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mirutxt · 7 months ago
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The Arcana | prólogo | V - O PAPA
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É a manhã da proclamação do Baile de Máscaras.
Preciso estar na praça para ouvi-la ao meio-dia, mas agora, tenho que checar a loja.
Vou querer suprimentos para minha investigação. Reagente, ervas, um dos livros de magia do Asra…
Pulando pelos degraus, pressiono minha palma na porta e tiro o feitiço de selagem.
Noto uma pequena bolsa de couro descansando no batente.
Alguém deixou isso para mim… beliscando o nó, eu abro a bolsa.
Dentro tem uma mistura mágica. Mirra é a mais forte, mas tem outras ervas. Uma mistura protetiva.
Lanço um olhar para cada lado da rua, mas não tem ninguém por perto.
Procuro minhas chaves e viro as fechaduras. Quando me encosto na porta…
Ela abre, e eu quase esbarro na última pessoa que eu esperava ver.
Doutor Devorak!
Avistá-lo me faz congelar, a bolsa cai de meus dedos paralisados.
Me esforço para falar, mas ele é mais rápido.
Julian: “... Bem, olá. Coincidência, você por aqui.”
Julian: “Ahem, talvez nem tanta. Eu, ah, eu estava na vizinhança.”
Julian: “E você está, er, esplêndida! Maravilha, vou parar de retorcer as mãos.”
Por um momento, penso em chamar os guardas, mas eu hesito.
É a segunda vez que ele entra na minha loja. Será que os guardas vão pensar que eu estava abrigando ele?
Com olhos espremidos, o fixo uma olhada.
“O que você procura?”
“Como você continua entrando?” ←
Aidan: “Como você continua entrando?”
Aidan: “Sei que tranquei a porta depois da primeira vez. Então, ou você invadiu, ou…”
Julian: “... Ou eu tenho uma chave?”
Como um estalo de sua língua e um suspiro irregular, o doutor puxa uma pequena chave do bolso de seu casaco.
Julian: “Aqui. Se faz alguma diferença, pode ficar. Não vou usá-la novamente.”
Julian: “Isso… isso eu prometo.”
Ele espera pacientemente enquanto pego a chave e comparo com as minhas. Combina perfeitamente com minha chave do quarto dos fundos.
Aidan: “Quem te deu isso?”
Julian: “Você não… ahem, bom… bem.”
Julian: “Vamos só dizer que precisei fazer algumas visitas domiciliares. Depois do expediente.”
Minhas sobrancelhas levantam. Visitas domiciliares na loja?
Asra já esteve tão doente assim? Se esteve, ele não teria me contado?
Franzo minha testa, guardando a chave no bolso e dando ao doutor uma olhada desconfiada.
Julian: “Oh, espero que não ache que sou um ladrão. Sou muitas coisas, mas não isso.”
Julian: “Mas… você não acreditaria em mim, acreditaria?”
Para minha surpresa, o doutor tira seu sobretudo, e começa a desabotoar seu colete.
Ele o abre com um rodopio, braços esticados, palmas para cima em submissão.
Julian: “Me reviste. Se achar algo que é seu, eu me jogo na berlinda.”
Julian: “Vá em frente. Reviste até estar satisfeita.”
Ele abaixa o olhar, se apresentando para inspeção. A visão faz minhas orelhas queimarem de vergonha.
Revistá-lo. ← 
“Passo.”
Aidan: “Acho que vou mesmo.”
Pelo olhar de surpresa em seu rosto, ele não esperava que eu fosse aceitar.
Julian: “Você é uma caixinha de surpresas, não é?”
Julian: “Tá bom, então, não seja tímida. Prometo que serei bonzinho.”
Dou um passo para perto, meus olhos vagando sobre seu corpo, incerta de por onde começar.
Sentir seus braços. ←
Sentir seu torço.
Eu delicadamente desço minhas mãos por um de seus braços. Posso sentir sua pele fria, mesmo que coberta pelo fino material da camisa.
Nunca estive tão perto dele antes. Não há quase nenhum espaço entre nós.
O couro de sua luva range quando flexiona os músculos esguios de seu braço por baixo de minha mão.
Julian: “Ohh, você tem mãos encantadoras. Pode apertar mais forte, sabe, não vou me importar.”
Assim como disse descaradamente, ele morde o lábio quando pressiono mais firmemente seu outro braço, mas ele não protesta.
Julian: “Parando para pensar, não te vi de perto na luz do dia antes.”
Ele estende a mão, tentando diminuir aquele último centímetro entre nossos corpos.
Dar uma tapa na mão dele. ←
“Por favor, pare de se mexer.”
Eu dou um tapa na mão dele.
Aidan: “Pare de se mexer.”
Por um momento, me preocupo de ter ido longe demais. Mas…
Julian não parece nem um pouco ofendido. Ele morde o lábio, ruborizando…
… E volta obedientemente com o braço para o seu lado.
Circulo para trás dele, e ele vira para me observar, não me deixando fora de sua vista.
Seu olho brilha com interesse. Minhas bochechas quentes embaixo de seu olhar descarado.
Julian: “Não tinha ideia que era tão… manual[1].”
Julian: “Quanta ousadia a sua. Não tem medo de alguém ver?”
“Eu disse que podia se mexer?” ←
Recuar.
Aidan: “Eu disse que podia se mexer?”
Julian: “Eu, ah… não, não disse.”
Aidan: “Então se vire de volta.”
Ele faz sem hesitação. Consigo ver a ponta de suas orelhas se avermelharem.
Um leve tremor passa por ele quando deslizo minhas palmas por suas costas.
Aidan: “Além disso, não seria você que deveria ter medo de ser visto?”
Julian: “Er, bom, acho que é verdade…”
Movo minhas mãos pelos seus quadris, checando seus bolsos, e paro quando sinto uma inesperada beirada dura.
Julian: “Ah, isso, não se preocupa com isso.”
… é uma faca, escondida em seu bolso.
Julian: “Mas eu estou feliz de te ver. Posso mostrar, se quiser.”
Ele é incorrigível, mas consigo senti-lo deslocando seu peso nervosamente.
Ando de volta para sua frente, traçando uma mão pelo seu quadril.
Ele balança em minha direção, mas se segura no lugar com um esforço visível.
Aidan: “Me diga o que realmente está procurando.”
Julian: “Você é bem persistente, não é? E, hmm. Minuciosa.”
A garganta de Julian balança quando ele engole, e solta um trêmulo suspiro lento.
Julian: “Eu… Eu procurava por respostas.”
Julian: “Mas não achei nenhuma. Não as que eu queria.”
Aidan: “Tá bom. Acredito em você.”
Julian: “Hã? Eu, ah. Espera. Sério?”
Aidan: “Sério.”
Julian: “Essa é uma péssima ideia. Você não deve acreditar na palavra de ninguém, especialmente na minha.”
Julian: “Mas, er, bom. Espero que esteja satisfeita.”
Julian: “Odiaria te desapontar.”
Ele pega seu sobretudo com um floreio chamativo e o põe de volta.
Julian: “Bem, tenho certeza que tem coisas há fazer, então vou só sair do seu caminho…”
Ele dá um grande passo, contorcendo sua forma para passar por mim.
Seu sorriso largo leva apenas um segundo para sumir, antes de choque tomar conta de suas feições.
Olho com cuidado por cima do meu ombro.
Portia. Ela deve ter vindo me buscar, mas ela não presta atenção nenhuma em mim.
Todo seu foco, a descrença suspensa em seus olhos arregalados, está no homem ao meu lado.
Quando ela fala… a palavra que a escapa soa diferente, uma voz abandonada do fundo de seu coração.
Portia: “Ilya?”
Portia tropeça, então corre para os degraus. Eu recuo para a parede quando ela se joga no doutor.
Portia: “Ilya?! É você mesmo?”
Suas mãos trêmulas vão para cada lado do rosto dele. Seu olho começa a brilhar.
Julian: “Sou eu.”
Portia: “Você–você–”
Portia: “Seu desgraçado! O que está fazendo aqui?! Ao ar livre? Tá tentando ser morto?!”
Seus dedos curvam-se, puxando as orelhas dele e retirando uma vergonhosa careta.
Julian: “Você cresceu forte, Pasha.”
Julian: “Eu… sinto muito não estar lá para ver.”
Portia: “Ohh, vou te mostrar o que é sentir muito! Seu inacreditável… Aidan!”
Ela solta as orelhas de Julian e agarra seu colarinho, o puxando para fora do batente.
Portia: “Eu–eu… Eu te alcanço depois!”
Sem mais delongas, Portia carrega o doutor desajeitado por dentro de um beco próximo, me deixando ponderar.
Eles não pareciam família?
Entro na minha loja, e ando direto para o quarto dos fundos.
Demoro sobre as posses do Asra, suas roupas e relíquias mágicas, confortada pelo seu aroma defumado.
Mas não posso ficar muito tempo, me esperam na praça.
Coleto os componentes mágicos que preciso, mas o livro não está em lugar nenhum.
É um do Asra. Será que ele levou com ele quando se foi?
Antes que percebesse, o sol está alto no céu.
Um relógio distante bate a hora, me chocando a me levantar. A proclamação!
Mordendo o lábio em aborrecimento, abandono minha busca e fecho a loja, me dirigindo à praça da cidade.
A praça está densamente lotada, pessoas menores e atrasados circulam o perímetro para um vista melhor.
Um cheiro agradável que não consigo discernir flutua para perto.
Portia: “Ahem! Atenção, atenção! Esta é uma proclamação de sua Condessa Nadia!”
Portia: “No aniversário de falecimento de seu amado Conde Lucio, a Condessa abrirá os portões do Palácio.”
Portia: “É isso aí, pessoal! Todos estão convidados não para lamentos, mas para celebrar o espírito do estimado Conde que se foi!”
Uma onda de entusiasmo barulhenta passa pela multidão. Na beirada, sigo um aroma familiar. Mirra.
A bolsa de couro, deixada no batente da minha loja, vem à mente.
E então encontro uma figura, gigante em tamanho.
Seus olhos estão sombreados, por baixo de um capuz e sobrancelhas pesadas.
Apesar da animação na praça estar crescendo, a figura parece mais um precursor de desespero.
Portia: “Será um Baile de Máscaras diferente de todos os outros! Espalhem a notícia, diga aos amigos! Você não vai querer perder isso!”
Enquanto a multidão estoura, o enorme estranho desce para uma rua lateral, escapando com o aroma de mirra.
O andar pesado do estranho é fácil de acompanhar, o alcanço na metade da rua.
Aidan: “Ei, para onde está indo?”
?????: “...”
Ele vira devagar como se tivesse pavor de me encarar.
?????: “Cegamente para o abate. Assim como o resto de vocês.”
Aidan: “O que quer dizer? Por favor… seja claro.”
?????: “Não importa o que eu diga. Minhas palavras não vão durar. Elas nunca duram.”
O estranho se afasta, suas correntes chacoalhando.
Meus pensamentos aceleram. Se ele deixou o feitiço de proteção na loja…
Será que Asra o mandou?
“Espera!” ←
Deixá-lo ir.
Aidan: “Espera! Quem é você?”
Minha pergunta entra por um ouvido e sai pelo outro.
Confusa, me apresso para alcançar a enorme figura antes que desapareça na esquina.
A pessoa para na escada, suas amplas costas viradas para mim.
Aidan: “… Para onde está indo?”
Num susto, ele se vira tão rápido que seu capuz esfarrapado cai.
Será que ele… estava planejando esperar aqui até eu sair?
Com hesitação, dou um passo para frente.
O estranho vira, seus ombros largos quase raspando nas paredes, e se afasta de mim.
Curiosidade me obriga a segui-lo.
Quando emerjo no agitado mercado, meu coração para.
O estranho pode facilmente desaparecer nessa multidão…
… Ou não. Eu imediatamente encontro a figura imponente se esgueirando pelas beiradas do mercado, evitando a multidão.
Ele para num poste de madeira segurando um toldo, mas o poste é muito estreito para ele se esconder atrás.
Assim que me aproximo, o estranho se arrasta para longe de novo.
O imenso estranho pausa atrás de uma carroça, mas mesmo que tenha uma alta pilha de frutas, a pessoa é ainda mais alta.
Ele está tentando se esconder de mim?
Dessa vez, quando me aproximo, ele se afasta para trás de um… cachorro vira-lata.
O estranho parece perceber a futilidade do gesto, bem na hora que o cachorro levanta e sai andando.
?????: “Vai embora.”
Aidan: “Só quero te perguntar algo.”
Tempestuosos olhos verdes olham com rapidez de um lado para o outro. Ele pode fugir a qualquer momento.
“Você tá bem?”
“Você conhece o Asra?” ←
Aidan: “Você conhece o Asra?”
O estranho para imediatamente, fazendo cara feia para mim.
?????: “Melhor que qualquer um.”
A estrondosa voz soa irritada, mas a resposta é sincera.
Aidan: “Ele te mandou vir me ver?”
?????: “… Sim.”
?????: “Ele é meu único amigo.”
… Acho que não somos tão diferentes, então. Confio em Asra mais que qualquer um.
“Eu posso ser seu amigo.” ←
“Te entendo.”
Aidan: “Eu posso ser seu amigo.”
?????: “O quê? Não. Por quê?”
Aidan: “Nós dois somos amigos do Asra. Queria que fossemos amigos também.”
?????: “Não quero outro amigo.”
?????: “Especialmente não você.”
… O que isso quer dizer?
Aidan: “Já nos conhecemos?”
?????: “Não interessa. Não somos amigos.”
Aidan: “Podemos ser?”
?????: “...”
Escuto um grito de aviso, e eu me viro bem na hora de ver a carroça de maçã vir em minha direção.
Tropeço nos paralelepípedos irregulares, e no momento que retomo meu equilíbrio…
O estranho se foi.
Frustração cresce em meu peito, antes de desaparecer, substituída por confusão.
Me lembro de ir para a praça para a proclamação, aí…
Aí voltei para o mercado. Por que fiz isso?
Não consigo lembrar, mas não há tempo para ficar pensando, preciso alcançar a Portia.
Retorno para o vagão dos criados, onde Portia está jogando pétalas de flor e arroz nos cidadãos dançantes.
Portia: “Aidan, aí está você! Tá vendo só essa multidão?”
Portia: “Nenhum incidente lá na loja, espero? Nada fora do ordinário?”
Seu sorriso tem um tom de desespero enquanto ela pisca os olhos em súplica.
Abro minha boca para responder, mas somos balançadas quando o vagão começa a se mexer.
Risadas selvagens nos seguem pelas ruas tilintando com a notícia do Baile de Máscaras.
Portia: “Aidan?”
Leva um momento para eu registrar a voz de Portia.
Portia: “Você vai se encontrar com os cortesãos quando chegarmos no palácio.”
Portia: “Quer saber quem eles são antes?”
Aidan: “Oh! Sim, seria… muita ajuda.”
Portia: “Bem, tem Procuradora Volta, Pretor Vlastomil, Pontífice Vulgora, Questor Valdemar e Cônsul Valerius.”
Portia lista seus nomes rapidamente com os dedos.
Devo parecer desesperadamente perdida, pois ela me dá um tapinha reconfortante no ombro.
Portia: “Na realidade, Valerius é o mais importante.”
Portia: “A milady se importa mais com ele do que com o resto. Os outros são um tanto excêntricos, mas tenho certeza que vão ser gentis contigo.”
Quando retornamos ao palácio, Portia me acompanha para uma ala que cheira fortemente a dezenas de perfumes.
Sei que chegamos à porta do salão pela música e gargalhadas cacarejantes vindas de dentro.
Portia: “Vai lá, Aidan. Essas pessoas mal podem esperar pra te conhecer.”
Suas palavras me estabilizam. Pessoas… pessoas, é só o que são.
A sala está nebulosa, nadando em plumas elegantes de fumaça. Figuras acesas por uma iluminação suave descansam em sofás macios.
A Condessa está sentada atrás de um órgão de tubos reluzente, não ligando para o preguiçoso bate-papo ao seu redor.
Mas ela levanta o olhar quando eu entro, seus dedos elegantes tocando um acorde vitorioso.
Nadia: “Bem-vinda, Aidan.”
Ela vira a página de sua música, acenando a cabeça para mim com um sorriso encorajador.
Nadia: “Portia, por favor apresente nossa convidada de honra.”
Portia: “Anunciando Aidan, amiga do Palácio e aprendiz do mago Asra.”
Tento colocar rostos na lista de nomes enquanto os cortesãos levantam-se de seus confortáveis assentos.
Procuradora Volta: “Você é a Aidan? Oh, oh, você é tão fofa!”
Pretor Vlastomil: “Que surpresa agradável, falávamos de você agora!”
Pontífice Vulgora: “Senta! Não, não com eles, COMIGO, Aidan!”
Os gestos acolhedores me pegam de surpresa. Não esperava tanto entusiasmo.
Impacientes mãos bem cuidadas me levam para os sofás e para o meio da conversa.
A Condessa observa de onde toca o órgão de tubos, criando tons contemplativos.
Nadia: “Me diga, Aidan, como a proclamação foi recebida?”
Pretor Vlastomil: “Só podemos imaginar! Até nós, os preferidos da Condessa, não tínhamos ideia!”
Procuradora Volta: “Que bela surpresa da nossa querida Condessa! Um Baile de Máscaras!”
Pontífice Vulgora: “HAH! E nem precisamos ter o trabalho!”
Nadia: “A sorte que Aidan precisa ter, para conseguir falar com vocês aqui. Céus.”
Pretor Vlastomil: “Ai, minhocas[2]–ahem, quer dizer minha nossa–ela já é bem sortuda!”
Pretor Vlastomil: “Por ser acolhida pela Condessa, uma aprendiz desconhecida!”
Nadia levanta uma sobrancelha para Vlastomil, mas não diz nada.
Questor Valdemar: “Arriscado, arriscado. Tão diferente de nossa atenciosa e meticulosa Condessa.”
Estremeço. A voz de Valdemar é suave e frígida, com nenhum entusiasmo das outras.
Cônsul Valerius: “Talvez a Condessa possa informar sua adorada corte…”
Cônsul Valerius: “… como exatamente ela se encontrou na porta da bruxa aquela noite.”
Cônsul Valerius rodeia o sofá, me olhando com desprezo.
Ele abre os braços, agora se dirigindo à sala inteira.
Cônsul Valerius: “Ou talvez a bruxa queira nos contar ela mesma.”
“Talvez eu conte.” ←
“Talvez não me chame assim.”
Aidan: “Talvez eu conte.”
A atenção da Condessa retorna para o órgão de tubos enquanto os cortesãos avançam em mim.
Eles parecem famintos por detalhes de nosso fatídico encontro àquela noite.
Pontífice Vulgora: “Vai lá, conta tudo!”
Pretor Vlastomil: “Nós só ouvimos as ‘fofocás’.”
Pretor Vlastomil: “A Condessa realmente te encontrou no meio da noite, tropeçando descalça, chorando pelas ruas?”
Olhos ansiosos observam qualquer movimento meu.
Aidan: “Não, ela só… bateu na porta.”
Procuradora Volta: “Por favor, minha pobre Condessa, preciso saber se ela chorava!”
Aidan: “Ela não chorava. Mas já estava tarde, e a Condessa era bem insistente…”
Meus novos acompanhantes se aproximam de mim enquanto conto a história. Engajados, eles se apegam a cada palavra.
Após minhas recordações finalizarem, a Condessa termina seu treino com um impressionante trinado.
Nadia: “Se queriam tanto assim saber o que aconteceu aquela noite, bastavam perguntar.”
Nadia: “Minhas dores de cabeça pioraram, e estava tendo problemas para dormir–”
Procuradora Volta: “Como já esteve por um tempo, Condessa!”
Nadia: “Sim, Procuradora. Naquela noite acordei assombrada pelo espectro de um sonho, sem escapatória para minha mente.”
Nadia: “Certamente, eu estava… procurando por alguém, qualquer um que pudesse me ajudar.”
Nadia: “Eu que fui sortuda, de encontrar a pessoa que precisava tão cedo.”
Nadia: “Um benevolente universo nos uniu, não foi, Aidan?”
Seu vermelho olhar cintilante cai carinhosamente sobre mim, e os cortesãos se deslocam, me estudando com uma nova intensidade.
O momento é quebrado por um suspiro arejado quando Cônsul Valerius me espia através de suas taça de vinho.
Cônsul Valerius: “Condessa, nos dói ouvir que você sentiu que precisava procurar em outro lugar por um ouvido amigo.”
Cônsul Valerius: “Se nos considerar dignos de sua confiança, somos livros abertos para você!”
Ele abre os braços com um floreio…
… derrubando um jarro de vinho perfumado sobre minhas vestes.
Um suspiro surpreso coletivo varre a sala enquanto o líquido lívido encharca minha pele e roupas.
A Condessa levanta-se do órgão, sua expressão assassina.
Cônsul Valerius: “Que desajeitado da minha parte.”
Cônsul Valerius: “Certamente você sabe algum abra ou cadabra para solucionar esse dilema?”
Nadia: “Já chega, Valerius. Você já esgotou minha paciência por hoje.”
Nadia: “Todos vocês, saiam.”
Desviando de minha encharcada forma, os cortesãos saem constrangidos em fila.
Permaneço com a Condessa, sua mão descansando levemente sobre meu ombro.
Nadia: “Eu sinto muito, Aidan.”
Nadia: “Devemos nos livrar dessas roupas arruinadas, claro… tsc, tão mesquinho.”
Nadia: “Mas já tive liberdade o suficiente com seu guarda-roupa. Então por favor, não hesite.”
Nadia: “Me diga o que você gostaria.”
Nadia: “E Aidan… não poupe despesas.”
Portia já está pronta enquanto a Condessa cruza as mãos, esperando meu pedido.
Parece que Nadia quer que eu peça por riquezas. Será que ela… gosta de encher pessoas com presentes?
“Seda. Peles. Ouro e joias.” ←
“Não, obrigada.”
Aidan: “Seda. Peles. Ouro e joias.”
Portia: “Haha, oh Aidan!”
Nadia: “Eu não faria menos para minha convidada. Que encantador.”
Nadia: “Então já começou a perceber seu valor para mim. Isso me agrada imensamente, mas você precisa me contar em detalhes.”
Nadia: “Sedas de que cores? Peles, você as prefere ásperas ou finas?”
A Condessa dá um passo para perto, entretenimento cintilando em seu olhar enquanto ela gesticula para o meu pescoço.
Nadia: “Ouro certamente te favorece, mas nada pesado. Como você se sente sobre esmeraldas?”
Nadia: “Em minha terra, as mais brilhantes esmeraldas podem ser encontradas em quase todo lugar. Basta apenas procurar…”
Nadia: “Portia, peça uma esmeralda do meu gemório[3] pessoal. Uma seleção de esmeraldas.”
Nadia: “Se nossa convidada criou interesse por luxo, imagino que vá querer escolher.”
Portia: “Agora mesmo, milady.”
Portia passa por nós para a porta, mas os olhos iluminados da Condessa nunca saem dos meus.
Nadia: “Até lá, você deve tirar essas roupas.”
Nadia: “Felizmente, não estamos longe das minhas câmaras de banho. Venha, Aidan.”
Nadia me oferece sua mão, e me leva gentilmente pela mão para uma porta diferente.
No último tom de luz do sol, a câmara de banho da Condessa é fundida num brilho caloroso.
Ela me manda tirar a roupa, esperando pacientemente por trás de um biombo enquanto eu me atrapalho com minhas vestes.
Nadia: “Gostaria de alguma ajuda?”
Antes de eu ter que responder, ela me dá uma risada doce e musical. Ah, ela está só me provocando.
Nadia: “Hmm, mencionou sedas, não foi? Imagino se preto é sua cor.”
Enquanto pairo em frente ao banho em minha franzina roupa íntima, Nadia se aproxima por trás de mim.
Nadia: “Suponho que teremos que ver por nós mesmos. Isto serve, Aidan?”
Ela me apresenta um robe preto, bordado amavelmente no colarinho e mangas.
Nesse momento, escuto passos se aproximando pelo corredor do banheiro. Nadia se afasta de mim com um suspiro.
Nadia: “Deve ser Portia, com as esmeraldas.”
Portia: “Trouxe três. Oh, perdão, não sabia que estávamos usando robes.”
Compartilhando um olhar atrevido com a Condessa, Portia me apresenta três esmeraldas brilhantes num baú aberto.
Elas são similares em tamanho, capturando a luz quente de formas diferentes. Uma em particular me chama a atenção.
Nadia: “Ah, uma excelente escolha. Tenho um carinho especial por essa.”
Nadia: “Vejamos como fica em você. Vire-se, por favor.”
Me viro e abaixo a cabeça.
As pontas dos delicados dedos da Condessa me dão uma onda de arrepios enquanto ela amarra a corrente ao redor do meu pescoço.
Nadia: “Adorável. Combina maravilhosamente com esses olhos curiosos. Ele precisa ser seu.”
Seu toque desliza por baixo da fina corrente dourada, puxando para a joia ficar devidamente sob meu coração.
Parece… confortável, de usar. Uma profunda satisfação vibra no lugar da joia contra minha pele.
Nadia: “Ahem. Bom, então… talvez devêssemos te deixar no seu banho.”
Nadia: “Portia?”
Portia: “Sim, milady!”
Elas vão para o corredor, fora de vista. Mesmo quando ela sai…
Sinto o fantasma do toque de Nadia, seu olhar, tão penetrante, contemplando ainda mais fundo.
Meu toque demora na joia por um momento a mais, antes de tirar o robe completamente e afundar na banheira.
Quando estou de banho tomado e retorno ao meu quarto de hóspedes, me encontro brincando preguiçosamente com a joia.
Numa onda gradual de percepção, eu começo a reconhecer sua energia.
Estou enganada? Não… eu sei bem esse sentimento.
É a magia do Asra, radiando da gema em gentis ondas calmantes.
Consegui encontrar Julian antes. Será que de algum jeito… consigo encontrar Asra com isso?
Só o pensamento faz meu coração encher com uma esperança quase dolorosa.
Eu espero até os corredores estarem quietos… meia-noite, provavelmente, antes de fugir do meu quarto.
Com a esmeralda pendurada no meu pescoço, sou envolvida numa calma sonhadora.
Só de pensar em ouvir a voz do Asra novamente…
Vago pelos corredores vazios e saio pela varanda.
Lá embaixo, vejo os jardins, sombreados e viçosos.
De cima, consigo ver que o meio forma um labirinto de folhagem.
Silenciosamente, desço para o caminho do jardim, envolvido numa brisa quente.
O som musical de água caindo fica cada vez mais alto.
Chego à fonte. Ao seu redor tem uma larga piscina para admiração, e acima um rico e velho salgueiro.
Pendurada na árvore…
Aidan: “Faust!”
Ela chicoteia a língua, pairando sobre a piscina.
Aidan: “Você não foi com o Asra? O que está fazendo aqui?”
Seu peso cai ansiosamente sobre meus ombros, seu corpo liso me dando um aperto amigável.
Ela estava me esperando? Será que ela sabia que eu estava procurando pelo Asra?
Sento na beirada da piscina, e me inclino para olhar a reflexiva água abaixo.
Faust fica imediatamente interessada na esmeralda, sua língua a chicoteando enquanto tiro o pingente do meu pescoço.
Fecho os olhos, respiro uniformemente fundo, segurando a joia sobre a água…
… E a derrubo. Luz é capturada por toda brilhante superfície verde quando ela cai no fundo da piscina.
A água começa a mudar, cores florescendo, formas desdobrando.
Quanto mais me concentro nas formas na água, mais elas mudam.
Antes que eu perceba, meu reflexo está sumindo, e no seu lugar…
Vejo Asra, trazendo água para seu rosto e bebendo profundamente.
Cada gota que desce pela suas mãos faz ondinhas em sua imagem quando bate na água.
Estou tão chocada de vê-lo que só consigo ficar boquiaberta em silêncio, temendo que qualquer som vá quebrar o feitiço.
Então ele sacode o cabelo, pisca a água para fora dos olhos, e olha diretamente para mim.
Asra: “Aidan?”
Asra: “Pode me ouvir?”
Aceno com a cabeça, mal conseguindo acreditar eu mesma.
Se isso não é um feitiço dele, então como eu…?
Asra parece tão surpreso quanto eu. Ele se inclina, tão perto que consigo ver gotículas em seus cílios.
Asra: “Incrível.”
Ele ri. Vejo agora que ele está sentado de pernas cruzadas, provavelmente ao lado de um lago.
Sua montaria, a estranha besta de antes, está deitada ao seu lado, descansando a pesada cabeça em seu no joelho.
Asra: “Ah, e Faust está com você. Parece que ela te encontrou sem problemas.”
Asra: “Não tinha nenhuma certeza de deixá-la. Mas depois daquela leitura que me deu…”
Asra: “Pensei em confiar na minha intuição.”
Altas palmeiras balançam atrás dele contra um cintilante mar de estrelas. Seu cabelo captura o brilho das estrelas em cada cacho.
Faust mergulha sua cauda na água, criando ondinhas pela imagem.
Asra: “Faust, você parece animada.”
Asra: “Ficar perto da Aidan faz isso com você, não faz?”
Aidan: “Estou feliz de ela estar aqui.”
Faust parece orgulhosa de si mesma.
Agora que passou o choque de encontrá-la, estou mais que aliviada de a ter por perto.
No reflexo, Asra parece bem feliz consigo mesmo também.
Aidan: “E estou feliz de você estar aqui, Asra.”
Seu rosto cora, e a besta em seu joelho solta um ronco estrondoso.
Asra: “Vejo um salgueiro atrás de você… Você está no Palácio?”
Aceno com a cabeça, e começo a contá-lo sobre tudo o que aconteceu desde que nos separamos.
Quanto mais eu falo, mais seus olhos brilham com forte interesse.
Asra: “Inacreditável. O dia que eu te deixo é o dia que você mais precisa de mim.”
Asra: “E mesmo assim, você nem precisou de mim de verdade.”
Asra: “Tô feliz que Faust está com você, pelo menos.”
Asra: “Se alguma coisa acontecer com uma de vocês, vou saber. Posso viver com isso.”
“Parece cansado.” ←
“Onde você está?”
Aidan: “Parece cansado.”
A expressão do Asra é sonolenta, mas contente. Suas escapadas secretas devem ter sido satisfatórias hoje.
Asra: “Não me sinto cansado. Estava prestes a entrar na água, mas você foi mais rápida.”
Reviro os olhos, enquanto Faust desliza pelo meu colo para dar chicotadas cheirantes na água.
Asra: “Faust está se abrindo contigo.”
Asra: “Talvez seja hora de eu fazer o mesmo.”
Quase engasgo. Meu rosto deve ser uma vista e tanto, pois o faz rir, alto e sem restrições.
Asra: “Não, sério. Verdade. Eu quero começar a ser mais honesto contigo.”
Asra: “O que tem em mente? Me pergunte o que quiser. Só o que eu peço…”
Asra: “… é que seja mais honesta comigo, também.”
Seu olhar gentil me lava, me trazendo calma. Mas eu tenho algumas perguntas urgentes.
“Quem é Nadia para você?”
“Quem é Julian para você?” ←
Aidan: “Quem é Julian para você?”
Já vi a profundidade de emoções que cruza o rosto do doutor quando ele fala do Asra.
Asra: “Julian?”
Asra: “Ah, sim… ele usa esse nome também.”
Asra: “Eu o conheci por outro nome. Ele foi um… amigo, uma vez.”
Asra: “Então mais. E aí algo diferente…”
Asra: “Quem é Julian para mim… quem é ele para qualquer um?”
Asra: “Quem ele precisar ser, para ter o que ele quer.”
Asra: “E pensar que ele viria atrás de mim, depois de tudo aquilo… vamos deixar como está.”
Asra: “Ele é um médico picareta com muito a aprender.”
Asra: “Até lá, nada de bom virá dele.”
Com um fundo suspiro e um balançar de cabeça, Asra limpa o clima tenso. Ele sorri.
Asra: “Tem, talvez, algo mais em mente?”
Seus cintilantes olhos buscam pelos meus com profundez muda.
“Quem sou eu para você?” ←
“Está ficando tarde.”
Aidan: “Quem sou eu para você?”
Os olhos suaves de Asra arregalam, e seus lábios partem. Por um momento ele parece confuso, quase magoado.
Ele suspira, cruza as mãos em seu colo, e se inclina para frente para me olhar diretamente no rosto.
Asra: “Quem é você para mim?”
Asra: “Espero que esteja pronta para saber, estou feliz que perguntou… foi tão difícil de esconder de você.”
Asra: “Você… não é uma estudante para mim. Nunca foi.”
Asra: “Você me ajudou a crescer. Aprendi tanto com você quanto você comigo.”
Aidan: “Mas apenas isso?”
Ele me espia através de seus cachos balançando.
Asra: “Não passou nem perto. Você quer ouvir tudo?”
Aceno com a cabeça sem nem pensar. Ele parece hesitar, e então fecha os olhos.
Me afasto da piscina quando ela começa a girar gentilmente, brilhando mais forte.
Cintilando, a imagem de Asra emerge da água em minha frente.
Sua forma estremece e reluz, parecendo mais uma bolha do que uma pessoa sólida. Mas é ele.
É como se ele estivesse de pé na piscina, mas se eu fosse tocá-lo, a magia o mantendo ali iria estourar e espalhar-se.
Asra: “Não estamos mais próximos do que antes, mas é melhor assim.”
Asra: “Você queria saber tudo. Então vou te contar apropriadamente…”
Asra: “O quão profundamente, quão completamente comecei a te querer.”
Asra: “Eu… não achava que poderia me sentir assim. Até tentei negar.”
Asra: “Como posso negar, quando meu peito está tão leve, quando consigo fazer qualquer coisa quando estou com você?”
Asra: “A cada dia, meu amor por você cresce. Cada vez mais brilhante, até que ele me consome.”
Asra: “Às vezes, tenho medo que consiga ver… e eu tenho que escapar, que me esconder de você.”
O luar trêmulo brilha através de suas mãos, quase embalando minha cabeça.
Asra: “Não quero mais me esconder.”
Asra: “Não quero mais guardar segredos de você. Eu quero que se lembre.”
A reconstituição perfeita de seu rosto chega mais perto do meu, buscando meus olhos. Ele quer que eu me lembre?
Como poderia esquecer? Meu coração está acelerado. Suas palavras ressoam por mim como ondas.
Todo esse tempo, me perguntei o que ele sentia por mim, o porquê dele ter me escolhido como seu lar.
Ele me ama. Ele me ama. Ele me ama…
De repente meu peito fica dolorosamente apertado. Os olhos de Asra piscam com preocupação, um toque intangível pairando sobre meu ombro.
Asra: “Aidan?”
Aidan: “Ah–!”
A força deixa minhas pernas, pavor me varre enquanto caio sob meus joelhos na beirada da fonte. Não consigo falar.
Asra: “Aidan! Não, não, não, não…”
Tonta, abaixo minhas mãos trêmulas.
Elas me parecem estranhas, desconhecidas. Mas eu preciso contar a ele. Ele disse que me ama…
Asra: “Por favor, olha para mim. Aidan. Aidan.”
Arrasto meu olhar para o rosto em pânico do Asra.
A dor se torna irreal, como se meu coração estivesse se contorcendo para fora do meu peito.
Asra: “Ok, não olha para mim. Respira. Eu sinto muito…”
Asra: “Fui irresponsável, não deveria ter tentado. Aidan, preciso que você esqueça.”
Esquecer? Não tem como eu fazer isso, mesmo que me mate. Não agora que eu finalmente sei…
Asra: “Esqueça, Aidan.”
Sinto, mesmo que só em minha mente, seus lábios pressionando contra minha testa como se eu fosse feita de vidro.
Ao mesmo tempo, o aperto em meu peito estoura como uma névoa fria, se espalhando pelas minhas veias.
Fumaça suave e rodopiante enche minha mente, cobrindo minhas perguntas, cobrindo meus pensamentos.
Enquanto finas gotículas se acomodam na minha pele, eu sinto uma sensação de retornar a mim mesma. Minha respiração vem irregular, rasa.
A imagem do Asra sumiu da água… Eu devo ter usando muito da minha magia.
Faust me observa com curiosidade, enrolada na beira da piscina, enquanto me levanto.
Faust: …
Aidan: “Vamos lá, Faust. Eu sei. Veremos ele novamente em breve.”
A dor da saudade é pesada em meu peito, embora não tenha certeza do porquê.
Com uma sacudida de minha cabeça, eu pego a serpente em meus braços e volto para dentro.
SELEÇÃO DE ROTA
A próxima parte de sua história está para ser descoberta, mas você não terá que fazer essa jornada sozinho.
Está pronto para começar?
Notas da tradutora:
[1] O original era “hands-on” que também traduz para “prático” ou “mão na massa”, mas o ‘manual’ foi o que achei combinar melhor com o trocadilho hahehae
[2] A piada original era entre “my worm” e “my word”, eu fiz a versão de “minhocas” com “minha nossa” por ser o mais próximo que consegui chegar, achei engraçado XD
[3] A palavra original é “gemoire”, não parece ser uma palavra existente pelo que procurei, então usei a tradução inventada “gemório”, para uma coleção de gemas :’)
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mirutxt · 7 months ago
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The Arcana | prólogo | IV - O IMPERADOR
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Voltei para o caminho de pedra preta, chicoteado pelo vento e areia cor de ferrugem.
As espessas nuvens escuras suspensas acima estão mais pesadas que antes.
Mas se estou sonhando de novo… onde está Asra?
O vento imperdoável queima meus olhos enquanto busco a paisagem deserta.
Mais a frente, muito longe para alcançar, Asra ainda está com a pesada besta.
Eles pararam num enforcamento. Um lado vai para leste, o outro para oeste.
Asra desmonta da criatura, pondo a mão na sua pele. A besta desce o caminho para o leste.
Asra caminha oeste, e na mesma hora eu sei que está indo pelo caminho errado.
Aidan: “Por aí não! Não de novo!”
Sua cabeça vira. Mesmo com a intransponível distância, sinto nossos olhares se encontrarem.
Asra: “... Aidan?”
Sua voz é apenas um sussurro cheio de saudade ao vento.
Alcançá-lo. ←
Deixar ele ir.
Com toda vontade, me impulsiono para frente para alcançá-lo, perto o suficiente para pegar sua mão.
Quando nossas mãos encostam, seus olhos arregalam maravilhados…
… Antes de tudo ao nosso redor se dissolver e cair.
É ontem no sonho. Estou varrendo uma bagunça de leite de morcego em pó quando Asra chega vagueando.
Asra: “Aidan~”
Asra: “Espera até você ver o que a floresta teve a oferecer hoje.”
Cogumelos, frutas, e raízes tombam para fora de sua bolsa no balcão.
Ele se inclina em seus cotovelos, suas mãos embaixo do queixo, me observando com deleite.
Aidan: “Uau! Que tanto… isso é mais do que precisamos.”
Asra: “Pensei que seria melhor ter muitos.”
Asra: “Não quero te deixar aqui com nada que não seja pão de abóbora.”
Com minhas mãos ocupadas, Asra desliza uma goldberry[1] na minha boca e eu mastigo devagar, saboreando nada. 
Me deixar… é mesmo. Esse foi o momento logo antes dele arrumar suas coisas para sair.
Eu queria dizer a ele lá. Agora, não lembro por que não disse… Não consigo me segurar.
Aidan: “Eu quero ir com você.”
Asra pisca, abaixa o olhar e suspira.
Mãos gentis vem para cada lado de meu rosto enquanto ele olha profundamente nos meus olhos.
Asra: “Eu sei. Queria poder te levar, é só… é muito arriscado.”
Onde quer que ele vá, é muito longe, muito rápido, muito arriscado para mim… mas não para ele.
“Então não vá.”
“Eu me arrisco.” ←
Viro meu rosto para que meus lábios façam contato com sua palma. Ele fica imóvel de surpresa.
Aidan: “Eu me arrisco.”
Asra: “Se arrisca? Por quê?”
Asra: “Quer se juntar a mim no covil da besta comedora de bebês da Montanha de Sangue?”
Asra: “Se arrastar pelo labirinto rastejante de Torturia, apenas para terminar no fosso de areia movediça do Pântano da Resistência?”
Ele não entende… ele pisca quando me balanço de seu toque.
Aidan: “Eu quero estar com você. Se você vai para a Montanha de Sangue, é lá que quero estar.”
Asra: “Ah…”
Asra: “Você quer se colocar em perigo… para estar comigo? Isso é…”
Asra morde o lábio enquanto pensa. Ele dá um passo para trás, suas mãos descendo até meus braços.
Asra: “Você está bem séria desta vez, hein?”
Asra: “Negar algo para você é bem mais difícil quando queremos a mesma coisa.”
Asra: “Você não quer ser deixada para trás, e eu não quero te deixar. Mas…”
Asra: “Às vezes não conseguimos o que queremos, mesmo quando parece ser certo.”
Asra: “Eu trago o que você quiser, tá? Qualquer coisa.”
Franzo minhas sobrancelhas, e ele aperta minhas mãos como pedido de desculpas. Não quero lembrancinhas.
Quero estar onde ele estiver… Pensei que ele queria o mesmo.
Agarro suas mãos e o olho em seus olhos. Se sou a pessoa que tem que expulsar essas dúvidas, serei.
“Você me quer?” ←
“Eu quero você.”
Aidan: “Você me quer?”
Sinto a resposta irradiando dele em ondas, como se não conseguisse contê-la. Sim. Sim. Sim.
Eu quero você. Eu preciso de você. Sinto tanto sua falta.
Um tremor percorre por suas mãos, e então seus dedos cuidadosamente deslizam entre os meus enquanto ele abaixa o olhar.
Asra: “E-eu… Eu não posso.”
Asra: “Se você soubesse…”
Quando ele recusa, olha em meus olhos com tanta clareza que tudo ao redor parece fora de foco.
Asra: “Você é mais honesta em sonhos.”
Assim como lembro, Asra pega uma flor e a coloca atrás de minha orelha antes que eu possa falar algo.
Asra: “Mal posso esperar para te ver de novo. Eu volto logo.”
Sua voz reverbera pela minha consciência, suave e cheia de promessa.
Minha mente tenta se agarrar aos vestígios do sonho, mas é inútil. Já está sumindo.
A luz do sol faz cócegas em meu rosto. Abro meus olhos com um resmungo.
Portia: “Bom dia, Aidan!”
Portia põe uma bandeja de folheados de café da manhã enquanto me levanto devagar.
Portia: “Que amanhecer lindo. Dormiu bem?”
Portia: “A Condessa quer que você a encontre na biblioteca quando tiver comido e se vestido.”
Portia coloca uma limpa pilha de roupas elegantes ao meu lado da cama.
Eu desdobro a primeira peça, me maravilhando com o jeito que o tecido move.
Portia: “Pegamos suas roupas antigas para serem lavadas. A milady pediu para providenciar essas para você.”
Portia: “Vou estar esperando no corredor, quando quer que esteja pronta.”
Portia se curva ao sair. Movo as roupas sedosas de lado e jogo meus lençóis para trás.
Como rápido, não querendo deixar a Condessa esperando.
Os folheados ainda estão quentinhos e crocantes, cada um mais delicado e caprichoso que o outro.
Tiro minhas vestes e pego minha nova roupa, me atrapalhando com seus fechos e botões.
Portia: “Oooh! Não é que ficou uma beleza!”
Portia: “A Condessa tem um olho bom para moda. Ela de certeza ficará satisfeita.”
Portia para diante de um painel na parede, três vezes o meu tamanho.
É feito a mão por madeira lisa com todas as cores de mel ondulante.
Esculpida com um detalhamento estonteante, está uma grande árvore no alto da maturidade.
Suas folhas e frutos são incrustadas de joias, pedras preciosas, e madrepérola.
Portia: “É uma obra da própria milady. Lindo, né?”
Portia pega um molho de chaves de seu bolso.
Há cerca de uma dezena, cada uma esculpida da mesma madeira do painel, e cada uma levando uma joia distinta.
Uma a uma, ela encontra suas fechaduras no painel.
A cada chave, as raízes da árvore começam a se desenrolar uma da outra, libertando-se do chão.
Quando todas as fechaduras são viradas, cada lado do painel dobra-se como um leque de papel.
Tem livros por toda a parte. Livros subindo pelas paredes, alcançando o teto.
A Condessa nos espera, sentada em uma poltrona reclinável.
Seus olhos brilham com aprovação quando ela me vê.
Nadia: “Aidan. Você parece positivamente radiante.”
Ela gesticula para as imponentes prateleiras ao nosso redor.
Nadia: “Você lê?”
Aceno com a cabeça. A Condessa tempera sua surpresa.
Nadia: “Ah. De alguma fora, imaginava que você leria.”
Nadia: “É uma grande dádiva, ler. De onde venho, ela é compartilhada entre todos os cidadãos.”
Nadia: “Mas infelizmente incomum aqui.”
Nadia: “Por aqui, por gentileza.”
Ela me guia mais fundo por entre as prateleiras. Portia nos segue com o tilintar das chaves.
Não consigo parar de olhar para todos esses livros. Meus dedos coçam para passar por suas lombadas, mas eu resisto.
Nadia: “Aidan… você é minha convidada.”
Nadia: “Se quiser retornar aqui, só precisa pedir. Mas no momento…”
A Condessa para em frente de uma alcova, aninhada por entre prateleiras.
Nadia: “... Gostaria de toda sua atenção aqui.”
Uma escrivaninha é vista num fino raio de luz, vindo de uma pequenina janela.
Livros, diários, papéis, e pergaminhos cobrem cada centímetro da escrivaninha.
Apesar de amontoado, tudo está cuidadosamente organizado. O lugar de estudo de alguém, preservado no tempo.
Nadia: “Essa era a mesa do Doutor Devorak.”
Nadia: “Ele era empregado pelo Palácio, assim como seu Mestre Asra.”
Nadia: “Nós os convocamos para manufaturar uma cura para a peste.”
Meu sangue gela.
A peste vermelha, como era chamada, varreu pela cidade como fogo num matagal.
Ela tomou jovens e idosos, fracos e robustos. Não tinha como saber quem sucumbiria.
Os casos são raros, agora. Não lembro qual foi a última vez que vi o vermelho revelador no que seria o branco dos olhos de alguém.
Nadia: “Médicos, cientistas, alquimistas, adivinhos, magos… ”
Nadia: “Todos foram convidados, na esperança que nossos recursos auxiliassem sua pesquisa.”
Nadia: “Talvez ele já estivesse tramando algo naquela época… mas o doutor aceitou nosso convite.”
Nadia: “Assim como seu Mestre Asra.”
Seu olhar se desloca para a janela.
Ela abrange um largo salgueiro, que paira sobre a fonte no jardim abaixo.
Nadia: “Já tive a escrivaninha e seu conteúdo examinados arduamente. Nada importante foi encontrado.”
Nadia: “Mas talvez você fará melhor uso dela. É a melhor pista que posso te dar.”
Ela se afasta, passando por mim e perfumando o ar com jasmim.
Nadia: “A busca pelo Doutor Devorak está agora em suas mãos. Prossiga como achar melhor.”
Nadia: “Só peço que me encontre para jantar esta noite.”
Ela sorri serenamente e sai da sala, Portia segue seu rastro.
Sou deixada sozinha com a escrivaninha do doutor.
Tem uma pilha de livros, um fólio de capa de couro, e pergaminhos enfiados numa pequena fileira de gavetas.
Checar os livros.
Checar o fólio.
Checar os pergaminhos. ←
Eu desenrolo um dos pergaminhos. O papel é macio, quase empoeirado ao toque.
Ele é escrito em garranchos apressados e fluidos que são quase impossíveis de ler.
No fim da página, isolada das densas faixas cursivas, está uma única letra “J”.
Espremo meus olhos pelos rabiscos da página, tentando dar algum sentido a eles.
Querida… querida irmã? Sim, acho que está endereçado ‘Querida Irmã’.
Passo os dedos por cima das palavras, e meu coração dispara.
Sinto um choque agudo de saudade, e arrependimento antigo.
De repente, eu compreendo… Estou sentindo o que o doutor sentiu quando escreveu a carta.
Rapidamente enrolo o pergaminho e enfio em minha bolsa.
Esse pedaço frágil de papel… é algo que era querido ao doutor. Algo com uma conexão a ele.
Uma onda de entusiasmo e apreensão passa por mim.
Eu posso usá-lo. Com o pergaminho e a minha magia para me ajudar… Posso conseguir encontrá-lo.
Olho de relance pela janela para o céu. Já passou um pouco do meio-dia.
Se for rápida, devo conseguir voltar a tempo para jantar com a Condessa.
O sol começa a descer pelo céu enquanto faço o caminho de volta para a cidade.
Minha respiração enfraquece quando tremores da minha ansiedade irradiam do meu estômago, se espalhando para os meus dedos.
Nunca fiz esse tipo de magia sozinha. Sempre tive Asra comigo antes…
Asra. Memórias de sua voz familiar acalmam minha mente.
Comece com sua respiração. Siga com o coração, e seja presente.
Encontrando a calma que precisava, eu junto minha magia, segurando o pergaminho com as duas mãos.
Uma sensação de formigamento cresce na base do meu pescoço. Eu sigo o sentimento para longe do palácio, pelas ruas da cidade.
Acabo numa estreita rua escorregadia no extremo sul de Vesuvia. Suas pedras gastas estão em camadas como escamas.
Apartamentos agrupados alinham a passagem, e uma escura água avermelhada rodopia pelo lento canal.
De repente, uma porta abre em minha frente, lançando uma luz quente pelos irregulares degraus de pedra.
Julian: “Oh, eu vou voltar. Tô só tomando um ar.”
Congelo no meio de um passo, meu coração pulando para fora. Meu feitiço… funcionou.
Mas não pensei o que faria quando o encontrasse.
Tento sair de fininho, mas algo prende em meu calcanhar, me derrubando num barril vazio.
Quando vejo, estou olhando para o céu, membros de debatendo inutilmente enquanto rápidos passos de bota se aproximam.
Julian: “Opa, foi uma queda e tanto, tudo bem com você?”
O doutor se inclina por cima do barril, estendendo uma mão. Ele recua quando vê o meu rosto.
Julian: “A… a lojista? O que está fazendo aqui?”
Julian: “Vem cá, subindo[2].”
Uma pegada firme acerca meus pulsos, e sou arrastada para fora do barril como um caracol descascado de sua concha.
Eu cambaleio para frente contra o amplo peito reluzente do doutor.
Por um momento, seu olho encontra os meus surpreso com nossa proximidade repentina.
Então, com uma batida amigável em meus braços, ele me solta.
Dou uma boa olhada nos arredores pela primeira vez.
Estamos atrás de uma taverna, bem escondida da rua.
Pintado na porta está um pássaro-preto cacareante, descansando numa lua crescente.
O Corvo Desordeiro, está escrito.
Julian: “Posso perguntar o que te traz por essas bandas?”
Abro minha boca, mas nenhuma palavra sai. Como começo a explicar?
O doutor me dá um olhar de compreensão, e lança os olhos à porta aberta.
Sua luz quente reluz entre nós. Ele vira para mim com um brilho no olhar.
Julian: “Dizem rumores que você está trabalhando para o Palácio.”
Julian: “Tenho certeza–bem, agora eu tenho–que escutou umas histórias interessantes sobre mim.”
Aceno com a cabeça. Até agora é verdade, se não um eufemismo grosseiro.
Julian: “Mas você ainda não ouviu meu lado da história, não é?”
Isso também é verdade.
Todo o meu conhecimento vem do relato da Condessa, os cartazes de procurado, e os boatos confusos.
Julian: “Além disso, ainda te devo pela leitura. Está com sede? É por minha conta.”
“Tenho sede.” ←
“Não tenho sede.”
Aidan: “Eu tenho sede.”
Seu rosto se desfaz em um brilhante sorriso.
Julian: “Oh, fantástico. Por favor, permita-me.”
Ele gesticula para eu subir os degraus até a porta, abrindo-a e me conduzindo para o calor de dentro.
O sol nesse se pôs ainda, mas a taverna já está a todo vapor. O barulho é cacofônico.
O barman, largo, com cicatrizes na face e braços grossos, lança um aceno descarado ao doutor quando passamos perto.
Um bêbado gargalhando balança uma perna de pau, que o Doutor Devorak educadamente tira do caminho.
Estalando a língua, meu acompanhante me guia até uma aconchegante cabine nos fundos.
Julian: “Fique à vontade. Eu já volto.”
Ele se apressa passando por mim até o bar. Eu tento sentar bem quieta enquanto olho ao redor.
Próximo a mim, um par de velhas estão curvadas sobre um jogo de cartas, assistido por uma multidão batendo-boca.
Lá no bar, o doutor conversa com o barman. Os dois rompem em repiques de risadas com alguma piada.
Ele parece perfeitamente à vontade, tão diferente de quando o conheci na loja…
Ele vira, retornando para a mesa com nossas bebidas. Ele coloca a minha na minha frente.
Ele desliza no sofá em frente a mim, dando um gole com gosto em seu copo.
Espio o líquido dourado em meu copo. Cheira vagamente como fruta.
Beber. ←
Trocar os copos.
Dou um gole. É refrescante, um pouco doce, e efervesce quando desce.
Julian: “Sabe, nunca peguei seu nome.”
Com os dedos cruzados na mesa entre nós, ele me lança um olhar encorajador.
Aidan: “... Aidan.”
Julian: “Ahh, Aidan, que nome encantador. Um nome musical, Aidan.”
Ele me oferece sua mão, e embora eu hesite colocar a minha em seu aperto de couro, eu faço.
Seu sorriso se estende para um riso cheio de dentes.
Limpo a garganta, o olhando bem nos olhos.
Aidan: “Você disse que me contaria seu lado da história.”
Julian: “Oh, eu disse, não foi? Que descuidado que sou.”
Ele ri da minha expressão incrédula.
Então ele reclina no sofá, seus longos braços e pernas indo um para cara lado.
Julian: “Beleza, pergunte o que quiser.”
Sem dizer nada, alcanço minha bolsa e lhe entrego o pergaminho da biblioteca.
Assim que ele começa a ler, o sorriso desaparece de seu rosto. Ele se inclina sobre a página, franzindo a testa concentrado.
Julian: “Onde achou isso?”
Aidan: “Estava na sua escrivaninha. Na biblioteca do palácio.”
Ele desvia o olhar, mas não antes de eu ver um recuo de dor passar pelo seu rosto.
Julian: “Bom, é uma carta, mas você já sabia disso. Querida fulaninha…”
Aidan: “Querida irmã.”
Seu olho se ergue para mim, mortificado.
Julian: “Você–você consegue ler isso?”
Na verdade, não, mas ele não precisa saber. Dou de ombros evasivamente.
Julian: “Ahem. Querida… querida irmã. Tenho muito a compartilhar desde a última vez que escrevi.”
Julian: “O inverno chegou no palácio… esses chãos de mármore estão tão frios a cada manhã…”
Quanto mais ele lê, mais ele pausa para massagear as têmporas, ou apertar o dorso do nariz.
Quando termina, ele parece melancólico, esgotado.
Ele enrola a carta e a devolve para mim.
Distraído, ele pega sua caneca, virando o resto da bebida garganta a baixo.
Aidan: “Você tem uma irmã.”
Uma tosse molhada, engasgos, e ele abaixa o copo vazio.
Julian: “Tenho. Não a vejo desde que ela era ohh… desse tamanho.”
Seus dedos pairam quase acima da beirada da mesa.
Julian: “Licença.”
Levando os canecos vazios embora, Julian volta para o bar.
Uma discussão estridente rompe da mesa das velhas que jogavam cartas.
Julian sussurra para uma das velhas enquanto passa, e toca uma única carta de sua mão.
A carta é jogada, fazendo a multidão entrar em caos. Julian desvia na hora que alguém joga bebida nele.
Ele ainda está se limpando, rindo enquanto retorna ao seu lugar.
Julian: “Você acharia que eu saberia mais do que me envolver.”
Levanto uma sobrancelha. Ele não está usando uma máscara aqui, e todo mundo parece conhecê-lo.
Aidan: “Não se preocupa em ser visto?”
Julian: “Aqui? Nããão. Não. Não estou tão preocupado.”
Julian: “O pessoal aqui não é muito de, hã, obedecer aos desejos e ordens do Palácio.”
Julian: “Até o corvo passa seu tempo vigiando por guardas. Obsessivamente.”
Julian examina as vigas esfumaçadas enquanto eu processo o que ele me disse. É… um tanto surpreendente.
Onde eu e Asra moramos, os guardas são tratados com reverência. E medo, e não é pouco.
De repente o corvo entra escancarando uma janela empoeirada acima, voando em círculos com um grito gutural.
O pássaro se bate contra uma corda de sinos, e a taverna rompe em caos.
Barman: “Guardas! Guardas do palácio!”
Clientes escalam para fora de toda porta e janela, cartas de baralho jogadas e voando no ar.
Julian me pega corporalmente do meu assento e me apressa para fora da porta dos fundos, para dentro do beco.
Está ficando frio, e o sol já quase se pôs completamente.
O doutor lança uma olhada frenética de cima a baixo ao beco antes de me amontoar nas sombras.
Julian: “Você sabe encontrar seu caminho, né? Os guardas não estão atrás de você…”
Aceno com a cabeça. Ele aperta a parte de cima de meus braços e olha fundo em meus olhos.
Julian: “Valeu. Por não, bem… valeu, Aidan.”
Ele vira e desaparece, me deixando sozinha no silencioso beco fechado.
E agora o que faço? Pensei que Julian me daria respostas… mas agora só tenho mais perguntas me rodeando.
Guarda: “Ei! Você aí!”
Eu rodopio para ver dois guardas armados aparecendo na entrada do beco.
Eles marcham em minha direção, mas quando chegam perto o suficiente para ver meu rosto, eles param.
Guarda: “Oh. A maga da Condessa.”
O guarda me dá uma reverência curta e afiada.
Ludovico: “Ahem. Sou o Ludovico. Nos conhecemos ontem, nos portões.”
Concordo com a cabeça, tentando invocar alguma confiança.
Aidan: “Sim. Eu deveria jantar com a Condessa novamente esta noite. Mas já está ficando tarde…”
Ludovico rapidamente dispersa minha pergunta não formulada.
Ludovico: “Chamaremos uma carruagem para sua volta. Não deixemos a Condessa esperando.”
Ele me conduz de volta para uma rua mais extensa, chama uma carruagem dourada, e fecha a porta atrás de mim.
O palácio eleva-se sobre a carruagem enquanto ela se aproxima, um monólito branco contra o cintilante céu da noite.
Portia está me esperando nos portões, pronta para me ajudar a sair da carruagem.
Ela está excepcionalmente quieta, nada de seu jeito animado de sempre.
Fico em silêncio também, ocupada pelos meus próprios pensamentos embaraçados.
As grandes portas se abrem assim que chegamos para revelar uma refeição extravagante, empilhada em cima da longa mesa.
Tudo está amplamente temperado com raros temperos. Reconheço o cheiro de açafrão flutuando em minha direção.
Nadia: “Bem na hora, Aidan. Espero que seu dia tenha sido produtivo.”
Um criado me leva ao meu assento e enche minha taça com uma bebida pálida de rosas.
O aroma floral delicado me lembra do perfume da Condessa.
Nadia: “Primeiro, vamos cuidar de assuntos menores. Meus cortesãos estão mais que ansiosos para te conhecer.”
Nadia: “Devo te apresentar a eles amanhã à tarde.”
Nadia: “Eles irão querer saber tudo sobre você, mas escolha com sabedoria o que deseja contar.”
Nadia: “Lhes informarei do Baile de Máscaras também. Imagino que ficarão em êxtase.”
Concordo devagar com a cabeça enquanto mastigo minha comida. Como a corte funciona é desconhecido para mim.
Mas posso confiar, pelo menos, que a Condessa não me deixará passar vergonha.
Nadia: “E amanhã ao meio-dia, Portia liderará uma comitiva na praça da cidade para a proclamação do Baile de Máscaras.”
Nadia: “Assim que os habitantes ouvirem, a palavra se espalhará sozinha. E então saíra de nossas mãos.”
Nadia: “Imagino que as multidões estarão ansiosas para ver o assassino do Conde Lucio ser enforcado.”
Penso em Julian, banhado pela quente luz convidativa da taverna, balançando numa forca.
Meu coração gela com a imagem, mas tomo cuidado para não mostrar em meu rosto.
Nadia: “Mas esses são assuntos de amanhã.”
Nadia: “Esta noite, Aidan, tenho perguntas.”
Aidan: “Perguntas?”
Me preparo para as inevitáveis perguntas sobre onde fui… o que estava fazendo.
Nadia: “Sim. Quero me familiarizar com você.”
Suas palavras me pegam de surpresa. Não esperava que ele se interessasse em quem eu sou.
Nadia: “Não sejamos mais estranhos. Que esta noite marque o começo de uma valiosa amizade.”
Ela começa com perguntas simples. Como aproveito a cidade, minhas atividades diárias, minha comida favorita.
Eu também a faço perguntas de volta, e descubro que sua comida favorita é peixe-espada apimentado.
Nadia: “Em Prakra, peixe-espada apimentado é um prato de verão. Eu mal sofreria uma noite quente sem ele.”
Prakra, uma vasta terra ao Norte. O lar da Condessa, apesar de que eu pensava ser apenas um boato.
Nadia: “A cozinha até tenta atender aos meus pedidos, mas infelizmente, eles nunca conseguem temperar adequadamente.”
Aidan: “Você já sentiu falta de morar lá?”
A Condessa olha pensativa dentro de sua taça, dedos elegantes enrolados delicadamente em sua haste.
Nadia: “Talvez. Acho que nunca retornaria a Prakra, mas tem coisas que sinto falta sobre meu lar.”
Nadia: “Muitas vezes quando me sentia melancólica, eu andava pelas praias brancas de minha terra natal.”
Nadia: “Observando as ondas cor de opala cair sobre as areias, acalmava minha alma preocupada.”
A expressão agridoce em seu rosto enquanto ela fala de sua terra natal a faz parecer anos mais jovem.
Noto que os criados estão escutando enquanto trabalham, observando a Condessa e eu com olhos inquisitivos.
Nadia: “Bom, se vamos relembrar, talvez devêssemos fazer isso em algum lugar mais privado.”
Nadia: “Se importaria de me acompanhar na varanda para um fim de noite[3]?”
Ela abaixa o olhar para mim, um sorriso suave puxando seus lábios.
Nadia: “Só nós duas.”
Então ela estende a mão em minha direção, esperando com expectativa.
Se juntar a ela para um fim de noite. ←
“Não obrigada.”
Pego sua mão com ansiedade. Ela a aperta de um jeito quente e firme, parecendo satisfeita enquanto andamos até a varanda.
Uma brisa fria da noite nos cumprimenta. O céu coberto de estrelas é claro e vasto acima de nós.
Nenhum criado nos segue. É só Nadia, eu, e as estrelas brilhantes lá em cima.
Nadia: “Sente-se.”
Me acomodo numa cadeira acolchoada após sua ordem, me ajeitando um pouco para ficar confortável.
Ela pega um decantador de cristal cheio de um líquido pálido, e serve uma taça para nós duas.
Nadia: “Licor de flor de sabugueiro. Um dos meus favoritos.”
Tem um silêncio, não tão confortável…
Então Nadia desvia seu olhar do jardim para mim, e me dá um sorriso caloroso.
Nadia: “Você é… bem diferente do que te imaginei ser.”
Nadia: “Tenho que admitir, acho sua presença um tanto intrigante.”
De alguma forma, a Condessa tem um jeitinho de me fazer sentir à vontade e nervosa ao mesmo tempo.
Na cidade… há sussurros que a Condessa Nadia é uma tirana.
Mas a mulher em minha frente parece genuína, gentil, e… um pouco solitária.
Nadia: “Me diga, Aidan… Por que veio ao Palácio? Por que concordar em me ajudar?”
“Estava curiosa.” ←
“Você me pediu.”
“Parecia certo.”
Aidan: “Estava curiosa.”
Nadia: “Curiosa?”
Nadia: “E já satisfez essa curiosidade?”
Uma longa mecha de cabelo cai sobre seu rosto quando ela inclina a cabeça, esperando minha resposta.
Mas eu não… tenho uma. Não ainda. Só tenho mais perguntas.
Nadia: “É revigorante sentar com alguém que compartilha ideias similares. Há tantas questões nesse mundo…”
Nadia: “Talvez possamos descobrir algumas respostas juntas.”
Seu olhar vaga por mim por um momento demorado, prolongando-se em meu rosto.
Nadia: “Tem mais perguntas para mim, Aidan? Saiba que está livre para falar em minha presença.”
Tenho várias perguntas para a Nadia, mas se perguntasse todas agora tenho medo de nunca sairmos da varanda.
Agora, só preciso saber…
“Por que está fazendo isso?” ←
“Por que eu?”
Aidan: “Por que está fazendo isso?”
Nadia: “Que… pergunta vaga. O que, exatamente, você quer dizer?”
Aidan: “Bem… a investigação do assassinato. O Conde está morto há anos, então por que agora?”
Nadia: “Ah. Fez bem em perguntar, Aidan.”
Nadia: “Vesuvia precisa urgentemente de ajuda. Ordem precisa ser restaurada… e eu estou na posição única de restaurá-la.”
Nadia: “Entretanto, minha intenção é liderar como exemplo, não temor. Devo mostrar à cidade do que sou capaz.”
Nadia: “Tenho tantos planos para Vesuvia. Eu quero ver essa cidade prosperar…”
Nadia: “Talvez você seja capaz de me ajudar com esses planos, Aidan.”
Nadia: “Poderia ter mais pessoas competentes ao meu lado…”
Aquela aura solitária de antes retorna, pesada e espessa no ar. Será que ela realmente não tem ninguém para confiar?
Devagarinho, eu a alcanço, pegando sua mão na minha.
Surpresa pisca em seus olhos, e por um momento eu penso que ela vai se afastar…
Porém, ela sorri, e aperta minha mão de volta.
Nadia: “Que amor você é, Aidan.”
Nadia pausa, e então lentamente traz minha mão aos seus lábios, dando-lhe um beijo leve como pluma.
Nadia: “Parece que teve um dia longo. Não vou te segurar mais nenhum momento.”
Nadia: “Obrigada, por vir ao Palácio. Meus sonhos não estavam errados.”
Então ela sorri e pega um pequenino sino de prata, seu cabo esculpido no formato de um pescoço de cisne, e toca-o.
As portas para a varanda abrem imediatamente quando Portia entra com vigor.
Portia: “Chamou, milady?”
Nadia: “Chamei. Por favor, mostre a Aidan o quarto de hóspedes.”
Portia: “Claro, milady.”
Posso quase jurar que vejo Nadia piscar para mim enquanto saio.
Nossos passos ecoam pelos corredores vazios. Portia caminha alegremente ao meu lado.
Portia: “Aqui. Vou te mostrar um atalho para o seu quarto.”
Portia: “Sóóóó caso Mercedes e Melchior tiverem se escondendo por aí de novo.”
Ela me guia por um estreito corredor empoeirado. Seus dedos encontram a borda de uma tapeçaria comida por traças.
Com um floreio dramático, ela revela uma passagem secreta do outro lado.
Ela me joga um sorriso e uma piscadela, gesticulando para que eu entre.
Aidan: “Você sabia que isso estava aqui?”
Sua risada macia ecoa por dentro do corredor sombrio, e seus olhos ganham um brilho travesso.
Portia: “É meu trabalho saber tudo por aqui.”
Portia: “Incluindo truquezinhos como esse.”
É escuro do outro lado, o chão é desnivelado sob meus pés.
Não tenho ideia de onde estou, mas Portia parece saber exatamente onde está indo.
Portia: “Sabe, as coisas têm ficado bem mais interessantes por aqui desde que você apareceu.”
Portia: “E todos os boatos circulando, céus! Você acharia que não temos mais o que fazer.”
Aidan: “Você escuta muitos boatos?”
Portia: “Por quê? Tem algo a me dizer, Aidan?”
Aidan: “Um…”
Pega de surpresa, eu fico em silêncio.
Nem sei como começar a explicar o que aconteceu no Corvo Desordeiro…
Após algumas voltas e viradas, saímos da passagem estreita e voltamos à ala de hóspedes.
Parece que os criados vieram durante o dia para limpar. Eles colocaram um novo jarro de água na mesa.
Incenso queima perto da janela, enchendo o quarto com espirais nebulosas de madeira e especiarias.
Quando derrubo minha bolsa no pé da cama, o pergaminho da escrivaninha de Julian rola para fora.
Portia percebe. Ela o observa como se tivesse morrendo de vontade de perguntar algo, mas a pergunta some antes que possa escapar de seus lábios.
Aidan: “Você parece preocupada.”
Portia: “Preocupada? Eu?”
Portia: “Talvez. É só que… o doutor… ele não pode ser o único suspeito, não é?”
Portia: “Cá entre nós… Acho que o Conde Lucio tinha muitos inimigos, também.”
Portia: “Eu não trabalhava aqui quando aconteceu. Só ouvi rumores do que houve naquela noite.”
Portia: “Só… deixe os olhos bem abertos para coisas estranhas, tá?”
Então ela sorri, a preocupação sumindo de seu rosto. Ela se inclina em minha direção, sua voz baixa.
Portia: “Sabe… se você ainda não estiver tão cansada, posso te mostrar o palácio.”
Portia: “Tem um monte de coisas interessantes por aqui. Talvez te mostre mais alguns segredos…”
Portia: “Se achar que consegue lidar com eles.”
Ela está me provocando? Ela me lança outra piscadela e inclina a cabeça para o lado, esperando uma resposta.
“Me mostre os segredos.” ←
“Isso é permitido?”
“Tô muito cansada.”
Aidan: “Me mostre os segredos.”
Portia: “Sabia que gostaria de você, Aidan. Vamos ser ótimas amigas.”
Portia: “Vem, vamo lá! Vou te mostrar as coisas boas de verdade.”
Ela engancha seu braço no meu e me guia por dentro do corredor, um saltitar em seu andar.
Portia empurra algumas portas giratórias e nos leva até uma vasta cozinha.
Alguém em um avental coberto de farinha levanta a cabeça e sorri quando nos vê entrar, acenando alegremente para Portia.
Chefe: “Portia! Ainda de serviço esta noite?”
Portia: “Nããão exatamente. Apenas mostrando o lugar para a Aidan.”
Chefe: “Aqui, uma receita nova que estou testando!”
A pessoa (chefe) joga um pãozinho por cima do balcão de madeira para Portia. Ela o pega sem nem olha, e vira para mim.
Portia: “Se você se encontrar com fome à meia-noite, as portas estão sempre abertas.”
Portia: “Só se certifique de não estragar a preparação do café da manhã de Hestion. Não sou responsável pelo que possa acontecer com você.”
Ela me desliza outro pãozinho, e sai da cozinha de fininho antes que Hestion note.
Portia: “Vamos usar uma passagem secreta para chegar na varanda. Dá para ganhar mó tempo, quando se está apressado.”
Portia: “Só um aviso, ela é meio… assustadora.”
Ela nos leva ao fim de um pequeno corredor. Nós estamos de frente para uma grande pintura de Mercedes e Melchior.
Uma pilha de romãs se espalham pelos seus pés. Suas patas manchadas de vermelho pelo suco.
Ela agarra a beirada da pintura e abre, revelando um arco com um caminho secreto.
Portia: “Acha que pode nos ajudar com uma luz, Aidan?”
Eu foco na minha magia. Uma esfera de luz suave e quente brota de meus dedos e flutua ao nosso redor em círculos amigáveis.
Portia: “Uaaau, olha só pra isso.”
Passamos pelo arco, entrando numa passagem empoeirada ainda maior. As paredes estão alinhadas de pinturas de animais.
Todos puramente brancos, com olhos vermelhos que brilham como rubis na luz fraca.
Portia: “Esse costumava ser a ‘Galeria do Ménagerie’ do Conde. Embora que ninguém mais venha aqui.”
Portia: “Dizem que tem um fantasma vagando pelos corredores.”
Portia: “E se você seguir sua voz… você nunca será visto de novo!”
Aidan: “Isso já aconteceu?”
Portia: “Oh claro. Os criados estão sempre aparecendo depois de cabular suas tarefas, dizendo que o fantasma da galeria os pegou.”
Portia: “E normalmente eles só cochilaram na despensa e querem culpar o fantasma.”
Portia: “Sem dúvidas tem umas coisas estranhas acontecendo por aqui…”
Portia: “Mas eu não me preocuparia com isso. Só não saia andando por aí em um corredor estranho e escuro sozinha.”
Alcançamos o final do corredor, e Portia abre uma porta menor nos levando à varanda.
A varanda está surpreendentemente agitada quando chegamos, cheia de criados fazendo as mais diferentes atividades.
Vozes alegres nos cumprimentam, pessoas falando com a Portia enquanto passamos.
Criado Varrendo: “Pegando o caminho mais longo pra casa, Portia?”
Jardineiro: “Ahh, ela deve estar mostrando o lugar pra nossa nova maga.”
Portia: “Com ciúmes, Babouche? Vai ter que esperar sua vez se quiser passar um tempo com a Aidan.”
Os criados estão sempre atenciosos e alerta quando estou com Nadia.
Agora, eles parecem mais relaxados. Alguns estão fazendo uma pausa perto do corrimão, inclinando-se sobre ele e conversando.
Um deles, alto e esguio, dá a Portia um sorriso preguiçoso quando descemos as escadas.
Criado Fora do Serviço: “Tenha uma boa noite, Portia!”
Portia: “Você também, Vincenze. Tente não cair da varanda!”
Portia me guia ao jardim, para o labirinto.
Portia: “Já está ficando bem tarde… mas tenho uma última parada antes do fim do tour.”
Portia: “Acho que você vai gostar muito.”
Ela pega minha mão, me levando pelas sinuosas cercas-vivas.
Chegamos num arco velho caindo aos pedaços coberto de flores de pedra esculpidas. O topo desmoronou, deixando apenas seus suportes.
Do outro lado tem um beco sem saída… mas consigo sentir um sussurro de magia lamber minha pele.
Portia: “Saca só isso.”
Ela ri, me puxando pelo arco… e de repente o cenário muda.
Saímos num corredor do palácio, bem iluminado, mas fora do caminho. À distância consigo ouvir os criados conversando.
Portia: “Não é incrível? Aposto que tem portais assim por todo palácio, levando para todo tipo de lugar.”
Portia: “Talvez você me ajude a encontrar mais.”
Portia: “Aposto que uma grande maga como você não teria problemas em encontrar todos.”
Portia: “Mas já te segurei tempo demais. Nós temos que acordar cedo amanhã… é melhor você ir dormir.”
Ela me guia de volta ao quarto de hóspedes, e pausa na beirada da porta.
Portia: “Oh! Quase esqueci. A milady quer que você se junte a nós na cidade para a proclamação.”
Portia: “Então… te vejo de manhã, Aidan. Obrigada por vir comigo essa noite.”
Portia sorri, aperta meu ombro, e então me deixa sozinha no quarto com meus pensamentos.
Notas da tradutora:
[1] Literalmente traduz para “baga dourada” ou “frutinha dourada”. Deixei sem tradução como cranberry, que tem como nome no Brasil “oxicoco”, mas todo mundo conhece como cranberry :p
[2] O original era “upsy-daisy” que é só uma rima fofinha para o ato de levantar, assim como “de boa na lagoa” e “enganei o bobo na casca do ovo” aqui no Brasil. Traduzi como “subindo” porque não consegui pensar em nada melhor :/
[3] O original era “nightcap”. Nunca ouvi essa expressão antes e quando pesquisei encontrei a tradução “saideira” (literalmente aquele drinque antes de ir embora, nesse caso antes de ir dormir), não acho que alguém chique como a Nadia diria “saideira” então traduzi como “fim de noite” haha;;
Bônus: Traduzi “Rowdy Raven” para “Corvo Desordeiro”, sei que ‘crow’ e ‘raven’ são tecnicamente diferentes, mas aparentemente se traduz igualmente no português. E ‘desordeiro’ foi porque ‘rowdy’ tem outras traduções como “arruaceiro, barulhento ou bagunceiro”, mas achei que ‘desordeiro’ combinou bem. Adoraria ouvir opiniões :D
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mirutxt · 7 months ago
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The Arcana | prólogo | III - A IMPERATRIZ
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Dentro do palácio, o chão, paredes e o teto elevado são de pedra polida cortadas com perfeição.
Um criado com um chapéu de penas azuis vem varrendo até nós.
Com uma grande reverência, a pessoa passa por mim e corre para o lado da Portia.
Portia: “Camareiro. Como estamos em relação ao tempo?”
Camareiro: “Terrivelmente atrasados! O quinto prato acabou! Sua Senhoria está em seu estado mais infeliz.”
Portia morde o lábio e dá a cesta de fruta para o criado.
Portia: “Peça para o sommelier trazer uma garrafa de Ganso Dourado.”
O criado sai com pressa, desaparecendo por trás de um painel na parede que desliza fechando perfeitamente no lugar.
Portia: “Que pena. Vou te acompanhar diretamente para a sala de jantar.”
Sala de jantar? Eu jantaria com a Condessa?
Portia: “O quê? Não me diga que pensou que não iríamos te alimentar!”
Me apresso para acompanhar seus passos determinados.
Logo estamos de frente para uma bela porta de mogno.
Portia abre a porta, me guiando para dentro.
Ricos aromas permeiam no ar, desconhecidos e tentadores.
Nadia: “Ah, Aidan. Bem-vinda ao Palácio.”
Nadia: “Sente-se. Temo que já esteja muito atrasada para o jantar.”
Ela traz a taça para os seus lábios e bebe profundamente.
Portia me conduz para o meu assento. Outro criado remove o que seria meu prato.
Nadia: “Estava começando a pensar que havia esquecido de meu convite.”
Nadia: “Mas… será que não está acostumada a viajar?”
Nadia: “Parece exausta. Céus, vejo suas bochechas brilhando daqui.”
A Condessa vira sua taça, e Portia aparece ao seu lado com uma garrafa embrulhada em um folheado cintilante.
Nadia: “Ah, Portia. Que atencioso de sua parte.”
Portia: “O prazer é meu, milady.”
Portia enche nossas taças, e a Condessa dá um gole da sua.
Nadia: “Um Ganso Dourado? Uma escolha maravilhosa, Portia.”
Eu pego minha taça para cobrir o momento desconfortável…
… e paro, paralisada pela pintura estranha em minha frente.
A cena é de uma refeição compartilhada entre convidados com cabeça de feras.
A mesa está coberta com pequenos animais, providenciados por uma figura principal com cabeça de bode.
Raios de ouro reluzem ao redor de sua cabeça, e seus olhos vermelhos são surpreendentemente realistas.
Nadia: “Você gosta, Aidan? Da pintura.”
“Não.” ←
“Sim.”
Aidan: “Não.”
A Condessa abaixa sua taça, me observando com uma expressão abismal.
Nadia: “Não? Meu marido prezava por essa obra. Era uma de suas favoritas.”
Nadia: “Entretanto, suponho que seus gostos eram um tanto estranhos.”
O marido de Nadia, o Conde Lucio… ou melhor, o falecido Conde Lucio.
Nadia: “Ele é o bode do meio, claro. Sempre o provedor.”
Nadia: “Lucio tinha a população comendo na palma de sua mão. Assim como na pintura, eu presumo.”
Nadia: “O que quer que oferecia, as pessoas engoliam. Elas o idolatravam.”
Nadia: “Meu marido era particularmente amado por seu Baile de Máscaras anual.”
Ela abaixa a taça, cruzando as mãos e descansando seu rosto sobre elas.
Nadia: “Já compareceu a um, Aidan?”
Nadia: “A cidade inteira ganhava vida para o Baile de Máscaras. A folia tomava conta de corações jovens e velhos.”
Nadia: “Tudo em celebração ao aniversário de Lucio. E que celebração era, quando abria as portas do palácio para todos.”
A Condessa suspira, olhando o vinho rodopiar em sua taça.
Nadia: “Uma lembrança tão querida para muitos, e agora está coberta em tristeza. Um choque terrível para os convidados…”
Nadia: “Encontrar o anfitrião assassinado tão violentamente no último Baile de Máscaras.”
Os criados abaixam o olhar. Eu também desvio o olhar, de volta para a pintura.
Nadia: “Meu pobre marido. Queimado vivo em sua própria cama…”
Nadia: “E na celebração de seu aniversário. O que ele fez para convidar tanto ódio?”
Nadia: “Após uma cena tão chocante… convidados para o Palácio tem sido escassos.”
Desvio o olhar do retrato, bem na hora de encontrar o olhar ansioso da Condessa.
Nadia: “Mas agora que você está aqui…”
Agora que estou aqui…? Ela diz isso com tanta gravidade, tanta confiança.
Aidan: “Condessa, o que tudo isso tem a ver comigo?”
Nadia: “Aidan, o Baile de Máscaras é precisamente porque te chamei aqui.”
Nadia: “Esse ano, minha intenção é realizar o Baile de Máscaras mais uma vez.”
Eu a encaro. Assim como todos os criados da sala. Como… por que…?
Nadia: “As festividades em honra de Lucio serão mais fanáticas–perdão, fantásticas que nunca.”
Nadia: “Há apenas uma ponta solta precisando ser atada.”
Nadia: “O assassino do Conde Lucio ainda corre livre, até hoje.”
Nadia: “Doutor Julian Devorak, o antigo médico de meu marido.”
Sento bem quieta, de repente sentido um frio pelo corpo inteiro.
Doutor Julian Devorak… agora me lembro do nome nos cartazes de procurado.
Agora sei exatamente quem invadiu minha loja.
Nadia: “Doutor Devorak confessou o crime quando pegamos ele. Tudo o que resta é a sentença.”
Nadia: “Execução por enforcamento.”
Algo quebra horrivelmente.
O rosto de Portia está devastado por horror.
Aos seus pés, os restos quebrados do Ganso Dourado encharcando o chão.
Nadia: “Portia?”
Portia: “P-perdoe-me, milady. Mãos escorregadias.”
Nadia: “Está perdoada.”
Dois criados se apressam para ajudá-la, varrendo a confusão de cacos tão velozes quanto o vento.
Nadia: “É aí que você entra, Aidan. Doutor Devorak tem sido muito evasivo.”
Nadia: “Mas você tem uma reputação e tanto. Há boatos de que já superou até seu Mestre Asra.”
Nadia: “Eu mesma vejo o futuro, em sonhos, gostando ou não.”
Nadia: “E é assim que sei que você é a pessoa que encontrará o Doutor Devorak…”
“E… se o encontrarmos?” ←
“E… se eu disser não?”
Aidan: “E… se o encontrarmos?”
A Condessa coloca sua taça na mesa.
Nadia: “Quando o encontrarmos, vamos trazê-lo diante das pessoas para que todos possam ver sua tão aguardada punição.”
Nadia: “E então, para começar as festividades…”
Nadia: “O doutor morrerá na forca pelo seu terrível crime.”
A Condessa levanta. Por instinto, também levanto.
Nadia: “Portia.”
Nadia: “... Portia.”
Portia: “Sim, milady!”
Nadia: “Mostre a Aidan o quarto de hóspedes. Imagino que tenha muito a ponderar antes do fim da noite.”
Portia: “Agora mesmo, milady.”
Portia me puxa em pé, e com uma humilde reverência, me leva para a porta.
Portia está quieta enquanto me conduz corredor adentro até meu quarto.
Após algumas voltas, passamos por uma escadaria larga, velada em sombras.
Uma corrente de ar desce pela porta de cima, fazendo minha pele formigar. É fria, e cheira à cinzas.
Encolhidos no pé da escada está dois grandes cachorros esguios.
Olhos abismais fixam em mim, e eles levantam devagar, sem fazer barulho.
Mesmo que pareçam que podem atacar a qualquer momento, não sinto nenhuma má intenção.
Eu estendo a mão, e eles se aproximam para cheirá-la.
A respiração ofegante deles faz cócegas na minha pele, e suas caudas começam a balançar.
Portia: “Bom, isso é bizarro. Eles nunca gostaram de estranhos.”
Portia: “É só que foram treinados assim, mas… Eu nunca vi eles agindo assim.”
Focinhos finos roçam em cada lado de meu corpo enquanto os cachorros me investigam mais fundo.
Satisfeitos, eles se afastam, me olhando com expectativa.
Fazer carinho ←
Dar espaço para eles.
Sem pensar, eu levanto a mão para tocar no pelo sedoso do cachorro menor.
Portia: “Não faria isso se fosse você!”
O cachorro recua. Se foi pela minha mão ou pelo tom de pânico de Portia, não tenho certeza.
Portia: “Desculpa. Eles podem ser um pouco imprevisíveis.”
Portia: “Eles parecem gostar de você, mas prefiro que continue com sua mão.”
Os cães trotam obedientemente de volta para seus lugares. Eles quase desaparecem no mármore.
Portia: “Oh! Não é à toa que estão assim, eles ainda não comeram seus bolos de camomila!”
Ela olha nervosamente de mim para os cachorros, que estão parados como estátuas.
Portia: “Espere aqui, Aidan. E é provavelmente melhor manter distância deles.”
Portia: “Volto já, já com aqueles bolos.”
Portia voa por um painel deslizante na parede. Eu me vejo sozinha no corredor com os cachorros.
Sinto o cachorro maior fungar meu lado com insistência. Quando olho para baixo, ele simplesmente recua e me encara.
Então, o cachorro menor está cheirando meu outro lado, fungando amostras do meu cheiro. Eu me viro…
E ele senta em seu traseiro, me olhando inocentemente. Atrevidos.
Enquanto olho seu único olho vermelho sangue, uma sensação inquietante ondula pelo meu corpo como uma onda de febre.
Voz: “Um convidado?”
Dou um passo para trás, meu olhar percorrendo o corredor de cima a baixo.
A voz vinha… do topo da escadaria. Só consigo ver até certo ponto na escuridão oca.
Mas não tem ninguém lá. Eu quase dou um pulo quando sinto um puxão em minhas roupas.
Os cachorros. Seus dentes enterrados em minhas roupas, incessantes enquanto me arrastam para as escadas.
Tropeço nos primeiros degraus e seus rabos começam a sacudir.
Aidan: “Ei!”
Tento me libertar, mas os dois cachorros puxam com teimosia.
Os cachorros só me soltam no topo da escadaria.
O chão e paredes são de pedra frígida, e o ar cheira a cinzas.
Minha cabeça está girando, e eu mal sinto o frio no ar.
Mesmo que meu coração esteja martelando, eu invoco uma luz fraca em minha palma.
Olho para os cachorros, mas eles não estão em lugar nenhum.
Há uma porta mais a frente, parcialmente aberta. Lá dentro, uma escuridão profunda engole os fracos raios de luz.
Entrar no quarto. ←
Dar meia volta.
A mágica na minha palma encolhe para um brilhinho esvoaçante quando piso através da moldura da porta.
Vindo do corredor, é quente aqui dentro. O ar espesso tem um gosto forte e apimentado.
Uma cama fortemente coberta se estica pelo meio do quarto.
Eu passo por uma extravagante armadura, uma escrivaninha de mármore com uma caneta de pena de pavão branca…
… tudo coberto com cinzas.
Minha luz treme sobre um retrato na parede, duas vezes meu tamanho.
Minha luz opaca se estica pela tela.
Embora seja difícil de ver, não tenho dúvidas de quem é o sujeito na pintura.
Conde Lucio. Ele parece mais jovem do que eu esperava, ou o retrato é velho.
Ou talvez o artista estava atendendo a vaidade dele.
O vermelho de seu casaco é o tom cardinal da pintura da sala de jantar.
O braço dourado, uma maravilha da arte da alquimia.
A pele pendurada em seus ombros arrogantes parece impossivelmente refinada, e…
Voz: “Vai lá. Toca.”
Um miasma de ar ardente e espesso empurra minha mão para o retrato.
Mas não sinto nada que não sejam cinzas e uma tela.
Escuto uma risadinha em minha cabeça, enquanto uma névoa cobre minha mente.
Voz: “Nada como o de verdade… vendo, incapaz de sentir.”
Voz: “Que doce tortura…”
Calor como brasa irradia na base do meu pescoço.
A magia na minha palma reage, seu brilho se estendendo pelos meus dedos e descendo o meu pulso.
Voz: “Ahhh…”
As sensações estranhas diminuem, e a voz fica mais fraca, até melancólica.
Voz: “Aí, na sua energia… ohh, é ele.”
Voz: “Você seria…?”
A névoa desaparece de minha mente. Eu me afasto do retrato.
Algo macio se encontra com as costas de meus joelhos, e caio por dobras de veludo empoeirado na gigantesca cama.
Grandes plumas de cinzas ondulam ao meu redor quando minhas costas batem nas cobertas.
Essa é a cama do Conde Lucio… bem onde ele foi assassinado. Incinerado.
Então toda essa fina cinza em meus olhos, em meu nariz e boca e por todo meu corpo… é o que restou dele.
Tapo minha boca, abafando um grito enquanto me esforço a levantar.
Voz: “Indo tão cedo? Você não tem graça.”
Essa voz… ela ecoa por todos os cantos do quarto, e por dentro da minha mente.
“Quem é você?”
“O que você quer?” ←
Aidan: “O que você quer?”
A risada se torna mais aguda, e eu sinto um calor passar por minhas orelhas, se concentrando atrás de mim.
Voz: “O que eu QUERO?”
A última palavra termina num rosnado. Eu congelo, e tenho a sensação que algo tenta alcançar minhas costas.
Então ele recua. A temperatura desce abruptamente, e minha respiração acelerada se torna uma fina neblina.
Não ouso olhar, mas escuto algo se movendo em direção ao retrato.
Voz: “Correntes de ouro, mas nenhum pescoço… belas, belas peles, mas nenhumas costas…”
Voz: “Nenhum rosto perfeito para sufocar de beijos… então não quero nada.”
A voz divaga. O quarto parece normal mais uma vez.
Me atropelo para levantar e me apresso até a porta.
Partindo para uma corrida, continuo a descer pelo corredor, procurando por uma saída na vaga escuridão.
Os retratos nas paredes me observam correndo com frios olhares aristocráticos.
Voz: “Volte… volte…”
Contra qualquer bom senso, eu paro e me viro.
Só o vejo por um momento. Uma silhueta, nítida contra uma parede de janelas altas foscas de fumaça.
Garras, chifres, e cascos como ônix.
A cara branca de um bode, com olhos vermelhos fixados alegremente em mim.
Pisquei, e ele sumiu.
Ouço algo se movendo com dificuldade, o ranger de uma porta, e então… silêncio.
Quando cambaleio até o fim das escadas, desorientada, Portia está procurando por mim.
Portia: “Aí está você!”
Ela observa a fina cinza poeirenta que me cobre dos pés a cabeça.
Portia: “O que… por que está coberta de cinzas? O que aqueles cachorros danados fizeram?”
Ela produz um lencinho de bolso branco e me dá na mão.
Tudo o que consigo fazer é tontamente acenar a cabeça como agradecimento enquanto tiro o pó de mim mesma.
Sinto minha mente embaçada, sofrendo para fazer sentido das sombras que vi, dos cochichos que ouvi…
Portia me pega gentilmente pelo cotovelo, me ajudando a me livrar das últimas cinzas.
Portia: “Sabe, vou só deixar esses bolos bem aqui. Vamos te levar para cama.”
Eu sigo os passos de Portia até chegarmos ao nosso destino.
Felizmente, não é tão longe. Ela abre a porta com um largo gesto.
Portia: “Esses serão seus aposentos, Aidan.”
Portia: “Pode colocar suas coisas onde quiser. O café da manhã é ao amanhecer… Eu te acordo.”
Minha fatiga deve ser facilmente vista. Deixo minha bolsa cair ao chão.
Vendo os lençóis lisos, eu tremo de exaustão.
Portia: “Você parece pronta para apagar. Vou te deixar em paz.”
Portia: “Durma bem, Aidan.”
A voz suave dela divaga, e ela desliza gentilmente a porta até fechar.
De uma só vez, me enterro nos lençóis luxuosos. Eu me sinto como se fosse leve.
Com o coração batendo no ritmo firme dos cada vez mais distantes passos de Portia, me afundo em inconsciência.
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mirutxt · 7 months ago
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The Arcana | prólogo | II - A SACERDOTISA
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Já vi muita coisa esquisita no meu tempo como aprendiz de mago…
Mas os eventos desta noite foram os mais esquisitos até agora.
Buscando um momento de descanso, subo as escadas para deitar…
… e sumo, perdida num sonho.
O céu é nada mais que uma fina linha verde ao longo do horizonte imensurável.
Asra está sentado atrás de mim, nas costas de uma besta estranha.
Aidan: “Mestre, onde estamos?”
Nuvens escuras pesam ao redor da paisagem, um mar que alterna cores de areia enferrujada.
Mais a frente tem uma estrada de pedra perfeitamente preta.
Asra: “Longe o suficiente de casa, eu acho.”
Aidan: “Longe o suficiente… para quê?”
Asra: “Respostas. Clareza. E preciso delas logo.”
Asra: “Uma tempestade se aproxima.”
Ele olha para o longe, sua voz diminuindo para um sussurro saudoso.
Me esforço para ver onde o caminho leva, mas ele continua mudando.
Asra: “Logo terá uma encruzilhada.”
Aidan: “Logo quando? Para onde eles levam?”
Asra: “Depende de qual pegar.”
A mão dele vem em direção a minha, mas para quando chega perto.
Areia sobe ao nosso redor com o vento frio, borrando os céus.
Asra: “Por enquanto, Aidan… descanse.”
Caio num sono sem sonhos.
Quando acordo, a luz do amanhecer é filtrada pelas janelas empoeiradas.
Passo as primeiras horas do dia preparando minhas coisas, criando sombras nas paredes.
Vou encontrar a Condessa no Palácio, para algum propósito desconhecido.
Coloco um manto de viagem e me apresso para sair, arrastando a pesada porta atrás de mim.
Depois da invasão de noite passada… Giro a primeira fechadura, e então a segunda e a terceira.
Quase satisfeita, coloco minha mão na porta e sussurro um feitiço de não-me-passe.
Espirais brancas brilham por dentro da porta, desaparecendo por entre as ranhuras devagar.
Já estou de saída quando os cabelos da minha nuca sobem em alerta.
Alguém está… aqui do meu lado, uma forma escura crescendo no beco.
É uma forma humana de certeza, mas enorme em tamanho.
Sua pele é marcada por cicatrizes, limpas e irregulares, rasas e fundas.
Envolvida numa pilha de pelos maltratados pelo tempo, é difícil enxergar um rosto…
Mas está definitivamente me observando.
A pessoa permanece entre mim e a estrada para o Palácio.
Passar reto. ←
“Pode sair da frente?”
Dou um passo para frente, olhando a figura cuidadosamente.
Olhos verdes tempestuosos seguem meus movimentos quando adentro o beco, mas o estranho não se mexe.
Uma voz como um trovão distante ressoa por baixo do manto.
??????: “Você está correndo um grave perigo.”
O cheiro terroso de mirra me invade, e eu paro no caminho.
??????: “Ele retornará, sem ser convidado.”
??????: “Ele vai te oferecer um presente, quando mais precisar…”
??????: “Não aceite. Ou cairá na mão dele…”
??????: “Assim como o resto de nós.”
Eu pisco, tentando processar o que acabei de ouvir.
Ouço barulho atrás de mim, o arrastar de tecido pesado e correntes.
E então, silencio.
Olho de cima a baixo no beco enevoado.
Saí da loja, e aí… não tinha alguém aqui agora?
Me livro do pensamento que já sumia. Não posso perder tempo; a Condessa me espera.
Exalando profundamente, eu continuo em direção aos estreitos degraus com musgo para o mercado.
Ainda é cedo, e o mercado já está bem animado.
Ao meu redor ouço trocas, risadas, ambulantes vendendo seus produtos.
Uma voz bem conhecida me chama por cima do mar de barulho.
Padeiro: “Aidan! Já comeu?”
Padeiro: “Tô com aquele pão de abóbora que você gosta no forno. Não vai demorar muito.”
Padeiro: “Vem, senta, conversa um pouquinho!”
Eu cheiro o ar, e meu estômago torce de fome.
Mesmo assim, devo ter cuidado com a hora…
Ficar para o pão. ←
Sair.
O rosto salpicado de sol do padeiro se ilumina com um grande sorriso.
Ele me guia até um estande, e um quente cheiro picante me cerca.
Quando me sento com as costas para parede, ele me oferece uma caneca de alumínio soltando vapor.
Padeiro: “E onde está Asra? Dormindo até tarde?”
Dou um gole na minha bebida quente e mentolada.
Aidan: “Ele está numa jornada.”
Padeiro: “Ahh, e onde ele foi desta vez?”
Dou de ombros. O padeiro me olha estranho.
Padeiro: “Ele não te contou?”
Abaixo o olhar para minha caneca, observando o vapor girar e retorcer enquanto sobe.
Aidan: “Ele estava agindo… estranho.”
O padeiro suspira, cruzando os braços por cima de seu peito.
Padeiro: “Então, ele saiu numa jornada misteriosa. Nada de novo.”
Padeiro: “Mas e a sua jornada misteriosa, posso saber?”
Acordando de meu devaneio, eu pisco enquanto o observo, espantada.
Padeiro: “Tiveram cochichos a manhã toda, sabe!”
Padeiro: “Disseram que a acompanhante da Condessa chegou na vizinhança por volta do amanhecer.”
Ele me dá uma olhada eloquente, claramente tentando pescar uma fofoca.
Mas eu sorrio e balanço a cabeça, terminando minha bebida num gole.
Aidan: “E aquele pão, como vai?”
Padeiro: “Tsc. Misteriosos como sempre, você e o Asra.”
O padeiro vai até o pequeno forno de madeirar para checar.
Padeiro: “Aqui, todo embaladinho para viagem.”
Coloco uma moeda na mesa e devolvo minha caneca vazia.
Padeiro: “Agora, vai lá!”
Padeiro: “Não deixe a Condessa esperando!”
Dou um aceno com as costas da mão e volto para o fluxo do tráfego.
Enquanto subo os degraus desgastados, algo me chama atenção.
Uma tenda de cartomante, escondida no canto recluso.
Que nostálgico… Asra já teve um espaço assim como esse.
Enquanto estou perdida em pensamentos, um cliente emerge da tenda.
??????: “Números da sorte, confere. Mercearias–”
Não noto que a pessoa está vindo em minha direção até nos batermos.
??????: “Ack!”
O impacto me faz cambalear, quase caindo da beira de um degrau.
Também perturba o balanço da cesta no quadril da pessoa desconhecida…
… o que faz dezenas de romãs rolarem pela escada.
??????: “Ô, perfeito! Como se já não estivesse atrasada…”
Ajudar. ←
Fazer drama.
Me agacho perto da desconhecida para ajudar.
Vejo uma romã prestes a ser esmagada por um casco alheio e a salvo no último segundo.
Quando a devolvo para a desconhecida, seus olhos brilham de emoção.
??????: “Ooh, obrigada! Que gentil da sua parte ajudar.”
??????: “E depois de eu te trombar ainda.”
Juntas, caçamos o resto das romãs. Elas estão um pouco machucadas, mas não em mau estado.
??????: “Bom, não consigo te agradecer o suficiente!”
Ela me oferece a mão. A pele se sua sucinta palma é áspera contra a minha, calejada.
??????: “Provavelmente não deveria, mas…”
A esfregando numa manga, a pessoa me oferece uma fruta da cesta.
Quando aceito, a estranha sorri de um jeito que aquece meu peito.
??????: “Se cuida, tá? Te vejo por aí–”
Seus olhos arregalam quando ela me observa melhor.
??????: “Espera, espera, espera aí! Eu te conheço!”
Aidan: “Er…”
Estou perdida. Não tenho ideia de quem essa pessoa é.
??????: “Você é Aidan, a maga. A Condessa Nadia disse para nós te esperarmos.”
Nós?
Portia: “Pode me chamar de Portia. Eu sou a chefe dos criados da milady.”
Oh. Todas as peças se encaixam. As romãs eram para o Palácio.
E o nome da Portia soa familiar. Acho que já ouvi falar dela, por fofocas no mercado.
Portia: “Que sorte, né?”
Portia: “Vamos. Vou te mostrar o caminho mais rápido para o Palácio.”
Enquanto o sol faz sua jornada pelo céu, Portia e eu subimos degrau por aparentemente infinito degrau.
Quanto mais alto subimos, menor a quantidade de viajantes encontramos pelo caminho.
Quando chegamos ao topo, mal consigo andar.
Entretanto, Portia parece energética como sempre. Ela pausa para me deixar recuperar o fôlego.
Portia: “Aidan… Tô feliz que está aqui.”
Portia: “A Condessa poderia contar com uma boa ajuda.”
Portia: “E você parece ser boa para mim.”
Quando chegamos no Palácio, é quase noite.
Na minha frente há um enorme portão de ferro retorcido.
Atrás dele, o Palácio ascende num turbilhão de torres cintilantes.
Dois guardas em pé de cada lado do portão. Seus olhos me espiam por trás de seus capacetes.
Mas eles abaixam as armas quando veem Portia comigo.
Portia: “Ludovico, Bludmila, essa é Aidan. Ela permanecerá como nossa convidada.”
Portia: “Aidan, Ludovico e Bludmila.”
Os guardas acenam com a cabeça para mim, suas posturas rígidas relaxam um pouco.
Em união, eles empurram o pesado portão de ferro.
Portia: “Depois de você, Aidan.”
Os portões fecham atrás de mim, e não tem mais volta.
Portia me guia por uma longa ponte íngreme.
Um tipo de enguia dá voltas pelas águas correntes abaixo, brilhando como um fantasma sem sangue.
Portia puxa de leve meu braço, me dirigindo para longe da beira da ponte.
Portia: “Vamos. Não queremos deixar a milady à espera.”
Enquanto nos aproximamos das complexas portas, a ansiedade começa a subir como bolhas em plena fervura dentro de mim.
Isso é prudente? O que me espera, nessa fortaleza tão longe de casa?
Cedo demais, estamos de frente para as portas.
Portia: “Aqui estamos!”
Ela balança o punho contra a chapa de cobre, três vezes de estremecer o cérebro.
Com a última batida ecoando, as portas pendulares oscilam para dentro…
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mirutxt · 7 months ago
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The Arcana | prólogo | I - O MAGO
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Meu nome é Aidan. Sou um estudante das artes mágicas.
Moro e treino na cidade de Vesuvia.
Esta noite, a névoa do fim da tarde é espessa, cobrindo a rua num etéreo brilho turvo.
Protelo na janela para apreciar a cena tranquila, antes de fechar as cortinas.
Asra: “Vou sentir sua falta.”
Meu mestre Asra, o cartomante. Não sei nada sobre seu passado.
Ainda assim, ele me ensinou tudo o que sei sobre magia.
Aidan: “Precisa ir hoje à noite?”
Asra: “É a calada de uma noite sem lua.”
Asra: “A hora perfeita para o começo de uma jornada.”
Os olhos dele brilham na luz fraca da lamparina.
Asra: “Aqui… toma.”
Asra: “Para você brincar enquanto estou fora.”
Um presente? Que incomum.
Asra: “Meu baralho de tarô.”
Essa é a última coisa que eu esperava ele me dar.
O baralho de tarô é uma criação do próprio Asra, embutido com um grande poder.
“Acha que estou pronta, Mestre?” ←
“Acha que eu quero seu baralho bizarro?”
Aidan: “Acha que estou pronta, Mestre?”
Asra: “Você continua me chamando assim…”
Asra: “Sabe que não posso te responder isso.”
Asra: “Você fez um progresso incrível, mas ainda não se livrou das incertezas.”
Asra: “Você acha que você está pronta?”
“Por que não perguntamos às cartas?” ←
“Por que nunca responde minhas perguntas?”
Aidan: “Por que não perguntamos às cartas?”
Asra: “Excelente sugestão.”
Alguns raios de luz das estrelas espreitam pelas cortinas translúcidas.
Asra: “Faz um tempo desde que praticamos.”
“Porque já me aperfeiçoei?”
“Porque está sempre fora de casa?” ←
Aidan: “Porque está sempre fora de casa?”
Asra: “Talvez.”
Asra: “Algum dia você vai encontrar um professor de verdade…”
Asra: “Bem, estou aqui agora.”
Asra: “Vamos ver o quão poderosa você se tornou.”
Ele sempre está falando sobre como sou poderosa e talentosa…
Sua confiança me motiva, mas não sei de onde vem.
Quando sentamos, algo passa no meu tornozelo, liso e frio.
Asra: “Oh?”
Ele se abaixa de sua cadeira e estende a mão.
Uma serpente longa e roxa se enrola pelo seu braço. Ela chicoteia a língua para mim.
É Faust, a familiar do Asra. Ela está contente em me ver, eu acho.
Asra: “Se estamos todos aqui… vamos começar.”
Eu embaralho o baralho. Seu olhar seguindo as cartas quando deslizam pelos meus dedos.
Aidan: “... A Sacerdotisa.”
Asra se inclina mais perto, com expectativa.
Asra: “E o que ela te diz? Ela está falando contigo agora?”
Quando as cartas falam comigo, não é em nenhuma língua humana.
Contudo, quando minha mente está limpa, a resposta até mim.
Aidan: “Você a abandonou.”
Asra: “Abandonei?”
Aidan: “Sim. Você a afastou, e ocultou sua voz.”
Asra franze a testa, mas não diz nada, querendo que eu continue.
Aidan: “Ela chama, mas você não escuta.”
Aidan: “Mestre, se você a ignorar…”
Uma batida forte assusta nós três.
Um cliente? A essa hora?
Asra: “Esquecemos de apagar a lanterna de novo?”
Asra: “Bem a tempo, não posso ficar mais nem um momento.”
Asra pega suas coisas para sair.
Me pergunto aonde irá desta vez, e o que trará de volta…
Mas eu sei bem que não devo perguntar. Ele nunca responde.
Asra: “Bom, então… se cuida, Aidan.”
Ele ainda tem algo a dizer, mas não diz.
Asra: “Até a próxima.”
Ele parte as cortinas silenciosamente e sai pela porta dos fundos.
Asra mal saiu quando o visitante misterioso bate na porta novamente.
Impaciente, pelo que parece.
Trancar a porta.
Abrir a porta. ←
Eu abro a porta.
A figura entra e começa a desenrolar o xale de seu pescoço.
?????: “Me perdoe pela hora… mas não sofrerei outra noite sem dormir.”
O tecido elegante escorrega, revelando o rosto do visitante.
Ao vê-la, meu coração pula para fora.
A Condessa Nadia! Aqui em minha loja, no meio da noite…
Nadia: “Por favor, você precisa ler as cartas para mim.”
“Veio ao lugar certo!” ←
“Veio ao lugar errado!”
Aidan: “Veio ao lugar certo!”
A Condessa relaxa nem que fosse um pouco, seu olhar circulando pela loja.
Nadia: “É o que dizem. Sua reputação te precede.”
Nadia: “Mendigos e nobres… as pessoas dessa cidade sussurram seu nome maravilhadas.”
Nadia: “Apesar de que em meus sonhos você era… diferente.”
Nadia: “Não importa. Eu venho com uma proposta.”
“Sonho?”
“Proposta”? ←
Aidan: “Que proposta é essa?”
Nadia: “Nervosa, será? Não fique. Eu necessito muito pouco de você.”
Nadia: “Venha ao Palácio, e seja minha convidada por um breve período.”
Nadia: “Você receberá todo o luxo, claro.”
Nadia: “Só peço que traga suas habilidades… e a arcana.”
A arcana… ela deve estar falando do baralho de tarô do Asra.
Nadia: “Vou alertar os guardas para esperar você amanhã.”
Nadia: “Mas antes disso…”
Nadia: “Quero ver esses talentos seus por mim mesma. Vamos fazer uma leitura?”
Sob seu olhar autoritário, eu a conduzo para o humilde quarto dos fundos.
A Condessa senta de frente para mim.
Seu olhar percorre o espaço limitado antes de permanecer nas cartas sobre a mesa entre nós.
Enquanto embaralho as cartas, ela cruza as mãos em sua frente e fecha os olhos.
Aidan: “... O Mago.”
Ela abaixa o olhar para a carta, estudando seu rosto.
Nadia: “Que apropriado. E o que o Mago reserva para mim?”
Minha mente está limpa. A resposta vem para mim facilmente como sempre.
Aidan: “Você tem um plano.”
Aidan: “Um que é importante para você.”
Nadia: “E? Devo colocá-lo em prática?”
Os olhos dela me perfuram, cintilando como brilhantes na luz da lamparina.
Aidan: “Sim. Agora é a hora de agir. Tudo está em seu devido lugar.”
Nadia: “Não diga mais nada.”
Bruscamente, ela levanta, dando uma última olhada para a carta.
Ela abre as cortinas, caminhando de volta para a loja.
Nadia: “Suas sortes são diretas. Praticamente igual as outras que ouvi.”
Nadia: “E, ainda assim… você é a primeira a despertar meu interesse.”
A Condessa atravessa até a porta da frente, enrolando o xale ao redor de seu rosto.
Nadia: “Ahem.”
Abrir a porta. ←
Não se mexer.
Eu quase tropeço na minha pressa para abrir a porta.
A Condessa meramente parece se divertir.
Nadia: “Te vejo amanhã, então, no Palácio. Bons sonhos.”
Com isso, ela passa por mim e sai noite adentro.
Por um momento, fico congelada, encarado sua figura bem depois de já ter desaparecido na neblina.
O que a Condessa de Vesuvia ia querer comigo, uma mera aprendiz?
Toda aquela conversa sobre minha reputação…
Será que ela me confundiu com o Asra?
Ainda estou pensando sobre isto quando escuto uma áspera voz abafada.
?????: “Hora estranha para uma loja aberta.”
Quem disse isso?
Meu olhar percorre ao redor da loja, caçando sombras no escuro.
?????: “... Atrás de você.”
Decerto, quando me viro, vejo uma figura iminente contra a porta.
?????: “Então aqui é a toca da bruxa.”
?????: “E… quem seria você?”
Meu coração começa a acelerar quando o intruso avança.
Negociar. ←
Escapar.
Atacar.
Aidan: “Q-Qu-Quem pergunta?”
Eu consigo dizer algo, o suficiente para fazê-lo parar.
?????: “Eu estou perguntando. Preferia não fazer novamente.”
O ruído de couro me faz tremer enquanto o estranho segura sua máscara e a joga ao chão.
?????: Como suspeitava. Choque. Terror. Sabe quem sou, não é?
Conheço seu rosto. Já vi em pôsteres de procurado pela cidade.
Mas seu nome me foge a memória.
?????: “Não importa. Rápido. Cadê a bruxa?”
Respiro fundo para me acalmar. Parece que ele só quer informações, nada mais.
Aidan: “Mestre Asra saiu. Não sei para onde. Ele nunca me diz.”
?????: “‘Mestre’, é…”
?????: “Ahem. Não vou bisbilhotar nos seus assuntos privados.”
?????: “Mas se você não sabe, e eu não sei…”
?????: “Por que não perguntamos às suas cartas mágicas?”
… Hã?
?????: “É para isso que serve o quartinho dos fundos, não”?
Eu aceno hesitantemente com a cabeça, incerta sobre os motivos por trás de seu pedido estranho.
?????: “Depois de você, então.”
Ele se joga na cadeira de leituras, inclinando-se sobre a mesa.
?????: “Prossiga. Não precisa de timidez.” Aidan: “Eu… Eu não sei seu nome.”
?????: “Meu nome?”
Aidan: “Para sua leitura. Preciso saber seu nome.”
?????: “Oh. Ahem. Certo. Sim, claro…”
Julian: “Pode me chamar de Julian.”
Hesitando, eu me sento, seus olhos monitorando cada movimento que faço.
Assim que a carta é virada, minha mente acelera.
Aidan: “... A Morte.”
A carta sussurra para mim, mas antes que pudesse entender, Julian interrompe.
Julian: “A Morte?”
Julian: “A Morte?”
Ele ri descontroladamente.
Ele vira com as costas para as cartas e eu, levantando os olhos aos céus.
Julian: “A Morte desceu seu olhar neste desgraçado e virou de costas.”
Julian: “Ela não tem interesse numa abominação como eu.”
Ele caminha fora do quarto dos fundos sem olhar para trás.
Banhada de confusão, eu sigo seus passos.
Aidan: “Espera! Não é isso que A Morte significa. É–”
Mas Julian dá um suspiro sincero, balançado a cabeça.
Julian: “Não, não. Meu destino está selado.”
Julian: “Mas você foi acolhedora, então vou te contar um segredo.”
Julian: “Seu amigo bruxa vai voltar por você. Ele te ensinou seus truques.”
Julian: “Pode até se dizer que ele se importa contigo.”
Ele pega sua máscara do chão, encarando seus olhos de vidro vermelhos.
Julian: “Mas quando ele retornar…”
Julian: “Me procure, pelo seu próprio bem. Não deixe ele te enganar, lojista.”
Após me dar uma olhada longa e tensa, ele põe a máscara de volta.
Julian: “Bom. É tarde, e estou sem tempo.”
Com um giro de sua grande capa preta, ele escancara a porta.
Ela bate com força atrás de si enquanto ele desaparece na névoa da manhãzinha.
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