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CARTA DE INDEPENDÊNCIA DO MORRO

É de direito de um povo não ter de se rebaixar. Não ter de ser curvar aos outros só por causa de onde mora. Não se pode julgar alguém por sua origem, por seu CEP.

Temos leis, próprias, que todos conhecem mesmo sem existir constituição e respeitam porque sabem as conseqüências. Temos um exército, soldados recrutados ainda crianças, sistema espartano que garante a segurança sempre renovada dos nossos interesses. Temos terra, invadida, conquistada, adquirida por nos rejeitarem em outros espaços.

Não somos auto-suficientes. Mas é a dependência deles que mais depende de nós. Somos nós que fornecemos a fuga de uma realidade para eles – uma realidade muito menos dura do que a que vivemos. São nossos os braços que erguem suas casas, pontes, estradas, que lhe servem o almoço e esfregam suas roupas sujas. Vieram de nossas mãos. Somos responsáveis pela árvore genealógica deles – antes dos hospitais, perguntem onde viviam as parteiras dos avós deles.

Falta organização para sermos independentes? Somos o povo mais organizado quando queremos. Que união é aquela que desfila todo ano pela avenida? Que alegria é aquela? Que outro povo mantém aquele sorriso?

Pode nos faltar muita coisa, mas não nos falta coragem. Se desejam que a gente fique em nosso lugar, mais do que nunca ele agora é nosso. Só nosso.

Chega de se rebaixar. Afinal, somos nós que estamos no topo.