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minhanonaarte-blog · 5 years
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OS IGNORANTES - Relato de Duas Iniciações
(Étienne Davodeau)
O quadrinhista Étienne Davodeau não sabe muito sobre o mundo do vinho. Richard Leroy é vinicultor e quase nunca leu quadrinhos.
Durante mais de um ano, Étienne foi trabalhar nos vinhedos e na adega de Richard, que, em troca, mergulhou nas páginas das HQs e na vida profissional do autor.
Davodeau afirma que existem tantas maneiras de fazer um livro quantas de produzir vinho. Ele constata que ambos têm o poder, necessário e precioso, de aproximar os seres humanos.
Vinhos e quadrinhos. O máximo que se pode imaginar a princípio é uma prazerosa leitura acompanhada da degustação de uma taça de uma boa safra, tinto ou branco.
Uma proposta inusitada do quadrinhista Davodeau ao vinicultor Leroy resulta em uma documentação com muitas surpresas, incluindo a maior delas: que o processo de cultivo nos vinhedos tem muito em comum com o de produção de uma história em quadrinhos.
A experiência é concebida de forma orgânica. Muitas características semelhantes nas ações são percebidas por Leroy, que topa ser personagem do álbum, mas sempre está com a cabeça na poda da sua plantação.
O leitor pode até lembrar-se de imediato do ótimo Sideways (2004), filme de Alexander Payne com Paul Giamatti (de Anti-herói Americano), mas as semelhanças ficam apenas na degustação e visitação de vinhedos. O “drama” aqui é bem mais tranquilo. Isso também não indica que seja menos prazeroso.
É apresentado o cultivo das videiras baseado na biodinâmica, processo adotado por Leroy em que nos cuidados com o solo, como a adubação, não são utilizados produtos químicos. E é mostrado que o procedimento é tão subjetivo quanto “gostar” ou “apreciar” a arte de uma HQ.
Entre o controle do crescimento das videiras, a avaliação de barris para a futura fermentação, o repouso, engarrafamento, degustação, maturação e visita de críticos de outras partes do mundo, vai sendo mostrado também o processo de fabricação de um álbum europeu.
Perfeccionista, Davodeau acompanha o demorado e meticuloso processo de verificar e corrigir erros dos testes de impressão da capa e os cadernos da edição. Os personagens também visitam uma reunião editorial. Todos se debruçam como urubus na carniça quando chegam novos originais de Jean-Pierre Gibrat.
Gibrat, por sinal, é um dos artistas que recebe a visita da dupla. Eles também batem à porta Marc-Antoine Mathieu e Emmanuel Guibert, este último autor de A guerra de Alan e O fotógrafo, ambos lançados no Brasil pela Zarabatana e Conrad, respectivamente.
Dentre as visitas a eventos sobre quadrinhos estão retratados os festivais Quai-des-Bulles (o segundo maior da França, depois de Angoulême) e de Bastia, além da exposição de Moebius na Fundação Cartier de Arte Contemporânea, em Paris.
Interessante frisar que, no seu processo de conhecimento, o vinicultor não gosta da arte de Moebius, definido como um “Mozart e Jimi Hendrix ao mesmo tempo” na visita a Jean-Pierre Gibrat. Assim como o autor não consegue perceber as diferenças peculiares de um vinho para o outro, Leroy também se permite ser sincero no processo de conhecimento.
A bela arte em aguada impressiona pelos detalhes. Sua capacidade narrativa vai além de meramente “documentar” os acontecimentos.
Por meio dos relatos das leituras do vinicultor, Davodeau dramatiza suas leituras no leito da cama, onde pode dormir sobre um encadernado de Watchmen, “uma obra sutil e complexa sobre a mitologia dos Estados Unidos”, segundo a ótica do quadrinhista francês, ou obter de imediato uma explicação desenhada por Lewis Trondheim (de Gênesis apocalípticos + Os inefáveis) sobre por que ele se retrata com um bico nas suas HQs.
Até o papel do resenhista é abordado na obra, em ambos os lados. O vinho também é alvo de modismos e avaliações da imprensa. Davodeau atenta que as HQs são resenhadas, mas “a verdadeira crítica permanece muito confidencial”. Fica a dica.
O único deslize na edição fica por conta de não traduzir as obras que já foram lançadas no Brasil, a exemplo do já citado e crucial O fotógrafo (publicado em três volumes). Esse trabalho extra faria com que o leitor menos atento aos títulos originais se interessasse em procurar os álbuns para enriquecer ainda mais o relato de Davodeau.
Dentre as obras não traduzidas no decorrer da HQ e no final (com uma lista de bebidas e quadrinhos lidos durante a experiência) estão o também já citado A guerra de Alan, de Guibert, Palestina – Uma nação ocupada (Conrad), de Joe Sacco, Morango e chocolate (Casa 21), de Aurélia Aurita, O Espinafre de Yukiko (Conrad), de Frédéric Boilet, Era a guerra de trincheiras (Nemo), de Jacques Tardi, Estigmas (Conrad), de Lorenzo Mattotti e Claudio Piersanti, e até Calvin e Haroldo (Conrad), de Bill Watterson.
Tirando isso, o trabalho da WMF Martins Fontes está à altura, com uma boa impressão em papel pólen, capa cartonada (sem orelhas) e formato 19,50 x 26,50 cm.
Primeiro trabalho de Étienne Davodeau no Brasil, a qualidade de Os ignorantes pode servir de “cartão de visitas” para novos álbuns brasileiros do autor francês, como Lulu, femme nue e Le chien qui louche.
Uma história que irá abrir a mente e o paladar do leitor pela curiosidade de não fazer mais parte da ignorância de apreciar um bom vinho ou virar a noite debruçado sobre as páginas de uma história em quadrinhos. O cardápio está sugerido em Os ignorantes, para consumir sem tanta moderação assim.
(Fonte: Universo HQ)
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minhanonaarte-blog · 5 years
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A GUERRA DOS TRONOS - VOL. 4
(George R. R. Martin)
A morte do rei Robert Baratheon e a prisão da Mão do Rei, lorde Eddard Stark de Winterfell, pôs as grandes casas de Westeros em guerra. Em Winterfell, o filho mais velho e herdeiro de Eddard, Robb Stark, reuniu um exército e está avançando para o Sul, determinado a libertar seu pai. No caminho ele se oferece para casar-se com a filha do lorde Walder Frey em troca de uma vantagem militar que lhe permita capturar Jaime Lanniester – poderosa moeda de troca para assegurar a libertação em segurança de lorde Eddard. Mas uma coisa é capturar o Regicida, e outra bem diferente é mantê-lo capturado. Enquanto isso, em Porto Real, o jovem rei Joffrey tem ideias distintas de uma troca de prisioneiros. Ignorando o conselho de sua mãe, rainha Cersei, ele incita o conflito e inicia uma conflagração que tem tudo para consumir não apenas os Starks, mas toda Westeros – a menos que Tyrion Lannister consiga trazer o jovem rei de volta à razão. Além da Muralha, perigos ainda maiores estão nascendo, à medida que um inverno tão brutal quanto nunca visto se aproxima, trazendo consigo criaturas monstruosas. Lá, o bastardo de Eddard, Jon Snow, precisa decidir de uma vez por todas a quem é fiel. E, do outro lado do Mar Estreito, Daenerys Targaryen vai conhecer os limites do luto – e imergir de suas profundezas transformada, endurecida, e pronta para reivindicar o que é seu por direito: o Trono de Ferro. 
(Fonte: Amazon)
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minhanonaarte-blog · 5 years
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A GUERRA DOS TRONOS - VOL. 3
(George R. R. Martin)
Intrigas, morte e traições vão abalar os Sete Reinos... Neste volume, fica cada vez mais acirrada a conquista pelo lugar mais disputado dos Sete Reinos - o Trono de Ferro. Os Stark estão se desintegrando, os Lannister finalmente são desmascarados após a morte do rei Baratheon, e no outro lado do Mar Estreito, um membro da família Targaryen renasce das cinzas... E, como se a batalha já não estivesse sangrenta o bastante, além da muralha, seres sobrenaturais prometem trazer o terror para Westeros. 
(Fonte: Amazon)
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minhanonaarte-blog · 5 years
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A GUERRA DOS TRONOS - VOL. 2
(George R. R. Martin)
Neste novo volume, você terá a oportunidade de acompanhar a trajetória de Tyrion, que é injustamente capturado pela Lady Catelyn e levado até os confins das montanhas do Ninho da Águia. Também poderá vislumbrar as paisagens estonteantes do alto da Muralha e misturar-se aos homens jurados da Patrulha da Noite junto com Jon Snow. Além de assistir de camarote às empolgantes cenas do Torneio da Mão, que junta cavaleiros de vários reinos em uma batalha de vida ou morte.
No final das páginas, você poderá acompanhar também os bastidores da produção desta obra-prima do romancista Daniel Abraham e do ilustrador Tommy Patterson.
(Fonte: Amazon)
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minhanonaarte-blog · 5 years
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A GUERRA DOS TRONOS - VOL 1
(George R. R. Martin)
“O inverno está chegando” é o lema da Casa Stark, o feudo mais ao norte entre os que devem fidelidade ao rei Robert Baratheon na distante Porto Real. Lá, Eddard Stark de Winterfell governa em nome do rei e vive em paz com sua mulher, Catelyn, seus filhos Rob, Brandon e Rickon, suas filhas Sansa e Arya e o bastardo Jon Snow. Mais ao norte, atrás da imponente Muralha, vivem os selvagens Wildlings. Sem falar nos eventos sobrenaturais, tratados como lendas durante o longo verão, mas que voltam a se mostrar mortais na mudança de estação.
Depois que Jon Arryn, a Mão do Rei – segunda pessoa mais importante dos Sete Reinos depois de Vossa Majestade – morre em circunstâncias misteriosas, Robert se dirige a Winterfell com sua família: sua mulher, a rainha Cersei, seu filho, o príncipe Joffrey, e os irmãos da rainha, o esgrimista Jamie e o anão Tyrion, da poderosa Casa Lannister.
Enquanto isso, através do Mar Estreito, o príncipe Viserys, herdeiro da derrotada Casa Targaryen, que uma vez governou toda Westeros, planeja recuperar o trono com o exército do bárbaro Dothraki Khal Drogo – cuja lealdade ele pretende obter com a única moeda que possui: sua bela e ainda inocente irmã, Daenerys.
(Fonte: Amazon)
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minhanonaarte-blog · 5 years
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CRÔNICAS BIRMANESAS
(Guy Delisle)
Nadège, mulher de Guy Delisle, trabalha na ONG Médicos Sem Fronteiras. E é por conta disso que os dois, junto com o filho Louis, acabam em Rangum, então capital de Myanmar (antiga Birmânia), um país dominado por uma ditadura e não reconhecido por diversos países.
É o cotidiano de Delisle por lá que vai alimentar as histórias deste livro.
Em seus álbuns anteriores, como Shenzhen e Pyongyang, o canadense Guy Delisle já havia mostrado como relatar a vida em uma ditadura em deliciosas histórias em quadrinhos.
A rigor, portanto, não haveria nada de novo neste Crônicas birmanesas, lançamento da Zarabatana.
Na prática, contudo, as coisas não são bem assim.
Crônicas birmanesas está longe de ser a repetição de uma fórmula. É, isso sim, o aprimoramento de uma linguagem pessoal. Que dialoga com outras obras autobiográficas de zonas de conflito, como Persépolis e Palestina – ou mesmo de O fotógrafo, que também retrata a experiência da ONG Médicos Sem Fronteiras.
Por isso, Shenzhen e Pyongyang são, de certa forma, um ensaio para o novo livro – que apara e melhora todas as boas características que Delisle já mostrara antes.
Agora, o quadrinhista alcança um tom perfeito, em que as marcas da ditadura são ofuscadas pelo seu próprio cotidiano – mas também pelos privilégios que os estrangeiros têm em Rangum, como o cobiçado churrasco do Clube Australiano.
Aos poucos, as pequenas histórias vão formando um cenário completo e complexo, que inclui, sim, a ditadura, a censura e a perseguição à oposicionista e Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, mas que inclui a umidade das épocas de chuva, as regras para dar esmolas a monges e as eventuais dificuldades para se achar uma conexão com a internet.
Crônicas birmanesas, sem dúvida, é o principal trabalho do autor. Mais que isso: é um dos melhores lançamentos do ano – mais um belíssimo trabalho da curta, mas poderosa, quadrinhografia da Zarabatana.
(Fonte: Universo HQ)
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minhanonaarte-blog · 5 years
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CRÔNICAS DE JERUSALÉM
(Guy Delisle)
O livro pretende fazer uma crônica sobre a cidade de Jerusalém, seus costumes e as idiossincrasias de uma das regiões mais politicamente confusas do planeta.
Crônica é o estilo de gênero literário no qual o escritor coloca sua visão acerca daquilo que conhece, percebe ou testemunha. É a percepção do autor sobre o seu mundo, em dado momento e local.
Dito isso, percebe-se a intenção de Guy Delisle, canadense que acompanha sua esposa no programa Médicos sem Fronteiras, ONG destinada a combater doenças em regiões inóspitas ou mal assistidas.
O autor, a esposa e seu casal de filhos viajam para Jerusalém com a missão de permanecer um ano por lá. Enquanto ela trabalha, Delisle documenta.
O documento, porém, é bem diferente daquele produzido por Joe Sacco – com quem ele é confundido em determinado momento do livro –, porque existe apenas o olhar de Delisle, sem se preocupar muito com julgamentos ou denúncias, ainda que estes existam também.
Não apenas Jerusalém, mas toda a Palestina é um local confuso. Já nas primeiras páginas uma pessoa tenta explicar a dinâmica da região ao protagonista. Ele diz “ah, sim, entendi” para sua interlocutora, ao mesmo tempo em que conta ao leitor que não entendeu nada.
A Palestina, como o leitor pode perceber, é muito complexa.
Essa complexidade é em parte explorada por Delisle, mas apenas de forma tangencial, já que os momentos didáticos da obra aparecem apenas nos momentos em que o leitor não conseguiria compreender sem um texto explicativo.
As várias idiossincrasias da região são muito bem exploradas. Por meio de Delisle, o leitor fica sabendo como as mulheres usam a piscina de burca, como são as festas, quais as divisões de dias de trabalho, de acordo com as religiões ali presentes, como é a relação entre o trabalho e o momento de preces.
É mostrado um casamento, em que apenas homens têm permissão de dançar, um bairro ultraortodoxo, onde apenas as mulheres trabalham porque os homens precisam estudar a Torá, e diferentes guias turísticos, um para cada religião.
A diplomacia – ou a falta dela – é muito bem explorada na obra. Guy Delisle mostra as dificuldades da população em seu cotidiano. Andar um ou dois quarteirões pode ser uma tarefa hercúlea, sendo o cidadão obrigado a mostrar documentos, passar por detector de metais e aguardar um bom tempo em uma fila de espera. Há no livro vários momentos em que pessoas normais são obrigadas a se despir para garantir que não carregam bombas ou armamentos.
A divisão religiosa também é latente. Certas coisas só funcionam para judeus, outras tantas apenas para muçulmanos. Algumas ainda estão lá para cristãos, e a tolerância é algo que passa muito longe daquela região.
Delisle até tenta fazer sua lição de casa e explicar historicamente o motivo de tanto ódio e segregação, mas falha. E essa talvez seja a maior qualidade do álbum. Porque é muito complicado para um ocidental que vive relativamente em paz, seja ele canadense, brasileiro ou europeu, entender por que pessoas que nunca se viram se odeiam tanto.
Há locais onde não se pode ir ou será apedrejado. Outro que é aberto em determinado horário para muçulmanos e raramente para outras religiões. Deve-se lembrar, porém, que este e outros tantos lugares são o berço de várias religiões, e a discriminação de uma para outra é o que leva a maior parte das pessoas a se odiarem.
O papel dos Estados Unidos na construção de Israel também é discutido, bem como o descaso das Nações Unidas com os não judeus. Mesmo assim, fica claro que mais que uma “mão invisível ianque”, o que mais gera o conflito é a intolerância e uma cultura de ódio que vem se retroalimentando por centenas de anos.
É interessante também apreciar os momentos cotidianos de Delisle – as partes mais divertidas do livro estão aí. O filho pequeno que não para de falar, a sirene com o horário da oração que acorda a bebê recém-dormida, a dificuldade de mostrar seus quadrinhos para uma sala de arte recheada de mulheres, o pneu que fura, uma tartaruga encontrada no deserto e logo é perdida e o medo de cruzar um bosque sem luz são algumas das partes mais engraçadas.
A arte também é impecável. A expressividade dos desenhos simples de Delisle consegue transmitir toda sorte de sentimentos, e casa perfeitamente com a prosa. Leve, mas não leviana, delicada, mas não frágil.
As cores também são muito bem utilizadas, seja cinza, azul, marrom ou vermelho, cada tom tem uma função dentro da trama, e ajuda o leitor a compreender melhor tanto o estado de espírito do escritor quanto a severidade da informação que sai da página.
O trabalho da Zarabatana está impecável. Com o apoio do Institut Français, Médiathèque de France e do próprio consulado francês, o álbum conta com a tradução de Cláudio Martini e preparação de texto de Delfin, que devem ter tido trabalho não apenas para adaptar a obra, mas também compreender a terra onde se passa a história.
Enfim, pode-se dizer que se Shenzen, PyongYang e Crônicas Birmanesas são ótimos, em Crônicas de Jerusalém Delisle está ainda melhor. Mais atento, sarcástico e emotivo. O livro reflete um ano em uma terra estranha. E é uma grande crônica.
(Fonte: Universo HQ)
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minhanonaarte-blog · 5 years
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VINCENT - A História de Vincent van Gogh
(Barbara Stok)
A holandesa Barbara Stok faz uma biografia em quadrinhos dos últimos – e mais produtivos – anos de Vincent Van Gogh, um dos principais nomes das artes plásticas mundiais.
Com um traço leve, singelo e por vezes infantil, a autora leva o leitor à França do final do Século 19 para conhecer o homem Vincent, seus anseios e suas motivações.
Vincent Van Gogh é, sem dúvida, um dos maiores expoentes das artes plásticas de todos os tempos. Seus autorretratos, sua noite e seus campos de trigo são famosos no mundo inteiro, e estão espalhados não apenas no seio da pintura, mas também na cultura pop, que vai desde canecas até capas de caderno cujos motivos são suas artes.
O que Stok faz é tentar traduzir a genialidade e a loucura deste atormentado gênio em uma obra simples, de fácil assimilação e com uma leitura rápida. Em alguns pontos, ela é bem-sucedida, em outros nem tanto.
O que salta aos olhos ao folhear a obra são os traços singelos que a autora empregou para desenvolver a história. Muito próximo da linha clara, sem sombras, direta, linear e bem humorada, o Vincent de Stok é mais próximo do leitor do que provavelmente seria caso fosse apenas outra biografia escrita.
O mesmo pode-se dizer de Theo, irmão de Van Gogh, que também servia como seu marchand.
Os ataques coléricos de Van Gogh e seus devaneios são retratados pela autora por meio de riscos, cores e formas que convivem com o protagonista sempre que este está em algum estado alterado. E talvez aí esteja um dos problemas da obra.
Stok decide dar um tratamento muito “engraçado” às crises do pintor. Salvo uma ou duas vezes, em que foi muito feliz ao retratar a loucura e suas consequências, quase sempre, em vez de ficar compadecido pelo problema do artista, o leitor acaba rindo, pois os desenhos são engraçados, como que minimizando os ataques de fúria e não levando-os muito a sério.
A trama, que começa com a despedida dos irmãos Van Gogh em 1888, quando Vincent parte para a cidade francesa de Provence, mostra claramente duas das maiores características do mestre da pintura: a paixão pelo trabalho e a culpa por ser sustentado financeiramente por Theo.
A primeira das características é mostrada pela autora com um Vincent que só pensa, só fala e só respira trabalho. Ele não se dá tempo para diversões ou para cultivar as amizades. Tanto que, em uma das principais passagens, um grande amigo de Van Gogh vai embora porque não aguenta mais um companheiro que só fala de trabalho.
E o protagonista fazia isso pois pensava ser um fardo para o irmão. Em diversos momentos, Barbara Stok retrata o pintor fazendo contas de quanto precisa pagar a Theo e quando conseguirá saldar tal dívida.
Por outro lado, a autora deixa claro que Theo não se incomodava em sustentar o irmão, e se importava mais com a saúde dele do que com contas e dívidas.
Uma decisão acertadíssima de Stok foi colocar na obra diversas cartas entre Vincent e Theo, ajudando a compor ainda mais o quadro familiar. Outro ponto forte foi a autora não tentar criar em cima do personagem.
Muito se especula acerca dos motivos de Van Gogh ter cortado um pedaço de sua orelha, mas não se sabe o que realmente aconteceu. E a quadrinhista holandesa não inventa uma história. Ela deixa claro que possivelmente jamais se saberá o que aconteceu.
O mesmo pode-se dizer da morte do protagonista, que até hoje gera especulações. Stok também não tenta adivinhar e deixa a resposta no ar.
Outra belíssima ideia da autora foi colocar no seu traço as obras de Van Gogh. Aqui vai uma dica para quem não leu o livro: faça-o com a internet aberta, para ver como Barbara Stok releu as pinturas.
(Fonte: Universo HQ)
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minhanonaarte-blog · 5 years
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FRAGMENTOS DO HORROR
(Junji Ito)
Compilação de nove histórias curtas de Junji Ito, considerado um mestre do horror dos quadrinhos japoneses.
A tradução foi feita diretamente do japonês e a publicação segue a orientação original, da direita para a esquerda — como tem que ser.
“Futon” – A trama que abre o álbum é a mais curta de todas, e justamente a primeira que o autor fez após sua parada. Fez e refez, segundo conta no já mencionado posfácio, pois nem ele nem seu novo editor estavam satisfeitos com o resultado.
Foi desta HQ que foram retirados os monstros ocultos da capa, aliás. O resultado final é uma boa introdução, com uma trama que lembra vagamente a de um famoso conto de outro mestre do horror, Travesseiro de penas, do uruguaio Horacio Quiroga.
“Monstro de madeira” é uma das melhores HQs da coletânea, na qual o destaque fica para a arte, que deve ser especialmente angustiante para quem sofre de tripofobia – a fobia de padrões irregulares ou de agrupamento de pequenos buracos ou saliências. Um pai viúvo vive em paz com sua filha numa casa muito antiga, até o dia em que recebe a visita de uma misteriosa mulher, com um interesse acima do normal por aquele imóvel histórico.
“Tomio – Gola rulê vermelha” – Aqui, o protagonista é justamente o personagem principal da capa. Ao trocar a namorada por uma nova amante, uma estranha cartomante, Tomio acaba perdendo a cabeça… literalmente.
“Suave adeus” é a história mais leve da compilação, tanto que quase chega a destoar do conjunto.
Já “Dissecação-chan” traz a bizarra trajetória de uma mulher com o fetiche de ser dissecada viva. A HQ segue em uma toada de humor funesto até a arte barroca de Junji Ito surpreender o leitor com toda sua força.
Talvez a trama mais fraca do álbum, “Pássaro negro” mostra um observador de pássaros que se acidenta na mata e atrai a atenção de uma mulher alada, uma espécie de harpia.
“Magami Nanakuse” – A personagem título é uma famosa escritora que tem um modo bastante inusitado de lidar com os fãs que a assediam constantemente. Trama e desenhos abaixo da média do restante do mangá.
Por fim, “A mulher que sussurra” é digna de seriados como Além da Imaginação, com um plot bem resolvido e até mesmo certa crítica social. Um magnata precisa contratar babás para sua filha adolescente que sofre de uma indecisão crônica para levar a própria vida. Até o dia em que ele aparentemente encontra a candidata perfeita, que parece não se importar em dar ordens detalhadas para a garota, como se ela fosse sua marionete.
Em seu conjunto, Fragmentos do Horror, é um ótimo mangá, que dá a esperança de a editora continuar a apostar nesta área e até trazer mais material do autor. A obra mais famosa de Junji Ito é Uzumaki, lançada no Brasil pela Conrad, mas que se encontra totalmente esgotada.
(Fonte: Universo HQ e Amazon)
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minhanonaarte-blog · 5 years
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ENTREVISTA COM O VAMPIRO - A História de Cláudia
(Anne Rice)
O livro Entrevista com o Vampiro, escrito por Anne Rice, foi publicado originalmente em 1976. Suas páginas contam a história do vampiro Louis, que, durante uma entrevista para um jovem repórter, narra a jornada de sua vida desde um homem comum, passando pela transformação em um ser sugador de sangue, até os dias atuais.
A obra se tornou um filme de sucesso em 1994, estrelado por Brad Pitt, Tom Cruise e Kirsten Dunst ainda criança.
Em vez de adaptar toda a história, a autora Ashley Marie Witter preferiu focar em uma passagem específica: a da pequena Cláudia, uma menina de seis anos transformada em vampira por Lestat e Louis. A trama se passa no ponto de vista da garota, uma órfã e assassina, vítima e monstro.
A história se inicia com a transformação de Cláudia em um vampiro e acompanha seu “envelhecimento”, as hostilidades crescentes entre ela e Lestat, seu caso de amor platônico com Louis e a busca desesperada por outros de sua espécie, com quem espera obter respostas sobre sua própria natureza.
A perspectiva de Cláudia, com uma mente adulta eternamente aprisionada em um corpo infantil, traz conflitos e contradições, aprofundando o tema da obra original.
(Fonte: Universo HQ)
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minhanonaarte-blog · 5 years
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LUGAR NENHUM
(Neil Gaiman)
Richard Mayhew é um jovem rapaz normal, com um emprego normal, e que está tendo um dia completamente normal até que uma ação fora do normal deixa tudo de cabeça para baixo. Quando percebe uma jovem ferida nas ruas de Londres, ele para e tenta ajudá-la. E, graças a isso, sua vida jamais voltará à normalidade.
A misteriosa jovem – conhecida pela alcunha de Porta – vem da Londres Abaixo, uma incrível e perigosa cidade subterrânea desconhecida dos habitantes da metrópole da superfície. Quando volta da jornada a essa bizarra cidade, Richard descobre que ninguém mais da Londres Acima se lembra dele. É como se jamais tivesse existido. O que ele quer agora é voltar à antiga vida, mas Croup e Vandemar – uma dupla de cruéis assassinos – estão em seu encalço e dificultarão ao máximo a tentativa de voltar ao normal. No caminho para a normalidade estão ainda uma provação que colocará a sanidade de Richard em risco, a mortífera travessia da Ponte da Noite e um terrível confronto com a Besta-Fera de Londres!
O caminho para conseguir o que busca passa por um anjo chamado Islington e o segredo que ele tem mantido oculto no fundo da Rua de Baixo há incontáveis anos. Um segredo que tem o potencial de ser o fim para Richard, Porta e todos os moradores da Londres Abaixo.
Lugar Nenhum é o primeiro romance de Neil Gaiman, que também escreveu livros como Deuses Americanos e Filhos de Anansi (ambos lançados no Brasil pela Conrad) e é o criador de Sandman.
Concebida originalmente como série de TV em seis capítulos, Lugar Nenhum foi transmitida pela rede inglesa BBC.
(Fonte: Universo HQ e Amazon)
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minhanonaarte-blog · 5 years
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FAHRENHEIT 451
(Ray Bradbury - adap. Tim Hamilton)
Em um Estado totalitário, num futuro próximo, a principal função dos bombeiros é queimar qualquer tipo de material impresso, pois foi convencionado que a literatura é um propagador da infelicidade. Em vez de ler, as pessoas recebem informações direto das paredes de suas casas, que são o suporte para uma forma de televisão interativa.
Guy Montag é um bombeiro que muda seu jeito de ver a vida e passa a reconhecer a importância dos livros para a humanidade. Ele encontrará nos “homens-biblioteca” o suporte para continuar a sua luta contra o sistema.
Apesar da literatura de ficção científica ter sido oficialmente criada no Século 19, foi a partir da década de 1930 que o gênero se popularizou. Difundido principalmente pelo aparecimento das pulp magazines (revistas baratas, que traziam contos policiais, de ficção e de terror), e com a publicação de textos de autores que se tornaram grandes ícones, como Aldous Huxley, Isaac Asimov, George Orwell, Alfred Bester, Philip K. Dick e Ray Bradbury.
Com o término da 2ª Guerra Mundial, em 1945, o mundo viu cair os fortes regimes totalitários alemão e italiano, propiciando aos escritores vislumbrar um futuro distópico, no qual os governos utilizavam a tecnologia (e as drogas) para cercear a liberdade de pensamento e expressão das massas, desumanizando as pessoas e garantindo um estado perpétuo e alienante de felicidade artificial. Nessas tramas, em geral, um ou dois personagens se rebelavam contra o sistema opressor e abriam caminho para o resgate da individuação do homem.
Um dos romances de ficção científica distópicos mais conhecidos é Fahrenheit 451, escrito por Ray Bradbury em 1953, e adaptado para o cinema pelo cineasta francês François Truffaut, em 1966.
Faltava ao livro uma adaptação para os quadrinhos, o que foi feito em 2009, por Tim Hamilton, desenhista que trabalhou para grandes editoras norte-americanas (DC Comics e Dark Horse), colaborou com revistas como 2000 AD e Mad, e já havia adaptado A ilha do tesouro, clássico de Robert Louis Stevenson, em 2005.
Hamilton sabia ser necessário pedir a “bênção” do autor e conseguiu a autorização de Bradbury, que relembrou sua obra para escrever a introdução da HQ, na qual conta o que o levou a escrever Fahrenheit 451, incentivando os leitores a dar vazão às suas ideias (e as metáforas contidas nelas) e a não se prender em demasia às regras, à forma.
O design Art Déco e as cores frias escolhidas por Hamilton para compor o visual retrô-futurista da HQ (contrastadas apenas com a força do amarelo, laranja e vermelho contido nas chamas devoradoras dos livros), além da utilização de vários enquadramentos fechados, dão o tom certo para a angústia existencial vivenciada pelo bombeiro Montag – o protagonista, aos poucos, vai deixando sua paixão pelo cheiro do querosene e o calor do fogo, ao abraçar o crescente amor pelos livros impressos.
Nesse processo de libertação, Montag tenta abrir os olhos da esposa, mas ela, assim como os homens da caverna de Platão, estava tão imersa na falsa realidade das sombras nas paredes, que não se deixa convencer.
Outro ponto positivo da HQ é a fidelidade de Hamilton ao texto original, com transcrições de sequências inteiras, bem diferente da versão cinematográfica de Truffaut.
A retomada da publicação de quadrinhos pela Globo foi muito bem-vinda, apesar de tímida. Em 2009, lançou o álbum argentino Perramus – Dente por dente, em edição luxuosa, já anunciando o próximo título: Fahrenheit 451. Com um pequeno atraso, a HQ de Tim Hamilton foi publicada em 2011, numa edição impecável, valorizada pela tradução apurada de Ricardo Lísias e Renato Marques, trazendo o texto introdutório de Bradbury e notas sobre o desenhista e o escritor, com capa cartonada e papel couché.
Fahrenheit 451 é o terceiro título de textos de Ray Bradbury adaptados para quadrinhos, lançado no Brasil. No início da década de 1990, a L± editou duas coletâneas, O papa-defuntos e O pequeno assassino, trazendo HQs que saíram em revistas da editora norte-americana EC Comics, nos anos 1950.
A crítica de Bradbury sobre a perda da importância da leitura é mais do que atual, e a adaptação de Fahrenheit 451 para os quadrinhos chega em boa hora, convidando essa nova geração seduzida pela praticidade do “mundo virtual” a conhecer seus escritos e, quem sabe, redescobrir o prazer de ter um livro nas mãos, sentir o aroma do papel e devorar cada palavra sem pressa.
(Fonte: Universo HQ)
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minhanonaarte-blog · 5 years
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PYONGYANG - Uma Viagem à Coréia do Norte
(Guy Delisle)
Em PYONGYANG, Delisle traça um retrato irônico e crítico da Coréia do Norte, apresentando seu testemunho único do país, dos habitantes, dos costumes, da situa��ão de expatriado e do regime totalitário de Kim Jong-Il, a única dinastia comunista do mundo. Com a companhia constante e obrigatória de um guia e um tradutor, ele percorre a capital e arredores com seu olhar de artista, vendo além do que é cuidadosamente selecionado para ser apresentado aos raros visitantes estrangeiros. Antes de viajar, Delisle, precisou assinar um contrato de confidencialidade de informações e só pôde publicar PYONGYANG quando a empresa francesa para a qual trabalhava faliu. A mesma já havia ameaçado processá-lo quando soube da intenção do autor de transformar os acontecimentos de sua estada na Coréia do Norte em um diário.
A Coréia do Norte é um dos mais notáveis exemplos da falta de caráter dos ditadores vermelhos, algo que é denunciado com rigor por Delisle em Pyongyang a partir de sua própria jornada de dois meses pelo país.
Seu testemunho é forte pelo que viu: uma cidade que não tem energia para iluminar nada a não ser seus monumentos à decadência, uma TV estatal monocórdica que rouba programas de redes internacionais, uma lista de itens proibidos que incluem celulares e rádios, um museu construído com objetos de mentiras.
Mas também pelo que não viu: as auto-estradas não têm acesso aos vilarejos e há várias áreas em que os visitantes são proibidos de frequentar.
E pelo que ficou subentendido: os supostos voluntários (pareciam escravos), os hipotéticos campos de concentração (divulgados à boca pequena para fazer terrorismo psicológico com o povo), a estranha e lenta obra da Ópera.
Ao representar seus dois meses, Delisle usa o lápis: escuro, sombrio, como a cidade e o regime.
Pyongyang, o livro, é um monumento à lucidez construído a partir das trevas que imperam em Pyongyang, a cidade. E nessas trevas, a carência de energia é o menor dos problemas.
Uma visão ao mesmo tempo pessoal e informativa sobre a Coréia do Norte, onde os jornalistas não são bem-vindos, e nem Guy Delisle, depois desta graphic novel.
(Fonte: Universo HQ e Amazon)
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minhanonaarte-blog · 5 years
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SHENZHEN - Uma Viagem à China
(Guy Delisle)
Shenzhen é um cativante relato de viagem em história em quadrinhos que traz as observações de Guy Delisle sobre a vida nessa fria cidade do sul da China, situada ao lado de Hong Kong, e isolada do resto do país por cercas elétricas e vigiada por guardas armados. Trabalhando para uma empresa européia de animação que terceiriza o trabalho para estúdios asiáticos, o autor nos narra sua experiência de vida no trabalho, na relação com as pessoas e também nos mostra os costumes do país. Shenzhen foi a primeira região da China a ser declarada Zona Econômica Especial, e é um dos locais onde grande parte da população chinesa almeja morar e trabalhar: em poucas décadas, a pequena vila de pescadores se transformou em uma megalópole de 14 milhões de habitantes. Este crescimento acelerado e dirigido, voltado exclusivamente para os negócios, tornou-a uma cidade fria e impessoal, o que é sentido na pele por Delisle. A solidão de expatriado é uma constante na vida do autor, que realiza experimentos e brincadeiras para tornar s a permanência de três meses na cidade um pouco mais suportável. O leitor vai desvendar um pouco de uma China desconhecida, que é observada e relatada com sensibilidade, ironia e humor por Guy Delisle.
(Fonte: Amazon)
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minhanonaarte-blog · 5 years
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PARAÍSO PERDIDO
(John Milton - ilustr. Pablo Auladell)
Após serem expulsos do Paraíso, os anjos planejam sua vingança nas chamas do Inferno. Impedidos de atacar diretamente o céu, decidem confrontar a criação divina: o homem. “Mais vale reinar no Inferno do que servir no Céu.”Há 350 anos, o conflito entre Deus e Satã narrado em PARAÍSO PERDIDO, obra-prima de John Milton, virou um marco na literatura. Seus dez mil versos sobre a criação do mundo, a tentação e o desejo por redenção receberam reconhecimento instantâneo e serviram de inspiração para peças de teatro, músicas, pinturas e livros, ecoando na obra de mestres como Mary Shelley, C.S. Lewis e Neil Gaiman. Milton criou seu épico mergulhado nas trevas de uma cegueira repentina. Entre as angústias reais do luto após a perda de sua segunda mulher e de sua filha mais nova, além da culpa religiosa enraizada na sua formação, Milton também precisou rever sua vida e a relação distante com a família. Determinado a não deixar a perda da visão e o sofrimento provocado pela gota afetarem seu ofício, ditou PARAÍSO PERDIDO do começo ao fim para ajudantes, amigos e até mesmo suas filhas. Fruto de um árduo trabalho e reflexo da perseverança do autor, o poema levou cerca de cinco anos para ser concebido, e foi publicado em 1667 em sua primeira versão. Milton morreu em 1674, o mesmo ano em que foi lançada a edição definitiva de seu clássico. Agora, a obra colossal foi reimaginada pelo premiado quadrinista e ilustrador espanhol Pablo Auladell. Com seu traço sombrio, quase desolado, o tributo captura o lirismo de Milton para quem ainda não teve o prazer de ler os cantos originais. Ao mesmo tempo, complementa a experiência do leitor, dando ainda mais vida ao texto. Assim como o poema ganhou notoriedade pela beleza de suas palavras, a graphic novel conquista pelas imagens, retratando a complexidade e tragédia de uma história atemporal com um toque pessoal, mas que respeita totalmente o texto original de John Milton.Por seu belíssimo trabalho em PARAÍSO PERDIDO, Auladell ganhou o grande Premio Nacional de Cómic, da Espanha. O quadrinista já transformou clássicos em obras-primas dos quadrinhos: por suas mãos já passaram os livros de Mark Twain, As Aventuras de Tom Sawyer e As Aventuras de Huckleberry Finn.
(Fonte: Amazon)
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minhanonaarte-blog · 5 years
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OLYMPE DE GOUGES
(Catel & Bocquet)
Em 1748, em Montauban, nasce Marie Gouze, criada sob as convenções da França setecentista. Aos 18 anos, mãe e viúva, se vê livre para expressar suas ideias e adota o pseudônimo Olympe de Gouges. Anos depois, se muda para Paris, onde participará ativamente da vida política e cultural.
Inspirada pelas ideias libertárias da França pré-revolucionária, ela se dedica intensamente à escrita – atividade que levaria até os últimos dias de sua vida e que lhe causaria muitos problemas.
“A mulher nasce livre e é igual ao homem perante a lei. A mulher tem o direito de subir ao cadafalso; deve ter igualmente o de subir à tribuna.” Este é um fragmento de um dos 17 artigos da Declaração dos direitos da mulher e da cidadã, concebida no começo da última década do Século 18, por Olympe de Gouges.
Hoje, passadas as revoluções sexuais dos últimos 40 anos e as conquistas feministas, tal manifestação não parece algo inovador ou reacionário, mas era um tempo em que a mulher não tinha voz e era vista apenas para “fazer a felicidade de um homem”, há mais de dois séculos.
Independentemente do pensamento vigente, ainda havia uma “abertura” nesse tempo, principalmente para a mulher que soubesse ler. Desde o surgimento do teatro, por exemplo, elas eram impedidas de atuar, sendo os papéis femininos representados pelos atores.
Apenas no Século 15 as atrizes aparecem em cena no teatro de rua, com a chamada Commedia dell’Arte. E a conquista do voto? Um dia desses, se comparado à espera: 1944.
A obra cobre toda a segunda metade do Século 18. Vale notar a postura já prematura da protagonista sobre sua visão de mundo. A pequena Marie Gouze – futura Olympe de Gouges – questiona os adultos e não gosta de cumprir certas tradições.
Numa época de casamentos como fonte de renda e status, na qual desmembramentos e humilhações em praça públicas serviam de conversas e gracejos na hora de se reunir à mesa para a ceia em família, a pequena Olympe vê pela primeira vez um escravo negro nas ruas francesas.
Fiel leitora de Rousseau e filha bastarda de um poeta aristocrata, ela terá seus próprios pensamentos, mesmo cedendo à pressão do sistema. Para a jovem futura viúva, o seu matrimônio prematuro é “o túmulo do amor”, de acordo com suas palavras.
Uma série de figuras históricas desfila pelas páginas do álbum, como o já citado Jean-Jacques Rousseau, Voltaire e Benjamin Franklin. Todos dissecados por pequenas biografias no final da obra, por ordem de aparição.
Aliás, percebe-se o esforço dos quadrinhistas José-Louis Bocquet e Catel Muller para a narrativa não soar forçada ou didática demais. A edição ainda contextualiza o leitor, além das biografias dos personagens, com uma cronologia dos principais acontecimentos ano por ano do período.
Em muitos momentos, como a súbita morte da filha recém-nascida da protagonista, os autores fazem uso de elipses para o desfecho dos capítulos, o que também deixa a leitura mais dinâmica e interessante.
Em Olympe de Gouges se vê o poder do uso da pena em paralelo às armas e a violência de uma verdadeira revolução de um povo descontente com o sistema vigente. Ao mesmo tempo em que sofre embargos de suas peças antiescravagista, Olympe produz panfletos dos seus ideais libertários feministas e patrióticos. Essa postura lhe valeu inimizades e escandalizou os mais conservadores.
Apurando o seu gosto literário nos livros “proibidos” vendidos no mercado negro das ruas estão obras como Ligações perigosas, de Pierre Choderlos de Laclos. O romance sobre os bastidores aristocráticos da época serviu de base para o filme homônimo de 1988, dirigido por Stephen Frears, com Glenn Close, John Malkovich e Michelle Pfeiffer (vencedor de três estatuetas no Oscar, incluindo Melhor Roteiro Adaptado). Dentre outros longas-metragens baseados na obra, destaca-se Valmont (1989), de Milos Forman.
Um calhamaço de quase 500 páginas (com formato 16 x 24 cm), a edição do selo Galera, da Record, tem uma boa impressão em papel off-white, capa com aplique de verniz e orelhas. Completando as mais de 80 páginas de extras, as referências bibliográficas da pesquisa minuciosa de Bocquet e Muller.
Por ser uma edição “robusta”, o leitor deve ficar atento na encadernação dos exemplares, Caso não esteja bem ajustado e devidamente costurado, pode soltar cadernos ou fazer vincos na lateral com o manuseio.
A arte estilizada e ao mesmo tempo detalhista de Catel Muller casa bem com o período. Vale lembrar que os autores produziram Kiki de Montparnasse, mais um belo álbum biográfico sobre outra figura feminina europeia importante, lançado em 2010 no Brasil, pela mesma casa editorial.
Um dos grandes lançamentos do ano, Olympe de Gouges mostra “uma mulher comprometida com o caos de sua época”, como bem define um dos personagens. Leitura essencial para quem aprecia fatos históricos e deseja entender melhor as mudanças revolucion��rias do mundo.
(Fonte : Universo HQ)
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minhanonaarte-blog · 5 years
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TETRALOGIA MONSTRO
(Enki Bilal)
Nike, Leyla e Amir são órfãos nascidos sob as bombas do cerco a Sarajevo durante a guerra no início da década de 1990 nos Bálcãs.
Mais de 30 anos depois, dotado de uma memória impecável, as lembranças de Nike o conduzem, em um mundo futurista cheio de outros conflitos e conspirações, a um reencontro entre os três.
“A memória sabe de mim mais que eu”, já dizia o escritor uruguaio Eduardo Galeano. Os traumas de um conflito podem enraizar, criar galhos e dar frutos em vários âmbitos pessoais, incluindo a índole artística de alguém.
Filho de uma eslovaca com um bósnio, Enki Bilal previu, no final dos anos 1990, que a primeira década do Século 21 ficaria à sombra do terrorismo internacional. Sinistras alusões que fazem de Tetralogia Monstro uma obra bastante próxima da nossa realidade.
Mesmo sendo uma ficção científica, as HQs do autor de origem iugoslava radicado na França têm como marca registrada a crítica social e política, fazendo de suas páginas um reflexo “perverso” do mundo.
Os órfãos Nike, Leyla e Amir, nascidos nas entranhas da guerra de Sarajevo, em meio a gritos e contrações explosivas das bombas que assolavam a região, conduzem a narrativa sobre a memória e reencontros, dividida em quatro capítulos: O sono do Monstro (produzida em 1998), 32 de Dezembro (2003), Encontro em Paris e Quatro? (essas duas juntadas em um só capítulo, a pedido do autor e produzidas nos anos de 2006 e 2007, respectivamente).
Nike Hatzfeld, o mais velho, paradoxalmente é um “especialista em memória que não se interessa pelo passado”. Achado ao lado de um combatente morto por um sniper que calçava a marca famosa de tênis esportivo, e encontrado por um jornalista francês de nome Hatzfeld, ele tem a notável habilidade de rememorar detalhadamente tudo que viveu e apresenta ao leitor os seus primeiros dias.
Interessante notar como é tênue a linha que Bilal traça entre mundos. Além de colocar (e cutucar) a industrialização capitalista com uma marca de calçado, ele faz reverência a personagens reais. O sobrenome do protagonista pegou emprestado do correspondente de guerra do Libération (jornal que também é citado na Trilogia Nikopol, também lançada pela Nemo), Jean Hatzfeld, nascido em Madagascar e radicado na França, como o quadrinhista. Dentre seus livros, publicou L’air de la guerre (1994), sobre o conflito nos Bálcãs.
No hospital de Kosevo, sob o céu de Sarajevo que é vislumbrado devido a uma bomba que escancarou o teto do local, juntam-se a Nike, dias depois, Amir e Leyla, a caçula. Dezoito dias depois de seu nascimento, ele jura proteger os dois “irmãos”.
Não é só na narrativa textual que é percebido o tormento dos personagens. O clima pesado, lúgubre e deprimente é sentido nas detalhadas paisagens e nos cenários montados por meio das igualmente pesadas e sempre reconhecíveis pinceladas do autor.
Os ecos de outros conflitos mais antigos, como a Segunda Guerra Mundial, são mostrados na arquitetura da sua infância em Belgrado, por exemplo. Vale lembrar que foi em Sarajevo que se deu o assassinato de Francisco Ferdinando, estopim da Primeira Guerra Mundial.
Na trajetória de encontros e desencontros dos três personagens, Bilal coloca conspirações arquitetadas por uma máfia integralista, viagens espaciais, uma polícia ostensiva e de formação brutal, animais do tamanho da palma de uma mão e vilões como Warhole, que pode dividir com a humanidade o título de “monstro” da tetralogia.
A crítica sempre está presente nas entrelinhas do álbum, seja nos mafiosos que desejam acelerar a morte de tudo que se relaciona à memória, ciência e cultura, seja nas entidades religiosas que vão presenciar uma escavação secreta ou quando Nike é indagado, mais de uma vez, se ele é de origem sérvia, croata ou mulçumana.
Outra análise visceral de Enki Bilal em Tetralogia Monstro é a respeito da própria arte, que não deve ser separada do que acontece no mundo. A síntese pode ser vista na epígrafe que o autor coloca no segundo capítulo:
Um alemão pergunta a Picasso diante da Guernica.
– Foi você que fez isso?
– Não. Foram vocês.
Às vezes, Bilal mistura as críticas como o inventivo “convite nuclear light” que Warhole entrega a Nike e sua amante para uma intervenção artística interativa e sangrenta. Outra criação artística do vilão é uma nuvem negra, cuja chuva resulta nas lágrimas da decomposição de dois mil soldados e civis mortos no “campo da estupidez”.
Prende a atenção também o intrincado jogo com os personagens envoltos em acontecimentos misteriosos como o 32 de Dezembro, moscas manipuladoras e várias réplicas não reveladas.
Como visto em outros trabalhos do autor, novamente é utilizado o artifício de se aproveitar de fragmentos de jornais, revistas e mensagens para contextualizar a narrativa da história.
Novamente, a Nemo prova que é uma das melhores editoras do mercado nacional. Com uma qualidade que já é praxe, a versão nacional tem formato europeu (24 x 32 cm) em capa dura, ótima impressão em um papel couché de alta gramatura.
O que carecia nas outras obras de Bilal lançadas pela Nemo, a Trilogia Nikopol e Animal’Z, um texto introdutório para enfatizar a importância do quadrinhista e do seu trabalho, é atenuado com um breve posfácio do autor falando por que escolheu o sobrenome de Jean Hatzfeld para Nike e um texto do próprio jornalista sobre coincidências da ficção e realidade.
“Os repórteres afirmam que a realidade supera a ficção; os escritores defendem o contrário. As guerras mostram que ficção e realidade se ultrapassam alternadamente, mas caminham juntas”, finaliza Hatzfeld.
Complementam o volume esboços do artista e um glossário seletivo.
Assim como “a memória é uma vasta ferida”, como já dizia Chico Buarque de Hollanda, a guerra acorda o “monstro”, como chega a ser definido na história em quadrinhos.
(Fonte: Universo HQ)
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