Eu sempre fui minha melhor companhia. Sempre estive presente quando o mundo desmoronava na minha cabeça. Agora eu que eu criei um muro com os destroços você me acha egoísta. Mas eu sou a mão que secou as lagrimas mais impertinentes, a voz que dizia "vai passar". Eu e eu. E se isso soar egoísta, tudo bem. Porque quando todos vão embora eu ainda estou aqui. Por mim e para mim.
As vezes eu penso no quanto quase fui feliz, aquele dia que esqueci todos os traumas e tristezas que eu guardo bem num cantinho de mim, como quase pareceu que tudo passa... Mas não passa, me apresso em esquecer, engolir o choro e fingir que passou. Todo dia eu me lembro, de quando quase me senti completa, quase esqueci da solidão de não receber o amor que eu esperei, quase fui amada com a mesma profundidade que amei, quase.. E quase quis morrer quando percebi que o mais perto do amor que estive, foi quase. Quase morte. Quase êxtase. Quase profundo. A única vez que não me senti quase foi quando percebi que estou sozinha. Não quase sozinha, completamente sozinha. Com tudo que quase foi, que quase fui e toda a bagagem de quem quase me protegeu. E todo esse peso agora também é meu. Mas me recuso a quase entender. Essa bagagem acaba em mim.
Chovia lá fora... A atmosfera era de tédio e conforto.
Já fazia muitos meses desde que eu escrevi alguma coisa. Mesmo determinada a derramar quem eu sou através da escrita algo em mim estava estagnado. Morto, talvez. Eu me sentia pressionada a ser alguém centrada e otimista quando eu estou desabando dia após dia, pelas mesmas razões. Me sentia inútil, frustrada. De alguma forma eu sabia como resolver as coisas, mas não sabia como começar, eu simplesmente não me entendia. Sentia pena das pessoas em volta, pois sabia que elas queriam me ajudar, me entender, mas eu não sabia como dizer á elas que eu estava perdida em mim mesma. Que não sabia como viver a minha própria vida.
“E eu perdi o amor-próprio, o juízo, a vergonha na cara e te pedi tantas vezes por-favor-fica-comigo e você nem sequer me olhou nos olhos, você nem teve a capacidade de conversar me encarando, com decência, com honestidade, com carinho. E isso me doeu por tantos dias, tantos meses. E fiquei completamente perdida, rasgada por dentro. E demorei pra me reconstruir e ajeitar de novo todas as coisas na minha vida e na minha história.”
“Por dentro eu sempre me persegui. Eu me tornei intolerável para mim mesmo. Vivo numa dualidade dilacerante. Eu tenho uma aparente liberdade mas estou preso dentro de mim.”