Don't wanna be here? Send us removal request.
Text
TASK 002: a kalimba de rafael
portugal, february 2025.
parte 1 — camilo’s pov:
camilo abriu as cortinas do jatinho para revelar a suas vestes, deparando-se com christopher também recém arrumado com o que o ricci havia achado pertinente para ambos. “eu ainda acho que eu deveria ser o artista. acha mesmo que eu passaria batido como um mero assistente?” deu um giro no próprio eixo, exibindo a calça clara e o colete marrom que faziam um pobre trabalho em cobrir o torso sobre o qual não havia camiseta alguma. chris ajustou os óculos escuros, movendo-se um pouco desconfortável no poncho colorido que vestia. ‘quem sabe tocar alguma coisa aqui sou eu. lembra do que conversamos, camilo, enquanto você distrai todo mundo, eu procuro a kalimba. depois nos juntamos para pensar no melhor jeito de pega-lá’ o loiro relembrou, tendo aparentemente desistido de contestar a escolha das vestimentas. ‘está pronto?’ o mais velho pegou o restante da fantasia: uma prancheta de assistente para que anotasse coisas de assistente, e uma bolsa com uma enorme papelada de assistente. chris, por sua vez, tinha em mãos apenas um violão. “agora sim. vamos”
do jato até o festival não demorou mais do que quinze minutos, já que haviam pousado suficientemente perto. conforme se aproximavam, a música alta e o cheiro de maconha e suor invadiam seus sentidos. camilo adorava drogas, música e festa; mas os ambientes que frequentava costumavam ter muito menos lama e muito mais desodorante. “aqui, toma isso” entregou-lhe um crachá falsificado, colocando um parecido no próprio pescoço. ‘ícaro nebulosa?’ christopher perguntou, perplexo. “seu nome artístico. precisei ser criativo né, seu nome não ia colar. então você é ícaro nebulosa, o maior artista de indie experimental que mistura jazz e vaporwave que a itália já viu. e eu sou antonio rojos, seu assistente espanhol bonitão e solteiro que cresceu em barcelona e é professor de tango nas horas vagas.” explicou, exagerando em um sotaque fajuto ao pronunciar o nome da cidade. para azar de christopher, era tarde demais para criticar os disfarces escolhidos pois a segurança do local lhes pedia o crachá de acesso. “hola, grandão” piscou para o homem em uniforme, entregando os crachás. ao questionar que aqueles nomes não estavam na lista, camilo carregou o sotaque, mantendo a pose. “nosotros estamos no lineup do palco lua cósmica. se quiserr, pode ligar parra nosso emprresario pero ele está em um rretiro espirritual. você não vai querrrer ser rresponsavel porr carregarr a aurra de mi jefe, eh? se icarro nebulosa no canta, terrao milhões de fãs desolados. você querr toda essa gen—“ foi interrompido quando o homem ergueu a mão impaciente, e então indicou o caminho para que eles entrassem de uma vez. “sabia que ia funcionar.” disse orgulhoso enquanto se dirigiam aos camarins - que nada mais eram que trailers bem velhos. “vamos nos dividir e procurar a kalimba, nos encontramos na frente da barraca de cerveja.” o que seria o ponto de encontro ideal, porque ele queria mesmo tomar uma.
caminhou na direção dos trailers buscando reconhecer qualquer membro da banda de tariq, mas distraiu-se no caminho com um grupo de jovens animados e bem pouco vestidos. “hola, señoritas, señoritos” cumprimentou, forçando o sotaque cretino e iniciando uma conversa muito animada sobre tudo menos o que devia. em algum ponto, quando comentou sobre a pulseira que uma delas usava, a informação útil lhe chegou despretensiosamente. ‘é uma réplica da pulseira do ali. ele sempre usa nos shows! é como se fosse uma pulseira da sorte. todos do grupo tem alguma coisa. o tariq, por exemplo, com a kalimba. ele sempre fica grudado nela o dia todo quando tem festival, e só guarda no camarim quando acaba. e tem também o—‘ antes da jovem fã continuar enumerando os objetos especiais de cada membro, camilo a interrompeu. “esperra um momento. que dice dessa tal kalimba?” e então, a moça reforçou. tariq a considerava mágica (bem, meio que era), e ficava com o instrumento em mãos o dia inteiro quando precisava se apresentar. apenas a guardava no final, para comemorar com o restante dos membros um show de sucesso. ela também falou sua cor favorita, o nome do cachorro de infância dele e seu mapa astral, mas duvidava que precisariam dessas informações. deu uma desculpa qualquer e prometeu que encontraria os jovens depois, indo até a barraca de cerveja para encontrar chris. que, por sua vez, havia encontrado o camarim de tariq e inclusive o próprio homem, junto da kalimba.
“certo. eu fiquei sabendo que ele não desencosta até o final do show. depois, guarda no camarim. precisamos pegar de lá” apontou, para o que christopher tão logo complementou com a ideia do plano: durante a apresentação, chris manteria tariq distraído enquanto camilo entrava no trailer e deixava uma janela aberta. mais tarde, quando o artista deixasse o instrumento guardado, eles poderiam entrar no trailer pela janela e furtar o objeto. não era o mais genial dos planos, mas era um começo! o que camilo não demorou a desafiar, já que assim que o amigo se afastou, pensou em algo bem melhor: com a quantia certa de dinheiro, convenceu dois dos jovens com quem conversava mais cedo a oferecer um chá de ayahuasca a tariq — isso certamente garantiria que ele se mantivesse distraído por tempo o suficiente. em seguida, enquanto todos estavam ocupados prestando atenção na primeira música que iniciava, o ricci foi até o trailer indicado pelo d’amato. a porta estava trancada, percebeu, e enquanto olhava em volta uma bela morena se aproximou. camilo observou as vestes brilhantes e recortadas da outra, que cobriam pouca pele. ‘procurando alguma coisa?’ ela perguntou, simpática. simpática e muito, muito gostosa. “você. a minha vida toda” a garota riu lisonjeada, e ele segurou sua mão, beijando o dorso de modo exagerado. “antonio rojos. e usted, quem és?” as sobrancelhas arqueavam ligeiramente em sinal de curiosidade. ‘namorada de tariq’, ela respondeu, oferecendo-lhe a oportunidade perfeita para entrar naquele trailer.
havia calculado quanto tempo poderia usufruir do espaço antes do fim do show, mas não apenas ele havia obviamente se distraído, como aparentemente a apresentação fora interrompida antes. quando abriram a porta do trailer, bem, suficiente dizer que havia sido pego com as calças arriadas.
parte 2 — christopher’s pov:
Quando se é acostumado a conviver em meio ao caos, qualquer momento de calmaria já se torna suspeito, e era justamente esse o motivo da ansiedade de Christopher naquele momento. Tocar em frente a uma multidão de pessoas? Tranquilo. Roubar um instrumento musical? Moleza. Fazer uma banda inteira gostar o suficiente dele a ponto de chamá-lo como músico substituto? Fácil demais. Um plano que dependia dele e de Camilo para dar certo estar dando certo sem nenhum problema? Perigoso…
Tariq, para o desespero de Christopher, era um ótimo observador, e não tardou a perceber o nervosismo que ele emanava, mas, dadas as circunstâncias, foi fácil atribuir o nervosismo ao show que estava prestes a acontecer. Com a finalidade de tranquilizar o novato, Tariq ofereceu a ele seu próprio chá, explicando que a bebida era uma espécie de ritual para ele, pois sempre o acalmava antes de qualquer apresentação. Ainda que não fosse exatamente um fã de chás, Christopher aceitou a bebida, sorvendo a bebida de cheiro terroso e enjoativo o mais rápido que a temperatura lhe permitiu. Chegada a hora do show, todos subiram ao palco, dando início a apresentação. Ainda que estivesse desacostumado a aquele estilo de música específico, Christopher não teve dificuldade alguma em se adaptar ao som, conseguindo acompanhar todas as melodias e ainda adicionar um toque pessoal a cada uma, toque esse que, por sua vez, pareceu chamar a atenção da platéia que parecia vibrar com crescente entusiasmo. Cerca de metade do show havia passado quando Christopher sentiu as primeiras mudanças no campo visual.
Os padrões coloridos encontrados tantos nas roupas das pessoas como na estrutura do palco começaram a ondular de uma forma estranha, como se estivessem sendo distorcidos pelo espaço tempo, e, depois de um certo tempo, tudo começou a seguir com o mesmo padrão, dando a ele uma sensação de não apenas estar caindo, como também se desfazendo pouco a pouco. Assustado, Christopher tentou se livrar às pressas da alça do baixo, porém, como mal conseguia se manter em pé, acabou tropeçando e caindo sobre os equipamentos eletrônicos que, por sua vez, não estavam tão bem instalados como deveriam e deram início a um pequeno incêndio, que acabou arruinando por completo a apresentação da banda.
Tempos depois, eles voltavam para o trailer, praticamente carregando Christopher que ria após dizer que se sentia vivendo em um desenho animado e que jurava que a barba adornada de pingentes coloridos de um dos membros da banda era a entrada principal de Narnia. Porém, ninguém prestava atenção em Christopher, apenas discutiam sobre como o chá de Tariq havia sido adulterado e o que aquilo podia implicar. A porta do trailer foi aberta e Christopher colocado na parte de dentro, porém, pouco depois, ouviu-se gritos, e duas novas figuras apareceram e prontamente Christopher reconheceu Camilo. Não pôde evitar o riso que escapou de seus lábios ao ver a cara do amigo, riso esse que foi ignorado, visto que a grande maioria dos presentes sabia da atual condição do rapaz. Os gritos continuavam, mas, de repente, Christopher começou a ouvir alguns sussurros “me pega e foge daqui, eles não querem a nossa presença.” Completamente alucinado, Christopher teve uma certa dificuldade de encontrar a origem dos sussurros, mas, quando finalmente encontrou, a kalimba disse “vamos, agora seria o momento perfeito.” E dito e feito. Ninguém prestava atenção nele quando ele se levantou e caminhou até o instrumento, o envolvendo carinhosamente entre as mãos. Dando uma última olhada ao redor, ele notou que a mulher parecia suplicar algo aos outros homens, que por sua vez estavam distraídos com ela e com Camilo. Sem pensar duas vezes, Christopher abriu a porta do trailer e gritou “Falou seus otários.” E logo saiu correndo, segurando a kalimba em mãos.
Não demorou muito para sentir uma mão envolver seu braço, seguida pela voz conhecida de Camilo. “Por aqui, eles vão acabar encontrando a gente se continuarmos por esse caminho.” A primeira reação de Christopher teria sido a de correr, no entanto, após a kalimba dizer que tudo certo seguir o outro, ele se acalmou. Correram por cerca de cinco minutos até acabarem escondidos em uma apresentação repleta de véus coloridos e fumaça de um gigantesco incensário, que por sua vez parecia fazer com que Christopher retomasse a sanidade. “Eu sei porque eu tô correndo, mas e você? Tá correndo pelo mesmo motivo que eu tô correndo?” Enquanto balançava os ombros junto de uma das dançarinas, ele gritou para que Camilo conseguisse escutá-lo mesmo com a música alta. Não conseguiu ouvir por completo o que ele disse, apenas algo sobre como Christopher havia acabado drogado e finalizou admitindo que ele estava no meio de algo com a mulher de Tariq. “Não é atoa que ele tá puto, virou corno e perdeu o instrumento da sorte na mesma noite.” Em um estado bem mais lúcido do que estava a alguns minutos atrás, Christopher ouviu quando os homens que os perseguiram viram ele e Camilo entre as dançarinas. “Eles tão vindo, corre.” No entanto, Christopher ainda não estava totalmente livre dos efeitos do chá alucinógeno e, ao tentar correr, empurrou Camilo que, na tentativa de permanecer em pé, se agarrou a ele e ambos caíram sobre o incensário gigante. “Quem colocou essa coisa aqui?” Christopher resmungou enquanto levantava às pressas junto do amigo. No fim, a fumaça do incensário serviu como uma cortina, ajudando os dois a conseguirem sair dali e encontrar Danniela, uma artesã que os refugiou em sua van enquanto toda a banda de Tariq procurava por ambos.
“Eu só queria entender porque eu acabei drogado.” Confessou ele a Camilo. “Bom, era para o Tariq estar drogado…” Assim que o ouviu, os olhos de Christopher se arregalaram devagar enquanto entendia o que havia de fato acontecido. “ SEU DESGRAÇADO! Por que não me avisou?” Esbravejou. “Eu não teria tomado aquela porcaria se soubesse e a gente não ia precisar se esconder em uma van pra não tomar uma surra!” Porém, antes mesmo que a briga pudesse continuar, Danniela apareceu novamente, dizendo saber do motivo pelo qual eles fugiam e ameaçando contar seu paradeiro caso os dois não comprassem uma boa quantidade de seus produtos. No fim das contas, Danniela conseguiu vender todos os itens de sua van, Christopher saiu com uma sacola gigantesca de incensos e alguns itens esculpidos em madeira enquanto Camilo, como penitência, foi obrigado a pagar por todos os itens coloridos e de penas que estavam naquela van.
@christopherd-amato @khdpontos
#task: 003 ;;#pov ;;#todo o auto controle do mundo pra ser o mais suscintas possível#nas minhas tags tá como task 3 pq considerei os dates como task tb
11 notes
·
View notes
Text
“He's always got the words to say Just enough, so you don't notice That you ain't nothing but his prey”
camilo ricci moodbord (1/?)
@khdpontos
7 notes
·
View notes
Text
o problema de pessoas como neslihan era que através de suas lentes duramente arbitrárias, por vezes colocavam-se em um lugar de condescendência que as cegavam para qualquer não obviedade. camilo podia não ser o maior filantropo (ou sequer ser considerado um de qualquer modo), mas antes de qualquer coisa, o ricci não saía de seu caminho para prejudicar ninguém. não era um homem bom, mas será que era justo considerá-lo um homem mau? egocêntrico, sim. superficial, com toda certeza. mas no final das contas, não havia verdadeira maldade nele. o trabalho com os animais poderia ser um bom indicador de que ele não era fisicamente incapaz de fazer o bem, e por mais que muitos pensassem que aquilo não passava de uma fachada, neslihan o observara na fazenda vezes o suficiente para reconhecer a autenticidade de suas intenções. assim ele presumia, pelo menos. ‘se mudar a vida de uma única pessoa, já terá feito mais do que espero de você.’ o sorriso quase vacilou, a postura alheia e os dizeres descrentes o atingiram um pouco mais do que estava disposto a demonstrar. camilo podia se considerar o centro do próprio mundo e priorizar a si mesmo com frequência, mas estava absolutamente distante do exemplo de amor próprio. alguém tão indulgente em pecados do mundo, tão irresponsável e auto destrutivo não poderia ter qualquer carinho sincero por si mesmo. o olhar da turca o recordou, por alguns segundos, que aquela era simplesmente a sua sina: sempre esperariam o pior dele. sua família, seus colegas, desconhecidos, todos. palavras que ouvira por anos de seu pai reverberaram no fundo da mente, mas balançou a cabeça em uma tentativa de afastá-las. não era momento de auto piedade. chegou a pensar em valentina, em como se dedicara nos últimos dez anos para garantir que a garota tivesse as melhores oportunidades. poderia ele considerar que havia ajudado a melhorar uma vida, quando também fora responsável por destruí-la antes? “por que não faz uma lista, hani? assim não deixamos nada disso escapar.” afirmou, beirando a provocação, embora ainda fosse sincero. “eu só prefiro ter alguém para plantar as árvores. não fico bem de jardineiro”
a resposta a respeito de suas vontades fora intrigante. “são palavras demais pra dizer que você tem medo de perder o controle” devolveu, arqueando uma sobrancelha. se camilo era excessivamente indulgente, neslihan parecia o oposto. como se transformar a vida em uma sucessão de represálias fosse nobre. “existe muito valor na liberdade de admitir que a vida vale a pena pelos prazeres que proporciona. em reconhecer que você não é melhor que ninguém por abrir mão disso, só… menos feliz” deu de ombros, finalizando o conteúdo da taça. não evitou uma risada sincera com o comentário seguinte, assentindo em concordância. “o que posso dizer? meu sorriso é muito bonito” dessa vez havia leveza no tom, demonstrando que pelo menos naquele ponto ela havia vencido o embate de provocações certeiras e ininterruptas. “nah. prefiro algo mais…” gesticulou para ambos, indicando que falava sobre o encontro. “…estimulante.” a conversa entre eles era sempre interessante, afinal. “duvido que você acredite em qualquer gentileza da minha parte, neslihan” e somente poderia torcer para sua inclinação dramática lhe conferir a mesma qualidade de um ator ao tentar disfarçar o resquício de ressentimento em sua frase. “até porque, convenhamos, é o que estou fazendo a noite toda e você continua convencida do contrário” o carro, os elogios, o menu, a água, a mesa na parte externa… não havia sido menos do que gentil até então. vulgar, quem sabe, mas certamente longe da grosseria. “mas tudo bem. faz parte do seu charme” complementou, piscando um dos olhos.
esperou uma resposta evasiva, ou uma história de pouca importância. o ocorrido descrito pela gökçe apenas provava que muito embora ele soubesse interpretar pequenos sinais muito bem, estava longe de considerar que a conhecia o suficiente. pego de surpresa diante da franqueza, ouviu com atenção. a informação da morte de sua mãe não era inédita (todos sabiam naquela cidadezinha), mas não pôde evitar se abalar com o assunto. era seu calcanhar de aquiles, mesmo. “sinto muito” e de tudo o que havia falado a noite inteira, aquelas duas palavras provavelmente carregavam a maior carga de honestidade até então. nem havia notado que mal se dedicara à comida exposta a sua frente, dada tamanha atenção que a mulher detinha. ainda que o assunto da morte da figura materna fosse o que mais lhe havia chamado atenção, não deixou de perceber a coincidência escondida na menção de um acidente. assim que a pergunta foi devolvida, ele soube exatamente o que contar. estendeu a própria mão, pedindo a dela. riu quando notou a confusão e receio nos olhos alheios. “não vou morder. nem te pedir em casamento. prometo” e esperou que a jovem colocasse a mão sobre a dele. assim que o fizera, camilo a levou até a parte de trás da própria cabeça, pouco acima da nuca, entre os fios escuros. tateou o local com a mão feminina, até o indicador da mais nova encostar em uma pequena protuberância que facilmente passaria despercebida. “sentiu?” aguardou alguma confirmação. “é um fragmento bem pequeno de vidro, de um acidente de carro há uns bons anos. era mais perigoso uma cirurgia para retirar do que não fazer nada. então decidiram deixá-lo” era um lembrete dolorido do passado; do enorme erro cometido. não comentou sobre como o acidente havia ocorrido e nem o fato de não estar sozinho na ocasião. aquilo, por hora, ainda preferia manter em segredo. “para ser justo, a equipe médica que me atendeu também sabe disso. mas eu nunca contei, eles só estavam lá” brincou, soltando sua mão e finalmente provando a comida disposta à sua frente.
“uma ótima pergunta” reconheceu, reclinando-se para pensar melhor. já havia vivido tanto, feito tanta coisa… o que, de fato, o havia surpreendido? não sabia quanto tempo havia ficado em silêncio, perdido em pensamentos, mas quando se deu conta a resposta desencadeou a deixar os lábios sem qualquer auto controle. “sabe que a fazenda começou por uma ideia do meu pai? por um motivo... menos do que nobre. quer dizer, eu sempre gostei de animais, mas demorou um pouco até eu me envolver de verdade. no começo era só uma tarefa que eu tinha que executar." explicou de início, a fim de contextualizar a história que estava por vir. "então teve um dia que eu estava caminhando bem no meio das árvores, ali no final da propriedade, perto do lago. uma cachorrinha apareceu. veio até mim, direto, sem medo. estava tão magra que dava pra ver cada osso, tão suja que eu tive dificuldade de saber qual cor era o pelo. tinha um machucado na perna que não parecia recente, mas estava longe de cicatrizar. eu pensei em levá-la comigo, dar comida, cuidar, como fazíamos com todos os animais ali. mas quando tentava pegar no colo, ela não deixava. e não era que ela não me deixava encostar nela! só não me deixava tirar ela do lugar, mesmo. se eu tentava, ela colocava todo o peso pra baixo. nem sei de onde ela tirava força pra isso. então eu entendi que ela não queria me acompanhar, queria que eu a acompanhasse. quando eu finalmente deixei ela me guiar, correu até um buraco cavado atrás de um tronco de árvore caída, uns metros adiante. no buraco tinha um filhotinho pequeno e quase tão magro quanto ela. quando eu peguei ele no colo, ela desmaiou, como se finalmente a força dela tivesse acabado." lembrava-se de achar que o animal havia falecido, na ocasião.
"levei os dois correndo até o veterinário da fazenda e ele disse que, pela situação que a cadelinha estava, toda a força e energia que ela teve pra salvar o filhote foi praticamente um milagre.” pausou, como se pudesse ver na sua frente a imagem da cachorrinha sarnenta e magricela. ergueu a mão como que em rendição. “culpe a maldição, se quiser, mas foi a primeira vez que eu…" pensou em como explicar, a testa franzindo enquanto ele achava as palavras. "bom, foi a primeira vez que eu realmente vi amor” ele podia nunca ter sentido nada parecido, mas era inegável o que havia presenciado. “ foi depois desse dia que eu passei a levar a fazenda a sério” acrescentou, um último comentário antes de perceber o peso da história que lhe escapara. “além disso, já viu como as mulheres me olham quando eu estou com um filhotinho na mão? é um afrodisíaco natural” certo, aquilo deveria equilibrar um pouco a situação, possivelmente. serviu a ambos um pouco mais do vinho. “mas então, há quanto tempo é vegetariana?” parecia uma pergunta segura e suficientemente impessoal, para variar.
ㅤㅤㅤㅤㅤflashback : antes das missões !
por mais que pudesse parecer injusto — e não acreditava que fosse — , ela sempre colocara camilo na mesma redoma habitada por vincenzo ricci , kadir şahverdi e lorenzo d’amato rizzo , assim como fazia com christopher . homens de poder , cuja riqueza era proporcional à disposição e à tendência para o mal , irresponsáveis com as vidas daqueles que orbitavam sua influência . não era uma convicção da qual estivesse ansiosa por se desfazer — ou pior , admitir que estivesse equivocada . não apenas por orgulho , talvez seu maior pecado , mas por princípios . aceitar que poderia estar errada significaria encarar um abismo dentro de si . ainda assim , as palavras dele a atingiram como um golpe no plexo solar , sugando-lhe o fôlego por tempo suficiente para que faíscas brancas se entrelaçassem às feições contrastantes do ricci . o riso dele apenas intensificava a sensação de fraqueza que se alastrava por seus nervos . como ele poderia proferir algo tão essencialmente oposto a tudo o que nela fora instilado desde o nascimento e seguir como se não houvesse invocado décadas de ressentimentos em seu âmago ?
a capacidade que ele possuía de simplesmente persistir , independentemente da curva dos projéteis que a vida lhe lançava , era excepcional . uma habilidade que , secretamente , neslihan invejava . em sua existência , tudo sempre parecia maior , desproporcional , carregando as distorções de uma psique ainda marcada pelas fissuras do abuso . cada frase dele até aquele momento soava meticulosamente arquitetada por uma parte dela à qual apenas ele tivera acesso — a versão de si que mais desprezava , aquela que ainda se deleitava com afirmações positivas dirigidas a ela , um resquício da infância e adolescência , um fragmento do passado , a única faceta que ousava acreditar que finais felizes eram possíveis , mesmo que exigissem enfrentar todas as adversidades do universo . a gökçe arrancaria o próprio coração antes de permitir que os devaneios da sua antiga persona emergissem . subestimá-lo fora um erro , tanto quanto pensar que poderia manter a personagem que moldaram para ser parte da família ricci — ainda que não nos braços daquele ricci à sua frente . pela primeira vez em muito tempo , viu-se encurralada dentro da própria mente , sem direção definida . camilo era o único capaz de desestabilizá-la daquela maneira , e por vezes ele parecia consciente do fato , regozijando-se com um prazer quase insolente .
seus olhos , antes errantes , evitando-o a todo custo , agora pareciam magnetizados , presos ao polo sobre o qual ele detinha total controle . engoliu em seco , deixando que o questionamento passasse por seu ombro como se não tivesse o poder de fazê-la reconsiderar quinze anos de convicções . já a segunda provocação fez com que uma de suas sobrancelhas se arqueasse em curiosidade contida . ❝ poderia fornecer cerca de quarenta mil refeições solidárias , ao menos quinhentas consultas médicas com os devidos medicamentos , plantar uma média de oito mil árvores e salvar centenas de animais . mas essa em específico , ao menos , você já sabe . ❞ a estimativa vinha do que ela mesma realizara além , administrando parte da fortuna deixada em nome de sua mãe , e intrigava-se com a resposta que ele daria . ❝ mas se mudar a vida de uma única pessoa já terá feito mais do que eu espero de você . ❞ não duvidava da capacidade financeira de camilo , mas questionava sua disposição moral para tal feito . talvez soubesse que duvidar dele fosse o caminho mais certeiro para provocá-lo a provar o contrário , mas guardava a percepção para si , um sorriso discreto curvando os lábios .
❝ jamais me satisfiz com pouco , camilo . apenas escolho quando me deleitar com o que realmente desejo . se me entregasse ao que verdadeiramente me sustenta todos os dias , tudo se tornaria fácil demais… e eu gosto de desafios . ❞ as íris acompanhavam os movimentos alheios , observando-o sorver o líquido carmesim , e , no fundo do próprio paladar , quase podia sentir o aroma intenso do vinho . seu sorriso espelhou o dele , os olhos brilhando com um humor depreciativo diante do tom masculino . ❝ agora , elas , sim, se contentam com tão pouco . são todas tão facilmente impressionadas que um sorriso e palavras vazias bastam para conquistá-las ? ❞ neslihan compreendia perfeitamente a insinuação do ricci , mas não daria a ele o gosto de reconhecê-la , seria um caminho sem volta em mais de um sentido . já preparada anteriormente para o efeito que a comparação entre subserviência e polidez — que ele supostamente não compartilhava — , tomou apenas meia respiração , solevando uma das sobrancelhas . ❝ hm . achei que você preferisse suas companhias maleáveis exatamente para fazer o que quiser com elas . devo ter perdido esse memorando em específico . ❞ àquela altura , qualquer pretensão de submissão havia evaporado no ar carregado entre eles . ❝ o que você realmente quer ? ❞ um pequeno riso escapou . ❝ por que não dizer com todas as palavras ? quem sabe , sendo você o gentil , não consiga o que deseja de maneira mais fácil ? afinal , falam que se pega mais abelhas com mel do que com vinagre . ❞ o ditado não era um o qual acreditava , mas talvez fosse o motivo da distância ácida que insistia em colocar entre eles . não desejava estar presa à doce armadilha de camilo ricci .
o aroma de manjericão mesclado ao vinagre balsâmico, ao pecorino e ao pistache invadiu-lhe o olfato , interrompendo seus pensamentos . aceitou as entradas com um sorriso em agradecimento ao cameriere , antes de elevar a taça aos lábios e saborear o grand cru . um suspiro prazeroso sutil escapou , enquanto seus olhos voltavam ao homem à sua frente . uma pequena risada rompeu sua hesitação . se já estava na chuva , por que não se molhar ? talvez fosse a frase que ainda perambulava entre os tímpanos que recobrava memórias da adolescência , ou a atmosfera envolvente de velas , flores e pratos elaborados que a embriagava , mas sua resposta vinha quase automaticamente , surpreendendo-a pela franqueza . ela percebia o jogo dele . camilo sempre a colocava como adversária apenas para , no final , reivindicar sua vitória e cobrar um prêmio . e , embora o permitisse isso na maioria das vezes , ali a cautela lhe serviria melhor . ❝ passei por uma fase… delicada na adolescência . estive envolvida em um acidente que me fez repensar a vida por inteiro e , naquele dia , ao acordar em um hospital sem saber o que havia causado , escrevi uma carta para minha mãe . nela , supliquei para que fôssemos embora de khadel e deixássemos tudo para trás , mas nunca tive coragem de entregá-la , e… depois , já era tarde demais . ❞
a confissão era um lapso de sua fachada meticulosamente construída , e teria certeza de não cometer outro deslize . levando uma fatia de mozzarella envolta em pesto aos lábios , pausou antes de devolver a pergunta com naturalidade , como se suas palavras não carregassem o peso de uma cicatriz . ❝ há algo que ainda não tenha exposto para toda a cidade e que apenas eu teria o privilégio de saber ? ❞ não esperava que ele se tornasse vulnerável a ponto de revelar algo significativo , mas manter a conversa fluindo era o mínimo . ❝ e já que insiste em transformar isso em um encontro… diga-me , qual foi a última vez que alguém — ou algo — realmente te surpreendeu ? ❞
#to perdendo a mão já na quantidade kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk#2026 e a gnt vai ta aqui#task: 002 ;;#002: a militante ;;
12 notes
·
View notes
Text
"seria mais fácil se desligasse." resmungou, mais para si mesmo que para o outro. quando aaron pediu pela criança, camilo suspirou aliviado, feliz de ter alguém disposto a tomar as rédeas daquele problema que ele queria imaturamente ignorar. observou conforme o rapaz tomava nas mãos o bebê, talvez não com o melhor jeito do mundo, mas indubitavelmente melhor do que o playboy o faria. cruzou os braços ainda um pouco ansioso e nervoso com toda a situação, os olhos presos na pequena criatura que se esgoelava como se tivessem lhe atirado no chão. eventualmente, a situação se acalmou um pouco, embora não tivesse se resolvido por completo. "meu deus, você é que nem aquele flautista de homeless" comentou, a última palavra claramente diferente do título original. "eu tentei, mas ela não gostou muito de caviar e era o que tinha na geladeira. eu pensei em oferecer whiskey, mas até eu sei que álcool só pode a partir dos sete anos. sobre a fralda... er... na verdade, não. não me atrevo a chegar perto disso aí, mas agradeço a oferta" balançou a cabeça em negação diversas vezes. "ué, eu trouxe um problema pra pessoa mais inteligente que eu conheço resolver!" tentou, talvez se o elogiasse aquilo ajudaria. já em resposta a última pergunta, camilo sorriu. "porque tu é a rory da minha lorelai."
Aaron fechou os olhos por um instante, inspirando fundo como se precisasse se preparar mentalmente para o absurdo da situação. Quando os abriu, a bebê ainda estava ali, vermelha de tanto chorar, e Milo ainda o olhava como se esperasse que ele resolvesse aquilo por mágica. "Primeiro, Ricci, você não desliga um bebê." O choro aumentou, e Aaron sentiu a paciência diminuir na mesma proporção. Apertou a ponte do nariz e soltou um suspiro pesado antes de estender os braços. "Me dá essa criança." Ele não era a pessoa mais jeitosa do mundo, mas qualquer um que entrasse em sua casa, perceberia que ele tinha muito mais traquejo para cuidar do bebê do que Ricci. Como se o ser em suas mãos fosse feito de porcelana, Aaron passou o bebê de um braço para o outro, tentando superar o próprio desconforto. A bebê soluçou, fungou e o encarou com olhos brilhantes e úmidos. Aaron precisou conter um sorrido diante da criança. Ela parecia assustada. "It's okay...", murmurou, tentando acalmá-la. Apesar do choro ter diminuído um pouco, o bebê ainda fungava. Aaron ergueu os olhos para Milo. "Você já tentou dar comida? Ver se a fralda tá suja? Alguma coisa útil ou só trouxe direto pra mim esperando que eu magicamente soubesse o que fazer?" Silêncio. A resposta já era óbvia. Aaron fechou os olhos de novo, contando mentalmente até dez antes de começar a balançar levemente a bebê. "Só me lembra uma coisa aqui: por que mesmo eu deixei você entrar na minha casa?" Honestamente? Havia coisas que só Milo mesmo era capaz de fazer Aaron passar.
7 notes
·
View notes
Text
tudo bem, sabia (beeeem lá no fundo) que não era justo considerar matteo um completo idiota. o próprio camilo não era a pessoa mais academicamente brilhante, embora compensasse com a esperteza safada adquirida durante a vida. acima de tudo, ricci sabia o que era ter pessoas duvidando de suas capacidades e do quão frustrante aquilo podia ser. se ele tomasse um tempo para olhar o mundo além do próprio umbigo, reconheceria que todas as suas provocações não apenas eram maldosas como equivocadas. se matteo fosse assim tão incapaz, como o mais velho estava acostumado a provocar, não teria tanto sucesso. mesmo um rostinho bonito - e um corpo melhor ainda - não seriam suficiente se ele não tivesse nada além para oferecer. mas de todos os momentos em que camilo poderia se disponibilizar a enxergar o outro por lentes mais gentis, aquele com toda certeza não era um deles. especialmente não quando toda aquela conversa de alma gêmea trouxera à tona mais do que nunca o ressentimento por olivia, e todo o sentimento de insuficiência que agora parecia querer instigar em bianchi apenas por despeito. "não se preocupe, isso está na minha lista para mais tarde." instintivamente os olhos buscaram caterina, a jovem loira casada com o presidente do banco da cidade vizinha, um homem pelo menos trinta anos mais velha que ela. então voltou a focar no adversário à frente, particularmente frustrado por sentir que ele era o único a lidar com aquela situação como se fosse uma competição.
ele preferia presumir que matteo simplesmente não era capaz de devolver suas provocações do que acreditar que o mais novo apenas não o considerava merecedor de seu tempo e esforço. talvez se ele engajasse naquela briga que camilo constantemente provocava, eles se socariam uma ou duas vezes e seguiriam em frente. mas não... toda vez que matteo se mantinha suficientemente controlado diante de cada provocação era como um golpe por si só. "é, você não é conhecido por saber muita coisa mesmo." respondeu, o tom repleto de cinismo. antes que pudesse ser ainda mais indelicado, um fotógrafo se aproximou solicitando uma foto. ricci concordou e ajeitou a postura ao lado de bianchi, erguendo o queixo para compensar os míseros dois centímetros que ele jamais admitiria separarem os dois. a mão esquerda se escondeu no bolso da calça e a direita foi até o ombro alheio, em uma espécie de abraço, dando uns tapinhas como se fossem amigos de longa data. não deixou de notar duas coisas: primeiro, o quão enorme eram as costas largas e musculosas do rapaz. ele próprio tinha um físico muito atraente, mas não era tão forte. segundo, o perfume que lhe atingira o olfato provocando uma reação absolutamente diferente do esperado. ele costumava se lembrar do cheiro das pessoas com facilidade, mas não se recordava de que matteo cheirava tão bem. especialmente para um homem das cavernas. talvez fosse a primeira vez que se aproximava dele sem ser após horas de exercício. franziu ligeiramente o cenho para os próprios pensamentos ridículos, um pequeno riso escapando e se camuflando bem como algo intencional para a foto. entre um clique e outro, aproximou o rosto do ouvido alheio, como quem está prestes a contar um segredo. "só te achei meio magrinho. acho que precisa tomar mais whey. ou bomba, sei lá o que você usa"
Deu um sorriso de satisfação ao ouvi-lo dizer que aquele era seu inferno pessoal. Não havia sido a sua intenção, porém Matteo deveria se parabenizar todas as vezes que acidentalmente destruía o humor de Camilo. Não que fosse difícil. Sua mera existência parecia encher o saco do outro. O sentimento era mútuo, mas ao contrário de Camilo, ele não saia do seu caminho para atormentá-lo, como sentia que seu nêmesis fazia. Parte dele achava que Camilo se divertia com aquilo, assim como as crianças que adoravam fazer bullying no passado. Então poderia ser que o que ele dizia ali era apenas para atingi-lo e não se importava com as imagens. Porém, se tivesse a mínima chance de que ele realmente estivesse incomodado, Matteo passaria o resto da noite ao lado de uma das fotos. Encarou o champanhe em sua mão, tentado a virá-lo de uma só vez, mas se bebesse todas às vezes que Milo enchesse seu saco, estaria em Sodoma na depravação, onde Camilo Ricci era o prefeito. Ao contrário do outro, Matteo era muito disciplinado para cair naquela tentação. A sua disciplina era o que havia ajudado-o a chegar aonde havia chegado e conquistar o que tinha. As pessoas como Camilo tinham tudo, desde sempre, então era fácil acreditar que o mundo devia algo a eles. Não podiam ser mais diferentes. "Bem, Camilo, você não precisa ficar aqui. Pode fazer sua generosa contribuição e ir pular a cerca de alguma mulher casada," alfinetou, apesar de não ser nada além da realidade.
Naquele instante, Matteo adoraria ter alguns pontos a menos no QI para sequer perceber que o homem falava com ele. Seria tão mais fácil ignorá-lo. Matteo forçou um sorriso, questionando-se poderia ignorá-lo de alguma forma, mas Camilo sabia muito bem como fazer sua presença ser impossível de desconsider. Se soubesse que Camilo estava envolvido de alguma forma com aquele evento, ele teria mandado enfiar o contrato em um lugar desagradável, mas em nenhuma das suas negociações, o que ele admitia não foram muitas já que a maior parte do que fez havia sido sem nenhuma forma de pagamento, ele desconfiou que Camilo estava envolvido com isso. Afinal, a única coisa pela qual o homem se importava era ele mesmo. 'Vira-lata são os que mais causam comoção'. Era ridículo que as palavras de Camilo pudessem o afetar quando ele detestava o homem. Se tinham uma personificação de tudo que Matteo não gostaria de ser, era Camilo. Libertinagem vestido em ternos que valiam mais que o salário anual da sua mãe, falta de senso comum e uma capacidade de irritar provavelmente até o mais calmo entre os residentes de Khadel. Por que alguém iria querer ser como Camilo? A única coisa que poderia pensar era pelo dinheiro, mas a maioria dos residentes em Khadel eram bem afortunados e aos que não eram, como ele... Existiam certas coisas que o dinheiro não comprava e o seu caráter era uma delas. Mas as palavras dele eram como agulhas perfurando seus ouvidos, um lembrete que ele nunca se encaixou e, não importava o quanto mudasse, não se encaixaria. Apesar de entender e sua mente inquieta está sempre numa velocidade máxima, ele não conseguia pensar em nada para responder. Chegou a abrir a boca para falar algo, mas não tinha uma resposta ácida como seu oponente. Esse não era seu forte. Mas seu forte poderia ser apenas ser melhor que Camilo. Nada iria enfurecê-lo mais se ele não engajasse. "Mudar seu comportamento? Não sabia que você conseguia ter um comportamento diferente de um adolescente com tesão." Distrair, divergir, mudar o assunto como se tivesse desinteressado.
#o camilo por um segundo: vc pode me ninar nos seus braços grandes e cabeludos#002: o crossfiteiro ;;
5 notes
·
View notes
Text
camilo levava pouquíssimas coisas a sério: seu guarda roupa, e o cuidado com os animais. era por isso que adentrava o local ajustando seu terno impecável, pronto para fazer valer as próximas horas naquele evento. uma coisa havia aprendido: havia burocracia demais na benfeitoria. ele tinha dinheiro suficiente para resolver inúmeros problemas; mas sempre haveriam obstáculos no meio do caminho. e por obstáculos, é claro, referia-se à corrupção terrivelmente enraizada em qualquer meio. era um dos motivos, afinal, de apreciar o controle sobre a própria fazenda, visto que tudo ali era de fato em prol dos animais resgatados. infelizmente, camilo não podia comportar todos os animais do mundo no local, e para ajudar os tantos outros fora de seu alcance, não podia se dar ao luxo de uma abordagem simplista e ingenuamente otimista. um grande evento, repleto de pessoas importantes e reconhecido pela mídia, era a melhor maneira de exigir uma prestação de contas por parte dos órgãos envolvidos. ricci sabia que no final, certa parte do valor arrecadado jamais atingiria o objetivo final e nobre — mas assim, pelo menos, podia garantir que a maioria o faria.
a organização não fora de sua exclusiva responsabilidade, embora estivesse envolvido no evento desde o começo. especialmente com as mais recentes descobertas, devia admitir que fora mais relapso do que gostaria nas últimas semanas. prometeu a si mesmo que compensaria ao garantir o sucesso daquele evento. ao parar diante do pôster ridículo em tamanho desconfortável, quase se arrependeu da promessa. com as mãos no bolso, encarou a foto, incomodado. o que aquele idiota tinha a ver com o evento? quem tomou a decisão? “alina” camilo chamou a jovem organizadora, que tirou os olhos de sua prancheta por meio segundo. “o que essa foto está fazendo na parede?” ela pareceu mais confusa que o homem, antes de explicar que matteo era praticamente o garoto propaganda de todo o evento, além é claro do próprio ricci. ainda o relembrou que havia alinhado os detalhes da campanha com camilo há vários dias. ele torceu o nariz ao se recordar que alina o havia ligado justamente no fatídico dia da cascata, em que ele simplesmente não conseguira prestar atenção em nada além do ocorrido. ‘você só disse ‘tanto faz, alina, escolha o que for melhor pra campanha’. bom, o melhor é ele. batemos um ótimo número nas redes sociais e as doações foram significativas.’ camilo revirou os olhos. o melhor é ele. aquele idiota tinha que se enfiar em mais um assunto seu? matteo podia ter ajudado na arrecadação virtual, mas eram os contatos de camilo que faziam as doações substanciais. alina atendeu alguém no celular e saiu andando, bem a tempo de camilo avistar a última pessoa que gostaria de ver.
“isso aqui está dolorosamente parecido com meu inferno pessoal.” disse, apontando para as diversas versões do homem espalhadas pelo recinto. particularmente, a foto com o gato o fazia querer arrancar os olhos fora. “e se for uma amostra grátis do que me espera lá embaixo, talvez seja melhor começar a mudar meu comportamento.” enquanto falava, aceitou uma garrafa de champanhe que lhe fora oferecida. “por mais que eu vá ter pesadelos com essas poses ridículas, admito que você foi uma boa escolha, sabia? vira-latas são os que mais causam comoção mesmo” o sorriso nada combinava com o tom áspero e os dizeres rudes. “ah, desculpa. acho que pra entender sarcasmo é preciso de um QI um pouco mais alto. não se preocupe, na próxima vez que eu te insultar, farei num nível compreensível a uma criança de cinco anos”
Starter fechado para @miloricci
Evento beneficente para os animais na Trattoria Sofia
O evento beneficente para resgate e adoção de animais era uma das coisas que Matteo não se importava de ajudar. Afinal, animais era melhor que a maioria das pessoas. Mas ao ver um pôster seu, sem camisa, segurando alguns dos filhotes disponíveis para adoção, assim que entrou na Trattoria, sentiu seu rosto aquecer e começou a questionar o porque estava ali. Já havia feito a sua parte e poderia ajudar financeiramente sem ter que estar ali presente. Ele já tinha toda a atenção que precisava sem ter que ver um segundo pôster seu, numa posição diferente, e dessa vez com gatos.
Deus, quantos outros pôsters ainda teria ali?
Pegou uma taça de champanhe do garçom que passava segurando uma travessa, mais para ter algo para manter-se ocupado do que pelo desejo de beber, afinal se ele fosse beber toda vez que estivesse desconfortável, acabaria álcoolatra e teria que dizer adeus ao corpo esculpido pelas longas horas de treino e disciplina. Avistou, mais distante um terceiro e, aparentemente, último pôster, mas para sua infelicidade também avistou a última pessoa que gostaria de ver.
Sua última (infeliz) interação com Camilo havia sido naquele dia fatídico na cascata. Para sua felicidade, seus caminhos eram completamente diferentes e não havia interceções nos seu dia a dia. Então, ele não precisava ficar escutando Camilo fazendo piada com tudo que fazia, ou deixava de fazer. Abaixou a cabeça e tentou virar o mais rápido possível para não estar no campo de visão do outro. O que menos precisavam era causar uma cena, ou um assassinato.
( @khdpontos )
5 notes
·
View notes
Text
camilo era mais observador do que poderia transparecer. ou talvez apenas era bom em ler as pessoas, estivesse ele se esforçando ou não. de certo era uma resposta natural à certos traumas, embora ele próprio nunca tivesse feito tal conexão. crescer em um lar disfuncional, com um pai completamente desequilibrado e frequentemente violento o fizera aprender a interpretar os pequenos sinais, a estar alerta aos padrões e as mudanças destes. o que havia começado como um mecanismo de defesa passou a ser útil para conquistar o que quisesse, de quem quisesse. dinheiro era um facilitador inegável, mas o carisma e a compreensão da natureza humana o levava além. entender as pessoas fazia com que ele soubesse exatamente o que dizer ou fazer para que as coisas pendessem para o seu lado da balança. por isso se divertia tanto nos momentos em que interagia com neslihan. tudo na postura dura e poderosa da mulher era sincero, e ainda sim, em pequenos - quase imperceptíveis - momentos daquela dinâmica dos dois, ele podia ver fragmentos que deixavam claro que ele a atingia de alguma forma (além da irritação). sabia que entre uma provocação ou outra sua, incitava nela interesse o suficiente para que aquele jogo continuasse. com aposta ou não, neslihan provavelmente não se submeteria a algo que ela fosse completamente contra. era por isso que para camilo, a vitória não era apenas o fato da mulher estar diante de si naquele encontro, mas de ter permitido que tudo aquilo se desenrolasse até aquele ponto.
e agora lá estava ela, aqueles pequenos padrões que ricci já havia notado antes parecendo um tanto quanto... conturbados. e não apenas pela gentileza forçada que a gökçe precisava lhe conceder. estava acostumado a vê-la lutar contra a atração sexual que existia entre eles, mas o nervosismo que demonstrava parecia motivado por outra coisa. não se atreveria a dizer que sabia o motivo, mas se precisasse tentar adivinhar, talvez pudesse ter algo a ver com a história recente das almas gêmeas. não importava, no final das contas. camilo não achava que aquela história era real, e mesmo se fosse, não imaginaria que se aplicaria a eles. certamente neshilan partilhava da mesma opinião.
e então, ela estava de volta. ele sorriu. continuava divertido vê-la lutar para manter a gentileza, mas o fato era que ele gostava mesmo era da rispidez comum que ela demonstrava. o que podia dizer? adorava quando ela o maltratava. "sabe que na aposta, eu pedi que fosse gentil, e não passiva." havia uma diferença destacável. "ou você acha que eu considero que uma mulher educada é uma mulher que concorde com tudo o que eu digo?" ele riu, inclinando-se ligeiramente para frente, o sorriso em seu rosto deixando mais do que claro que ele estava entretido. sabia que haviam outros casais naquela noite, mas não se deu ao trabalho de prestar atenção em quem havia chegado. os olhos estavam fixos na mulher diante de si. "quantas?" perguntou então, voltando a recostar-se na cadeira. "diga um número, e eu faço. mudar vidas, isto é" não exatamente por benfeitoria, mas simplesmente porque ele podia. e se ela quisesse... bem, sinceramente? o faria justamente por aquele motivo.
a frase contendo a doçura insípida não falhou em lhe satisfazer, porque sabia que era verdade, por baixo do tom forçado - ele parecia estar causando algum efeito diferente nela. já a outra frase quase o fizera revirar os olhos, especialmente pelo sorrisinho alheio. "eu vi." assentiu diante da constatação da outra, a respeito do nível dos encontros de khadel. "sinceramente, me surpreende que uma mulher como você se contente com pouco." o idiota do karaokê lhe vinha na mente, mas a situação o fazia presumir que ela talvez abaixasse os padrões vez ou outra como naquela noite. um absurdo, considerando de quem se tratava. o garçom se aproximou com o vinho e camilo prontamente o degustou, aprovando e aguardando que ambas as taças fossem preenchidas. ele observou o líquido de cor forte antes de voltar a atenção a ela. "pelo contrário. estou bastante acostumado a ter mulheres gostando de tudo o que eu faço com a minha boca." ele sorriu, descarado. "por isso gosto de você. da sua honestidade, no caso. é claro que você está tendo alguma dificuldade de separar grosseria de franqueza, porque claramente está pensando que eu queria que agisse como uma boneca sem opiniões na noite de hoje, mas acredito que até o final do jantar você vai entender o que eu realmente quero." tão logo a entrada foi oferecida, mas camilo não deu muita atenção ao trabalhador, apenas agradecendo brevemente após ter os pratos dispostos na mesa sem virar o rosto em sua direção. "bem, isso é um encontro, certo? e já que você está tão disposta a se submeter aos meus caprichos, por que não fazemos isso direito? devemos nos conhecer, já que é para isso que servem essas ocasiões" não era como se ele tivesse um interesse verdadeiramente romântico (ou ele próprio estivesse disposto a falar muito sobre si mesmo), mas ficaria muito mais fácil levá-la para a cama se a conhecesse melhor. para além disso, ela simplesmente despertava nele muita curiosidade mesmo. "diga algo sobre você que ninguém mais sabe." pediu, sabendo que a frase havia sido vaga o suficiente para que ela compartilhasse o detalhe mais irrelevante, se assim o quisesse.
você me disse uma vez... a frase reverberava no subconsciente de neslihan enquanto os olhos , estarrecidos , repousavam sobre camilo . como poderia ele considerar um detalhe tão ínfimo sobre ela como algo digno de nota ? era uma possibilidade que lhe parecia remota , dada a compreensão que possuía dele , no entanto , o olhar que ele sustentava a fazia hesitar — seria apenas um artifício de preservação ou uma faceta genuína de sua essência ? o coração ainda acelerado acompanhava cada sutileza de sua expressão , se fosse honesta consigo mesma , reconheceria que , embora ele parecesse ter guardado aquela informação há muito tempo , ela própria não poderia dizer o mesmo a seu respeito . talvez porque , mais vezes do que gostaria de admitir , o considerasse um desperdício de tempo — e , mesmo assim , era inegável a forma como reagia à sua presença . ou , quem sabe , o motivo fosse outro . ali , naquele instante , a morena percebia que , apesar dos excessos , da transparência desconcertante com a qual abraçava o mundo , o ricci não era alguém verdadeiramente aberto . assim como ela .
a constatação prendeu-lhe a respiração por um breve instante . assim como ela... o que , afinal , sabia do homem além da fortuna , das excentricidades e das provocações incessantes ? tinha conhecimento do noivado fracassado com olivia , mas o episódio dizia mais sobre o estado de espírito da amiga do que sobre ele . tinha conhecimento da proximidade dele com graziella , mas , mais uma vez , o fato refletia mais as escolhas dela do que algo sobre ele . fora isso , além da inclinação por qualquer ser com pulso , cognição e idade suficiente para consentir , o único detalhe verdadeiramente genuíno que conseguia atribuir a ele era a fazenda . um pequeno universo à parte , uma utopia quase esculpida a partir dos próprios sonhos infantis — e a única razão pela qual ainda concedia a camilo qualquer vestígio de sua atenção . talvez existisse um oceano de razões para admirá-lo , e , ainda assim , a gökçe jamais as teria enxergado . não quando se recusava a vê-lo sob qualquer perspectiva além daquela que deliberadamente adotara .
a sugestão de um copo d'água a pegou de surpresa . outra vez . pelos cosmos , o que estava acontecendo com ele ? ou , pior , com ela ? seria possível que aquele singelo pedido — não refutá-lo , ouvi-lo em vez de rebater , sorrir ao invés de franzir o cenho — tivesse desmoronado alguma barreira fundamental dentro de si ? era a única explicação plausível para a miríade de reações provocadas por gestos insignificantes do mais velho .
desviando o olhar para os detalhes ao seu redor , permitiu-o deter no menu à sua frente e à medida que percorria cada iguaria descrita , tinha a percepção de que suas pálpebras se expandiam paulatinamente . aquela , sem dúvidas , seria a refeição mais indulgente que já se permitira . sua dieta jamais fora bem-vista no seio de uma família italiana ocidental , não quando khadel estava imersa na região responsável pela criação da carbonara , da bistecca alla fiorentina , da lasagne alla bolognese . neslihan não se importava , a escolha era óbvia , moral e necessária . e , além , aprendera a cozinhar desde jovem , sob a tutela de gioconda . ainda assim , havia algo de tentador na ideia de uma refeição planejada exclusivamente para si , assinada por um chef renomado . com tiramisù para finalizar... poderia viver feliz pelo resto da vida se aquele fosse seu único alimento . a mera antecipação dos sabores fez com que voltasse a atenção para camilo no instante exato em que ele sugeria um bourgogne tinto — a mesma escolha que ela faria , caso estivesse na ofensiva . mas não , seu objetivo ali seria o de defesa . ou era , até o momento em que ele mencionou o grand cru renomado .
as íris , prestes a desviarem-se na direção de aaron e da nova presença na cidade , voltaram-se de imediato para o ricci . assim que o cameriere se afastou , neslihan esqueceu-se , por breves segundos , da necessidade de autocontrole . o suficiente para que as palavras escapassem , incandescentes . ❝ camilo , sabe quantas vidas — humanas ou não — poderiam ser completamente mudadas com o valor de uma única garrafa dessas ? ❞ a extravagância não lhe era estranha — era impossível que fosse , tendo crescido como uma şahverdi . justamente por conhecer as engrenagens daquele luxo desmedido ela nutria um repúdio instintivo por demonstrações tão opulentas . engoliu em seco , sufocando palavras que certamente se seguiriam , e levou o cristal aos lábios , permitindo que o líquido acalmasse o que restava de sua indignação . ❝ peço desculpas , não era minha intenção interferir . ❞ a frase escapou de maneira impecavelmente ensaiada , tão automática quanto as palavras proferidas em sua infância . impressionava-a a facilidade com que certas máscaras se reacomodavam .
podia sentir o olhar castanho pesando sobre si , e alinhou meticulosamente as mínimas expressões . um esforço inútil , com o questionamento que logo seguiu . cinco minutos . nem cinco minutos se passaram , e ela já estava exausta da exaustão . exausta de escolher ao que reagir , de precisar conter-se , de dançar entre extremos . mas mais do que nunca , era grata por ter sido deserdada daquele mundo de artifícios . ❝ a sua presença , é claro . como adivinhou ? ❞ o tom era insuportavelmente doce , carregado por uma ironia impossível de não ser percebida pelo que era , sua irritação . não , camilo , o que me deixa nervosa é precisar ser quem eu não sou para te satisfazer . por mais que aquela fosse uma das verdades , jamais permitiria pensar novamente na outra , que , por um breve instante , suspeitara que ele estivesse considerando um destino para eles em meio à suposta existência da maldição .
❝ ainda que encontros decentes sejam... um tanto raros de serem mantidos nesta cidade— ❞ arqueou uma sobrancelha , ciente de que ele entenderia exatamente a que se referia ❝ —, eu consigo tirar bons momentos . ❞ inclinando levemente a cabeça , permitiu que os fios longos deslizassem sobre um dos braços . o sorriso desenhou-se discreto , a postura impecável — vestígio da criação esculpida pela etiqueta — permanecendo inalterada . um dos punhos repousava sobre a aresta da mesa , enquanto sorvia um gole delicado . somente então voltando a encará-lo . ❝ já você parece extasiado . seria eu ou apenas não está acostumado a ver suas companhias adorarem cada palavra que proclama ? ❞ replicava a indagação com o humor dócil , reparando o jovem retornar com o vinho já no decantador . receava o momento em que o líquido rubro tomasse conta do seu paladar , recordava das notas florais e tato encorpado que ele trazia , e ela sabia como era infinitamente mais fácil reacondicionar-se ao que outrora fora a norma , do que livrar-se dos hábitos .
#AS FRASES DELE SEM AJUDAR NEM UM POUCO A DIMINUIR A PARANOIA DELA#KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKM#002: a militante ;;#task: 002 ;;
12 notes
·
View notes
Text
embora a lista de medos de camilo não fosse tão extensa, os poucos pontos presentes nela lhe aterrorizavam com demasia. ele sabia que olívia não era indefesa, mas ainda lhe era natural sentir o corpo todo tenso perto do pai, o receio de sua instabilidade pairando sobre ele como uma nuvem escura diante da proximidade do progenitor. enfim distantes de vicenzo, o rapaz agora sentia os músculos dos ombros doerem um pouco, bem como a palma da mão que outrora a ponta de seus dedos pressionavam. ainda que soubesse que isabel era quase tão odiosa quanto o homem com quem conversavam instantes atrás, era inevitável relaxar um pouco em sua presença. em comparação, a mais velha era com certeza inofensiva. o que não queria dizer que também não tinha seu próprio veneno. camilo aproximou-se da mulher para lhe cumprimentar com dois beijos na bochecha, oferecendo a taça em sua mão que era originalmente para si mesmo. “que isso. assim você me deixa sem graça” ele sorriu, nem um pouco tão humilde quanto as palavras poderiam sugerir. camilo gostava de atenção e os elogios da mais velha eram muitíssimo bem vindos, especialmente considerando que a presença de olívia sempre despertava nele aquela sensação de ter sido trocado. era egoista, mas acaba sendo inevitável se sentir bem diante da forma que a mulher alimentava seu ego. assim não se sentia tão... diminuído. “é, sua filha não parece concordar muito com isso” ele apontou, sorrindo como se fosse uma mera piada, como se aquilo não o incomodasse profundamente. não porque isabel o veria como um coitado, não mesmo, mas porque concordaria com ele que tal ponto de vista era um absurdo.
diante da menção da outra filha, no entanto, milo franziu discretamente a testa. ele sabia reconhecer aquele tom em qualquer lugar: seu pai utilizava a mesma forma passiva agressiva de diminuí-lo em público. “alicia era mesmo uma mulher incrível. mas cá entre nós, ainda me falta conhecer alguém tão bonita quanto olivia” se fosse sincero, camilo não era do tipo que comparava a beleza daquelas com quem se envolvia. alguém com gostos tão variados sequer conseguiria faze-lo. nesse ponto, ele era um homem simples: se achava alguém atraente, então era atraente e pronto. não havia mais ou menos, apenas sim ou não. olivia e alicia eram mulheres lindíssimas de maneiras diferentes. ele não julgava nenhuma delas como uma beleza maior que a outra. achava, porém, que a mais nova sempre tivera muito mais que beleza a oferecer. e isso era seu diferencial. mas isabel não ligaria para nenhum argumento do tipo, ricci sabia. as vezes temia que, com a repetição das palavras de sua mãe, olivia tampouco ligasse. seria uma pena. milo a encarou por sólidos segundos quando ouviu sua frase sobre ser um prêmio de consolação. a raiva ainda estava ali presente, pensando em como ela o havia dispensado, em como ele se sentira ainda menos que um prêmio de consolação, como ela dizia. o ressentimento estava lá, mas ao mesmo tempo, sabia que olivia era terrivelmente injusta consigo mesma. abriu a boca para argumentar, mas o que diria? que há tantos anos havia ficado quase que animado com a mudança de planos da família? que para ele olívia era infinitamente mais interessante que alícia jamais havia sido? que ela não deveria se colocar naquela posição de segunda escolha, quando teria sido a primeira de camilo, se houvesse permitido?
quando deu por si, isabel já continuava o assunto, e ele apenas sorriu. “se é que a profecia sequer é real” não deixou de acrescentar, percebendo um leve desconforto na expressão alheia, mas nenhuma desistência. “ah, sim. quando nós, mutuamente, terminamos” havia um resquício de acidez em seu tom de voz, mesmo que o rosto ainda demonstrasse um belo e carismático sorriso. olivia entenderia a provocação. “eu diria que se fôssemos almas gêmeas, teríamos encontrado nosso caminho um para o outro há muito tempo, não acha? não nos faltou oportunidades.” relembrou, pegando outra taça, agora para si mesmo. bebeu um longo gole. “receio que eu simplesmente não seja o tipo de sua filha, senhora boscarino.” claro que, daquele modo, até parecia que camilo continuava ali disponível para quando olivia optasse por prosseguir o tal casamento. não era o caso, com certeza. aquilo podia ter partido da mais jovem, mas eventualmente, ricci sentira-se aliviado de se livrar da situação. mas assim, os dizeres conseguiam tirar de si mesmo a responsabilidade, e não seria ele quem receberia os olhares de cobrança até o final da noite.
Olivia manteve o sorriso perfeito, completamente treinada para lidar com situações de desconforto, mas cada palavra que saía da boca de Vicenzo parecia pesar em seus ombros. “ Obrigada, senhor Ricci. É um prazer estar aqui e poder prestigiar algo tão bem planejado. Não poderia esperar menos do anfitrião, é claro. ” respondeu, sua voz suave, carregada de polidez e um toque sutil de flerte que ela dominava como ninguém. Sabia que não era esperta o suficiente para manipular homens poderosos como ele, mas precisava manter sua imagem de queridinha de Khadel. Seus olhos o encararam diretamente, firmes, mas seu estômago revirava levemente. O homem era atraente, com aquele ar autoritário e imponente que ela sabia admirar, mas algo nele a deixava em alerta. Havia um frio peculiar percorrendo sua espinha sempre que Vicenzo sorria daquela forma – um sorriso que nunca parecia chegar aos olhos, e parecia carregar segredos obscuros. O olhar dele se demorou em Olivia, e por um instante, ela teve a impressão de que ele estava analisando cada camada do vestido que usava. Mas, como sempre, manteve-se impecável, a postura, a cabeça erguida, o sorriso que misturava gentileza e sensualidade com maestria. Não era o tipo de mulher que se deixava intimidar facilmente, mesmo que a presença dele a fizesse querer dar um passo para trás. Ele era o tipo de homem com o qual poderia se envolver – rico, poderoso, charmoso –, se não fosse por aquela aura que misturava perigo e algo sombrio que ela não sabia se queria decifrar. Quando ele direcionou o olhar a Camilo e lançou o comentário velado sobre caprichos e objetivos da noite, Olivia segurou a taça com um pouco mais de força do que o necessário, mantendo o sorriso. “ O senhor é muito generoso com suas palavras, senhor Ricci. Mas não se preocupe, sei muito bem reconhecer o valor de um esforço como o seu. Prometo que esta noite será aproveitada como merece. ” Respondeu com a confiança de quem sempre sabia o que dizer para agradar os outros. Suas palavras soaram confiantes, mas por dentro havia um pequeno nó. Camilo, então, colocou a mão em suas costas, um gesto que a pegou de surpresa, mas que, de alguma forma, foi um alívio. O toque dele era quente, protetor. Vicenzo manteve o sorriso traiçoeiro enquanto fazia sua saída, e Olivia tentou disfarçar o seu suspiro de alívio quando ele finalmente se afastou.
A pergunta de Camilo veio casual, mas ela percebeu que ele estava tentando aliviar a tensão do momento. Antes que pudesse responder, ele já a guiava para a mesa de champanhe. O toque em suas costas só desapareceu quando ele se afastou para pegar as taças, e ela se viu observando os movimentos dele com atenção. Sempre tão elegante, tão controlado. Talvez fosse por isso que Vicenzo parecia desprezá-lo tanto. Camilo parecia não ceder às provocações do pai, e Olivia admirava isso, mesmo que nunca fosse admitir. Saiu de seu pequeno transa quando ouviu a voz de sua mãe. “ Ah, Camilo, querido! O genro dos meus sonhos! Sempre tão charmoso. ” Isabel se aproximava com aquele sorriso impecável, o tipo de sorriso que encantava fotógrafos, mas que Olivia conhecia bem demais. Era um sorriso de intenções claras, e Olivia voltou a sentir aquele incômodo, dessa vez por um motivo e pessoa diferentes. O elogio de Camilo parecia sincero, sua mãe era mesmo deslumbrante, mas também estava ciente de que o outro sabia exatamente como agradar. “ Estou muito bem, querido, especialmente em uma noite tão bonita quanto essa. Mas me diga, por que vocês dois não aproveitam um pouco mais juntos? É tão raro ver um casal que combina tanto, sabia? ” Isabel lançou a frase com uma naturalidade que apenas ela conseguia, mas Olivia sentiu o impacto. Sua mãe não precisava ser mais óbvia. Revirou os olhos com cautela, soltando o ar pelo nariz. “ Ah, mamãe, sempre tão sutil. ” Olivia respondeu com um sorriso controlado, desejando que Camilo voltasse com a mão em suas costas e a guiasse para longe dali antes que a mulher dissesse algo mais. “ Ora, Olivia, você sabe que sou sincera. E veja bem, Camilo, sei que ela não é a Alicia, mas minha caçula é quase tão bonita quanto, não é? ” A risada da mulher preenchia o espaço entre os três como se uma piada divertida acabasse de ser contada. A comparação com a irmã foi como um soco na boca do estômago, e nem todos os anos de treinamento para aprender a esconder o que sentia foi capaz de neutralizar o choque estampada em sua face. “ É verdade, mamãe. Sou um ótimo prêmio de consolação, não é? ” A pergunta retórica foi respondida com um aceno de cabeça da mulher, que logo ignorou o deboche na fala da filha e prosseguiu com as insistências como se pudesse, naquele momento, convencê-los a casar ali mesmo. Olivia deu um longo gole na bebida, como se quisesse engolir o choro junto. “ Vocês deveriam ir num encontro. Aposto que um dos pares das almas gêmeas da profecia são vocês. ” Sussurrou, como se partilhasse um segredo, por mais que vários presentes naquele lugar achasse o mesmo dos dois. Não que fosse verdadeiro, a mulher nem acreditava nisso, mas a ideia de perpetuar o poder e influência da família era o que lhe movia. “ Não somos não. Isso já foi decidido anos atrás, quando terminamos o que mal começamos. Não é, Camilo? ”
10 notes
·
View notes
Text
"não é isso. eu tenho... memória muscular, sabe? eu sempre uso camisinha. mas eu nem sempre me lembro da noite inteir... ah, você entendeu." por mais antissocial que aaron fosse, camilo não precisava explicar o conceito de amnésia alcóolica para alguém da idade dele. além disso, justificar-se não ajudava na resolução: o bebê ainda estava diante deles. "sim, hoje. a mãe dela tinha alguma coisa pra fazer... era..." franziu o cenho, tentando se recordar. a verdade era que no começo da conversa, ele não havia se importado o suficiente com a mulher para prestar atenção no que ela dizia. só depois, quando largou a bebê com ele, foi que se arrependeu de não ouvir onde ela estaria a tarde toda. "alguma entrevista, algo assim. eu não prestei muita atenção. mas em minha defesa, eu não achei que ela largaria uma criança comigo." que mãe horrível, pensou. "talvez ela..." não pôde terminar a teoria, pois a menininha começou a chorar. "ih, lascou. e agora?" camilo não era completamente inútil, cuidava de uma fazenda de animais. mas animais não choravam. não exatamente, pelo menos. "o que eu faço? onde desliga isso?"
Aaron ficou em silêncio por alguns segundos, processando a quantidade absurda de informações que tinha acabado de ouvir. A preocupação e o desespero no rosto de Milo não ajudava em nada a convencer Blackwell de que aquilo não era uma piada de mau gosto. Ele estava assustado real. Abaixando um pouco para olhar a adorável bebê, que ainda sorria de forma completamente alheia ao caos ao seu redor, Aaron tentou clarear a mente, mas não conseguiu. Quase sem paciência, soltou: "Ricci, você é um idiota. Como assim você ‘não lembra’ das vezes que usou camisinha? Isso é… isso é coisa de alguém que não tem a menor noção de responsabilidade", disse Aaron, sentindo uma pontada de frustração. Porque aquilo tornava uma situação como essa completamente possível de acontecer. No entanto...algo parecia estranho. Como assim ele só estava sabendo da existência da criança daquela forma? Depois de dois anos? "Não vou dizer que não está fodido, mas...", balançou a cabeça e olhou de novo para Milo. "Me explica isso direito. Você tá me dizendo que a primeira vez que você ouviu falar dessa criança foi hoje? Isso não faz sentido nenhum. Por que ela teria te ignorado por tanto tempo para depois deixar essa criança aqui, do nada? Isso tá muito estranho..." E em outro contexto, Aaron teria fechado a porta na cara de Ricci sem problema algum, mas aquilo...bom, aquilo era algo genuinamente sério.
7 notes
·
View notes
Text
admitir que aquela história de alma gêmea passava por sua cabeça com tamanha frequência seria reconhecer que aquilo tudo tinha um peso muito maior do que camilo gostaria. mas nas tantas vezes que lhe fora inevitável pensar a respeito do assunto, não havia considerado com seriedade que pasqualina e ele fossem um possível casal. não que ela não fosse atraente - era possivelmente uma das mulheres mais bonitas que conhecia. era só que... por mais egoísta que fosse, não podia deixar de pensar que ele também deveria agregar algo em um relacionamento, caso se submetesse à tal coisa. motivo pelo qual não tinha a menor pretensão de fazê-lo. e se ricci talvez pudesse oferecer algo a alguém, certamente não seria à miss angelical. o que havia sido reforçado pela maneira que o sorriso desapareceu do rosto da ruiva ao reconhecê-lo. "um engano..." que era um engano, ok. mas 'era pra ser um cara bonito e algo' certamente o havia atingido o ego em cheio. "ouch." levou a mão ao coração, e embora fizesse seu melhor para parecer bem humorado, sentira-se verdadeiramente ofendido. "se quiser posso me virar e fingir que nada aconteceu. podemos achar para você um cara alto e bonitão no meu lugar" provocou, uma das sobrancelhas arqueadas. sabia que ela não tinha intenção alguma de ofendê-lo, era pasqualina, afinal. não mudava o fato de que ele se lembraria daquele comentário por muito tempo no futuro. "tolerável?" franziu o cenho, as palavras alheias incomodando cada vez mais. "disseram que eu s--" riu em desdém, desacreditado. ora essa, ele era legal pra caralho. divertido, espontâneo. com toda certeza poderia oferecer uma noite inesquecível. tolerável! que insulto. "então você aceitou sair com um cara apenas tolerável?"
Aquele não era seu ambiente natural. Ainda não tinha entendido por que o encontro às cegas não poderia ser na Trattoria Sofia ou até mesmo em um simples café na Piazza Montaldi. Julieta, sua amiga da igreja, e a irmã Marino, mãe da referida amiga, justificaram dizendo que o objetivo de ser no The Loft era para já ir 'abrindo a sua mente'. Ah, se elas soubessem a quantidade de malabarismos mentais que Pasqualina já estava fazendo desde aquela noite na cachoeira.
Ela aceitou a proposta, afinal, estava precisando ir para algum lugar que não fosse a igreja ou seu quarto. Escolheu o vestido vermelho recém adquirido: modesto o suficiente, na altura dos joelhos, e com uma mínima fenda na lateral. Chegou alguns minutos adiantada e com sua postura impecável de bailarina aposentada, sentou-se de costas para a entrada.
Enquanto aguardava ansiosa para conhecer o misterioso cavalheiro, seus olhos percorreram o local, na tentativa de encontrar algum rosto familiar e ao mesmo tempo distrair a mente. Será que seria um turista americano que queria morar em uma fazenda e ter sete filhos? Pensou, já imaginando como seria ter que cuidar das crianças e dos animais, até que um leve toque em seu ombro a despertou. Seu futuro cowboy tinha chegado!
O sorriso radiante foi cessando assim que captou a figura de Camilo. "Acho que houve um engano." Retribuiu a risada sem jeito, não tinha outra explicação para aquilo. "Elas disseram que seria um homem bonito, de alta estatura, convencido, porém tolerável, que gosta de animais e é um pouco controve..." As palavras ficaram presas em sua garganta, até que exclamou: "Oh, mio Dio, é você mesmo, Camilo!"
7 notes
·
View notes
Text
[ manhã ]
a ressaca definitivamente não era uma sensação incomum ao ricci, mas não significava que se tornava mais fácil de lidar. a cabeça parecia prestes a explodir e os lábios ressecados denunciavam a necessidade de hidratação. ao colocar-se de pé, sentiu o mundo girar um pouco, bem como o estômago reclamar do movimento brusco. tentou se lembrar da noite anterior... sequer havia jantado? provavelmente não. lembrava-se de christopher chegando em sua casa por volta das nove, mas se recordava apenas de comer algo na parte da tarde. isso, em conjunto com as garrafas vazias, explicava porquê ele não se lembrava de muita coisa. "pelo menos meu bronzeado tá em dia" retrucou, embora não se importasse minimamente em discutir aquele ponto. "pela minha experiência, a gente não deve ter ficado só no álcool não" pelo menos ele não. mesmo com a pior ressacada do mundo, ele não deixou escapar a piada. "isso é um convite para tomar banho comigo?" riu, mas franziu o cenho, tendo a impressão de um flashback. "glitter?" camilo se aproximou do espelho, virando a fim de verificar a situação de suas costas. "foi uma festa bem animada..." assentiu a cabeça, mas parou quando o movimento fez a dor intensificar. "ok, vai lá tomar um banho que eu vou buscar algum remédio pra dor de cabeça. tipo vicodin ou morfina."
[ noite anterior ]
parou no meio do caminho, a mão no peito em uma demonstração de clara ofensa. "eu te elogio e é assim que você me trata? sinceramente, você faz meu coração sangrar." disse, carregando a frase de um falso e exagerado drama. "eu fui pra academia esse mês umas... sete vezes. tá legal? você queria ter a minha bunda" piscou um dos olhos, sabendo exatamente o duplo sentido da própria frase. já no andar de cima e em meio à festa, afastou-se do amigo enquanto retornava ao trio com quem conversava minutos antes. passou a mão em torno da cintura de uma das jovens de cachos longos e escuros, enquanto a loira a seu lado encontrava alguma desculpa para passar a mão nos cabelos de ricci e ele se dirigia à ruiva diante de si, brincando sobre estar diante das meninas super poderosas. quando ela comentou sobre as cores das lingeries combinarem com sua teoria, camilo apontou com o queixo para a jacuzzi. "isso é um convite para tomar banho comigo?" mas antes que a jovem respondesse, chris o puxou para longe, questionando o pequeno e completamente irrelevante detalhe. "ah, isso? então, estamos na despedida de solteiro da nossa querida alessia." apontou para a moça com a faixa. "alguém dê mais um shot pra nossa noiva, por favor! ela está sóbria demais." camilo agitou, e a ruiva buscou a garrafa de tequila para prontamente fazê-lo. "aparentemente, algumas pessoas estão convencidas de que se dormirem com um dos reencarnados, essa história de amor verdadeiro vai pegar neles por osmose. lucia ali me disse que alessia não ama o marido, que está casando por conveniência. nada mais justo do que ajudarmos a trazer o amor para a vida delas, não?" o sorriso sacana deixava claro que camilo não acreditava naquelas teorias, mas isso não o impediria de se disponibilizar para uso das garotas.
[ manhã - 09:34 ]
Christopher estava deitado de tal modo que facilmente poderia ser confundido com um cadáver em uma cena de crime. Ao seu lado, garrafas vazias ocupavam o espaço próximo de ambas as suas mãos, o que sugeria que ele muito provavelmente havia adormecido segurando as duas, se bem que, com a intensidade com que dormia, desmaiado parecia fazer mais sentido na frase. Os olhos tremeram levemente devido ao barulho de alguém se arrastando não muito distante, mas foi quando ele se virou para a claridade que seus olhos se abriram de vez. "Mas o que..." A voz rouca sequer completou a frase antes de falhar. Sua boca estava seca como se ele não bebesse água a três semanas. "Quem que ligou o sol?" Resmungou, apertando os olhos. Enquanto coçava a garganta, Christopher se obrigou a ficar sentado no colchão, seus olhos olhando em volta enquanto ele parecia terminar de acordar. Notou a camisa do outro lado do quarto, o botão da calça aberto, mas tranquilizou-se levemente ao ver que a cueca seguia no lugar. No entanto, ao ver Camilo em situação similar, seus olhos se arregalaram e ele sacudiu a cabeça com força. "Acordei, acordei." Disse, a voz ainda um tanto rouca devido a boca seca. "Você é branco também, margarida." Revirou os olhos enquanto um sorriso se formava no canto dos lábios. "Nem me fala, com a dor de cabeça que eu tô sentindo agora, das duas uma, ou você me atropelou ou a gente bebeu uma destilaria inteira ontem." Disse ele, em seguida colocou a mão em frente a boca, constatando o hálito forte do álcool com uma careta. "Comer é uma boa, meu estômago tá roncando mais do que você." Disse, levando a mão até a barriga e rindo levemente. "Mas antes eu preciso de cinco litros de água e de um banho e você também..." deixou a frase morrer enquanto os olhos se fixavam no amigo e, aos poucos, se aproximou do mesmo: "Por que caralhos tem glitter por toda as suas costas?" Questionou, a testa franzida enquanto tentava se lembrar de algo.
[ noite anterior - 21:14, chegando no escritório do Camilo ]
"Mas você nasceu de sete meses pra ser apressado assim? Eu nem estou atrasado ainda, cacete." Ele resmungou do outro lado da linha enquanto manobrava o carro em frente a casa do amigo. Um riso baixo escapou de seus lábios com a fala seguinte. Ele conseguia imaginar o que gerava o apelo nas mulheres: a possibilidade de uma história de amor, mesmo que elas sequer fossem cogitadas como possíveis almas gêmeas. Todo mundo naquela cidade buscava desesperadamente por amor, mesmo que as vendas impostas pela crença sem sentido da maldição os cegassem desde sempre para seu verdadeiro significado. Mas quem se importava? Claramente não ele. Queria esquecer de toda aquela história, e o cenário descrito por Camilo parecia perfeito para isso. "É claro que não." Disse ele após tocar a campainha e desligar o telefone. Assim que a porta se abriu, entrou jogando beijos para a figura masculina como se o mesmo fosse um fã a sua espera, em seguida, retribuiu ao abraço. "Bora lá então." Falou, gesticulando com a cabeça em direção a escada, logo seguindo o Camilo em direção aos degraus enquanto ostentava um sorriso nos lábios. "Alguém já te disse que você é meio desbundado? Ou essa calça tem um efeito gaveta na sua bunda." Comentou de forma aleatória enquanto subiam.
Assim que chegaram no cômodo, Christopher observou a festa com um sorriso ainda maior e logo foi comprimentar cada uma das presentes. No entanto, notou uma faixa escrito "bride" sobre uma das mesas. Precisou fingir uma tosse para disfarçar o susto e logo caminhou em direção ao amigo, puxando-o da conversa em que ele estava com uma das meninas. "Por que tem uma faixa escrito noiva na mesa? Tu prometeu casamento pra alguma delas? Diz que não, o cara que cuida das anulações de casamento tirou férias do escritório."
4 notes
·
View notes
Text
mais do que suficiente dizer que camilo não era do tipo romântico, e portanto, estava absolutamente distante de ser especialista naquele tipo de coisa. em seus mais de trinta anos, havia lido livros e assistido filmes, até mesmo apreciado diversas músicas sobre o mesmo tema - o amor. nunca as compreendeu por completo. mesmo assim, isso não o impedia de ter suas opiniões baseadas no que ele considerava senso comum: não poderia haver um mundo em que olivia boscarino e camilo ricci fossem almas gêmeas — não com a história que ambos partilhavam. se o amor verdadeiro realmente existisse, deveria ser forte o suficiente para pelo menos dar um pequeno sinal, independente de qualquer maldição, certo? ele compreendia que os supostos casais haviam sido impedidos por uma força maior de estarem juntos, mas poderiam duas almas gêmeas passarem tanto tempo nutrindo nada além de ressentimento e descaso? ele não acreditava que deveria ser assim. isto é, não acreditaria se sequer achasse que tudo aquilo era real.
não deixou de notar o singelo impacto do apelido na feição alheia, e sorriu satisfeito, mesmo que a lembrança fosse até certo grau incômodo para si também. não exatamente a memória do momento em que o apelido havia sido criado, mas a forma que ele era um lembrete da maneira que camilo chegara perigosamente perto de se disponibilizar a sentir qualquer coisa por alguém. quando pensava na situação que haviam passado, o ricci reconhecia que nunca havia de fato sentido algo forte ou verdadeiro pela mais jovem. não por conta da garota, mas porque ele parecia simplesmente incapaz de sentir qualquer coisa verdadeiramente positiva. mesmo assim, naquela época, viu-se desejando que fosse possível fazê-lo. e para que? ser desprezado. não pela primeira vez. era inevitável traçar um paralelo com a situação de sua infância, e servira como uma última lição para que ele nunca mais se atrevesse a baixar a guarda. por isso, naquele encontro, estava tão tranquilo. não havia a menor chance de camilo levar aquilo tudo a sério, não de novo, e não com ela. “que bom que gostou” comentou, ajustando o óculos em cima do nariz. não havia sido uma escolha proposital, apenas perdera as lentes de contato recentemente e ainda precisava buscar novas. apreciava, porém, a resposta positiva sempre que utilizava o objeto. quando mais novo era difícil fazer o visual funcionar, mas não deixara de notar o quão atraente algumas pessoas consideravam seus óculos depois dos trinta. e se funcionava com olivia, bingo.
não deixou de notar a singela distância que a jovem criara entre eles, e não fez nada para contrariar. seguiu a atendente conforme ela explicava os procedimentos e os locais nos quais os fariam. sorriu um pouco com a provocação, inabalável. aproximou os lábios cheios do ouvido alheio, perigosamente perto da nuca. "eu sempre impressiono." garantiu, antes de criar um pouco mais de espaço entre eles do que outrora. arqueou as sobrancelhas em surpresa com a sugestão da boscarino. "ansiosa para me tocar, parece" provocou, e ao contrário da última frase em sussurro, o comentário foi alto o suficiente para a atendente escutar. "como desejar." concordou, antes de dirigir sua atenção à moça que o entregava um roupão e apontava para o biombo no fundo da sala. também explicou onde estavam os diversos materiais à disposição, entre cremes, óleos e toalhas, antes de se retirar. agora a sós, camilo se aproximou de olivia sem dizer nada. ela era alta, mas aproveitou a diferença de alturas para olhá-la de cima, e a ponta dos dedos tocou os olhos alheios, escorregando pelo braço até as mãos. ali, segurou-a e a ergueu em sua direção, quase como se fosse deixar um beijo no dorso, mas apenas sorriu. "macia." constatou, fazendo um pequeno carinho ali com o próprio polegar. "tenho certeza que não será uma experiência desapontadora." e então soltou a mão alheia delicadamente. ainda no mesmo lugar, retirou a camisa e a encarou por alguns últimos segundos antes de finalmente ir atrás do biombo retirar o restante da roupa. deixou as calças, as meias e o sapato junto da camisa, saindo apenas com o roupão (praticamente semiaberto do tronco acima) por cima de sua cueca. "vamos, então? em qual posição você me quer?"
Olivia não sabia exatamente o que era pior: a insistência sufocante das famílias em empurrá-los como um dos casais destinados a quebrar a maldição de Khadel ou a provocação de Camilo Ricci depois do jantar na casa do pai dele. A noite havia sido um desfile de insinuações e olhares cúmplices por parte dos outros convidados, todos conspirando para colocá-los no papel de almas gêmeas que superariam séculos de azar amoroso. Olivia, é claro, havia lidado com aquilo da única maneira que sabia: sarcasmo. “Almas gêmeas? Ah, por favor, seria a reviravolta mais preguiçosa de um roteiro já escrito”, ela havia dito, arrancando risadas de seu irmão mais velho e olhares de reprovação de todos os outros. Camilo, por outro lado, não achou graça alguma. Quando ficaram sozinhos, ele se aproximou com aquele ar convencido que ela conhecia bem e disse que um encontro seria o suficiente para fazê-la se arrepender de não ter se casado com ele. Era o tipo de provocação que Olivia normalmente ignoraria, mas havia algo no tom dele que acendeu sua vontade de contrariá-lo.
E foi assim que Olivia se viu ali, caminhando até o local do encontro com a usual pontualidade de quem nunca chega na hora. Ela podia sentir o calor do sol na pele e o vento leve agitando os cabelos perfeitamente arrumados. O vestidinho branco fluido que usava parecia combinar com o clima despreocupado, e as rasteirinhas delicadas nos pés indicavam que, por mais que fosse um encontro forçado, ela estava confortável; afinal, usaria roupão durante o encontro, de qualquer forma. Os óculos escuros escondiam seus olhos atentos, mas não disfarçavam a expressão de quem estava convencida de que já tinha vencido antes mesmo do jogo começar. Ao avistá-lo à distância, já esperando em uma poltrona de espera, ela percebeu o olhar avaliador dele enquanto ela se aproximava. “ Cheguei. Espero que não tenha esperado muito. ” disse, tirando os óculos e revelando o olhar afiado, sabendo que ele não poderia contrariá-la e causar um show na frente dos outros. Precisavam convencer os outros de que estavam num encontro de verdade, no fim das contas.
Se Camilo achava que Olivia não sabia reconhecer provocações disfarçadas de gentileza, ele claramente não a conhecia tão bem quanto pensava. O som de “cigno” saindo dos lábios dele foi como um soco no estômago, um lembrete doloroso de um passado que ela preferia manter enterrado. Ela sentiu os músculos da mandíbula tensionarem por um breve instante, mas forçou um sorriso polido — era uma especialista nisso, afinal. Aparências precisavam ser mantidas, especialmente com tantos olhos curiosos observando. “ Grazie, sweetie. ” ela respondeu, a voz baixa e suave como mel, mas carregada de um sarcasmo quase imperceptível. “ Você também está... apresentável. Óculos te caem bem. ” O apelido ainda ecoava em sua mente, trazendo consigo lembranças de um tempo em que ela acreditava que ele poderia ser diferente. O dia em que ele a chamou de “cigno” havia sido um dos momentos mais doces da sua adolescência — um gesto inesperado de gentileza em meio a uma vida de comparações cruéis e olhares de pena. Alguns anos depois, quando o noivado entre os dois foi planejado, ela o havia colocado em um pedestal por esse simples ato de lhe dar um apelido com algum significado. Estava convencida de que, mesmo sem amor, ele poderia ser um marido decente, alguém com quem dividiria uma vida tranquila e confortável.
Mas então veio aquela maldita conversa. A voz dele dizendo que ela parecia um robô ainda era uma ferida aberta. Ela havia saído correndo antes de ouvir o resto, mas nem precisava. Na cabeça de Olivia, o restante da conversa não importava. Ele havia zombado dela, como todos os outros. E a conclusão era óbvia: Camilo Ricci era como qualquer outro playboy egocêntrico. Olivia sentiu o braço dele pousar nos seus ombros, e a proximidade forçada fez sua pele arrepiar de irritação. Ela se afastou suavemente, o movimento quase imperceptível, mas suficiente para criar uma distância entre os dois. A massagista começou a guiá-los para o segundo andar, explicando que os dois receberiam instruções para massagear um ao outro, e depois receberiam um banho relaxante e poderiam ficar a sós. Olivia ergueu o queixo, encarando-o diretamente, o olhar transbordando confiança. “ Espero que tenha guardado algum charme para o restante do encontro, Camilo. Afinal, seria uma pena se eu saísse daqui sem me impressionar. ” Por dentro, o coração dela batia mais rápido do que gostaria de admitir. Havia algo na presença dele que a incomodava mais do que ela gostaria. Talvez fosse o peso das expectativas das famílias, ou talvez fosse o fato de que, apesar de tudo, Camilo mexia com ela de alguma forma. Ela ajeitou o cabelo com um gesto delicado, fingindo não se importar com a tensão invisível entre eles. Mas, no fundo, o apelido continuava ecoando, misturado à voz dele na lembrança cruel daquela conversa. Se Camilo Ricci achava que podia encantá-la novamente, ele estava prestes a descobrir que o “patinho feio” havia aprendido a jogar muito bem o jogo dele. “ Posso começar fazendo a massagem? Eu sou ótima com as mãos. ” Insinuou, propositalmente, esperando que a funcionária buscasse o roupão para que Camilo se deitasse na maca para receber a massagem - ou a pequena vingança do “patinho feio”.
17 notes
·
View notes
Text
ele tinha certeza de que se divertiria naquela noite observando o esforço alheio em lhe tratar com o mínimo de gentileza, mas os olhos semicerraram discretamente em um movimento quase imperceptível quando ela devolveu o elogio de um jeito quase sincero, ainda que visivelmente hesitante. não que ele duvidasse da capacidade de neslihan de ser uma pessoa educada e carismática, e também não era como se ele não reconhecesse que a postura da jovem até então era meramente reativa às suas provocações. ainda sim, talvez por estar já acostumado à dinâmica comum da relação dos dois, a suavidade na voz alheia o fez questionar se a gökçe era uma atriz tão boa assim. ele próprio sabia ser - havia aprendido a mentir muito bem. mas raramente o fazia, preferia ser terrivelmente honesto. e o havia sido, quando a elogiara. sorriu para si mesmo, satisfeito, quando ela confirmou a preferência pelo local externo. muito embora neslihan fosse indubitavelmente refinada e tão rica quanto o ricci (ou ao menos não tão distante disso), já havia se deparado com a jovem em sua fazenda um bom par de vezes, suficiente para reconhecer nela uma ou outra similaridade consigo. ele não diria em voz alta, e com certeza ela odiaria reconhecer, mas não passava despercebido que eles tinham um número razoável de coisas em comum. camilo não tinha qualquer noção a respeito do passado da turca, e duvidaria que havia sido parecido com o dele, mas haviam certas prioridades na vida de ambos que se convergiam. além do cuidado exímio que ela havia demonstrado com os animais resgatados, milo se recordava de vê-la cavalgar como se o vento no rosto naquele ato fosse o mais perto de uma verdadeira liberdade que ela jamais teria. podia ser coisa de sua cabeça, somente o instinto humano de espelhar os próprios sentimentos nos outros. não se atreveria a perguntar, e era uma mera especulação de sua parte. foi por isso que presumiu que ela apreciaria o ambiente externo, independente do quão impecável estivesse o interior do restaurante.
franziu a testa diante da pergunta alheia, achando certa graça na questão. não era um segredo, certo? "você me disse uma vez." nos estábulos da fazenda, completou mentalmente. "eu não me esqueço do que considero importante." com segundas intenções ou não, ela era uma figura presente com certa frequência em seus dias, e aquilo parecia um detalhe não menos do que imprescindível de se recordar. além do mais, lembrava-se de pensar que aquele detalhe era bastante condizente com sua persona. amor pelos animais, senso de justiça, determinação - simplesmente fazia sentido. ainda que sua frase tivesse sido uma resposta direta e sincera, esperava alguma provocação da parte dela como de costume, mas no lugar de palavras neslihan pareceu ter um repentino acesso de tosse. pego de surpresa, piscou algumas vezes tentando compreender o que raios havia acontecido, mas antes mesmo que pudesse questionar ou sugerir alguma solução, o acesso de tosse da mais nova se interrompeu tão rápido quanto iniciou, e ela o puxou restaurante adentro, como quem buscava acabar logo com a tortura. a própria mulher deu o nome da reserva (embora fosse desnecessário, considerando o recém status de sub celebridade de ambos) e tão logo ambos se encontravam sentados à mesa perfeitamente posta e romanticamente decorada.
como se ela não tivesse praticamente corrido até ali, neslihan agiu normalmente assim que se acomodou na cadeira. isto é, quase. a doçura na voz agora era um pouco diferente da suavidade do primeiro comentário que lhe dirigira, e camilo ergueu uma das sobrancelhas, observando entretido, como quem observa um malabarista no trânsito. entre uma frase e outra ele enfim se localizou melhor no que acontecia, percebendo que neslihan fazia exatamente o que ricci havia exigido: tratá-lo bem durante toda a noite. quando ouviu o apelido utilizado por ela deslizar pelos lábios bem desenhados, ele deu risada. olhou para o garçom que aguardava as instruções. "primeiro, poderia trazer um pouco de água para a senhorita?" ela havia quase falecido há meros segundos, ora essa. "e eu acredito que um pinot noir seja uma boa opção hoje" ele já sabia as opções que a sua mesa teria, e portanto o vinho tinto combinaria com todas elas. como opções de entrada, haviam preparado bruschetta de tomate com manjericão e creme de balsâmico e uma salada caprese com pesto de pistache. para o prato principal, as opções eram ravioli de ricota e espinafre com manteiga e sálvia, servido com parmesão e pimenta preta, e risoto de cogumelos porcini e trufa. já para a sobremesa poderiam pedir tiramisú clássico e panna cotta de lavanda com coulis de framboesa. os pratos estavam descritos no pequeno menu personalizado e disposto na mesa em frente a cada um deles. "domaine de la romanée-conti, por favor." comparecia ao restaurante o suficiente para saber que eles tinham aquela opção. o rapaz maneou a cabeça e se retirou, aparecendo segundos depois para servir primeiramente a água para neslihan, antes de buscar o vinho solicitado. somente então pôde olhar em volta e absorver o quão impressionante estava a decoração. normalmente havia um pouco mais de iluminação do lado de fora, mas notou que o estabelecimento havia deliberadamente os deixado basicamente á mercê das luzes das velas, da lua, e da iluminação do ambiente interno que inevitavelmente refletia onde estavam. e como se a noite houvesse sido fabricada perfeitamente pelo restaurante, o céu estava limpo e repleto de estrelas, e a temperatura da noite estava suficientemente amena para permitir tanto o vestido aberto de neslihan, quando as mangas longas do terno de camilo. ele a observou uns segundos. "você parece mais nervosa do que eu esperava. quer dizer, você está sempre nervosa, mas agora parece... nervosa." ela saberia interpretar a diferença dos dois termos. "isso tudo sou eu? ou você simplesmente não está acostumada com encontros decentes?" camilo sabia agir como um cafajeste tão bem quanto agir como um cavalheiro. a diferença era seu interesse, a depender do momento. ele arrumou os óculos, aguardando a resposta, curioso não apenas por ela, mas pelo tom que a jovem utilizaria. o quanto duraria a docilidade alheia?
os dias que antecederam o fatídico encontro com camilo desenrolaram-se como um prelúdio de estranha quietude , e neslihan deveria ter decifrado a calmaria da como a bonança que precede uma tempestade . a dança travada entre ela e o homem era uma composição de espinhos e pétalas , um ritmo de contradições , que ao mesmo tempo que a avivava , se entrelaçava com receio e a noção de que tudo nada mais era que uma miragem . sob o disfarce da aposta e a justificava da suposta maldição que os unia , embora soubesse que não passava de um jogo de caprichos e vontades , havia pouco o que pudesse ser contestado , não com o ricci envolvido na trama e sua palavra em linha .
relendo pela oitava vez a mensagem que detalhava os planos para a noite , soltou um suspiro , o gesto carregado de resignação e com um toque apreensivo . não pelo que certamente a esperava , o conhecia e as expectativas não eram grandiosas . não , a gökçe , quando devidamente preparada , habituara a pressupor o mínimo de camilo para evitar ter decepção como o único sentimento correndo em suas veias além da ira latente . o que levava ao real motivo da inquietude . o algo a mais que parecia residir nos olhos castanhos do homem — o brilho sagaz , a gentileza involuntária revelada nos pequenos gestos de acolher e proteger animais — e que ele insistia em ocultar , fazendo-a questionar a verdadeira profundidade do homem . seria ele capaz de enxergar além , perceber o tormento que ainda regia o interior feminino , ter um olhar mais crítico do que demonstrava com o egocentrismo típico de um herdeiro acostumado a excessos .
vermelho , neslihan não trajava apenas uma cor , mas uma armadura . a exuberância da tonalidade distrairia breves atenções , desviando-os do corpo . longe dos hematomas amarelados e púrpuras que salpicavam o lado direito das costelas , cuidadosamente ocultos pelo corte estratégico que evidenciava a pele oposta . a seda luxuosa deslisava suavemente sobre a pele , sem abrasar os pequenos cortes que trilhavam a extensão entre quadril e coxa , também velados pela fenda que se abria expondo a perna oposta . um artifício de ilusões , uma arte que dominava desde o momento em que nascera uma şahverdi . os dígitos da destra , adornados pelos anéis de herança materna , descendiam pelo tecido enquanto as íris permaneciam fixas às janelas da villa , em espera da interrupção do interfone conectando os portões de ferro ao interior terracota .
com a canhota entremeava os dedos no pelo aveludado de mark , que a vinha perseguindo como uma sombra protetora desde a sua queda . afagando o animal , desvinculou-se do peso sobre o seu colo com o surgir do par de faróis à distância . apressou-se para abrir a barreira , os saltos em camurça a carregando porta afora , aguardando-o contornar a entrada . o sorriso oferecido era genuíno ao rosto repleto de linhas do tempo , os fios prateados reluzindo ao abrir-lhe a porta do veículo . ❝ grazie mille , signore . ❞ aceitando a palma calorosa como apoio , viu-se envolta pelo interior luxuoso , a conversa em tom animado a acalentando e fazendo o trajeto desaparecer com um pestanejo .
entretida pela cadência do timbre rouco contando histórias de seus netos , neslihan acompanhou a figura levemente curvada até que ele estendesse uma mão novamente , assegurando sua saída . com os lábios ainda presos em humor , não foi até que a exclamação de camilo ecoasse , que percebeu que ali ele estava , as vestes inteiramente pretas destacando o bronzeado da pele . com o elogio soando verdadeiro em seus ouvidos , o sorriso que havia caído retornou , surpreso . deliberando sobre a exigência feita quanto a refrear seu temperamento sanguíneo , girou lentamente em seus calcanhares , o riso escapando mais natural do que antecipava . o recorte pairava logo acima das costelas , alto o suficiente para quase nada revelar na baixa iluminação noturna . ❝ você também está muito... charmoso . ❞ o reconhecimento saía em hesitação , delongando-se no adjetivo , ainda que tivesse de admitir que os óculos conferiam um toque de charme na expressão usualmente presunçosa .
atendo-se ao braço que era oferecido , permitiu-se acompanhá-lo , o calor alheio e a proximidade provocando consciência incômoda na pele . com a sugestão polida , solevou uma das sobrancelhas em diversão . ❝ oh , não . prefiro a área externa , o ar livre será meu maior aliado hoje . ❞ flexionando a palma que segurava a bolsa , a postura enrijeceu-se com as próximas palavras , a outra sobrancelha arqueando . ❝ como você se lembra que eu sou vegetariana ? ❞ embora a dieta não fosse um segredo , o fato dele recordar-se e assegurar que as necessidades dela fossem acomodadas...
um pensamento alarmante a atingiu . antes não cogitava por um minuto que camilo pudesse levar a sério a busca por sua alma gêmea , e a noção era o que a tinha feito aquiescer tão facilmente . mas... seria possível que ele realmente acreditasse no amor perdido há gerações ? e o mais aterrador , poderia ele considerar que eles fossem destinados um do outro ? a consideração a fez ter um acesso de tosse , o som quase histérico , e precisou impedi-lo de adentrar il giardino — onde inúmeros olhares já os fitavam — com as unhas flexionando sobre o tecido escuro . tomando longas respirações tingidas de um leve pânico , não permitiu que ele a questionasse ou sequer oferecesse consolo . assentindo , seguiu em direção ao maître d' aguardando , os lábios forçados formando o sobrenome masculino , antes de serem guiados até o romântico ambiente , aceso com velas e o aroma de rosas permeando .
subestimá-lo havia sido um erro , neslihan deveria ter se preparado para uma guerra . a única saída era ser tão encantadora e desprovida de qualquer semelhança com o seu eu , a ponto de assustá-lo . ❝ então , podemos começar com uma taça ? ❞ a voz era doce e o pedido de permissão formava um arrepio em sua espinha . agradecendo à carta que o cameriere depositava nas mãos de ambos — um olhar esperançoso por detrás da expressão neutra que ele adotava — , pousou as íris no ricci , com uma leve inclinação de cabeça , sorrindo . ❝ imagino que você conheça os melhores , e tenho certeza que escolherá o perfeito para harmonizar com… o que tenha planejado ! ❞ com o toque trêmulo pela ansiedade abaixou o papel linho . ❝ o que sugere , milo ? ❞ o apelido era um que ela nunca havia utilizado , mas ouvira vez ou outra ser proferido com carinho e , ali , o aderia com naturalidade .
#pior q se depender das duas a gnt n diminui nunca#infelizmente me empolgo#ela paranoica maluca e ele só: kkkkkkk eu mim divirto#002: a militante ;;#task: 002 ;;
12 notes
·
View notes
Text
SMS to [baby girl]
📲 [milo]: nossa, tá engraçadão hein, fazendo aula? 📲 [milo]: eu sei lá o que é, deve ser alguma maluca falsa 📲 [milo]: tipo a olivia 📲 [milo]: meu deus você namorou a adolescente crente! tinha esquecido. 📲 [milo]: e ela é do tipo escolhi esperar mesmo? 📲 [milo]: eu não sei nem o que eu vou comer no almoço, imagine saber quem é minha alma gêmea 📲 [milo]: dito isso, eu nem acho que alguém nesse grupo específico de pessoas poderia ser, de qualquer forma 📲 [milo]: só eu mesmo. eu posso ser minha alma gêmea? eu combino comigo.
SMS to [patricinha]
📲 [chris]: calma
📲 [chris]: você pensou??
📲 [chris]: isso é uma grande novidade
📲 [chris]: que porra é carochinha?
📲 [chris]: por tudo que é mais sagrado não chama Lina de adolescente sendo que eu já namorei com ela
📲 [chris]: mas digamos que essa palhaçada fosse verdade (não é), e tivesse essa maldição mesmo
📲 [chris]: além de você e da Lina, minhas escolhas mais óbvias... Talvez a Grazi?
📲 [chris]: os demais nunca nem pensei, menos Neslihan e... efim, teria que fazer o teste mesmo
📲 [chris]: e você?
2 notes
·
View notes
Text
SMS to [arghron]
📲 [milo]: para, ia ser moleza pra você! só dar uma pausa aí na dark web e fazer um appzinho de nada 📲 [milo]: e se eu levar álcool, ao invés disso? 📲 [milo]: não que uma pizza soe de todo ruim também 📲 [milo]: tá, quem você acha que é menos provável de ser sua alma gêmea? 📲 [milo]: vou roubar essa piada na próxima vez que eu esbarrar com ela 📲 [milo]: mas pra ser sincero, esse é o grupo de pessoas mais improvável pra essa palhaçada ser real
SMS to [milodrama]
📲 [aaron]: sem comentários sobre o aplicativo...
📲 [aaron]: e se você inventar de aparecer aqui de novo, traz pelo menos uma pizza
📲 [aaron]: é o mínimo
📲 [aaron]: pra compensar o transtorno
📲 [aaron]: pelo menos vou estar de barriga cheia pra escutar essas divagações aí
📲 [aaron]: e sem apostas por aqui
📲 [aaron]: além de que, você tá errado sobre a olívia
📲 [aaron]: não é que ela não tenha alma gêmea. É que a alma gêmea dela provavelmente tá escondida em outro continente, tentando não ser encontrada...
3 notes
·
View notes
Text
do lado de dentro da casa, enquanto absorviam tantas faces conhecidas e sons diversos, a provocação característica de ambos ficou em standby momentaneamente. ele até tinha pensado em alguma frase engraçadinha sobre como a justificativa alheia era só uma quantidade enorme de palavras pra justificar "superficial", mas já havia se distraído com a festa, e principalmente, com o anfitrião. era exaustivo estar diante de seu pai, sempre com a guarda erguida, como quem caminha em uma ponte velha que pode se desfazer sob seus pés a qualquer momento. era muito pior quando estava sozinho com ele, mas ainda precisava ser cauteloso, pois não havia quantidade suficiente de público que impedisse vicenzo de humilhar o filho caso quisesse. ao menos a probabilidade de ser ferido fisicamente diminuía drasticamente aos olhos de companhia, mas nunca realmente confiou que aquela era completamente impossível. seu pai podia ser imprevisível, e acima de tudo, impetuoso.
observá-lo tão próximo de olivia o deixava desconfortável. imaginava que até mesmo alguém como vicenzo teria limites naquele cenário, mas não conseguia se desprender da sensação de que a mais nova estava perigosamente perto de uma bomba relógio. como se a visse fazer carinho em um animal selvagem, que poderia simplesmente atacar em instinto quando menos se esperava. 'a senhorita está linda, como sempre.' os nós dos dedos de camilo estavam brancos tamanha a força no punho fechado, e ele só percebeu que havia segurado a respiração quando o pulmão insistiu pelo devido funcionamento. o tom de voz da garota era um misto de polidez e atrevimento. talvez fosse coisa de sua cabeça, ou ele apenas a conhecia bem o suficiente para notar. fato era que o ricci mais velho a encarou com um sorriso traiçoeiro, ambas as mãos juntando-se atrás do corpo. 'fico feliz que tenha gostado. não é sempre que os jovens apreciam os esforços dos mais velhos.' houve uma pequena pausa em sua frase para direcionar o olhar à camilo, antes de retornar à morena. 'seria, de fato, uma pena. mas gosto de acreditar que a senhorita não permitiria que os objetivos de uma noite como essa fossem preteridos por capricho.' havia um quê de aviso em suas palavras. em um movimento inconsciente, camilo colocou a mão no final das costas de olivia, protetoramente, e forçou a si mesmo a esboçar um sorriso na direção do pai, que ergueu uma sobrancelha diante de seu movimento. o sorriso de vicenzo não se desfez, embora os olhos estivessem escurecidos. 'bem, aproveitem. ainda preciso cumprimentar algumas pessoas, mas nos falaremos mais tarde novamente' ele finalmente se retirou, ao contrário da mão de camilo, que se manteve no lugar - talvez não fosse o jeito mais inteligente de lutar contra a esperança de todos os que queriam que eles formassem finalmente um casal. "álcool?" ofereceu, apontando para a mesa onde haviam algumas taças de champanhe, mas não esperou a resposta para guiá-la até lá.
apenas se tornou consciente do toque no corpo alheio quando precisou afastar a mão dali para pegar duas taças, mas antes que pudesse fazer algum comentário provocativo sobre, foi a vez da mãe da garota se aproximar. camilo não gostava da mulher, mas sabia usar o próprio charme a seu favor. "senhora boscarino! a senhora está deslumbrante. como vai?"
[ F L A S H B A C K : antes dos encontros ]
Poderia ter recuado quando sentiu o cheiro forte de madeira envelhecida e tabaco que sempre parecia cercar Camilo, mas, em vez disso, permaneceu imóvel, deixando que suas palavras a atingissem como uma chuva fina que só molha a superfície. Com um sorriso que era tão meticulosamente construído quanto cada aspecto de sua aparência, Olivia ajustou o ombro, como se livrasse de um peso invisível, e respondeu com a voz baixa, como um golpe planejado com precisão: “ Ah, então ainda tem algo funcionando nessa cabeça, Camilo. Fico feliz em saber que seu talento para dramatizar continua intacto. ”
O som do riso dele, um sopro quase imperceptível, fez com que ela erguesse uma sobrancelha. Era quase irritante como ele parecia tirar prazer de cada interação ácida que tinham. Mas Olivia conhecia bem aquele jogo e, mais ainda, sabia jogá-lo como ninguém. Ele tentou provocá-la sobre sua obsessão com a aparência, e Olivia se limitou a um olhar breve, deixando que suas palavras pairassem no ar antes de devolver o golpe. “ Se preocupar com a aparência é um luxo que alguns de nós podem bancar. Outros preferem fingir que não se importam para disfarçar o fato de que nunca vão alcançar o padrão. ” As palavras exatas de sua mãe. Já não sabia mais dizer se apenas as repetia ou pensava mesmo daquela forma.
Quando ele mencionou Maquiavel, Olivia riu, mas não de verdade – uma risada curta, o tipo de som que carrega tanto desprezo quanto desinteresse. Ela cruzou os braços, inclinando levemente o corpo, como quem avaliava um competidor que já havia derrotado antes mesmo de entrar no ringue. Com os lábios entreabertos, não teve tempo de responder ao ouvir a porta se abrindo. Francesco os cumprimentou, e Olivia sorriu para o velho homem com a mesma elegância ensaiada de sempre, murmurando um cumprimento educado antes de entrar, seguindo Camilo.
Olivia manteve a compostura impecável, mas não deixou de notar o contraste gritante entre a leveza de Camilo ao lidar com o empregado e a tensão quase tangível que surgiu quando Vicenzo Ricci apareceu. Era como se todo o charme de Camilo se dissipasse, substituído por uma rigidez que ela conhecia bem demais, porque agia exatamente igual perto da própria mãe.
Dentro da mansão, Olivia deslizou pelo ambiente como se fosse um palco, cumprimentando conhecidos com acenos suaves e um sorriso que nunca alcançava seus olhos. Mas foi quando Vicenzo se aproximou que o desconforto realmente se instalou. O beijo na mão dela foi polido, e Olivia sustentou o olhar dele com a mesma frieza cortante que costumava guardar para situações em que estava em desvantagem, mesmo que nunca admitisse.
“ Senhor Ricci. ” ela disse com uma voz suave e controlada, retirando a mão com um gesto fluido, sem transparecer incômodo algum. Seus olhos, no entanto, sempre muito atentos, notavam cada reação de Camilo. O maxilar travado, os punhos cerrados. Por mais que ele tentasse esconder, Olivia costumava ser boa em ler emoções, especialmente aquelas que lhes pareciam tão familiares. Ela inclinou levemente a cabeça para Vicenzo, seu sorriso tão polido quanto um diamante falso. “ O evento está muito bonito. Espero que esteja à altura das suas expectativas. Seria uma pena se alguém não aproveitasse todo o esforço colocado aqui. ” Era um elogio disfarçado, claro, mas também um lembrete de que ela estava ali, observando cada movimento. Afinal, era assim que ela sobrevivia: não apenas se movendo pelo tabuleiro, mas estudando cada peça antes de fazer sua jogada.
10 notes
·
View notes