“De vez em quando
alguém toca nas árvores,
nas flores,
na pele
- e é como tudo se quebrasse
em flores de vidro.”
José Gomes Ferreira, 'Poeta Militante 3.º Volume'
© Natalia Drepina
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Torna-te um perfeito estranho
para a tua vontade
e prossegue
José Tolentino Mendonça, 'A Papoila e o Monge'
© David Galstyan
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“Ah! Quando perderei a ilusão
de que a minha tristeza
dá sentido ao mundo?”
José Gomes Ferreira, 'Poeta Militante 2'
© Natalia Drepina
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"a tua só coisa,
a coisa feita em segredo
e o segredo exercido
em cada sítio fechado
até que chegue à palavra tanta abundância
e tu a vejas tão simples
como escrever o teu nome
na tua quase a medo esdrúxula espécie de dança"
Herberto Helder, 'Letra Aberta'
© Natalia Drepina
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“Silêncio, gentileza vogando pela iniquidade do mundo.”
Vasco Gato, 'Rusga'
© Jarosław Datta
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O que sei do céu
É a mão com que sossegas os ventos
Daniel Faria
© Anna O.
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Quando ainda não sabia as palavras possíveis
para passar entre voz e silêncio dos outros,
tal como entre troncos das florestas mudas,
eu falava com as nuvens que vinham
sobre nós a cantar, de trémulas asas,
e aspergiam os aromas do extâse.
Fiama Hasse Pais Brandão, 'As Fábulas'
© Anna O.
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Vejo que a morte é como romper uma palavra e passar
- a morte é passar, como rompendo uma palavra, através da porta, para uma nova palavra.
Herberto Helder
© Anna O.
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pelo lado norte vem o cortante vento do mar
o dia acaba de se agasalhar no musgo das acácias
fico imóvel
atento ao estalar nocturno das madeiras
a roupa foi deixada em cima da cadeira
cobre-se de penumbras… a casa treme
com a explosão da pedreira
viro-me para a terra alegre dos sonhos
invento uma lua um inverno só para mim
donde chegarão aqueles barcos de sobressalto?
um dedo arde na poeira das vidraças
uma planta corrói o silêncio dos corredores
debruço-me para a velha mesa encerada
uma aranha arrasta-se sobre a folha de papel
espeto-lhe o aparo… escrevo
a crueldade das palavras que te cantam
tento acender outras imagens devoradas pelo tempo
mas estou confuso e definitivamente só
de que lado da casa rebentará o novo dia?
em que arrecadação escura sossegará o amor?
resta-me escancarar a porta da casa
e sorrir a todos os desconhecidos
Al Berto, 'O Medo'
© Brooke Shaden
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A mão que embala o mundo traz ao colo
a música de frases tenebrosas
a arder na minha boca. A língua fala
de tudo o que não sei: palavras rasas
entre lábios sem alma, que revelam
a natureza morta numa casa
onde a luz fica acesa em cada sala
até de madrugada. Tudo é belo
quando a vida mal vibra e mal nos pesa,
quando o silêncio abre as suas asas
sob o divino hálito que engole
o aroma das rosas.
Fernando Pinto do Amaral, 'Às Cegas'
© Angelika Ejtel
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"Revejo fotocópias. Alguns retratos que me tiraram por volta de 1970. É espantoso como 15 anos depois ao olhá-los, chego à conclusão de que sou a síntese daquilo que já não sou.
O que me atormenta é que estes retratos, naturalmente, me sobreviverão. Depois de eu morrer, qual deles terá sido o meu verdadeiro retrato?
Estarei parecido nalgum deles? De todos estes retratos qual será aquele onde nunca estive?”
Al Berto, 'Diários'
© Slevin Aaron
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"A mim, basta-me o espanto da flor que murcha quando, no mesmo ramo, outra flor expande as pétalas ao sol."
Al Berto
© Brooke Shaden
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DIÁLOGO NA SOMBRA
A . — Quisera saber como és feito por dentro ... Como é a tua vontade por dentro, que coisas há naquela parte do teu sentir que tu não medes que sentes.
E . — Tão feminina nisso ... E és da matéria das coisas irreais!
A . — Quando levantas um braço eu queria saber porque coisas do além, tu levantas esse braço ... O que há por detrás de o tu quereres levantar e de saberes porque o queres levantar? Vim contigo há tanto e não sei quem tu és... Reparo às vezes nos pequenos gestos que fazes e vejo quão pouco sei de ti ...
E . — Eu próprio não sei quem eu sou ... Meus gestos são entes estranhos quando reparo neles, e sombras incertas quando não reparo. São uma perpétua revelação a mim próprio. Sou tão exterior a conhecer me como o mundo externo ... Entre o meu querer erguer um braço e ele erguer se vai um intervalo divino ... Transponho, entre pensar e falar, um abismo sem fundo humano.
A . — Eu sou simples como uma pedra no caminho ou uma rosa numa roseira.
E . — És simples porque não te espelhas em ti. Uma pedra no caminho é (atónita) um mistério igual a Deus ... Uma rosa numa roseira é tão compreensível como a Vida ...
A . — Olho te e amo te e não te possuo nunca. Floriram em (...) as rosas do meu jardim ... Acompanho te e perco te sempre que olho para ti.
E . — Eu próprio não me acompanho ... como poderás tu acompanhar me? Vejo meus pés andar como quem vê passar um cortejo humano nas distâncias e na noite ... Reparo na minha sombra como numa face desconhecida que espreitou de fora à janela da minha moradia ... Não compreendo nada ... Não compreendo nada.
A . — Mas há coisas que tu compreendes e que nunca me confessas. Falas me dos teus amores e dos teus desejos mas eu sinto que guardas para ti, fechada na mão, uma jóia qualquer do teu sentimento. Porquê se eu te amo e se somos um só?
E . — Porque nunca somos um só. Aquilo que eu não te digo, apesar de habitarmos juntos este palácio e juntos pensarmos neste jardim. Segredo o a mim quando estou mais só e nem ergo a voz, para que me não ouça não sei quem que me não pode ouvir.
A . — Sou a tua Alma e a mim próprio não me contas tudo! Passou ontem uma brisa leve pelo jardim. Trouxe perfumes de outros jardins [...]
Fernando Pessoa, 'Textos Filosóficos Vol. I.'
© Brooke Shaden
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