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mistério sempre há de pintar por aí
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"pois meus olhos ficam querendo chorar"
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misepi · 3 years ago
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the girl running
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misepi · 3 years ago
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misepi · 3 years ago
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misepi · 3 years ago
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if you’ve never been sure of anything much and get less so the longer you live
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misepi · 3 years ago
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This is a great cover of Fleet Foxes’ “Drops in the river” that used to be in YouTube. Couldn’t find it, I guess the girl deleted the video and I don’t know her name but this is the best version of the song I have found - it is at least, the one that touches me deepest.
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misepi · 3 years ago
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até breve
     Parece que eu sinto de novo os mesmo medos e as mesmas tristezas de anos atrás. E mais ou menos do mesmo jeitinho.
    Talvez seja de se preocupar eu me ver deprimido e pensar no outro dia sem querer sair da cama. De alguma forma, porém, o que salta é reconfortante. Desde desses anos atrás até talvez essa semana eu me tranquei nalgum porão e a dor é também aquela de quem descobre o dia claro na retina. Eu estou sentindo muito.
    Eu não podia ser amado, não podia ser feliz, não podia fazer bem. Podia causar dor, podia abandonar, podia fazer sofrer. Não podia sofrer, porém. Tinha pavor de ser vulnerável, horror a ser frágil e era inconcebível que eu tivesse medo da solidão. Era esse quasímodo medonho, criatura do demônio, trancado com seu sino… No porão. É esperançoso, portanto, que eu esteja aqui, agora, sendo abertamente um homem lamentável.
    É engraçado que é preciso chegar nesse lugar para que as mãos e os deuses não sejam de mentira.
    A solidão é terrivelmente patética, aterradoramente patética. E infelizmente, quase nunca se tem a coragem necessária para entrar no banheiro e encarar, no próprio espelho, a pifiedade de ser. Mas é preciso. É preciso se ver fraco, devagar, sem cor e sem graça para ser capaz de encontrar o afeto e crer no milagre.
    Ontem à noite, me vi só. Tão desesperadamente só que era incapaz de erguer a cabeça. Sem os óculos, chamei a maior amiga e disse:
– Estou  me sentindo assim, assim, assim…
Encontrei as mãos do afeto.
    O heróico é ser capaz de abrir o peito e mostrar a ferida sem perder a fé de que pode ser amado. É preciso.
    É preciso abandonar o porão,     sentir a dor     nos olhos invadidos     pela luz do sol.      E se afogar.      Na calçada 
    Porque o mistério está por aí, pintado na calçada.
(Ramon)
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misepi · 3 years ago
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quem me ensinou a nadar
Quando eu comecei a parar de comer carne no começo desse ano, eu comecei, logo de cara, com uma exceção aberta. Eu continuaria comendo o peixe da minha mãe.
Minha mãe foi criada nessa vila chamada Acupe, uma comunidade pesqueira que nasceu entre três engenhos escravistas da região. Dizem que Acupe nunca foi mesmo um quilombo, mas um onde alguns pretos libertos escolheram lugar pra estabelecer a vida. O nome é indígena, “terra quente” ou “rio quente”, dizem, mas, não por acaso, essa é a parte que eu sei menos. Como muita gente em Acupe, meu avô era pescador. Minha mãe começou a trabalhar muito cedo e o primeiro emprego dela foi vender, na feira, com a minha avó, o peixe que meu avô pescava. Não à toa, minha mãe gosta muito de peixe… Gosta a ponto disso ser um traço definitivo da existência dela! Minha mãe é uma pessoa que come peixe.
E o peixe que a minha mãe faz foi sempre muito especial! Eu sempre gostei muito mais do peixe dela do que qualquer outro, tanto, que durante boa parte da vida eu me recusava a comer peixe fora de casa, já que eram todos ruins. Junto disso, meus avós morreram muito antes de eu nascer e, portanto, eu não conheci nenhum dos dois. Daí, quando eu quis parar com a carne, eu não quis parar com o peixe da minha mãe porque ele é essa ligação, quase única, que eu tinha com os meus avós. O peixe da minha mãe é esse contato, pela boca, com a minha ancestralidade e não tem causa ou racionalização que vá me fazer abdicar disso.
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Hoje, eu fui nessa vilazinha pesqueira, aqui perto da casa do meu tio Hélio, no Rio de Janeiro. Fomos meu tio, a esposa dele, minha mãe e eu, porque meu tio queria muito levar minha mãe nesse lugar que, pra ele, parece muito com Acupe. E parece mesmo. Na foto, está meu tio interrompendo a minha mãe, que está limpando o peixe, com um palpite. Ela está tratando um bagre, na beira do mar (ou da máre, como eles falam), que ela ia usar na moqueca de mais tarde.
Um tanto por acaso, quando nós voltamos pra casa do meu tio, eu quis fazer um negócio na rua e minha mãe veio comigo. Meu tio, então, achou melhor adiantar a janta e decidiu ele mesmo fazer a moqueca. “Eu também entendo desse negócio, Ramon”, ele falou. Acabei de comer a moqueca e foi… impressionante. Comi até me empanturrar… Tenho evitado muito fazer isso, de um jeito que nem lembro da última vez que comi assim, mas estava tão gostosa! Gostosa igual a da minha mãe… Deu pra ver, pela boca, que eles dois aprenderam de moqueca no mesmo lugar, que meu tio entende desse negócio como a minha mãe entende desse negócio.
Eu subi pro meu quarto depois de comer pra dormir, porque dormi muito pouco essa noite. Fiquei, ontem, conversano com os meus primos até muito tarde e tive que estar de pé muito cedo para poder ir até a tal vilazinha que parece Acupe. Enquanto eu escovava os dentes pra poder deitar, eu lembrei de uma amiga que contou de ir na casa do orientador dela almoçar um dia desses: “ele fez uma moqueca”, ela disse. Na hora que ela me contou, eu lembro de duvidar muito que ele pudesse fazer uma moqueca. Ela, porém, jurou que estava boa. Enquanto eu comia a moqueca do meu tio, que é a moqueca da minha mãe, do meu avô, da minha avó, da minha família, eu tive certeza: “não tem como ele fazer uma moqueca dessa, ele só não tem como entender desse negócio”. Foi quando começou a tocar na minha cabeça:
“eu não sou daqui
(marinheiro só)
eu não tenho amor
(marinheiro só)
eu sou da Bahia
(marinheiro só)
de São Salvador”
Deitei na cama e chorei.
(Ramon)
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misepi · 3 years ago
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note to self
the next time you feel like shit, just completely
terrible, a wreck, a fraud a piece of trash
remember you will eventually again feel
the way you are
feeling right now
(ramon)
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misepi · 3 years ago
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misepi · 3 years ago
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sad and fulfilling
Eu não tenho nada melhor pra fazer, a não ser escrever.
Eu tô bem cansado.
Acho que tô um pouco sozinho também, mas não ligando.
E nem é muito sozinho, é só um pouco.
É muito esquisito isso tudo, o mundo é todo quebrado e eu insisto
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misepi · 3 years ago
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do medo de estar só e da vontade de confessar
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Quando a gente olha pra sombra, o que é que a gente vê? Eu ainda não entendi, mas acho que é sobre a falta que a presença cria. Meu amigo vinha me avisando que era preciso aceitar as sombras, e eu não estava querendo entender. A falta que a presença cria. Todo dia é difícil e tem sempre o medo de estar só. Mas tem que acreditar, né? E o que que faz com a vontade de confessar? Transforma em movimento e mudança. A falta que a presença cria. Demorou tanto tempo e parece que eu tive que vir tão longe pra conseguir chorar.
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misepi · 6 years ago
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Raumschöpfer
I am a creator.
Bumi told Aang that earthbending is all about dominating neutral jing.
      "I don't understand. Why didn't you free yourself? Why did you surrender when Omashu was invaded? What's the matter with you, Bumi?"
      "Listen to me, Aang. There are options in fighting, called jing. It's a choice of how you direct your energy ..."
      "I know! There's positive jing when you're attacking, and negative jing when you're retreating!"
      "... and neutral jing when you do nothing!"
      "There are three jings?"
      "Well, technically, there are eighty-five, but let's just focus on the third. Neutral jing is the key to earthbending. It involves listening and waiting for the right moment to strike."
      "That's why you surrendered, isn't it?"
      "Yes, and it's why I can't leave now."
      "I guess I need to find someone else to teach me earthbending."
      "Your teacher will be someone who has mastered neutral jing. You need to find someone who waits and listens before striking."
Maybe because I see myself as a fire person, neutral jing appears to me to be the most difficult of the three to dominate. How do you know the difference between listening and wait for the right moment to strike and simply being carried by the circumstances? How do I know I will not just end up living a life I didn’t want to, I didn’t planned to, I didn’t put an effort to, a life that just happened to me? “What am I doing of my life?” I caught myself asking so many times lately… “I don’t know”, the answer kept coming, so I kept asking. Then people would come and ask me “How is life? How is work?” and the best I could answer was “It’s ok! It appears to me that I could be doing something I like more, but at the same time, I don’t know what is this thing I like more… So I am going through!”. I think this transformation from anxiously and repeatedly asking “what am I doing?” to this pause, this calm, this “going through” was me turning from the fear of living a life I didn’t choose to the neutral jing.
This is a text about illness and turning 25. I am 25.
A coisa estranha sobre ficar doente é, além de todos os sintomas horríveis que fazem parecer que seu corpo se revoltou contra você mesmo, é claro, o tempo. Me parece que vários dilemas do tempo que a gente vive hoje se encontram quando eu fico doente. Eu devia sarar logo pra ir pro trabalho? Eu devia trabalhar doente? Se eu for ao médico e ele só me receitar um monte de antibiótico como primeiro instinto, como fizeram da última vez, pra eu sarar tão logo quanto possível, não é exatamente isso que tem de errado com o mundo? Digo, além de a gente estar construindo aquela crise das super-bactérias que vão ser imortais a qualquer antibiótico, isso não é a nossa insistência em não respeitar os movimentos da natureza, os ritmos do corpo, em “usar o tempo como recurso”, como o Renato disse outro dia? Honestamente, devo dizer que eu não odeio ficar doente. Principalmente depois que eu comecei a trabalhar, estar doente é um tipo de descanso, uma improdutividade forçada no meio da forçada aparência de produtividade que parece reger o mundo e o meu dia a dia. É um sinal que o mundo aceita (o meu mundo, né?, nas minhas condições bem específicas de bastante privilégio) de que às vezes tem que parar mesmo, lembrança de que a vida é corpórea e não só serviço e informação, que a gente não é só mente num vazo de carne.
Ao mesmo tempo, dessa vez eu fiquei mal durante dias! Até semana passada, eu não lembrava a última vez que eu tinha tido febre, dessa vez eu tive febre por três dias seguidos… Indo e voltando, indo e voltando. Com exceção daquelas intensas crises de enxaqueca que eu tinha em torno dos meus 12 anos, esse foi o pior período de doença que eu tive na vida. Eu estou sofrendo doente. E aí? Eu vou ficar assim pra sempre? Paliando os sintomas pra não agonizar enquanto espero a hora de o corpo sarar? Não era quase assim que as pessoas morriam no século XVIII?
Eu segui sem ir ao médico, acreditando que eu ia ficar melhor “no dia seguinte”. Não fiquei. Chegou o fim de semana eu pensei que, com ele, fosse ficar melhor, não no dia seguinte, mas pelo menos na segunda-feira. Eu voltaria a trabalhar e ficaria tudo bem. Chegou o domingo e isso não aconteceu. Eu dormi muito mal a noite que começou no sábado e acordei com novos sintomas - parecia que eu tinha adicionado conjuntivite às minha mazelas. ��Amanhã é segunda”, eu pensei. “E aí? Eu só não vou trabalhar de novo?”
Não fazia sentido! Digo, se eu quiser tanto não trabalhar a ponto de preferir sustentar essa aflição, achar razoável esse sofrimento por não querer voltar pra viver a vida que eu tenho me esperando, é melhor eu só urgentemente procurar outro compromisso pra assumir! Levantei. Tomei banho. Fui pro hospital. Quis me sentir melhor. No pronto socorro, confirmei um pouco a minha expectativa de que não tinha muito o que fazer diferente do que eu estava fazendo. Me deram um remédio pela veia que eu não sei se fez muita diferença e uma lista de coisas pra tomar que era uma edição das coisas que eu já estava tomando por conta própria. Mas levei a lista a sério. Gastei o dinheiro que tinha que gastar, comprei umas balas de gengibre, comprei mel, comprei aquelas pastilhas específicas para aliviar a garganta e agora até gengibre eu coloquei na água de tomar. E fui pro Lab. Fui pro Lab no domingo pra pegar meu computador porque eu não vou sair de casa amanhã, porque ainda estou bem mal, mas eu vou trabalhar, vou fazer o que precisa ser feito aqui de casa, mesmo que eu não queira tanto fazer, porque foi esse o compromisso que eu assumi e, francamente, eu tenho, sim, o privilégio da liberdade vinculada de assumir outros. Eu decidi estar onde eu estou. Porque mesmo com todos os vínculos que essa vida tirana impõe e dos quais eu tento apaixonadamente me livrar, eu estou onde eu escolhi estar.
Doença é sobre neutral jing.
Saiu um texto sobre o título do Liverpool que eu nem terminei de ler ainda mas me comoveu muito. É sobre como eles vêm usando um físico teórico para criar modelos que auxiliem eles a tomar decisões e fazer investimentos em jogadores e eu pensei: “Ei, eu podia fazer isso! Eu podia fazer isso no trabalho, inclusive e isso seria o tal algo que eu gosto mais! Ok! O que eu preciso fazer pra fazer isso no trabalho?”. Comecei a me mexer, do jeito que dava, dentro dos vínculos que eu carrego, do jeito que eu posso, do jeito que sei, pra fazer isso acontecer. Sugeri no grupo de WhatsApp dos Data Scientists do Lab, fui conversar com o Business Developer pra saber o que ele pensava dessa ideia e quais caminhos ele enxergava pra desenvolver essas parcerias… Tirando o Sami, porém, os retornos não foram muito recptivos! Mas agora eu tô pensando “Tá… Isso tá aí pra ser feito! Eu posso fazer! Eu gostaria de fazer! Vamo fazer?”. E novos jeitos estão surgindo na minha cabeça, tô traçando uns caminhos que passam até pela minha relação com o meu mestrado que também tava outro imbróglio. É isso que eu vou fazer? Não sei! Talvez esse começo leve a novos começos ou novas continuidades… O importante é que eu me mexi: “I am the captain of my fate, I am the master of my soul.”
      Neutral jing involves listening and waiting for the right moment to strike.
Minha ficha no médico hoje dizia “25 anos, 0 meses e 8 dias”. Eu tenho 25 anos de sonho, de sangue e de negro. Em nenhuma métrica eu estou perto de ser o que eu achava que queria ser. Eu não tenho todas as respostas, e pior que isso, eu nem sei mais o que isso quer dizer. Eu sigo decepcionando pessoas e elas seguem saindo da minha vida. Mas começo a me perceber excepcionalmente bom em manter os amigos de longe, perto, também. Começo a admitir que eu sou bom em criar novos amigos também. Me sinto, mais do que em qualquer outro momento da minha vida, responsável pelo meu querer e pelo meu desejo - acho que descobrindo que eles são meio que a mesma coisa. Eu não sei nem o que é nem o que será, mas só de perceber o movimento, só de perceber as minhas pausas, os meus começos e os meus recomeços, de perceber que mais do que alguém com sorte eu sou disposto a mudar o que dá pra ser mudado nas condições em que eu estiver pra estar mais feliz. Eu tenho 25 anos e eu estou aprendendo a ser quem eu quero ser.
      não adianta nem me abandonar
      porque mistério sempre há de pintar por aí
(ramon)
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misepi · 6 years ago
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vive
Eu gosto de como a gente se navega.
(ramon)
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misepi · 6 years ago
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meu sol da quarta-feira
há 11 meses, Luisa
você é presente.
você me é um desejo enorme
de estar agora
de ser aqui
amor é você
(ramon)
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misepi · 7 years ago
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thanks for the ride
Boa noite a todos!
Eu queria saber se, talvez, a comissão me deixaria entregar esse discurso na segunda-feira…
É que eu passei a semana toda enrolado com os detalhes para a cerimônia e eu ainda descobri que tinha uma última prova da Sonia que eu não tinha feito e acabou não dando tempo!
Me disseram que era bom abrir com uma piada!
Mas não se enganem, eu obviamente terminei o discurso na madrugada passada.
Aos que não entenderam, eu espero que até o final desse discurso a piada faça sentido. Mas se isso não acontecer é porque, apesar de ser pra vocês também, esse discurso é mais para e sobre os meus colegas do que qualquer outra coisa. Ele serve, acima de tudo, pra gente pensar e reviver algumas coisas que passamos juntos nesses anos todos.
Assim que nós chegamos aqui no CM, talvez ainda na nossa primeira tarde de aula, ainda naquela primeira segunda-feira (quando já tínhamos a primeira lista de Bioquímica pra entregar!), alguém nos disse que nós deveríamos querer dominar o mundo!
“Tudo o que nós precisamos de vocês é que vocês sejam jovens ambiciosos, que queiram dominar o mundo!”.
Dominar, eu não sei... mas no mínimo, abraçar o mundo a gente tinha que querer! Afinal, de que outra maneira a gente ia chegar aqui topando enfrentar 7 horas diárias de aula acompanhadas de outras 17 horas por dia de imersão e coisas pra fazer de Física, Química, Matemática, Biologia e Computação por dois anos? Outro dia falei com o Patrick que me dava preguiça só de pensar que tinha gente que ainda ia começar o ciclo básico... Falei que eu não consigo entender, já agora, dois anos depois, como é que o Ramon do passado topou e aguentou passar por tudo aquilo por tanto tempo e achando tudo minimamente razoável! Mas é esperado que eu e qualquer um de nós NÃO saiamos daqui a mesma pessoa que chegamos! E mesmo nos casos em que os planos e projetos ainda são os mesmos que eram antes, eles hoje têm motivos e sentimentos muito diferentes do que eles tinham quando chegamos aqui inocentes e deslumbrados pela “CIÊNCIA!”. Também é verdade, porém, que pra muitos de nós, que começamos naquele dia uma jornada pessoal, o CM deixou de ser minimamente razoável.
Alan, Athur, Breno, Cássio, Eduardo, Estênio, Felipe, Gabriel, Gabriela, Guilherme, Henrique, Lucas, Luiz, Marcel, Matheus, Natalia, Octavio, Patrick, Ramon, Rebecca, Ricardo, Samuel, Thiago, Vitor
Nós éramos 26 quando chegamos aqui. No entanto, hoje, somos apenas 7 e seremos um total de 11 a se formar. E se é verdade que algumas dessas pessoas descobriram outros interesses ou tiveram outras ideias, também aconteceu de algumas delas terem que tomar a difícil decisão de que o CM não valia mais a pena, apesar da imensa vontade de aprender e descobrir que eu vi em todos eles desde os primeiros momentos daquele primeiro dia. Isso em parte porque ainda há muitas coisas que fazemos errado por aqui.
Nós seguimos tendo muitas aulas enquanto sabemos que nem mesmo nas melhores delas, como por exemplo as que renderam as homenagens de hoje, contamos com regularidade com a presença da maioria dos alunos de uma classe. Não cobramos, na prática, a presença dos alunos nessas aulas reconhecendo o papel supérfluo que elas podem ter, mas mantemos uma quantidade delas que leva os alunos ao ponto de organizarem rodízios para não deixar a sala vazia nas aulas que julgam mais dispensáveis. E uma vez nem essa estratégia foi suficiente...
Os tempos e as gerações estão mudando e com eles as maneiras de ensinar e aprender! É preciso reagir a isso de forma criativa, como a ciência sempre faz quando seus métodos deixam de ser eficazes. É preciso pensar novos métodos que tornem mais razoáveis e coordenados os esforços dentro e fora da sala de aula, para que um curso que se propõe a passar tanto conhecimento e conteúdo em tão pouco tempo seja capaz de fazer isso de maneira mais sustentável. Mas, de fato, é difícil que soluções sistêmicas para essas questões sejam encontradas num ambiente como a comunidade científica, onde os esforços e pesquisas em educação são frequentemente tratados como menores e ignoráveis.
Mas as aulas são apenas um exemplo daquilo que precisamos melhorar. Se nos últimos quatro anos a pressão do jubilamento tem diminuído ao passo que tem aumentado a compreensão por parte da comissão sobre as condições dos alunos, ainda há muito progresso a ser feito enquanto instituição de ensino dentro da universidade. Não podemos continuar deixando as disciplinas e seus programas seguindo num "cada um por si" frenético, enquanto mantemos as por vezes extenuantes apelações e negociações dos alunos com cada professor como o único mecanismo para a construção de um cronograma minimamente factível, às custas, além do desgaste emocional dos alunos, de semestres que se estendem 15 ou até 20 dias adentro das férias.
Há quem, dentro da comissão de graduação, diga que o estresse, a intensidade e a pressão são necessários para construção de caráter (como se não o tivéssemos) e para acostumar os alunos nessa simulação do que é o ambiente acadêmico. Parecem ignorar a constante preocupação que carregamos em ter notas que sejam não apenas suficientes para a aprovação, mas para manterem médias ponderadas altas preocupados em obter o respeito de um eventual orientador e em estar em condições de disputar os escassos recursos financeiros que permitiriam a dedicação à pesquisa. Talvez essas pessoas não prestem atenção na constante sensação de que “não se está fazendo o suficiente” que os ambientes acadêmicos desta universidade incutem nos alunos.
Se queremos formar cientistas de excelência é necessário criar condições ótimas para que os alunos possam concentrar seus esforços em aprender e crescer, talvez, no único momento da carreira acadêmica no Brasil em que é possível ter apenas essa preocupação. É preciso deixar de ignorar a necessidade de acompanhamento e aconselhamento psicológico dos alunos, porque, sim, o Curso de Ciências Moleculares frequentemente adoece as pessoas. É preciso acabar com a naturalização do sofrimento e a romantização do sacrifício dos corpos para o aprendizado. "Trabalhe o dia inteiro e, se não for suficiente, trabalhe de noite também!" nos disseram, enquanto deviam estar nos avisando dos perigos de não se organizar para descansar e da necessidade de ter lazer, de ver os amigos e preservar a saúde mental para dar conta de atividades tão mentalmente exigentes.
Além do mais, o ambiente acadêmico não tem que ser usado como justificativa para a manutenção de nada, ele precisa é ser modificado. A carreira de cientista no Brasil precisa deixar de ser essa profissão de fé que exige dedicação integral e produção intensa, que frequentemente retira a dignidade e dá muito pouco em troca numa promessa quase cristã de que se fizermos tudo corretamente nós também seremos dignos de adentrar o monte Olimpo da ciência. Numa falácia meritocrática e individualizadora mas que ao mesmo tempo ignora sintomas claramente sistêmicos como o fato de que, nesse momento, o CCM não conta com nenhuma professora mulher de exatas (elas estão todas nos blocos de biologia). Ou que eu e o Gabriel, um negro e o indígena, somos as únicas pessoas não brancas que eu vi se formar em quatro anos por aqui, que a próxima turma além de inteira branca, é também inteira de homens. Felizmente, a Turma 26 vem forte pra dar um pouco mais de diversidade a essas cerimônias de colação de grau!
A comunidade científica precisa rever como se organiza e constitui, porque a forma como as coisas estão acontecendo está servindo apenas a criar um meio em que parece que teremos que nos acostumar a passar por cima das notícias sobre suicídios dentro de laboratórios enquanto caminhamos para um futuro com pouquíssimos e cada vez mais escassos postos de trabalho para a quantidade crescente de doutores saindo das universidades. A ciência, enquanto instituição, precisa urgentemente deixar de ser aristocrática e se adaptar à realidade do século XXI, onde o conhecimento não é mais só produzido por meninos brancos e ricos com pais capazes de sustentá-los até o pelo menos o primeiro pós-doutorado.
[PAUSA]
Eu certamente não possuo as respostas para resolver tantos problemas, mas eu aposto com confiança que DESSA turma que se forma hoje sairão protagonistas no processo de pensar e atacar essas questões, para construir um futuro mais bonito para a Ciência enquanto instituição. Eu aposto nisso baseado no que eu vi acontecer nesses quatro anos cursando o CM com essas pessoas. Vocês podem pensar que era falsa modéstia ou apenas política de redução de danos quando usei a primeira pessoa do plural para fazer as duras críticas apresentadas até agora. Mas, não! O fiz porque foi assim que a Turma 24 tratou o CM durante todo o tempo em que estivemos aqui, como um curso genuinamente nosso, para o bem ou para mal... O CM possui espaços de abertura e discussão entre alunos, professores e coordenadores sem paralelo nesta universidade e nós nos aproveitamos ao máximo deles! Nos envolvemos intensamente em todos os processos dedicados à melhoria do curso.
Como resultado, saímos daqui deixando um legado que passa por pequenas coisas, como a prova pra casa no curso de Química 1, que surgiu da nossa ideia de que fazer uma prova durante o feriado era melhor do que fazê-la depois do feriado. E passa por outras maiores, como os prêmios que o CM hoje distribui na FEBRACE, a maior feira de ciências para o ensino básico do Brasil. Ou o espaço na Feira de Profissões da USP que conquistamos entre os outros cursos onde os alunos podem descarregar a famosa carência que eles têm de falar tanto do curso que eles paradoxalmente tanto gostam para alunos do ensino médio de todo país! O envolvimento foi tamanho, que o nosso colega, o Lucas Magno, foi até chamado para uma confraternização de fim de ano na USP… Só que dos funcionários! Além da Feira de Profissões da USP, aT24 foi essencial para o começo da tradição de fazer um evento de divulgação em cada instituto dessa universidade ao invés de apenas o tradicional “evento da FUVEST”! Também por uma iniciativa da T24, hoje, todo aluno do CM tem a possibilidade de fazer até 12 disciplinas de pós-graduação dentro e fora da USP ou mesmo disciplinas de outras universidades dentro e fora do país. Nós participamos ativamente do processo que reformulou o currículo de Química no ciclo básico, nos envolvemos nas mudanças dos cursos de Biologia e estávamos ativamente participando da formação do nosso recente centro acadêmico. Nos formamos com a convicção de que estamos deixando um CM muito melhor do que aquele que encontramos quando chegamos!
A T24 viveu o CM intensamente!
Viveu e amou! E num dado momento, esse amor era tanto que parecia que poderíamos vivê-lo pra sempre. No nosso segundo semestre, as provas de matemática de 24 ou 48 horas eram tão legais e divertidas quanto eram exaustivas! Na verdade, talvez mais legais e divertidas do que exaustivas, já que passamos a nutrir esse desejo de que todas as provas fossem tão desafiadoras e tão estimulantes quanto elas - daí o supracitado pedido para fazer prova de Química durante o feriado! A empolgação era tamanha que nós mesmos estampamos e vendemos camisetas, distribuímos algodão doce pras outras turmas e pros protobixos! As 3 horas de aula de biologia durante a manhã deixaram de ser suficientes e por vezes foram de 3 horas e meia e uma vez até de 4 horas porque as perguntas e a curiosidade eram tantas que não dava tempo de vencer o conteúdo no tempo planejado! Como toda euforia, porém, essa não poderia se sustentar indefinidamente…
Ninguém SABE direito o que aconteceu até hoje… Não sabemos se foi a brusca mudança de ritmo com a mudança de todos os professores ou se foi a coincidência de quase toda a turma estar passando por problemas pessoais difíceis de lidar ou mesmo se foram as férias curtas no meio do ano que foram insuficientes para descansar de toda aquela euforia do segundo semestre… Não sei, o fato é que o terceiro semestre do CM foi duro com a nossa turma! Entramos nele 17 e saímos 9! A situação era tal que gerava comoção nos corredores do curso: “o que aconteceu com a T24?”, perguntavam. De repente, aquela turma tão viva, tão expansiva, tão agregadora, se retraiu e esmoreceu e até hoje acho que a gente não se recuperou. A T24 sentiu muito o CM!
[PAUSA]
Mas eu me pergunto: quando se ama, quando se sente um curso, o que é exatamente que comove tanto?
A gente gosta muito do favo, o nosso prédio, é verdade, mas não é só ele que a gente ama e nem é só dele que a gente fala quando contamos o que é que a gente faz. Nós somos bastante apaixonados pela maioria das coisas que aprendemos, mas eu tenho bastante certeza que esse amor é bem separável do curso, até porque, várias dessas coisas também poderiam ter sido aprendidas em outro lugar e até sozinhos por todos nós, como foi o caso muitas vezes... A gente temia e se irritava com as reuniões da ceifadora, quer dizer, da Comissão de Graduação, mas também não foi só isso que gerou comoção…
Sempre que eu penso no meu tempo de CM, eu percebo que muitos dos meus afetos estão ligados à prova de Matemática do Mané, que falou mais cedo como nosso paraninfo. Eu gosto muito dessa prova e os meus amigos aqui no auditório que já me viram falando sobre ela viram a empolgação e o brilho nos meus olhos enquanto eu falo sobre as madrugadas que eu e meus colegas gastávamos tentando resolver aqueles problemas. Eu gosto MUITO dessa prova! Era realmente cansativo, mas no final sempre tinha uma sensação de conquista, de melhora, de que depois daquele processo todo você entendia muito melhor do que você podia imaginar antes de começar sobre aquilo tudo.
Era uma madrugada composta por esses ciclos de intensa concentração, seguidos de empolgação por parecer ter encontrado uma resposta, seguidos por sua vez de uma frustração quando um colega encontrava um erro na sua demonstração. E isso de novo e de novo e de novo, até que finalmente saía alguma coisa, que olhávamos com desconfiança até finalmente ter a convicção de que estava certo, de que tínhamos feito COMO QUERIA-SE DEMONSTRAR. Era uma aventura, em que o otimismo e a pretensão de ser criativo para encontrar as respostas era seguido de profunda autocrítica e preparo para descobrir que a ideia, pela qual se teve tanto carinho poucos instantes atrás, podia estar errada e se tivesse, reencontrar energia para ser audacioso e criativo novamente...
O curioso, talvez, é que se alguém me perguntasse por uma questão ou problema marcante de alguma das provas, eu não saberia responder... A verdade é que eu não consigo lembrar de um enunciado sequer, apesar das várias horas que eu passei pensando sobre eles… As lembranças mesmo são desse outro tipo, menos palpável… São do cansaço, da frustração, da alegria, da conquista… São lembranças de vocês! O que eu lembro melhor do que as várias técnicas de demonstração, são as várias tentativas de técnicas e algoritmos para conseguir pedir a pizza no começo da madrugada de modo que todo mundo ficasse satisfeito e ainda pagasse por pedaço. O que eu me lembro melhor são das esfihas na casa do Ricardo e todo mundo indo dormir no mesmo quarto, às 6h00 da manhã depois de muitas discussões acaloradas que frequentemente viravam até gritos de “VOCÊ NÃO PODE DIZER ISSO! ISSO TÁ ERRADO”. O que eu tenho cristalizado são as comemorações quando alguém tinha aquela última sacada que resolvia uma questão muito difícil que a gente tinha passado horas atacando sem sucesso. Eu me recordo mesmo é da preocupação que eu sentia com aquela pessoa que caiu de novo na tentação de deixar pra passar a prova toda a limpo só no final e do Thi que insistia em fazer tudo no LaTex. O que eu lembro melhor são as idas até o IME, tarde da noite, pra enfiar a prova embaixo da porta da sala do Mané ou de ficar até depois da meia-noite na USP mas finalmente entregar aquela última e sexta prova do semestre e ficar de férias!
No fim, a prova mais marcante não é mais difícil, mas é a primeira, onde eu fiquei a noite toda numa cozinha do CRUSP, conjunto residencial aqui do lado, com o Alan, o Magno e o Gabriel fazendo uma janela de lousa. E mesmo a segunda mais marcante, também não é pelo enunciado, é aquela prova gincana em que o Mané resolver dividir a gente em grupos e mandou um pra cada lugar do instituto… Que aliás, até hoje eu ainda não recebi corrigida! São nessas lembranças que eu encontro o que é que me comoveu tanto esses anos todos e o que me faz amar esse curso.
O CM é uma ideia incrível e mesmo com as falhas de execução, é o projeto de curso que eu mais acredito nas universidades do Brasil. Até nos momentos mais difíceis e mais pesados, quando alguém me perguntava se eu gostava do CM era impossível eu dizer que não. Eu dizia “olha, acho que não tem outro curso na universidade que eu ia ter a mesma vontade de me formar!” - reparem que isso é bem diferente de dizer que gosta, porém. Mas mesmo sendo potencialmente tão legal, a verdade mesmo é que esse carinho todo que a gente sente por tudo que aconteceu é mais parecido com síndrome de Estocolmo do que qualquer outra coisa. No fim, quando todas as contas e as ponderações estão feitas, o que você vai escutar se for em qualquer dos vários eventos de divulgação é sobre como o principal fator pra gente gostar tanto desse curso são as turmas! É estar cercado de gente que eu admiro e respeito tanto, gente tão inteligente e tão esforçada e determinada que me dava energia e vontade pra descobrir que eu podia fazer sempre um pouco mais! É sobre se sentir encontrando um cantinho cheio de gente estranha como você onde é tudo bem ser esquisito também… No fim, o CM que eu amo são vocês, T24!
Esses quatro anos foram incríveis e eu saio daqui com a lição de que por mais pressa que a gente tenha, por mais glória que a gente busque, por mais que se estresse com a ponderada, com a perspectiva de um doutorado espetacular e se almeje uma trajetória acadêmica de sucesso... o essencial da vida não está nas questões respondidas ou nos pontos conquistados. A vida de verdade acontece nos afetos que dividimos com aqueles à nossa volta.
Ao final, a coisa mais importante que eu aprendi no CM, a coisa mais importante que eu aprendi com vocês é que o que importa não é dominar ou querer dominar o mundo… O importante de verdade é o mundo maravilhoso e incrível, cheio de amor, alegria, beleza e dor que se constrói todos os dias nas relações de afeto. Eu amo vocês, T24, vocês me comovem muito!
Obrigado pela jornada.
(ramon)
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misepi · 7 years ago
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é só futebol
O Vitor gosta sempre de frizar: “não é só futebol”. Acho que por sentir a necessidade de se defender depois de muito ser julgado pela tamanha comoção e amor que ele sente pelo esporte. Justamente por isso, o Vitor foi um dos meus apegos seguros naquele lugar que pode ser tão hostil, onde ninguém mais entendia minhas piadas sobre a Libertadores. Ontem à noite, no texto do link, enxerguei nos trechos de entrevista do Maestro Tabárez o “não é só futebol” do Vitor e aos poucos, me senti mais uma vez seguro pra sentir e elaborar a minha dor pela derrota de ontem. Chorei. Chorei por ver o triunfo do futebol globalizado, dos craques da Premier League que só falam inglês em campo, sobre a camisa amerelinha, que de canarinho ontem só teve o mascote e aquela sainha no fundo da grande área do Gabriel Jesus, meu momento maior de esperança. “Vai tirar ele agora, logo depois de ter feito a melhor jogada do jogo todo!”, lamentei, talvez solitário. Chorei porque pareceu que o futebol que eu amo tá morrendo de vez, porque todo mundo joga igual, porque não há mais escolas de futebol e as seleções estão virando mera questão de descobrir que país deu sorte de ter o melhor elenco pra reproduzir a performance do último campeão da Champions League. Mas desabei a chorar mesmo lembrando e percebendo como o futebol construiu tantos momentos de afeto da minha vida
Chorei ao lembrar minha mãe, a Josilene, jogando futebol comigo no “Poerinha”, esse campinho de terra, que ficava no meio de um espaço livre entre uma pista e um viaduto. Toda vez que a gente ia lá, enquanto a gente jogava, passavam esses caminhoneiros fazendo alguma algazarra porque não conseguiam lidar com a minha mãe batendo bola comigo. Chorei por lembrar a minha mãe contando como ela era boa de bola quando era criança, mandava ver jogando na rua de terra da casa dela e pelas embaixadinhas que eu já a vi fazer.
Chorei de lembrar do futebol da escola, que eu sempre jogava até não ser mais capaz de andar e da coca-cola que eu tomava depois nos bancos do metrô com os meus melhores amigos. Chorei pelas vezes que eu carreguei o Cruz por toda a Pedro Vicente porque ele quebrou o pé durante um “10 minutos ou 2 gols” que a gente tava jogando. Chorei de lembrar do futebol no Parque da Juventude nos dias em que não tinha aula e não dava pra jogar na escola, do Barroso dizendo “é só olhar, tem uns 5 ou 6 Neymar aqui hoje, só não tem olheiro pra pegar e preparar a cabeça do cara” e da gente só ganhar algum jogo porque era organizado e porque o outro time frequentemente tava mais preocupado em dar sainha e chapéu do que fazer o gol! Chorei por como eu ficava feliz toda vez que eu e o Cruz faziamos um gol depois de tabelar no “um, dois…”, pelos gols espíritas do Rogério e por quando o Arthur decidiu comprar uma chuteira porque viu que o futebol era um bom jeito de se relacionar, que o Galeano disse que o Gramsci chamava de “este reino de la lealtad humana ejercida al aire libre”. Chorei pela vez que eu derrubei o Barroso no chão no pulo de comemoração pela vitória por 4 a 3 (o melhor dos placares!!!!) do Café com Leite, nosso time no campeonatinho da escola, em que só uma vez a gente passou da fase de grupos. Chorei lembrando do gol pra abrir o placar que eu fiz uma vez no mesmo campeonatinho e dos golaços que o Marcos e o Sumida marcavam de vez em quando e por todas as defesas que o Rodrigo (Fofa) fez quebrando o galho de goleiro. Chorei pelas vezes em que fui jogar bola na quebrada do Erick, onde eu era muito pior que uns molequinhos com quase metade a minha altura.
Chorei de lembrar de quando eu era criança e aprendi a bater na bola pra ela subir como os jogadores fazem nas cobranças de falta e explicar pro meu amigo “eu não sei direito o que eu faço, mas eu só penso na imagem do Ronaldinho Gaúcho indo pra cobrança e aí sai”. Chorei por todas as vezes em que, jogando descalço e na rua, eu estourei aquela parte da sola do pé logo atrás do dedão em algum chute que era para ser forte e na bola, mas só pegou no asfalto. Chorei por todas bolas que eu já comprei e pela Dona Emília, que jurava que ia rasgar elas com a faca da próxima vez que elas batessem no portão dela. Chorei por ter feito de trave as colunas do muro da Castelo Branco assim como os piquetes que cercavam a torre de eletricidade. Chorei de pintar a rua em 2006 com a minha mãe, de fazer a bandeira pintada no fundo da rua de quadra pra jogar golzinho com os vizinhos e de passar mal no 4 a 1 contra o Japão. Chorei pela madrugada que eu acordei pra assistir Brasil e Inglaterra em 2002, pelo gol do Ronaldinho nesse jogo e pela vontade que eu sentia de jogar bola toda vez que ouvia o tema da copa. Chorei por aquela vez quando eu e o Caticharesolvemos contar quantos jogadores foram campeões da Copa do Mundo sendo jogadores do Campeonato Paulista versus quantos foram campeões jogando o Campeonato Inglês: 50 a 30 pro Paulistinha, mais ou menos…
Chorei de lembrar daquela defesa do Rogério Ceni que tira uma bola no ângulo no mundial de 2005 e de lembrar da cara do Gerard sentado no chão depois do jogo no mesmo dia do aniversário da minha mãe! Chorei de lembrar da Libertadores do Corinthians, das estações de trem e metrô quase vazias perto da hora do jogo e dos 4 ou 5 “VAI, CURINTIA!” que eu escutei em uma hora e meia de trajeto de volta pra casa no dia do primeiro jogo da final. Chorei pelos textos que eu escrevi em homenagem à trajetória do Corinthians naquela LIbertadores e pela alegria que eu senti de participar da alegria da família do Rogério quando vi o segundo jogo da final na casa dele, em Carapicuíba! Chorei de lembrar como eu fiquei arrasado pela Chapecoense em 2016 e do quanto me comoveu a torcida na Colômbia fazendo luto com canto, bateria, bandeirão e sinalizador! Chorei porque, depois da copa aqui, os ingressos ficaram caros, a torcida nos estádios embranqueceu e até a torcida do Corinthians eu vi aplaudir o chutão do zagueiro cortando pra lateral a jogada do time adversário. Chorei de lembrar da esperança do meu pai de ver o Ganso voltar a jogar e da tristeza dele ontem dizendo “hoje é tudo uns cara duro, não tem ginga, não tem nada” e da minha mãe dizendo que hoje não tem mais Zico, Sócrates, Pelé e Rivelino. Chorei pela derrota em 82 e também pela de 50.
Chorei porque era catártico ver a seleção brasileira enquanto eu crescia e por como aquelas cinco estrelas são, talvez mais do que qualquer outra coisa, um reflexo do quanto esse país ama o futebol e por como ama e sente através dele. Chorei porque eu queria que a seleção ganhasse essa copa, dando sainha, chapéu, drible da vaca e aquela penteadinha passando o pé por cima da bola que os jogadores aprenderam nos primeiros anos jogando fustal pra mostrar que o futebol voltou com o Tite… Chorei porque não voltou.
Eu sei que o futebol tem seus problemas e que eles não são poucos. Entendo como ele pode ser excludente e como eu só pude ter várias dessas experiências por ser homem e como várias delas não foram dificultadas por ser hétero e como também é mais um lugar de exploração e exclusão das pessoas negras. Eu sei que a Copa é da FIFA e é mais um esquema de lavagem de dinheiro. Mas ontem eu só chorei. Chorei porque é, sim, só futebol. De vez enquanto é que falta sensibilidade pra alguns entenderem que isso é suficiente pra chorar.
(ramon)
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misepi · 7 years ago
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meu relógio honesto
por mais doido que ele seja por mais que na história toda eu pareça sempre o gêmeo errado o meu tempo do seu lado nunca passa devagar, mesmo sem nunca passar rápido quase sempre é hora certa não se para em tempo ruim mais que certo ou não-atrasado o meu tempo, do seu lado, é tão melhor que otimizado é o meu próprio tempo próprio
(ramon)
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