Tumgik
pelosdedos-blog · 6 years
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Helô, 2017 foi o ano em que me vi cercada de grávidas. Seu pai me acalmou e disse que isso não passava de coincidência por estar inserida nesse ecossistema de mulheres penhas. Quem sabe? Mas o que me desassossegada agora é que a maioria delas, até mesmo aquelas que se descobriram grávidas junto a mim, já estão com seus pequenos e pequenas nos braços enquanto eu sigo acompanhando previsões de parto, às transformações do corpo e mudanças da lua na espera de você surgir para o mundo como já desponta dentro de mim.
Tenho tido o sono agitado nessa reta final. Também, não era para menos, você mexe vigorosamente o seu corpinho de 50 cm e 3.200 kg dentro da minha barriga justamente quando eu resolvo repousar. Deitada de barriga para cima, me falta o ar. Sobre o lado esquerdo, meu pulso com Túnel do Carpo começa a reclamar. E se me viro para o direito, você começa a chutar como se soubesse todos os golpes do Karatê Kid. Esse é o sinal de que devo me levantar e ir à sala - ou talvez andar pelo seu quarto - para ver se o tempo passa mais depressa para nós, afinal, cada dia a mais é um dia a menos para o encontro acontecer.
E por falar em encontro, como será o nosso? De dia ou pela noite? Será pontual mostrando que você puxou essa característica do papai ou vai nascer de 42 semanas fazendo jus ao sangue procrastinador da mamãe? Nessa de puxar o pai ou a mãe, me questiono: será que vai nascer com 54 cm como eu nasci? Vai puxar os longos e volumosos cílios do Edgar? Terá cabelinho claro ou escuro? Olhos verdes ou castanhos? Enfim.
Entre tantas outras especulações, inverto a questão e penso no que você irá descobrir de nós quando aqui chegar. Bom, devo te adiantar a nossa família já é um trinômio antes da sua chegada. É que a gente tem uma gatinha - não como você - mas uma de 4 patas, pelos pretos e olhões verdes. Acho que você já sentiu a presença dela algumas vezes te apertando aí enquanto ela amassa uns pãezinhos na mamãe. Também preciso adiantar que a gente não faz a linha dos pais mais organizados. Você vai ver. É que muitas vezes a gente prefere ficar mais 10 minutinhos enrolando nas cobertas ao invés de arrumar a cama. Acredite, isso faz um bem danado ao coração.
Definitivamente, enrolar é o sobrenome da mamãe. Eu me esforço, mas para uma atrasada costumaz há 1/4 de século, uma mudança radical nesse comportamento padrão já se torna algo além das expectativas. Por outro lado, seu pai é um ponteiro de relógio em pessoa. Marque com ele às 15h e ele nos fará sair de casa às 14h. Isso dá um problemão aqui em casa, porque se ele adianta e eu atraso, eu tenho que adiantar mais, mas o mais nunca é o suficiente e a mamãe sempre sai com os sapatos desabotoados e só um olho maquiado.
Para a nossa sorte, o papai não fica nervoso com os nossos atrasos. Digo nosso, porque, mesmo que eu não acredite tanto assim, fiz seu mapa astral e nele diz que como toda boa pisciana, você terá o seu próprio ritmo e tendo aversão a coisas como listas de compras, mapas, anotações e, principalmente, relógios.
E por falar em signos, seu pai é o ariano mais satanáires que eu conheço. Adora uma briguinha, principalmente com furões de fila de mercado e atendentes de telemarketing. Mas, sabe, telemarketing é uma coisa do nosso universo que você não precisa conhecer. Não agora.
Por enquanto tiro a renda da naftalina, forro cama, cubro mesa e faço uma cortina. Varro a casa com vassoura fina, armo a rede na varanda enfeitada com bonina. Sigo soltando foguete imaginando que você já vinha.
Vem.
IMAGEM: Egon Schiele - Liegendes schlafendes Mädchen, 1910
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pelosdedos-blog · 6 years
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GRAVIDEZ NÃO É DOENÇA. NÃO É MESMO, MAS PARECE.
Do alto dos meus 7 meses e meio de gravidez, essa última semana talvez tenha sido a pior desses 204 dias gravídicos. Foram 5 dias seguidos de cólicas renais excruciantes de uma insignificante pedra de oxalato que resolveu dar uma voltinha pelo meu rim esquerdo derrubando esse corpo de 1,72m. Foi punk. Entre uma dose de Tramal que já não cumpria o seu papel para analgesia e meio litro de soro com Buscopan Composto, me saltou aos olhos num grupo de mães que participo - sim, já chegamos na fase dos grupos - uma reportagem cujo título era 'Eu sou a prova de que gravidez não é doença', diz Ivete Sangalo. Definitivamente a gravidez não é doença, mas é uma baita transformação física e psicológica que, por vezes, vem acompanhada de patologias que antes não existiam. Eu ri da declaração da Ivete, mas foi de indignação. 
Cada indivíduo é diferente em inúmeros aspectos e isso se estende às gestações. Na minha, por exemplo, tenho sofrido com vários transtornos de saúde. Enjoos, infecções urinárias resistentes, gripe, edema nos tornozelos, síndrome do Túnel do Carpo no pulso esquerdo, cálculo renal, coceiras mil e hipertensão. Aliás, essa última me fez sofrer um bocado na mão de quem tem o disparate "gravidez não é doença" na ponta da língua. 
"Mas de novo no hospital só por conta da pressão?", "Vai ficar internada só por isso?", "Minha prima é nova e tem problema de pressão, mas diz que não a atrapalha em nada". Para quem tem a boca recheada desses desaforos, ouvir que eu me sentia mal ao estar com a pressão em 21x11 e um possível diagnóstico de pré-eclâmpsia, foi um verdadeiro ultraje. Afinal, como me disseram, "pressão alta é algo comum nessa vida cosmopolita". Para nós, falsas enfermas prenhes, nos resta estampar aquele sorrisinho amarelo tão usado na gravidez e empregar um sussurrado "isso vai passar e eu vou ficar bem" e ignorar que 75% dos óbitos por hipertensão arterial na gravidez têm como causa a eclâmpsia.
Bom, retomando à infeliz frase da Ivete, o problema se intensifica quando uma pessoa pública, que goza livremente dos privilégios que o contexto familiar, social e econômico - além, é claro, dos quadros médico e emocional que influenciam diretamente no processo - permite, faz um comentário desses. É munição na mão de gente desinformada ou que age descaradamente na cretinice. Boas experiências em qualquer situação que seja não serve como parâmetro para todas as outras e usar a sua régua como medida para outrem é empatia seletiva.  Eu fico radiante em saber que a Ivete está tendo uma gravidez tranquila e saudável. Gostaria que todas as grávidas, das mais diversas realidades, também tivessem uma bela gestação, mas querer não é poder. Então, a única coisa que me sobra é um bem querer fraterno às tantas Alines, Marias, Tânias e Paulas que amanhã irão acordar cedo, dar banho nas crias, deixá-las na escola, enfrentar em pé 3 ônibus lotados, chegar ao trabalho com enjoos ou dor no ciático e ouvir "Ê, fulana, passando mal de novo? Gravidez não é doença, mulher".
No próximo relato iremos conhecer um outro tipo de imbecil que tem aos montes por aí: os que pensam que mulher engravida de propósito para dar "golpe". 
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