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Depois que aluno virou cliente, a satisfação do cliente é prioridade.

A transformação do aluno em cliente reflete uma mudança profunda e preocupante na concepção da educação, onde o mercantilismo passou a dominar o cenário acadêmico. Essa abordagem mercadológica prioriza a satisfação do cliente-aluno, muitas vezes em detrimento do rigor acadêmico e da formação crítica e cidadã. No modelo mercantilista, as instituições de ensino podem ser pressionadas a moldar seus currículos e práticas pedagógicas para atender demandas imediatas e superficiais, visando mais à retenção e ao lucro do que ao desenvolvimento integral dos estudantes. Essa inversão de valores compromete a qualidade do ensino e ameaça o papel da educação como um processo de construção de conhecimento, reflexão crítica e transformação social.

Nesse contexto, o conhecimento deixa de ser um fim em si mesmo, tornando-se uma mercadoria que deve ser empacotada e vendida de acordo com as preferências do "cliente". A educação, que deveria fomentar a autonomia intelectual e preparar indivíduos para enfrentar os desafios complexos do mundo, corre o risco de ser reduzida a um serviço que precisa agradar, muitas vezes com soluções rápidas e superficiais. Isso pode levar a uma erosão dos padrões acadêmicos, à desvalorização dos profissionais da educação e à precarização das condições de trabalho dos docentes, que se veem forçados a adaptar suas práticas pedagógicas a essas novas demandas. Em última instância, esse modelo compromete a missão essencial da educação: a de formar cidadãos críticos, capazes de questionar o status quo e contribuir para uma sociedade mais justa e equitativa.

Referências bibliográficas comentadas:

1. Giroux, H. A. (2002). "Neoliberalism, Corporate Culture, and the Promise of Higher Education: The University as a Democratic Public Sphere." Harvard Educational Review, 72(4), 425-463.

- Este artigo discute como as práticas neoliberais estão reformulando as instituições de ensino superior, transformando-as em entidades orientadas para o mercado.

2. Naidoo, R., & Jamieson, I. (2005). "Knowledge in the Marketplace: The Global Commodification of Teaching and Learning in Higher Education." Management in Education, 19(3), 5-8.

- Os autores exploram como o conhecimento está sendo comercializado globalmente e o impacto dessa mercantilização na prática educativa.

3. Lynch, K. (2006). "Neo-liberalism and Marketisation: The Implications for Higher Education." European Educational Research Journal, 5(1), 1-17.

- Este artigo examina as implicações da neoliberalização e da mercantilização para a educação superior, incluindo a mudança do aluno para a posição de cliente.

4. Brown, R., & Carasso, H. (2013). "Everything for Sale? The Marketisation of UK Higher Education." Society for Research into Higher Education & Open University Press.

- Uma análise aprofundada de como a educação superior no Reino Unido está sendo transformada por políticas de mercado, com foco na relação entre instituições e estudantes.

5. Williams, J. (2013). "Consuming Higher Education: Why Learning Can't Be Bought." Bloomsbury Academic.

- Embora seja um livro, este trabalho é amplamente citado e discutido em artigos acadêmicos. Williams argumenta contra a visão do estudante como consumidor e as implicações dessa mudança para a educação.

6. Frigotto, G. (2005). "Educação e a crise do capital: A escola pública e a mercantilização da educação." Educação & Sociedade, 26(92), 1377-1399.

- Este artigo discute a relação entre a crise do capital e a mercantilização da educação, abordando como as políticas neoliberais impactam a escola pública e transformam a educação em mercadoria.

7. Dias Sobrinho, J. (2010). "Avaliação, globalização e políticas de mercantilização: Modos de ser e agir nas universidades." Revista Brasileira de Educação, 15(45), 74-90.

- O autor analisa como a avaliação educacional, influenciada pela globalização e políticas neoliberais, contribui para a mercantilização das universidades e a transformação da relação entre instituições e alunos.

8. Gentili, P. (2003). "A mercantilização das políticas educativas: O laboratório chileno." Cadernos CEDES, 23(61), 39-57.

- Este artigo explora o processo de mercantilização das políticas educativas no Chile, destacando como a educação se transforma em um serviço regulado pelas leis do mercado e a consequente mudança na percepção dos alunos como consumidores.

Por Felipe Filgueiras Facklam

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