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O Jeito Que Eu Te Amei
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Quem dera, amar uma pessoa fosse o suficiente para fazê-la ficar...
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ojeitoqueeuteamei-blog · 8 years ago
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🌼 Capítulo 1.
Dias Atuais. O despertador estralava ao lado da minha cabeça. Meus olhos se abriram lentamente, se ajustando a luz do meu quarto. 07:45hr. Estou muito atrasada! -Droga.- Eu disse apavorada levantando da minha cama. É minha primeira entrevista de emprego em uma Holding de Jornalismo. E já vou começar com o pé esquerdo. Com muita sorte depois de ter terminado a faculdade, consegui uma entrevista de emprego em uma empresa grande, não uma simples como eu esperava, minha mãe sempre disse que tínhamos que começar de baixo, para depois subir, eu tentei, mas surgiu a vaga e eu quis. Mesmo que fosse apenas como secretária. Meu banho durou apenas um par de minutos, eu sai me secando rapidamente com a toalha roxa e limpando o restante de espuma da nuca e ombro direito. Sorte que eu já havia escolhido a roupa de usar ontem a noite. Não era a melhor roupa do mundo, uma saia preta com uma blusa de mangas verde claro. Era o que eu podia comprar com um salário que ganhava como entregadora de pizza. E eu perdi esse emprego depois que roubaram minha bicicleta. Deixei meu cabelo escuro solto, correndo para calçar meus sapatos de salto alto. Puxei minha bolsa em meu ombro enquanto me apressava para trancar a casa. Para minha sorte, um taxi estava disponível passando pela rua. Dentro do carro, eu passei um batom em meus lábios ressecados, minha aparência não estava como o meu desejado, mas, pelo menos, meus olhos não estavam inchados e meu cabelo não estava tão mal assim. Eu sai apressadamente do táxi, pagando o motorista. A empresa era maior do que eu me lembrava, as janelas de vidro seguiam até onde eu conseguia ver, o prédio parecia um arranha-céu de vidro azul. O céu em Londres estava lindo, bem azul, sem nuvens e o dia com um clima muito agradável. Me aproximei do prédio subindo na calçada e depois nos poucos degraus que levava para a empresa. As portas de vidro automáticas se abriram quando eu passei. Por dentro, o prédio era arejado, moderno e aconchegante, pisos claros, balcões de predras escuras, as portas de elevadores quase todas fechadas, e muitas pessoas vestidas formalmente passando por mim. Caminhei até a recepção, uma jovem de cabelos ruivos sorriu para mim. -Posso ajudá-la? - Ela sorriu. -Sim, tenho uma entrevista com o Sr. Wren Morgan. - Tentei parecer profissional. A moça olhou para a tela do computador. Ela parecia jovem, vinte e poucos anos, cabelos ruivos sedosos e brilhantes, olhos castanhos e um sorriso encantador. -Srta. Ellie Elizabeth? - Ela perguntou sorridente. Eu balancei minha cabeça enquanto ela carimbava alguns papeis antes de entregá-los a mim. -Aqui Srta. Elizabeth, décimo sétimo andar, o Sr. Morgan está a sua espera. Eu peguei os papéis, sorrindo para a mulher, girei meus calcanhares e fui em direção a um elevador que havia acabado de abrir suas portas metálicas. Dentro do elevador eu arrumei meu cabelo, as ondas caíam nos meus ombros e desciam até minha cintura, puxei a saia para baixo também e fechei mais um botão da minha blusa verde, tudo o que eu não queria era que o Sr. Wren pensasse que eu era vulgar. Sai do elevador e encontrei uma bela sala de recepção. Meus saltos faziam barulho no porcelanato enquanto eu chegava até o balcão para encontrar uma linda moça morena. -Srta. Elizabeth, o Sr. Wren está a aguardando. - Ela graciosamente apontou para a porta escura ao lado de onde ela estava. -Obrigada. - Sorri para ela. Caminhei empurrando a porta e entrando em mais uma sala grande. Dessa vez, um homem me recebeu sorridente. Pelo seu terno cor carvão, e seu cabelo totalmente branco socialmente escovado para o lado, imaginei ser o Sr. Wren. -Elizabeth! - Uma mão foi estendida a mim. Eu a peguei apertando-a. -Sr. Wren? -Sim. Sente-se. Estava ansioso para lhe conhecer. - Sua voz é muito bonita, os olhos azuis trajando simpatia e um sorriso com dentes perfeitos. Quando nos sentamos olhando um para o outro. - Estou muito feliz de estar aqui, Sr. Wren.- Respondi sincera. Sr. Wren sorriu para mim enquanto ajeitava sua gravata marrom. Estendi os papeis para ele, e esperei. Eu esperava também que o homem sentado ao meu lado olhando para os papéis não notasse minha perna tremendo, ou o jeito que eu apertava as mãos em meu colo, eu queria esse emprego. -Então, pode começar amanhã? Meus olhos se arregalaram. Eu pedi para o meu amigo Luiz Flávio enviar o meu currículo para a empresa, e eu sabia que eles estavam necessitando de um funcionário, mas a notícia agora me chocou. -Amanhã? - Sussurrei cruzando minhas mãos em meu colo. -Sim. Meu filho vai assumir a empresa, e precisa de uma secretária, e um braço direito. E eu preciso me aposentar. - Wren riu. -Oh sim. - Soltei um pequeno riso.- Posso começar quando quiser Sr. Wren. - Sorri apertando a mão oferecida a mim pela segunda vez. *No Outro Dia* Recebi as informações pela mesma mulher ruiva de ontem de onde era a sala do filho do Sr. Wren. Eu entrei em um elevador um pouco diferente, ele era mais estreito, e ficava de um lado do prédio que não possuía outros elevadores. Mas eu estava atrasada. Claro, eu sempre estou atrasada. Anos morando em Londres e ainda não me acostumei com o fuso-horário. Quando cheguei ao andar, era um longo corredor iluminado, as três janelas estavam abertas, abaixo das vitrolas tinha pequenas mesas marrons com jarros de flores vermelhas, eu caminhei até chegar a uma única porta larga escura. "Sr. Thomas Morgan" estava escrito em dourado na madeira. Thomas. Minha mente rapidamente trabalhou para lembrar de onde eu conhecia esse nome. O rapaz das fotos que eu conheci quatro anos atrás na London Eye. Eu bati na porta, senti meu estomago se esfriar, respirei fundo e bati de novo, talvez ele não estivesse aqui ainda. Eu poderia entrar e fingir que não estava atrasada. Minha mão agarrou a maçaneta fria de metal, eu empurrei a porta para ser saudada por uma enorme sala iluminada. O espaço era todo decorado, o filho do dono da empresa era o "chefão" já que seu pai não estava. A poltrona grande de couro atrás da mesa de vidro me fez ter essa impressão. Tinha um pequeno sofá escuro de frente a mesa principal, uma grande parede de vidro iluminava ao local. Eu continuei observando, no canto de uma das paredes, havia uma porta fechada. Ao lado, um espaço frigorífico com uma maquina de café. O que seria aquela porta? Eu caminhei até ela, meus ouvidos distinguiram sussurros vindo do outro lado. Encostei o ouvido na porta e esperei para ouvir mais. -Sr, ela deveria ter chegado aqui. Eu a vi. - Uma voz feminina disse. Eu já tinha ouvido aquela voz, a mulher da recepção. -Então, Cristina, onde está a Srta. Ellie Elizabeth? - Uma voz masculina sedutora questionou. - Vá procurá-la. -Sim, Sr.- A mulher disse. -Thomas, você está ai? - Um homem perguntou batendo na porta. Foi até então que eu percebi, eu estava na sala errada. Meu coração acelerou quando eu abri a outra porta tropeçando para entrar em uma sala menor. A sala era uma versão menor da sala de Thomas, apenas com algo que deixava o lugar mais "feminino" um sofá vermelho em um canto da sala e flores nas janelas, a mesa aparentemente igual em um tamanho menor, uma poltrona branca do outro lado. -Srta. Elizabeth? - Uma voz sedutora perguntou. Eu percebi que a poltrona estava virada para a parede de vidro. Tudo o que eu poderia ver, era um cabelo sedoso preto em camadas. A poltrona era alta, me permitindo ver apenas isso. -Sim, Sr. Morgan? - Eu sussurrei a pergunta. A cadeira foi lentamente virada para mim. Meus olhos se arregalaram, era ele. Thomas. Um frenesi de lembranças com as fotos que eu havia tirado no meu primeiro dia em Londres invadiu meus pensamentos. Era ele, o adolescente que falava com estranhos. Ele continuou sentado, vestido em um terno preto, camisa branca, gravata preta, o cabelo jogado para o lado, caindo em camadas até o seu pescoço, incríveis olhos azuis atentamente em mim. -Você estava na minha sala? - Ele perguntou com a voz grave. Meus olhos piscaram enquanto eu tentava formar alguma sentença, minha boca se abriu algumas vezes, mas as palavras não saiam. A intensidade que Thomas estava olhando para mim me fez entrar em um certo tipo de transe. Eu respirei fundo conseguindo recuperar minha atenção profissional. -Sim, mas eu não sabia. Minhas pernas tremeram quando ele levantou-se. Sua altura proporcional ao seu físico atraente, eu quase me distrai novamente com sua beleza, mas sua voz morna me voltou a meu estado normal. -Está atrasada Srta. Elizabeth.- Ele disse calmamente tentando esconder um sorriso. Meu coração acelerou quando Thomas puxou sua gravata para baixo, dando alguns passos para a direita seus pés o levaram para o sofá vermelho, ele sentou-se olhando para mim. -Vá em frente.- Ele apontou para a mesa com a mão aberta. - Arquive se separe as planilhas em ordem alfabética. Eu olhei para o espaço o qual eu ficaria sentada horas e horas. Meus pés me levaram até a poltrona, eu deixei minha bolsa perto de uma pilha de papeis, separados por fitas coloridas, e me sentei. O acento era confortável, eu me senti importante quando encostei minhas costas na almofada sorrindo. -Seu horário de entrada e ás oito da manhã, almoço do meio dia às duas e meia da tarde, e o horário de saída é as cinco. Entendeu?- Ele perguntou levantando e ajustando o seu terno. -Sim, Sr. Thomas.- Respondi um pouco triste. Ele não lembrava-se realmente de mim? Ou não me reconheceu? -Ótimo, não se atrase amanhã.- Ele disse antes de sair da minha sala batendo a porta atrás de si. Eu sentei em minha cadeira, olhando para a pilha de papeis que eu tinha que arrumar e me lembrando de como o conheci perto da roda gigante. [...] 12:01hrs. Finalmente deu meu horário de almoço. Eu não tinha conseguido terminar de arrumar tudo, mas eu estava morrendo de fome. Levantei-me do meu acento para pegar minha bolsa e casaco, mas uma mulher entrou em minha sala. Ela era do tipo, caçadoras de empresários ricos. Uso esse termo para não falar "vadia ambiciosa interesseira" o decote do seu vestido vermelho era fundo demais, sua pele morena bronzeada artificialmente, os cabelos escuros enrolados na altura dos ombros. Ela sorriu quando me viu mostrando dentes brancos e alinhados. Ela seria bonita se não usasse tanta maquiagem. -Thomas está? - Ela perguntou alegremente balançando a cabeça de um jeito estranho. Eu não sabia. Eu fiz um sinal para ela enquanto levantei para verificar a sala de Thomas. Estava vazia. Quando voltei, a morena estava sentada no sofá, retocando sua maquiagem aparentemente forte demais para o dia. -Desculpe, ele não está no momento. Quer deixar um recado? A mulher levantou-se guardando seus objetos dentro de sua bolsa grande. Ela olhou para mim, através dos seus cílios postiços. -Quero.- Ela disse. Eu peguei a agenda de recados e uma caneta para anotar o que a mulher queria dizer a Thomas. -Diga que a Cristal.- Ela parou.- Com K. -O que?- Perguntei. -Cristal com K.-Ela revirou os olhos.- K-R-I. -Eu entendi.- Interrompi sua soletração. - Kristal, com K.- Lancei um sorriso forçado, algo que passou despercebido por ela. -Diga que estou com saudades, e a Tanisha também. - Ela disse fechando os olhos como se estivesse imaginando uma cena sensual com Thomas, eu quase me surpreendi quando ela soltou um suspiro longo abanando o rosto. Vadia. Vadias. -Algo mais?- Perguntei educadamente. Kristal pareceu pensar a respeito. -Não, me dê o papel. - Estendeu-me a mão com unhas perfeitamente pintadas de vermelho. Eu lhe entreguei a agenda. Com espanto eu assisti Kristal beijar o papel, deixando a marca do seu batom vermelho na folha branca. Deixei cair a agenda sobre a mesa quando a mulher virou as costas para sair, ela acenou para mim, antes de fechar a porta. *** Após meu almoço, eu comprei um sorvete do "Mrs. Ice" meu dia estava suficientemente ruim, e sempre um sorvete conseguiu me acalmar. Eu me encontrava sentada em um banquinho de praça vendo a paisagem de Londres. O dia alegre, as pessoas passando pela rua, o clima frio começando a me relaxar, até que ouvi meu celular despertar dentro da minha bolsa. Estava na hora de voltar. Eu levantei, caminhando de volta ao prédio terminando meu sorvete de morango. Ao chegar em minha sala, a primeira imagem que eu tive, foi Thomas sentado em minha cadeira me encarando. Ele parecia furioso. -Onde você estava, Ellie Elizabeth? - Ele perguntou abruptamente olhando para mim com seu olhar azul frio. -Almoçando. - Respondi hesitante. Thomas levantou-se da minha cadeira, sua gravata preta estava torta, ele olhou para minha mesa, as pilhas de papel que ele havia me entregado estavam pela metade organizadas e arquivadas dentro das pastas. Eu levaria mais que as últimas duas horas e meia restantes ali. -Por que você não separou os arquivos? - Ele apontou para os papeis sobre a mesa. -Eu estava com fome, e fui almoçar. - Expliquei. -E não me avisou, por que? - Thomas ergueu as sobrancelhas. Parei. Porque ninguém me avisou que eu tinha que fazer isso? -Eu tinha que avisar? -Sim. - Ele respondeu rapidamente. -Mas, eu não vejo os outros funcionários entrar na sua sala para avisar que estão indo almoçar. -Tem um programa no seu computador, que indica, quando eu posso receber pessoas, quando eu estou ocupado, quando eu estou ausente. - Ele pausou. - E tem uma área reservada para as secretárias me avisarem quando estão aqui. - Thomas disse asperamente. -Desculpe, e-eu não tinha visto isso.- Assumi. E era verdade. Ninguém havia me falado sobre isso. O olhar de Thomas estava duro sobre mim, eu me senti irresponsável quando me sentei em minha cadeira. Vi quando Thomas voltou para sua sala sem olhar para trás. Ligando computador eu notei uma segunda aba aberta. O mouse clicou em cima fazendo uma tela azul abrir. Havia uma pequena aba com um pequeno círculo amarelo. Eu a abri dando um click no mouse. Eu li o remetente: K-News: Confirme presença no jantar hoje a noite às oito. Eu peguei o tablet de reuniões de Thomas, e estava a data marcada no calendário, endereço, e horário do jantar. Levantei-me indo em direção a sala de Thomas com o tablet em mãos ele estava mexendo em seu computador platinado. -Sr. Thomas. -Sim. -Posso confirmar sua presença no jantar de hoje a noite com a K-News?- Perguntei. Ele continuou sem olhar para mim. Eu queria atirar o tablet que estava em minhas mãos em sua cabeça. -Sr. Thomas, pode por favor olhar para mim? - Eu disse entre dentes. Thomas ergueu seu olhar para mim, a intensidade em seu olhar fez meu coração bater forte, eu engoli seco quando sua mandíbula se apertou, mas logo seus traços suavizaram, um sorriso partiu seu rosto, ele se inclinou para trás, sua cabeça no encosto da poltrona. -Estou olhando Srta. Elizabeth.- Ele sussurrou. Eu olhei para o tablet e depois para ele. Seu cabelo escuro estava partido ao meio, as pequenas ondas caindo nas laterais do seu rosto bonito. Ele era bonito, mas terrivelmente arrogante. -O jantar. Posso confirmar?- Eu perguntei. -Sim.- Thomas respondeu com desdém. -Tudo bem.- Confirmei a presença no tabelt. Virei para sair de sua sala, eu afastei as ondas de cabelo que invadiam minha visão, ao chegar em minha sala, as fichas ainda estavam ali para terminar. Uma rápida olhada no relógio me informou que faltava menos de duas horas para encerrar. As fichas foram tomadas por mim rapidamente, eu tinha que terminar aquilo hoje, eu não poderia deixar trabalho acumulado para amanhã. Como eu mostraria que era uma boa secretaria deixando o serviço serviço primeiro dia acumular? Eu tentava, desesperadamente terminar o máximo que eu podia. Mas quanto mais eu separava os papeis e guardava mais apareciam. A porta da sala de Thomas foi aberta, ele saiu abotoando seu terno sem olhar para mim. Antes dele cruzar a porta, seu rosto virou para mim. -Por que ainda está aqui? -Eu tenho algumas fichas para arquivar e separar como você pediu. -Sr.- Ele me corrigiu. -Não acha que é novo demais para ser chamado de Sr? - Questionei dando os ombros. Fala sério, ele deveria ter no máximo vinte e seis anos. O corpo de Thomas ficou a minha frente, seu olhar duro me intimidando, eu recuei, mas logo sua mão me parou, seu toque era quente e suave, mas não o suficiente para que eu não continuasse tensa a sua frente. -Eu gosto de ser chamado de Sr.- Sua voz sedutora sussurrou. Eu engoli seco, seus olhos azuis queimando sobre os meus, eu pisquei algumas vezes, os lábios rosados de Thomas se abriram para despejar mais algumas palavras mas antes ele soltou minha mão. -Termine isso, e pode ir para casa.- Ele disse saindo da sala. *** Uma hora e quarenta e oito minutos se passaram quando eu terminei meu serviço. Estava caminhando tranquilamente de volta para o apartamento o qual eu morava desde que me mudei para Londres. Nuvens escuras se formando no meio dos prédios altos, ouvi o sino tocar informando que já era sete da noite. Aumentei a velocidade dos meus passos quando um carro alto se colocou ao meu lado. A mesma medida que eu caminhava rapidamente, o carro aumentava a velocidade. -Ellie, o que está fazendo andando tão tarde da noite, e sozinha? Eu virei meu rosto para encontrar Thomas dentro do carro sorrindo enquanto olhava para a estrada, meus passos diminuíram o ritmo. Ele era idiota? O mesmo me prendeu no prédio para arquivar aqueles malditos papeis. Eu forcei minha irritação me abandonar. Eu precisava do emprego e ele era o cara que podia me tirar dele. -Sao sete horas, e estou indo para casa.- Respondi continuando a caminhar. -Você quer uma carona? - Ele perguntou. Eu olhei para ele, ele continuava olhando para frente enquanto dirigia lentamente ao meu lado. -Eu moro muito longe. - Disse olhando para frente tentando o ignorar. -Mais um motivo para aceitar. - Ele replicou. -Não tem um jantar importante para ir? - O lembrei. -Eu posso cancelar. - Ele olhou para mim.- E eu acho que vai chover. No mesmo instante que ele disse isso, um trovão atingiu meus ouvidos, o cheiro de chuva sendo sentido enquanto eu respirava. -Tudo bem. Thomas freou o carro, me dando tempo para entrar dentro da Land Rover, o carro com o perfume amadeirado me fez respirar profundamente para senti-lo mais. -Então, onde fica seus aposentos reais? - Thomas arqueou uma sobrancelha exibindo um sorriso brincalhão. -Você se lembra disso. - Sussurrei. -Eu me lembro especialmente de você, a menina maluca que tirava fotos do chão.- Thomas riu. -E você o maluco de Londres que fala com estranhos. - Olhei em seus belos olhos azuis. -Mais que bela combinação. - Thomas completou dando o mesmo sorriso que eu vi no dia em que estava fotografando e um maluco apareceu na frente. [...] -E aqui. - Eu disse apontando para o prédio de azulejos pretos. Thomas estacionou a Land Rover na entrada do prédio. Eu tentei abrir a porta mas ela estava trancada. Olhei para o homem ao meu lado, terminando de tirar o seu cinto. -Eu abro para você, Ellie Elizabeth. - Ele sorriu antes de abrir a porta e sair do carro. Thomas deu a volta pela frente, minhas bochechas esquentaram quando ele abriu a minha porta e estendeu-me a mão. Seu toque era suave e quente carregando uma eletricidade que eu sentia cada vez que minha mão tocava na sua. Como da primeira vez que nos tocamos. Eu desci do carro, abrindo minha bolsa para pegar as chaves, quando finalmente as consegui, olhei para Thomas que continuou ao meu lado. Eu olhei rapidamente para cima quando uma gota fria tocou minha bochecha, e logo começou a chuviscar. -Você quer entrar? - Eu perguntei hesitante. Thomas soltou um sorriso cativante, mexendo em seu cabelo escuro. -Eu não sou mais um estranho? -Não. - Eu ri. Eu caminhei a frente de Thomas subindo as escadas até chegar ao terceiro andar. Eu tinha feito algumas mudanças nos últimos dois anos, separado meu quarto da sala com paredes de verdade, comprado alguns móveis novos, feito um pequeno estúdio improvisaso de fotógrafia na lavandeira e pintado o interior do apartamento de azul claro. -Belo aposentos reais. - Thomas comentou. -Obrigada. Eu respondi, porque podia ser um elogio irônico, ou realmente ele tinha gostado, mas isso não importava muito. -Eu vou me trocar. Pode ficar a vontade. Desviei meu caminho para a porta do meu quarto, o espaço não coube muitas coisas, apenas meu guarda roupas, cama e uma pequena penteadeira branca com espelho. Abri as portas de madeiras do guarda roupa pegando um vestido que eu usava para dormir do bob esponja. -Então, onde esteve nos últimos anos, Ellie Elizabeth? - A voz morna de Thomas perguntou. -Pode me chamar de Ellie.- Eu disse puxando minha camisa acima da minha cabeça.- Eu estive sempre aqui. E você? -Austrália.- Ele falou com a voz sorridente.- Mas não gosto muito de lá. -Como não gostar da Austrália? - Perguntei meio abismada. - O país é lindo! -Já foi alguma vez lá? -Não.- Falei sem graça e ele gargalhou. - Mas pelas fotos e filmes eu vejo que é maravilhoso. -Nem tanto, a mídia abusa um pouco na propaganda enganosa. Por exemplo, Brasil é só carnaval e favelas? -Claro que não. -Então, Austrália não se resume a apenas praia e cangurus. Não se resume a 'Procurando Nemo'. -Eu ia chegar lá... - Vesti o vestido e calcei meus chinelos. -Você toca? - Thomas perguntou. -O que? -Violão, tem um violão aqui na sua sala. -Sim, um pouco. - Puxei meus cabelos para cima, o prendendo, uma última olhada no espelho. Eu sai do quarto para encontrar Thomas sentado no sofá com o violão negro em seu colo. Ele tinha tirado o seu terno, deixando sua camisa branca marcar seu corpo definido. Ele olhou para mim quando sentei ao seu lado. Seus longos dedos deslizaram sobre as cordas do violão fazendo um som com todas as cordas juntas. -Toque para mim. - Thomas pediu ternamente. Eu peguei o violão, o colocando sobre minhas coxas, minhas unhas batendo contra as cordas formando o som da minha música preferida. Photograph. Ellie: Loving can hurt (Amar pode doer) Ellie: Loving can hurt sometimes (Amar pode doer as vezes) Ellie: But it's the only thing that (Mas é a única coisa que eu sei) Ellie: I know And when it gets hard (Quando fica difícil) Ellie: You know it can get hard sometimes (Você sabe que pode ficar difícil às vezes) Ellie: It is the only thing that makes us feel alive (É a única coisa que nos mantém vivos) Ellie e Thomas: We keep this love in a photograph (Nós mantemos este amor numa fotografia) Olhei para Thomas. Sua voz tornando a música mais linda. Ellie e Thomas: We made these memories for ourselves (Nós fizemos estas memórias para nós mesmos) Thomas: Where our eyes are never closing (Onde nossos olhos nunca fecham) Thomas: Hearts were never broken (Nossos corações nunca estiveram partidos) Thomas: And time's forever frozen still (E o tempo está congelado para sempre) Ellie: So you can keep me inside the pocket (Então você pode me guardar no bolso) Thomas: Of your ripped jeans (Do seu jeans rasgado) Ellie e Thomas: Holding me close until our eyes meet (Me abraçando perto até nossos olhos se encontrarem) Thomas: You won't ever be alone (Você nunca estará sozinha) Ellie: Wait for me to come home (Espere por minha volta para casa) Eu olhei para Thomas. Seu olhar azul estava intensificado com os relâmpagos brilhando no céu. Ele estendeu a mão para mim, para pegar o violão do meu colo. Testemunhei quando ele repousou o instrumento em seu tórax, os dedos longos traçando as cordas do violão. Thomas olhou para mim novamente me dando um sorriso amigável para que continuasse. Ellie: Loving can heal (Amar pode curar) Ellie: Loving can mend your soul (Amar pode remendar sua alma) Ellie: And it's the only thing that (E é a única coisa que eu sei) Thomas: I know I swear it will get easier (Eu juro que fica mais fácil) Thomas: Remember that with every piece of you (Lembre-se disso em cada pedaço seu) Ellie e Thomas: And it's the only thing we take with us when we die (E é a única coisa que levamos conosco quando morremos) Os cílios de Thomas pareciam maiores do ângulo que eu estava, enquanto ele olhava para o violão, seus dedos fazendo sons tranquilos quando ele trouxe novamente sua voz soprando as letras da música. Thomas: Oh you can fit me (E você poderia me colocar) Thomas: Inside the necklace you got (Dentro deste colar que você usou) Thomas: When you were sixteen (Quando tinha 16 anos) Thomas: Next to your heartbeat where I should be (Perto do seu coração onde deveria estar) Ellie e Thomas: Keep it deep within your soul (Mantenha isso no fundo de sua alma) Ellie e Thomas: And if you hurt me (E se você me machucar) Thomas: Well that's okay baby (Mas está tudo bem, querida) Ellie: Only words bleed (Apenas as palavras sangram) Ellie e Thomas: Inside these pages you just hold me (Dentro destas páginas, apenas me abrace) Thomas: And I won't ever let you go (E eu nunca te deixarei ir) De repente a atmosfera ao nosso redor mudou, tudo o que eu queria fazer era me inclinar e beijar Thomas, mas eu estava hipnotizada em seu olhar azul sobre o meu. Meu coração acelerou quando ele deixou o violão de lado e levantou. -Você quer dançar? - Ele perguntou ternamente estendendo a mão em minha direção. Eu sorri, aceitando o membro estendido para mim, mesmo sem música o momento parecia perfeito para dançar. Me coloquei de pé, Thomas passando seu braço esquerdo ao redor da minha cintura, trazendo meu corpo mais perto do seu, um simples toque na minha coluna fez uma eletricidade passar por mim. Uma respiração que eu não estava segurando saiu de mim no momento em que Thomas se inclinou para frente, nossa testas pressionadas quando ele esfregou nossos narizes, eu continuei a olhar diretamente em seus olhos, o lado esquerdo do seu rosto estava iluminado, a sombra das gotas de chuva que batiam na janela passando por sua bochecha, eu achei difícil controlar a vontade que eu tinha de passar meu dedos sobre sua pele clara. Thomas: When I'm away (Quando eu estiver longe) Minha respiração parou quando uma mão suave embalou meu queixo, foi instantaneo fechar os olhos quando um par de lábios quentes pousaram nos meus, o beijo foi suave, durando apenas um segundo. Thomas: I will remember how you kissed me (Me lembrarei de como você me beijava) Thomas sussurrou as últimas notas musicais perto do meu ouvido, fazendo meu coração acelerar. Traçei meus dedos por sua pele, era incrível, sua pele tão suave, a barba estava completamente feita, nem um pelo solitario se quer estava ali. O polegar de Thomas passou pelo meu lábio inferior, ele inclinou-se para frente de novo, mas dessa vez nossos lábios não fizeram contado nossos corpos se separaram quando ouvimos uma batida na porta. Relutantemente caminhei até a entrada da minha casa, dei uma última olhada para Thomas, que estava ainda de pé no meio da sala, voltei minha atenção para a porta. Eu a abri para encontrar o meu melhor amigo da faculdade sorrindo alegremente para mim. -Luiz! - O puxei para um abraço de urso. -Ellie! - Luiz disse animadamente retribuindo meu abraço. Luiz estava sempre com um gorro preso a sua cabeça, escondendo seu cabelo escuro, quando ele sorriu, a primeira coisa notável foi suas adoráveis covinhas, algo que sempre achei lindo, a segunda coisa foi seu sorriso, ele tinha usado aparelho durante alguns anos. Uma vez eu o fiz colocar as cores laranja e azul, isso tudo para vermos um jogo de basquete do meu time. Ele foi o primeiro amigo que fiz na faculdade, estava dois anos mais adiantando, foi quem me ajudou a passar nas provas finais e me arrumou um emprego na empresa do pai de Thomas. -Thomas esse é... Ele estava vestido novamente com seu terno, terminando de abotoa-lo. Thomas parecia aborrecido, o maxilar tenso quando seus olhos foram de mim para Luiz, que estava ao meu lado. -Já estou de saída, Srta Elizabeth.- Thomas proclamou caminhando até onde eu estava com meu amigo. -Sr. Morgan. - Luiz estendeu-lhe a mão. Thomas aceitou o cumprimento, mas algo em sua feição me fez ter a impressão de que ele estava zangado. Eu não queria que nosso "momento" tivesse acabado, mas ele nenhum de nós três tinhamos culpa. -Ellie eu só passei para te dar um abraço.- Luiz disse baixo. Eu olhei para ele, seu olhar me dizendo que ele percebeu que tinha chegado em um momento inapropriado. Eu balancei minha cabeça e o vi desaparecer pela porta. -Como eu disse, já estou de saída.- Thomas falou. Virei-me para ele, suas feições não tinham mudado em nada. Ele ainda parecia aborrecido, mas mesmo sua expressão brava, ele parecia bonito, muito bonito na verdade. -Mas... -O que? - Ele perguntou interrompendo. -Você me beijou.- Minha declaração saiu tão baixa que eu pensei que tinha falado apenas em pensamento. -Não significou nada. E simplesmente ele saiu caminhando sem nem ao menos olhar para trás.
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ojeitoqueeuteamei-blog · 8 years ago
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🌼 Prólogo.
Quatro anos atrás…
“Prezada Senhorita Ellie Elizabeth:
Temos os prazer de informar que seu requerimento para ingressar na Universidade de Jornalismo "London Universit of Communication” foi APROVADO. Favor enviar a documentação necessária para o seguinte endereço: (…)“
Eu só fiquei parada ali no meio da minha cozinha com as mãos tremendo e olhando para aquele papel timbrado, meu nome estava ali. MEU NOME.
E o melhor de tudo, a palavra APROVADO brilhava e eu esqueci completamente de ver o que estava escrito abaixo.
Essa parte de papelada eu posso deixar para meus pais, o importante é que eu consegui ENTRAR NA UNIVERSIDADE DE LONDRES!
Isso significa que minha bolsa foi aceita, isso significa que meus pais não vão desembolsar com o curso, isso significa que finalmente vou sair dessa cidade e eu vou PARA LONDRES!
***
-Mãe eu estou bem. - Falei mais uma vez sendo esmagada por uma mãe completamente chorosa.
-Você verificou se lá tem internet e sinal para o celular? Eu preciso saber se vou conseguir falar com a minha bebê a qualquer hora do dia!
Minha mãe me soltou apenas para me fazer querer abraça-la e nunca mais solta-la. Seus olhos azuis esverdeados estavam marejados, e as bochechas rosadas enquanto ela me segurava no comprimento do braço.
-Estou indo para Londres. É óbvio que tem internet, mãe.-Sorri.
-Não sei, Ellie, não sei… - Ela começou a chorar, e eu acho que ia começar a chorar também… - Filha, você tem certeza de que quer ir?
Sua pergunta me fez repensar, mas já tínhamos combinado de que eu poderia escolher como passar o restante do meu tempo. Eu queria me formar em jornalismo, visitar as cidades dos meus sonhos, e claro eu queria que meus amados pais fossem comigo, mas eles não podiam por causa do visto que foi recusado.
Respirei fundo me recompondo, eu estava indo para a primeira cidade dos meus sonhos, a segunda era Paris. Que demoraria um pouco para ir, porque eu tive que economizar cada centavo que eu ganhei trabalhando em um escritório de contabilidade, e fazendo consórcios. Mas graças a Deus, eu tinha ganho a bolsa.
As mãos quentes da minha mãe continuaram ligadas as minhas, em Ilha Bela estava um clima agradável, sol e nuvens enfeitando o céu azul.
-Mãe, não chora.-Mordi os lábios e a abracei como se minha vida dependesse daquilo. - Por favor…-Funguei em seu pescoço sentindo seu cheiro.
De longe vi meu pai terminando de colocar minha mala no seu carro esporte vermelho.
-Tudo pronto.-Paulo avisou vindo até nós.
Soltei minha mãe para abraça-lo e recebi um pequeno beijo no meu cabelo escuro.
-Ai, Ellie… -E mais um abraço da minha mãe. - Liga assim que você chegar, se não gostar deles pega o primeiro avião de volta para o Brasil, o primeiro!
-Prometo.- Respondi meio abafada.
Já havia me despedido do meu pai de manhã, ele não era fã de despedidas longas nos aeroportos com todo mundo olhando.
Não é que eu não estava triste, é óbvio que eu estava. Meu quarto, meus pais e meu cachorro estavam sendo deixados no Brasil, porém eu estava indo viver um sonho que eu tinha desde menina e eu não deixaria ninguém se colocar no meu caminho.
O número do meu vôo foi chamado e o frio na barriga apareceu, eu nunca tinha andado de avião e agora eu ia passar quatorze horas com a bunda colada em uma poltrona a trocentos mil pés de altitude.
-Me liga?-As lágrimas ameaçavam cair dos olhos pequenos da minha mãe.
-Ligo, mãe, por favor, pare de chorar antes que eu te leve comigo.- Eu sorri e dei um beijo em sua bochecha.
-Te amo, minha menina, estamos muito orgulhosos de você.-Meu pai disse sorridente.
-Eu também amo vocês.-Sorri lançando um beijo no ar.
Passei pelo portão de embarque, entrei no avião (segunda classe, é óbvio) coloquei meus fones, fechei meus olhos e fingi que aquela lágrima não estava caindo dos meus olhos enquanto eu abri meu colar vendo a pequena fotografia dos meus pais nele.
Eu fiz a escolha certa, não fiz?
Bom, eu ia descobrir quando dali a quatorze horas eu acordasse em Londres. Abracei forte o colar contra meu peito e respirei fundo fechando os olhos.
*Horas depois*
Saí do táxi com minha mala e bolsa. A noite acabando de chegar, fazendo pequenos pontos de luz surgir no céu, e os postes acendendo, o ar novo, ar doce do Reino Unido.
Caminhei lentamente pela multidão adolescente captando cada detalhe, cada folha, cada luz, flor e pessoa que passava na minha frente.
Qualquer detalhe era essêncial, eu queria me lembrar de tudo para contar em detalhes para minha família como foi minha chegada em Londres. Havia pessoas de todos os tipos e roupas e gêneros, estava me sentindo nas nuvens.
Fui tão acostumada a estudar com só um tipo de gente que ver tanta variedade no mesmo lugar me deixava um pouco atordoada.
Andando devagar e notei alguns sorrisos amigáveis no meu caminho, pessoas me olhando de forma curiosa e outras que simplesmente viraram a cara. Deve ser minha calça jeans rasgada, botas, camiseta branca, jaqueta jeans e esse cabelo desgrenhado? Deve ser isso, estou assustando pessoas.
***
Cheguei a minha nova casa depois de passar por uma boa vistoria. Eu ia ficar no terceiro andar de um prédio azul, um lugar só meu, com vista para uma pequena parte da cidade, e não muito longe do campus.
Assim que eu abria a porta dava de cara com o que parecia ser uma sala enorme, a diferença é que nessa sala estava uma cama de casal gigantesca, uma janela atrás dela (mais gigante ainda), cortinas na cor branca, um pouco amareladas, devo dizer, escrivaninhas do lado esquerdo da cama e um filtro dos sonhos pendurado na cabeceira da cama.
Um armário do que pegava a lateral da parede toda do lado direito e alguns objetos deixados provavelmente pelo antigo morador. Do meu lado direito estava uma mesa enorme com alguns livros e uma luminária meio antiga, uma poltrona vermelha dava um tom diferenciado no ambiente cor branca que eu me encontrava.
Na minha esquerda estava a ‘cozinha’ - se é que posso chamar assim. Um balcão de granito escuro dividia a cozinha da 'sala’, só havia uma pia tamanho médio, uma geladeira branca, mesa, fogão embutido e, graças a Deus, um microondas.
Acima da pia encontravam-se os armários (vazios) e mais para o fundo dessa área estava uma pequena e quase insignificante lavanderia. Quase centímetros longe da minha cama estava uma porta que levava a um banheiro comprido de azulejos brancos com detalhes pretos.
Havia espelho, box e uma janela de vidraça colorida que lembrava um pouco a casa da minha avó no Brasil. Depois de dar uma boa olhada em tudo eu me joguei na cama - que estava sem lençol - e acabei ficando por lá.
O cheiro de mofo era perceptível e meu nariz começou a coçar, mas quem se importa? Eu finalmente estava onde eu queria, onde eu pertencia.
Eu estava em Londres.
***
Fui acordar só na manhã seguinte com meu despertador berrando, eram seis horas da manhã e eu não estava nada acostumada com o fuso horário.
Acordei sentindo minhas costas doerem e depois de dar uma olhada na posição em que me encontrava fui entender o motivo da minha dor, eu estava toda torta sobre minhas malas.
Esfreguei os olhos e fui na direção do banheiro lavar meu rosto e ver meu estado, eu estava horrivel. Gritei quando uma aranha saiu da parte de trás da pia e se escondeu novamente atrás do vaso, eu fiz uma saída ligeira e quase sem movimentos para fora do banheiro.
Era o dia de arrumar o quarto, sair para fazer compras (comida, claro) e dar minha primeira passeada em Londres. Tirei tudo da mala (roupa, lençol, shampoo, calcinhas), separei o quarto com cortinas brancas arrumei o restante e depois de mais ou menos três horas (limpando chão, passando um pano com cheiro agradável nos móveis) meu cômodo estava mais ou menos como eu queria.
Coloquei algumas fotos dos meus amigos na parede e dos meus pais perto da minha cama aproveitei para ligar para minha mãe e quase chorar com ela no telefone. Tomei um banho rápido e vesti uma roupa confortável e quentinha para sair pela cidade, como ainda não conhecia ninguém podia aproveitar esse tempo só para mim.
Enquanto eu não fizesse amizades eu teria Londres a hora que eu quisesse, eu podia sair a hora que eu quisesse sem dar explicações para ninguém. E foi exatamente isso o que fiz.
Peguei minha câmera fotográfica, coloquei algumas libras necessárias no bolso da calça e saí. O prédio onde eu estava morando estava completamente silencioso, acho que todos estavam dormindo ainda.
Decidi ir caminhando e ver onde que essas ruas tão lindas e cinzas iriam me levar, caso me perdesse eu ligaria para um táxi.
O primeiro lugar que fui foi uma padaria que estava exalando um cheiro maravilhoso de café com pão quente. Me sentei em uma das mesinhas e pedi um café preto com bagels na chapa - foi o melhor café da manhã da minha vida. Simples, porém delicioso.
O que me fez lembrar da comida que minha mãe fazia no Brasil, eu iria sentir falta.
Enquanto estava ali sentada vi um grupo de adolescentes assim como eu do lado de fora brincando e conversando entre si.
Ao fundo London Eye fazia um belo fundo de tela. Eles se vestiam bem, eram bonitos e pareciam ter saído de uma revista estilo BOP, será que seria estranho se eu começasse a fotografá-los?
Aquela cena parecia tão perfeita, fim de cena de um filme romântico jovem americano.
Paguei meu café e saí meio de fininho pegando minha câmera da bolsa e focando nas pessoas que estavam ali conversando e brincando.
Os meninos usavam sobretudo e as meninas pareciam estar em volta deles como urubus. Eles eram muito bonitos, mas eu nunca os tinha visto na minha vida.
Eles paravam, tiravam fotos, sorriam, davam gargalhadas, as meninas quase desmaiavam, eles eram carinhosos, estavam comemorando algo. Imaginei que em outro país, os mesmos estariam de camisa de futebol e roupas de líderes de torcida.
Peguei a câmera e bati algumas fotos que, honestamente falando, ficaram lindas. London Eye se perdia no sorriso daqueles adolescentes, eles eram tão fotogênicos, inclusive as meninas que estavam ao redor deles, elas eram lindas.
O dia estava lindo, ou era a minha fascinação por estar onde eu sempre quis estar. Mais pessoas apareceram e mais fotos eram tiradas com aqueles quatro garotos, e mais vezes eu apertava o botão da minha máquina a fim de registrar todos os momentos.
Os sorrisos, as risadas, as brincadeiras, as intimidades, uma foto pode mostrar muita coisa. Um clique muda sua vida para sempre, registra um momento que pode ser histórico, em apenas um segundo você registra um momento para sempre. Sorri quando olhei para as fotos que já havia batido e vi como elas ficaram boas.
Me perdi vendo as fotos e quando olhei de volta para eles, o mesmo grupo não estava mais lá. Procurei ao meu redor, mas não os encontrei. Marquei bobeira.
Comecei a bater fotos de outras pessoas, algumas paravam e sorriam para mim. Explicava que eu era uma estudante nova de Jornalismo e elas eram absurdamente educadas (em especial os turistas).
Tudo me fascinava, o chão em Londres era o chão mais lindo e limpo que eu já vi na vida - ou era um grande exagero da minha cabeça.
Fui caminhando para uma pequena ponta localizada perto do London Eye batendo fotos de crianças que brincavam com alguns balões e comiam algodão doce como se aquela fosse a última refeição de suas vidas.
Sorri com uma delas que sorria para mim com um pedaço de algodão rosa preso entre os dentes, aquela deve ter sido minha foto favorita do dia. Enquanto batia a foto percebi um corpo mais atrás que se mexia cada vez que eu dava um clique.
Tirei a câmera dos meus olhos e olhei em volta, mas não vi ninguém. Continuei batendo, e quando eu focava de novo em outro lugar via o mesmo corpo fazendo poses, caras e caretas para a câmera.
Finalmente quando foquei nessa pessoa percebi que era um dos rapazes que estava a alguns minutos atrás perto do London Eye, um dos adolescentes.
Fiz cara de surpresa, pensei que nunca mais os vería de novo (no caso, 'o veria’ porque ali só tinha um deles). Fingi indiferença e continuei batendo fotos, mas para cada novo foco ele estava ali, uma hora sorrindo, outra fazendo careta, outra hora ameaçando abaixar as calças em público.
-Hey.- Eu berrei quando ele levantou a calça jeans que ao meu ver estava larga demais. -Você está poluindo minhas fotos.
-Você sempre costuma bater fotos de pessoas estranhas? - Ele veio até mim com um sorriso brincalhão no rosto, todos os britânicos são simpáticos?
-O que foi? Vai querer me processar por algum tipo de invasão? - Respondi com um tom arrogante e brincalhão.
Ele estreitou os olhos e mordeu seu lábio inferior.
-Você é sempre tão arisca assim? - Ele riu.
O vento frio passava por seus cabelos escuros dando um ar mais bagunçado. Agora que ele estava mais perto pude reparar em pequenos detalhes. Sempre via que os britânicos são as pessoas mais simpáticas e bonitas do mundo.
E esse ser na minha frente fazia jus a todos os meus sonhos europeus. Devia ter mais de 1,80m, sorriso brincalhão nos lábios, incríveis olhos azuis, cabelos levemente rebeldes que dançavam com o vento, as mãos com dedos longos jogavam os cabelos para trás (dedos esses que me lembravam o de Robert Pattinson), um perfume não conhecido exalava dele. Sua pele era clara - mais clara que a minha, considerando que eu morava a baixo da linha do Equador. - e ele parecia estar intrigado comigo. Que foi que eu fiz?
-Só com quem não conheço. - Respondi agora sorrindo depois de fazer essa análise mental. - Sou Ellie.-Sorri.
-Thomas.- Ele estendeu a mão para mim e nos cumprimentamos, se fosse no Brasil eu estaria dando dois bejinhos estalados na bochecha dele. - Thomas Morgan.
-Prazer.- Respondi.- E o que Thomas Morgan está fazendo posando para as minhas fotos?-Foi minha vez de estreitar os olhos para ele.
-Chamando sua atenção? - Ele me respondeu com uma pergunta e fazendo cara de dúvida, eu ri. - Pelo menos deu certo.
-Sim, eu acabei de perder uma criança de no máximo seis anos se lambuzando toda com o algodão doce, é uma cena muito linda e eu queria ter fotografado!
Thomas deu um sorriso e olhou para trás procurando alguma coisa.
-Não seja por isso, meu amigo Diogo se comporta como uma criança e eu acho que ele ia adorar ser modelo para suas fotos.-Sugeriu dando-me um sorriso lindo.
-Obrigada. - Eu ri. - Seus outros amigos são aqueles que estavam perto do London Eye?
-Exato.- Ele respondeu com um estalo na boca.
-Hm, e as meninas ao redor de vocês seriam o que? Groupies? - Perguntei meio rindo e ele abriu o maior sorriso. - O que foi?
- Nada. Elas são amigas da faculdade.- Ele mordeu os lábios, senti que estava escondendo algo de mim. - Há quanto tempo está em Londres?
-É tão óbvio assim que eu não sou daqui? - Perguntei fazendo biquinho fingindo ofensa.
- Hm, sua pele é mais corada do que de qualquer pessoa daqui, voce tem olhos mistos, sardas no nariz, sotaque, e você tirou fotos do chão. Me desculpe, você não é daqui.- Ele sorriu com os lábios fechados e eu senti que fiquei mais corada ainda.
- Touché - Sorri sem graça. - Sou brasileira, estou aqui há menos de 24 horas e essa é a primeira vez que saio sozinha em Londres.
-Eu sabia. - Ele sorriu. Seus olhos azuis estavam queimando em contato com os meus. O clima começando a ficar constrangedor.
- Bom… - Mordi os lábios. - Thomas, obrigada pelos cinco minutos de atenção, mas eu pretendo voltar para meus aposentos reais.
Virei as costas para ele e caminhei, surpreendentemente ele apareceu ao meu lado segundos depois.
-E onde seriam os seus aposentos reais?-Perguntou arregalando os olhos.
-Seria… Epa! - Comecei a rir. - Mal te conheço e já vou te falando assim logo de cara onde eu moro? Tá maluco? - Ele pode ser bonito, mas psicopatas são bonitos.
-Ok, ok… Me desculpe. - Ele ergueu as mãos para o alto como quem assume a culpa e começou a rir. - Sinto que vamos nos encontrar mais vezes.
-Pelo visto você vai me perseguir, devo chamar Sherlock Holmes para me ajudar?
-Ah meu Deus! - Ele começou a rir. - Eu acho que você precisa de uma ajuda para conhecer outras coisas em Londres que não sejam tão clichês - Ele riu.
-E quem vai me ajudar? - Perguntei desconfiada guardando minha câmera na bolsa.
-Eu, óbvio.- Ele sorriu. - Nos vemos em breve, Ell.
-Hey, quem te deu permissão para me chamar de Ell? - Ele já estava a alguns passos longe de mim, então só deu eu gritando no meio do povo espantando os pássaros perto de mim.
Thomas apenas virou para trás e acenou com um sorriso sapeca em seu rosto. Fiquei ali parada com cara de idiota e percebi que algumas pessoas - em especial meninas da minha idade - passavam e ficavam me encarando.
Mordi os lábios nervosa e decidi sair de lá antes de alguém conversar comigo, pelo visto muitas pessoas gostavam desse tal de 'Thomas’, acho que ele é o tipo de garoto que conversa com todo mundo; deve ser por isso que aquelas meninas estavam tirando fotos com ele, Thomas deve ser o maluco de Londres que fala com estranhos.
E eu sou a maluca que tira fotos de estranhos, bela combinação.
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ojeitoqueeuteamei-blog · 8 years ago
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🌼 Prólogo.
Quatro anos atrás... "Prezada Senhorita Ellie Elizabeth: Temos os prazer de informar que seu requerimento para ingressar na Universidade de Jornalismo "London Universit of Communication" foi APROVADO. Favor enviar a documentação necessária para o seguinte endereço: (...)" Eu só fiquei parada ali no meio da minha cozinha com as mãos tremendo e olhando para aquele papel timbrado, meu nome estava ali. MEU NOME. E o melhor de tudo, a palavra APROVADO brilhava e eu esqueci completamente de ver o que estava escrito abaixo. Essa parte de papelada eu posso deixar para meus pais, o importante é que eu consegui ENTRAR NA UNIVERSIDADE DE LONDRES! Isso significa que minha bolsa foi aceita, isso significa que meus pais não vão desembolsar com o curso, isso significa que finalmente vou sair dessa cidade e eu vou PARA LONDRES! *** -Mãe eu estou bem. - Falei mais uma vez sendo esmagada por uma mãe completamente chorosa. -Você verificou se lá tem internet e sinal para o celular? Eu preciso saber se vou conseguir falar com a minha bebê a qualquer hora do dia! Minha mãe me soltou apenas para me fazer querer abraça-la e nunca mais solta-la. Seus olhos azuis esverdeados estavam marejados, e as bochechas rosadas enquanto ela me segurava no comprimento do braço. -Estou indo para Londres. É óbvio que tem internet, mãe.-Sorri. -Não sei, Ellie, não sei... - Ela começou a chorar, e eu acho que ia começar a chorar também... - Filha, você tem certeza de que quer ir? Sua pergunta me fez repensar, mas já tínhamos combinado de que eu poderia escolher como passar o restante do meu tempo. Eu queria me formar em jornalismo, visitar as cidades dos meus sonhos, e claro eu queria que meus amados pais fossem comigo, mas eles não podiam por causa do visto que foi recusado. Respirei fundo me recompondo, eu estava indo para a primeira cidade dos meus sonhos, a segunda era Paris. Que demoraria um pouco para ir, porque eu tive que economizar cada centavo que eu ganhei trabalhando em um escritório de contabilidade, e fazendo consórcios. Mas graças a Deus, eu tinha ganho a bolsa. As mãos quentes da minha mãe continuaram ligadas as minhas, em Ilha Bela estava um clima agradável, sol e nuvens enfeitando o céu azul. -Mãe, não chora.-Mordi os lábios e a abracei como se minha vida dependesse daquilo. - Por favor...-Funguei em seu pescoço sentindo seu cheiro. De longe vi meu pai terminando de colocar minha mala no seu carro esporte vermelho. -Tudo pronto.-Paulo avisou vindo até nós. Soltei minha mãe para abraça-lo e recebi um pequeno beijo no meu cabelo escuro. -Ai, Ellie... -E mais um abraço da minha mãe. - Liga assim que você chegar, se não gostar deles pega o primeiro avião de volta para o Brasil, o primeiro! -Prometo.- Respondi meio abafada. Já havia me despedido do meu pai de manhã, ele não era fã de despedidas longas nos aeroportos com todo mundo olhando. Não é que eu não estava triste, é óbvio que eu estava. Meu quarto, meus pais e meu cachorro estavam sendo deixados no Brasil, porém eu estava indo viver um sonho que eu tinha desde menina e eu não deixaria ninguém se colocar no meu caminho. O número do meu vôo foi chamado e o frio na barriga apareceu, eu nunca tinha andado de avião e agora eu ia passar quatorze horas com a bunda colada em uma poltrona a trocentos mil pés de altitude. -Me liga?-As lágrimas ameaçavam cair dos olhos pequenos da minha mãe. -Ligo, mãe, por favor, pare de chorar antes que eu te leve comigo.- Eu sorri e dei um beijo em sua bochecha. -Te amo, minha menina, estamos muito orgulhosos de você.-Meu pai disse sorridente. -Eu também amo vocês.-Sorri lançando um beijo no ar. Passei pelo portão de embarque, entrei no avião (segunda classe, é óbvio) coloquei meus fones, fechei meus olhos e fingi que aquela lágrima não estava caindo dos meus olhos enquanto eu abri meu colar vendo a pequena fotografia dos meus pais nele. Eu fiz a escolha certa, não fiz? Bom, eu ia descobrir quando dali a quatorze horas eu acordasse em Londres. Abracei forte o colar contra meu peito e respirei fundo fechando os olhos. *Horas depois* Saí do táxi com minha mala e bolsa. A noite acabando de chegar, fazendo pequenos pontos de luz surgir no céu, e os postes acendendo, o ar novo, ar doce do Reino Unido. Caminhei lentamente pela multidão adolescente captando cada detalhe, cada folha, cada luz, flor e pessoa que passava na minha frente. Qualquer detalhe era essêncial, eu queria me lembrar de tudo para contar em detalhes para minha família como foi minha chegada em Londres. Havia pessoas de todos os tipos e roupas e gêneros, estava me sentindo nas nuvens. Fui tão acostumada a estudar com só um tipo de gente que ver tanta variedade no mesmo lugar me deixava um pouco atordoada. Andando devagar e notei alguns sorrisos amigáveis no meu caminho, pessoas me olhando de forma curiosa e outras que simplesmente viraram a cara. Deve ser minha calça jeans rasgada, botas, camiseta branca, jaqueta jeans e esse cabelo desgrenhado? Deve ser isso, estou assustando pessoas. *** Cheguei a minha nova casa depois de passar por uma boa vistoria. Eu ia ficar no terceiro andar de um prédio azul, um lugar só meu, com vista para uma pequena parte da cidade, e não muito longe do campus. Assim que eu abria a porta dava de cara com o que parecia ser uma sala enorme, a diferença é que nessa sala estava uma cama de casal gigantesca, uma janela atrás dela (mais gigante ainda), cortinas na cor branca, um pouco amareladas, devo dizer, escrivaninhas do lado esquerdo da cama e um filtro dos sonhos pendurado na cabeceira da cama. Um armário do que pegava a lateral da parede toda do lado direito e alguns objetos deixados provavelmente pelo antigo morador. Do meu lado direito estava uma mesa enorme com alguns livros e uma luminária meio antiga, uma poltrona vermelha dava um tom diferenciado no ambiente cor branca que eu me encontrava. Na minha esquerda estava a 'cozinha' - se é que posso chamar assim. Um balcão de granito escuro dividia a cozinha da 'sala', só havia uma pia tamanho médio, uma geladeira branca, mesa, fogão embutido e, graças a Deus, um microondas. Acima da pia encontravam-se os armários (vazios) e mais para o fundo dessa área estava uma pequena e quase insignificante lavanderia. Quase centímetros longe da minha cama estava uma porta que levava a um banheiro comprido de azulejos brancos com detalhes pretos. Havia espelho, box e uma janela de vidraça colorida que lembrava um pouco a casa da minha avó no Brasil. Depois de dar uma boa olhada em tudo eu me joguei na cama - que estava sem lençol - e acabei ficando por lá. O cheiro de mofo era perceptível e meu nariz começou a coçar, mas quem se importa? Eu finalmente estava onde eu queria, onde eu pertencia. Eu estava em Londres. *** Fui acordar só na manhã seguinte com meu despertador berrando, eram seis horas da manhã e eu não estava nada acostumada com o fuso horário. Acordei sentindo minhas costas doerem e depois de dar uma olhada na posição em que me encontrava fui entender o motivo da minha dor, eu estava toda torta sobre minhas malas. Esfreguei os olhos e fui na direção do banheiro lavar meu rosto e ver meu estado, eu estava horrivel. Gritei quando uma aranha saiu da parte de trás da pia e se escondeu novamente atrás do vaso, eu fiz uma saída ligeira e quase sem movimentos para fora do banheiro. Era o dia de arrumar o quarto, sair para fazer compras (comida, claro) e dar minha primeira passeada em Londres. Tirei tudo da mala (roupa, lençol, shampoo, calcinhas), separei o quarto com cortinas brancas arrumei o restante e depois de mais ou menos três horas (limpando chão, passando um pano com cheiro agradável nos móveis) meu cômodo estava mais ou menos como eu queria. Coloquei algumas fotos dos meus amigos na parede e dos meus pais perto da minha cama aproveitei para ligar para minha mãe e quase chorar com ela no telefone. Tomei um banho rápido e vesti uma roupa confortável e quentinha para sair pela cidade, como ainda não conhecia ninguém podia aproveitar esse tempo só para mim. Enquanto eu não fizesse amizades eu teria Londres a hora que eu quisesse, eu podia sair a hora que eu quisesse sem dar explicações para ninguém. E foi exatamente isso o que fiz. Peguei minha câmera fotográfica, coloquei algumas libras necessárias no bolso da calça e saí. O prédio onde eu estava morando estava completamente silencioso, acho que todos estavam dormindo ainda. Decidi ir caminhando e ver onde que essas ruas tão lindas e cinzas iriam me levar, caso me perdesse eu ligaria para um táxi. O primeiro lugar que fui foi uma padaria que estava exalando um cheiro maravilhoso de café com pão quente. Me sentei em uma das mesinhas e pedi um café preto com bagels na chapa - foi o melhor café da manhã da minha vida. Simples, porém delicioso. O que me fez lembrar da comida que minha mãe fazia no Brasil, eu iria sentir falta. Enquanto estava ali sentada vi um grupo de adolescentes assim como eu do lado de fora brincando e conversando entre si. Ao fundo London Eye fazia um belo fundo de tela. Eles se vestiam bem, eram bonitos e pareciam ter saído de uma revista estilo BOP, será que seria estranho se eu começasse a fotografá-los? Aquela cena parecia tão perfeita, fim de cena de um filme romântico jovem americano. Paguei meu café e saí meio de fininho pegando minha câmera da bolsa e focando nas pessoas que estavam ali conversando e brincando. Os meninos usavam sobretudo e as meninas pareciam estar em volta deles como urubus. Eles eram muito bonitos, mas eu nunca os tinha visto na minha vida. Eles paravam, tiravam fotos, sorriam, davam gargalhadas, as meninas quase desmaiavam, eles eram carinhosos, estavam comemorando algo. Imaginei que em outro país, os mesmos estariam de camisa de futebol e roupas de líderes de torcida. Peguei a câmera e bati algumas fotos que, honestamente falando, ficaram lindas. London Eye se perdia no sorriso daqueles adolescentes, eles eram tão fotogênicos, inclusive as meninas que estavam ao redor deles, elas eram lindas. O dia estava lindo, ou era a minha fascinação por estar onde eu sempre quis estar. Mais pessoas apareceram e mais fotos eram tiradas com aqueles quatro garotos, e mais vezes eu apertava o botão da minha máquina a fim de registrar todos os momentos. Os sorrisos, as risadas, as brincadeiras, as intimidades, uma foto pode mostrar muita coisa. Um clique muda sua vida para sempre, registra um momento que pode ser histórico, em apenas um segundo você registra um momento para sempre. Sorri quando olhei para as fotos que já havia batido e vi como elas ficaram boas. Me perdi vendo as fotos e quando olhei de volta para eles, o mesmo grupo não estava mais lá. Procurei ao meu redor, mas não os encontrei. Marquei bobeira. Comecei a bater fotos de outras pessoas, algumas paravam e sorriam para mim. Explicava que eu era uma estudante nova de Jornalismo e elas eram absurdamente educadas (em especial os turistas). Tudo me fascinava, o chão em Londres era o chão mais lindo e limpo que eu já vi na vida - ou era um grande exagero da minha cabeça. Fui caminhando para uma pequena ponta localizada perto do London Eye batendo fotos de crianças que brincavam com alguns balões e comiam algodão doce como se aquela fosse a última refeição de suas vidas. Sorri com uma delas que sorria para mim com um pedaço de algodão rosa preso entre os dentes, aquela deve ter sido minha foto favorita do dia. Enquanto batia a foto percebi um corpo mais atrás que se mexia cada vez que eu dava um clique. Tirei a câmera dos meus olhos e olhei em volta, mas não vi ninguém. Continuei batendo, e quando eu focava de novo em outro lugar via o mesmo corpo fazendo poses, caras e caretas para a câmera. Finalmente quando foquei nessa pessoa percebi que era um dos rapazes que estava a alguns minutos atrás perto do London Eye, um dos adolescentes. Fiz cara de surpresa, pensei que nunca mais os vería de novo (no caso, 'o veria' porque ali só tinha um deles). Fingi indiferença e continuei batendo fotos, mas para cada novo foco ele estava ali, uma hora sorrindo, outra fazendo careta, outra hora ameaçando abaixar as calças em público. -Hey.- Eu berrei quando ele levantou a calça jeans que ao meu ver estava larga demais. -Você está poluindo minhas fotos. -Você sempre costuma bater fotos de pessoas estranhas? - Ele veio até mim com um sorriso brincalhão no rosto, todos os britânicos são simpáticos? -O que foi? Vai querer me processar por algum tipo de invasão? - Respondi com um tom arrogante e brincalhão. Ele estreitou os olhos e mordeu seu lábio inferior. -Você é sempre tão arisca assim? - Ele riu. O vento frio passava por seus cabelos escuros dando um ar mais bagunçado. Agora que ele estava mais perto pude reparar em pequenos detalhes. Sempre via que os britânicos são as pessoas mais simpáticas e bonitas do mundo. E esse ser na minha frente fazia jus a todos os meus sonhos europeus. Devia ter mais de 1,80m, sorriso brincalhão nos lábios, incríveis olhos azuis, cabelos levemente rebeldes que dançavam com o vento, as mãos com dedos longos jogavam os cabelos para trás (dedos esses que me lembravam o de Robert Pattinson), um perfume não conhecido exalava dele. Sua pele era clara - mais clara que a minha, considerando que eu morava a baixo da linha do Equador. - e ele parecia estar intrigado comigo. Que foi que eu fiz? -Só com quem não conheço. - Respondi agora sorrindo depois de fazer essa análise mental. - Sou Ellie.-Sorri. -Thomas.- Ele estendeu a mão para mim e nos cumprimentamos, se fosse no Brasil eu estaria dando dois bejinhos estalados na bochecha dele. - Thomas Morgan. -Prazer.- Respondi.- E o que Thomas Morgan está fazendo posando para as minhas fotos?-Foi minha vez de estreitar os olhos para ele. -Chamando sua atenção? - Ele me respondeu com uma pergunta e fazendo cara de dúvida, eu ri. - Pelo menos deu certo. -Sim, eu acabei de perder uma criança de no máximo seis anos se lambuzando toda com o algodão doce, é uma cena muito linda e eu queria ter fotografado! Thomas deu um sorriso e olhou para trás procurando alguma coisa. -Não seja por isso, meu amigo Diogo se comporta como uma criança e eu acho que ele ia adorar ser modelo para suas fotos.-Sugeriu dando-me um sorriso lindo. -Obrigada. - Eu ri. - Seus outros amigos são aqueles que estavam perto do London Eye? -Exato.- Ele respondeu com um estalo na boca. -Hm, e as meninas ao redor de vocês seriam o que? Groupies? - Perguntei meio rindo e ele abriu o maior sorriso. - O que foi? - Nada. Elas são amigas da faculdade.- Ele mordeu os lábios, senti que estava escondendo algo de mim. - Há quanto tempo está em Londres? -É tão óbvio assim que eu não sou daqui? - Perguntei fazendo biquinho fingindo ofensa. - Hm, sua pele é mais corada do que de qualquer pessoa daqui, voce tem olhos mistos, sardas no nariz, sotaque, e você tirou fotos do chão. Me desculpe, você não é daqui.- Ele sorriu com os lábios fechados e eu senti que fiquei mais corada ainda. - Touché - Sorri sem graça. - Sou brasileira, estou aqui há menos de 24 horas e essa é a primeira vez que saio sozinha em Londres. -Eu sabia. - Ele sorriu. Seus olhos azuis estavam queimando em contato com os meus. O clima começando a ficar constrangedor. - Bom... - Mordi os lábios. - Thomas, obrigada pelos cinco minutos de atenção, mas eu pretendo voltar para meus aposentos reais. Virei as costas para ele e caminhei, surpreendentemente ele apareceu ao meu lado segundos depois. -E onde seriam os seus aposentos reais?-Perguntou arregalando os olhos. -Seria... Epa! - Comecei a rir. - Mal te conheço e já vou te falando assim logo de cara onde eu moro? Tá maluco? - Ele pode ser bonito, mas psicopatas são bonitos. -Ok, ok... Me desculpe. - Ele ergueu as mãos para o alto como quem assume a culpa e começou a rir. - Sinto que vamos nos encontrar mais vezes. -Pelo visto você vai me perseguir, devo chamar Sherlock Holmes para me ajudar? -Ah meu Deus! - Ele começou a rir. - Eu acho que você precisa de uma ajuda para conhecer outras coisas em Londres que não sejam tão clichês - Ele riu. -E quem vai me ajudar? - Perguntei desconfiada guardando minha câmera na bolsa. -Eu, óbvio.- Ele sorriu. - Nos vemos em breve, Ell. -Hey, quem te deu permissão para me chamar de Ell? - Ele já estava a alguns passos longe de mim, então só deu eu gritando no meio do povo espantando os pássaros perto de mim. Thomas apenas virou para trás e acenou com um sorriso sapeca em seu rosto. Fiquei ali parada com cara de idiota e percebi que algumas pessoas - em especial meninas da minha idade - passavam e ficavam me encarando. Mordi os lábios nervosa e decidi sair de lá antes de alguém conversar comigo, pelo visto muitas pessoas gostavam desse tal de 'Thomas', acho que ele é o tipo de garoto que conversa com todo mundo; deve ser por isso que aquelas meninas estavam tirando fotos com ele, Thomas deve ser o maluco de Londres que fala com estranhos. E eu sou a maluca que tira fotos de estranhos, bela combinação.
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