poohmatch
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you're, you're.
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onde tudo começa e termina; as palavras aqui são lançadas e não esquecidas.
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poohmatch · 7 months ago
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Quebrar ciclos era necessário, porém o tirava de órbita. As palavras antes proferidas eram acompanhadas pelo ato que por tanto tempo pensou e desejou, entregando-se nervoso porém contínuo aos lábios de Courtney. Apesar de inundado de alívio por ser correspondido e inclusive incentivado pela mão feminina, a mente e o coração cumpriam em bradar perguntas desconexas sobre o que estava fazendo, se Courtney gostaria ou se o veria apenas como um oportunista.
Pela primeira vez, contudo, ele decidiu anular a autocrítica como o círculo rasgado ao meio. Se era oportunista, o nervosismo poderia reduzir a sua pena condenatória. Aos poucos relaxou o corpo a despeito do coração batendo estupidamente, aprofundando o toque de forma devagar, quente. Estava longe de ser um homem experiente nesse tipo de intimidade, mas tinha os sentimentos a todo vapor para compensar; gradualmente entreabria a boca, ávido por envolver as línguas.
Entre o desejo que crescia e o zelo que ele nunca deixava de lado, Donovan procurava a envolver com cuidado, a cada segundo querendo mais daquele segredo. A grande ironia de tudo aquilo era que, apesar de nitidamente introspectivo e reservado, Eric tinha um universo interno e particular que ele próprio mal conhecia. E justo quando parecia prestes a mergulhar mais fundo nele…
Um som cortou o silêncio etéreo. Pip se remexeu na gaiola, produzindo um chiado ligeiro, mas audível o bastante para trazer o tutor de volta à realidade. Eric ofegou alto ao descolar as bocas, de repente perdido nos olhos de Courtney. Com o coração disparado, as costas se afastaram. "Eu… Hum." Começou, passando a mão pelo cabelo enquanto desviava o olhar, tentando se recompor. Os lábios de Courtney corriam vívidos na memória, numa lembrança tão aprazível e presente que ele instintivamente mordiscou os lábios. Deu uma última olhada à Bernstein, contendo um pequeno sorriso de quem queria continuar. "Eu já volto." Murmurou de abrupto, sentindo-se ridículo no instante em que disse isso. Enfim, terminou por levantar-se depressa e ir até a gaiola de Pip.
Parado em frente ao rato, Eric soltou um suspiro exasperado e abriu a porta minúscula da gaiola, permitindo que Pip se aninhasse em suas mãos em concha. "Sério, Pip? Tinha que ser agora?" Sussurrou em advertência, balançando a cabeça em reprovação. Pip tinha o hábito de chiar insistentemente, e, se Donovan não o pegasse, ele provavelmente não pararia tão cedo. E, por tabela, acordaria os seus pais.
"Se você desenhar algo legal para mim, posso considerar... Mas nada de plantas ou raízes, tem que manter o padrão e combinar com os outros rabiscos." Respondeu, dando levemente de ombros, voltando agora a observar o próprio braço repleto de desenhos. Ainda havia espaço a ser preenchido, então, quem sabe?
O silêncio que se fez após Court completar seus pensamentos não a incomodou ou a deixou desconfortável. Talvez pudesse não fazer sentido para o farmacêutico, ou talvez ele pudesse estar apenas processando o raciocínio da loira... De qualquer forma, ela aguardou até que ele voltasse a se manifestar, ainda com as orbes claras o observando.
As primeiras palavras que saíram da boca alheia a fizeram franzir levemente o cenho, ao mesmo tempo em que um sorriso ladino surgiu de modo sorrateiro. Se sentia um pouco estranha com Eric a olhando daquela forma, como se ela tivesse feito ou dito algo extraordinário. Ainda assim, ela não recuou ao sentir a mão alheia tocando seu rosto. Na verdade, se surpreendeu um pouco pela atitude, considerando que aquela iniciativa estava vindo dele - que até minutos atrás mais parecia um garotinho assustado.
Seus olhos se mantiveram fixos nos dele enquanto o rapaz encurtava a distância entre seus rostos. A Bernstein considerou interromper a ação com algum assunto ou simplesmente virar o rosto, mas não havia nenhum motivo relevante o suficiente que a levasse a recusar aquele beijo. Afinal de contas, era apenas um beijo.
Em um ato automático ela umedeceu os lábios ao senti-lo cada vez mais próximo, e seu olhar desceu para os lábios alheios até o momento em que estes se encontraram com os seus. Seus olhos então se fecharam e a destra seguiu até a lateral do rosto masculino, incentivando Eric a continuar e mostrando-se recíproca à sua ação. Sua cabeça se inclinou um pouco para facilitar o contato, enquanto seus lábios se moviam lentamente contra os do rapaz. Dava para sentir no calor que vinha do corpo alheio que ele estava um tanto quanto nervoso; mas, por mais que achasse aquilo um pouco engraçado, a garota optou por se conter e não demonstrar que havia percebido.
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poohmatch · 8 months ago
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Às vezes, Ashley ainda se pegava pensando naquela noite. Sua mente sonhava com os lábios de Claire e o cheiro do mar, tudo para no fim acordar de abrupto e sem fôlego – e não era a primeira vez que passava por isso. Seria um desejo que, como tantos outros, iria reprimir até empurrar para os cantos mais ocultos da mente, sem buscar as origens ou os porquês. E assim seguiu, como se nada tivesse acontecido, enquanto a vida transcorria no seu curso "natural". Os O'Neal reagiram com um entusiasmo quase sufocante à notícia do casamento, rapidamente assumindo as rédeas das suas escolhas. Troy também tinha suas próprias ideias de como tudo deveria ser, abandonando Ashley como uma espectadora silenciosa do próprio casamento.
Mas podia piorar. O que fugia ao seu entendimento era o fato de Troy ter contratado uma empresa para cuidar de todos os preparativos, desde os estupidamente pequenos até os mais importantes. Ao ser levada à agência, alarmou-se com a impessoalidade do atendimento, visto que a tratavam como mais um item em uma lista de compras. No momento em que começaram a apresentar sugestões para os detalhes, inclusive seu vestido, seu queixo caiu. No tablet, exibiram a imagem de um vestido cuja imagem parecia a de um pavão. Foi a primeira vez que Ash se opôs abertamente, horrorizada em como a cerimônia se assemelhava a tudo, menos ela.
Exaurida com todo o presente, Ashley decidiu que, pelo menos uma vez, tomaria uma decisão sozinha. Ela escolheria o vestido. No dia de prová-lo, chamou apenas Claire para acompanhá-la; as outras madrinhas, namoradas dos colegas de Troy, eram praticamente estranhas para ela – não duvidaria se fossem obra da empresa –, e convidá-las quebraria sua privacidade. Nem mesmo sua mãe foi comunicada a respeito, ciente de que a mulher faria do provador seu inferno particular. Mais tarde, certamente haveria uma reação explosiva por parte da sra. O'Neal, com todas as expectativas e tradições; porém, por ora, não importava. Isso era um problema para depois.
Ao ser conduzida para as opções de vestidos, havia um nervosismo sutil no sorriso de Ashley e uma hesitação em cada olhar que lançava aos tecidos. Apesar disso, como sempre, os comentários de Claire suavizaram o momento, arrancando uma risada da loira. "É, faz sentido... Não posso dizer que estou ansiosa por esse, mas vamos lá!" Disse bem-humorada ao seguir o caminho, guiada pela vendedora. A funcionária insistia em ajudá-la a vestir a peça, porém Ashley, ao menos por um dia dona de si, manteve-se firme em sua decisão de se trocar sozinha. Péssima ideia. Ao puxar o vestido com cuidado, ajustando-o em seus ombros, sentiu o zíper lateral deslizar até certo ponto, travando de súbito. Tentou forçar um pouco, apenas para descobrir que ele se recusava tanto a subir, quanto a descer. Uma onda de frustração a invadiu, e, ao se olhar no espelho, percebeu que seu decote estava exposto demais. E continuaria assim, se não desse um jeito logo. "Clai?" Chamou com a voz baixa e relutante. "Você pode me ajudar aqui? Acho que o zíper travou..."
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⭒˚‧ ︵‿⭒ closed starter for @poohmatch "even if it kills me to see you in that wedding dress"
Claire sentia que havia superado. Tudo o que precisava era alguns dias para processar que Ashley iria casar e tudo ficaria bem. Ignorou completamente o fato que nunca fora um problema empurrar tão fundo seus sentimentos que por vezes até esquecia deles, Claire era muito boa nisso afinal, tinha feito para diversos assuntos durante sua vida toda, inclusive quando o assunto em específico era Ashley. Os dias para superar foram, na verdade, dias para poder voltar a esconder o que sentia.
Aceitou então prontamente quando recebeu o convite para no mesmo dia ajudar a escolher um vestido de casamento. Achava até que teria mais funções como madrinha, como ajudar a escolher as flores da decoração ou os tecidos dos guardanapos, mas como não foi o caso e parecia que nem Ashley precisava escolher isso, iria aproveitar no que podia ajudar. Chegou então animada no local, considerava que o dia do vestido devia ser o mais legal na organização do casamento, além de ser uma atividade esperada de se passar um dia com as amigas, principalmente sendo madrinha dela. Olharam vários vestidos com a vendedora, escolhendo algumas opções conforme o gosto de Ashley para começar a experimentar. Foram então para a sala privativa do provador, Claire começou a olhar cada uma das opções, analisando elas melhor até pegar um vestido e entregar para a amiga. "Experimenta esse primeiro." Falou com um sorriso e foi se sentar no sofá para esperar. "Ele é que eu menos gostei e quero que você experimente rápido pra eu poder falar pra ir pro próximo logo." Admitiu com humor, segurando um riso no final da frase.
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poohmatch · 9 months ago
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As palavras de Claire pegaram Ashley desprevenida. Ela sorriu, mas seus olhos diziam mais: mostravam o quanto aquilo a tocava. No meio de tantas reações brutas e explosivas, a amiga lhe oferecia paz, consolo e carinho. Temia não conseguir retribuir à altura; Ash era uma bagunça ambulante, sempre fora. Mas, aos olhos de Claire, ela era alguém digna de amor, de orgulho. E, naquele momento, isso era suficiente. "Eu não sei se algum dia vou conseguir." Admitiu. "Mas o jeito como você me vê já é o suficiente para me fazer querer tentar. Obrigada, Claire. Por tudo." Pronunciou do fundo do coração.
A aproximação a deixava fora de órbita, como se estivesse a um passo de cruzar limites que jamais imaginara. Os lábios de Claire. Por quê? Essa dúvida rondaria sua cabeça por dias, semanas. Talvez para sempre. E então, veio a interrupção. O telefone. E Troy, como sempre, atrapalhando o que era apenas delas. Apesar de tudo, Claire a confortou, tratando a situação com calmaria. Foi nesse momento que Ashley percebeu, de novo, como amava sua amiga. Howey nunca a julgava, não importava o caos ao redor. Era, sem dúvida, a melhor amiga que poderia ter.
"Não tem o que agradecer! Ter você ao meu lado é o que me faz feliz." Guardou o celular novamente no bolso e segurou as mãos dela nas suas, de modo a enfatizar as palavras. "Eu... amei hoje." Confessou, sentindo as bochechas esquentarem ao fazer isso. No entanto, não tardou a se recobrar dos compromissos e assentir, o que contaminou sua expressão por um momento. Havia de lidar com a realidade; Troy estava bravo, e a noite nunca acabava bem quando estava assim. "Okay, vou pegar as minhas coisas. Até mais, Clai. Se cuida!" Despediu-se sem realmente querer o fazer, recuando alguns passos enquanto as mãos se estendiam no ar, os dedos aos poucos se desprendendo um do outro. Quando livre do toque, caminhou de costas por alguns instantes, mas acabou tropeçando de forma engraçada. "Eu estou bem!" Antecipou, soltando uma risada. Até que desviou o olhar e se virou.
Ao mirar o anel de noivado no dedo, algo lhe sussurrava que nunca mais conseguiria voltar àquele momento. Era, de fato, um adeus.
Sorriu quando ela falou que também sentia orgulho, mas sua expressão logo mudou, apertou os lábios enquanto ela falava. "Eu queria tanto que você pudesse se ver da mesma forma que eu te vejo." Falava baixo, em um pesar por ela não conseguir ver como ela era incrível, sabia que muitas vezes ela mesmo acabava se colocando para baixo, principalmente porque as pessoas faziam isso com ela, como a própria mãe dela, e isso doía em Claire, não poder fazer nada enquanto via tudo acontecendo. Ela seria a pessoa com o maior amor-próprio do mundo se enxergasse como ela era, afinal não tinha como não amar alguém como Ashley.
Porém, logo se distraiu com a aproximação dela, conseguia observar os mínimos detalhes do rosto dela, e Howey facilmente poderia se perder nisso por muito tempo, mas tentou manter seu foco na fala dela, continuou olhando com certa preocupação por ver que ela mesma parecia preocupada. Se manteve em silêncio para dar o espaço dela terminar o que queria falar, mas acompanhou o olhar dela descendo, e seu corpo automaticamente ficou tenso, por um segundo esqueceu sobre o que ela falava, enquanto descia o próprio olhar para a boca dela também. Percebeu que segurava a respiração agora, como se a qualquer passo em falso de seu corpo, poderia fazer sem pensar algo que não devia.
O toque do celular, no entanto, fez com que Claire levasse um sobressalto, deu um passo para trás na mesma hora, ficou com um amargor na boca, como se tivessem sido pegas no flagra em um momento que não deveria. Assentiu com a cabeça quando ela disse quem era, e assim que O'Neal atendeu, conseguiu ouvir o tom de voz dele saindo pelo celular, mesmo que não desse para ouvir a fala, decidiu dar mais uns passos para trás, dando espaço para ela. Ainda segurava a garrafa de vinho, então achou o momento certo para dar longos goles dele. O sabor não parecia estar tão bom quanto antes. Sorriu quando ela falou após terminar a ligação. "Claro, vai lá." Falou de forma suave, percebendo a forma que a amiga tinha falado, não queria que ela se sentisse mal por ter que ir. "Obrigada por vir contar, me convidar pra ser madrinha e... Por esse momento." Completou, olhando para o mar por uns segundos. "Se precisar de mim, eu to aqui, podemos conversar depois com tempo se for necessário." Dessa vez se referia ao que ela tinha começado a dizer antes. Sorriu largo novamente e fez um sinal para ela sair. "Agora vai lá, vou ficar aqui mais um pouco. Teu noivo ta te esperando!"
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poohmatch · 9 months ago
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Conversar com pessoas sempre foi exaustivo para Eric. Tão certo quando dois mais dois é quatro, estava habituado a ser procurado por interesses escusos, por ser útil pelos morfináceos ou para ser humilhado. Nunca saía dessa matemática. Ali, porém, ele se permitia quebrar a tal lógica. Talvez pudesse enfim se abrir, mesmo que tivesse que ser ele mesmo. Ainda que, no fim, fosse apenas uma peça de uso e descarte. "Isso é verdade. Eu sou a prova viva de que você não pede permissão." Acabou rindo soprado, enquanto observava a tatuagem alheia. Internamente, imaginava a cena de Courtney pedindo para invadir o estabelecimento dos seus pais; motivo, aliás, do seu riso.
Fosse proposital ou não, as palavras da garota serviram de conselho. Ele não se esqueceria disso tão cedo. Se parasse para pensar, de fato tinha muito a aprender com ela; com seu jeito firme, autoconfiante... Livre. Donovan também queria ser livre, como queria. "Então, você é a minha primeira cliente?" Brincou, deixando um sorriso de canto crescer. Talvez estivesse pegando o jeito das brincadeiras de Courtney; ou, pelo menos, tentando. A verdade é que a ideia de vender seus desenhos nunca havia cruzado sua mente. No entanto, Eric sabia que tinha muito a oferecer, mesmo que ninguém tivesse acreditado nele antes. Na verdade, o rapaz sempre foi desencorajado, podado em cada tentativa. Até agora.
Por sorte, não precisou reviver a história horrenda da queimadura, não naquela madrugada. Eric fez ser diferente. Ouviu-a atentamente, embora sua atenção estivesse dividida entre a figura de Courtney e as suas filosofias. Difícil de se concentrar, e a culpa era toda dela. Ele gostava de observar a franja loira de Bernstein, o delicado arco dos seus lábios, o contorno suave do nariz – na verdade, gostava de admirar cada detalhe do rosto dela. Em dado momento, Donovan fechou os olhos para intensificar a sensação do toque cruzado, antes de abri-los novamente. Poderia facilmente se deixar levar pelos contatos de Courtney, entregar-se às sensações, das mais sutis até as mais intensas. O toque que fazia no dorso da mão dela amenizou, e ele permaneceu em silêncio, absorvendo aquela nova interpretação. Quebrar o ciclo. Isso se aplicava muito bem à sua vida, e ele angariava todo dia coragem para poder conseguir.
Acostumado à quietude, permanecer alguns instantes em silêncio não foi desconfortável para ele. "Eu não sabia que precisava disso até você aparecer." Disse pausadamente. O que falava fazia sentido? E se não fizesse? Ele queria fazer? Eric mal se reconhecia enquanto sua mão seguia para o rosto de Courtney, sutilmente refazendo o símbolo (Ø) com a ponta do polegar na bochecha da garota. O sangue iniciou a impulsionar o coração, batendo rápido, tão rápido que poderia escapar de novo. "Nunca imaginei que quebrar ciclos pudesse ser tão… intenso e, ao mesmo tempo, tão bom." À medida que falava, seu rosto se aproximava do dela, lentamente.
As orbes de Courtney se mantinham fixas no semblante de Eric, enquanto o sentia avançando lentamente em suas carícias suaves. Para ela aquilo não era um problema, ainda que não estivesse acostumada a ser tocada com tanto cuidado. Deixou escapar um leve riso soprado ao observar o rapaz pensativo a respeito da mensagem que ela carregava na pele, só então retornando o olhar para a mesma. "Acho que sigo um pouco de ambos... É melhor pedir perdão do que permissão, afinal." Comentou, dando levemente de ombros. Toda a sua existência parecia se basear nessa frase, já que a loira não tinha tendência a seguir o que os outros lhe diziam, apenas a si mesma e aos seus instintos. Se queria algo, ela iria lá e pegaria. Precisou começar a agir assim desde de nova para conseguir sobreviver e proteger a sua família, então era este o tipo de pessoa que havia se tornado.
Ao notar que o farmacêutico não tinha levado o seu elogio a sério, uma de suas sobrancelhas se ergueu, enquanto ela permanecia o olhando. Ele parecia meio perdido... confuso. E então, quando a indagação veio, o semblante da loira acabou amolecendo e ela soltou um leve riso, enquanto jogava a cabeça para trás, apoiando-a momentaneamente na cama e a balançando de um lado para o outro. "Você se autodeprecia demais... Com a sua habilidade, você conseguiria facilmente vender seus desenhos, mesmo que não levasse isso como ganha-pão." Completou, voltando a encará-lo. Quando o agradecimento veio, ela apenas deu de ombros. Estava falando a verdade, apenas isto.
E então, quando a resposta para a sua pergunta a respeito da marca que ele possuía na superfície de sua mão se iniciou, Court instantaneamente franziu o cenho. Por que diabos os pais dele teriam feito algo assim? Ela queria perguntar o porquê, queria entender o que havia acontecido - o que também era um sentimento raro para ela, que dificilmente se interessava em saber sobre alguém além de seu irmão e sua mãe. Apesar disso, ela se conteve e se deu por satisfeita com as demais frases filosóficas e reflexivas que o garoto lhe deu. Até porque ela também era assim, não gostava de ficar explicando seus pensamentos ou ações, tampouco choramingando suas histórias tristes. E, se ela pedisse por explicações mais precisas, de duas, uma: ou ele não iria lhe responder e a faria provar de seu próprio veneno, ou ele iria lhe responder e então ela passaria a lhe dever mais detalhes sobre si como forma de retribuição, algo que ela definitivamente não queria para si naquele momento. Nenhuma das duas.
Seus olhos então se atentaram aos movimentos que Eric passou a fazer sobre sua destra, ainda com o cenho meio franzido. "Não acho que você precise de outro círculo... Não antes de anular o primeiro." Comentou. E, em seguida, ela interrompeu o movimento circular que fazia sobre a mão masculina. Antes ela seguia o contorno de sua cicatriz, mas agora havia pausado o trajeto. E então, partindo de onde havia parado, ela simplesmente cruzou o círculo em uma linha reta, cortando-o no meio. (Ø) "Tudo tem um jeito, exceto a morte. Enquanto estiver vivo, você sempre pode quebrar o ciclo e fazer algo completamente diferente! Ou pelo menos tentar, quem sabe?!" Completou, esboçando-o um meio sorriso. Não sabia se era algo que faria tanto sentido assim, mas era como a Bernstein buscava viver. Ela e sua família não tinham culpa sobre as circunstâncias nas quais estavam inseridos, mas, o que mais ela poderia fazer a não ser lutar? E, por mais que muitos a considerassem louca, ela sempre dava um jeito no final, o que lhe certificava de que era uma filosofia que tendia a funcionar.
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poohmatch · 9 months ago
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Na cabeça de Ashley, não havia mais música; apenas o som distante das ondas do mar e o ritmo sincronizado de ambas as respirações. O toque entre elas era estático, como uma muralha de cartas prestes a se desfazer - e, de fato, se desfez. O breve afastamento logo se instalou entre elas, obrigando Ashley a olhar detidamente nos olhos de Claire. Deixou um pequeno sorriso transparecer em sua expressão com o comentário bem-humorado da cozinheira, ainda com as mãos nos ombros dela, acariciando-a, fazendo-se presente. Claire também ficava linda até chorando... Provavelmente poderia ter dito, se não tivesse sido atingida por suas palavras seguintes.
Eu tenho tanto orgulho de você. Suas orbes claras não tardaram a ficar moldadas por lágrimas, brilhando como uma camada de vidro delicado. Por um instante, o toque de Ashley nos ombros de Claire intensificou-se, como se ela estivesse tentando se ancorar, não cair. O modo como Howey a via e contava a sua história soava tão melhor do que ela mesma era capaz de reconhecer. Todos os pontos. O ballet, em particular, era um assunto delicado; a amiga foi a única a abraçar Ashley quando tudo desmoronou. Ela sempre esteve lá. As lembranças despiram Ashley da "felicidade" que acreditava ter, porque só com Claire conseguia senti-la. E como precisava dizer a verdade... Ao menos com ela.
"Claire... Eu também sinto tanto orgulho de você. Tanto." Começou, com um sorriso largo. De imediato, sentiu um formigamento no corpo enquanto Claire tocava suavemente uma mecha de seu cabelo. Por que queria mais? E por que se aproximar não parecia nem um pouco errado? "Ouvir você falar assim... É como se você visse algo em mim que eu mesma não consigo enxergar." Sua voz, embora hesitante, aos poucos articulava o que estava em seu coração. Aproximou-se mais, a ponto de quase sentir a respiração da amiga. "Às vezes, me pergunto se estou realmente fazendo a coisa certa, se o casamento é..." As palavras ficaram presas, e suas mãos caíram ao lado do corpo, afastando-se dos ombros de Claire. Seus olhos desceram para os lábios dela. "Se eu realmente—"
Mas antes que pudesse terminar, o som estridente do telefone de Ashley cortou o ar. O toque parecia destoar do clima carregado e íntimo ali presente. O'Neal piscou, desviando o olhar para o aparelho que estava no bolso. Lentamente o pegou, e o nome de Troy estava piscando na tela. Ela hesitou por um momento, sua atenção voltando para Howey com um ar de constrangimento. "Desculpa, é o Troy." Ela explicou, como se pedisse permissão para poder atender.
Com um suspiro resignado, Ashley deslizou o dedo para acolher a chamada e colocou o telefone no ouvido, virando-se para o lado. "Oi, Troy..." Disse, tentando soar natural. Como assim, 'Oi'? Ashley, onde você está?! Por que não respondeu minhas mensagens? Nós combinamos que hoje íamos jantar com meus pais!, ele praguejou. "Eu sei, eu sei... Eu estava com a Claire. Já estou indo." Ashley sentiu o coração acelerar ao perceber que havia esquecido. Pior: que tinha bebido e suas bochechas rosadas entregavam isso. Troy murmurou mais algumas reclamações antes de desligar, deixando a veterinária com a sensação de um amargor crescente. Ela demorou um momento para retirar o telefone do ouvido e, ao se virar para Claire, seu olhar estava carregado de pesar. "Clai… Eu preciso ir."
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A pequena atuação delas, fez Claire soltar mais uma risada, mas não antes de fazer uma expressão de medo a olhando com olhos suplicando para que ela fosse boa com Claire. Com certeza a dança em seguida ficaria guardada em sua mente por muito tempo. Iria voltar para esses momentos, mesmo que curtos, onde ela se sentia feliz, assim como sempre fazia com outros momentos que elas já tiveram.
Apertou mais os olhos ao ouvir ela murmurando seu nome, quase que em medo para o que ela seguiria falando, mas a resposta chegou como notas agridoces em seus ouvidos. O'Neal também a amava, como amiga, mas a amava, queria considerar que só esse final que importava. Porém, todos seus pensamentos cessarem assim que começou a sentir os dedos e unhas dela passando em si. Sentiu um arrepio e o corpo esquentar mais do que havia esquentado com o vinho. Se sentiu subindo ao paraíso e em seguida despencando ao pensar que seu corpo pedia por mais, mas isso seria o máximo que receberia. De qualquer forma, estava completamente entregue aquele momento, completamente entregue a Ashley. Não moveu um músculo sequer, com medo de que se fizesse qualquer movimento brusco tudo iria se esvair por seus braços e aquele momento acabaria.
E assim permaneceu por todo o tempo que ela permitiu, até escutar a voz de Ashley novamente, sentiu a pergunta desligando algo em si, o que mantinha sua mente apenas no abraço e toque dela, logo sentiu uma lágrima caindo. Levou a própria mão para os olhos, tentando impedir de chorar e então soltou uma risada fraca e nervosa. "Agora é a minha hora de chorar." Falou em um tom baixo, tentando usar do humor para contornar seus próprios sentimentos. Se afastou um pouco dela, de cabeça baixa para secar os olhos antes de levantar o rosto e a olhar novamente. Balançou a cabeça em concordância. "Sim."
Manteve o olhar nela por um segundo, tentando fazer sua mente voltar para algum raciocínio. "Eu tenho tanto orgulho de você." Começou a falar, pendendo a cabeça para o lado enquanto a olhava intensamente. "Eu lembro quando você era só uma menina." Falou com um sorriso divertido. "E então você conquistou tanta coisa, você faz um trabalho incrível na clínica, era uma ótima bailarina, você se tornou ainda mais a melhor pessoa que eu conheço, como ser humano mesmo e também uma pessoa incrível comigo." Respirou no final por estar falando rápido. "Agora você vai casar." Sorriu para ela, com os olhos que se mantinham marejados. "Eu me sinto muito orgulhosa e feliz de ter acompanhado você em tudo isso e poder continuar acompanhando."
Levou a mão para o rosto dela, colocando uma mecha do cabelo loiro para trás da orelha. "Troy é o homem mais sortudo do mundo." olhava para a própria mão que mexia no cabelo dela enquanto falava isso, a menção ao nome do agora noivo dela, fez com que Claire sentisse uma parte daquele momento se apagando, como um fio de realidade que invadiu a bolha delas. Já havia abaixado a mão novamente antes de terminar de falar. "Eu espero que ele tenha consciência disso e que valorize sempre essa sorte, porque é o mínimo que você merece."
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poohmatch · 9 months ago
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Uma vez ao passar pela quinta série, Matheus nunca mais saiu dela. Com Elena, esse lado piorava substancialmente. A ideia de tirá-la do sério era irresistível; gostava de vê-la irritada e, mais ainda, de captar a vaidade da ex, seu jeito de ser patricinha. Eles sempre foram muito parecidos em termos de personalidade forte e cuidado com a aparência; não à toa, foram nomeados como o rei e a rainha da escola. Todos sabiam que, eventualmente, ficariam juntos e casariam. Mas, não. Muitas coisas aconteceram no meio do caminho. Coisas que, provavelmente, não mereciam qualquer tipo de perdão. Surpreendentemente, porém, ali estavam eles: novamente juntos, porque Elena sempre seria parte da vida de Matheus, ela gostasse ou não, concordasse ou não.
"Esse é o meu devagar." Declarou, sem mentiras. Sua expressão conseguia formular risos satisfeitos e provocativos à medida em que a via se enraivecer. Era um déjà-vu. Quantas vezes eles não tinham estado nessa situação? Não só de brigas, mas no carro. Aquele banco ao lado de Pascal era a marca registrada de Elena, e, à época, ele nunca permitiu ninguém mais ocupá-lo. As lembranças das viagens sem rumo e das noites em que fechava as janelas, só pensando em prensar o corpo dela no assento e em beijá-la, eram vívidas na mente. Tão vívidas quanto o perfume dela - o qual dominava o ambiente -, e evaporavam no ar com a mesma sutileza da fragrância.
"Isso tudo é ansiedade para ver meus pais? Interessante." Tirou sua própria conclusão desvirtuada da fala alheia. Sabia, bem, que seria o contrário: a família Vieira Pascal é quem ansiava por ver e impressionar Elena. Era uma medida quase desesperadora - não podiam perdê-la por nada. E era esse o motivo que os levava a estar ali, em parte.
A provocação sobre sua cantoria fez Matheus soltar uma risada sonora, mas o rapaz terminou por fingir estar profundamente ofendido. Com uma expressão teatral de dor, colocou a mão no peito e, como quem não quer nada, começou a cantar o refrão da música, a qual se encontrava perfeitamente nessa parte: "Why you gotta be so rude? Don't you know I'm human too?" Satirizou, no ritmo, mas sem qualquer habilidade para ir ao The Voice. Nem mesmo o Kids.
Posteriormente, de forma absolutamente abrupta, Matheus alterou seu tom de voz, com um ar dramático e triste. "Você falou da carta e... isso me lembrou das dificuldades que eu passei na época." Continuou num suspiro, como se estivesse revelando uma história de perda e superação. "A fiscal quase me reprovou. Ela olhou e disse 'Você é gato demais, não tem como. Vou ter que tirar alguns pontos por isso'." Ele fez uma pausa, com o drama nos olhos se desfazendo em função de um sorriso malicioso. As orbes castanhas voltaram para as dela. "Mas nada que eu não tenha conseguido escapar. E é assim que eu tenho a carta até hoje."
As quebras de expectativa e as piadas sem graça de Matheus se estenderam por mais tempo do que poderiam precisar, até que finalmente chegaram ao destino: o aeroporto. Pascal entrou no estacionamento coberto com confiança, onde um dos funcionários de seus pais já os aguardava. Utilizando apenas uma mão, ele manobrou o carro com uma precisão exagerada, claramente tentando impressionar Elena. Então desligou o veículo, saiu e foi até o outro lado para abrir a porta para ela. Fez questão de segurar a mão da namorada com naturalidade quando Alexandre, um dos funcionários fofoqueiros de seus pais, apareceu.
"Malas estão atrás, Alex. Valeu!" Disse, lançando as chaves no ar de forma despreocupada, antes de se inclinar perigosamente perto do ouvido de Elena. "O show começa agora. Alex está olhando." Sussurrou, enquanto deslizava a mão até a cintura dela, guiando-a com um toque firme em direção ao check-in. No caminho, ajustou os óculos escuros, reforçando a sensa��ão de estar no comando da próxima cena do espetáculo. No final, eram dois atores, certo?
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Após um ano longe de Matheus, Elena poderia jurar que era um outra pessoa. Era mais calma, mais estável, até mesmo mais suave e doce em suas palavras. Entretanto, bastava ficar 5 minutos - ou menos - na presença infantil do Pascal que parecia que toda sua evolução emocional e espiritual haviam ido de água abaixo. E lá estava ela, revirando os olhos, enquanto o médico lhe prometia intensidade. Como se eles ainda estivessem juntos, ou como se ela fosse tola o bastante para cair em seu joguinho charmoso novamente. "Só quero uma viagem tranquila, ok? Sem pegadinhas ou joguinhos! Não se esqueça que estou te fazendo um favor." Relembrou, ainda que soubesse que ele provavelmente nem estaria prestando atenção. Ele nunca a levava a sério.
Quando o médico insistiu na aproximação e se inclinou ainda mais em sua direção, Elena não resistiu e se obrigou a encará-lo, revirando os olhos diante de suas palavras. "E bem irritante também, sabia?" Soltou com um sorriso forçado nos lábios, enquanto semicerrava os olhos. Por um instante o perfume de Matheus se fez mais forte em sua direção, seja por conta do ar-condicionado ou das janelas, e então ela se lembrou do porquê de se obrigar a manter distância do homem. Ela precisava. "Acho que vai precisar tomar um banho assim que chegar no hotel, não sei se seu desodorante vai dar cont-" Implicou novamente, mas acabou sendo interrompida pela aceleração do veículo, que fez com que entrasse um vento muito forte pela janela da mulher, bagunçando completamente seu cabelo e seus acessórios. "Que inferno, Matheus! Vai devagar!" Reclamou, ainda que soubesse que aquilo tudo era proposital. Elena odiava quando o vento do carro bagunçava seu cabelo cuidadosamente alinhado. 
Ciente de que seria em vão tentar se comunicar, ela procurou pelo botão certo e fechou a sua janela, soltando um grunhido baixo de desaprovação. Em seguida, abaixou a viseira do passageiro em com o objetivo de utilizar o espelho para conseguir se arrumar novamente, mas Matheus não parecia muito inclinado a cooperar com o seu visual, já que em cada curva ele parecia acelerar ainda mais ao invés de desacelerar. "Eu gostaria de chegar a ver os seus pais viva, se for possível." Ironizou, enquanto ainda buscava organizar seus fios.
Ao ouvi-lo reclamar sobre a playlist, Elena suspirou pesadamente, frustrada. De tudo o que ele estava fazendo, era sério que a atenção era dada à playlist? Por fim, ela apenas cruzou os braços e deixou com que ele fizesse o que queria. Matheus era como um tufão, não dava para controlar, e não precisava de muito para ela se lembrar sobre esse detalhe. Quanto mais ela implicasse, mais ele faria. 
Quando ele escolheu justamente 'Rude' para tocar, era inevitável para a estilista não sentir a nostalgia da música. Já haviam viajado diversas vezes ouvindo-a, assim como outras que eles possuíam numa antiga playlist que compartilhavam. Mas, diante de todo aquele caos, a espanhola apenas moveu a cabeça negativamente, enquanto observava a paisagem de sua janela. Nem mesmo a cantoria dele foi suficiente para tentá-la, e ela permaneceu em silêncio até o questionamento vir de forma direta. Elena considerou profundamente a opção de apenas ignorá-lo, mas Matheus era terrível e sabia como quebrar o seu gelo, arrancando um leve riso dela por conta da provocação com as pantufas. "Se você dirigisse como um ser humano normal, talvez meu humor melhorasse. Assim mais parece que você comprou a carteira..." Retrucou, ainda que o semblante sério e bravo já não estivesse mais tão intenso quanto antes. "Se bem que, vendo pelo lado positivo, quanto mais rápido nós formos, mais rápido nós voltamos, certo? Assim me livro logo de tu e da sua cantoria desafinada!"
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poohmatch · 10 months ago
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Apesar de aparentemente ter se dado por satisfeito, Eric ainda sentia um impulso crescente de perguntar o verdadeiro motivo. Afinal, por que Courtney precisava dos morfináceos? Incontáveis hipóteses inconclusivas se formavam em sua mente, mas ele sabia que precisava avançar com cuidado. Da mesma forma que ela silenciosamente se abriu, poderia muito bem se afugentar. A curiosidade de Eric era um risco; e sua bondade, possivelmente um fardo. Desde o momento em que decidiu ajudá-la, sabia que era um caminho sem volta - um, no entanto, que estava disposto a trilhar. Mais do que disposto, aliás. O comentário sobre seu sorriso, seguido pelo leve empurrão, fez o os lábios dele se alargarem ainda mais, enquanto abaixava a cabeça por um momento. Contudo, como um ímã, suas orbes logo voltaram para as dela.
Ao ter em mente que seu toque não foi recusado, Eric fez uma nota mental de que poderia prosseguir. Seu dedo, que antes desenhava uma linha casual na pele dela, agora se movia com mais suavidade, quase como uma carícia velada. A pele dela era gostosa de tocar, e ele desejava sentir aquilo por mais tempo. Mas de tempo nada tinham, como bem prenunciava a tatuagem. Seu anterior sorriso suavizou. "É profundo..." Comentou, sinceramente tocado, enquanto refletia sobre. "Pode ser motivador ou destrutivo." Até porque, a lembrança da morte pode ser uma atenção maior para vida ou para o mero e inevitável fim.
Os elogios de Courtney sobre seus desenhos o pegaram completamente desprevenido. Ele piscou, surpreso; por um momento, achou que era uma brincadeira e chegou a rir, mas o riso se desfez ao perceber que ela falava sério. Nunca sabia o timing correto. "Você... acha mesmo?" Murmurou, incerto sobre o que sentia; uma quentura diferente invadiu o peito, acolhendo-o. Estava sendo visto e validado. "Obrigado."
Não bastasse a troca de olhares que o tiravam de órbita, a pergunta sobre a cicatriz fez os lábios de Donovan secarem, e ele instintivamente os umedeceu. Era uma questão que sempre surgia - a exposição do local não ajudava -, estando habituado a oferecer desculpas automáticas, histórias fáceis de contar e esquecer. Costumava dizer que se queimou sem intenção no maquinário dos pais. Mas algo dentro de Donovan o impulsionava a dizer a verdade. Talvez fosse o jeito como o dedo dela traçava sua marca, deixando uma faísca por cada linha passada. Aquilo lhe dava uma coragem que ele nunca pensou ter.
"Meus pais me marcaram quando eu era criança." Declarou, percebendo que era a primeira vez que contava isso a alguém. Poderia, no entanto, ressignificar a história. Era a sua pele, afinal de contas. "Eu costumo pensar que é um caminho infinito e sem saída. Sempre se repete, não importa o quanto você tente mudar a rota." Sua voz estava um pouco mais baixa, mais íntima, enquanto observava suas falas acompanharem o toque dela. "A não ser que haja outro círculo." De súbito, foi sua vez de desenhar uma volta no dorso da mão de Court; o indicador iniciava um movimento circular leve, contínuo. "E eles se encontrem, formando outro infinito."
Talvez fosse um monólogo sem sentido; ou talvez, Eric estivesse embriagado pela aproximação. Seus olhos, tão próximos aos dela, não mentiam. Naquele instante, ele encontrou seu outro círculo; não porque estava perdido, mas porque foi encontrado. E havia, sim, um novo caminho.
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Era a primeira vez que via Eric sorrindo, e os olhos dele brilhavam como se ele tivesse encontrado uma joia preciosa ou algo similar. Seu cenho se franziu um pouco, mas a loira acabou soltando um leve riso como resposta. "Olha, ele sabe sorrir!" Implicou ela, dando-lhe um leve empurrãozinho com o braço, enquanto observava uma mudança drástica no humor do rapaz. Ao menos agora ele sabia que ela não era uma viciada, diferente do que as pessoas do distrito costumavam a intitular. A chamavam de várias coisas, na verdade, mas Courtney nunca se importou. Ela sabia quem era, e isso bastava para si.
O movimento do Donovan a surpreendeu um pouco, já que era a primeira vez que ele ousava a tocar diretamente sem algum motivo relevante e sim apenas por querer fazer isso. Considerando a timidez que ele estava demonstrando desde o primeiro contato, era um grande avanço. Como resposta, ela não se moveu, apenas ficou observando, enquanto o indicador masculino acariciava sua pele e ele analisava os rabiscos estampados ali. "Lembre-se de que morrerá." Pontuou ela no momento em que ele pousou sobre as escritas em latim. Courtney havia visto isso em algum livro ainda na época da escola, e, considerando o fato de vir lidando com a morte desde muito cedo, era um lembrete que ela gostava de ter consigo.
Ao escutar o elogio, a loira soltou novamente um leve riso, balançando a cabeça em negação. 'Braço bonito' não era um elogio que ela estava esperando, mas, vindo de Eric acabava soando fofo. "Tenho certeza que você conseguiria fazer algo bem melhor que isso. Seus desenhos são bem mais elaborados e detalhistas." Comentou, no momento em que ele citou suas tatuagens.
Quando o assunto dos morfináceos voltou à tona, Court diminuiu um pouco o sorriso. Se ele soubesse o quanto ela precisava daqueles medicamentos, não diria algo assim. E, por mais que ela agora talvez tivesse conseguido uma brecha, um aliado, algo dentro de si não gostava da ideia de se aproveitar da generosidade de Eric. Ele já havia feito muito por ela, então não era justo colocá-lo em uma situação onde poderia acabar se prejudicando ou sendo pego. Não que ela fosse deixar de usar as receitas falsificadas, porém não iria pedir para que ele lhe desse amostras a mais, tampouco voltar a invadir a farmácia a noite.
Seus olhos voltaram a observar a mão masculina, agora conseguindo ver claramente a marca circular estampada em sua pele. "O que foi isso?" Indagou ela, usando da destra para segurar a mão de Eric. Agora era a vez do seu dedo indicador passear pela pele alheia, tocando a marca da cicatriz em loop. Não esperava que alguém como ele tivesse uma marca como essas na pele. Não lhe parecia algo acidental, baseado em suas experiências com feridas e cortes; então, considerando o status do rapaz, isso era bem estranho.
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poohmatch · 10 months ago
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Elas podiam se fazer de sommeliers, mas a realidade era inescapável: não conseguiam evitar as caretas ao provar o vinho. Ashley se divertia com o espetáculo, observando a reação de Claire mesmo quando ela procurava se esquivar. As risadas só aumentavam. Aquela pequena rebeldia era um reflexo de seu desejo de deixar tudo para trás, mesmo que amanhã fosse outro dia. Seria uma comemoração ou uma despedida? Eis a questão. Talvez tivesse comprometido o plano de um evento mais formal, mas a verdade era que formalidade não era necessária. Definitivamente não.
Era, na verdade, o paraíso na terra. A praia vazia, o som das ondas se quebrando, seus cabelos se misturando com o vento e as risadas enquanto trilha sonora. Ash se sentia feliz por estar respirando. Por todo o tempo, portava-se apenas como uma boneca, perfeita e imóvel, feita para agradar os outros. Ali, ela se libertava do plástico e se lançava para a vida. Assim que Claire fez a primeira pergunta, a loira respondeu com um "uhum" provocativo e um sorrisinho de vilã. "Hmm, boazinha? Vou pensar no seu caso..." Disse, com seu olhar brilhando em travessura. Puro teatro. Isso porque, assim que Howey a tocou, o mundo fez questão de parar.
Ashley sentiu um arrepio perigoso percorrer seu corpo por inteiro, como se Claire estivesse revelando a ela o verdadeiro significado de ser tocada. Sentia-se visível e amada, rodeando no espaço que parecia só existir para elas. A amiga a conduzia com elegância, entregando Ash àquelas sensações sem nome, perdida no calor que era muito mais do que o vinho poderia provocar. À medida que girava no próprio eixo, um sorriso espontâneo surgiu, mas quando se aproximavam novamente, a risada se dissipou e seu olhar não conseguia esconder o quão envolvente era o momento. Havia se esquecido, por um instante, de que era apenas uma dança inocente.
"Clai..." Ela murmurou enquanto as testas eram coladas, altamente ruborizada. Sem saída, fechou os olhos para tentar reprimir o que seu coração descompassado gritava. Após, no tempo em que Howey se aninhou em seu ombro, Ash abriu os olhos vagarosamente. "Eu também te amo." Sussurrou. Suas unhas, delicadamente manicuradas de rosa, traçaram um caminho suave pelas costas de Claire, sua pele, seus cabelos, sua nuca... Como se ela fosse sua.
E por que, mesmo no oásis, seus corações não estavam em sintonia? Por que algo parecia fora do lugar? Ashley se preocupava; com Claire, com si própria. Com aqueles sentimentos que vinham à tona, e que ela bem sabia que não poderia culpar apenas o álcool. O toque se estendia além do normal, superando o limite entre duas amigas. "Está tudo bem?" Voltou a cochichar, sem se desencaixar do contato.
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Assim que ouviu a brincadeira dela, soltou uma risada junto, mas limitou que a risada fosse sua resposta. Uma coisa era ela, uma mulher hétero que estava prestes a casar, brincar sobre isso, outra coisa seria se Claire brincasse, em sua cabeça, isso com certeza seria errado. Mas logo mudou sua atenção para os acontecimentos seguintes, observou ela enquanto erguia as sobrancelhas ao ver ela bebendo todo o vinho de uma só vez, riu alto ao ver a expressão do rosto dela enquanto balançava a cabeça em negação. Decidiu terminar o vinho de sua taça também, mas virou o rosto em brincadeira para ela não ver quando Claire sentisse todo o gosto do vinho e fizesse uma careta.
A partir daí foi como se tudo tivesse se desligado, todo o mundo, todos seus pensamentos, inseguranças, Troy, casamento. Nada mais podia existir no mundinho delas, e só delas, enquanto elas corriam em direção à praia dando risadas, soltando gritos, um vinho com elas e uma sensação de pertencimento que só era possível de se sentir quando estavam juntas. Tirou seus sapatos também quando ela parou, a areia nos pés completando tudo. Poderia até citar os cincos sentidos que deixavam tudo real: o cheiro do perfume dela misturado com de água salgada do mar, o gosto do vinho ainda no boca, a visão dos cabelos esvoaçantes dela com a praia ao redor, o som das risadas e das ondas e o toque da mão dela e a areia nos pés. Tudo se completava, tudo fazia sentido naquele momento.
Assistiu ela bebendo novamente, quando ela voltou a falar, deu um sorriso largo enquanto mordia o lábio inferior por costume. "Tudo?" Falou alto fingindo um espanto, logo bebendo o vinho depois de ter pego a garrafa com ela. "Seja boazinha comigo então." Completou em um tom doce como se para fazer ela sentir pena. Mas sorriu assim que ouviu o pedido. "Seria uma honra." Respondeu e apoiou a mão livre na lateral da cintura dela e a outra com a garrafa junto a cintura. Seguindo o ritmo que ela colocava para dançar.
Se manteve assim por um tempo, sorrindo enquanto observava cada detalhe do rosto da loira, nunca se cansaria de fazer isso. Até soltar as mãos e se afastar um pouco para segurar uma das mãos dela, girando ela devagar a olhando com admiração. Bebeu um gole rápido do vinho, sentindo seu rosto quente, antes de voltar a se aproximar, mas dessa vez deixando seus corpos mais próximos, envolveu a cintura dela com os braços, deixando a mão no final das costas dela, ainda seguindo uma dança. Olhou para ela por um momento e então escorou devagar sua testa na dela, seu coração acelerou por estar tão perto dela, mas concluiu que era por casa do vinho. De qualquer forma, fechou os olhos antes de falar. "Eu te amo." Sua voz era baixa, tanto pela aproximação, quanto pela sensação de ser uma confissão velada. Assim que falou levou sua cabeça para deitar no ombro dela, querendo aproveitar aquele momento o máximo possível.
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poohmatch · 10 months ago
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Eric tentou não reagir de forma muito exagerada enquanto observava Courtney retirar uma peça; mesmo assim, seus olhos estavam levemente arregalados e os lábios comprimidos em uma linha reta. Bernstein era como uma caixa de surpresas, e ele, apesar de toda a contenção e nervosismo, sempre foi atraído pelo inesperado. Se fosse uma combinação perfeita ou destrutiva, só o tempo poderia dizer.
Ao contrário do que inicialmente pensou, porém, os movimentos alheios não tinham qualquer intenção sugestiva. Eric soltou um suspiro, tentando recuperar o foco, enquanto as órbitas vagavam pelas tatuagens dela. Ele já as havia visto antes, de relance; mas, agora, tão próximas, sem as camadas de roupas escuras que normalmente Courtney usava, elas pareciam ganhar vida. Cada linha e detalhe o intrigava mais de perto.
Quando a garota se aproximou, Donovan descruzou os braços dos joelhos e esticou as próprias pernas, sentindo as laterais de seus braços tocarem as dela de maneira unida e íntima. O contato deixou sua respiração diferente, e seu olhar a acompanhava com interesse genuíno.
Logo que ela exibiu o interno do braço, a mensagem ficou clara. O sorriso que se abriu no rosto de Eric foi em puro reflexo, materializando a alegria e o alívio que florescia no peito. Ele raramente sorria assim - não tinha muitos motivos para tal no dia a dia -, mas, naquele momento, era impossível conter. Courtney estava bem, e isso já bastava para deixá-lo eufórico. Por consequência, havia mais por trás do motivo dela pegar os morfináceos. Eric se agarrava à ideia de estar fazendo algo importante, um bem maior - e isso o confortava profundamente.
Com as mãos formigando de vontade, o rapaz não resistiu à tentação de deslizar seu dedo indicador pela pele dela, traçando suavemente a curva delicada da fossa cubital. A cicatriz circular no dorso da mão se fundia com as tatuagens de Courtney, criando uma obra única.
O toque parou em uma imagem em específico - Memento mori -, perguntando-se silenciosamente o que poderia significar. "Não precisa agradecer. Seu braço é bonito." Ele acrescentou, tentando reprimir o riso ao franzir os lábios, em vão. Desejava retribuir a mensagem de uma forma mais profunda, embora fosse evidente que ele não estava acostumado com esse tipo de interação; na verdade, não estava habituado a se sentir tão alegre. Parecia que um sol interno havia se acendido, e, sem saber, Courtney já o retribuía. E muito. "Suas tatuagens também..." E você., sentiu vontade de completar, mas parecia que seus olhos já diziam isso. Eles, sim, sorriam mais do que os lábios. "Se precisar de mais morfináceos, sabe onde me encontrar. De preferência, durante o dia." A voz de Eric saiu suave, com um ar de humor. Enquanto observava Courtney tão de perto, sentia um desejo profundo de permanecer ali para sempre.
Estava feito. Ele iria dar um jeito, ele precisava dar.
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Courtney o observou, enquanto suas opções eram descartadas quase que de imediato. Exceto pela última, a qual Eric ponderou. No mesmo instante, uma voz dizendo 'eu sabia!' se fez presente em sua mente. Ele era um garoto, afinal. O que mais eles poderiam querer além disso? Entretanto, no momento em que ela achou que viria o pedido ou confissão, ele negou. Seu cenho se franziu levemente, sem entender muito bem o que ele queria dizer com aquilo, já que foi a opção que aparentemente mais chamou a atenção do Donovan. De qualquer forma, ela permaneceu em silêncio, aguardando-o completar. 
Ao escutá-lo dizer que não queria nada em troca da ajuda e fez tudo aquilo apenas porque quis, a Bernstein suspirou, voltando seu olhar para o nada. Ela não gostava muito dessa situação, sentia-se em débito com o farmacêutico; mas, o que mais poderia fazer? Não tinha como obrigá-lo a aceitar algo em troca.
"Bem, já que você não quer nada... Vou te mostrar uma coisa." Soltou, antes de levar ambas as mãos até a borda inferior da blusa de manga longa que ela vestia e começar a retirada da peça, puxando-a para cima. Court costumava usar para chamar menos atenção das pessoas, já que os inúmeros desenhos estampados em sua pele não contribuíam para isso. Diante do sol, as figuras ficavam parecendo parte da peça, já que o tecido acabava ficando meio transparente. Entretanto, durante a noite, era perfeito para se passar apenas por uma camisa preta, além de não ser muito quente. E, antes que Eric pudesse desmaiar por conta da atitude ousada da jovem, ela vestia uma camiseta curta por baixo, mantendo-a devidamente vestida.
Em seguida, ela deixou a blusa no canto e se moveu para o lado de Eric, sentando-se junto a ele. Literalmente junto, pois seu braço chegava a encostar no braço masculino. Suas pernas agora estavam próximas ao seu corpo, assim como as do rapaz, e ela estendeu ambos os braços sobre os joelhos, de modo a deixar o interior dos mesmos expostos. Apesar do grande número de tatuagens, os seus braços não eram fechados delas. Aranhas, lápides, serpentes, dragões e demais riscos nesse estilo eram encontrados na região, assim como um 'memento mori'. E, por mais que houvessem todas essas distrações, não era isso o que a menina queria realmente mostrá-lo.
Ela não falou nada, mas a sua fossa cubital - região na qual os viciados injetavam drogas e medicamentos - estava completamente limpa. Não haviam furos, tampouco manchas e efeitos colaterais provenientes de usos constantes de morfináceos. Ela estava limpa.
"Acho que é só a minha maneira de dizer... obrigada." Comentou a menina, por fim.
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poohmatch · 10 months ago
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Poderia se amaldiçoar por entregar tantos detalhes. Qualquer um diria de forma mais sucinta ou, melhor: sequer permitiria chegar a esse ponto. Todas as particularidades daquela história deixavam claro que Eric prestava atenção demais em Courtney. Às vezes, ele vivia apenas para esperá-la à noite, frustrado quando ela não aparecia. Levou um tempo até entender seu padrão de dias e horários. E quando ela surgia… Era como se seu mundo sem vida ganhasse cor novamente. Ele admirava a coragem, a força e a perspicácia dela; era algo que ele nunca pôde encontrar em nenhuma outra pessoa. Courtney não tinha o que temer, diferentemente dele.
O porquê. Esse, sim, era o questionamento pelo qual Donovan não queria responder. Já havia se exposto demais. Em parte, era por ela. Por outra... por ela, também. Tolerar os furtos o aproximava de Courtney, e Eric gostava da ideia de se rebelar, mesmo que silenciosamente. Entretanto, suas táticas ocultas estavam se tornando cada vez mais complicadas de manter, eis que seus pais se encontravam atentos. Estavam perto da colheita, afinal, e tudo fico pior na colheita. Os vícios, a pressão… E agora, o seu coração também.
Para além disso, ele não sabia o motivo de Bernstein roubar tantos morfináceos. A resposta mais óbvia poderia ser o vício - mesmo assim, seria a dependência capaz de colocá-la tanto em risco? Eric não pretendia saber. Às vezes, era melhor não saber.
Ele chegou a abrir os lábios para elaborar um pretexto, junto à expressão que denunciava sobressalto. Contudo, quando Courtney adiantou dizendo que não importava, ele se calou, perdido em palavras não ditas. Palavras que não saberia desenvolver.
Mas as investidas não pararam. Assim que Bernstein apoiou-se nos seus joelhos, com o rosto próximo ao do seu, Donovan teve a certeza que não havia mais para onde fugir. Seu rosto já não precisaria da luminária da lava, estava vermelho por natureza. Um arrepio acalorado atingiu sua espinha; e, horrorizado com as propostas, ele negava enfaticamente com a cabeça a cada pergunta.
Exceto na última.
Seu olhar desceu automaticamente para o corpo da garota, e ele paralisou, atraído pelo que ela oferecia. Como ela era linda ao refletir todas as luzes possíveis - certamente, um detalhe que guardaria na memória para sempre. Uma vontade que encapsularia até não aguentar mais, preso na pele e no cheiro de Court. Um ponto que escreveria no caderno, envergonhado por dizer em voz alta; talvez, até formaria uma fórmula química só para ela.
Seria possível continuar, mas tudo se concentrava nisto: como ele queria que ela pudesse correspondê-lo. No entanto, ali, Court faria por mero pagamento de dívida, não por gostar dele. E isso era tão amargo quanto sustentar o vício de alguém. Não, aquilo não era uma troca de favores.
"Não…" Negou sem muita firmeza, desviando o olhar. Soava como uma súplica, um pedido para que ela não o provocasse mais - não brincasse com os seus sentimentos. Tentou recuar, mas suas costas já estavam pressionadas contra a madeira da cama. "Eu não quero nada em troca." Persistiu com um pouco mais de força.
"Eu fiz isso porque…" Continuou, voltando a observá-la. Péssima escolha. De forma incoerente, suas orbes castanhas acabaram por revezar entre os olhos e os lábios de Courtney. E ele engoliu em seco de novo, sentindo-se fraco em relação aos próprios princípios. Era fraco por ela. "Você parece precisar deles. E eu quis ajudar." Poderia soar bobo - como ele de fato era -, mas não se passava da verdade. Ou parte dela.
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Seu olhar acompanhou toda a movimentação de Eric, enquanto Courtney começava a se sentir um pouco desconfortável. Não por conta do ambiente ou da companhia, mas por sentir que talvez, e só talvez, ele fosse uma pessoa relativamente confiável. Confiar nas pessoas não era algo que a loira costumava fazer - ainda que ela tivesse o hábito de dar bastante corda para ver até que ponto a história iria chegar; apesar disso, o farmacêutico lhe passava uma vibe diferente. Ele era muito retraído e autodepreciativo e, por mais que parecesse incoerente, a garota se identificava um pouco com essas características.
Ao ouvir a resposta, a qual não tardou a chegar, a Bernstein automaticamente ergueu as sobrancelhas. Estava chocada. Seis meses era muito tempo. Muito mais do que ela poderia sequer imaginar! Apesar disso, optou por permanecer em silêncio, apenas escutando tudo o que Eric tinha para lhe contar. Seus olhos ainda o observavam, analisando-o. Ele parecia estar sendo sincero, o que apenas piorava tudo. Ao escutar sobre funcionários demitidos, Court engoliu em seco. Sabia que suas ações tinham consequências e sentia muito pela forma com que isso prejudicava pessoas tão simples quanto si. Apesar disso, ela não tinha escolha... Não fazia aquilo tudo apenas em uma atitude egoísta, como um viciado. Era uso médico, uma necessidade.
Quando ele começou a apontar suas falhas, as evidências de suas visitas ilegais, ela apenas ficou encarando o nada. Poderia ter sido outra pessoa a encontrar aquilo, outro funcionário. Talvez não fossem tão inteligentes a ponto de ligar os pontos e chegar até ela, mas poderia te feito um alarde muito antes, já que isso acontece há seis meses... Quando ele comentou sobre o cachorro, Courtney apenas assentiu positivamente, pois se lembrava dessa noite. Sequer poderia imaginar que estava sendo observada, muito menos acobertada... "Por quê?" Indagou ela, assim que ele afirmou que estava a esperando. "Se você sabe que eu roubo a farmácia há seis meses, por que deixou? Você nem me conhece, nem sabe o que eu faço com as amostras... Isso não faz o menor sentido!" Seu olhar retornou até ele, ainda que não esperasse uma resposta conclusiva. "De qualquer forma, tanto faz. Isso não importa agora." Completou, movendo a cabeça levemente em negação.
Seu olhar desceu até o chão por alguns instantes, e então retornou para Eric. Em seguida, ela se aproximou mais dele, ficando agora sentada de joelhos em frente ao rapaz. Seus braços se apoiaram nos joelhos dele, enquanto o seu rosto se apoiava sobre eles. Ela queria olhá-lo de perto, e não queria que ele fugisse. "O que você quer?" Indagou, por fim. "Quer que eu quebre os dentes de alguém por você? Que eu jogue ovos na casa de uma ex-namorada?" Apesar do humor, a pergunta tinha o seu lado sério. Court detestava dívidas, principalmente quando era sobre troca de favores. Sendo assim, quanto mais cedo pagasse, melhor para si. "Quer que... eu faça algo?" A última pergunta foi mais sugestiva, e a loira se afastou um pouco, saindo de cima do rapaz e permitindo que Eric pudesse enxergar melhor o seu corpo - caso estivesse pensando nisso.
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poohmatch · 10 months ago
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Eric havia visto Courtney pela janela em diversas oportunidades. Agora, era ela quem o via através de seu quarto. Seria isso o que chamam de um verdadeiro touché? Afinal, a transparência de todos os seus interesses estava ali, bem à mostra, sem que pudesse com mágica fazer sumir. Se antes as circunstâncias eram remotas, agora, sim, nunca mais teria chances com Courtney. Eric sabia muito bem que o tipo de pessoa que atraía a garota era bem diferente dele - podia perceber isso nas festas do distrito. Em todas as vezes, seu olhar não conseguia mentir a própria derrota. E, bem, a curiosidade.
No presente momento, a vergonha era uma certeza. Donovan não gostava de ser o centro das atenções, muito menos de se sentir exposto. Logo ele, tão fechado para o mundo. O comentário sobre não trazer garotas era verídico e retórico. Ele rolou o olhar para o sentido diverso, enquanto crispava os lábios. "É tão óbvio assim?" Sussurrou para si mesmo. Na verdade, não era só por esse motivo; ele também não trazia outras garotas porque só queria uma. Mas ele teria coragem de declarar isso? Não.
Logo piscou, voltando a focar na realidade ao seu redor. Droga, os desenhos! O rapaz se afastou rapidamente da gaiola de Pip e se aproximou de Court, verificando com os olhos se os projetos que estavam colados poderiam ser embaraçosos. Ao concluir que sim, mordeu o canto da bochecha e assentiu com a pergunta, quase sem energia. "É, isso… não é nada de mais." Autodepreciou-se, embora encontrasse grande prazer em traçá-los. Queria desviar a atenção, apenas isso, mas parecia uma tarefa impossível.
A verdade é que, desde criança, Eric tinha um interesse inquieto por farmácia e plantas. Gostava de fazer cirurgias nos vegetais e observar seus padrões, seus estímulos e o que poderiam oferecer; muitas vezes, antídotos. Em outros casos, veneno. No fundo, o jovem tinha a esperança de conseguir substituir os morfináceos, numa concentração cujos efeitos colaterais não seriam nefastos. Temia, porém, que, até lá, ninguém mais desse importância. O vício tomaria conta, se é que já não tomou. Um sonho de criança que não conseguiu dissipar.
Engomadinho. A palavra o atingiu em cheio. Ele franziu a testa e abriu a boca, sem saber ao certo se deveria se sentir ofendido ou lisonjeado. "Obrigado?" Decidiu pela segunda opção, apesar de ficar se perguntando se era assim que todos o enxergavam. Possivelmente, sim.
E, então, veio a pergunta que ele mais temia. Eric se aproximou devagar, sentando-se no chão a uma distância segura de Courtney. A luminária de lava passou a emitir um brilho avermelhado, refletindo em ambos os rostos.
Com as costas apoiadas na madeira da cama, tornou a abraçar os joelhos, refletindo em como começar. A última vez que Bernstein havia passado pela farmácia não saía da sua cabeça. Ela costumava sempre trazer uma receita, mas naquele dia apareceu com três de uma vez. Todas obviamente adulteradas. E, mesmo assim, ele entregou as amostras… entregou todos os seus limites por ela. Antes e agora.
"Seis meses, talvez?" Ele tentou precisar. "Já faz muito tempo que notei o sumiço de alguns morfináceos. No início, era uma quantidade pequena, então achei que fosse erro na contagem." As lembranças passaram como um filme diante de seus olhos; isto é, como ele conferia metodicamente as amostras, uma a uma. "Mas, aos poucos, os sumiços foram aumentando. Alguns funcionários foram demitidos na época." Engoliu em seco, com as cenas vívidas dos gritos dos pais ainda rondando a cabeça e os ouvidos. Eram desnecessariamente hostis com os outros. "Então, um dia, encontrei um fio de cabelo loiro perto do estoque. Em outro, um grampo de cabelo… parecido com o seu. Acabei ligando os pontos."
Eric hesitou por um instante. As palavras começavam a soar estranhas até para ele. Mas como diria de outra forma, se era a verdade? "Mesmo assim, eu nunca conseguia descobrir o momento exato em que você levava as amostras. Foi só numa noite, quando um cachorro começou a latir, que eu acordei e te vi pela primeira vez pela janela. Depois disso... eu comecei a te esperar." Sequer conseguia olhá-la, a essa altura.
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Eric era bem desajeitado. Ele não sabia mentir e nem disfarçar, e era nítido para Courtney o quão nervoso ele ficava diante de suas piadas provocativas e toques - ainda que não houvesse nada de especial, até então. Ainda assim, pelos olhos da garota, aquilo tudo lhe soava meio... fofo? Ele era bem diferente dos caras com os quais a jovem costumava lidar, que tendiam a ser valentões e arrogantes, e isso estava começando a deixá-la um tanto quanto curiosa a respeito do farmacêutico.
Assim que ele começou a dar as coordenadas, a Bernstein o seguiu com passos leves. Seus olhos já estavam parcialmente acostumados com o escuro, então ela não teve tanta dificuldade para enxergá-lo ou seguir o seu ritmo, ao mesmo tempo em que aproveitava para mapear o imóvel mentalmente. Quando passaram pela sala, seus olhos automaticamente seguiram em direção à porta de entrada, localizando-a. Seria útil para mais tarde. E, de acordo com que passavam pelos demais cômodos, a ela ia registrando tudo em sua mente. Sua memória espacial era ótima, permitindo com que Court se lembrasse dos locais pelos quais passava com uma riqueza de detalhes invejável - não era à toa que suas invasões à farmácia eram tão precisas e bem calculadas. E, por mais que o interior da casa dos Donovan mais se assemelhasse com o Edifício da Justiça do que com uma casa normal, por conta de todo o tamanho e quantidade de cômodos, isso não era um real problema para ela. Já havia invadido e se esgueirado por muitos lugares...
Quando alcançaram a escada, sua destra imitou o movimento de Eric e ela também se apoiou no corrimão, aproveitando-se dele para tornar seus passos ainda mais leves sobre cada um dos degraus de madeira. Seus olhos permaneciam atentos ao rapaz a sua frente, seguindo todos os seus sinais cautelosamente. Não tinha a menor ideia do que havia por trás de tantas portas, então apenas o acompanhou até o final do corredor, onde se encontrava o seu tão famoso quarto.
Courtney se esgueirou para dentro do cômodo assim que o jovem o fez, mas não se deu ao trabalho de olhar para trás para vê-lo fechar a porta. Ao invés disso, seus olhos percorreram o ambiente. Era realmente meio bagunçado. A luz verde, as plantas e todas as anotações pregadas nas paredes a pegaram desprevenida, e ela permaneceu encarando todo aquele cenário por alguns instantes. E permaneceria assim, caso um barulho na lateral da cama masculina não tivesse roubado sua atenção, fazendo com que a loira voltasse seu olhar para lá. Entretanto, antes que pudesse descobrir a origem do ruído, Eric se pôs em sua frente. Seu olhar então subiu de encontro aos olhos do garoto, o qual ainda parecia bem desconfortável. "Hmm, você não costuma trazer muitas meninas aqui, não é mesmo?" Era uma pergunta retórica e, por mais que soubesse que isso era meio torturante para ele, Court não conseguia evitar. Era engraçado vê-lo meio nervoso e envergonhado.
Em seguida, ela removeu a mochila das costas e se abaixou apenas o suficiente para conseguir apoiar a bolsa na lateral da cama de Eric sem fazer barulho. Seus olhos, por sua vez, voltavam a varrer o quarto do farmacêutico. Ela se aproximou das paredes, analisando por cima os esboços, calculos e anotações, vez ou outra tocando em algumas páginas com seus dedos. "Você que desenhou tudo isso?" Indagou, com o dedo indicando alguns rascunhos presentes em sua mesa de estudos e nas paredes. Sua atenção também seguiu até a estante, analisando por cima algumas plantas presentes ali. Era a primeira vez que ela via plantas em um quarto masculino, mas optou por deixar essa informação em sigilo. Haviam vários livros também, porém nenhum que fosse de seu conhecimento. "Não achei que você fosse tão nerd. Pensei que fosse apenas... Engomadinho." Comentou por cima, sequer dando muita importância para o seu próprio pensamento. Não sabia nada sobre ele, afinal. Assim como ele também não sabia sobre ela.
E então lá estava ela, a sua maior dedo duro: a janela. Quanto a esta, a Bernstein se aproximou com cuidado, se abaixando de forma com que ninguém do lado de fora pudesse vê-la. E sim, os pacificadores ainda estavam lá. Agora haviam mais, cerca de uns 4, e faziam buscas entre as caixas e o terreno ao redor da farmácia. A jovem respirou fundo, ainda sem saber o que pensar sobre tudo aquilo. Havia ido roubar remédios, e agora estava no quarto de um garoto que estava a ajudando sabe-se lá há quanto tempo, e sabe-se lá o porquê. "Eric..." Chamou-o, em tom baixo. Havia chegado uma hora propícia para o assunto, então ela não via motivo para não abordá-lo sobre. Em seguida, ela se virou em direção ao Donovan e se sentou no chão do quarto, com as costas apoiadas na parede que sustentava a janela, permitindo-se esticar suas pernas no espaço vazio entre a cama do rapaz e a parede. "Há quanto tempo você sabe?" Perguntou, com as orbes azuis fixas nos olhos castanhos dele. "Ou melhor, há quanto tempo você está me ajudando?"
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poohmatch · 10 months ago
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Courtney fazia parecer tão simples. Ela exalava uma aura invencível, junto àquele bendito sorriso... Era como uma teia de aranha, atraindo e enredando Eric. Sem que realmente percebesse, seus lábios estavam semiabertos, fascinado com a façanha dela. Os olhos gradualmente desciam para o estilingue, cujo alvo foi perfeitamente acertado. Uma aula de como lidar com pacificadores.
O comentário que ela fez, no entanto, o pegou de surpresa. De pronto, o calor subiu para suas orelhas, e ele arregalou os olhos, ainda de boca aberta. Buscava desesperadamente uma forma de se justificar, mas som algum saía.
Assim que a loira esclareceu que não se passava de uma piada, sua expressão e ombros relaxaram de leve, mas o nervosismo persistia. O instinto dele gostava - e muito - da ideia de ficarem a sós, mas a última coisa que queria era que aquilo soasse como uma troca de favores. Especialmente no quarto dele, o lugar menos apropriado; pior, sua casa, que agora era de conhecimento dela. A riqueza em função do vício das pessoas. "Uma piada." Repetiu, tentando processar a informação. "Sim, eu sabia que era." Mentiu sem muita convicção, enquanto forçava um riso e balançava a cabeça. Poucos átimos depois, a risada morreu na própria garganta.
Ele estendeu a mão de volta para se levantar e, ao testemunhar o toque firme dela, uma onda elétrica percorreu seu corpo. Pela forma como se encaixaram, sentiu Courtney emoldurar com os dedos a sua cicatriz circular, o que o deixou ainda mais desconcertado. Ele demorou alguns segundos a mais do que o normal para soltar a mão dela, absorto naquele contato fugaz. Porém, ao se dar conta, Donovan se desvencilhou abruptamente; sua mão espalmou-se ao lado do corpo como se tivesse levado um choque. Manteve o olhar fixo no chão, incapaz de sustentar as órbitas dela.
"Tudo bem, vamos." Murmurou, gesticulando sutilmente com a cabeça na direção que deveriam seguir, ao tempo em que começava a andar com passos cautelosos. Mesmo na escuridão, conhecia o caminho de cor. Inicialmente atravessou a sala de entrada, marcada pela amplitude e pelos móveis de tons frios, perfeitamente alinhados e apáticos. De longe, podia-se ver um prenúncio da cozinha e do escritório dos pais. Seguiram, porém, à lateral: a escada de madeira, que era espaçosa o suficiente para duas pessoas caminharem lado a lado. Eric subiu com cuidado, as mãos no corrimão e os olhos fixos à frente, concentrado em não fazer nenhum ruído que pudesse revelar sua presença. O piso de madeira rangia suavemente sob seus pés - nesse instante, ele novamente mal ousava respirar.
No topo da escada, Donovan olhou furtivamente para a porta fechada do quarto dos pais - a primeira visão que tinham -, respirando aliviado por não ter feito barulho suficiente para acordá-los. Por enquanto. Havia outros cômodos pelo corredor, sendo o quarto de Eric o último. Seus olhos encontraram os Bernstein, e ele acenou discretamente com a cabeça, um sinal silencioso de que era seguro continuar. Passo por passo, até chegarem à porta do destino. Eric girou a maçaneta devagar, abrindo-a com cuidado, e ingressou no ambiente. A entrada estava fechada por precaução; apenas caso os pais acordassem, assim imaginariam que ele ainda estava ali.
E por onde começar? O aposento do farmacêutico era uma exposição fatal de seus gostos e de suas vulnerabilidades. As paredes estavam cobertas por desenhos botânicos, fórmulas químicas rabiscadas e mapas detalhados. Na estante, plantas das mais variadas espécies e pilhas de livros se encontravam organizadas meticulosamente. Bem ao lado da cama, a janela, onde viu Courtney diversas vezes. A luz suave da luminária de lava lançava um brilho esverdeado no espaço, dando um ar quase onírico. Ele fechou a porta devagar assim que Courtney entrou, ainda tentando manter o máximo de quietude. "Chegamos…" Anunciou, em parte desconfortável; por outra, finalmente aliviado, com um suspiro alto saindo de suas pregas vocais.
Por pouco tempo. Num estalo, Eric mirou para escrivaninha onde a gaiola de Pip estava. O rato parecia ter acabado de acordar e estava se mexendo, inquieto. Com um movimento improvisado e para lá de desajeitado, Donovan se colocou de costas para a gaiola, numa tentativa de escondê-la. Assumiu, então, uma postura casual, passando as mãos pela cabeça e nuca. Tudo sob controle. "Eu não estava esperando visitas, então… ignore a bagunça." Claro, não havia bagunça, apenas suas coisas. E se Pip pudesse falar, diria que se sentia triste por ser motivo de vergonha.
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Seus olhos se fecharam por alguns instantes, enquanto a Bernstein aproveitava para recuperar o oxigênio que havia restringido por tanto tempo. Só se deu conta de que Eric também estava sentado no chão quando reabriu os olhos, mas sequer lembrava do momento em que ele tinha se sentado ali. Ele já estava sentado antes? Bem, isso não fazia diferença alguma para ela. Um sorriso ardiloso tomou seus lábios ao escutar a pergunta do rapaz, e ela apenas ergueu o estilingue que ainda carregava em sua mão esquerda, balançando-o levemente. "Eu sempre dou um jeito." Disse apenas, aproveitando para puxar a mochila para o lado e guardar o acessório dentro dela.
E, por mais que há pouco segundos o farmacêutico demonstrasse uma certa euforia e brilho no olhar pela grande façanha de Courtney, agora um semblante meio sombrio voltava a tomar sua face. O mesmo semblante que ele tinha quando ambos estavam dentro da farmácia, e de quando os pacificadores apareceram. Medo.
Automaticamente, o cenho da jovem se franziu. Tudo bem que não seria nada bom para eles serem pegos pelos pais de Eric, mas, na visão dela, só de terem se livrado dos pacificadores já era uma benção. O que poderia ser pior do que eles, afinal? 
Ainda assim, ela decidiu não questionar. Seu olhar se voltou ao ambiente ao redor deles, enquanto era informada sobre eles não poderem ficar ali. "Lembro de você ter mencionado sobre o seu quarto, é isso?" Indagou, ainda que já soubesse o que viria a seguir. Escutou atentamente as palavras seguintes do farmacêutico, enquanto seus olhos permaneciam fixos no aquário próximo deles. Era muito bonito, e Courtney não conhecia ninguém que tinha peixes em casa - não de estimação, pelo menos. A estrutura da casa dos Donovan parecia enorme, só o primeiro andar daria facilmente umas quatro casas da jovem, isso baseado apenas no espaço que estava ao alcance dos olhos dela. Parecia meio vazio e cinza, mas não era muito diferente das casas de família rica que ela já tinha visto em revistas ou jornais.
"Acho que essa é a desculpa mais criativa que já usaram para me levar para o quarto..." Provocou Courtney, voltando agora os olhos para Eric. Pressionou os lábios para conter o riso por conta da expressão dele e, antes que o mesmo pudesse dizer algo ou reagir, ela completou: "É brincadeira, Eric. É só uma piada." Exclareceu rapidamente, permitindo-se emitir um leve riso. Não sabia porque ele estava tão tenso, mas quebrar o clima com uma dose de humor era uma de suas especialidades.
Em seguida, a Bernstein se colocou de pé e estendeu uma das mãos para o rapaz, aguardando que ele a aceitasse e se colocasse de pé também. "Vamos logo, não quero ficar fugindo e me esgueirando a noite inteira." Comentou, aguardando até que Eric a direcionasse para o caminho de seu quarto. 
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poohmatch · 10 months ago
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Ashley sorriu largo, sentindo-se agraciada por todo o carinho de Claire. Por um lado, ficou honrada pela amiga estar disposta a gastar um dos melhores vinhos da casa em função de celebrar. Por outro, a noiva brindava silenciosamente à amizade delas, ainda que o cerne de tudo fosse o seu casamento. "Se continuar assim, eu vou acabar me casando com você!" Brincou em uma risada alta. No entanto, à medida em que refletia sobre o comentário, o riso suavizava gradualmente. Desde a adolescência, havia um temor silencioso entre elas sobre ultrapassar os limites. Referido receio tinha nome e rosto: sua mãe. Mas, não. Hoje a mulher que lhe criou não teria poder algum sobre si.
Com a resposta positiva da outra, Ash ficou de pé e deu alguns pulinhos animados. Logo passou ao plano: consumiu toda a bebida da taça em um único gole, a demonstração do quão empolgada estava. Só não esperava o que ocorreria depois, isto é, seus olhos apertando enquanto sentia a acidez arrepiar o corpo inteiro. As bochechas da loira já estavam vermelhas enquanto ela segurava, em uma mão, o vinho; na outra, os dedos da amiga, apertando-os nos seus e disparando para fora do bistrô. Rumo à praia, entre uma corrida perigosa - por pouco não derrubaria tudo - e gritos eufóricos. Deixaria a taça para trás, apenas precisaria da boca da garrafa.
Tal como o contexto, a cena vinha em ondas, um déjà-vu de quando eram mais novas. Ao pisar na areia, Ashley retirou rapidamente seus sapatos e os deixou de qualquer jeito, avançando descalça e com os cabelos loiros brincando com o vento. Em determinado ponto, ela parou no meio da areia e deu outro gole generoso na boca da garrafa do vinho, franzindo os olhos novamente ao sentir o álcool na garganta.
"Bom, agora que você e o vinho são todos meus..." Ela iniciou, meio ofegante, meio sorridente, entregando a bebida nas mãos da amiga. "Você vai ter que fazer tudo o que eu quiser." O tom era sério, mas obviamente se tratava de uma brincadeira - ou quase. "Dança comigo, Clai." Pediu, enquanto colocava as mãos nos ombros de Howey, tentando guiá-la para o ritmo que estava em sua cabeça. Bailarina por natureza, dançar sempre era sua forma de escapar. Ela sabia que Troy nunca aceitaria algo assim - o noivo sempre considerou Ashley um tanto aleatória em alguns momentos. Mas, com Claire, Ash sentia que poderia ser ela mesma. Mesmo que por um dia.
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Observou a reação dela com o elogio e Claire só conseguiu pensar em como não entendia como alguém poderia ser tão adorável em cada gesto e expressão que fazia, tinha certeza que nunca conheceu mais ninguém assim e nem a morena conseguiria ser assim se quisesse, ela era a definição de uma pessoa graciosa. Amava ver as reações de Ashley, por isso sorriu ao perceber que ela estava finalmente parecendo animada, assim como deveria ser desde o inicio ao se contar sobre um noivado, ficou aliviada por isso.
Deu uma risada leve com a fala dela. "Você estaria muito enganada se pensa que vai vir até o meu bistrô, me contar que está noiva e achar que vai sair sem beber meu melhor vinho em comemoração." Respondeu em um tom sério, mas em uma clara brincadeira. Sorriu mais largo ao escutar a adição dela ao brinde, logo bebendo um gole longo do vinho. Estava começando a se sentir feliz, não feliz por si mesma, sentia uma tristeza que queria afogar e esquecer que estava sentindo, provavelmente iria beber uma garrafa inteira se fosse preciso quando estivesse sozinha em casa mais tarde para superar tudo, mas estava feliz por ela, Ashley estava feliz e no fim era só isso que importava. Além de que iria participar da felicidade dela, tinha visto como a sua recepção a noticia tinha importado para ela, então só queria poder deixar ela feliz também e se para isso precisasse ser a madrinha dela e acompanhar cada detalhe desse casamento, faria com um sorriso no rosto.
Ergueu uma sobrancelha com a fala dela e vendo ela se aproximar, logo acompanhando o olhar dela para a vista, dando uma risada nasalada ao entender ao menos onde ela queria ir. "Sou toda sua, madame, e o vinho também." Falou com um sorriso, logo se levantou e olhou pelo estabelecimento para chamar a atenção de uma funcionária e fez um sinal que iria sair para deixar avisado, Claire tinha uma boa relação com as poucas funcionárias que tinha, o suficiente para elas já saberem que quando a loira estivesse no local, a atenção de Claire estaria pela metade já que a outra metade ia estar toda na amiga. Por fim, tomou mais do vinho, segurando a taça para levar e esperando ser deixada levar pela outra. "Me mostre sua ideia."
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poohmatch · 10 months ago
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Eric não se lembrava a última vez que se sentiu assim, como se fosse capaz de virar o corpo do avesso. O coração já não lhe pertencia; estava volteando por todos os cantos daquele terreno, menos no corpo. A respiração, curta e irregular, se somava à cada segundo do relógio que culminava naquele cenário de tortura.
As lanternas dos pacificadores passaram a poucos milímetros de alcançar Courtney, e seria questão de tempo até que a encontrassem escondida atrás das caixas. As mesmas caixas que seus pais haviam empilhado após descarregarem remédios, e Eric nunca se sentiu tão grato por algo tão trivial. A despeito da pequena sorte, a inquietude ainda o sufocava; as órbitas escuras alternavam entre Courtney e os pacificadores, enquanto suas mãos revezavam o caminho, ora sobre a cabeça, ora nos lábios trêmulos.
O que faria? O que faria? O que faria?!!! A pergunta repetia-se tantas vezes que soava como uma prece desesperada, um grito por socorro. Não era exatamente algo que pudesse se orgulhar, mas a primeira reação de Eric diante do medo era congelar. No entanto, uma parte dele, estranhamente emergente naquela situação, sentia uma necessidade quase visceral de sair da casa e se entregar no lugar dela. A ideia, porém, desmoronava tão rápido quanto surgia. Ele tinha conhecimento de que, ao atrair a atenção dos pacificadores, só facilitaria para que encontrassem Courtney. Mais do que isso: sabia que, ao revistarem a bolsa dela, não haveria argumento ou mentira que pudesse salvá-los.
Antes isso do que ela ser pega sozinha. Indo contra toda a lógica que acreditava e todo o princípio de conservação à própria vida, Eric chegou a colocar um passo para fora da porta. Já não conseguia ver o que Courtney estava fazendo e muito menos imaginar o que estava pensando. Contudo, num sobressalto, um novo barulho o fez arregalar os olhos e ele se viu engolido pela cena seguinte: Bernstein vindo ao seu encontro. Ele deu alguns passos desajeitados para trás e, de forma patética, acabou caindo no chão, abismado, pasmo, maravilhado. Maravilhado? Sim, Courtney conseguiu o impossível: fez Eric sentir algo que não acreditava ser capaz naquele momento. Havia uma coragem nela que o deixava se perguntando como existia alguém assim; e como ele se sentia de alguma forma encontrado por estar completamente perdido com ela.
Por certo tempo permaneceu imóvel, aguardando qualquer sinal de protesto, porém os pacificadores aparentemente não perceberam. Então, a palavras de Courtney o fizeram sorrir, mas não se passava de um sorriso nervoso misturado com alívio. Silenciosamente, os olhos estudavam qualquer sinal de ferimento no corpo dela - feliz por não ter encontrado -, enquanto tentava fingir que estava sentado no chão por algum motivo que não fosse ter caído. "Isso foi..." Pretendia elogiá-la, mas a frase morreu sozinha, junto à respiração entrecortada. Tentou de novo: "Como você fez isso?" Embora claramente confuso, seu tom carregava um lastro de admiração.
Ocorre que o mesmo alívio imediato que foi ao ao vê-la dentro, sã e salva, era a tensão que ainda agarrava seu corpo. A despeito de finalmente estarem dentro da sua casa, seu lar não oferecia segurança alguma. Estava longe de ser um porto seguro - era apenas outro ponto onde o medo os encontraria.
Precisava falar do seu quarto. Era o único lugar que seus pais lhe davam paz, como se fosse um ambiente destacado da casa. O farmacêutico passava horas lá, enfurnado entre suas anotações e estudos, mas agora a ideia de levar Courtney até esse espaço o incomodava. Primeiro, porque o trajeto até o final do corredor no andar de cima sempre parecia muito mais longo do que realmente era. Segundo, o quarto estava coberto de desenhos detalhados de botânica e fórmulas químicas colados nas paredes, nada que ele imaginava ser atraente ou digno de chamar a atenção da garota. E, terceiro, por causa de Pip.
"Nós não podemos ficar aqui." Levantou o olhar, quebrando o assunto à contragosto. A luz tênue do aquário, com seus peixes quase mortos, lançava um brilho suave sobre a pele de Courtney, deixando-a ainda mais bonita em meio à penumbra. Logo repreendeu-se pelo pensamento, mas não conseguia evitar.
Ao todo, não parecia certo forçá-la a ir para o seu quarto, porém quais eram as outras opções? Não poderia correr o risco, não depois da parte mais difícil. "Meu quarto é o único espaço onde podemos ter alguma chance de segurança. Se ficarmos aqui, meus pais vão nos encontrar." Eric estava com os joelhos dobrados à frente e as mãos cruzadas sobre eles, gesticulando de leve com os dedos enquanto falava. Entoava com firmeza, a urgência certa em sua voz. O desconforto também. "Você vem comigo?" O convite era sincero, sem qualquer pressão - embora pressão fosse um pré-requisito para toda a circunstância. Não à toa, o rapaz estava prestes a se mover, esperando que ela o acompanhasse.
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Ela poderia ter trancado a porta em questão de segundos, caso não estivesse fazendo isso escondida e sem se permitir fazer um mísero barulho. As duas primeiras trancas foram relativamente fáceis, pois já sabia quais eram as chaves correspondentes para cada e as fechaduras giraram sem problema algum. Entretanto, justo na última, Court começou a ter problemas. Por alguma razão a tranca não queria girar e nem soltar a chave, fazendo com que os dedos da garota começassem a suar de nervoso. Ela precisava sair rápido dali, não tinha tempo para aquilo. Então, em um movimento arriscado, a Bernstein girou a tranca com força, fazendo com que ela desse o último giro e trancasse a porta, porém junto de um estalo. Não era um barulho tão alto a ponto de chamar a atenção caso estivesse durante o dia; entretanto, considerando o silêncio do horário e toda a tensão que pairava sob o ar, era alto demais.
A loira retirou a chave da tranca e, em questão de instantes, ouviu o barulho dos passos pesados se aproximando, enquanto as luzes das lanternas começavam a bater contra os muros do loteamento. 'Que droga!', amaldiçoou, se levantando rapidamente e seguindo em passos leves em direção à entrada da casa dos Donovan.
Já estava na metade do caminho quando calculou e viu que não daria tempo de entrar antes que a lanterna a alcançasse. Sendo assim, Courtney virou em direção à algumas caixas de madeira que havia no local e se escondeu atrás delas. Foi apenas o tempo de ela se abaixar e a lanterna dos pacificadores iluminar as caixas, enquanto eles já caminhavam pela calçada onde antes a dupla de jovens se encontrava. O coração de Court estava acelerado, mas ela buscava se controlar. Só estaria completamente a salvo após entrar na casa dos Donovan, então precisava pensar no que faria para os pacificadores saírem dali. 
Não precisava olhar para trás para saber que eles agora se encontravam em frente a porta, enquanto conversavam entre si e verificavam as fechaduras. Bernstein sabia que o que viria a seguir seria uma busca pelo terreno, então precisava se apressar. Lentamente, retirou a mochila das costas e a abriu com cuidado, retirando de dentro dela um estilingue e um bola de gude que sempre acabava furtando de seu irmão para esses momentos. Seria um golpe arriscado, então precisava dar certo.
Court se posicionou de forma com que pudesse espiar entre as caixas, conseguindo observar agora tanto os pacificadores quanto o restante do terreno. Haviam outras caixas do outro lado, então, caso acertasse o tiro, a garota poderia gerar um barulho de movimento próximo às caixas, atraindo assim os pacificadores para lá. Isso daria a ela tempo o suficiente para se levantar e ir de encontro a Eric. Não seria muito, mas o necessário. Entretanto, caso errasse o tiro, correria o risco de ser pega, já que o estilingue tinha o seu próprio barulho quando algo era atirado com ele - o retorno do elástico, mais precisamente falando, além do ar sendo cortado com a bolinha.
Não tinha muito tempo para pensar, então focou em agir. Posicionou novamente a mochila nas costas, segurou a pedrinha de modo firme no estilingue e mirou no muro, de uma forma com que o impacto fosse suavizado pela parede e ricocheteasse entre as caixas, chamando a atenção dos guardas. Se atirasse direto nas caixas poderia danificar a madeira e soar demais como um tiro, e Court não queria correr esse risco. 
Assim que o tiro foi dado e o alvo acertado, as luzes e toda atenção dos pacificadores se voltaram para a direção oposta do terreno. Eles ficaram em silêncio, assim como Court, que buscou espelhar seus passos com os passos dos guardas. Seus olhos se encontravam fixos neles, enquanto ela buscava se aproximar lentamente da casa dos Donovan. Sequer olhou para a porta antes de alcançá-la. E, ao sentir a madeira com sua destra, Courtney se esgueirou para dentro da casa, encostando suas costas contra a porta após fechá-la, permitindo que seu corpo agora cedesse até o chão. "Achei que eu fosse acabar na forca!" Soltou baixo, com um riso nervoso. Seus olhos se voltaram para Eric, que parecia que tinha visto a morte cara a cara. "Pode respirar agora, acho que estamos salvos... Ao menos por enquanto!"
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poohmatch · 10 months ago
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Havia algo inegavelmente estimulante nas provocações de Elena. Óbvio que estava saindo caro - possivelmente, mais do que um pix -, e era importante acrescentar que aquele era apenas o começo. Mas quanto mais alfinetadas recebia, mais atraído ele ficava. Força do hábito, quem sabe; Pascal amava um desafio. Ao atravessar com as malas e receber o comentário sobre sua (falta de) força, ele franziu os olhos e formou um sorriso cínico, sem dar mais que uma olhada rápida. As partidas de futebol e rugby que ele costumava jogar se tornaram mais raras, já que os horários com os amigos nunca coincidiam. No lugar, o médico passou a frequentar a piscina e as máquinas da academia, o que o ajudava a manter a forma. Precisaria provar? Não. Era divertido deixá-la subestimar, afinal sabia que poderia demonstrar o contrário mais tarde.
Dentro do carro, Pascal ligou o ar-condicionado no máximo e, em um movimento contraditório, abriu as janelas. Medidas drásticas para momentos igualmente drásticos. Quando ouviu o apelido - corazón -, um sorriso puxou o canto da boca. Ele gostava da forma como os lábios cheios de Elena o pronunciavam; o leve bico que ela fazia acendia uma fagulha perigosa dentro dele. Até os mínimos detalhes importavam. Por outro lado, sabia bem que o apelido não guardava qualquer exclusividade. Outros vagabundos poderiam muito bem recebê-lo. "Claro, claro." Ele respondeu sem dar muita importância, com exceção da última parte: "Prometo que essa vai ser intensa o suficiente para compensar." Certamente, não era apenas sobre a viagem.
Como de praxe, a pequena proximidade não vingou. Isso faria Matheus deixar de tentar? Também não. "Entendido, madame." Fingiu-se de obediente, mas terminou por se inclinar um pouco mais para perto. "Só não se esqueça que sou muito convincente quando quero." Comentou, preso na aproximação, antes de se afastar completamente. De imediato, ajustou os óculos de sol no rosto com um toque de teatralidade, até dar partida no carro. Então, pisou no acelerador com tanta força que a brisa que entrou pelas janelas não deu tempo para reflexão, apenas bagunça absoluta. Ser a carona de Matheus era como viver na beira de um precipício, o último dia de vida.
Podia piorar. Quando sentia que Elena poderia reclamar da velocidade, ele fazia uma virada com o carro ainda mais perigosa. Rumo ao aeroporto, se não sofressem um acidente antes. "Você mudou a minha playlist." Constatou imediatamente após a réplica dos Velozes e Furiosos, revezando olhares amargurados entre as ruas e o rádio do veículo. Com a mão firme no comando de música do volante, o rapaz passou a pular as músicas freneticamente até achar uma relativamente mais agitada. O som que surgiu era um que não ouvia há tempos. "Qual é essa mesmo?" Provavelmente, "Rude" do Magic!. Levou alguns segundos até relembrar. "Marry that girl, marry her anyway, yeah, no matter what you say." Matheus improvisou uma cantoria enquanto batucava no volante.
Toda a encenação não teria sido possível - ou ao menos não seria tão divertida quanto - se tivesse aceitado a sugestão dos pais de ir com um motorista particular. Matheus queria privacidade com Elena, mesmo que a privacidade sempre o levasse à perda do controle. "Não vai cantar? Você já foi melhor, Elena." Com um olhar de soslaio e um riso patife, ele decidiu puxar assunto como uma pessoa normal. "Além das pantufas, também trouxe um pouco do mau humor dos Estados Unidos?" Já que o tópico entre eles era sobre pagar caro, Matheus não se esqueceria tão cedo das fatídicas pantufas do primeiro dia.
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Matheus não conseguia disfarçar, e o semblante dele enquanto se controlava para relevar as provocações de Elena causavam uma imensa satisfação à empresária, que se divertia ao sentir que tinha um pouco de poder em suas mãos. Ao ouvir a provocação sobre as malas, seus olhos se reviraram rapidamente, enquanto suas mãos envolviam o buquê. "Isso tudo não seria necessário caso sua mãe se contentasse apenas com rosas. Boas noras são caras e difíceis." Ela devolveu. O observou abrindo a porta para ela e, em seguida, adentrou o veículo e se acomodou em seu assento. Bem, era 'seu' no passado, já que agora tratava-se apenas do banco do carona. E sabe-se Deus quantas vagabundas o Matheus não teria carregado naquele carro nesse meio tempo em que eles haviam terminado... Enfim, isso não era da conta dela, de qualquer forma.
Aproveitou a ausência do médico para dar uma conferida no veículo, assim como se livrar da playlist detestável que ele estava escutando. Colocou em alguma rádio qualquer onde tocava algumas músicas mais tranquilas e praianas, já que Elena precisaria trabalhar toda a sua calma e autocontrole durante as próximas 48 horas. Uma coisa seria quando estivessem à sós, mas na frente dos pais de Matheus ela teria que agir como sua versão antiga. Não que mudasse muita coisa, já que ela ainda era a mesma pessoa, porém os sentimentos que sentia pelo ex não eram mais os mesmos, e ter que olhá-lo e tocá-lo da mesma forma com que o fazia antes era algo que a deixava tensa. Não sabia se conseguiria fazer isso ser convincente, mas daria o seu melhor.
Quando voltou sua atenção para fora do carro, Matheus ainda estava carregando a última mala. Ele parecia cansado e um pouco suado, o que fez com que Elena contesse o riso. "Você parou de treinar? Acho que você era mais forte antes, hein?!" Provocou novamente, escorando seu braço e sua cabeça na janela do carro, enquanto seguia-o com os olhos até ele completar a tarefa.
Assim que o ex adentrou o veículo, ela acenou com uma das mãos para o Sr. Omar, despedindo-se dele. Em seguida, se reajustou sobre o banco, colocando agora o buquê no banco de trás e deixando o seu colo livre. Observou Matheus de relance e notou que ele não parecia muito feliz, mas não queria dar-lhe o luxo de ter sua total atenção, então apenas permaneceu na sua até o momento em que ele quebrou o gelo. "Ah, sabe como é, né, corazón? Do Brasil para a Espanha, da Espanha para os Estados Unidos... Não estou mais acostumada com viagens curtas." Retrucou, dando levemente de ombros. 
Ela permaneceu imóvel no instante em que ele se virou para ela, tentando entender o que ele queria com aquilo. Como sempre, Matheus era um sem vergonha e estava apenas inventando algum pressuposto para se aproximar dela. Para tocá-la. Era óbvio que ela sabia que estava irresistível naquele vestido, mas o que mais poderia fazer? Sempre havia se vestido bem, e não iria sair feia durante um final de semana inteiro na esperança de que ele se controlasse. Sendo assim, ao escutar o comentário dele, Elena limpou a garganta. Seus braços se cruzaram, e seu olhar permanecia fixo na paisagem à sua frente. "Então sugiro que você pare de ficar me secando e acelere, do contrário vamos acabar nos atrasando e seus pais vão ficar bravos." Respondeu. "Além disso, não se atreva a ficar me tocando enquanto estivermos fora do alcance deles. É só para eles que estamos fingindo, não temos que ficar atuando o tempo todo." Completou, voltando agora o olhar para Matheus, esperando que ele cooperasse.
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poohmatch · 10 months ago
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Futura colega de quarto... Entrevista. Sim, Bonnie havia marcado, porém essa informação se misturava no espiral das outras: ela não se recordava. Poderia ter começando a duvidar da própria sanidade, bem como a ficar amargamente angustiada, não fosse sua atenção ter se concentrado na figura de Juliana.
Automaticamente, Bonnie sentiu as bochechas esquentarem. Ela com certeza não estava preparada ou bem vestida para a ocasião, especialmente ao comparar-se com a outra, que estava impecável. Não bastasse isso, Juliana trazia algo que exalava um aroma delicioso - Aslan não conseguia identificar o que era, até então.
"Juliana, que bom te conhecer! Eu sou Bonnie, como você viu no anúncio." A turca sorriu nervosamente, não conseguindo disfarçar o sotaque ao pronunciar o prenome da convidada. Limpou as mãos no avental antes de oferecer um aperto de mão eufórico. "Fique à vontade! Perdão pela bagunça, eu estava terminando de arrumar as flores..." Procurou justificar. E poderia ter parado nesse ponto, mas Bonnie falava por demais...
"E desculpe também pelo meu grito e por te chamar de assombração... Não é isso, na verdade você é muito bonita, errr..." Seria bom calar a boca, agora. Numa fração de segundo, tentou mudar de assunto. "Quer dar uma olhada no apartamento antes?!" Com as mãos na cintura, Bonnie mirou o apartamento - uma forma de esquivar-se do olhar de Juliana e se proteger da vergonha que sentia. Estava soando exagerada demais e temia estar assustando a talvez-futura-possível colega de quarto.
Fosse como fosse, o imóvel tinha um charme acolhedor e intimista, com quadros, estantes de livros e vasos distribuídos. A entrada introduzia inicialmente para a sala de estar, com seus móveis antigos, porém mais do que confortáveis. Sua parte favorita, porém, era a varanda, ampla e com uma vista encantadora. Era ali que Bonnie passava horas cuidando do jardim de flores; onde inclusive estava, minutos atrás. Antes de estar passando o vexame atual...
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Ela precisava daquela vaga. Não podia aguentar mais uma noite no seu dormitório atual, mesmo que precisasse sacrificar seu orçamento, era melhor do que morrer asfixiada com alguma espécie de gás que uma de suas colegas de quarto estava manipulando.
Quem observasse de longe diria que ela estava se preparando para uma vaga de emprego. Lavou e modelou as madeixas, colocou seu conjunto mais novo e preparou dois quitutes para presentear a dona do apartamento: uma porção de pão de queijos e outra de brigadeiros. Pensou em como aquilo poderia ser considerado suborno, caso realmente estivesse em uma entrevista de emprego, mas era só um jeitinho a mais de conquistar a sua mais nova - se Deus quiser! - colega de quarto.
Respirou fundo antes de adentrar no corredor, se preparando para deixar para trás o estresse da sua pesquisa e as mensagens não respondidas no Linkedin, caminhou em direção ao número do apartamento de Bonnie e sentiu que estava sendo observada. Um senhor de idade a encarava do final do corredor, espreitando por detrás da porta, e com uma expressão de curiosidade no rosto. Não importa o país, sempre tem vizinho intrometido.
A porta já estava aberta e ela conseguia contemplar a jovem mulher que andava de um lado para o outro. Não parecia ser o tipo de pessoa que manuseava componentes químicos de madrugada, ou seja, era perfeita! Assim que a outra se assustou com a sua presença, Juliana passou a mão pelos cabelos, será que o babyliss nas pontas não tinha dado certo ou ela tinha exagerado tanto na base assim?
"Ah, desculpa, eu que cheguei alguns minutos adiantada!" Abriu um sorriso e estendeu a mão para cumprimentá-la. A risada cativante de Bonnie aliviou sua preocupação de ter sido comparada com uma assombração. "Sou a Juliana Silva, sua futura colega de quarto, marcamos uma entrevista hoje."
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poohmatch · 10 months ago
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As orelhas ardiam em vermelhidão enquanto a ideia era lançada. Seu quarto. Eric não se sentia pertencente da própria situação que criou: soava como uma perversidade, mas suas intenções eram as mais respeitosas. As mais altruístas.
Courtney ter confiado em sua ajuda era um bom começo. A despeito disso, a mente de Eric prosseguia atormentada: a garota ainda poderia mudar de ideia, rompendo a aliança temporária que haviam formado e simplesmente deixá-lo à deriva com os pacificadores. Ser pego naquele horário lhe traria consequências temerárias, mais do que uma chapa quente. Naquele momento, a cicatriz circular queimava como se fosse ontem que tivesse sido prensado nela, agonizando em dor.
Felizmente, por uma sorte que fugia ao seu conhecimento, a proximidade dos pacificadores não foi consumada até o fim. Pouco a pouco, seus passos se distanciavam e, em dado segundo, Eric conseguiu liberar a respiração até então presa - temia que o som irrisório dela pudesse ser sinal para que voltassem. Acompanhou a garota no instante que ela ficou de pé, não tardando a ouvir as suas instruções com atenção. Ela parecia habituada à adrenalina da vida, enquanto Eric paralisava ao menor sinal dela. Afinal, sua existência, apesar de ceifada de qualquer liberdade, ainda era privilegiada demais em comparação a qualquer outro cidadão do Distrito 6.
Não protestou em entregar o bolo de chaves, e, a cada palavra, assentia desesperadamente. Menos na última: deixá-la. "Eu não sei se consigo fechar. Eu não quero te deixar para trás." Admitiu, amaldiçoando-se logo depois por dizer com todas as letras o quanto se importava. Agora tinha plena noção disso; de que Court ser pega lhe traria sofrimento, tanto sofrimento que poderia ser considerado como um tolo. "Tudo bem, tudo bem. Espera." Desconversou a respeito do que dissera e balançou a cabeça, apertando os olhos brevemente. Sabia que não poderia mais prolongar - precisava ajudá-la, rápido. A pouca luz que adentrava o recinto não auxiliava na empreitada, no entanto, ao tomar as chaves nos dedos, sentiu imediatamente a textura e o formato. Indicou-as uma a uma: "São três passos. A chave grande é para a tranca principal, a do meio é para a segunda, e a menor é para a terceira. Cuidado com a última, porque ela costuma emperrar." Um detalhe não muito favorável naquele instante.
A parte seguinte foi a mais difícil. Prosseguir sem ela. Eric respirou fundo e a alcançou, caminhando com leveza. Era bom em ser discreto, porém não sabia se poderia confiar nas pernas que pareciam sabotá-lo pelo pavor. Com o sinal de Courtney, ele hesitou por um átimo - como se quisesse se despedir pelo olhar - até sair a passos de bebê. A porta da casa havia remanescido destrancada e ele ingressou cautelosamente, deixando-a parcialmente aberta para conseguir ver se Courtney estava bem. Sentia vontade de roer as unhas enquanto a via de longe, mas deteve-se enquanto apertava a mesma entrada que segurava. Torcia para que conseguisse, pois sabia que jamais se sentiria a salvo enquanto ela não estivesse; por alguma razão desconhecida, suas correntes pareciam iguais e intrincadas uma na outra.
Preso na cena da tranca, o rapaz mal olhava para o interior da casa, cujo acesso desembocava para a sala de estar. A residência era marcada por tons neutros e uma decoração sóbria, com poucos objetos pessoais à vista - o que não deixava de reforçar o distanciamento emocional que permeava o ambiente. A única fonte de luz vinha de um aquário próximo, iluminando o espaço com um brilho suave, embora os peixes parecessem mais mortos do que vivos.
À medida em que a aguardava, um barulho repentino fez com que Eric se sobressaltasse. Não saberia precisar o que era ou de onde vinha. Seu coração nunca disparou tão rápido e ele sentiu o pânico minar qualquer determinação que teve anteriormente. "Courtney!" Sussurrou entredentes, temoroso por sua segurança.
Foi a primeira vez que verbalizou o nome dela. Apesar do ineditismo, soou surpreendentemente familiar, como se o conhecimento fosse mais profundo do que a simples curiosidade que o levou a descobrir cada letra. Seu sentimento por ela era íntimo demais para que pudesse esconder; exageradamente intenso para que simplesmente fechasse a porta, acabando de uma vez por todas com aquilo. Nunca seria capaz de coisa como tal. Ainda assim, a expressão em seu rosto revelava o mais puro senso de pânico.
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A situação como um todo era novidade para Courtney, mas o que mais a deixava sem jeito era o fato de Eric estar lhe ajudando. Se fosse simplesmente alguém a pegando no flagra, ela poderia tentar lutar e fugir. Corria bem rápido e sua estamina era razoável, então talvez até conseguisse despistar os pacificadores no meio da fuga. Entretanto, ter alguém do seu lado, disposto a ajudá-la, a deixava receosa. Parte de si se sentia grata pela ajuda, já que ela também não se orgulhava do que estava fazendo. Mas, outra parte, sentia medo. Como se a qualquer momento o rapaz pudesse simplesmente lhe esfaquear pelas costas e a entregar aos pacificadores. Até porque, por que ele não faria isso? Poderia muito bem estar mentindo.
Sua racionalidade gritava por mais cautela, mas a Bernstein enxergava um olhar familiar vindo dos olhos do farmacêutico, então queria acreditar que ele estava ao seu lado. Era mais forte que si, precisava arriscar.
A parte do alarme a chamou atenção, porém ela não questionou. Novamente, não havia tempo para isto. Assim como também queria entender o porquê do 'não precisa ser a última vez', sendo que ele não parecia feliz com ela levando mais do que ele havia lhe dado. Talvez fosse o medo o impedindo de agir do modo com que gostaria, mas as únicas ações que Court podiam controlar eram as próprias e ela não estava ali para brincadeira. Tinha muito a perder. Muito mesmo.
E aguardava a explicação da ideia dele de a tirar dali, quando foram 'interrompidos' por passos se aproximando e Eric a puxou para trás de um dos armários. Ela se abaixou junto dele e observou a movimentação dos guardas pelos barulhos que eles faziam e pelas luzes das lanternas que entravam por algumas das poucas janelas do local. A cada novo passo para próximo da porta o coração da loira ficava mais apertado, e ela se questionava o que faria caso eles notassem que a porta estava aberta e adentrassem o local. Sabia que, nesse caso, teria que contar com uma improvisação por parte do garoto, mas não confiava o suficiente nele para se sentir calma sobre isso. Pelo contrário, acaba sendo pessimista nesse aspecto.
Para o seu alívio momentâneo, antes que os pacificadores chegassem até a porta e notassem que a mesma se encontrava entreaberta, uma voz vinda da rua aparentou chamar a atenção deles, fazendo com que os passos agora começassem a trilhar o caminho de volta. Court não sabia até quando isso iria acontecer, então eles precisavam agir, e agora. O papo de Eric a levar até o seu quarto a deixava com uma pulga atrás da orelha sobre as reais intenções dele com tudo isso. Afinal, ele estava a 'salvando', e agora 'acidentalmente' a levaria até o seu quarto... Isso soava estranho, bem estranho; mas, ainda que as intenções dele não fossem puras, era melhor acabar prestando favores do que sendo pega pelos pacificadores. "Não temos tempo para discutir isso aqui. Se eles voltarem e virem a porta entreaberta, nós estamos fodidos. Vamos entrar, depois nós pensamos o que fazer." Respondeu, voltando a se colocar de pé e jogando a pequena mochila com seus itens em suas costas.
Se apressou e buscou nas mãos de Eric o bolo de chaves que antes ele portava, já que seria muito mais rápido se alguém com mãos firmes fechasse as três trancas novas da porta. Por um instante ela notou a cicatriz circular na destra do farmacêutico, porém não parou para prestar uma real atenção neste detalhe. "Você vai na frente, eu tranco a porta. Me espere na porta da casa e eu entrarei em seguida, ok? Se os pacificadores voltarem antes de eu conseguir entrar, apenas feche a porta e não os deixe te ver. Eu me viro, se for necessário." Instruiu rapidamente, ainda mantendo o tom o mais baixo possível. "Qual delas fecha qual tranca?" Indagou, abrindo em sua mão o leque de chaves presentes no bolo. Poderia testar uma por uma, mas isso levaria tempo e chamaria atenção.
Assim que Donovan indicou para ela os pares ideais, Court não perdeu tempo e seguiu com passos leves pelo corredor até a porta, aguardando apenas até que Eric passasse por ela para guardar a madeira que antes apoiava ali e encostá-la. Seu olhar se voltou momentaneamente até a direção de onde antes os pacificadores estavam vindo, verificando se vinha alguma movimentação dali, voltando então para o garoto e indicando com a cabeça que era para ele se adiantar. Em suas mãos ela dedilhava as chaves de maneira mais suave e silenciosa o possível, enquanto confirmava as indicações que o outro havia lhe feito. 
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