Desde 2013, @marianamaiasilva, professora de artes, tem o projeto de grafitagem de murais coletivos na EM Nações Unidas. Localizada em Bangu, este ano a escola recebeu o apoio da Rede NAMI para realizar o projeto.
Este é o relato de Mariana sobre o primeiro dia de atividades, que estão só começando…
Mural 1 | Grafiteira J Lo Borges
O projeto teve seu início efetivo na manhã do dia 1º de junho, quando recebemos @jloborges, artista contemporânea que tem como principal linguagem o grafite, participante do projeto AfroGrafiteiras. Ela palestrou para duas turmas do 9º ano, falou sobre suas motivações artísticas, levantando importantes questões acerca de sexualidade, negritude e lesbofobia. Abordou temas históricos e contemporâneas, como a inquisição de mulheres lésbicas e as cotas raciais na universidade. Mostrou imagens de seus trabalhos em tatuagem e pintura, causando alvoroço e suscitando várias questões entre os jovens.
J Lo Borges presentiou a escola com um mural no pátio, onde grafitou uma de suas personagens, “A rainha sapa”, que deixou um recado sugerido pelas alunas Hiasmyn e Maria “Qual foi? Só porque sou nega?”. Durante a realização do mural a artista passou dicas de grafite e ao término ocorreu um animado bate-papo sobre arte e empoderamento negro.
Mural 2 e 3 | Grafiteirxs MV Hemp, Barat Selva e Carla Felizardo Nega
Na tarde do mesmo dia recebemos três artistas grafiteiros da região de Bangu, bairro da escola. Eles falaram sobre suas trajetórias, que envolvem muros e exposições, em espaços de arte importantes no Brasil e no mundo.
Mv Hemp e Barat do Comando Selva e @carlafelizardo do AfroGrafiteiras apresentaram o universo do grafite, através de coloridos saberes e da prática do spray, para alunos do 9º ano e das turmas de projeto, professores também participaram da atividade. Eles realizaram dois murais com a comunidade escolar. O primeiro mostrando o traço pessoal dos artistas. Mv Hemp com suas formas fluidas e palheta cítrica, entre a abstração e a figuração. Barat Selva com uma persona indígena marcante e de traços precisos. Carla Felizardo Nega com suas letras, que como os outros artistas, trazem de forma pungente a cultura e a identidade do Brasil.
No último mural Mv Hemp propôs uma atividade divertida e cheia de significados. Os alunos e professores encheram o muro com as palavras “afro, gratidão, fé, educação, justiça, paz, felicidade…”. Um muro, texto, que fez todos pararem para pensar na realidade da escola e da sociedade, realidade da selva! Imagem-texto que, com toda certeza, fará os dias na escola serem mais leves e cheios de luz!
#Afrografiteira Ato dando início à atividade de grafite na escola que leciona. A alunada feliz em dar mais cor a educação. Obrigada Rede Nami pelo apoio.
Saidinha para treinar o grafite com a amiga J Lo Borges. Entre as estações de Colégio e Irajá você pode encontrar “Ventre do mar” ou a minha homenagem a rainha do mar. Odoyá! E encontra também a “Sapa Sapata” de J Lo.
#AfroGrafiteiras participando de evento de Hip Hop feito por mulheres, Batalha Plano A. Música Boa, Agitação, Rua, Estêncils, Camisas. Deixamos marcas em corpos, cidade. A necessitade de levarmos no peito nossas ideias, poder, força.
MOF 2015 - Formatura na Vila Operaria - Duque de Caxias - Rio de Janeiro - Brasil
Quando comecei o curso Afrografiteiras, achei que era mais um curso que eu aprenderia algumas coisas e faria contatos com pessoas de outras regiões para fortalecer minha rede de contatos…
Dai se passaram 8 meses e depois de uma exposição de arte, depois de uma viagem para o maior museu de arte a ceu aberto da america latina, hoje recebi um cracha de participação no maior evento de grafite da america latina ou seja, hoje tive a confirmação: Sou grafiteira.
Participar do MOF - Meeting of favela foi um momento impar, tipo formatura de grafiteira.
Caminhando pela Vila Operaria pensei mil coisas, meu coração palpitou, encontrei o Alex Bomb, O Bicho, a India e outros grafiteiros que ja conhecia da pista. Geral me comprimentando.
As parceiras Afrografiteiras Jlo, Ato e Baker foram as cias na parte da manhã, a Cinna chegou quando eu ja estava indo embora mais deu pra gente jogar umas tintas nas paredes juntas e a afrografiteira Lu Brasil e moradora da Vila Operaria estava por la trabalhando na organização do evento, filmando tudo.
Eu e as minas fizemos varias poses pros videos andando pela favela, desfilando na passarela.
Chegar no muro e largar a tinta é um prazer, mais quando tem gente em volta olhando e admirando é um orgasmo ou seja, tive multiplos orgasmos.
Observadas por leigos, moradores, grafiteiros e amantes da arte e geral admirando, elogiando e motivando foi maravilhoso.
Infelizmente devido a um compromisso no projeto que faço parte não pude ficar o dia todo e sai de Caxias sem deixar por la minha tag Negra ou minhas tulipas com a mensagem Mais Amor, mas ja deixo o registro que a amiga Lu Brasil vai ter que organizar um churrasco na casa dela pra que Eu possa voltar e deixar minha marca por la.
Depois dessa Formatura, agora sim falo que sou Grafiteira com a boca cheia.
Ensaias. Fitas desatam ao vento.
Nas encruzilhadas Cohabitamos.
Cores impregnam todas as peles.
Corpos empreendem lutas,
Vestidos com a alegria de nossos ancestrais.
Ação feita em uma encruzilhada da Cohab de Realengo. Fitas eram arrancadas da saia e jogadas ao vento ou distribuídas ao público. Ao final a saia se desfazia completamente.
O Coletivo GritOeste grafitando no Sarau da Maria Realenga. Grafite: Mariana Maia e Ana Beatriz Maia. Fotografias: Cida Silva. Junto e misturado comNego Maia Do Brasil, Andre Luiz Bonfim Lima.
O grafite só acontece na rua. Estamos a merce dos acontecimentos. Ah, o grafite me parece algo incontrolável e selvagem.
Aprender uma nova linguagem é muito difícil. Aprender a expressar um pouco de si através de meios desconhecidos.
A fotografia da esquerda foi minha primeira experiência. Tive certeza que nunca conseguiria criar nada além de um borrão.
A fotografia da direita mostra o dia de grafitagem em Antares. Lindo! A comunidade nos tomou de carinhos, abraços, poesia, raps e também, balas, bondes, bocas.