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notesfrommybooks · 2 years
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noite e dia (virginia woolf)
Em carta data de 16 de outubro de 1930, Virgínia estava às voltas com a escrita de Noite e Dia e relata: "temia e tremia tanto por minha própria insanidade que escrevi Noite e Dia, principalmente para provar, dando satisfação a mim mesma, que eu podia manter-me inteiramente afastada desses termos perigosos" (pág. 71 de "Virgínia Woolf: A medida da Vida", de Herbert Mader).
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1.1. alguns pontos marcantes para mim:
-as personagens do sexo feminino do livro possuem características diversas entre si, o que reflete a complexidade e pluralidade em torno das mulheres, pois essas são diversas, com personalidades e histórias próprias.
-ruptura ou quebra de expectativa do que a sociedade espera que seja uma atitude ou personalidade feminina, por exemplo, a própria Katharine Hilbery- esta odeia as conversas sentimentalistas e a poesia, mas é apaixonada pela matemática - e a Mary Datchet, filha de um vigário rural, trabalha no escritório de uma organização que faz campanha pela promulgação do sufrágio feminino. Embora ela pudesse viver confortavelmente sem trabalhar, Mary opta por trabalhar. Não pretende casar e se dedica ao seu trabalho e a sua causa: o voto feminino.
-A Katharine é uma pessoa solitária e luta para conciliar sua necessidade de liberdade pessoal com suas noções de amor.
-Katharine representa as ideias da nova geração sobre o casamento, Cassandra, prima de Katharine - pelo menos na mente de William - representa as ideias vitorianas convencionais sobre o casamento em que a esposa serve ao marido.
-mesmo sendo mulheres mais velhas, de geração diferente da de Katharine e Mary, a Mrs. Margaret Hilbery, mãe de Katharine, é apaixonada pela poesia, vive para rememorar o nome do seu pai poeta e escrever uma biografia dele. E Sra. Sally Seal, uma senhora de 55 anos, que trabalha com Mary, e passa a dedicar seu fim de vida pela causa "da humanidade" (262 p.)
" - Para uma vida inteira? Minha querida menina, vai durar todas as nossas vidas. Quando uma cair, outra a substituirá na brecha. Meu pai, um pioneiro, na geração dele; eu, fazendo o que posso, em seu lugar. Que mais, desgraçadamente, se pode fazer? E agora é a vez de vocês, mulheres mais jovens, contamos com vocês, o futuro conta com vocês. Ah, minha cara, se eu tivesse mil vidas, eu as daria todas à nossa causa. A causa das mulheres, diz você. A causa da humanidade, digo eu." (Sra. Sally, 262 p.)
"Mas vendo seu próprio estado espelhado no rosto de Mrs. Hilbery, Katharine se obrigava a acordar com um sentimento de irritação. Por mais que a admirasse, sua mãe era a última pessoa com quem desejaria parecer-se." /
"Decidir os menus, dirigir os empregados, pagar as contas, conseguir que todos os relógios batessem à mesma hora e que as jarras estivessem sempre cheias de flores frescas eram tidos como predicados naturais dela. Mrs.Hilbery costumava dizer que isso também era poesia, só que às avessas. Desde tenra idade, tivera ela de funcionar ainda em outra capacidade: aconselhando sua mãe, dando-lhe apoio, de maneira geral. Mrs. Hilbery poderia perfeitamente sobreviver sozinha no mundo, fora o mundo o que ele não é. Estava admiravelmente preparada para a vida em outro planeta." /a iniquidade entre homens e mulheres; qual o espaço das mulheres? onde elas ocupam.
-contraste entre Katharine, que não é o modelo romântico, não se importa tanto com um suposto casamento e Ralph, advogado e tão romanticamente apaixonado.
1.2. a classe burguesa da família Hilbery
"Pode ser dito, na verdade, que, sendo a sociedade inglesa o que é, não se exige nenhum grande mérito, uma vez que se tenha um grande nome, para ocupar uma posição onde, de maneira geral, é mais fácil ser eminente que obscuro. E se isso é verdade com referência aos filhos, até mesmo as filhas, inclusive no século XIX, têm oportunidade de tornar-se pessoas de nomeada, filantropas e educadoras se são solteironas, esposas de homens eminentes, quando casam. É verdade que houve umas poucas lamentáveis exceções a essa regra no clã dos Alardyces, o que parece indicar que os filhos mais moços de tais estirpes degeneram mais rapidamente que os filhos de pais e mães comuns, como se isso fora uma espécie de alívio para essas casas. De modo geral, contudo, nos primeiros anos do século XX, os Alardyces e seus parentes mantinham as cabeças confortavelmente fora d’água. Podem ser encontrados no cume das profissões, com abreviaturas honoríficas depois dos seus nomes: pontificam com secretárias particulares em luxuosos escritórios públicos; escrevem sólidos volumes de encadernação escura, publicados pelas editoras das duas grandes universidades; e quando um deles morre, há uma boa chance de que outro da família lhe escreva a biografia.
"Agora: a fonte dessa nobreza toda era, naturalmente, o poeta, e seus descendentes imediatos; em conseqüência, investiam-se de maior lustre que os ramos colaterais. Mrs. Hilbery, em virtude da sua posição como filha única do poeta, era espiritualmente a cabeça da família. E Katharine, sua filha, tinha graduação de certo modo superior entre todos os primos e afins, e mais ainda por também ser filha única. Os Alardyces se haviam casado uns com os outros e entrelaçado a tal ponto que a sua descendência era, de regra, copiosa, e tinham o hábito de reunir-se regularmente em uma das casas da família para refeições e celebrações familiais, que, com o tempo, assumiram um caráter meio sacral, passando a ser religiosamente observadas como o são os dias santos de guarda ou de jejum na Igreja."
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notesfrommybooks · 2 years
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Conto "A marca na parede" (virginia woolf)
Escrito entre os anos de 1917 e 1921, ou seja, durante o período da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
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Fortes características do estilo de escrita da Virginia, como por exemplo, os fluxos de consciência, forte relação com os elementos da natureza e a crítica ao sistema patriarcal.
A narrativa se desenvolve em primeira pessoa a partir da visão de uma marca negra e arredondada na parede que desperta suposições, divagações e vertiginosas sensações; divagações da consciência da protagonista assombrada por uma súbita e “vasta sublevação da matéria” (WOOLF, 2005, p. 113) até a interrupção cotidiana que revela a prosaica natureza dessa mancha enigmática - um caracol. Algo que por fim se mostra insignificante/simples.
Durante um monólogo intimista, a personagem demonstra que os significados das coisas não são únicos, mas múltiplos.
Deixar vir a tona; transbordar os pensamentos, com uma simples marca na parede.
Questionamentos dos valores de sua época
O conto inicia com a frase: "Foi talvez em meados de janeiro deste ano que olhei pela primeira vez para cima e vi a marca na parede.”* (p. )
O ato de olhar para cima, pode significar várias coisas, mas há duas fundamentais: a.) ao se olhar para cima, é por acreditar em algo divino, o céu, deus, a natureza; b.) ao se olhar para cima, é porque nos encontramos em uma situação inferior. Portanto, no conto, Virginia Woolf caminha para essas duas possibilidades e com um ingrediente a mais, pois ela, com serenidade, não utiliza critérios comuns para avaliar o que está em cima ou o que está embaixo.
O recurso metalinguísticos é a "própria imprecisão do pensamento"
Crítica feminista e um reflexão sobre liberdade: "O que agora toma o lugar dessas coisas, pergunto-me, importantes e sérias? Talvez os homens, caso você seja mulher; o ponto de vista masculino que governa nossas vidas, que fixa o padrão, que estabelece a Ordem de Precedência…”
A simbologia do espelho e sua possibilidade, queira ou não, de reflexão; o saber da própria existência; o espelho que encontramos nos lugares mais inesperados do cotidiano e da vida, na rua, dentro do ônibus, em uma marca na parede.
Revelação do processo de pensamento, as ideias, um cérebro em sua mais bela fluidez, o que, mais para frente, Virginia Woolf usou em seus personagens com a técnica do fluxo de consciência, portanto, o conto funciona como uma experimentação literária e um encorajamento para que o leitor também se arrisque no ato de pensar.
A existência da ruptura do espaço e tempo cronológico para um espaço e tempo psicológico. É comum ao modernismo literário, no qual o tempo cronológico voltado à sucessão de ações externas cede espaço ao tempo psicológico e aos movimentos da consciência, levando a termo experimentações na forma de sua apreensão e sua expressão no âmbito linguístico.
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notesfrommybooks · 2 years
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No caminho de swann - Marcel Proust
* No caminho de Swann, é o primeiro título do ciclo "Em Busca do Tempo Perdido", escrito ao longo de 14 anos, o primeiro volume, foi publicado em 1948. Nesse livro, o narrador introduz o leitor no seu universo literário a partir de rememorações da infância e da história de amor e ciúme de Swann por Odette. A obra traz uma das mais famosas passagens da literatura, quando o narrador come uma "madeleine" (tipo de bolinho) molhada no chá e vê sua consciência mergulhar involuntariamente no passado.
*Lançado por Marcel Proust em 1913, depois de ter sido recusado pelas principais editoras francesas, este livro se concentra no período de formação do protagonista: o amor intenso pela mãe e a pouca simpatia pelo pai; o ambiente familiar dominado por mulheres; os sentimentos precoces de ódio e de culpa; as temporadas na provinciana Combray, com suas histórias locais; os primeiros contatos com pessoas que iriam viver, envelhecer e desaparecer sob os olhos do narrador.
* O livro faz parte de uma série de 7 obras:  No caminho de Swan,  A sombra das raparigas em flor, O caminho de Guermantes,  A prisioneira,  Sodoma e Gomorra, A fugitiva, O tempo redescoberto
*Celebração da memória.
Primeira Parte:
-  Combray (nome literário dado por Proust à sua aldeia de infância, Illiers, rebatizada após sua morte como Illiers-Combray) é conjunto de reminiscências que abre Em Busca do Tempo Perdido. O narrador, adulto, sonha com os diferentes quartos onde dormiu no decorrer de sua vida, em particular aquele de Combray, onde passava as férias quando criança. Aquele quarto encontrava-se na casa de sua tia-avó.
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notesfrommybooks · 3 years
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Laranja Mecânica- Anthony Burgess
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O Homem Moderno
Homem moderno, o ser degradado fruto de seu meio social e moldado de acordo com este último. Tomando por norte o homem como sendo um reflexo do seu meio sociocultural, político e econômico, percebemos que Alex, que se encontra em uma Inglaterra futurista, porém que apresenta fortes traços da sociedade vigente na época de escrita da obra por Burgess, remetendo-se a diversos problemas sociais enfrentados pela Inglaterra na década de 1960, podemos apontar que o protagonista de Laranja Mecânica apresenta características que nos fazem acreditar que este seja uma personificação da sociedade que o cerca dentro da obra, bem como um é instrumento de uma crítica à certas mazelas da sociedade inglesa das décadas da época de escrita da narrativa.
Sobre a Obra
Laranja Mecânica (1962) conta a história do jovem narrador Alex, que faz um relato autobiográfico de suas experiências ao decorrer do livro. Alex é um adolescente transviado, líder de uma gangue, que perambula pelas ruas de uma Londres “futurista” decadente com seus Druguis, seus amigos, cometendo livremente os mais bárbaros atos contra homens e mulheres, tais como estupros, assaltos e espancamentos. Após cometer involuntariamente um assassinato, Alex é preso. Na cadeia, sua única chance de se ver livre da reclusão é participar como cobaia de uma experiência de cunho social desenvolvida com a intenção de eliminar tendências criminosas presentes em delinquentes. Ao conseguir se tornar um voluntário para participar da experiência, Alex se vê num processo doloroso e desumano, tanto quanto a ultraviolência que pregava e praticava.
Após sair do programa de “reabilitação social”, Alex depara-se com as consequências do processo ao qual foi submetido. Com o objetivo de eliminar o comportamento criminoso de seus pacientes, o “tratamento” fazia com que os indivíduos submetidos a ele passassem a sentir um forte mal-estar físico a cada vez que tentassem cometer qualquer ato delinquente. Mesmo após passar pelo experimento Alex não deixa de sentir vontade de cometer atos hediondos, porém, por estar condicionado a ter reações físicas desagradáveis ao tentar pôr em prática seus pensamentos criminais, ele prefere não os cometer. No final da obra, o protagonista volta a conseguir pensar e agir como antes e ainda sai como vítima do sistema ao qual foi submetido.
Durante a obra Alex se apresenta para nós leitores como um indivíduo extremamente violento e cruel, não possuindo nenhum sentimento de culpa, nem de arrependimento pelos atos bárbaros que comete juntamente com seus Druguis. Mesmo em momentos em que para refletir sobre suas ações, Alex não demostra nenhuma reação de remorso. Aparentemente, Alex não possui motivos que possam servir de pretexto para que o narrador tenha o comportamento que nos apresenta, porém, ao nos situarmos historicamente nos problemas sociais vivenciados na época da escrita de Laranja Mecânica, vamos encontrar diversos fatores que nos levam a entender os porquês que levam o protagonista a agir desta maneira degradada. A primeira característica que o Alex nos apresenta é a falta de objetivos palpáveis em sua vida, e a falta de desafios, como podemos perceber no seguinte trecho:
“Mas eu não conseguia deixar de me sentir um pouquinho decepcionado com as coisas do jeito que eram naquela época. Nada contra o que lutar de verdade. Tudo era fácil como tirar doce de criança. Mas a noite era mesmo uma criança” (BURGESS, 2011, p. 15).
Segunda Guerra Mundial
A falta de objetivos o leva à monotonia e essa monotonia acaba por servir de canal para à prática da violência como forma de diversão. Os jovens ingleses, após o término da Segunda Guerra Mundial, não tinham muitos ideais de vida e com isso passaram a buscar maneiras diversas para se entreterem, até mesmo aqueles provenientes de famílias abastadas economicamente, foi então que o número de gangues de jovens na Inglaterra cresceu, a violência gratuita era uma forma de escape para a monotonia, consequência da falta de objetivos.
O protagonista e narrador de Laranja Mecânica possui um tutor, uma espécie de conselheiro encaminhado pelo Estado para auxiliá-lo a manter uma conduta adequada aos padrões exigidos pela sociedade, pois Alex já havia anteriormente se envolvido em confusões pela Londres do amanhã. Esse tutor expõe para nós alguns argumentos que nos fazem questionar se o personagem Alex é um indivíduo perverso por si próprio ou se as circunstâncias que o rodeiam o transformaram no que ele é. Como no seguinte trecho:
Ah, sim, aprecia, não é? – ele meio que debochou. – Fique esperto, é isso. Sabemos mais do que você pensa, jovem Alex. – Então ele disse, com uma goloz de grande sofrimento, mas ainda balançando: – O que é que dá em vocês todos? Nós estudamos o problema e já estamos estudando há quase um século, sim, mas os estudos não estão nos levando muito longe. Você tem uma bela casa aqui, bons pais que te 4359 amam, você não tem um cérebro lá tão ruim. É algum diabo que entra dentro de você? (BURGESS, 2011, p. 41)
Mesmo ao abordar esta questão, ao decorrer da narrativa podemos perceber que existem diversos fatores que moldaram o narrador, fatores estes que por vezes mostram o jovem refletindo o comportamento dos jovens da sociedade de Burgess, a sociedade externa física, e em outros momentos tomando atitudes claramente semelhantes às que o governo vigente na narrativa desempenhava, mostrando como o sistema no qual ele está inserido é falho e ineficiente.
Família e Escola
Alex têm 15 anos de idade, não vai à escola, apesar de seus pais “acreditarem” que o filho frequentava as aulas. Possui uma família ausente. Seus pais trabalhavam durante todo o dia, à noite eles se “dopavam” para conseguirem dormir e não perturbar o filho. Percebemos durante a narrativa uma inversão de papéis, Alex é quem “ensina” os pais a forma como agir em relação a ele, e não o contrário, a partir disso podemos notar a degradação da família urbana, os valores não são mais os mesmos de antigamente e as regras não se aplicam mais da mesma maneira. Não há nos primeiros momentos da narrativa uma participação efetiva dos pais de Alex em sua vida. Nos anos que seguiram após a Segunda Guerra Mundial os pais e mães de família da Inglaterra começaram a trabalhar excessivamente por causa da pobreza que o país atravessava no período pós-guerra. Nessa época as mulheres começam a sair de casa para trabalhar e deixavam seus filhos sob a responsabilidade da escola. Havia um pensamento de que a escola era responsável pela educação destas crianças, porém as instituições educacionais não conseguiam conter esses indivíduos e o comportamento dos jovens acaba saindo de controle.
A família encontra-se alienada, consequência das mudanças sociais que ocorreram no período da escrita da obra, bem como acontece com a família de Alex em Laranja Mecânica, como podemos observar no seguinte trecho:
“– Oioioi. Muito melhor agora depois de um descanso do dia. Pronto para mais um trabalho noturno agora para merecer aquele trocadinho. – Porque era isso que eles diziam que acreditavam que eu fazia naquela época [...]” (BURGESS, 2011, p. 50)
A própria fala de Alex em relação aos seus pais nos transmite um tom de ironia quando diz que os pais “diziam que acreditavam”.
O Reflexo
Apesar de ir contra as regras e princípios de sua sociedade, Alex, internamente, desenvolve suas próprias regras e princípios. Ele é contrário a um sistema que impõe uma ordem, mas ele próprio desenvolve uma. Dessa maneira podemos compreender que Alex faz as vezes de um espelho, refletindo sociedade que opressora e ditadora em que ele se encontra, pois, o próprio narrador impõe-se dentro de seu minúsculo grupo de Druguis, assim como dentro do seio familiar. O grupo do qual é líder vai contra as instituições governamentais de poder, como a polícia, porém, apresenta uma figura portadora de autoridade e de nível superior aos dos outros membros dentro de dela, e este ser é o próprio Alex.
Além do sistema hierárquico e opressor que existe dentro do grupo de Druguis, Alex também cria noções de moral para serem seguidas por seus amigos, o protagonista adota dentro de seu universo particular regras semelhantes as que são impostas pela sociedade em que vive e que ele se diz contrário. O narrador estabelece seu poder e requer o respeito às normas morais através do uso da violência, exatamente como a polícia da narrativa e bem como a polícia inglesa das décadas de 1950 e 1960.
Alex age dentro de seu universo como se fosse o presidente de uma pequena nação, o representante maior dentre seus amigos, como o governador e soberano do meio em que vive. O grupo que é contra as instituições governamentais tem um governo dentro de si. Dessa maneira percebemos como Alex é um reflexo do seu sistema, pois mesmo indo contra o sistema vigente o protagonista possui internalizadas noções de regras e valores que são semelhantes às das instituições governamentais as quais ele se mostra contrário. Burgess, em Laranja Mecânica, criou um personagem narrador e protagonista desordeiro, corrupto, ladrão, estuprador, assassino e mentiroso que é fruto do mesmo governo que ataca.
Vemos aqui um aspecto irônico na obra de Anthony Burgess, um indivíduo que vai contra um sistema do qual ele próprio é uma representação. Essa ironia nos mostra como as estruturas sociais estão entrelaçadas à formação dos indivíduos, pois as atitudes de Alex são um reflexo dos valores internalizados da sociedade em que ele vive. Nosso protagonista tem esse comportamento porque foi moldado por seu meio, reproduzindo tudo aquilo que a sociedade em que vive lhe transmitiu. O governo é autoritário, Alex 43711 também, o governo é opressor, Alex também é, o governo não demonstra culpa pelos seus atos, Alex também não.
seleção do artigo : O TEXTO REFLETE O MUNDO: LITERATURA E SOCIEDADE EM LARANJA MECÂNICA. O TEXTO REFLETE O MUNDO: LITERATURA E SOCIEDADE EM LARANJA MECÂNICA.
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notesfrommybooks · 3 years
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Paris é uma festa- Ernest Hemingway (anotações)
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Sobre o autor e sua obra 
Ernest Hemingway nasceu em 21 de julho de 1899 nos Estados Unidos. Quando jovem escreveu histórias para o clube de contista e para o jornal acadêmico. Em 1918 lutou na Primeira Guerra Mundial na Itália e foi ferido na primeira semana. Voltou para os EUA e ingressou no jornal "Toronto Star" onde viajou constantemente e conheceu em Nova Orleans Hadley Richardson com que se casou em setembro de 1921. No mesmo ano viajou para Paris a trabalho do jornal (Paris se recuperava da Guerra e obrigava a muitos intelectuais desiludidos com o mundo "geração perdida" que incluía Scott Fitzgerald e Gertrude Stein ir a bares boêmios). Após o nascimento do seu filho, o escrito se desligou do jornalismo e publicou seu primeiro livro "No tempo" (1924) conjunto de contos que evocam caçadas, os horrores da guerra, a coragem dos toureiros.
Paris é um festa foi publicado em 1964, sendo ele um livro póstumo pois Hemingway se suicidou em 1961. Esta obra cobre o período de 1921 a 1926 que ele viveu em Paris. Pode ser considerado um livro de memórias que foi composto entre os anos de 1957 a 1960. Foi escrito em um período em que ele estava sem inspiração.
No período que em Hemingway estava em Paris já estava casado com sua esposa Elizabeth Hadley Richardson e já tinha seu filho pequeno John Hadley Nicanor (apelido Bumby), tinha acabado de largar seu emprego como jornalista nos Estados Unidos para ser escritor. Hemingway já era contista antes em revista e era assim que ele continuou se mantendo e mantendo a família. Sua família não era pobre porém faziam escolhas sem administrar o dinheiro (corrida de cavalo, bares, viagens).
Anos de desenvolvimento do autor. É contado em "tempo real" porém Hemingway escreveu ao fim de sua vida, onde relembrava dessa época.
Um bom café na Place Saint- Michel
pág. 23-24. Em um fim de outono Hemingway perambula as ruas de Paris e entra em um café na Rua Place Saint-Michel. Um lugar que ele descreve como limpo, agradável e quente. Pede um café au lait (café ao leite) onde ele tira seu caderno de notas e começa a escrever o conto "Lá em Michigan". pág. 25. Uma moça entra no café e chama a atenção de Hemingway onde ela o inspira para sua história. *Hemingway ainda escreve para o jornal Toronto e dava para manter a família e ele.
Pág 27. Decide viajar com sua esposa (Tatie) para fugir do mal tempo em Paris.
Miss Stein instrui
Pág.28. Regressa a Paris 
Pág.29. Hemingway se dedicava a escrita:
"Eu sempre trabalhava até que tivesse alguma coisa acabada e parava quando sabia o que ia acontecer depois. Desse modo podia ter certeza de continuar no dia seguinte" Esse era o seu método de ter uma severa disciplina.
Pág. 30-31 Miss Stein entra em cena sendo descrita como uma "uma mulher corpulenta [...] falava sem parar, a respeito de pessoas e de lugares.". Ela ler o conto "Lá em Michigan" e critica dizendo que é um quadro que um pintor pinta e não tem coragem para pendurar na sua exposição. Diz ela "Não há sentido algum nisso. É errado e tolo". Stein também critica o casal de gastar seu dinheiro em futilidades. "as roupas da sua mulher são caras"
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notesfrommybooks · 3 years
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Perto do Coração Selvagem- Clarice Lispector (em andamento/pesquisa)
A Obra
Perto do Coração Selvagem é o seu primeiro romance, escrito em 1945, e foi agraciada com o prêmio Graça Aranha  Escrita quando Clarice tinha apenas 20 anos de idade, sua a criação trouxe rupturas com o mundo literário até então existente, derrubando paradigmas de uma estrutura linear, metódica que se apresentava antes da 3ª Fase do Modernismo (um rompimento com a época que se preocupava com os regionalismos e com a política até então existentes). O rompimento das relações entre a escritura de Clarice Lispector e as ressonâncias de uma tradição transformam a obra clariceana em um novo despertar literário. Clarice Lispector pertence a essa última fase do Modernismo onde os fatos tornam-se secundários e surge a priorização das repercussões dos fatos nas pessoas, ou mesmos, os registros das impressões subjetivas (é o tempo de James Joyce e Virginia Woolf). 
A Narrativa 
É narrada em terceira pessoa, demonstrando a libertação do personagem de um suposto condutor, sendo que o ponto de vista é do personagem e os diálogos entram quase como um acaso na narrativa.
 A autora reproduzia a novidade de uma narrativa introspectiva e intimista, em que a história em si (a sequência de episódios) tinha pouca relevância. O que predomina é a corrente da consciência, o labirinto da memória, a ruminação interior dos acontecimentos e dos mais leves movimentos da vida.
O que interessa é a sondagem psicológica do indivíduo, a análise de suas angústias e seus dramas existenciais.
 São as antíteses, as metáforas, as adjetivações caracterizando uma linearidade em seus textos.
Clarice expressava, na sua maneira de escrever, o consciente de suas personagens, por isso todos alegam que há um “fluxo de consciência” e uma “epifania” permanente em seus escritos.
o momento da epifania: a personagem descobre que vive em um mundo absurdo, ocorrido por meio de um fato inusitado, a partir do qual, o desequilíbrio interior provocará uma mudança radical na vida da personagem.
A narrativa remete a episódios da vida de Joana, a protagonista. Mas o que segue são suas sondagens introspectivas, seus monólogos interiores. Joana não tem rosto; dela fica-se conhecendo não o perfil físico, mas as alegrias e as paixões; não uma história linear, mas a memória e o experiencial íntimo de sua existência no alcanço do selvagem coração da vida.
O monólogo também é uma característica marcante da clariceana, já que é uma técnica adequada a aprender a introspecção das personagens. O diálogo ocorre sempre com menor frequência.
Em uma linguagem que transita entre a prosa narrativa e as imagens típicas da poesia, Clarice Lispector rompe com a linearidade da narrativa, ou seja, a narrativa com começo, meio e fim. À escritora interessa a narrativa baseada na memória e na emoção, isto é, no fluxo da consciência da personagem, e esse fluxo não segue ordem cronológica. Essa característica observa-se, sobretudo nas narrativas mais longas como a apresentação em seus romances, e isso demonstra que não há diferença entre o espaço e o tempo.
 Interrompem-se as linhas e os círculos perfeitos se transportam para a forma do romance que não possui linearidade. Várias passagens de sua obra exprime linhas interrompidas que buscam relações com passagens posteriores, e outras que se apresentam como círculos que encerram uma etapa da vida da personagem. Os acontecimentos que são narrados no romance não induzem a um clímax e, portanto não há hierarquia entre os momentos de vida da personagem.
No capítulo “Alegria de Joana”, o início destaca a liberdade do pensamento de Joana, com a presença de pensamentos confusos que nem mesmo a narradora não sabe se as coisas foram pensadas por Joana-criança ou por Joana-adulta, mas essa confusão traz a realidade mesma:
“As descobertas vinham confusas. Mas daí também nascia certa graça. [...] Outras confusões ainda. Assim lembrava-se de Joana-menina diante do mar; a paz vinha dos olhos do boi, a paz que vinha do corpo deitado do mar, do ventre profundo do mar, do gato endurecido sobre a calçada. Tudo é um, tudo é um..., entoara. A confusão estava no entrelaçamento do mar, do gato, do boi com ela mesma. A confusão vinha também de que não sabia se entrara ‘tudo é um’ ainda pequena, diante do mar, ou depois, relembrando. No entanto, a confusão não trazia apenas graça, mas a realidade mesma. Parecia-lhe se ordenasse e explicasse claramente o que sentira, teria destruído a essência ‘tudo é um’. Na confusão, ela era a própria verdade inconscientemente, o que talvez desse mais poder de vida do que conhecê-la. A essa verdade que, mesmo revelada, Joana não poderia usar porque não formava o seu caule, mais a raiz, prendendo seu corpo a tudo o que não era mais seu, imponderável, impalpável “
A estrutura metafórica de Clarice perpetua-se no jogo semântico das palavras, totalmente contínuo no transcorrer da narrativa e que designa os quatro elementos: terra, ar, fogo e o mais fecundo deles, a água. A terra é o hábitat da vida e do mundo orgânico: plantações e os bichos. Há o fogo, cuja área semântica aponta o vermelho, o sangue, as lavas, a púrpura, a febre, o agreste, a estrela A Hora de Estrela, o gosto do mal, mastigar vermelho, engolir fogo adocicado.
Terra
Não sinto loucura no desejo de morder estrelas, mas ainda existe a terra. E porque a primeira verdade está na terra e no corpo. Se o brilho das estrelas dói em mim, se é possível essa comunicação distante, é que alguma coisa quase semelhante a uma estrela tremula dentro de mim (LISPECTOR, 1998, p. 68).
 Ar
O ar: a liberdade que recobre-se contra a terra, que busca o mal, além de associar-se às sensações boas. “Mal posso acreditar que tenho limites, que sou recortada e definida. Sinto-me espalhada no ar, pensando dentro das criaturas, vivendo nas coisas além de mim mesma.” (LISPECTOR, 1998, p.68).
E por fim a água, que é o mais profundo dos elementos, encontrado não só em Perto do coração Selvagem, como também em toda sua obra. Joana, como Ulisses Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres, é um ser de água.
 À área semântica da água, pertencem o banho, o mar, a sede e os verbos mergulhar, flutuar, sonhar. Pode significar refúgio, calmante, poder, prazer, paz, vida, morte, e conduz o leitor em Perto Coração selvagem à uma felicidade na infância pela presença do pai.
Água
A água corria pelos seus pés agora descalços, rosnando entre seus dedos, escapulindo clara como um bicho transparente. Transparente e vivo... Tinha vontade de bebê-lo devagar (PCS – p. 48).
A água cega e surda, mas alegremente não-muda brilhando e borbulhando de encontro ao esmalte claro da banheira. O quarto abafado de vapores mornos, os espelhos embaçados, o reflexo do corpo já nu de uma jovem nos mosaicos úmidos das paredes.
A moça ri mansamente de alegria de corpo. Suas pernas delgadas, lisas, os seios pequenos brotaram da água. Ela mal se conhece, nem cresceu de todo, apenas emergiu da infância. (...)
O quarto de banho é indeciso, quase morto. As coisas e as paredes cederam, se adoçam e diluem em fumaças. A água esfria ligeiramente sobre sua pele e ela estremece de medo e desconforto. (LISPECTOR, 1998, p.64, 65, 66)
O tempo cronológico (passado, presente e futuro) acaba se fundindo em um só por que é um tempo qualitativo, vivido pela existência. Joana é o instante de tudo porque ela é o passado, é o presente e será o que tiver que ser. Nota-se que no romance psicológico, o tempo é visto simultaneamente porque o passado remoto e próximo torna-se presente e o presente é passado quase que imediatamente e o futuro, presente e passado ao mesmo tempo.
O romance “Perto do coração selvagem” retrata, em muitos pontos, características da menina Clarice em relação à protagonista Joana - sua infância, as humilhações sofridas (por isso o roubo do livro – Monteiro Lobato), a presença do mar (banho matinal com o pai), a perda da mãe; mais tarde a perda do pai.
A Mulher 
Um destaque muito importante na obra clariceana é que grande parte das personagens é mulher, transformando a obra em uma obra reflexiva, o que gera uma tendência à introspecção, pois reflete os questionamentos do papel da mulher na sociedade.
É surpreendente como em suas obras as personagens, em sua maioria feminina, são flagradas em momentos da sua trajetória, pois o mundo ao seu redor não tem sentido, o vazio é parte intrínseca dessas personagens, buscando um retorno ao passado, totalmente libertas das máscaras sociais em um processo de individualização.
Notou-se que Joana é uma mulher à frente de seu tempo, por desde pequena questionar quanto a seu futuro, e posteriormente a respeito da prisão que podem ser os relacionamentos, sobre seu casamento e diversos outros questionamentos que são atuais na realidade feminina. Joana representa uma distinção do que foi determinado por anos quando se fala de gênero, pois ela desmistifica a partir de seus atos, falas, pensamentos e questionamentos a determinação de submissão e fragilidade atreladas à figura feminina.
Análise desse contexto em Perto do coração selvagem se faz essencial, uma vez que, mesmo de forma indireta, é estabelecida uma distinção entre Joana e as outras personagens femininas podendo, dessa forma, proporcionar uma leitura crítica da obra no que tange a figura feminina e as imposições patriarcais para com essas.
Na juventude, Joana, bem como as pessoas a seu redor, acreditava que ela nascera para ser mal. Considerava-se, assim como por vezes na atualidade, que pessoas do sexo feminino, que não aceitam os fatos que lhes são determinados ante o patriarcado e mostram independência especialmente emocional, são mulheres sem amor, ruins. Diante de críticas a própria mulher que se impõe enquanto dona de si passa a pensar de tal forma, assim como aconteceu com a protagonista “A CERTEZA DE QUE dou para o mal” (LISPECTOR, 1980, p. 8). Dessa forma, Joana aceitava e até acreditava que era mal, mas sentia-se bem com tal maldade. Joana exerce sua liberdade.
A respeito da tia pode-se dizer que sua representação no livro refere-se ao tipo conservador e padrão de mulher, uma vez que essa não entende ou ao menos respeita os comportamentos da sobrinha. Seu estilo é percebido em: “Deus a conserve para o seu marido” (LISPECTOR, 1980, p. 33). Nota-se na frase que ela, bem como parte da sociedade, acredita que o futuro determinado para as mulheres é necessária e excepcionalmente, o casamento. As demais expressões que a denotam nesse perfil são: “Eu posso tudo, me disse ela [...] como se não precisasse de ninguém... E quando olha é bem nos olhos, pisando a gente” (LISPECTOR, 1980, p. 33); entende-se que nasce um diferencial pelo fato de Joana ter ações que demonstram sua independência e liberdade, coisa que não é tão aceita por pessoas que têm o pensamento conservador. Chega-se a esse resultado também a partir do excerto: “É uma víbora fria [...] É um bicho estranho, Alberto, sem amigos e sem Deus” (LISPECTOR, 1980, p. 34).
Ciente da forma como pensavam dela, estando somente consigo mesma no orfanato, ainda na adolescência, pensava: “Estou cada vez mais viva, soube Vagamente. Começou a correr. Estava subitamente mais livre [...] Agora sou uma víbora sozinha” (LISPECTOR, 1980, p. 43). Sentindo-se livre, sem medo do que poderia vir a acontecer, Joana mostra-se uma pessoa satisfeita e feliz com sua realidade.
Observa-se que Lídia sente uma paixão exacerbada por Otávio devido a uma possível falta de amor próprio. Lídia sentia não somente amor, mas uma dependência dele. A maior expressão de submissão encontrada sobre Lídia é em: “Resignou-se pois. A resignação era doce e fresca. Nascera para ela” (LISPECTOR, 1980, p. 66).  Diferentemente, Lídia - ex-noiva do esposo de Joana, “Procurava [...] tomar uma atitude de independência, o que só realizava com um pouco de sucesso pela manhã [...] Bastava sua presença, apenas pressentida, para toda ela anular-se” (LISPECTOR, 1980, p. 65-66), assim, submetia-se  ao outro, na figura de Otávio. Sempre se anulando, aceitando sua vida da forma como o outro desejava. Sem voz, sem poder ser ela mesma.
Desde o momento em que Otávio conhece a protagonista, nota-se que havia nela algo singular. Aspecto notável nos trechos: “Fala com uma justeza de termos que horroriza [...] sentindo-se repentinamente inútil” (LISPECTOR, 1980, p. 67); “tolamente ele agia, falava, confuso e apressado em obedecer-lhe” (LISPECTOR, 1980, p. 68); é visível aqui uma estrita distinção quanto a seu comportamento com Lídia. Que submetendo-se, não tem espaço para falar, Joana, por outro lado tem total liberdade
Diferente das mulheres, casadas ou em um simples relacionamento da época, Joana procurava ter-se sempre como prioridade, assim “concentrava-se em si mesma” (LISPECTOR, 1980, p. 9). Ao percorrer por momentos entre a protagonista e seu companheiro há um enquadramento do sistema patriarcal e também de uma forma de relacionamento tóxico vindo de Otávio e reflexões a respeito disso por meio de Joana. Essas percepções são possíveis nas seguintes citações: “Otávio transformava-a em alguma coisa que não era ela mas ele mesmo” (LISPECTOR, 1980, p. 19). Otávio, em outras palavras, não aceitava a singularidade de Joana, passava a tentar moldá-la da forma que lhe era conveniente; “como ligar-se a um homem senão permitindo que ele a aprisione?  Otávio, assim, não agia nem se sentia de forma igual com as duas, não por se tratar da amante, e da esposa e sim por haver entre as duas uma distinção de personalidade. O amor de Lídia por Otávio não é um sentimento saudável, visto que ela se anula perante a ele e não tem uma perspectiva de vida para além da vida ao seu lado. Lídia crê que se ele “fosse embora, se amasse outra mulher, iria embora e amaria outra mulher para participar-lhe depois”.
Joana sequer pensava em casar-se. Tinha em sua mente que “ter sempre uma pessoa ao lado [...] não estar consigo mesma nunca, nunca. E ser uma mulher casada, quer dizer, uma pessoa com destino traçado. Daí em diante é só esperar pela morte” (LISPECTOR, 1980, p. 112)
Não conseguindo encaixar-se a forma como vivia Joana, Otávio passou a enxergá-la de forma diferente “Vivo com uma mulher nua e fria”
Por vezes sentiu que havia necessidade da figura masculina na vida da mulher, questionando: “Não é triste viver sem um homem na casa?” (LISPECTOR, 1980, p. 54), agora amadurecera mais e vira que não.
comentário  
Joana, A criança. 
“depois que se é feliz o que acontece?”
Desde criança Joana era enigmática e questionadora, já sabia da existência de uma coisa de dentro, ainda sem nome, que só ela compreendia. Sentia a coisa sem possui-la. Passava ás horas olhando da janela a vida dentro de si mesma. Diante do relógio ela esperava alguma resposta, mas quem a daria? seu pai? sua professora? 
trechos marcantes... 
“ Houve um momento grande, parado, sem nada dentro. Dilatou os olhos, esperou. Nada veio.” 
“Gemeu baixinho cansada e depois pensou: o que vai acontecer agora agora agora? E sempre no pingo de tempo que vinha nada acontecia se ela continuava a esperar o que ia acontecer, compreende?”
“Tudo o que mais valia exatamente ela não podia contar. Só falava tolices com as pessoas. Quando dizia a Rute, por exemplo, alguns segredos, ficava depois com raiva de Rute. O melhor era mesmo calar. Outra coisa: se tinha alguma dor e se enquanto doía ela olhava os ponteiros do relógio, via então que os minutos contados no relógio iam passando e a dor continuava doendo. Ou senão, mesmo quando não lhe doía nada, se ficava defronte do relógio espiando, o que ela não estava sentindo também era maior que os minutos contados no relógio. Agora, quando acontecia uma alegria ou uma raiva, corria para o relógio e observava os segundos em vão.”
Diálogos 
O que eu faço agora ?
“-Papai, que é que eu faço? 
– Eu já lhe disse: vá brincar e me deixe! 
– Mas eu já brinquei, juro.
 Papai riu: – Mas brincar não termina... 
– Termina sim.
 – Invente outro brinquedo. 
– Não quero brincar nem estudar. 
– Quer fazer o quê então? 
Joana meditou: – Nada do que sei... 
– Quer voar? pergunta papai distraído.
 – Não, responde Joana. – Pausa.
 – Que é que eu faço?”
O que vem depois? 
“- O que é que se consegue quando se fica feliz? - sua voz era uma seta clara e fina. 
A professora olhou para Joana.
- Repita a pergunta...?
Silêncio. A professora sorriu arrumando os livros.
- Pergunte de novo, Joana, eu é que não ouvi.
- Queria saber: depois que se é feliz o que acontece? O que vem depois? - repetiu a menina com obstinação.
A mulher encarava-a com surpresa.
- Que idéia! Acho que não sei o que você quer dizer, que idéia! Faça a mesma pergunta com outras palavras...
- Ser feliz é para se conseguir o quê?”
Referencias :
UMA NOVA ESTRUTURA LITERÁRIA NA NARRATIVA PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM DE CLARICE LISPECTOR
ALTERIDADE E DESAMPARO EM PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM DE CLARICE LISPECTOR
ENTRE O FEMINISMO E O EXISTENCIALISMO: A IDENTIDADE EM ‘PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM’, DE CLARICE LISPECTOR
PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM: UMA ANÁLISE SOBRE A DESMISTIFICAÇÃO DO DETERMINISMO FEMININO APRESENTADOS EM JOANA
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