nowexile - Tumblr blog

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Queria poder dizer de novo que nunca mais quero outra vida. Mesmo que no dia seguinte, anseie por uma nova.

A vida a que me refiro, porém, é apenas um breve instante no qual anseio por viver em paz. Mesmo que nunca mais possa vivenciá-lo, desejo preservá-lo em minha memória, revisitá-lo quando a rotina me cansar, e proferir novamente, com convicção, que nunca mais desejo outra vida.

Reconheço que a plenitude me escapa a cada dia. E admito que, ao afirmar nunca desejar outra vida, talvez eu esteja precipitada. Anseio, a cada novo dia, uma vida renovada que possa desfazer esse desejo constante. E, quem sabe, meus orixás ouçam minhas preces e me concedam a experiência de não desejar outra vida a cada dia.

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no dia das crianças eu olhei as minhas fotos antigas e descobri muita coisa sobre meu olhar ingênuo. é a coisa mais triste do mundo ver você mesmo de um tamanho tão pequeno perder tanta luz ao longo dos anos. ter uma infância atravessada pelo luto é como arrancar um broto de flor, não tem chance pra desabrochar. deve ser por isso que eu vivo em prol do medo de perder o que eu amo, como se meu coração doesse pela perda que eu ainda não vivenciei, mas isso também é algo que nasce da minha ansiedade antagônica.

a minha eu de 7 anos vivenciou o luto, a de 12 também, eu agora com 20 vivencio mais um luto da minha infância perdida, do amor que eu nunca vou poder dar pra aquela menininha, e que também não poderiam suprir a falta do que ela já não poderia mais tocar. é difícil escrever isso porque a dor que eu sinto vai desde a ponta dos dedos até as bordas do meu cérebro, porque ninguém sabe o que dizer quando eu falo que minha irmã morreu com 11 dias de vida, ou que eu perdi a pessoa que mais me deu amor na vida - minha vó maria - dói porque eu não quero que o silêncio se instale quando eu falo disso ou desses nomes, quero que a memória dos que eu amei possa ser celebrada, mesmo que seja controverso, porque ao mesmo tempo que o luto me tira, ele não consegue fazer eu esquecer de todos os momentos, do cheiro e das sensações, ele não pode me arrancar o mais puro que é o afeto que eu guardo por aqueles que hoje me guardam de um lugar distante.

feliz dia das crianças pra lulu atrasado. espero que em uma realidade você esteja até hoje abraçada em sua irmã, vó e vô.

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quero ter a chance de ser segurada com delicadeza e sentir que o peso das palavras não vai esmagar meu coração. mas me sinto aspera, como se me tocar fosse algo inevitavelmente desconfortável. não se pede carinho mas as vezes eu sinto vontade de implorar, eu quero sentir os abraços e os beijos, quero que seja genuíno. mas eu não sei se pode pedir por algo que você nunca soube dar.

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JENNY HOLZER, Protect Me From What I Want, 1986

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inacabado igual o texto que escrevi

“não sei mais o que fazer e talvez tudo isso seja uma rua sem saída que em que eu precise voltar pro começo. o problema é que eu enxergo teu nome em todas as placas dessa maldita cidade e só de escrever isso meu coração fica mais pesado.”

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sempre o que penso em fazer em relação a você me encontro numa corda bamba, parece que em algum momento eu vou cair e me machucar feio. as vezes queria que isso acontecesse, queria que a ferida secasse só pra eu poder arrancar a casca de novo e de novo. acho que assim eu me cansaria de você. do seu nome. do seu cheiro.

eu já vi certeza nos teus olhos - é a coisa mais linda - só que nunca vi nas tuas atitudes e acho que isso corta mais que uma faca recém amolada. o que te faz parar no tempo? eu preciso saber de todos os motivos e razões que te impedem de se entregar. eu quero tanto escutar da tua boca que o problema não sou eu, porque meu deus, as vezes acho que eu realmente não valho tanto a pena assim.

o problema meu bem, é que andar em círculos também cansa. e eu não posso mais ficar nesse mártir, não posso mais deixar o sangue derramar de forma incessante, uma hora o corte precisa ser estancado antes que a vida vire um vazio.

e sei que em algum momento irei arrancar a casca só pra sentir aquele arder novamente. no final do dia eu me arrependo e aceito que é necessário deixar curar.

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preservação

tenho a sensação de ser a única pessoa acordada na cidade. nenhuma notificação me acomete e as palavras saltam do livro sem chegar ao seu destino. silêncio. o mundo agora mergulha numa profunda pausa que me faz chegar à conclusão de que sou sua última sobrevivente – ninguém pra concordar, ninguém pra refutar. me vejo na escuridão. olho no fundo do olho do vazio que me preenche lambendo os lábios. não quero que o amanhã chegue, mas tenho certeza que não me encaixo no hoje de hoje e o ontem passou, tá batido. acho de uma chatice tremenda essas silhuetas e esses dedos do pé certamente não me pertencem. exaurida, tá certo. e só. respiro mais por obrigação que por vontade. tenho saudade de algumas coisas que ainda não vi, quiçá nem verei pra manter esse sentimento nostálgico, catártico, intacto em seu mais puro estado. me alimento só de desilusões e feixes de luz. estou farta dos tons sóbrios da realidade (deve ser por isso que encontro sempre em meu caminho um copo borbulhante) (eles que me encontram, na verdade) (sempre sempre sempre). vou evitar ronronar sobre migalhas de pão, ainda que a ideia me apeteça. o interminável peso de todas as coisas me sufoca e eu sinto falta de mim. ando num estado meio morno, onde tudo acontece e nada muda, me tornei um borrão do meu vulto e não há abajur no quarto. contudo, quando a água salgada do mar me consumir, hei de atingir meu ponto mais feliz. o sonho vai se fundir em mim e o tudo vai deixar de ser nada: é meu dever como último pedaço da terra.

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Gosto muito de caminhar, gosto mais ainda de você. Sempre que ando por ai, procuro o melhor caminho, interessante é que sempre escolho aquele que me lembra o teu sorriso, porquê as flores são alegres e a casa é recém pintada – eu adoro o cheiro de tinta molhada. Me pergunto se essas mesmas flores não querem me dizer algo, como a sua boca abrindo e fechando nos nossos encontros. Será que em algum momento do planeta terra, elas falavam? Será que simplesmente desaprendemos a ouvir? Assim como eu desaprendi a entender teus sinais. O vento que carrega o cheiro das flores até mim trazem junto um leve zumbido. Será que é a língua do vento? Penso que a tradução existe somente na minha cabeça, o vento diz "ele vai junto comigo, é o final". Não aceito, desculpa. Eu sinto o refresco, os cheiros e a chuva vindo por ai pra limpar qualquer lacuna que tenha ficado solta, mas não aceito. Agora não. Eu não deixei. Mas o vento vence, e eu sei que é pro meu bem. Mas as flores são diferentes nesse novo caminho e a tinta da casa já secou há muito tempo, o único sorriso que eu lembro é o meu, mas eu apenas o vejo, não o sinto. Me botar nesse lugar de cuidado me enriquece e é tão assustador. Não sei se te compreendo totalmente, por tudo que tu decidiu me fazer sentir mas acredito que eu nunca me deixei ser compreendida por completo por ti, também. No final, eu quero ser compreensiva como uma mãe deveria ser e quero ser compreendida como uma mãe jamais foi. Entende?

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i regret you all the time.

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queria que você fosse um pouco mais cruel comigo, pra que eu pudesse finalmente te deixar no passado. não sei porque você me da tanto e depois me deixa sem nada, isso tudo é medo? ou você só gosta da atenção que eu te dou? quero que você seja direto, transparente e honesto comigo pelo menos uma vez. não me importo mais das palavras cortarem minha garganta e abrirem uma cratera dentro de mim, acho que toda essa confusão dói mais que isso. não posso esperar pra sempre uma pessoa que não sabe pra que lado ir, e parece controverso, mas apesar de todo meu receio, se você deixasse eu iria na sua direção sem pensar duas vezes.

tenho uma sensação que pesa dentro de mim, de que você sempre vai ser o meu “e se?”. e na minha cabeça parece uma guerra que eu tô fadada a perder sempre, não importa o que eu faça. talvez eu não valha o risco, quem sabe eu tenha imaginado que teus olhos brilhavam um pouco quando encontravam os meus, talvez tudo tenha sido um sonho febril. porque nada na realidade faz sentido.

“and i’m fading thinking do something babe, say something, lose something babe, risk something (you’re losing me)”

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i feel crazy in ways i never say

will you still love me if turns out i’m insane?

i know what you’ll say but it helps to hear you say it

anyway

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acordei no desespero tateando tua ausência. o vazio é um nada e, entretanto, é físico; é, em si, a expressão mais elevada do que um dia foi e não é mais. através dele tento modelar, em vão, teu corpo mas já não lembro como se dá a curvatura da tua perna pro teu quadril. quem dera eu pudesse lembrar de todos os minuciosos detalhes e não deixar o que foi esquecido à mercê da invenção puramente romantizada, afinal, sou literária e tô no meu direito, no entanto gostaria que o relato assim fosse: exatamente como foi. quem dera eu pudesse ser o livro que tu gosta de ler antes de dormir, com dentes e língua, olhos semicerrados. e nem me venha dizer que qualquer cachorro vale mais do que a literatura porque o cachorro é literatura, ora bolas, assim como eu sou e portanto tu também é. vejo estrofes linhas e rimas em ti, precisamente nos cantos que já não me recordo tão bem assim, da perna pro quadril, da gengiva pro dente, da maçã pro rosto. versar-te é mais fácil do que pensas. uma noite vale uma vida e há mil noites que me encontro estagnada naquela [tu sabe qual], e tu também tá eu sei que sim. diz que sim. só uma vez, e eu te provo que vale a pena. mais que a literatura, mais que o cachorro e o maldito gato. esquece o que falei, já não faço mais sentido e nem sei se quero fazer também. tu percebeu que a falta de vírgulas aqui foi proposital? é porque tenho pressa. e essa resposta dou na palma da mão porque não posso oferecer a minha própria. just how fast the night changes, uma banda outrora famosa bem que disse, né. e nem se atreva a me chamar de ridícula, tenho plena consciência disso; num mundo pautado pelo valor vejo o ridículo como indispensável e quando eu acho que já deu continuo falando mas esse é meu jeitinho y tu gosta que eu sei. e em meio a tantas palavras, mantenho a minha só não tenho certeza se tu é capaz de manter as tuas. (pouquíssimas, aliás). também não precisa me responder, nem aparecer… acho que cansei.

{amanhã tem mais}

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eu me imagino numa tarde de sol na casa que costumava ser da minha avó, brincando sozinha como de costume, inventando histórias na minha cabeça e fazendo o papel de todos os personagens, e meu peito se aquece de saudade. todas as memórias da minha infância que guardo com afeto envolvem minha v�� Maria, a primeira mulher da minha família que soube verdadeiramente me amar.

sinto saudades de assistir titanic com você, de acordar cedo, de te abraçar, das tuas brincadeiras, histórias, da tua risada, de te ver se arrumando, de quando você fazia minha comida, sinto falta de tudo. as tardes quentes não voltam mais, você não volta mais. e hoje aquela casa parece o lugar mais frio da cidade.

mas vó, na minha memória você sempre será o verão, minha estação favorita.

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Wendy Cope, "From June to December: Summer Villanelle"

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