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Não tinha ouvido o som novo do mark ronson, uma pegada bem marvin gay
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Educação não é só metas.
(Esse texto foi originalmente publicado no meu medium, medium.com/@rafalopespx)
Essa semana tivemos um bom debate sobre educação no país, principalmente devido às várias falas desastrosas do ministro da educação e também as vergonhosas surras verbais que ele sofreu na comissão de educação do congresso. Tá, mas é aí que começam os problemas, basicamente todo mundo nas minhas redes sociais se mostrou de algum modo preocupado com a educação brasileira mas sem muito mais entendimento, aprofundamento ou debate de modo mais sério da questão. Educação sempre foi um tema que me interessou muito, após terminar a faculdade de física fui fazer licenciatura pois queria entender o que além de saber física torna alguém um professor de física, basicamente o que eu descobri é que saber física é a menor parte de ser um professor de física, o que talvez seja verdade para as outras disciplinas também.
Primeiro de tudo o que discutimos no curso de licenciatura é como nós aprendemos, sob quais aspectos e de que forma somos capazes de compreender e reproduzir um ensinamento. Isso para minha surpresa é toda uma área do conhecimento humano, a epistemologia, que estuda como se forma e se estrutura o conhecimento humano. Tá, mas o que isso tem a ver com as falas do ministro na comissão de educação e as sapatadas que lá ele tomou?
O vídeo que com certeza mais foi reproduzido foi o fala da Tábata Amaral, deputada eleita pelo PDT-SP. Tábata tem uma história de vida de superação e sempre é lembrada como alguém que fez acontecer e não se limitou pelas limitações que o Brasil impôs a ela, como ela mesma disse em parte da sua fala ao ministro, e outra ocasiões, que se não fosse a fé e a ajuda de professores em serem resilientes em ensiná-la ou darem suporte a ela, ela não teria feito o que fez, que é algo bem espetacular. Tábata saiu da periferia de São Paulo e foi cursar em Harvard Ciências Políticas e Astrofísica, tudo através de bolsas e pelo mérito de ter se destacado como aluna em seus anos de escola pública.
No vídeo acima o que vemos é uma jovem deputada, eleita com a plataforma de lutar por mais oportunidades para a educação de jovens no Brasil, derramando suas angústias e pesares, muitos dos quais compartilhados por mim também, frente a um ministro da educação que chegou no principal lugar para se discutir os planos do atual governo para educação com um power point paupérrimo até para os piores cenários de onde essa tecnologia costuma ser usada. Mas o que me chama atenção para além do show de vergonha alheia que o ministro passa, é que Tábata fala diversas vezes e dá ênfase a isso numa sequência de palavras bem específicas, são elas, metas, planos e resultados. Tábata questiona o ministro como é possível apresentar uma tentativa de plano de gestão de uma das pasta mais importantes de qualquer país sem expor de forma clara, o que se fará, como se fará e o que se esperar atingir com isso. Questionamento muito válido e muito dividido comigo também, porém Tábata não nega em nenhum momento que seja qual for o plano do ministro, que como ela diz estão elencados em forma de desejos nos bullets do power point, que compartilha desse mesmo plano para a educação do país. Isso me chama a atenção pois a muito eu sei duas coisas relacionadas a esse vídeo; uma, o ministro é uma pessoa despreparada para a pasta e mau entende as bases e as formas de ações da educação brasileira e segunda, eu não compartilho da visão de Tábata para a educação do Brasil, sendo ela diferente porém próxima à do ministro.
A visão de Tábata para a educação, até onde eu sei, é algo entre a visão meritocrática dos grandes grupos empresariais educacionais do país e a visão romântica e até infantil da educação como um ato de resiliência, palavra que Tábata usa bastante, ou sinônimos. A palavra resiliência aparece também em vários outros lugares, como em qualquer vídeo do Instituto Ayrton Senna, Fundação Lehamnn, Vetor Brasil, entre outros. Basicamente, todos esses grupos, e a Tábata, acham que educar é somente um ato de ter professor com vontade e aluno que precisa aprender e favorecer esse encontro o máximo possível. Parece simples, e parece realmente uma resposta razoável para a educação, mas acredite, não é, como eu disse no começo do texto, se tem uma coisa que eu aprendi ao tentar me tornar um licenciado em física, é que educação não é algo exato, e não tem fórmula de sucesso para isso, mais do que isso, educação depende drasticamente das condições sociais de onde, como e quando se educa. A maior prova disso é o PISA, avaliação da educação escolar de quase 80 países realizada pela OCDE. O PISA é basicamente uma prova para jovens de 15 anos, não necessariamente no mesmo estágio escolar, que avalia como esses jovens ao redor do mundo são capazes de realizarem questões de matemática, leitura e ciências. Todos participantes, fazem a mesma prova em suas línguas maternas e com o mesmo tempo para cada questão. Sim é um esforço bem grande de avaliação.
O PISA é a prova de que educar é algo altamente de dependente de condições sociais principalmente pelo seu resultado macro, o de que países pobres e/ou em desenvolvimento tem majoritariamente piores resultados que países ricos, nenhum país com más condições sociais se saí bem na prova, e isso não se deve as questões. O Brasil teve na ultima prova cerca de 40% de suas notas igual a 0, isso significa que dos jovens avaliados, 40% são incapazes de com 15 anos, realizarem regras de três simples, multiplicações, adições, ler um enunciado e extrair dele dados, compreender um gráfico, concatenar um texto e responder de forma clara um questionamento, tão simples as vezes como, “se 1 dólar equivale a 2,50 reais, então 5 dólares equivalem a quantos reais?”. Mas mesmo com isso muitos, principalmente todo esse grupo de pessoas e instituições citados insistem em ler os resultados do PISA de uma outra forma. Eles veem o fracasso do Brasil meramente como uma questão de falta de método de ensino ou falta de resiliência como gostam de falar, e não extraem do PISA que necessitamos melhorar nossas condições sociais para melhorar o ensino, necessitamos de valorização de professores, atualização do currículo e diminuição de desigualdades que acarretam em problemas sociais e em piores condições de estudo e em menos tempo dentro de sala de aula. Toda essas pessoas pensam que o problema da educação não está na desigualdade brutal que esse país vivem a séculos e na enraização disso em nosso cotidiano. Todas essas pessoas pensam que a educação é apenas um grande problema de querer, falta querer em professores, falta querer em alunos, governantes, etc. E é daí que veem com a fórmula mirabolante, temos que persistir em educar nossas crianças como educamos desde sempre, basta ter mais professores obstinados, disso podemos cuidar com algum coaching ou algo do tipo, e pronto nossas crianças serão os melhores estudantes do mundo, se formos resilientes em educar, o resultado vem. Esse é o mantra dessa visão de educação.
O que todo esse pessoal esquece de ver, e fazem isso porque leem o PISA somente na posição do Brasil e nas primeiras posições, leem o resultado macro somente, é que para ter sucesso em educar também existem diversos caminhos. Isso é mostrado nas posições que ficam acima da média da OCDE, nessas posições só se vê dois tipos de países, europeus primeiro mundistas mais EUA e Canada, e países do leste asiático, basicamente a esfera de influência da China e os tigres asiáticos. Mostrando que existem dois modelos de escolas, até três caso EUA e Canada sejam visto como a parte dos europeus, que se dão bem na prova. O modelo europeu consiste em diversificar o estudo do aluno, a criança passa o dia todo na escola e realiza diversas atividades, sua carga horária é ocupada com atividades que prezam pelo seu desenvolvimento intelectual de forma ampla. Já os modelos asiáticos prezam pela repetição em sua grande maioria, o método do reforço, estruturas simples e básicas são repetidas e reforçada até que sejam internalizada pela criança e consequentemente ela seja capaz de reproduzi-las. O que é um dos meus aprendizados quando estudei licenciatura e métodos de aprendizado, existem mais de uma maneira de ensinar algo, qual escolher isso depende muito da sua realidade e do que se quer alcançar.
Não há forma de avaliar quais desses métodos são melhores ou quais se encaixam melhor aqui no Brasil, o PISA não foi feito pra isso e essa é uma medida que simplesmente não temos. Portanto tentar de algum modo se basear no PISA como aquilo que devemos trazer para solucionar nossos problemas de educação é mais uma ideia que não vejo futuro e por isso de minha resistência as falas como as da Tábata, ainda que se externe uma angústia compartilhada por mim também.
Mas então a educação num tem solução no Brasil? Não, com certeza tem e a resposta talvez estejamos jogando fora mais uma vez, Tábata como eu disse é deputada do PDT, partido de Darcy Ribeiro e Brizola, dois dos maiores pensadores desse país como um lugar onde educação pode dar certo, porém se tem uma coisa que ela não entendeu ainda é em qual partido está, Tábata se rebelou contra a indicação do partido em voltar contra a reforma da previdência de bolsonaro, e agora faz sucesso nas redes sociais fazendo simplesmente tudo o que o projeto de Darcy Ribeiro não era para a educação. Isso me demonstra claramente que, por mais que se tenha boas intenções as piores ações sempre podem florescer por elas, caso não haja crítica e debate sobre essas ações. Darcy pensava o Brasil não como esse lugar repetido como o poço da falta de resiliência, para usar a palavra do texto, pela mídia e no imaginário popular. Ou um país que teve algumas mazelas e se recuperou na união dos povos para um futuro brilhante. Darcy entendia os conflitos e os problemas do Brasil como ninguém, e por isso se dedicou em lutar para que eles fossem conhecidos, sim não conhecemos nosso problemas a fundo, e fossem combatidos. Darcy, imortaliza isso na sua célebre frase sobre as derrotas da sua vida serem suas vitórias. Então se há algo para ser feito para a educação brasileira é que ela deve ser pensada juntamente com as necessidades de entender e findar nossas mazelas sociais, a principal dela sendo a desigualdade social, não há método revolucionário de ensino que se tenha êxito se o aluno e professor são apenas contados e visualizados como massa de produção de lucro. Números num sistema educacional colossal. Um país que paga um piso de pouco mais de mil reais a seus professores nunca vai ensinar de modo eficaz por mais resiliente que seja, ou até mesmo sendo brasileiro e não desistindo nunca, se a educação não for um legado da nação e não só mais um ato de resiliência entre professor e aluno, ela nunca será capaz de ensinar e educar. Para que a educação dê certo ela precisa ser um projeto de estado perene, de soberania e de superação de toda a estrutura social que nos trouxe até aqui.
Leituras adicionais:
Sabrina Fernandes, do Tese Onze, expõe as contradições das falas de Tábata: https://youtu.be/e6jEJoqzUvs
Darcy: https://www.youtube.com/watch?v=T1MemL_PmjI https://www.youtube.com/watch?v=AAFzOemlAbg https://www.youtube.com/watch?v=6r7QDo9yHJk https://www.youtube.com/watch?v=iUh4O1koCag
PISA, como é feito e resultados: https://en.wikipedia.org/wiki/Programme_for_International_Student_Assessment
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