em cima Dele ou não pois Ele também está. Sente Ele chegar por trás de você e te abraçar sempre que você está conversando com uma amiga, Ele deixa você se aproximar sempre que Ele está conversando com um amigo. Naquela noite decidem que são ficantes, deixam claro que gostam de ficar um com o outro e que tem algo a mais acontecendo entre os dois e por isso não se encaixam no rótulo de "amigos que se beijam". É o tipo noite que você nunca vai esquecer. Se pegam um pouco no banco de trás do carro de um amigo e depois saem como um casal com outros 2 casais de amigos para comer algo. Você diz a primeira vez que está gostando Dele. Ele não acredita em você e você gosta tanto Dele que nem se importa tanto com o fato Dele não ter dito de volta, mas sim com o fato Dele não acreditar que você gosta Dele, pois você gosta.
No dia seguinte decidem fazer um rolê de casais com os mesmos casais de amigos que saíram na noite anterior. Ficaram na casa da sua melhor amiga jogando jogos bobinhos, comendo e fofocando. A vida não podia ser melhor do que isso. Naquela noite, Ele dorme com você no sofá da sua melhor amiga e vocês transam. É a melhor transa da sua vida. Até hoje não consegue entender como uma pessoa parecia conhecer seu corpo e seu prazer tão bem. Você parece estar no paraíso, não consegue parar de sorrir. Estava morrendo de sono, mas não consegue ir dormir pois não quer perder um segundo sequer do lado Dele. Depois de transarem, ficam conversando. Começa com conversas bobas, implicando um com o outro, rindo juntos e do nada, se pegam em uma conversa séria.
Você se pega o encarando, tentando adivinhar o que Ele pensa nos momentos de silêncio, e por mais que se force, não consegue. Não sabe como se sentir em relação a isso. Diz pra Ele o quanto gosta Dele novamente e ele até diz de volta, mas deixa claro que não quer nada sério, apesar de gostar de ficar com você. Nessa noite você conta a primeira mentira: Diz que também não quer nada sério e que só quer curtir o momento. Logo você, uma mulher sempre tão decidida, sempre tão certa do que quer, perdida no próprio desejo? E pra que? Apenas para se magoar posteriormente?
Transam a segunda vez na noite, e quando Ele diz "Você é minha", seu coração parece explodir. Sabe que aquele momento vai te assombrar por um bom tempo, e quase deseja que Ele não tivesse feito isso, no entanto, no momento você só abre um sorriso e concorda. Faz questão de mostrar que é Dele, deixa que Ele te marque onde Ele quiser, coisa que nunca deixou nenhum outro fazer. No dia seguinte você encara a manchinha roxa com apreço, como se fosse um presente, se sente boba por estar tão apegada a um pequeno chupão, mas hoje em dia entende que aquele era um lembrete: Você era Dele, e isso é o que você mais queria.
Quando se vêem no próximo fim de semana, o clima não poderia ser melhor, vão para o shopping de novo, na intenção de tomar um sorvete e ficar rodando pelo lugar, apenas para aproveitar a companhia um do outro. Lembra até hoje de quando Ele chegou, você estava usando um gloss vermelho e quando o beijou, o sujou inteiro. Tentava limpar a boca Dele enquanto ria horrores, já Ele te segurava pela cintura e te xingava. Ele diz que não vai mais te beijar o resto do dia, você faz bico, diz "não?" e Ele pausa. "Vai... mas você é uma filha da puta!" e você volta a rir de novo.
Naquela tarde, enquanto estão no estacionamento do shopping batendo papo, Ele te conta várias histórias da família Dele, fala sobre o avô, sobre comos os pais Dele se conheceram, sobre as piadinhas infames do pai e de como a mãe é uma mulher independente. Você escuta tudo com muito amor, é loucura pensar que naquele momento você tinha a esperança de que vocês também poderiam ter uma história legal. Ele te encara com um brilho nos olhos diferente, não consegue manter as mãos longe de você, então talvez não seja tão loucura lembrar das expectativas que você tinha criado...
Lembra daquela tarde como se fosse ontem, os dois estavam tão bobos que se você já não soubesse o final, diria que estavam perdidamente apaixonados. Bem, talvez você estivesse. Lembra de como Ele dava tapinhas na sua bunda e depois se fingia de sonso, lembra da forma como Ele sussurrava bobeirinhas pra você e tentava roubar beijos, lembra dos selinhos que trocavam nos corredores das lojas, lembra de como Ele olhava para os dois lados, se certificando que não tinha ninguém por perto apenas para te tacar um beijão. Como dói se lembrar de tudo. Sua foto preferida é tirada nesse dia, Ele sorrindo pra câmera enquanto você sorri pra Ele, os dois com o tal brilho que você tanto jura que estava diferente. Meses depois você se pega olhando para essa foto e se perguntando se tudo não passou de uma farsa, se foi coisa da sua imaginação. Mas se foi imaginação, como Ele parecia tão feliz na foto? Como todos os seus amigos em comum curtiram quando a foto foi postada, alegando enxergar o mesmo brilho que você? Você ainda não sabe o que pensar, mas sabe a tristeza que sente.
A próxima vez que decidem se ver, é o que dá início a todo o caos. Você não sabia disso no dia, mas aquela seria a última vez que vocês se veriam antes da queda. Você diz que queria passar o fim de semana na cidade Dele, pergunta para Ele se Ele gostaria de te ver. Ele diz que não, que está com a cabeça cheia. Você fica decepcionada, mas entende, então vai trabalhar na sexta feira normalmente, sem se preparar para o ver. Mas, na sexta a tarde Ele manda mensagem, diz que se animou. Você fica xoxa. Não sabe o que o animou exatamente, mas Ele sabe que para você ir até Ele tem todo um planejamento e naquele dia você não tinha planejado nada pois Ele, de início, tinha te recusado. Mas Ele diz as palavras mágicas: "Queria te ver hoje." e você suspira, sabe qual decisão irá tomar antes mesmo de escolher o que fazer efetivamente. Se vira nos 30 e vai de encontro com Ele.
Mente pra si mesma novamente, diz que está indo para ter uma conversa séria com Ele, que vai dizer que precisa de mais consideração da parte Dele, se não aquilo não vai dar certo. Estava com fome, morrendo de dor de cabeça e cansada, mas ainda sim foi atrás Dele, você se odeia por isso e ainda vai se odiar um bom tempo. Chega no bar primeiro que Ele e quando Ele chega e antes de falar com qualquer um, vai direto na sua direção e te dá um beijo, você esquece tudo o que queria conversar. A noite é esquisita, uma hora vocês pareciam um casal bem resolvido, na outra Ele te deixa sozinha com um grupo de pessoas que você mal conhece. Nenhum dos seus amigos estavam presente naquela noite, você só tinha Ele. As coisas ficam mais esquisitas ainda quando um outro rapaz dá em cima de você. Assim que Ele vê você interagindo com outro cara que claramente tem segundas intenções, Ele vai para perto de você, te agarra pela cintura de forma quase possessiva e você estaria mentindo para si mesma pela terceira vez se disesse que não gostou nem um pouco daquilo. O garoto pede permissão para Ele quando descobre que vocês estão ficando, e Ele diz que "Tá de boa", mas claramente não estava e isso era perceptível pelo tom de voz Dele. Você recusa o garoto, obviamente, continuam conversando os 3 até o garoto decidir ir para outro lado. Ele vira pra você e diz "Achei meio sem noção da parte dele dar em cima de você sendo que eu to bem do seu lado". E nessa hora, você, que nunca foi boa em comunicar o que sente, revela todo o jogo: "Você ainda não entendeu que eu não ficaria com mais ninguém, você estando aqui ou não? Eu só quero ficar com você."
O clima é péssimo, nenhum dos dois sabe o que dizer. Ele não corresponde, e fica claro naquele momento. Você tem 2 choques, o fato de ter cuspido seus sentimentos sem nem hesitar e o fato de agora estar explícito o que você mais temia: Ele não gosta de você da forma como você gosta Dele. Ambos seguem como se nada tivesse acontecido, mas o momento fica passando em looping no fundo da sua mente. Agora você o abraça com uma certa melancolia, o beija e sente vontade de chorar. Quando você decide ir embora, nem consegue olhar na cara Dele, foca no celular em suas mãos que pede o carro de aplicativo. Dá um selinho rápido Nele quando o carro chega e vai rapidamente pro automóvel. Ele te segue, arranca a porta do carro das suas mãos e te dá mais um beijo. É um beijo digno de filme, o tipo de beijo que te fez sentir tantas coisas, que bagunça sua cabeça por completo. É o último beijo que vocês dão e de alguma forma, você sabia disso.
Chora muito quando chega em casa, sabe que Ele não sente nada por você, mas ainda sim não entende. Como pode Ele não sentir nada? Depois do sexo que fizeram, das risadas que trocaram, das histórias que contaram, do último beijo que deram? Você sentiu tudo sozinha? Sabia que o fim tinha chegado antes mesmo dele ser explicitado e já sofria com isso. Viu o quão ferrada estava, o quão fundo tinha ido e não gostava nem um pouco disso.
Não sabia como colocar a cabeça no lugar e nem como recolher o próprio coração, então apenas seguiu como se nada tivesse acontecido, pensou que talvez dessa forma, conseguiria resolver tudo. Obviamente não conseguiu. Se passaram duas semanas. Não conversavam direito, Ele nem fazia questão de manter um assunto com você, mas ainda se mostrava presente ao curtir suas coisas e eventualmente comentar algo aqui e ali. Você não fazia ideia do que estava acontecendo e aquilo estava te enlouquecendo. Uma hora parecia que Ele não te queria mais e por isso te ignorava, na outra Ele parecia estar confuso, na outra Ele parecia te querer mas não saber como dizer. Você decidiu esperar, mas nunca foi uma mulher muito paciente.
Na penúltima semana de outubro, o questionou. O que estava acontecendo entre vocês? O que mudou? Não aguentava mais ser ignorada, não aguentava mais sentir que algo estava fora do lugar, não aguentava mais a ansiedade. Ele disse tudo o que você não queria ouvir. Disse que era algo que Ele queria falar com você tinha um tempo, que estava meio afastado pois estava pensando em como dizer que gostava de você, mas não da forma como você gosta Dele. Ele sabia que você estava gostando muito dele, mas que Ele não seria capaz de corresponder, Ele queria continuar ficando com outras pessoas e você ter dito que só queria ficar com Ele, o deixou com o pé atrás. Você diz o quanto ficou magoada com o fato Dele ter te ignorado durante as duas semanas e que quando disse que só o queria, nunca foi na intenção de o intimar, claro que seria ótimo ser correspondida, mas que não ouvir o que queria não foi o problema. Temos aqui uma semi-mentira. Ele pede desculpas, mas ainda não é suficiente. Não tinha mais jeito, ou aquilo acabava ali ou você daria continuidade a mais um mês de sofrimento. E então, quando Ele pergunta se você quer continuar ficando com Ele, você diz que não.
Deixa claro que não é algo que necessariamente quer, mas que sabe que é preciso ser feito. Ele concorda, e nos áudios que Ele manda, você pode ouvir o tom de decepção na voz Dele. Esse tom vai fazer você ainda ter esperança de que há algo, o que é completamente patético, Ele acabou de dizer que não gosta de você, mas você continua mentindo pra si mesma e se apegando em sinais que simplesmente não existem. Ele diz que também não queria isso, que gosta de você mas não da forma como você gosta dele, mas que entende sua decisão e concorda que essa é a melhor alternativa. Ele também diz que quer continuar sendo seu amigo, que você é uma pessoa foda, mas você recusa, não conseguiria ser amiga Dele quando tem tantos sentimentos na mesa. Ele entende. Você o xinga por ser tão compreensivo.
Chora durante um dia inteiro. Não entende como acabou dessa forma, algo tão bonito e com tanto potencial... O que que deu errado? Você refaz todos os passos, relembra todos os diálogos, revive todos os momentos e ainda sim, não sabe em que ponto se desencontraram de forma tão feia. Nunca pensou que passaria por um coração partido tão devastador novamente, achou que isso estava reservado a sua adolescência, mas aqui você está, 22 anos, chorando por um homem que não te quer. A notícia começa a se espalhar pelo grupo de amigos, nenhum deles sabe o que dizer. Chega nos seus ouvidos como Ele te achou madura por ter tomado a decisão de ter parado de ficar com Ele mesmo gostando muito Dele, e você o xinga tanto por isso. Quem Ele pensa que é? E porquê caralhos você ia querer a validação Dele? Você sabe que é madura e não precisa que Ele te diga isso. Hoje você pensa em tantas coisas que poderia ter dito para Ele quando essa informação chegou até você... Ah se o arrependimento matasse, não é mesmo?
Alguns dias se passam, você não consegue parar de pensar Nele. Não como objeto romântico, Ele tinha destruído seu coração em pedacinhos quando deixou que a angústia Dele se tornasse sua para você resolver. Começa a pensar Nele com raiva, estava tão angustiada que começa a pensar em como queria devolver na mesma moeda. E então decide o fazer. Sabe que essa decisão teria o potencial de te magoar mais ainda, mas ainda sim vai atrás dela. Diz pra si mesma que não gosta mais Dele, que só quer devolver a frustração e depois vai pular fora e a essa altura do campeonato você já é profissional em mentir pra si mesma.
Voltam a ser amigos e você tinha todo um plano. Decide não contar pra ninguém de primeira, mas quando conta, nenhum dos seus amigos aprova a ideia, eles sabem que você vai se machucar de novo, e você também sabe, mas adora se fazer de burra quando o assunto é Ele. Pensa em como quer fazer Ele se sentir frustrado na relação de vocês da mesma forma que você se sentiu durante as duas semanas, mas não consegue, e não consegue por um motivo simples: Ele nunca vai sentir a mesma frustração que você pois Ele não gosta de você da forma como você gosta Dele. Quando você se dá conta desse fato, é pior do que a primeira vez. Começa a magoar Ele de propósito, de forma mais bruta, só estaria satisfeita se arrancasse lágrimas ou sangue Dele. Toca nas feridas, no que você sabe que o deixa inseguro, no que você sabe que o deixa triste. E Ele se abala, você sabe que sim, e é por isso que o plano não dura mais do que alguns dias.
Quando você cai na real, percebe que aquela não é você, nunca faria mal a ninguém, muito menos a Ele, então o que caralhos estava fazendo? Percebe que ao magoar Ele, também se magoava, e isso que a desperta para o real. Corta na mesma hora. Decide parar e pensar nas próprias atitudes. Se dá conta de que não o odeia e que a raiva e a angústia que sentia anteriormente não tinha mais sentido. Começa a pensar Nele como um amigo verdadeiro e a ideia te agrada. O comportamento muda, e as coisas voltam a fluir. Voltam a conversar no início de Novembro como conversavam no final de Agosto, de forma leve, brincalhona, o único diferencial é que agora não tinham mais os flertes. Hoje você entende que voltou a falar com Ele na esperança de tentar resgatar qualquer coisa que já tiveram. Não esperava que Ele começasse a gostar de você magicamente, mas queria voltar a sentir a euforia de meses atrás. Hoje você entende que o que já foi, não volta nunca mais.
Decidem se ver no final do mês, iriam comemorar uma conquista sua do trabalho que estava para acontecer. Ele fica animado, pelo o que Ele fala, sente que talvez Ele até esteja ansioso para te ver novamente, afinal, não se viam já tinha um mês inteiro. Você também fica animada, mas não dura muito, pois uma nova ansiedade se instala. Pensa no quanto sente saudade Dele, de o beijar, de transar com Ele, de flertar. Diz pra si mesma que está pronta para ficar com Ele de forma descompromissada, não tinha mais sentimentos, e se desde o início Ele queria só ficar com você, agora você estava pronta. Não queria voltar a ser ficante, mas queria saber se tinha a liberdade de o beijar no dia 22 caso quisesse, pois sabia que iria querer.
Conversa com Ele, pergunta o que Ele acha disso, deixa bem claro suas intenções e vontades. É rejeitada de novo e dessa vez você mal consegue acreditar no que acontece. Ele diz que acha melhor não, que foi tudo muito recente e que pode afetar a amizade, diz que é melhor dar mais um tempo. Mais um tempo? Como assim mais um tempo? Então Ele quer ou não quer? E quanto tempo é um tempo? Quem dita isso? Você fica com tanta raiva que nem consegue o responder, pensa em mil coisas que queria dizer para Ele, mas não consegue, dessa vez não porquê está reprimindo, mas porquê sente tanta coisa ao mesmo tempo que é difícil organizar os pensamentos. Felizmente, no dia seguinte tem terapia.
Sua psicóloga diz que é inteligente quando você decide dar um passo para trás. Está cansada da indecisão Dele, cansada de ser a pessoa que sempre tem que ir atrás da informação pois Ele não te entrega nenhuma resposta concreta por conta própria. Você o adora, mas não sabe até quanto tempo consegue continuar nisso, indo atrás quando Ele parece nem se importar. A psicóloga diz que você não tomar uma decisão pode o forçar a te fornecer respostas, e você pede para os céus que isso seja verdade. Nos primeiros dias você consegue seguir seu plano, não conversa com Ele e não dá muito assunto, deixa que dessa vez Ele tenha o trabalho, e gosta de ver que Ele está se esforçando. As coisas parecem que finalmente vão dar certo dessa vez. Mas aí, você pisa na bola.
Vai para uma festa e enche a cara, e acho que nem preciso dizer o óbvio: bebida e coração partido não vão bem juntos. Manda diversas mensagens para Ele, diz tudo o que queria, em como odeia como Ele fica em cima do muro, em como não sabe se Ele te quer ou não, que não entende até hoje como que Ele não sente o que você sentia e ainda sente por Ele, em como você poderia seguir em frente se Ele falasse que queria apenas uma amizade, mas no momento em que Ele não confirma nem nega que quer ficar com você de novo, isso fode com sua cabeça e seu emocional. Ele te responde dizendo que você está claramente muito bêbada e que seria melhor se vocês conversassem depois, você concorda mas diz que precisava falar tudo aquilo, que não aguentava mais guardar para si. Finaliza dizendo o quanto o adora, mas que Ele te magoa tanto que fica cada vez mais difícil continuar o adorando. Ele pede pra você tomar um banho, descansar e beber água. Essa é a última coisa que Ele te fala.
No dia seguinte não tem conversa. Apenas o silêncio. Você não o chama, segue firme no seu plano de não ter mais atitude para se preservar e mesmo se não fosse por isso, não teria o que falar, já tinha dito tido enquanto estava bêbada e não pediria desculpas. Se sente envergonhada, mas não se arrepende, é um alívio ter despejado tudo pra fora, apesar de ser esquisito, pois ainda sente que não disse tudo o que queria. Mas de qualquer forma, Ele não se manifesta, e isso que te quebra. Você não sabe se Ele ficou magoado com as coisas que você disse, se Ele riu da sua cara ou se até mesmo ficou preocupado. Não sabe se Ele te odeia, se te acha tosca ou se não ta nem aí pra você. E agora o que resta pra você é ter que lidar com o fato de que talvez você nunca saiba.
Esse é o final. É assim que a história de vocês possivelmente acaba, talvez ainda seja cedo para falar, mas também não imagina como que essa história possa continuar. Odeia a sensação. Para uma pessoa tão resolutiva quanto você, o fato de ter uma situação com esse sentimento constante de que tem algo inacabado, é pura tortura. Mas não há o que fazer. Se sente estúpida por ter esperado qualquer coisa diferente do silêncio, mas ao mesmo tempo fica revoltada com o fato Dele estar calado mesmo depois de você ter deixado claro o quanto o silêncio Dele te magoa. Queria que Ele conversasse com você sobre o que aconteceu, nem que fosse para te chamar de maluca. Mas isso provavelmente nunca vai acontecer e você precisa superar isso. Desmarcou a comemoração, não sabe como pode reagir ao ver Ele, e nem quer descobrir.
Ainda gosta muito Dele. Não consegue mais negar isso. Faz uma retrospectiva de tudo e ainda não consegue acreditar. Agora já entende o que aconteceu, mas entender não significa aceitar. Sabe que o show continua, que vai seguir com a sua vida e que um dia Ele vai ser só uma pessoa qualquer que já teve a oportunidade de passar pela sua vida, mas por agora, você sofre o luto.
3 notes · View notes
lunaltt · 8 months ago
Text
ultimamente tenho pensado mais vezes do que o normal na frase "há força na vulnerabilidade". como é possível que exista algo tão desprovido de sentimento em algo que é sentido com tanta potência?
a vulnerabilidade é tão intensa que me faz reagir fisicamente, faz com que eu me encolha em mim mesma, é algo que é sentido com tanta potência que geralmente traz a tona sentimentos como a vergonha e a sensação de se sentir patética. mas a força não tem a mesma potência. poderíamos dizer que a força traz sentimentos como orgulho, felicidade, realização, mas acho que estes são, por si só, sentimentos fortes demais para serem meros coadjuvantes da força. portanto, a força não traz nada, a força é só... algo.
além disso, a força tem suas vertentes: falamos de força física, força emocional, etc. e justamente por algo ter tantas ramificações, perde sua força (piada não intencional). a vulnerabilidade também tem suas ramificações, podemos falar de alguém que está fisicamente vulnerável, alguém que está emocionalmente vulnerável, no entanto, estas não seriam complementares? se alguém está vulnerável fisicamente, ela também não estaria vulnerável emocionalmente? o mesmo não acontece no caso da força. alguém pode ser forte fisicamente, mas nada me garante que este alguém também é forte emocionalmente.
pode-se então dizer que a força é poder e que ao afirmar que "há força na vulnerabilidade", significa que há poder na vulnerabilidade. eu entendo associar a força ao poder, concordo em partes, mas não acho que seja algo que deve ser generalizado, afinal, conseguimos sim pensar em casos que a força é de fato poder, mas se pensarmos um pouco mais além, conseguimos também refletir em como esse poder é instável ou até mesmo uma "falsa sensação". não consigo ver a forma como a vulnerabilidade é poder. eu enxergo a vulnerabilidade como uma entrega de poder, mas não como poder em si. quando estou vulnerável, entrego poder ao outro sobre mim, mas eu mesma não tenho poder algum.
entendo que alguns podem se apoiar na afirmação de que há poder (ou força) na vulnerabilidade para ter uma falsa sensação de controle sobre seu "eu", mas como filósofa eu sou obrigada a romper com a visão perfeita de mundo que é colocada nessa afirmação. juro que não sou uma filósofa pessimista, apesar de este caso isolado não me ajudar muito a provar isso.
não há controle, força e/ou poder na vulnerabilidade. é isso o que torna a vulnerabilidade algo tão vulnerável. é isso que há de tão especial e delicado nela. ela é assustadora, mas o mesmo tempo bela, é quase como uma rosa com espinhos que vemos em contos de fadas. temos tanto medo da vulnerabilidade que tentamos atribuir a ela algo que nos deixe meramente confortável com essa noção (a noção de vulnerabilidade), mas a verdade é dura, incômoda e pode trazer indignação a qualquer um que esteja lendo isso (inclusive até a mim mesma, que afirmo e escrevo): a vulnerabilidade é desconfortável.
sempre que penso em como a vulnerabilidade é desconfortável, assustadora, incômoda, penso no exemplo mais simples e cotidiano que há: sonhar que você foi pelado para a escola/faculdade/trabalho. todos já tiveram esse sonho, e mesmo que não tenham o tido, já ouviram sobre esse sonho que é tão comum entre os seres humanos. imagine você em seu local de trabalho ou de estudo completamente nu. tenho certeza que você se sentiria envergonhado, incomodado, vai querer se tampar com qualquer coisa que estiver na sua frente... é aí que mora a vulnerabilidade.
apesar de estar atribuindo a vulnerabilidade a sentimentos e sensações geralmente tomados como negativos, não quero dizer que ela seja de todo negativa. um exemplo que posso citar é a terapia: um lugar onde precisamos ser vulneráveis para que possamos nos curar
então isso significa que vulnerabilidade é cura? sim e não.
sim pois quando nos permitimos ser vulneráveis podemos encontrar coisas magníficas sobre nós mesmos e aprender com essas coisas. mas ao mesmo tempo, não, pois às vezes nos deparamos com coisas horríveis e nossa tendência é se fechar mais e mais em si.
acho que a questão da vulnerabilidade morre aqui, me deparei com dois caminhos possíveis que não sei se tenho condições de seguir agora para ver onde cada um vai dar, pois para isso, também precisaria analisar o que é a cura. talvez em uma próxima.
de volta a questão da força:
sei que quando disse que a força é algo, muitos vão pedir uma definição. mas eu não acho que exista. tenho muito a ideia de que definições só cabem a coisas que realmente existem, e não que são inventadas. confuso, mas vou tentar me explicar melhor: eu acho que nós, seres humanos, nunca vamos achar o verdadeiro significado de força, pois não acho que ela seja algo que nós sentimos de forma pura (como a vulnerabilidade, o amor, etc.). para mim, a força é algo criado, uma invenção humana para defender outras invenções humanas como a hierarquia, o poder, etc., que são tão rasas quanto a força.
portanto não acredito que haja uma definição própria para a força, pelo menos não da forma como filósofos definem o amor, a felicidade, etc. mas, se for para atribuir algo a este algo: a força é algo inventado pelo ser humano e para o ser humano, seu propósito sendo explicado no parágrafo anterior. deixo claro aqui que tomo força não como algo da física, prefiro sempre me manter longe desta ciência, mas como algo empírico, algo que sentimos. e nós nunca sentimos a força por si só, então não temos como dizer o que ela é ou afirmar que ela é algo (ou em algo) como a vulnerabilidade.
— texto escrito após um surto psicótico meu pq desabafei horrores com uma pessoa e me arrependi logo em seguida rs.
11 notes · View notes
lunaltt · 10 months ago
Text
sempre que estou com meu pai e minha vó penso em como minha terapeuta um dia disse que durante nossa vida nós acabamos pegando um certo ranço dos mais velhos da nossa família pois o envelhecimento deles significa o nosso envelhecimento e a ideia de que "estamos envelhecendo" é completamente assustadora para nós. isso me faz pensar em que ponto envelhecer se tornou algo repulsivo para mim. desde que me entendo por gente eu sinto essa vontade absurda de envelhecer, de ser mais madura, em que momento teve essa mudança tão brusca que eu tenho pânico só de ouvir minha idade em voz alta.
voltando aos meus parentes, me sinto tão mal quando odeio os "papos de velho". odeio a forma como minha vó toda hora fala que não enxerga direito, a forma como meu pai repete a mesma coisa mil vezes, a forma como minha madrasta não escuta de primeira quando falam com ela. eu odeio ver os outros envelhecendo, mas odeio principalmente a forma como eu sou intolerante diante de algo tão natural como o envelhecimento. mas ao mesmo tempo, como culpar uma garota que durante tantos anos desejava, mais do que tudo, envelhecer? lembro de amar quando era mais nova e as pessoas falarem que eu parecia mais velha do que eu realmente era. hoje em dia, se alguém fala isso pra mim eu acho que genuinamente desmaio. mas também não é como se eu me sentisse confortável ao ser taxada de mais nova. será que então meu problema seja com a maturidade e não com o envelhecimento?
talvez meu medo não seja envelhecer, afinal, não tenho medo do final inevitável do envelhecimento, isto é, a morte. talvez o medo seja envelhecer e nunca ter a maturidade adequada. mas o que seria ter a maturidade adequada? será que existe um padrão? eu voto que não, mas pra ser sincera não sei se estou muito segura da minha resposta. penso em mim mesma com 15 anos. não tinha a maturidade adequada e não a tive até os 17 anos. talvez com 18-19 eu tenha tido a maturidade adequada, mas é difícil dizer, afinal, estava trancafiada em casa graças a pandemia.
o problema chega aos 20, e penso se tudo isso não passa de apenas uma crise dos 20. talvez seja, mas me recuso a admitir isso pois, para ser sincera, acho patético da minha parte. penso no meu pai e na minha vó aos 20. minha vó já tinha duas filhas, e hoje reforça o quanto se arrepende de ter casado e ter sido mãe tão cedo e me parabeniza por estar focada nos estudos. mas se ela estava tão errada, e eu, aparentemente, estou no caminho certo, pq não sinto isso? talvez pq não existe certo ou errado? ou talvez pq os tempos são outros, afinal, minha vó é 60 anos mais velha que eu. é difícil dizer qual o lugar físico e mental certo quando se está no lugar errado. não sei se ter filhos e estar casada é o jeito certo de passar pelos 20, mas estar focada nos estudos parece cada dia mais o jeito errado.
apesar da minha repulsa ao envelhecimento, espero que minhas preocupações atuais envelheçam junto comigo, a ponto de se tornarem insignificantes. mas ao mesmo tempo é complicado, pois da mesma forma que no meu rosto aparecem novos sinais de idade, na minha mente aparecem novas preocupações, novos problemas. será que estou pronta para arcar com elas? provavelmente não, afinal, ainda estou nos meus 20. mas... será que algum dia estarei pronta?
espero que sim.
0 notes
lunaltt · 10 months ago
Text
Texto não corrigido, apenas me deixei levar pela escrita e não revisei, tomem os erros gramaticais como parte da emoção.
Hoje tive o privilégio de assistir uma palestra da Angela Davis no museu do amanhã, aqui no Rio de Janeiro, e queria contar um pouco p vcs de como foi essa experiência, alguns pensamentos que tive devido às falas delas e outras coisinhas a mais sobre o dia. Hoje me apresento aqui como professora/pesquisadora/filósofa/escritora Luna, que, apesar de não ser de fato meu nome, é um nome que transformei em um lugar de conforto para poder expressar minhas ideias, pensamentos e sentimentos mais profundos, um nome que se tornou extensão do que eu sou. Por isso que já aviso que isso talvez seja meio longo e não tem nada a ver com o conteúdo que normalmente posto aqui no blog (depois dessa, voltaremos a programação normal)
Sobre a experiência:
Fui convidada pelo meu supervisor de estágio para esse evento e já fui animada de saber que veria a palestra de uma filósofa tão grande quanto a Angela Davis com outros filósofos (meu supervisor e o outro rapaz que faz estágio comigo) que admiro muito. Ainda na fila para o evento, vi um carrinho se aproximando e era nada mais nada menos do que a própria filósofa ativista, sentada humildemente no carrinho, dando pequenos acenos com a cabeça. Queria ter uma foto para mostrar para vocês, mas foi tudo tão rápido, que só deu tempo de absorver o momento e acenar, dando um pequeno "Hi!".
Infelizmente não conseguimos entrar para o auditório, que lotou, mas achamos um lugarzinho bom perto de um telão que transmitiria a palestra, um lugarzinho com mesinhas coloridas e guarda-sóis, que nos permitia ver a palestra enquanto tomávamos um sol, fumávamos um pouco de tabaco e apreciávamos a brisa da baía de guanabara. Outras duas mulheres, muito simpáticas, se sentaram conosco e conforme chegava perto do horário, o lugar ia enchendo, reunindo filósofos, professores, historiadores, sociólogos e até mesmo alguns pedestres curiosos que só buscavam algum isqueiro.
No meio da palestra veio um grupo de samba, algo como carnavalescos de bloco de rua, até consegui filmar um pouco. Achei cômico como eles decidiram fazer o som deles logo perto do telão, o que resultou neles levando "shh"s agressivos e alguns típicos "tá de sacanagem?" carioca. Ainda não me decidi o que mais me deixou emocionada nessa experiência: ver tantos profissionais ativistas e revolucionários juntos, batendo palma sempre que Angela Davis mencionava coisas como o incrível Paulo Freire ou o movimento Palestina livre, ver os docentes concordando e comentando entre si sempre que a sucateação da educação brasileira era mencionada, o espírito revolucionário intrínseco a um professor se tornando presente em cada um ali, ou ver todos aplaudindo quando Angela Davis falou sobre mulheres pretas brasileiras que são professoras. É justamente esse último que me leva a algumas das minhas reflexões.
Sobre meus pensamentos:
Gostaria de começar dizendo que não pretendo, de forma alguma, romantizar a experiência escolar e pedagógica brasileira. Estou ciente de todos os desafios que todos que estão envolvidos enfrentam, eu mesma pude encarar alguns desses desafios de perto: Professor sendo agredido verbalmente, professor sendo agredido fisicamente, uma aluna vindo me procurar para denunciar um caso de transfobia, entre outros. No entanto, meu objetivo é mostrar como que apesar e todo o sofrimento, toda a luta, entre as críticas e gritos por mudanças, nós conseguimos achar algo lindo.
Ver todos aqueles profissionais reunidos me passou um sentimento que me faltava muito durante minha adolescência: O de pertencimento. Na terapia sempre é muito falado de como ser professor é acolher adolescentes e que ao acolher esses adolescentes é também acolher a si mesmo. A cada dia que passa e eu tenho contato com a minha profissão eu vejo o quanto isso é um fato. Eu me vejo em cada aluno, eu acolho o aluno que sofre gordofobia da forma como eu gostaria de ter sido acolhida no meu ensino médio, eu sento com a aluna que fica sozinha no intervalo pois um dia já estive no lugar dela, eu elogio o aluno que faz um desenho impecável da caverna do Platão, o dando uma atenção especial pois sei que ele não a recebe em casa pois eu também tinha essa falta no meu lar. E quando a Angela Davis falou na palestra sobre como o aluno aprende com o professor da mesma forma que o professor aprende com o aluno, minha cabeça foi logo para esse assunto.
Mas hoje não foi sobre os alunos, não foi sobre a Luna adolescente. E sim sobre a Luna de 22 anos que quer desesperadamente ser uma adulta melhor do que os adultos que a magoaram um dia, a Luna adulta que nunca foi acolhida e está aprendendo a achar conforto no próprio colo. Amo ficar sozinha, sempre foi assim, fui acostumada assim. Mas eu não preciso mais estar, e estar rodeada de pessoas, adultos, que se identificam com essa adulta sozinha, essa eterna adolescente renegada, foi algo quase romântico. Ver que todos ali estão lutando por algo melhor, no âmbito interno e externo, foi de tirar algumas lágrimas dos meus olhos. Me fez pensar na licenciatura como um processo de cura, um processo acolhedor. Eu acho que nunca vi algo tão lindo em toda a minha vida
Ainda sobre pessoas renegadas, mas não sobre mim mesma, Angela Davis falou sobre o ensino em prisões, sobre como precisamos de mais escolas e menos prisões, sobre como se fala da educação dentro das prisões. Como espectadora assídua de documentários de True Crime, pensei em como todo documentário que entrevista criminosos brasileiros, quando é feito a pergunta "Porque você decidiu ser bandido?" ou algo desse naipe, a resposta é automática: "Por que me faltou estudo, precisava comer e não tinha tempo de estudar, ai comecei a..." E se complementa com o crime cometido.
Pensei em como é cruel haver políticas que literalmente impedem que essas pessoas renegadas recebam o acolhimento necessário, não só por um sistema de educação, mas por toda a rede de sistemas, por toda a sociedade, às vezes até mesmo pela própria cultura, que marginaliza essas pessoas sem sequer dar chance para elas provarem seu valor. Penso em como deve ser solitário, e em como essa prisão, essa solitária, é mais do que física, é mental. Penso no que podemos fazer, por onde começar, com quem conversar. Como uma mulher que quer fazer tudo o que é capaz de faze, pensar nisso me deu vontade de entrar com esse lado da pedagogia, algo que provavelmente assustaria muito o meu pai (rs).
O meu último pensamento foi sobre o que Angela Davis disse sobre a mulher brasileira preta e professora. Em como essas mulheres são a base de tudo, em como ela admira essas mulheres. Como mulher brasileira preta e professora, foi como um elogio direto, como se ela me conhecesse, conhecesse minhas história e estivesse mandando esse recado diretamente para mim. Mas acho que esse é o poder de Angela Davis, ela consegue transformar o discurso mais geral no mais pessoal, te acertando bem nas profundezas das suas emoções mais brutas para te movimentar. Isso é incrível, isso é fazer filosofia.
Sempre penso muito em como ser uma mulher preta já é resistência por si só, o gênero e a cor nos deixam na base da pirâmide alimentar do neo-liberalismo, imaginem então ser uma mulher preta e professora. É como se não pudesse ficar mais difícil que isso, já jogamos o jogo da vida no modo hard, e ainda escolhemos a carreira mais sucateada do jogo. Mas a resistência é sobre isso. É sobre habitar um corpo mal-visto por todo um sistema, todo um grupo de pessoas que acredito que nem preciso apontar as características, e ainda sim ter o peito e a coragem de formar crianças e adolescentes, tanto as desse grupo mesmo quanto as crianças que eles jogam para escanteio. Penso especialmente no meu caso, mulher, preta, brasileira, professora, bissexual. Como ainda tenho para apanhar, mas como vou levar cada tapa com um pequeno sentimento de satisfação, por saber que a cada tapa que recebo, é uma Luna do futuro que vai passar pela vida com poucos (e, espero que algum ponto, nenhum) arranhão sequer.
Sobre outras coisas a mais:
Depois da palestra fiquei trocando uma ideia com meu supervisor e meu colega de estágio, falamos sobre a palestra, sobre a festa junina que terá na escola, sobre alunos específicos, até mesmo sobre lugares do Rio de Janeiro que são bons para morar (kkkk filósofos e sua capacidade de transitar entre assuntos quase de modo imperceptível). Depois do papo nos despedimos, cada um foi para um canto. Hoje estava um dia excepcionalmente bonito, ensolarado mas ainda sim com uma brisa fresca. Fui com um macacão preto e mais formal do que as roupas que costumo vestir no dia-a-dia, então estava mais metida do que o normal.
Decidi desfilar um pouco pelas ruas do centro carioca, admirando as vistas e deixando que os outros me admirassem de volta. Do museu do amanhã decidi almoçar no meu restaurante vegano favorito da cidade, gostaria de dizer para vocês o que eu pedi mas não faço ideia do que era, o nome difícil demais de pronunciar e escrever, só sabia que era a base de beterraba e era estupidamente gostoso.
Conforme andava até o restaurante decidi ir pelo meu caminho preferido: em frente a uma sede da marinha brasileira, que dá pra ver bem o mar pois você passa por uma pequena ponte de madeira. Sempre que vou da faculdade para a praça Mauá, pego aquele caminho, passo pelo CCBB, igreja da candelária, sede da marinha e saio na boca do museu do amanhã, que também fica perto do museu de arte do Rio.
Botei meu óculos de sol preferido, acendi um cigarro e caminhei calmamente, mesmo sem enxergar o que estava muito longe (miopia é uma praga), pude admirar algumas coisas que apareciam no caminho: Um grupinho de senhoras que faziam o mesmo caminho que eu, alguns marinheiros que corriam por ali, alguns ciclistas, o mar e suas águas que batiam nas pedras e mais a frente, os barcos da marinha e grandiosa igreja da Candelária, que sempre me deixa muito tentada a entrar mas eu nunca o faço. Nunca soube exatamente o que tanto me impede, mas todas as vezes que passo por lá nunca consegui ter forças o suficiente para fazer meus pés irem até lá. Pensei em entrar no CCBB, ver se tinha alguma exposição digna da minha atenção, mas estava faminta e decidir ir direto pro restaurante.
No restaurante tocou um álbum do Nick Jonas, ri da escolha, mas achei engraçado a coincidência pois é um dos meus álbuns favoritos do artista. Apreciei minha comida sozinha, com Nick Jonas de fundo. Do restaurante, fui pra casa, ainda ouvindo o álbum que tocava no restaurante, mas dessa vez em meus fones de ouvido. Gosto desses meus momentos sozinha, que eu dedico a mim mesma, sinto como se fosse a versão decolonial de andar pelas ruas de Paris e tomar um café em uma esquina enquanto fuma um cigarro. Sim, eu fiz essa comparação pois a arquitetura do centro carioca é a mesma do centro parisiense (e particularmente me achei muito esperta por isso kkkk).
Deixo aqui algumas fotos que tirei do dia de hoje, apesar de já estar na filosofia a 4 anos, hoje foi o dia que me senti como uma verdadeira filósofa, pensando, refletindo e admirando todos os acontecimentos e imagens que me eram apresentados. E graças a esse dia fiz uma descoberta: Eu gosto de filosofia muito mais do que pensava.
Tumblr media Tumblr media Tumblr media Tumblr media Tumblr media Tumblr media
37 notes · View notes
lunaltt · 10 months ago
Text
oi gente decidi deixar meus pensamentos intrusivos vencerem ent isso aqui é o trabalho que fiz pra didática de filosofia falando sobre o ensino de filosofia nas escolas e tal. to postando aq pq genuinamente acho que servi mt cunt c essa ent kk filósofa luna marcando presença aqui. isso tá enorme pq é um trabalho de 5 fucking páginas ent assim.... diculpa. não revisei, fodase eu.
Para Hannah Arendt, o trabalho filosófico está envolvido, mesmo que não seja de forma direta, com o “compromisso com o outro” e a atividade filosófica é sempre um “processo simultâneo de ensino e aprendizado”. Segundo a autora, o ato de pensar tem a ver, além do compromisso com o outro, o compromisso do eu com si próprio. Vemos esta noção também em Platão, que afirma que “o pensar e o ajuizar caminham sempre juntos”, ambos inseparáveis, já que a possibilidade de distinguir conceitos como certo e errado, belo ou feio, verdadeiro ou falso, é uma questão pedagógica. 
Filipe Ceppas, no primeiro capítulo de seu livro “Ensaios de filosofia nos trópicos: questões de ensino e aprendizado.” traz uma passagem interessante: 
“Vale dizer, quando a questão do ensino-aprendizado comparece nos pensamentos de Heráclito, Pitágoras, Sócrates, Platão, Descartes, Locke, Rousseau, Kant, etc, ela não o faz somente como um tema filosófico a ser pensado (“a educação”) ou como questão relativa à transmissão da própria filosofia (a relação mestre-discípulo). A questão do ensino-aprendizado subjaz à relação entre o pensar e o ajuizar, nesta tensão entre refletir sobre o universal e julgar o particular…” (CEPPAS, 2019)
e a partir dessa breve introdução, podemos abordar a questão do ensino de filosofia em escolas. 
Eu sempre considerei filosofia uma disciplina muito difícil de ser ensinada, não pelo seu conteúdo (quer dizer, às vezes até pode ser pelo seu conteúdo), mas sobre como a disciplina é tratada em sala de aula. Na academia vemos muito a discussão entre “filosofia” e “história da filosofia”, e percebo que esta discussão é importante não só a nível superior, mas também a nível de ensino médio. Na escola que realizei meu ensino médio, uma escola de rede privada, o foco da disciplina de filosofia era sobre a história da filosofia, aquilo que geralmente cai nos vestibulares sobre autores antigos, medievais e modernos e suas respectivas teorias. Não fui ensinada a filosofar, apenas a saber o percurso histórico da filosofia. 
Conforme entrei na faculdade de filosofia e comecei meu estágio obrigatório, pude ter uma outra perspectiva de ensino médio, agora em uma escola de rede pública: nesta escola o professor foca em ensinar o filosofar. Percebo constantemente a falta que tal prática me causou, em como o filosofar é essencial ao se aprender sobre filosofia. Não nego a importância de saber a história da filosofia, afinal, constantemente encontramos coisas interessantes em autores antigos e podemos pegar tais obras e adaptá-las a nosso contexto, mas focar apenas no aspecto histórico da filosofia me parece errado, incompleto.
O “ensinar a filosofar”, para mim, não é nada menos do que instigar o pensamento em um aluno, instigar a crítica, a noção de erro, a noção de acerto. Isso é fazer filosofia, isso é filosofar. É poder provocar um aluno de forma que ele saia da sala de aula com uma mudança de perspectiva das coisas. O “pensar” é, na filosofia, o conhecimento em si, é o aprender. Mas esse, enquanto objetivo principal do ensino em filosofia, também se mostra como a maior dificuldade da disciplina. 
Ponho como dificuldade pois é esperado que a sala de aula seja como um cinema, no qual a aula é o filme a ser passado e o aluno é o espectador: o professor entra, fala, e quando termina, todos vão embora. Não há provocação de pensamento, não há conversa, não há debate. É pressuposto, em algumas redes de ensino, que a aula seja meramente expositiva, mas ao ensinar filosofia, apenas a exposição não seria suficiente. É necessário que haja a participação do aluno, que se convide o aluno a fazer parte daquela aula, afinal, ele é essencial pro processo de ensino, talvez até mais do que o professor. Mas como chamar a atenção desse aluno? Como provocar o interesse nele? 
Em um dia no estágio, houve uma aula para o segundo ano do ensino médio sobre a primeira meditação de Descartes que a turma parecia bem desinteressada, pude ver estampado no rosto dos alunos que ler a primeira meditação estava sendo uma grande chatice. O professor, meu supervisor do estágio, decidiu então promover um debate, tentar arrancar da turma o que eles estavam achando daquele texto para então poder se iniciar uma discussão sobre a obra de Descartes. A tentativa foi em vão, obviamente, como os alunos iam falar sobre o texto que eles não estavam suportando além de “Professor, esse texto é muito chato.”? (Inclusive, se minha memória não me engana, tenho quase certeza que uma aluna de fato o disse). 
Na semana seguinte, então, o professor teve a brilhante ideia de trazer um filme para as turmas de segundo ano, um filme que conversasse diretamente com o tema da primeira meditação. Foi só com o filme que os alunos se mostraram interessados. Como estávamos no final do segundo bimestre, o professor precisou passar um trabalho para a turma, como um trabalho-avaliação, e me deu autonomia para eu mesma elaborar o trabalho e passar para a turma. No trabalho, pedi simplesmente para os alunos elaborarem no papel os pensamentos que tiveram a partir do filme. Não especifiquei nenhuma pergunta em si, apenas pedi para que eles escrevessem sobre o que eles acharam, e deixei claro que não teria nenhum problema se eles escrevessem sobre experiências pessoais que vieram à memória conforme pensavam no texto de Descartes e no filme.
Eu e meu supervisor não esperávamos receber muitos trabalhos, segundo o professor, nessa turma eles tendem a “relaxar” mais em relação a nota, então quando recebemos os trabalhos e vimos que a maioria da turma havia feito, foi uma surpresa. Os trabalhos estavam incríveis, era visível como cada aluno realmente se dedicou a fazer a avaliação. Creio que relacionar o texto, que, para eles, era desinteressante, com um elemento da cultura pop (o filme) e pedir a visão deles, foi o que chamou a atenção desses adolescentes, pois a partir do momento que introduzimos o pensamento cartesiano na vida deles de forma prática, mesmo que sutil, eles puderam entender e atender a proposta do trabalho. Eles puderam filosofar.
Bell Hooks, no livro “Ensinando a Transgredir: a educação como prática da liberdade” fala sobre a “Pedagogia engajada”. A pedagogia engajada, ou a educação como prática de liberdade, segundo Hooks, interessa ao professor que acredita fielmente que o trabalho de educar não se trata apenas de transmitir informações, mas sim de promover e participar da evolução intelectual do aluno. Esse modelo vai diretamente contra o que Paulo Freire denomina como “educação bancária”, que é, conforme Hooks elucida:
“... a abordagem baseada na noção de que tudo o que os alunos precisam fazer é consumir a informação dada por um professor e ser capazes de memorizá-la e armazená-la” (HOOKS, 2013)
A pedagogia engajada, particularmente, me atrai pois têm como base a noção de que o aluno não é um mero ouvinte, assim como o professor não é um mero mensageiro. Nesse modelo de fazer educação, todos os envolvidos no processo pedagógico precisam participar ativamente, e esse seria o modelo ideal quando tratamos do ensino de filosofia. A filosofia por trás da pedagogia engajada está diretamente ligada à “práxis” de Freire: “agir e refletir sobre o mundo a fim de modificá-lo”, e esse é (ou ao menos deveria ser) o objetivo principal da filosofia, principalmente a filosofia de dentro da sala de aula.
Bell Hooks fala sobre como, conforme suas experiências de ensino, percebe como professores das mais diversas posições e tendências políticas se queixam quando os alunos querem que as aulas sejam como uma “terapia de grupo” e apesar de ser irrazoável ter essa expectativa, ainda sim é importante nos atentarmos aos fatos de que os alunos desejam que o conhecimento vá para além do acadêmico. Quando a educação esbarra com experiências pessoais, com coisas da vida prática, o ensino se torna mais interessante para os alunos, não só isso como o conhecimento se torna mais significativo. Portanto, a pedagogia engajada, por valorizar a expressão do aluno, é essencial para o ensino de filosofia.
Filosofia é compartilhar, é falar sobre experiências, até quando precisamos pensar em exemplos hipotéticos para expor nossas teorias, precisamos pensar em nossas vivências. Por exemplo, quando Frank Jackson fala sobre os qualia e sobre a experiência de ver cores, ele mesmo precisa pensar na vivência que ele tem ao ver cores como o verde, o vermelho, etc. e a partir disso que ele pode elaborar sua teoria. Portanto, ao instigar o filosofar no aluno, é essencial que esse aluno participe, compartilhe.
Lembro de outra situação que me ocorreu no estágio: Em uma semana tivemos uma palestra com a vereadora Mônica Benício, palestra essa que abordava diversos temas feministas, principalmente sobre políticas e projetos de leis que visam a igualdade de gênero e a proteção à mulher. Na semana seguinte a palestra, meu supervisor me permitiu conduzir uma aula-conversa, na qual os alunos traziam figuras femininas, das mais diversas áreas, importantes pro mundo e nós passávamos por cada uma delas, debatendo não só seus feitios mas sobre a teoria feminista e os diversos conceitos que aparecem dentro dela.
Um dos conceitos que apareceu foi a noção de “masculinidade tóxica”, e quando toquei nesse ponto e disse que a masculinidade tóxica é uma pauta dentro do feminismo pois é algo prejudicial para homens e mulheres, um aluno meu contou sobre sua experiência pessoal: Em como ele têm um tio rigoroso que proíbe que os primos desse aluno, que ainda são crianças, chorem. Me surpreendi ao ouvir esse aluno específico falar isso pois semanas atrás tinha escutado falas terrivelmente machistas dele, mas fiquei genuinamente feliz com sua colaboração.
Ao compartilhar sua experiência esse aluno me mostra que não só está ouvindo o que eu falo, como absorve e processa a informação, a ponto de ligar com algo que ocorre na vida dele, com algo da sua vivência. Além disso, ao associar o que o professor diz com a própria vivência, o aluno também demonstra que sempre que ele se deparar com tal situação ou com situações meramente similares, ele irá voltar à reflexão que foi proposta em sala de aula, podendo a atualizar e a aprimorar toda vez que a revisitá-la. Ou seja, esse aluno irá filosofar.
Bell Hooks fala sobre como as narrativas compartilhadas em sala de aula podem complementar a discussão acadêmica, ampliando a “compreensão do material acadêmico”. Acredito que foi isso que ocorreu quando este aluno compartilhou sua experiência, agregando à discussão. Portanto, quanto mais envolvermos o aluno na prática pedagógica, e principalmente na prática pedagógica filosófica, mais produtiva ela será.
25 notes · View notes