se . ren . di . pi . da . de (s.f.): circunstância agradável que ocorre sem aviso. imprevisto feliz. descoberta afortunada. mero acaso. sorte.
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querido panfleto
Eu não sabia que as pessoas ainda escreviam em diários até tipo, anteontem.
Pra falar a verdade, eu achava que era uma coisa meio geração passada. Mas, parando pra pensar por míseros dois segundos, percebi que até que faz sentido que essa seja uma prática que perdura e blá-blá-blá. Às vezes a vozinha na sua cabeça fala muito - ou alto demais - e é preciso dar liberdade a ela, ou você acaba meio... doido. Algumas pessoas falam, outras escrevem. Eu não costumo fazer nenhum dos dois, o que deve ser meio problemático. Enfim. Uma pena. Ninguém é perfeito.
Enfim de novo. (Talvez eu devesse estar escrevendo isso de lápis pra poder apagar os erros ou construir melhor as frases, mas agora já era.)
Como você pode ver, eu decidi dar uma chance. Não “você” como em “meu querido diário”, mas “você” como em “o verso do panfleto da caçada que, por acaso, eu achei no meu chalé”. Você não é tão importante assim, desculpa; é que eu não pretendo fazer disso um hábito. Eu só estou escrevendo porque comecei a pensar sobre o que Edoardo escreveu. Talvez vire um hábito, nunca se sabe. Acho que o problema é que eu nunca tive tempo pra isso; agora, até que tenho.
Tempo. Quando eu paro pra pensar na minha vida, antes do Acampamento, eu sinto como se estivesse pensando em algo que aconteceu há anos e anos atrás - mesmo que eu só esteja aqui há doze meses e uns cadinhos. Ou talvez como se fosse uma realidade alternativa. Ou ainda como se eu fosse a telespectadora de um filme que definitivamente não é meu.
Las Vegas era agitada - e eu sempre tive o costume de dizer que eu e a cidade éramos quase uma só. Almas gêmeas, até. Eu amava o frenesi constante; os sons, as luzes, a exaltação, o desatino. E eu sempre me movi tão rápido quanto ela. Entre passar dias e noites no La Fortuna, ou fazer qualquer outra coisa que me desse vontade, eu não tinha muito tempo pra escrever. Novamente, não é a minha situação atual.
Eu não posso dizer que o Acampamento é monótono, porque sempre tem alguém ou algo tentando nos matar. Quando isso não tá acontecendo, é um lugar bem tranquilo. Calmo. Eu não costumo gostar de coisas calmas, então achei que nunca fosse me adaptar. Isso não sou eu, e qualquer um que olhe pra mim percebe isso. Eu não faço o estilo campestre, definitivamente; nem o tal cottagecore aesthetic do Pinterest. Eu nem gosto de mato!
Mas olha onde que eu tô agora. Pois é. Eu era sua típica garota da cidade, com luxos demais e problemas de menos, e um pai que me livrava de qualquer burrada antes mesmo que eu cogitasse fazê-la. Agora eu não moro mais na cidade, tive meus cartões de crédito congelados, quase morro no mínimo uma vez por semana e o meu pai tá... em um centro de reintegração social, é. Acontece com as melhores pessoas. As coisas mudam. Continuando...
Eu até gosto daqui. Aprendi a gostar com o tempo, e até que não foi difícil. Agora, eu consigo me sentir tão em casa quanto me sentia em uma mesa de pôquer do insigne cassino La Fortuna Divina. As pessoas daqui com certeza ajudaram pra que isso acontecesse. Não é como se eu conhecesse todo mundo - apesar de gostar de me considerar uma borboletinha social, eu também não sou tanto assim -, mas eu gosto de todo mundo que eu conheço. Um destaque especial a Luxanno, Harper, Edoardo, Vin, Lílian, Miles, Narkissa e até Cain, que também é legal quando você passa por algumas camadas grossas de sarcasmo e implicância. Eu aprendi a gostar de cada um deles, com defeitos, qualidades, o pacote completo. Eu não sabia que poderia chegar a considerá-los algo como família, mas é difícil não fazer isso depois de tantas semanas de convivência e experiências tanto agradáveis quanto... nem-tão-agradáveis. Faz parte, eu acho.
E também tem Teressa, claro. Teressa é um pouco mais que isso. Acho que ela foi a primeira pessoa que eu realmente pude chamar de amiga por aqui - embora eu não tenha certeza se deveria continuar chamando-a assim....????? Se eu for ser sincera mesmo, Teressa não tem sido só uma amiga desde antes mesmo que qualquer coisa acontecesse. (E ok, eu poderia simplesmente perguntar, mas não é tão simples assim. Talvez seja. Mas eu não quero ser aquela pessoa que traz aquele assunto. Você não pode me julgar, aliás; você é a voz na minha cabeça mesmo.) Enfim. É, Teressa. Eu não acho que precise me explicar muito. Eu gosto de Teressa. Talvez um pouco mais do que achei que fosse gostar. Pronto.
O fato é: Edoardo realmente me fez ponderar sobre tudo o que aconteceu nesse último ano, e eu não consigo nem ficar brava que ele simplesmente levou a alavanca de um dos caça-níqueis daqui. Eu nem sei como ele conseguiu entrar aqui, pra começo de história. E ele não pode saber disso, mas espero que ele volte logo; esse lugar não é o mesmo sem ele enchendo o saco de todo mundo. Salafrário.
Certo, foco. É até estranho pensar o quanto todos nós evoluímos nesse período, sabia? Além disso, eu até perdi a famigerada ironia de ser a filha azarada da deusa da sorte.
Eu estou feliz de estar aqui. Estou feliz de ter conhecido todo mundo que conheci. Considerando tudo o que aconteceu e vem acontecendo, acho que eu sou sortuda pra cacete mesmo.
É isso. Eu nem sei como coube tanta coisa aqui; acho que subestimei o quão miúda a minha caligrafia pode ser. Adeus, querido panfleto. Talvez eu arrume um diário de verdade algum dia. Talvez não. Vai saber.
[15/06/2021; encerramento do aro]
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Sunset - XXV
[15/06/2021]
(: (: (: (hola, Lux!!! yo estuve aca!!) Querido Diário do Luxanno,
Talvez você esteja se perguntando o que diabos é isso aqui, mas, antes de começar as explicações, queria dizer que você esconde muito mal esse diário, nem tive que me esforçar para achar. Aconselho ir atrás de um esconderijo melhor. Hoje fui eu, mas amanhã pode ser, sei lá, o Cain ou pior ainda, a Amorette!!! Como eu sou uma boa pessoa que zela pela privacidade alheia, não li nada do que você já escreveu (não existe nenhuma garantia quanto a isso, vai ter que confiar na minha palavra). Agora, voltando ao foco principal, eu só vim trazer algumas mensagens rápidas, não quero me estender muito por aqui embora não me pareça uma má ideia escrever um tanto de coisa só para lotar folhas e mais folhas com baboseira sentimental. Enfim, presta atenção!! Primeiro ponto: Eu tive que voltar voaaaaando (esse tanto de a é para dar ênfase) para a Espanha, então não precisa chorar caso tenha dado a minha falta (o que eu tenho certeza que aconteceu hihi). Mas calma, você ainda ainda não se livrou de mim por completo!!! Dependendo de qual for o tamanho do problema por lá, talvez eu volte em uma ou duas semanas… ou um mês, não sei. Só fique ciente de que eu volto!!!!!! “Me dê um abraço, venha me apertar, tô chegando.“ Encontros e Despedidas ━ Maria Rita Segundo ponto: Se houver algum burburinho sobre itens sumidos: fui eu sim. Estavam lá no chão, eu peguei. Porém isso também tem motivo!!! Foi para eu poder me lembrar de vocês enquanto eu estiver fora, okay? :) Antes que saia gente me acusando do que não fiz, vou fazer o inventário do que vocês me emprestaram. ━ Cain: nada, até porque ele já não tem nada mesmo. ━ Felice: cinco dracmas e a alavanca de um dos caça-níqueis do chalé dela (na verdade eu queria era aquele berrante que ela ganhou). ━ Harper: uma garrafinha de água e duas conchas. ━ Lily: aquele óculos preto estileira. ━ Luxanno (você): nada material além do seu coração e essas páginas do seu diário. ━ Narkissa: poderia ter sido o Cain ━ Teressa: duas canetas e um dos brincos de dragão (deixei o outro para quando eu voltar, a gente ficar combinandinho ♡-♡). ━ Ursula: o cartão de crédito da Vin. ━ Vin: o cartão de crédito que estava na mochila da Ursula. “Tudo é do pai.” Tudo é do pai ━ Pe. Fábio de Melo. Terceiro ponto: Mas veja só: eu deixei algumas coisas para que vocês também se lembrem de mim com carinho sz. ━ Cain: o espólio de um monstro que derrotei uma vez. vai ficar lindo como decoração na casa que ele comprar com a Narkissa (avisa que se ele for vender, eu quero parte do lucro). ━ Felice: um espelho quebrado, uma foto minha e a demo das minhas acústicas poéticas <3. ━ Harper: a embalagem do sushi que eu comi ontem e um trunfo com cartas de tubarão. ━ Lily: um livro sobre como fazer amigos e a corda torada do meu violão. ━ Luxanno (você): essa linda caligrafia e uma semana de passeios na bicicleta voadora. ━ Teressa: meu caderninho de músicas (a pobre coitada não tem um lugar para escrever as receitas de bolo) e uma caneta com cheiro de uva que achei lá na Casa Grande. ━ Ursula: a chance de se tornar conselheira interina do onze. ━ Vin: um tubinho de protetor solar. “Eu queria comprar alguma coisa para você, mas eu não tenho dinheiro :/” Money ━ The Drums Quarto ponto: Vivemos muitas coisas nesse um ano que passamos no acampamento (dá para acreditar que já faz UM ANO?? A linha do tempo foi escrita tão rápido que sequer tive chance de acompanhar) e, sinceramente, eu acho que teria sido bem entediante se você e todos os outros não estivessem ao meu lado. Peço perdão se alguma vez fui além do famigerado limite (nunca, até porque eu não faço nada de errado) e agradeço por tudo que já fizeram a mim, mesmo que possuam uma série de desvios de caráter e falem mal de mim 24/7 BLÁ BLÁ BLÁ Espero voltar logo. Já não sei mais o que é viver sem vocês irritar alguém. XoXo, Du, Dudu e Edo :) :) :)
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i belong to quick, futile moments of intense feeling. yes, i belong to moments. not to people.
virginia wolf - from a passionate apprentice.
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Darlin’, darlin’ Doesn’t have a problem Lying to herself 'Cause her liquor’s top shelf It’s alarming, honestly How charming she can be Fooling everyone Telling them she’s having fun
CARMEN (Lana del Rey)
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Anaïs Nin, from Ladders to Fire; “Cities of the Interior”
Text ID: I’m insatiable, you know. I’ll ask you for the impossible.
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[...] Mas nós só temos uma vida! Uma simples existência para fazer o que quisermos. E eis o que eu digo a isso: durma quando morrer.
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o fato era que laços com famílias eram importantes, e além de Nêmesis, haviam poucas pessoas que sentia-se confortável em dizer que eram importantes para si. Importantes o suficiente para construir laços. Damien, seu namorado; Amorette, sua irmã de coração; Narkissa, sua melhor amiga; Felice, como uma prima distante; Luan, seu melhor amigo e, parcialmente, um irmão.
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se a sorte sorrir pra você, pague-lhe uma bebida
Pierpaolo nunca se considerou um cara de muita sorte.
Não era mal de vida, mas constantemente se via afundado em dívidas pelas tentativas frustradas de cessar o apetite insaciável pelos jogos de azar. Fora atraído à Cidade do Pecado como que por uma força invis��vel - ainda jovem, recém-chegado da Itália e cheio de metas e ambições.
Aos vinte e poucos anos, começou a trabalhar como contador - o que talvez fosse uma ironia sem tamanho, tendo em vista que era ótimo em administrar as finanças dos outros, mas não tinha tanto sucesso quando se tratava das próprias. Além disso, detestava a profissão; mas não era como se pudesse fazer muita coisa para mudar aquilo. Sentia-se preso. Estagnado. Pierpaolo frequentemente pensava que merecia muito mais do que a vida lhe concedia, mas tão regularmente quanto, não tinha ideia do que fazer a respeito.
Descobriu gosto pelos cassinos quando foi empregado em um deles, o Tranquility Base. Adorava o ambiente, a agitação e frenesi constantes, a imprevisibilidade de tudo, o dinheiro que entrava e saía a todo momento. Seu carisma evidente foi aliado fundamental para que estendesse sua rede de contatos até aqueles que estavam no topo. Era um rapaz simpático, divertido; mas, sobretudo, esperto e astucioso, sem medo de fazer o que julgava necessário para conseguir o que desejava.
(Para Pierpaolo Cannavò, os fins sempre justificariam os meios.)
Mas deveria mesmo se contentar em estar nas graças daqueles poderosos quando poderia ter muito mais? Quando poderia fazer e ser mais que isso? Para o italiano, limites estavam ali apenas para que fossem ultrapassados; senão, qual seria a graça? Não duvidava que era destinado a ser grande; às mídias, aos luxos, ao dinheiro. A todos os prazeres terrenos que esse mundo poderia lhe proporcionar.
Em uma noite de jogo, a Sorte lhe sorriu. Mas ele não saberia disso ainda.
As risadas e conversas paralelas eram altas, ecoando pelo grande salão. Pierpaolo sentava-se no bar após a última mão daquela rodada; tinha ido bem, mas ainda havia perdido mais dinheiro do que poderia se permitir. À distância, observava uma figura que havia lhe prendido a atenção quase instantaneamente; era linda, sim, essa era a primeira coisa a se dizer. Mas o que de fato despertava tanto sua curiosidade era a forma como não havia perdido uma única partida desde que havia chegado, pouco após ele próprio. Observou o sorriso que se desenhava nos lábios pintados de carmim quando, com as mãos repletas de dourado, puxou para si mais um monte de fichas.
Ele tentou analisá-la de forma mais meticulosa, embora mantivesse o cuidado de não encarar diretamente. Seus fios castanhos desciam até a metade das costas em cachos cheios, rebeldes e ainda elegantes, entrecortados por reflexos de dourado - como se aquela mulher realmente carregasse ouro nos cabelos; seus traços eram finos, delicados, emoldurados por um rosto anguloso. Além disso, parecia mais velha; talvez passasse um pouco dos trinta anos. Era adornada pelas mais requintadas joias e ela própria parecia brilhar como os acessórios - mas aquilo provavelmente era só a incidência da luz do local. Acima de tudo, emanava imponência.
Pierpaolo assistiu a desconhecida desviar a atenção até ele próprio, como se soubesse que vinha sido contemplada aquele tempo inteiro. O canto da boca ladeou um sorriso, à medida que meneou a nuca em um cumprimento ao seu admirador. E Pierpaolo soube o que fazer. Aproximou-se com uma bebida em mãos e puxou uma cadeira ao seu lado, oferecendo-lhe o drink e um sorriso atraente.
Talvez aquele fosse seu dia de sorte, afinal.
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