Tumgik
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Era primavera, interior do estado do Acre, tempos onde os pássaros cantam alegremente, onde os sabiás gorjeiam aqui bem mais encantadoramente do que lá, onde as rosas são vermelhas e as violetas são azuis, onde as mulheres cuidam da casa e o os homens vão à caça. Ano de 1912, século XIX, palco das duas grandes guerras mundiais e ano do nascimento de Printinéia de Féliquis, uma jovem camponesa, esbelta, loira dos olhos verdes, filha de Sofia e Vitorino de Féliquis, um casal de camponeses humildes e muito trabalhadores, religiosos e deveras unidos. Desde pequenina Printinéia sempre foi ensinada a realizar trabalhos em casa como limpar a casa, lavar a louça, realizar a colheita na plantação entre outros serviços a exemplo de sua mãe, tal qual era uma moça exemplar, de família, e extremamente fiel a seu marido, chegando a ultrapassar até mesmo a lealdade de um cão amigo, mulher que nos tempos de hoje representa o perfil utópico de grande parte dos homens. Aos domingos, depois de uma longa semana de trabalhos pesados, a família Féliquis costumava ir à igreja da cidade onde celebravam a missa e depois se reunião no próprio salão da igreja para o almoço comunitário. Anos se passaram na mesma rotina de trabalho e idas á cidade, até que em um desses almoços rotineiros na igreja, Printinéia acaba se cruzando com um rapaz alto, robusto, moreno e burguês de nome Godoyan (origem Americana), seu corpo sadio fazia sombra mediante o sol radiante no céu, Printinéia o observava com anseio enquanto nuvens de amor passavam por cima de vossas cabeças. Foi nesse ato, tão simples, que começamos nossa história. O olhar foi intenso, daqueles em que se enxerga a alma e todo o interior da pessoa, ambos os jovens sentiram um calor latente naquele instante; mediante a tamanhas sensações, Godoyan fixou seu olhar em Printinéia, se apresentou todo cortês, elegante, fazendo com que ela se encantasse ainda mais e respondesse suspirando em seu interior. Parecia até que ambos possuíam uma relação de outras vidas, se assemelhando a carne e unha, mamãe e papai, almas gêmeas, mesmo ritmo nas batidas do coração, pareciam duas forças que se atraem, um sonho lindo para quem vê e para quem o vive. Foi mais do que o suficiente para se aproximarem e ficarem flertando em todo domingo... toda segunda... se estendendo depois de um tempo para todos os dias de semana, onde eles se encontravam as escondidas em um vale encostado na casa de Printinéia, onde tinha uma linda amoreira e onde eles trocavam beijos, abraços e lindas declarações de amor que só aumentavam mais seus sentimentos. Godoyan pertencia a uma das famílias mais tradicionais da região, os Fareias. Eram imigrantes do Oeste dos Estados Unidos, e muitos diziam que possuíam relações com a máfia local. O Sr. Fareias era proprietário da maioria das terras da cidade, incluído as terras onde trabalhavam os pais de Printinéia que não gostavam muito de seu patrão (que era também o Sr. Fareias) pois eram pouco remunerados e trabalhavam sob condições bastante precárias e desumanas nas plantações. Ambas as partes já haviam discutido por esse motivo e o Sr. Fareias acabou relevando a situação a pedido do Padre Paulinus (que era um grande amigo da família Féliquis, além de apaixonado por Sofia Féliquis, esposa do Sr. Féliquis) pediu a ele que deixasse de lado; mas Fareias prometeu que em nova ocorrência iria colocar fogo na casa da família. O tempo passava, Printinéia e Godoyan continuavam se encontrando e cada vez mais o amor que uma sentia pelo outro ia aumentando e se consolidando. Com a relação bem firmada, o casal resolveu que deveriam marcar um almoço entre suas famílias a fim de obterem a permissão para se casarem e então realizarem o sonho de ter filhos (que só era permitido depois do casamento como regiam suas tradições e religiões). Dessa forma foi feita, domingo seria o encontro das famílias na igreja mesmo, como de costume. Dia 22/10 de 1972, um domingo ensolarado, terras secas por natureza, pássaros cantando suas lindas melodias, o vento por ali pouco pairava. Printinéia acordou cedo, ansiosa se arrumou com seu melhor vestido e fez o melhor penteado dentro do possível; sua mãe fez o mesmo e seu pai, para manter a dignidade da família encomendou do alfaiate um terno sob medida, pago com as economias que tinha guardado durante dois anos inteiros. Por parte da família de Godoyan era somente o mesmo que estava entusiasmando com a situação, seus pais não estavam ligando muito, estavam indo apenas para manter reputação e conhecer a família de sua possível nora. Ao contrário do que temos nos tempos de hoje, era de costume na época que a "noiva" chegasse antes do "noivo", e assim foi feito. Printinéia chegou com sua família ao meio dia, sentaram em uma mesa com seis lugares onde ficaram aguardando ansiosamente, Sr. Féliquis observava atenciosamente os ornamentos feitos por um artesão de respeito, com detalhes em ouro e prata; o tempo foi passando lentamente para a jovem, 12:10...12:15...12:20 e pareciam ter passado vinte anos, até que chega Godoyan com sua família para a alegria da linda moça que não deixou transparecer tamanha alegria para impressionar os pais do rapaz e por um breve momento sorriu angelicalmente, pais esses, que entraram no salão e ficaram procurando uma mesa com um casal nobre com sua filha, passaram os olhos pelo salão, encararam o casal Féliquis que retribuíram com olhar frio e farpas. Nesse instante Godoyan falou a seus pais que o seguissem e assim fizeram. Assim que estavam se aproximando da mesa onde estavam Printinéia e sua família, o rapaz parou, e como de costume não gesticulava muito, porém seu olhar na direção da jovem transmitia tudo o que sua falta de ações queriam dizer. Falando que ela era sua futura esposa. No mesmo instante o casou parou, o sangue que corria nas veias do Sr. Fareias ferveu e subiu para todo corpo; ele ia brigar com seu filho, mas parou, pensou, refletiu, e puxou pelo braço sua esposa se retirando do salão sem dar ao menos uma palavra, estava indo para casa, deixando Godoyan para trás junto com Printinéia sem entenderem nada, e os pais dela que na mesma hora reconheceram seu patrão e tiveram o mesmo sentimento de fúria e repulsa, porém não reagiram no ato. Como amavam muito sua filha, tinham a como bem mais precioso, continuaram no local; porém muito furioso, o senhor de Féliquis ordenou ao rapaz que se retirasse do local e nunca mais procurasse sua filha. Sem entenderem nada o casal questionou a ordem, mas na mesma hora o homem ameaçou Godoyan de morte caso não o obedecesse. Assim foi feito, o jovem de retirou com muita dor no coração, porém sem nada entender; a mesma confusão transitava os pensamentos de Printinéia que chorando sentou à mesa junto com seus pais; estes à explicaram toda a situação e ordenaram que ela nunca mais se encontrasse com o rapaz. A linda jovem disse à seus pais que cumpriria a ordem, porém em seu interior tinha a convicção de que não o faria e tudo que tivesse que ser feito para ficar ao lado de Godoyam ela realizaria, pois seus sentimentos por ele já não podiam ser descritos com quaisquer palavras, e então os três retornaram para casa. Três dias se passaram do ocorrido e Printinéia sem mais saber o que fazer foi ao vale onde costumava se encontrar com Godoyam e para imensa alegria de ambos, o encontrou lá embaixo da amoreira, cabisbaixo e com semblante triste; ela se aproximou do rapaz, que instantaneamente abriu um sorriso contagiante, sua sobrancelha se ergueu, e lascou um beijo em seus lábios carnudos e molhados. Era final de tarde, os pais da jovem estavam voltando da colheita, quando chegaram próximo a sua casa e desabaram em desespero. Só viram as cinzas da mesma, móveis, alimentos, tudo o que possuíam havia virado cinza; era como ver tudo que foi construído em uma vida inteira desabar do dia para noite, mudar da água para o vinho. Foram necessários cinco minutos para que as ideias fluíssem de maneira organizada e acabassem se encaixando dentro da cabeça do senhor Féliquis, uma lágrima escorreu de seu olho até seu queixo; ele lembrou da ameaça feita por Fareias após a discussão que haviam tido no passado e não pensou duas vezes, pegou uma foice que por ali estava (uma das únicas coisas que não havia virado cinzas) e foi a caça dos Fareias. Ia caminhando o senhor Féliquis depressa, eufórico e furioso, sem pensar em nada a não ser matar o casal Fareia; em meio ao seu trajeto encontrou um jovem rapaz assobiando alegremente e seguindo a mesma direção e logo veio a sua cabeça a imagem de Godoyan. Diante de tamanha fúria a imagem do jovem rapaz em sua cabeça fez com que esse apressasse o passo e chegasse ao lado do rapaz que caminhava alegremente, era Godoyan. O simpático jovem olhou com um tom doce e inocente como se nada tivesse acontecido, porém o senhor Féliquis tomado pela raiva não quis nem saber, levantou a foice acima altura da cabeça do pobre rapaz, que mudou instantaneamente de sua expressão feliz para uma de arrependimento, sua face se contraiu, seus olhos se encontraram com o de Sr. Féliquis, E Godoyan viu a fúria e personificação de satanás naquele olhar, percebendo a situação, aceitou que era o fim e com um sorriso no rosto foi decapitado em um único golpe que o cortou ao meio. A cena do jovem divido em dois caído no chão todo ensanguentado chocou levemente o furioso homem que acabou voltando ao local onde outrora ficava sua casa. O caminho possibilitou que o mesmo conseguisse refletir um pouco; o mesmo levava consigo um pedado da camisa de Godoyan que ficara presa na ponta da foice no momento do homicídio; com a cabeça já mais fria, a fúria já não o atingia tanto e então a imagem que a pouco havia o impressionado começou a assombrá-lo e transformar-se em um pesadelo vivo. Sr. Féliquis sempre foi um homem de bem, trabalhador, religioso e gentil com todos; nunca havia se transtornado ao ponto que chegou naquele dia. Chegando em casa ele já estava muito arrependido e com uma dor no peito, havia pensado bem e enxergou a doçura do pobre rapaz, o tom simpático com que este o cumprimentou antes de morrer, de mesma forma no almoço de apresentação entre as famílias; tamanho era o remorso que o homem encostou em uma árvore a mais ou menos trezentos metros de sua casa e começou a pensar como contaria o que havia feito para sua família, porém não encontrara respostas. Por uma hora o arrependido Sr. Feliquis refletiu, imaginou como Printinéia ficaria triste com a morte de Godoyan e como ficaria decepcionada em saber que foi seu pai o assassino; ele não queria ver sua filha sofrer e muito menos ser o causador de tal fato, porém ele sabia que a decisão foi tomada, e não achou outra saída. Lentamente, com semblante triste, pensativo, ele pegou sua foice e a encarou por um breve tempo, ele podia se lembrar das expressões de Godoyan e isso o tocou profundamente, até que, com um movimento rápido e preciso cravou a ponta da lâmina em seu peito e caiu no chão deixam uma poça de sangue a sua volta. Era final de tarde, o sol estava se pondo e o calor baixando, os pássaros já estavam migrando, um vento forte soprava no horizonte; Printinéia voltava para casa após um tempo sentada em baixo da amoreira no vale em que a pouco tempo havia se encontrado com Godoyan e onde suspirava de felicidade após se “reconciliar” com seu grande amor. Quase chegando em sua casa Printinéia avista um corpo estirado no chão, aflita ela se aproxima e quando chega perto suas pernas estremecem, uma expressão de medo surge em seu rosto, não podia acreditar no que estava diante dela, cai de joelhos no chão e se derrama em lágrimas. Era o corpo de seu pai e ao seu lado um pedaço da camiseta que Godoyan estava usando naquele mesmo dia; ela então reconheceu o pequeno pedaço de tecido, o apanhou e observou. Foi demais para a pobre jovem; em sua cabeça ela havia desobedecido as ordens de seus pais para viver com o rapaz que mais tarde acabaria com a vida de seu pai; ela então pegou a foice que estava ali ao lado do corpo estirado no chão, e como não tinha muita prática, fincou a foice em seu abdômen. Ficou ali então gravemente ferida, sangrando de forma contínua, porém com uma perfuração não tão profunda e incapaz de causar a morte instantânea, porém que a pequeno prazo e com muita dor e sofrimento levaria ao inevitável fim da jovem e bela moça. Cansada de chorar e já preocupada com o marido, a senhora Féliquis se levantou lentamente e sem ânimo algum começou a caminhar na mesma direção que a algumas horas antes seu marido havia partido furioso. Andou alguns quilômetros até se chocar com a cena de um corpo estirado no chão rodeado de sangue, era Godoyan partido ao meio. A cena era muito forte, ainda mais para uma mulher sensível e doce como aquela mulher; chocada como que via, somado a tristeza da perda de sua casa a pobre mulher se ajoelhou e abaixou a cabeça. Com a certeza de que seu marido foi o responsável pela morte do jovem ela começou a pensar na desgraça que este enfrentaria pelo resto da sua vida, e mais ainda passou a imaginar a tristeza e desgosto de Printinéia após receber a notícia. Foi a gota d’água para o pobre mulher; já sem força e ânimo para fazer mais nada ela desabou ali mesmo, onde ficou até o dia de sua morte, decretando o fim da linda e unida família Féliquis. Mais tarde, quando o sol se pôs, apenas uma brilhante lua avermelhada reinava sobre o céu, enquanto todo o resto era iluminado pela mesma, haviam poucas nuvens, porém, densas capazes de cobrir boa parte dos raios de luz. Padre Paulinus passava pela estrada quando se deparou com a cena, acendeu uma vela, e quando percebeu do que se tratava, ficou chocado, primeiro, viu Godoyan estirado, partido ao meio, e depois, viu o grande amor de sua vida, Sra. Féliquis, caída ali, seus olhos se encheram de lágrimas, a luz da lua refletia na pele reluzente da Sra, seus lábios estavam tão avermelhados que parecia viva, porém, após checar sua pulsação, descobrira que a mesma estava em óbito, como mágica, as nuvens que ali tapavam a luz se dissiparam, o corpo de Sra. Féliquis brilhava como nunca, isso encantou o padre, de tal forma que diante da situação, resolveu ter uma relação sexual com o cadáver, ali mesmo, no chão, sem ninguém por perto, apenas com os ventos uivantes e as estrelas no céu, rezou um terço, um pai nosso e duas ave marias, e então praticou o ato que mais tarde assombrou o padre e o fez sentir repugnância de si mesmo até o fim de sua vida.
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