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My tireless mind
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“You’re always haunted by the idea you’re wasting your life.”
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my-tireless-mind · 1 month ago
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Lembro do dia em que me dei conta, de verdade, de que sou feio. Não foi um instante dramático diante do espelho, foi mais como uma nuvem que aos poucos vai tomando o céu, e quando percebi, já não havia mais espaço para luz. No começo, neguei. Achei que talvez fosse a iluminação, o ângulo, a câmera, o cansaço. Tentei me convencer de que era só uma fase, que bastava um corte de cabelo, um novo estilo, uma barba bem feita. Gastei dinheiro com produtos que prometiam milagres. Fui ao shopping buscar roupas que me dessem algum contorno, alguma estrutura, algo que gritasse "valor". Mas a verdade sempre escapava por entre as costuras, e cada tentativa frustrada era mais um passo inevitável na direção da verdade.
A raiva veio logo em seguida. Raiva de mim, por ter nascido assim. Raiva do mundo, que premia o bonito com olhares gentis, convites, sorrisos, gentilezas espontâneas. Eu observava a facilidade com que os outros atravessavam a vida, como se suas aparências servissem de passe livre. E eu ali, tentando compensar com simpatia, com inteligência, com cultura. Uma comédia triste: ninguém quer ouvir Schopenhauer da boca de alguém que não desperta desejo.
Depois, barganhei. Experimentei todos os disfarces possíveis. Usei óculos para parecer mais interessante, roupas escuras para parecer mais misterioso, mudei o corte do cabelo, tentei me reinventar como alguém "autêntico", com estilo próprio. Me agarrei a ideias ridículas: "feio com charme", "feio com conteúdo"; como se fossem boias no mar. Achei que se eu fosse inteligente o bastante, engraçado o suficiente, alguém acabaria me enxergando. Mas ninguém enxerga além da pele se ela não agrada.
Quando percebi que nada disso adiantava, a tristeza caiu sobre mim como um cobertor pesado. Aquela tristeza silenciosa, que não precisa de lágrimas. Eu evitava espelhos. Passava batido por vitrines. Via casais na rua como se fossem atores de uma peça na qual eu jamais teria papel. Era difícil ver valor em mim mesmo. Difícil aceitar que talvez eu fosse, aos olhos do mundo, alguém para ser ignorado ou, na melhor das hipóteses, tolerado.
A aceitação veio de forma lenta, quase preguiçosa. Um dia, percebi que não adiantava lutar. Que havia certa liberdade em desistir de tentar agradar. Nada que eu fizesse me tornaria desejável, então parei de gastar dinheiro com cosméticos, parei de tentar parecer o que não sou. Vista a liberdade da desistência, o mundo ficou mais silencioso. Entendi que ninguém vai se interessar por mim romanticamente, que não haverá flertes em bares ou mensagens inesperadas. E tudo bem. Não espero mais que gostem de mim e essa ausência de expectativa é um alívio que poucos conhecem.
Hoje, ninguém consegue me ofender. Qualquer coisa que digam, eu já pensei pior e com mais detalhes. Minha mente já explorou todas as possibilidades, do grotesco ao patético. E há algo quase bonito nisso: ao reconhecer minha feiura, eu a domestiquei. Ela mora comigo, senta-se à mesa, dorme ao meu lado. Não sou bonito, nunca serei. Mas ao menos, agora, sou livre.
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my-tireless-mind · 1 month ago
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Havia um homem que carregava sua solidão não como um fardo, mas como uma segunda pele, mais verdadeira que a primeira. Desde criança, perceberá que havia um vidro espesso entre ele e o mundo: via os lábios se moverem, as mãos se estenderem, mas tudo chegava a ele como um eco distorcido de algo que jamais o incluía.
Nas ruas, os olhares atravessavam seu corpo como se fosse feito de névoa. Nos jantares familiares, seu prato era sempre o último a ser servido, e quando falava, havia uma pausa imperceptível antes de alguém responder, como se suas palavras precisassem de tradução.
Aos vinte e três anos, apaixonou-se por uma mulher que nunca soube de sua existência. Observava-a na livraria, onde ela tocava as lombadas dos livros com uma reverência que ele desejava para si. Um dia, seguiu-a até o metro e viu-a chorar, foram as únicas lágrimas que compartilhou com alguém. Quando ela desceu, levou consigo a única prova de que ele ainda respirava no mesmo mundo que os outros.
Na igreja, ajoelhava-se não para rezar, mas para testar se Deus também o ignoraria. O silêncio era sua resposta. Tentou então o pecado: dilacerou a própria carne até sangrar, submeteu-se a exercícios cruéis que rasgavam seus músculos, deixou-se espancar por estranhos em becos imundos. Nada funcionava, nem a abjeção nem a dor conseguiam cravar-lhe no peito o selo de "existente".
Na última noite, ele sentou-se na grade de uma ponte de seu bairro, aquela espremida entre o asfalto e a estação de trem. O lago era óleo estagnado, reflexo de poste torto e nuvem de poluição. Ele se debruçou, querendo ver se ali, naquela poça de água suja, ainda dava pra encontrar um resto de rosto. Quando caiu, não fez barulho. A cidade já tinha engolido gente mais importante. O asfalto seguiu quente, o semáforo continuou piscando, e o fluxo nem notou; mais um corpo que virou estatística no meio do caos.
Na manhã seguinte, um jornaleiro cuspiu no local onde ele afundara, sem saber porquê. Um casal riu ao passar pela ponte. A mulher da livraria sentiu um frio súbito e abotoou o casaco.
Ninguém notou que algo invisível havia desaparecido.
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my-tireless-mind · 1 month ago
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Amelie - Background paintings by Boskoop
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my-tireless-mind · 1 month ago
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Carta para depois da minha partida
A quem ainda respira,
Não escrevo isso para pedir perdão nem para ser compreendido, essas duas moedas me faltaram a vida inteira. Escrevo porque talvez reste alguma utilidade em um último gesto, mesmo que falho, como tudo o que mais fiz.
Vivi tentando. Tento dizer isso com alguma dignidade, mas não consigo. Parece tão patético quanto tudo o que mais fui. Tentei ser bom. Tentei ser útil. Tentei ser amado, e, sobretudo, tentei não cair, ou ao menos cair com alguma elegância. Mas a verdade é que não há elegância no fracasso cotidiano, aquele que vai corroendo por dentro, nos lugares onde ninguém vê.
Passei a vida me esticando em direções que nunca levaram a lugar nenhum. Um esforço contínuo, quase cego, como quem sobe uma escada que leva ao nada. E o mais estranho é que, apesar disso, continuei. Por teimosia. Por impulso. Por medo de parar e perceber que talvez nada fizesse sentido.
Fui consumido, muitas vezes, por uma sensação constante de inadequação. Como se todos ao redor tivessem aprendido a dançar e eu ainda tropeçasse nas próprias pernas. E mesmo assim, segui, mesmo torto, mesmo errado, mesmo no escuro.
No fim de 2022, acreditei sinceramente que minha vida finalmente tomaria um rumo melhor; havia sinais de luz, de recomeço, de alívio. Mas, ao invés disso, tudo começou a ruir aos poucos, até colapsar de vez no fim de 2023. Desde então, tenho vivido entre ruínas, preso a uma sensação constante de perda e impotência. Por mais estoico que eu tente parecer, sustentando o silêncio e a firmeza no olhar, dentro de mim só restou o vazio de algo que já não sei mais como reconstruir.
A dor não é sempre gritante. Às vezes ela vem calma, educada, silenciosa. Ela só se senta ao seu lado todos os dias e te acompanha, como uma sombra íntima demais. E no começo você tenta espantar, mas depois aceita — até esquece que está ali.
Não fui sábio, nem nobre, nem sequer interessante. Fui só um sujeito comum, com pensamentos ruins demais para expor e sentimentos bons demais para caber num peito tão cansado. Senti muito, e isso me destruiu. Talvez um coração mais opaco tivesse me salvado. Talvez um pouco de indiferença tivesse sido uma bênção.
Lutei. Juro por tudo que é sagrado que tentei. Estudei madrugadas, aceitei empregos que me esmagavam a alma, sorri pra chefe filha da puta, paguei boletos em dia. E no fim? Nada. Zero. Nenhum troféu, nenhum reconhecimento, só a conta do mercado e um coração prestes a falhar.
Se eu tivesse mais uma chance, talvez só tentasse ser mais leve comigo mesmo. Talvez aprendesse a rir do caos, a abraçar o ridículo. Mas agora é tarde. A vida não é generosa com os atrasados.
Pode parecer que esta carta é só tristeza, mas não. Ela é também um apelo. Se você ainda está aí, vivo, respirando, com alguma força nas mãos, então por favor: siga. Siga apesar do cansaço, apesar da dúvida, apesar da inutilidade aparente de tudo. Viva. Com raiva, com amor, com dúvida, com tudo.
Se eu puder deixar uma coisa só, é isso: a vida não precisa ter sentido. Mas ela pode, às vezes, ter beleza. Mesmo nos cantos rachados, mesmo na rotina mais banal, mesmo na solidão. E isso basta.
Se puder, seja leve com os outros. E mais ainda com você. Não caia na armadilha de exigir perfeição de si. O mundo já faz isso o bastante.
Não guardo mágoas. Só um silêncio profundo, como quem enfim entendeu que nem tudo se resolve — e tudo bem.
Vão. Vivam. Amem. E, se tudo falhar, escrevam: como estou fazendo agora, no escuro.
Só peço, de verdade: se puderem, vão além. Viajem por mim, conheçam paisagens que meus olhos nunca alcançaram. Entrem no mar, sintam o sal e o medo e a liberdade nas pernas. Vejam o mundo com a curiosidade de quem joga Skyrim pela primeira vez, entrando em cavernas só para ver o que há lá dentro, mesmo sabendo que pode ter uma mesa, um diário em branco de um homem cego. Vivam com o espírito errante de quem caminha pelas ruínas de Fallout, buscando algo que talvez nem exista, mas indo assim mesmo. Sejam prudentes, claro, a vida exige atenção, mas não deixem que isso os congele. Calculem, respirem fundo, e depois vão. Leiam os livros que ainda não foram escritos dentro de vocês. Escrevam diários, mesmo que ninguém vá ler. Tenham dias calmos, desses em que nada acontece e, mesmo assim, tudo está em paz. Porque no fim, o que fica não é o tamanho dos feitos, mas a delicadeza com que se tocou o tempo.
Com tudo que me resta: não pretendo tirar minha própria vida fisicamente; continuarei existindo, mas não estarei mais vivendo de fato. A morte que me alcança é espiritual, silenciosa, feita de cansaço e ausência. A partir de agora, escolho o isolamento, não como fuga, mas como último esforço para preservar o pouco de dignidade que ainda me resta.
Adeus...
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my-tireless-mind · 1 month ago
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Art by Denis Istomin
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my-tireless-mind · 3 months ago
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Amor Impossível: Uma Elegia da Existência
Há amores que não se consumam, não por falta de intensidade, mas por excesso de consciência. É nesse abismo entre o ser e o dever-ser que o amor impossível se aloja, como uma agulha fincada na carne da alma. Amamos, mas nem todo amor é reconhecido como humano, pois o olhar do outro nos atravessa como se fôssemos espectros, não corpos.
"A maior forma de desespero é querer ser o que se não é, por meio do outro". E não é exatamente isso que sofremos? Tentamos nos tornar dignos de amor, moldar o eu à imagem do desejo alheio, e mesmo assim tropeçamos na finitude, no fato cruel de que o outro não nos reconhece como pessoas, mas como função, ruído, obstáculo ou devaneio.
Há uma dor específica em amar alguém que não nos vê como alguém. Somos presença ignorada, gesto mal interpretado, sentimento que incomoda. Não importa o quanto ofertamos de nós: há olhos que simplesmente não conseguem nos ver como merecedores de amor, não por crueldade, mas por uma espécie de cegueira ontológica.
Mas deixar é necessário. Porque amar, verdadeiramente, exige reconhecer quando o próprio amor se tornou cárcere. Não se trata de desistir, seria fácil demais. Trata-se de compreender que não se pode forçar o coração do outro a bater por quem ele não vê como vivo. E isso fere, não a vaidade, mas a dignidade. Amar e ainda assim não ser reconhecido como alguém capaz de ser amado, esse é o martírio que só os mais realistas conhecem.
E por isso partimos.
Não por covardia, mas porque há uma ética no sofrimento: não devemos permanecer onde somos fantasmas. O amor não é o que nos mantém vivos, é o reconhecimento mútuo no amor que o faz. Amar sozinho é como gritar num sonho: ninguém ouve, ninguém responde, e você acorda com lágrimas nos olhos.
Ame, sim, mas ame o bastante para libertar-se. Deixe-a ir, porque permanecer seria continuar morrendo um pouco a cada dia, não por falta de amor, mas por ausência de humanidade concedida.
Se afaste com dignidade, mas também com o silêncio dos condenados. Sem esperança, com o peso de uma sentença que não foi lida em voz alta. Partimos sem nos salvar, apenas para não arrastar o outro para o fundo conosco. E na solidão que resta, o amor persiste, insepulto, como um cadáver que ninguém recolhe. Porque há dores que não nos matam, mas nos deixam mortos o bastante para que a vida continue sem nós.
E talvez, apenas talvez, ao nos retirarmos com a dignidade de quem ama em silêncio, possamos reencontrar o amor perdido: aquele que, um dia, nos devolveu a nós mesmos, mas agora não passa de um eco silencioso do que jamais seremos outra vez.
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my-tireless-mind · 3 months ago
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O Resto do Silêncio
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Havia, na quietude que o rodeava, algo mais denso do que a simples ausência de sons. Era um silêncio que pesava como neve sobre a alma, um silêncio tecido de palavras jamais ouvidas, de gestos que nunca se cumpriram, de olhos que, ao cruzá-lo, não o viam, como se ele fosse feito de vidro, tão transparente quanto frágil, tão presente quanto invisível.
E o mais trágico não era a ausência do outro, mas o fato de que, mesmo presente, mesmo oferecendo de si o que podia, em pedaços arrancados de sua alma, ninguém se detinha para lhe perguntar: “Como você está?”. E, se perguntavam, era apenas com os lábios, os ouvidos permaneciam surdos, o coração ocupado demais com os próprios ruídos.
A dor verdadeira, aquela que teria reconhecido nos olhos de um alguém abandonado pela sorte, não é a dor de ser odiado, mas a de ser útil e jamais amado. Como uma enxada esquecida após a colheita, ele foi instrumento: sempre pronto, sempre necessário, mas nunca necessário como pessoa. Suas mãos construíram o bem dos outros, seu sangue derramado para estancar feridas que não eram suas, e ninguém sequer lhe ofereceu um pano limpo; e sua alma... sua alma quebrou-se como porcelana caída no assoalho de madeira fria, e ninguém ouviu o som da ruptura.
Quando já não servia mais, o mundo o empurrou de volta para seu lugar natural: o escuro, o fundo da gaveta, o canto onde se guardam os que não se quer lembrar. Não houve despedidas. Não houve olhos marejados. Apenas esquecimento.
Há uma rejeição mais cruel que o ódio: é a omissão. O convite que nunca chegou, o nome jamais lembrado, o gesto que nunca foi em sua direção. Ele era sempre o último pensamento, a sombra da escolha dos outros. E mesmo quando entregou tudo: tempo, fé, alma, até o que restava de sua luz; viu que alguns homens e mulheres se alimentavam da força e bondade dos outros, mas desapareciam assim que precisavam retribuir um gesto de humanidade.
O que mais feria não era o abandono, mas a constatação de que sua ausência não deixaria marcas. Ninguém perderia o sono por ele. Ninguém estremeceria ante a ideia de seu desaparecimento. As mãos que ele aquecera em invernos interiores não hesitaram em soltá-lo ao primeiro sinal de primavera. E aqueles a quem amara com a fidelidade de um cão velho seguiram adiante: leves, livres, limpos do fardo de tê-lo conhecido.
Então, a pergunta veio, venenosa como serpente sussurrando à consciência: “Por que não fui amado?”. Seria o amor, para ele, um dom negado pela natureza? Nasceu com defeito de alma? Olhava-se no espelho e via não um homem, mas uma figura esmaecida, um borrão na paisagem da vida alheia.
E agora, tudo o que restava era o silêncio. Não aquele silêncio calmo e digno dos sábios, mas o silêncio sepulcral dos que já não esperam nada. A certeza de que sua ausência não alteraria o curso da existência de ninguém, pois, na verdade, ele já era ausente mesmo quando presente. Era um fantasma, não desses que assustam, mas desses que ninguém nota.
E então, sem lágrima ou rebelião, aceitou: há homens que nascem para ser o suspiro que se perde entre as árvores, o vulto que passa ao longe, o capítulo que não se lê. Talvez, pensava ele, sua missão era essa, carregar nos ombros a consciência da própria insignificância, não como castigo, mas como verdade.
E nesse fardo, paradoxalmente sereno, repousava uma espécie de paz, mas era uma paz suspeita, dessas que se instalam só quando a alma já não tem forças nem para esperar a próxima ferida.
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my-tireless-mind · 4 months ago
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Tem dias em que eu acordo e já quero voltar a dormir. Não é cansaço físico — é esse peso no peito, essa presença constante de que eu simplesmente não pertenço. Eu olho em volta e vejo pessoas vivendo, rindo, fazendo planos, sendo amadas... e tudo que eu consigo pensar é: por que eu não consigo ser como elas? Às vezes, até o barulho do mundo parece distorcido, como se eu estivesse ouvindo a vida através de um vidro embaçado. As conversas se tornam murmúrios sem sentido, os abraços parecem esvaziados de calor, e cada "tudo bem?" soa como um eco de um script que ninguém realmente quer seguir.
Eu só queria ser alguém normal. Alguém que não precisa fingir o tempo todo que está bem. Alguém que não sente esse vazio corroendo por dentro enquanto finge estar inteiro. Nada entra, nada preenche. É como viver com um buraco no lugar do coração. E o pior é que, mesmo quando tento me conectar, sinto que minhas palavras caem no chão antes de alcançarem os outros. Como se eu falasse em um idioma que ninguém decifra, um código de solidão que só eu entendo.
As pessoas me ignoram. Não é maldade, é indiferença. É como se eu fosse invisível. Quando olham pra mim, parece que estão olhando através, como se eu não estivesse realmente ali. Eu poderia sumir agora e, sinceramente, não sei se alguém notaria. Não sei se alguém sentiria minha falta de verdade. Até meus passos no chão parecem não deixar marcas — ando, mas não pertenço aos lugares por onde passo. Sou um espectro em um mundo que insiste em me dizer que fantasmas não merecem histórias.
E isso destrói. Machuca mais do que qualquer ferida física. Porque, no fundo, tudo que eu queria era ser aceito. Ser visto. Ser querido por quem eu sou. Sou a própria audiência de um espetáculo mudo, onde o único som é o da minha respiração tentando preencher o silêncio.
Às vezes, eu me pego desejando ser outra pessoa. Qualquer pessoa. Alguém que não se odeia tanto. Alguém que não sente essa necessidade desesperada de provar que merece existir. Eu me sinto um erro. Como se minha vida fosse um rascunho mal feito que ninguém teve paciência de corrigir. Até meus sonhos são feitos de papel frágil — desmancham-se com a primeira chuva de realidade. E eu fico aqui, recolhendo os pedaços molhados, tentando remontar algo que nunca soube como deveria ser.
E essa solidão... é sufocante. Ela não grita, ela sussurra o tempo todo, me lembrando que estou sozinho mesmo quando estou cercado de gente. Que ninguém realmente me conhece. Que ninguém realmente se importa.
Então eu fico aqui, engolindo tudo. Engolindo o choro, a raiva, a frustração. Engolindo partes de mim até não sobrar mais nada. Fingindo que tá tudo bem, porque ninguém quer lidar com alguém quebrado. As pessoas preferem ignorar o que incomoda. E eu sou incômodo. Sou a carta não lida no fundo da gaveta, o quadro torto na parede que ninguém se dá ao trabalho de endireitar. Existir cansa quando você é apenas um detalhe esquecido na paisagem alheia.
A verdade é essa: eu só queria ser comum. Só isso. Ser mais um. Não precisava ser especial, não precisava ser amado por todos... só queria ser amado por alguém. Queria ter valor pra alguém. Queria poder parar de me sentir como se existir fosse um erro que nunca deveria ter acontecido. Queria olhar no espelho e reconhecer algo além de um estranho. Queria que minha ausência fizesse falta, que meu nome não fosse apenas um som vazio na boca dos outros. Queria, mas já nem sei como querer direito — até meus desejos parecem desbotar, como tinta velha em um muro abandonado.
E no fim, continuo aqui. Respirando. Sobrevivendo. Carregando esse fardo de invisibilidade que, paradoxalmente, é a única coisa que me faz sentir real. Porque se a dor some, o que resta de mim? Se eu não sou nem isso — um grito abafado, um rascunho incompleto —, então talvez eu realmente não seja nada.
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my-tireless-mind · 4 months ago
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Na Minha Eventual Morte
Se um dia esta luz se apagar, quero que saibam: minha vida foi uma mistura de sonhos coloridos e feridas que nunca cicatrizaram. Nasci com o coração cheio de curiosidade, mas cresci aprendendo que o mundo nem sempre devolve o mesmo entusiasmo que oferecemos a ele.
Na infância, eu era feito de vento e terra. Corria descalço, subia em árvores como se fossem montanhas a conquistar, e as amoras que colhia no quintal tinham gosto de vitória. Minhas tardes eram preenchidas por risadas e lutas de mentira com meus amigos e primos — heróis de Dragon Ball Budokai Tenkaichi 3, estrategistas de RPG, companheiros de esconde-esconde até o anoitecer. As noites eram sagradas: pizza fria, salgadinhos derretendo nas mãos, e a certeza de que aquele momento, ali, era a definição de felicidade. Dividíamos segredos de games, criávamos campeonatos, e a vida parecia um jogo que jamais terminaria.
Na adolescência, descobri refúgio nos mundos que os outros não podiam ver. Animes me ensinaram que até os mais frágeis podiam ter poder; Harry Potter e Percy Jackson me mostraram que até os rejeitados tinham um lugar mágico para pertencer. Lia vorazmente, como se os livros fossem mapas para escapar da solidão. Sofria bullying na escola, era o "estranho" que as garotas ignoravam, e minhas paixões — poucas, mas intensas — morriam em silêncio, sem nunca serem ouvidas. Encontrava conforto em webamigos, em noites jogando Skyrim até o amanhecer, em capturar Pokémon como se cada criatura digital pudesse preencher um vazio real. Zelda me fazia sentir um herói, mesmo que, lá fora, me vissem como um coadjuvante.
No ensino médio, conheci o amor — ou o que imaginei ser amor. Ela era meu foco, minha obsessão, minha razão para escrever poemas mal feitos e acreditar que um dia seríamos felizes. Dei tudo: tempo, atenção, pedaços da minha alma. Mas ela me via como um detalhe, não como prioridade. Erramos ambos, eu insistindo demais, ela recuando sempre. A rejeição virou rotina, e mesmo assim, ali, no meio da dor, eu ainda acreditava que o amor poderia ser minha redenção.
Sonhava em construir uma família. Queria ser o marido que cozinha jantares de domingo, o pai que ensina os filhos a jogarem videogame, o parceiro que divide não só tarefas, mas sonhos. Mas a vida, cruel em sua ironia, me deixou sozinho. Aos 27 anos, ainda carrego o peso da virgindade não como escolha, mas como lembrança de todas as portas que se fecharam.
Na vida adulta, a depressão da adolescência se transformou em um monstro maior. Estudei Relações Internacionais, sonhando em ser diplomata, em consertar um pouco do caos do mundo. Mas como consertar o mundo se nem minha própria vida conseguia organizar? Fracassei — ou me fizeram acreditar que fracassei. Nas relações familiares, sempre me senti deslocado; nas amizades, vi laços se desfazendo como fios gastos; no amor, coleciono histórias de "quase" e "poderia ter sido".
Recentemente, cometi mais um erro: Era uma alma em forma de aurora — bondade que irradiava em gestos sutis, beleza que não se contentava com simples elogios, inteligência afiada como um verso desconhecido. Sua meiguice era um labirinto de ternura e luz, mas ela mesma era a poesia que desafiava a lógica do comum. E eu, ingênuo, mergulhei de coração aberto nas mãos de quem dança sob névoas que não escolheu — talvez se nossos relógios tivessem sintonizado outra era, antes que o mundo a ensinasse a carregar cicatrizes como medalhas… Mas não. Ilusão tola achar que o calendário seria ponte. Ela seguiu em frente, ferida, não por mim e pela minha falta, isso ela trata com leveza, como se eu fosse apenas uma nota de rodapé em sua história. Eu, porém, fiquei aqui — mais quebrado, menos humano, com pedaços meus espalhados no chão que não sei mais juntar.
Se um dia eu me for, não peço que lembrem de mim. Não guardem meu nome em fotografias empoeiradas ou histórias repetidas até perderem o sentido. Em vez disso, vivam — tão plenamente que minha ausência seja apenas um sopro disperso no ar.
Quando eu me for, não quero lágrimas vazias ou discursos sobre "tempo perdido". Em vez disso, peço: vivam. Joguem o próximo Fallout e imaginem-se caminhando por paisagens pós-apocalípticas que eu nunca verei. Mergulhem em The Elder Scrolls VI como se cada dungeon escondesse um segredo que eu gostaria de desvendar. Quando Zelda lançar sua nova aventura, sintam a emoção de explorar reinos desconhecidos em meu lugar, testem cada possibilidade desse jogo.
Aproveitem o sabor das comidas como se cada mordida fosse uma descoberta: o doce azedo de uma amora colhida às pressas, o crocante da pizza compartilhada em noites sem hora para acabar, o calor de um café tomado enquanto a chuva cai lá fora. Saboreiem até as coisas simples, como um pão fresco ou um chocolate derretendo na língua. A vida está nesses detalhes.
Sintam o vento que sopra — aquele que entra pela janela do carro, que balança as folhas das árvores, que seca lágrimas sem pedir explicações. Deixem que ele lembre vocês de que tudo passa, até a dor, até a alegria, até o momento em que estamos aqui.
Permitam-se sentir o frio na barriga de uma paixão sincera. Aquela que acelera o coração, que faz as mãos suarem, que transforma o mundo em cores mais vivas. Amem sem medo de parecerem bobos. Amem mesmo que dê errado. E sejam amados como eu não consegui, mas sempre sonhei.
Busquem conhecimento — não como fuga, mas como farol. Leiam livros que desafiem o que vocês sabem, que rasguem certezas e costurem novas perguntas. Escrevam, mesmo que só para si mesmos: rabisquem versos em guardanapos, diários secretos, mensagens nunca enviadas. A palavra é uma forma de resistir ao esquecimento.
Pratiquem arte como quem respira: pintem sem preocupação com técnicas, risquem violões desafinados ou batucadas em mesas. A arte não precisa ser perfeita — só precisa ser verdadeira.
Corram. Literal ou metaforicamente. Joguem bola, nadem, escalem montanhas, lutem, caminhem sem destino. Sintam seus corpos como aliados, não como inimigos. Descubram a liberdade de existir em movimento, algo que, tantas vezes, neguei a mim mesmo.
Expressem-se. Gritem. Cochichem. Façam piadas ruins. Vistam-se de azul-turquesa ou preto-fumaça, seja qual for a cor que hoje lhes cabe. Não deixem que o mundo os ensine a calar o que arde dentro de vocês.
Dancem — na cozinha, no meio da rua, no silêncio do quarto quando ninguém está vendo.
Cantem — desafinados, baixinho, em karaokês embaraçosos ou chuveiros acústicos. A vida é muito curta para só fazer o que "combina" com vocês.
E quando lançarem o próximo álbum do Babymetal, ouçam por mim como se fosse uma oração. Deixem que o metal mesclado ao kawaii sacuda suas veias e lembre que até o caos pode ser harmonioso. Quando Takane no Nadeshiko ecoar, permitam-se sentir a força suave das flores que crescem mesmo em lugares áridos — como eu tentei crescer, e não consegui.
Vivam por vocês.
Porque eu fui feito de tentativas fracassadas e silêncios, mas quero que vocês sejam feitos de vozes. Se um dia eu partir, que minha história não seja um lamento, mas um convite:
Comam.
Respirem.
Arrisquem.
Caiam.
Levantem.
E, principalmente, existam
Ouçam música. Olhem o pôr do sol como se fosse a primeira e última vez. Abracem seus amigos, mesmo aqueles que parecem distantes. Amem com a intensidade de quem sabe que o amor é frágil. Façam sexo não como um ato trivial, mas como uma celebração da conexão que eu sempre busquei e nunca encontrei.
Caminhem por florestas, mergulhem em mares, riam de piadas sem graça. E, se possível, guardem um pedaço de vocês para aqueles que, como eu, se perderam pelo caminho.
O mundo é cheio de beleza, mas alguns de nós nascemos com olhos que não conseguem enxergá-la. Para vocês, que ainda podem ver: protejam essa visão. E, de vez em quando, lembrem-se de que, em algum lugar, houve um garoto que subiu em árvores, lutou contra dragões imaginários e acreditou, até o fim, que um dia a luz chegaria.
Ela não chegou. Mas talvez, para vocês, chegue.
— Um adeus de quem tentou, mas não conseguiu ficar.
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my-tireless-mind · 4 months ago
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who let this bird on the train
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my-tireless-mind · 4 months ago
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Sobre a Melancolia e o Desejo Silencioso de Dissolução
É na penumbra do ser que se instala a melancolia, essa sombra que não se projeta sobre as coisas, mas que as consome, uma a uma, até que o mundo se torne uma paisagem de ruínas interiores. Não é a morte que se busca, mas a suspensão do existir, um desejo passivo de dissolver-se no vazio, como se o próprio sopro vital se cansasse de carregar o peso do tempo.
A depressão, em sua essência, é uma experiência cósmica invertida: enquanto o homem religioso vê o sagrado irradiar-se através do mundo profano, o deprimido testemunha o colapso dos símbolos. Os ritos perdem seu sentido, os mitos enrijecem-se em fábulas vazias, e o tempo — outrora um eterno retorno regenerador — transforma-se em uma sequência interminável de instantes opressivos. O presente torna-se uma cela sem janelas, onde até mesmo a nostalgia perde sua doçura, pois não há mais lembrança a ser recuperado.
A idealização suicida passiva não é um impulso, mas uma resignação metafísica. É o eco de um lamento antigo, semelhante ao do xamã que, em sua provação iniciática, deseja morrer para renascer — mas aqui, não há visão de renascimento. É o desejo de dormir como a terra sob a neve, de descansar no ventre primordial do caos, longe da "terror da história" e de sua cacofonia de acontecimentos sem significado. O sujeito não anseia por autodestruição, mas por cessar de ser um *problema para si mesmo*.
Em mitos antigos, a descida aos infernos era um prelúdio necessário à iluminação. Orfeu, Perséfone, o próprio Cristo no Hades — todos atravessaram as trevas para reencontrar uma forma de luz. A melancolia moderna, contudo, parece negar até mesmo essa esperança arquetípica. O deprimido é um Ulisses sem Ítaca, um peregrino que esqueceu o rosto da divindade. Sua "noite escura" não é a de São João da Cruz, purificadora e cheia de promessas, mas uma noite sem estrelas, onde até o silêncio é estéril.
Quem sabe, no fundo desse desespero, habita a nostalgia do Absoluto. E quem sabe, para reencontrá-lo, seja preciso mergulhar até as raízes da escuridão — onde a alma, finalmente, descobre que até o vazio pode ser um espelho do divino.
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my-tireless-mind · 4 months ago
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À Sombra dos Relógios Parados
A vida é um relógio cujos ponteiros se recusam a avançar. Fico aqui, encostado na parede úmida deste quarto alugado, observando o mofo crescer entre as rachaduras do teto, como se fosse a única coisa que ainda se move neste mundo estagnado. Nem mesmo o tempo tem pressa por mim.
Nunca fui necessário. Empregos? Foram breves fantasmas que sumiram ao primeiro raio de luz, deixando apenas o cheiro de desprezo. Entrevistas são tribunais onde me condenam antes de abrir a boca. Vejo nos olhos dos outros: sou um vulto, um rascunho de homem que não merece nem a dignidade de um "não". A carteira vazia é só o retrato de uma alma ainda mais oca.
E o amor... Ah, o amor. Quantas vezes fingi sorrir para colegas, ouvindo histórias de paixões que nunca chegaram perto de mim? Até as prostitutas me olham com pena, como se soubessem que nem o dinheiro do meu último suspiro compraria um abraço sincero. Amigos? Foram carcereiros disfarçados de companheiros. Moedas que brilhavam em minhas mãos até perceber que eu era só o bolso temporário — útil para carregar confissões, pagar contas de bares, ouvir gargalhadas que nunca me incluíam. Quando deixei de servir, viraram pó. Não restou nem o eco de um "obrigado".
O futuro é um deserto sem horizonte. Não há sonhos para me arrastarem para frente, nem pesadelos para me assustarem. Até a dor se tornou rotineira, como um café frio que se bebe por hábito. Às vezes, olho pela janela e vejo as pessoas passando, cada uma com seu fardo de esperanças. Como devem ser leves, essas cargas! Eu carrego apenas o vazio, que é mais pesado que qualquer tristeza.
Talvez eu já esteja morto e ninguém avisou. Um cadáver que respira, ocupando espaço em um mundo que não o registra. Até meu pranto é silencioso — lágrimas que evaporam antes de caírem, como se não merecessem nem o drama de um impacto.
Restam-me as noites. Longas, intermináveis, onde a insônia me sussurra histórias de tudo que poderia ter sido e nunca será. E eu ouço, deitado no colchão fino, enquanto a cidade lá fora ri, ama, vive. Amanhã será igual a hoje. E depois. E depois.
Pergunto-me, às vezes, se algum deus se perderia nesta sala para encontrar um fracasso tão completo. Mas até os deuses têm pressa. Seguem adiante, deixando para trás o eco de uma pergunta que ninguém fará:
Quando um homem desaparece sem nunca ter existido, alguém ouve o barulho da queda?
Escrito na chuva nevuosa de um outono que não promete primavera.
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my-tireless-mind · 5 months ago
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No silêncio do quarto, onde as paredes sangram quadros em vermelho desbotado, o universo parece ter se condensado em um buraco negro dentro do peito. Cada pincelada de tinta carmesim, seca como feridas antigas, conta histórias de um amor que um dia ardeu e agora não passa de brasa apagada sob cinzas. As figuras nos quadros são apenas sombras deformadas, como se o artista tivesse tentado capturar um abraço e, no lugar, registrou o vazio de braços que nunca se encontraram. Vermelho é a cor do que restou: ferrugem, cicatrizes, o tom de um céu que nunca amanhece.
Lá fora, as estrelas são testemunhas frias. Galáxias inteiras se afastam umas das outras, obedecendo a uma expansão cósmica que não entende de saudade. A Via Láctea, nossa frágil espiral de luz, é apenas um grão de areia em um deserto infinito, e eu — um átomo solitário perdido na imensidão. Observo Orion, aquele caçador eterno, e pergunto se ele também carrega no peito a constelação da solidão. Suas estrelas brilham há milênios, mas nenhuma delas ilumina o abismo entre dois corpos que não se tocam.
A astronomia ensina que até mesmo a luz pode ser aprisionada. Buracos negros sugam tudo, até os fótons mais teimosos, e não deixam escapar nem um gemido. Assim é o vazio aqui dentro: um horizonte de eventos onde as memórias são distorcidas, esticadas como taffy até se tornarem irreconhecíveis. Você era minha estrela binária, a companheira que mantinha minha órbita estável. Agora, sou um planeta errante, girando sem eixo, condenado a noites perpétuas.
Os cientistas dizem que o universo está se expandindo cada vez mais rápido, e talvez seja por isso que o silêncio entre nós cresce como um tumor cósmico. As palavras que não dissemos tornaram-se nebulosas escuras, engolindo qualquer possibilidade de supernova — daquelas que incendeiam o céu e fazem os amantes suspirarem. Até as lágrimas parecem obedecer à gravidade zero: flutuam, paralisadas, antes de evaporarem no vácuo.
Na parede, o vermelho dos quadros me observa. Talvez seja a cor do nosso último verão, quando o amor ainda tinha a tonalidade de uma maçã madura. Ou talvez seja apenas sangue coagulado, a prova de que até o que é vivo pode secar e cair, folha morta em um outono sem fim.
Às vezes, imagino que em algum lugar deste cosmos indiferente, há um planeta onde dois corpos se orbitam sem medo do vazio. Mas aqui, na Terra fria e real, restam apenas telescópios quebrados e retratos em carmim — monumentos a um amor que virou poeira estelar, perdida para sempre no espaço entre o que fui e o que não ousei ser.
E assim, na escuridão que não termina, aprendo a última lição da astronomia: Somos todos sozinhos, ilhas de carne em um oceano de escuridão. Até as estrelas mais brilhantes morrem, e ninguém ouve seu último suspiro.
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my-tireless-mind · 5 months ago
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The Window to the Soul by Priya Kakati
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my-tireless-mind · 5 months ago
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Em segundos, o mundo se transforma: guerras surgem, asteroides ameaçam, sementes desabrocham — e eu, como um personagem à deriva, descubro o meu lugar no afeto alheio. Talvez seja um absurdo kafkiano: tudo muda, menos minha sina de ser esquecido.
Há horas duvidava do amor romântico, depois que seria apenas uma boa amizade; agora percebo que fui apenas um episódio útil na trama dos outros. Não sou o herói, o confidente, o amigo e nem o amante — sou o que conserta relógios quebrados e é deixado na gaveta quando funcionam.
Todos que passaram por mim chegaram com tempestades, como almas atormentadas em busca de redenção. Quando a chuva parou, foram embora. Sobrou eu, objeto utilitário, poeira no canto. Kafka entenderia: vivo à porta de conexões que nunca se abrem.
Se Raskólnikov carregava um segredo sob as tábuas, eu carrego um abismo vazio no peito. Não sou humano aos olhos do outro — sou espelho quebrado, um Bartleby tropicalizado, que prefere não existir.
Na teia de aranha das relações, descobri-me afinal: não um inseto, mas lata de lixo ambulante — recipiente de restos alheios, observado com o mesmo desdém que se dedica a objetos impuros, "aqui jaz a utilidade que não ousou virar humanidade".
E assim, como o homem do subsolo que conhece demais seu abismo, renuncio. Entendo que não sou humano, mas não me farei ser compreendido — até as latas de lixo, afinal, têm a dignidade de não explicar seu conteúdo.
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my-tireless-mind · 6 months ago
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Essa arte me passa uma paz e uma sensação nostálgica estranha, adorei!
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Pixel Art by 温田町子
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my-tireless-mind · 6 months ago
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Beast by Tasha Tikhonova
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