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Descreve o poeta epílogo de passadas memórias
"Não há beleza rara sem algo de estranho nas proporções". Poe
A grafia finda dos harpejos e claves No vento assobiando antiga canção Existe ainda hígida, algo que lhe cabe Um novo compasso os encontrarão!?
O cravo partido ainda canta adágio Pelas margens do Neva fitou então Dos solstícios junto a Esculápio Vera noite alva – lamento e perdição!
Ao Tríptico de Petrarca no mapa Quartas justas! Pelo hóspede o calou? Da caligrafia trêmula rasgada!
Lyra de Ptolomeu – o relógio marcou Setecentos dias desta alvorada Que o mapa de Borges não registrou! -O.S.S
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Logo mais
“Tenho em mim todos os sonhos do mundo.” — Álvaro de Campos, "Tabacaria".
(Mas nem todos cabem no que escrevo.)
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Verminose mental
Ó tu, que ensinas verme com desdém Tumefata de orgulho e de giárdias Espalhas mais oses que as lombardias Defecas confrarias por cada "amém"!
Teu étrio — laboratório do além Jazigo de tênia, chagas e bastardias Pariste a maldição desde anatomias Com gozo ancilostômico também!
E quando fores pó de terra escórica Que pela giárdia o chores como tal Brindem teu nome, festa coprofágica!
Do meu eu-verme, ó mestra protozoa Que a ameba roa a luz que te coroa E a toxoplasmose vos torne imortal! - TPC
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SETE
"Ris a punhais de frígidos sarcasmos E deve dar congélidos espasmos O teu beijo de pedra horrendo e frio!" - Cruz e Souza
Rapsodo mármore, frio e com poeira Tremula em mim fúnebre heroísmo De tua ausência, lúgubre bandeira Resta o pulso — inútil mecanismo!
A carne range em ânsia fosfatada No altar da dor e dos vermes sutis Do corpo, cifra obnóxia, abandonada Expele o texto em glândulas febris!
Triunfo dos encéfalos, não recorda Deste nome que à taberna envenena Do escuro húmus, o malsão é corda Antropófago apetite — ri tal hiena!
Vaga meu espírito conúbio e maldito Pelo inventário lívido sem anestesia Sete inorgânico: sem cova, sem rito Do numeral — tálamo de matéria fria! - OSS
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Hão
Ao futuro fito Molduras gastas Do saber em pastas Sem algum apito
Recordo os degraus Que subi em vão Com livros em mãos E olhos tão maus
Ao púlpito oco Recito a verdade Mas minha vontade É calar de novo! - TPC
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Memora o poeta fétida alquimia entre enxofres de céu e incensos de inferno
“e Eros de tão alto não dera tal salto porque quis o fado que ela, e o afogado” GMG
No altar da fé me impus penitência Roguei, Hígia, de verbo romeiro Se a carne é vil, faz dela verdadeiro E do pecado, infunde-me inocência
Mas riste, clarão em sua residência Fez-se candeia em templo carniceiro Osculei-te a fronte, em êxtase primeiro Troquei de Cristo a cruz pela indolência
O sacrário, vazio, enfim se abriu Dentro, não Deus, mas a forma nua De onde o gozo, blasfemo, me sorriu
Agora alma danada, sombra e rua Com o relógio de sílica que se partiu No instante que crivei tua alma crua - TPC
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"Dissolva-se, portanto, minha vida Igualmente a uma célula caída Na aberração de um óvulo infecundo". - Dos Anjos
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Continua o poeta sua prosa hedionda e genuína
“O que é que os taipais do mundo escondem nas montras de Deus?”. Pessoa
Não contive febre, d’alma combustão Revê-la foi miragem que envenena De Platão me despedi sem razão E falar-te, angina que se acorrenta
Com taça em punho, cicuta selada Rompi o elo frio do que me cala Mendigo o olhar, voz embriagada Rezei beato em meio à própria fala
Se a verdade era etérea e ideal Inebriei néscio em rito mortuário Para o escárnio barroco, mentira
Toquei sensível, ardente e temporal Ósculo santo que rasga o breviário Varsóvia em paz beijou minha agonia - O.S.S.
FIM.
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Abjuração
“A ignorância dos homens destas eras Sisudos faz ser uns, outros prudentes, Que a mudez canoniza bestas-feras”. - G.M.G.
Abjuro ao título nesta derrocada Tomo chave. Selo ao peito tão vil Inço de cultura mal regada “Ah”, Gregório! Cheirara febril!
Choravas como ribeira em cheia E deste pranto, quando quis alento Sumias qual névoa que devaneia Em vão deixando, oco por dentro
Perfume? Tal hálito de abismo De tua boca brotou o mesmísmo Sopro que ao estudo negou meu fim
Não rogo a gaveta, sequer ao passado Evocando apenas como erro trancado Sigo campos que não guardam motim - O.S.S.
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Descreve o poeta vitória epistemológica contra botânica
"Leio até me arderem os olhos O livro de Cesário Verde"
Queixava-te, ó flor de pouca seiva Do pouco lume dado em larga mão E eu, tolo, abri-te a velha gaveta Guardei-te, peste, no peito em vão
Das lágrimas fizeste turvo rio Que à margem secou a erudição Fostes praga sem tino, sem brio Cortando à foice a ciência em gestação
Da grafia incruenta fiz espinho Sem colheita, perdido no salão A morrer de amores em vã perdição
Entre calar ou ser memória e vinho Grave os sábios e esquece o apinho Escolho a exílio, escarro o coração. - O.S.S.
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Antes
Agora que escuto O eco do antes Choram os instantes Que julgo absoluto
E nesta memória Folha muda, escrevo Um traço longevo Da vil trajetória
Num quadro trincado Vejo meu espelho Sou só o conselho De um rosto apagado - O.S.S.
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Quis o poeta findar seu destino queixoso antecedente
“Já sinto, que me inflama, ou que me inspira Talia Que Anjo é da minha guarda Dês que Apolo mandou, que me assistira”. GMG
Vos hoje anuncio o filho da ilusão Roga ao Oráculo sombras e desvelo Quis de a trama ser o próprio elo Ah! Eclode num vesúvio de tição!
Quão longe fez de Viena ao sensível Enfrentar os mares deste porto alado A confinar ad eternum seu estado Deste surto hediondo e nada crível!
Do demiurgo rasgou-te a criação Brinda cicuta — um happy entrega De quem expeliu a ideia abjuração Travado à glote, exclama suor mortalha Cosmo alinhado, aos sinos não nega Avante à Varsóvia, findar sua batalha! - O.S.S.
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Dia de ira! Pobre Argila!
"Dies iræ! Dies illa Solvet sæclum in favilla Per sepulchra regionum". G.V.
Às vésperas de um dezembro pueril Luto ecoa na sombra que se estende Verme invejado, silente em seu brio Rói a terra, ó aniversário intransigente
Um soneto eterno ao sete que chora Neste destino, a frustração persiste Vereda incerta, a não ver minha hora Lembrança viva, tristeza que inside
No teatro do tempo, a efígie da vida Larva e destino, numa dança atrevida Invejo a serenidade que a terra abraça
Sete é o eco desta toda trama bordada Neste soneto, a saudade se entrelaça Em 7 de dezembro, a triste despedida
O.S.S.
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As bestas andam aos pares
"Conheceis as donzelas por que trombei, que havia nome Dona Beringela e outra por Dona Pícara?" Afonso Sanches
Ouvi de Salomão um tal Provérbio Antes morar qual ermo ao deserto Que co'a mulher rixosa e iracunda Sábio rei, que farei se forem outras?
Com o nome da Santa Prima em vão Guardas mas não tens, sabes nada De tua concha que abriram a valva Tão fundo, pérola saiu como tição
Outra dada ao perjúrio, bem gasta De tanto dar banda, rasgou a faixa Caberia bem ao meio o teu apelido
Xô, vossos crás crás ao espantalho! Pois este que cobiçais não é otário Mil corvos, pisarei qual Expedito
- para gargalhar, ADP.
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Postlúdio do Não-nato
"Vivi, estudei, amei e até cri E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira". Pessoa
Em que hei de pensar, se fui quem cravou Com mãos trôpegas sinos na moldura? Clamei-te, e o eco, em dor, não teve altura Fez febre alta, Gregório, e nunca se escutou
Rezei teus passos na neblina de horas vãs Guardei salmos, de Dante e penitência No peito o fel, calado em só reverência No altar erguido à custa das manhãs
Com Orfeu, segui a brisa tão serena Mas fui porão, fui poço e sombra fria Tu merecias luz, senão tal poema
Evasei meu sangue em crua agonia E no jazigo, saberei — se em Jerusalém Fui sopro, abandono ou delírio também - O.S.S.
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Revela-se o poeta em seu labor secreto em busca da epifania (2/3)
“Deixem dormir o futuro como merece Se o acordarem antes do tempo teremos um presente sonolento”. Kafka
No sótão d’alma, qual Gregor enleado Na crisálida suja de parva existência — Emerge um poeta, larvário, inchado De ânsia por tua Hígia presença
E eu, doente de ti, por tua ausência Levantei baldaquinos em leito impuro Com a lira embebia-te de reverência E dormi em vigília, no culto obscuro
Ah, Esculápio, se fui profano em desejo Rendi-lhe a alma – e o corpo aflito Rezei de cor cada vértebra, ensejo
Mas ela? Jazia sem saber do culto Como deusa ignara, sem altar ou beijo E, Gregório, sem forma, verbo, ou vulto. - O.S.
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