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Lar doce lar.
(parte 2)
O sol batia em minha cara e já era manhã. Quando finalmente consegui despregar os olhos, peguei meu celular e vi que já estava atrasado. Eu fui apressado para o banheiro e no caminho acabei batendo o dedo mindinho na quina da porta, ali eu desejei desistir do dia.
--- Merda! --- Gritei logo após soltar um grunhido enquanto segurava o meu pé.
Algo dentro de mim falava alto, quase gritava, que hoje o dia seria horrível e que eu não deveria sair de casa, mas como sou teimoso, não me ouvi. Finalmente, consegui terminar de me arrumar e assim que abri a porta do quarto me deparei com a minha irmã em frente do mesmo, sua cara não era muito boa, ela parecia estar extremamente irritada. “Que bela forma de voltar pra casa” pensei, ela mal havia chegado e os esporros já tinham começado. Minha irmã sempre teve esse jeito “mãezona” de ser, de se preocupar e cuidar. Era comum que de vez em quando eu levasse uns esporros dela, principalmente quando o assunto era colégio.
--- Você está atrasado, sabia? --- Ela diz apontando para a tela do celular, que mostrava o horário. Eu revirei os olhos.
--- Não ligo, não queria ir para aquele lugar ver as mesmas pessoas irritantes de sempre. --- Falei irritado, mas meu tom não impediu de beijar a testa de minha irmã e tomar meu rumo à sala. Procurei minha mochila pela sala e encontrei-a jogada no canto. Como de costume...
--- Que mal humor, hein Krys! Bom dia para você também. --- Ela me encarou com um olhar cínico e já havia um sorriso que estampava seu rosto. Eu ri. Sentia muita falta desse tipo de diálogo com ela e de nossas brincadeiras. A casa não tinha mais aquela mistura de alegria e sarcasmo no ar desde que ela havia se mudado.
Acenei para ela e saí correndo pela porta, peguei minha bicicleta e fui rápido até o colégio. Não tomei café da manhã, o que fez eu me arrepender amargamente mais uma vez de ter saído de casa, uma hora eu iria morrer de fome e nem dinheiro eu havia trazido. A entrada do colégio estava estampada com a cara fechada de meu inspetor, eu sentia que aquele homem me odiava. Foi difícil ele deixar eu passar impune, mesmo que eu já tivesse explicado bem mais de uma vez que eu havia me atrasado porque minha irmã havia passado mal, o que não era verdade, mas ele não precisava saber disso. Como Madelaine sabia que era provável que eu fosse barrado na entrada, ela me ligou e pediu para falar com o inspetor. Com muita sorte, as mentiras se encaixaram perfeitamente, mas ainda assim, ele parecia meio desconfiado e receoso de deixar eu entrar sem me dar ao menos uma detenção ou advertência. Entrei com muito sufoco e fui correndo até minha sala, os corredores já estavam vazios, não nego que senti um arrepio subindo em minha espinha assim que passo pelo penúltimo corredor. A minha sala era a mais isolada de todo o colégio e era certeiro dizer que nenhuma das pessoas que estudavam comigo, gostavam daquela sala. Nunca soube se era só eu, mas ainda consigo ouvir os tiros e gritos toda vez que passo pelos últimos corredores. Era assustadoramente angustiante passar ali. Aconteceu um tiroteio no mesmo dia que cheguei naquele colégio, ele chegou a ficar fechado uns três meses, mas logo voltou a funcionar. Que bela forma que eu fui recebido, no meu primeiro dia de aula balas e gritos me acolheram. Não nego que peguei um certo medo de ir à escola depois disso. Felizmente, não morreu ninguém e a menina foi presa, mas ainda assim, ficaram uma boa quantidade de feridos.
Eu respirei bem fundo e com uma certa hesitação de entrar na sala, mas fiz. Adentrei a sala e sentei-me na última carteira para mexer em meu celular, enquanto o professor não chegava, até que notei que de pouco em pouco as pessoas estavam me encarando com olhos curiosos e cochichando. Eu odiava aquilo.
---Que foi? Perderam algo? --- Alguns desviam o olhar e outros continuaram, mas a atenção de todos, inclusive a minha, foi voltada para a professora que havia acabado de entrar na sala.
--- Pensei que fosse mais educado com seus colegas de classe, Krysti. --- Aquela voz fez meu corpo estremecer e a única coisa que pensei naquele instante foi: "merda".
--- O que você pensa que está fazendo aqui? --- Disse num tom de raiva.
Ela me olhava com uma cara de desaprovação, o que já era esperado.
---Surpreso? --- Disse cínica. Eu não respondi.
Todos da sala olhavam fixos para nós dois, aquele não era um bom momento para uma “discussão de família”. Finalmente todos pararam de olhar para nós quando uma menina, que parecia meio abatida, entrou na sala.
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Lar doce lar.
parte 1 Eu estava com um sono terrível que me corroía cada vez mais, não fazia ideia de quanto tempo teria que ficar no aeroporto. Havia todo o tipo de gente ali, umas conversavam em seus celulares, outras corriam para não perder o voo, entre muitas outras pessoas barulhentas que me deixavam em agonia. Admito que nunca gostei de lugares cheios, sempre possuí uma sensibilidade com sons altos e muitas pessoas em um só lugar me deixam extremamente ansioso, estar ali parecia uma tortura. Já estava esperando-a há mais de quarenta e cinco minutos e não havia nem sinal do voo de minha irmã. Tentei mandar mensagem, por mais que fosse idiotice, já que seu celular estaria desligado ou em modo-avião. Para melhorar minha noite, meu celular estava apenas em quinze por cento, ou seja, nem isso eu tinha mais para poder distrair minha mente e não acabar pegando no sono.
Em minha frente havia uma menina em seu vestido azul-marinho, botas pretas e algumas poucas malas. Não parecia perdida, então suponho que deveria estar esperando algo ou alguém, seu rosto era jovem e podia-se dizer que ela teria entre dezoito e vinte e três anos, sua pele é clara, cabelos castanhos escuros e encaracolados. Próximo a ela havia um menino, que deveria ter a mesma idade que a garota quase ao lado. Ele vestia roupas pretas e seus cabelos eram loiros e bem lisos, como os da mulher que o acompanhava, talvez fosse uma tia ou a mãe, julgando pela idade que a moça parecia ter. Desenhei algumas dessas pessoas em meu caderninho de capa preta, com anotações como essas ao lado. Foi o jeito que eu dei para tentar me distrair, mas não nego que dei "graças a Deus" quando finalmente ouvi que o vôo de minha irmã já iria pousar. Quando finalmente ela saiu do portão de desembarque eu pude sentir seus olhos em mim e já sabia o que estaria por vir, aquela cena que eu bem conhecia. Ouvi um grito que vinha dela e a vi correndo em minha direção para me abraçar. Sempre achei bem desnecessário aquilo tudo, mas era ela e ela sempre foi assim.
Eu e Madelaine tivemos duas infâncias bem distintas, ela é a mais velha, a mais animada e sempre escondeu tudo de ruim que sente pra não preocupar ninguém e assim continuar emanando energias positivas a todos a seu redor. Me pergunto até hoje se isso não foi desgastante durante tantos anos. Eu, por outro lado, sempre fui o mais novo, quieto e pessimista. Somos irmãos bem diferentes, não só pelas personalidades distintas, mas nossas fisionomias também. Enquanto minha irmã possuía seus cabelos ruivos lisos, sardas, pele branca pálida e olhos verdes, eu tinha cabelo castanho escuro, olhos verdes e pele morena.
Ela chegou a pegar o pequeno caderno que eu segurava, viu os desenhos, olhou para trás tentando encontrar essas pessoas e viu apenas a menina, que agora estava acompanhada de um menino de "mesma idade", talvez fosse irmão, namorado, primo ou amigo. Nunca saberemos. Minha irm�� sabia bem que eu gostava de desenhar pessoas que eu via pela rua, como uma forma de distração, já que era rotineiro que eu esquecesse de carregar o celular antes de sair. Eu nunca fui um adolescente que ficava muito tempo no celular, pelo contrário. Admito que amo videogames e jogos, mas ainda assim, não consigo ficar muito tempo em frente ao telefone. Minha bateria deve durar dois dias ou mais, já a bateria dos meus controles de videogame, se duram seis horas, é muito.
Mads passou apenas uma semana no “Lago da Lama” -um nome nada atraente, admito- desde que ela foi para nossa casa deixar a maior parte de suas malas, não tinha dado tempo de sentir saudade. Eu aconselhei ela a fazer essa viagem, depois que o namorado terminou um namoro de dois anos e trancou-a para fora de casa deixando suas coisas na rua. Depois disso, ela precisava distrair a cabeça e tentar esquecer. Estávamos a caminho do carro quando ela pergunta:
— E ai? Sentiu saudades? — Madelaine perguntou na esperança de uma resposta a qual já sabia que não teria. — Você só passou uma semana lá, maninha... — Falei fitando o chão em minha frente. — O que houve? Morreu por dentro? — Ela riu. Não nego, eu sentia falta daquela risada, por mais que fosse bem fácil de associá-la com um ganso engasgando. — Você está louca? — Ri junto com ela e assim fomos conversando até em casa.
Ela iria ficar um bom tempo morando comigo por conta do ocorrido e eu não poderia recusar sua volta mesmo que não quisesse, o que nunca foi o caso. Eu sentia falta da nossa rotina morando juntos. Mas não admitiria para ela tão fácil assim. Nunca fomos de brigar, então a convivência era bem tranquila. Moramos um ano e alguns meses juntos, até que ela decidiu morar com o namorado. Nunca tinha achado uma boa ideia, confesso, mas se ela o amava, por que não? Ainda confesso que acho o amor uma grande besteira, principalmente com pouca idade, mas eu não podia dizer se ela o amava ou deixava de amar, eu não sou ela. Assim que chegamos ela foi para seu quarto antigo arrumar suas coisas, eu não toquei em seu quarto em nenhum momento, nem quando ela foi morar longe e nem quando ela trouxe suas coisas de volta para casa. Nós não morávamos em uma casa extremamente grande ou de dar inveja, não. A casa era formada por uma sala aconchegante, nem pequena e nem grande, uma cozinha que por conta dos móveis grandes é pequena, mas ainda dá para se mover, um banheiro para visitas que chegava a ser menor que a cozinha, no andar de cima tínhamos o meu quarto, que era razoavelmente grande e possuía um banheiro, o quarto de minha irmã, que era igual ao meu e um quarto vazio no final do corredor. Não tínhamos porão e nem sótão ou ao menos um jardim.
Se nossa mãe um dia soubesse que morei sem Mads, ela surtaria com toda a certeza. Eu nunca pude ir ao parquinho ou sair para brincar na rua, porque Lucy -nossa mãe- nunca deixou. Parecia que ela acreditava nas lendas de Danvers, por mais que aquela fosse apenas uma “cidadezinha comum. ”Quando morávamos com minha mãe, não íamos à escola, ao invés disso, tínhamos aulas em casa e uma das pouquíssimas coisas legais de estudar em casa era que não estudávamos apenas francês como segunda língua, mas estudávamos outras como Latim e Alemão. Nós podíamos escolher o que queríamos aprender de novo, diferentemente de quando vim morar com minha irmã, onde eu não me adaptei muito bem ao colégio.
Eu tomei um banho e logo fui para o meu quarto, amanhã seria segunda e eu precisava acordar cedo, infelizmente. Joguei-me contra o colchão macio enquanto sentia o sono me sobrecarregar e por mais que eu não quisesse dormir, a tentação era grande. Desde os treze anos eu não gostava de dormir porque era rotineiro ter pesadelos. Pude sentir o arrepio subindo a minha espinha só de lembrar das noites mal dormidas e de cada detalhe que passava em minha mente sobre aqueles pesadelos.
Injustamente, fui vencido pelo sono e adormeço de bruços na cama. Os pesadelos não se manifestaram essa noite, graças a isso eu pude descansar de verdade. Acho que até demais... (primeira parte do primeiro capítulo “lar doce lar.”, espero que tenham gostado)
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