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Práxis
Hoje tive a certeza que a práxis é extremamente importante para a luta e para os estudos. Não é uma tarefa fácil. Muitas vezes desejei sair da atividade docente e apenas estudar, voltar para a universidade, realizar o mestrado, o doutorado como bolsista e me dedicar apenas a isso. Na verdade, ainda desejo, mas percebi que a motivação para os meus estudos fora da universidade é o ódio que eu sinto por viver a dificuldade cotidiana de ser uma professora do ensino básico. Não me entendam mal, a luta contra a vontade de desistir é cotidiana. É muito cansaço e desmotivação, mas quando o ódio prevalece… (o ódio de classe, o ódio da mercadologização da educação, o ódio da precarização e flexibilização do trabalho, o ódio contra a essa lógica empresarial de sujeito, o ódio de adoecer por conta disso...) a gente arranja força para continuar. E, com essa força, a gente lembra que não é sozinha, a gente lembra da luta, a gente lembra da importância do nosso trabalho, a gente lembra que devemos viver - e devemos viver diferente. Que não devemos aceitar essa ordem vigente. E aí a gente continua. Sem saber como, onde e se vamos chegar, mas a gente continua.
Para além de continuar, o estudo passa a ter sentido. Não é um objeto alheio a mim. Estou estudando o que eu vivo, lutando para mudar aquilo que eu vivo e que não vivo sozinha. Muitas professoras e professores estão sentindo, sobretudo na sua saúde, seja ela física ou mental as consequ��ncias da precarização do trabalho. Escutar as professoras que trabalham comigo e sentir também me fazem ter essa sensação contraditória: a vontade de desistir junto da vontade de continuar.
Este texto é fruto da força do ódio, bem como a nossa radicalização.
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O GOVERNO BOLSONARO TEM QUE CAIR?
Tem sim mas, não é só isso.
Bárbara Ortiz
Licenciada em Geografia pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista FCT- UNESP campus de Presidente Prudente.
Gostaria de trazer alguns “delírios comunistas” aqui para refletirmos.
Recentemente postei em uma das minhas redes sociais sobre o glifosato, o agrotóxico mais utilizado no Brasil, estar presente em alimentos ultraprocessados que são consumidos por nós cotidianamente, não saiu da minha cabeça o grito dos movimentos sociais e da população recorrente nas redes sociais e nas últimas manifestações nas ruas: “VACINA NO BRAÇO E COMIDA NO PRATO”
Quero aproveitar esse debate inflamado das ações do governo Bolsonaro ante a pandemia. Conforme a CPI avança, fica cada vez mais evidente a leviandade com que foi tratada a questão da Covid-19 no Brasil.
Sobre a primeira oração da frase citada acima “Vacina no Braço”, seremos breves. Não porque o assunto não tenha importância, mas porque o foco do artigo é outro. Acompanhe. Dia após dia, notícia após notícia, CPI após CPI confirmamos a nossa hipótese: O Governo Bolsonaro é um governo GENOCIDA.
Foram ignorados inúmeros diálogos com a indústria farmacêutica sobre a aquisição de vacinas e incentivado o uso de medicamentos que, inúmeras pesquisas já superaram o debate de sua eficácia. (Hidróxido) Cloroquina, azitromicina, ivermectina, etc não são eficazes como tratamento precoce para a covid-19.
Apesar desse debate ser extremamente importante, gostaria de focar aqui na segunda oração da frase citada, “Comida no Prato”.
O debate sobre a alimentação da população brasileira é extremamente importante e latente em todos os governos que já passaram por aqui (que foram terminados ou não, rs)
Desde o golpe de 2016 vemos uma alta de liberação de agrotóxicos no Brasil junto ao desmonte de políticas públicas que favorecem a produção de alimentos saudáveis sem a presença de produtos químicos. Desta forma, nosso questionamento é: QUE TIPO DE COMIDA QUE DEVE ESTAR NO PRATO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA?
Dito isso, gostaria de indagar-lhes: Essa política genocida seria um plano maquiavélico do governo Bolsonaro de acabar com a população brasileira ou está associada a questões estruturantes do modo de produção capitalista?
Para mim, a política genocida não é uma característica apenas do governo Bolsonaro mas sim, uma forma de gerir o Estado brasileiro, baseado no modo de produção capitalista.
E eu vou explicar-lhes a minha hipótese.
Convido-lhes a pensar nesse debate como um território em disputa, a luz de um debate paradigmático (Alô NERA [formação de 2014-15] e CEGeTers do meu coração! Saudades dos nossos debates (e fofocas) paradigmáticos (as) com muito café, cigarros [da minha parte], piadas ruins, paçocas e bolachinhas - brincadeiras e saudosismos à parte, vamos ao que interessa).
O DEBATE PARADIGMÁTICO
“A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história da luta de classes” Marx e Engels em O Manifesto Comunista.
Resumidamente, Bernardo Mançano Fernandes fundador e coordenador do NERA - FCT/UNESP nos convida a olhar o campo brasileiro sob a ótica de dois paradigmas: O Paradigma do Capitalismo Agrário (PCA) e o Paradigma da Questão Agrária (PQA). Esse debate evidencia a luta de classes presente no campo brasileiro e portanto, no modo de produção de alimentos.
Segundo o próprio Bernardo Mançano Fernandes em seu livro: “Os Usos da Terra No Brasil", o campo brasileiro evidencia uma grande contradição: de um lado temos uma das agriculturas mais modernas do mundo, no âmbito tecnológico, mas que ainda se utiliza do trabalho escravo, por exemplo. Por outro lado, a agricultura camponesa, que produz mais de 70% dos alimentos que estão na nossa mesa cotidianamente possui menos tecnologia, menos terra e menor investimento do Estado brasileiro.
Dessa forma, acredito que seja importante nos debruçarmos, de maneira breve, sobre a conceituação do PCA e do PQA:
PCA: O Paradigma do Capitalismo Agrário entende que os problemas que enfrentamos no campo brasileiro são CONJUNTURAIS, que podem ser eliminados por meio da inserção do camponês na lógica capitalista de produção do campo. Nesse modelo o debate da luta de classes é inexistente pois, o campesinato e o capital têm o mesmo modelo de desenvolvimento que compõem a totalidade de uma sociedade capitalista. As desigualdades no campo são, portanto, uma resposta à incapacidade das pessoas que trabalham e vivem no campo de não se inserir na lógica do mercado.
PQA: O Paradigma da Questão Agrária tem como ponto de partida a luta de classes para a análise das disputas territoriais e o modo de produção no campo brasileiro. Isso significa que, para esse paradigma, os problemas que encontramos no campo são ESTRUTURAIS, ou seja, que fazem parte do modelo capitalista de produção. Em outras palavras, ou melhor, nas palavras do autor “(…) os problemas agrários fazem parte da estrutura do capitalismo, de modo que a luta contra o capitalismo é a construção de outra sociedade, onde os problemas agrários podem ser superados”. Neste paradigma, encontram-se as seguintes organizações camponesas: MST - Movimento dos Trabalhadores rurais Sem Terra, o MPA - Movimento dos Pequenos Agricultores, o MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens, Movimento das Mulheres camponesas, a CPT -Comissão Pastoral da Terra , a Contag - Confederação dos Trabalhadores na Agricultura e a Fetraf - Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar.
Sendo assim, estamos ante dois modelos de produção em disputa: para o PQA o problema está no capitalismo e para o PCA o problema está no campesinato.
Dessa forma, indagamos: De que lado está o Estado Brasileiro?
A resposta é que não podemos ser simplesmente dualistas. Devemos nos atentar às contraditoreidades inerentes da lógica capitalista de produção e como esses dois paradigmas estão presentes na produção de alimentos no campo.
E por qual motivo? Porque, diferente de como pensa Juliana Paes - e muitas (os) outras (os) brasileiras (os), a "realpolitik" não funciona da forma como ela imagina. A forma de organização e a política não podem ser explicadas apenas por uma análise superficial de governos Lula x Bolsonaro. Estamos falando aqui de contradições inerentes da sociabilidade capitalista.
Dessa forma, o Estado Brasileiro, independente de governo (seja ele o FHC, Lula, Dilma, Temer ou Bolsonaro) toma posições que favorecem o agronegócio brasileiro, sobretudo a partir de 1990 com a implementação da cartilha neoliberal como uma resposta à crise estrutural do capital. Sendo assim, fica evidente a “predominância do Paradigma do Capitalismo Agrário nos ministérios e à pressão agressiva do poderoso setor da agricultura convencional (…)”. Um beijo para a motosserra de ouro (Kátia Abreu), para o Salles, nosso ministro do Meio Ambiente e para o nosso BBB - Bancada do Boi da Bala e da Bíblia. Ao passo que cria políticas públicas como o Programa de Aquisição de Alimentos - PAA e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF que incentivam e financiam a produção familiar de alimentos. Entretanto, os investimentos nesse tipo de produção quando comparado ao agronegócio é infinitamente menor.
Dessa forma, o Estado Brasileiro não nega a existência de um outro modo de produção mas, favorece ao agronegócio. Ao correr do texto, evidenciaremos esse fato.
Mas, o que isso tem a ver com a produção de alimentos, Bolsonaro e covid-19, Barbara?
A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS NO BRASIL
Você tem fome de quê? - De agrotóxicos eu sei que não é.
Ao acordar, tomamos cafézinho com um pãozinho francês e uma manteiguinha (manteiga nada, margarina, né? ). Em alguns momentos podemos adicionar uma bananinha, um mamãozinho, um suquinho de laranja, um ovinho ou até mesmo uma bolachinha de água e sal, um iogurte ou uma bebida à base de soja. - Isso quando se tem acesso ao alimento.
Já pararam para pensar que estamos, ao consumir esses alimentos, estamos tomando doses “homeopáticas” de agrotóxicos todos os dias? Segundo o Dossiê Abrasco: Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde, um terço dos alimentos básicos consumidos pelos brasileiros está contaminado de agrotóxicos.
O Brasil é um dos países mais permissivos ao uso de agrotóxicos na produção agrícola. Este fato está diretamente ligado ao modo de produção do campo brasileiro, baseado no agronegócio. Vejamos.
A monocultura, é dependente quimicamente de agrotóxicos, sementes geneticamente modificadas e de fertilizantes químicos. Isso por que, para a sua existência, deve substituir uma camada de vegetação natural por uma única cultura. Dessa forma, desmata-se um ambiente de vegetação nativa, em equilíbrio ecológico e instala-se, em um grande pedaço de terra (latifúndio) uma produção de uma única cultura como a cana-de-açúcar, soja, trigo, milho, etc. - as chamadas commodities
Dentre as consequências da monocultura está a perda de biodiversidade: macro e micro fauna são afetados diretamente, perdendo seus ambientes naturais, perda de vegetação nativa, esgotamento e empobrecimento nutricional do solo, exploração de águas superficiais e subterrâneas, bem como a sua contaminação pelo uso exacerbado de fertilizantes químicos e agrotóxicos. Sendo assim, podemos concluir que, o modelo agrário exportador baseado na monocultura e na concentração de terras é extremamente danoso para o meio ambiente.
Entretanto, a produção familiar, a que produz mais de 70% dos alimentos básicos que compõem a mesa do brasileiro e da brasileira não está alheia à essa lógica do agronegócio. Apesar de existirem iniciativas de produção agroecológica pautada principalmente pelo MST - trataremos desse assunto mais tarde - a utilização de agrotóxicos nessa modalidade de produção é um fato e vários fatores podem influenciar a escolha: seja por falta de informação e/ou assistência técnica ou comodidade.
Em um estudo recente promovido pela Agência Pública e o Repórter Brasil (2020) que analisou a publicação do relatório do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos com testes feitos em frutas e legumes entre o ano de 2017 e 2018 constatou que 23% dos alimentos testados possuíam agrotóxicos proibidos ou com quantidade acima do volume permitido pela ANVISA.
A ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária é uma autarquia sob regime especial que tem como objetivo promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da produção e consumo de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados. Para o uso de Agrotóxicos a agência possui um programa de ação que tem como objetivo avaliar continuamente os níveis de resíduos de agrotóxicos nos alimentos de origem vegetal que chegam à mesa do consumidor, o PARA - Programa de Análise de Resíduos em Alimentos. Para a construção do relatório do PARA a agência usou dados sobre quanto os brasileiros consomem em média de cada alimento e o peso corpóreo dos consumidores a partir de 10 anos de idade. Além disso, a ANVISA não analisa a combinação de agrotóxicos Dessa forma, não avaliam os impactos dos agrotóxicos em crianças menores de 10 anos e nem regulamentam a quantidade permitida de agrotóxicos em alimentos (ultra) processados como a bolacha de água e sal, biscoitos recheados, pães, bebidas etc. - Trataremos desse assunto mais tarde -, muito menos os impactos da mistura de venenos nos alimentos que compõe a mesa dos brasileiros e brasileiras.
Só no suco de laranja citado em um café da manhã hipotético acima, podemos encontrar um teor de agrotóxicos mais elevado do que o permitido pela ANVISA, o que pode causar intoxicações para aqueles que consumiram a fruta, sobretudo nas crianças. Segundo a Pesquisa da Agência Pública e do Repórter Brasil “(...) a cada 14 laranjas vendidas nos mercados, uma tinha agrotóxico suficiente para causar uma intoxicação imediata em quem consumiu – um cenário preocupante para um país onde a fruta é consumida com frequência”. Além disso, “Cinco laranjas analisadas apresentaram mais de cinco vezes o limite de segurança de exposição, todas para o agrotóxico carbofurano, um inseticida proibido no Brasil desde 2017 devido aos efeitos neurotóxico. Este produto pode afetar o desenvolvimento, incluindo efeitos nos fetos, funcionais e comportamentais”.
Além da laranja, foi encontrado resíduos agrotóxicos acima do Limite Permitido, bem como o uso de agrotóxicos não permitidos pela legislação brasileira em alimentos básicos como o arroz (5%), o alho (5%), o alface (30%), a batata doce (9%), cenoura (40%), tomate (35%), pimentão (82%), entre outros.
Dentre os agrotóxicos permitidos, as substâncias químicas que mais se destacam em cada alimento citado anteriormente foi o glifosato que, segundo a pesquisa, apesar de ter tido sua toxidade rebaixada, matou 76 pessoas e intoxicou mais de 2,4 mil pessoas nos últimos dez anos no Brasil, encontrado no arroz; no alho foi encontrado o Tebucanazol, substância que causou alterações no fígado e no músculo peitoral, rins intestino e testículos, em estudos com animais; na batata doce foi encontrado produtos com o princípio ativo captan, que já foi associado a câncer em ratos e camundongos; na cenoura, foi encontrado cipermetrina, considerado tóxicos para abelhas; e no alface, no tomate e no pimentão foi encontrado Imidacloprido, uma das substâncias mais encontrada em frutas, verduras. Essa substância é fatal para as abelhas.
Além dos agrotóxicos em produtos in natura estudos demonstram presença de agrotóxicos em alimentos processados e ultraprocessados, principalmente naqueles que são derivados de trigo, soja e milho. Em uma pesquisa feita pelo IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, constatou a presença de 13 tipos de agrotóxicos diferentes encontrados em produtos utraprocessados. Em uma bolacha de água e sal (muito presente na sala dos professores, por exemplo, rs) encontraram resíduos de até 7 agrotóxicos diferentes. Como evidenciamos acima, a ANVISA não regulamenta o limite de resíduos de agrotóxicos em alimentos processados e ultraprocessados. Dentre os agrotóxicos encontrados nesses alimentos, está presente um princípio ativo que não foi regulamentado pela ANVISA, o butóxido de piperonila.
Salientamos que consumo e o manuseio pode gerar grandes consequências para a saúde da população brasileira. Larissa Bombardi aponta que entre 2007 e 2014 25 mil pessoas foram atendidas por envenenamento relacionados às substancias químicas que compõe os agrotóxicos. As mortes por intoxicações também são alarmantes. Entre 2007 e 2014 foram registradas 2186 mortes em decorrência de agrotóxicos. Enganam-se aqueles que acreditam que a intoxicação está apenas no campo. O agrotóxico está no alimento, no ar, na água, no leite materno e na chuva. O Dossiê Abrasco aponta que foram registrados 343 bebês intoxicados por agrotóxicos.
GOVERNOS PÓS-GOLPE, AGRICULTURA E PANDEMIA
Esse cenário piora pós golpe de 2016. Em 2017 o governo golpista de Michel Temer reduziu a previsão orçamentária para a agricultura familiar em quase 36%. As ações voltadas para a reforma agrária também foram sofreram reduções de 28% de seu orçamento, enquanto favoreceu aos ruralistas dando 15 anos para quitar dívidas com o FunRural. Fica nítido aqui que o governo não está preocupado com a disponibilidade de alimentos na mesa dos brasileiros e brasileiras, uma vez que o setor da agricultura familiar é responsável pela produção de mais de 70% dos alimentos presentes em nossa mesa - que boa parte é produzida sem veneno- , nem com a empregabilidade dos trabalhadores rurais (é a agricultura familiar emprega boa parte da mão de obra camponesa).
Em 2019, no início do governo Bolsonaro, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou a autorização de 57 novos produtos elaborados com agrotóxicos. Alguns desses produtos já eram comercializados no Brasil, mas o seu uso foi empregado em novas culturas e associados com combinações com outros produtos químicos. É interessante ressaltar que muitos destes produtos foram classificados como “extremamente tóxicos” . Segundo a Agência Pública/Reporter Brasil, entre os novos pesticidas aprovados está o Mancozebe, usado nas culturas de arroz, banana, feijão, milho e tomate; e do Piriproxifem, indicado para café, melancia, soja e melão, ambos classificados como extremamente tóxicos, porém, segundo o Mapa, de uso seguro (será que é mesmo?).
Em 2020, aproveitando a crise do novo coronavírus para “passar a boiada”, de março a maio de 2020 foram aprovados mais de 150 produtos químicos pelo governo federal, dentre os aprovados está o Fipronil, proibido desde 2004 na união europeia após a morte de 40% dos insetos criados nos apiários franceses aparecerem mortos. Outro produto aprovado foi o inseticida Clorpirifós, um produto popular no Brasil, mas que está saindo do mercado em outros países devido a relação do produto com a má formação no cérebro de bebês; Esse produto foi banido nos EUA e na UE. O Clorotalonil, banido pela UE após relacionarem com danos no DNA humano e impactar anfíbios, peixes e abelha também receberam passe livre da ANVISA.
Ok, o cenário é alarmante, mas o que isso tem a ver com a pandemia?
Um estudo feito por pesquisadores do Brasil, Portugal e Dinamarca afirmam que o modelo de produção agrícola brasileiro deixou a população mais exposta aos efeitos da pandemia.
O aumento da vulnerabilidade está, segundo a pesquisa, diretamente relacionado ao uso intensivo de agrotóxicos que afetam o sistema imunológico dos seres humanos, tornando-os mais suscetíveis a doenças infecciosas.
Desde março de 2020 foram aprovados 613 novos registros pelo Ministério da Agricultura, Ibama, e ANVISA. A pesquisa chegou a conclusão que as substancias aprovadas interferem no sistema imunológico, causam problemas hormonais, intervém em várias funções de metabolismo, sobretudo na defesa do organismo contra patógenos. A Atrazina, o quinto ingrediente ativo mais vendido no brasil, muito utilizado em plantações de cana-de-açúcar e milho, ataca o sistema imunológico e inibe a produção de citocinas e células T, que são importantes para garantir a recuperação de pacientes diagnosticados com covid-19.
Outro elemento que merece destaque é que com o fortalecimento do agronegócio e o consequente avanço do desmatamento estamos mais vulneráveis ao surgimento de novas zoonoses que antes estavam restritas ao ambiente natural, aumentando a chance de novas epidemias.
Mas, não é de se estranhar tantos “privilégios” concedidos ao agronegócio e o aumento de preços de produtos da alimentação básica aqui no Brasil? Bom, eu diria que não. E isso tem tudo a ver com a política (neo)liberal do nosso Chicago boy Paulo Guedes e a boa e velha premissa de que o mercado se auto-regula. Vejamos.
Como já colocamos aqui o modelo de produção do agronegócio brasileiro é exportador. Portanto, a alta no preço do dólar estimula o produtor capitalista a exportar a sua produção, com o objetivo de aumentar a lucratividade. Dessa forma, exporta-se mais, gerando um consequente desabastecimento no mercado interno. É por essa razão, portanto, que o arroz, feijão, óleo de soja, proteína animal, registraram no último quadrimestre de 2020 altas consideráveis.
Um aspecto importante a se levantar é que a produção de arroz e feijão pelo agronegócio sofreu uma redução considerável pois os seus produtores resolveram migrar para um mercado mais lucrativo: o da soja. Mesmo com o aumento da produção da soja, isso não significou um “congelamento” dos preços em um de seus produtos consumidos pelo brasileiro, como o óleo de joga. O motivo já foi explicado acima.
Dessa forma, o aumento da carestia e a inflação dos alimentos da cesta básica no Brasil são consequências de uma mesma causa: a baixa oferta no mercado interno nacional. Isso quer dizer que pouco alimento está a disposição dos consumidores nacionais. Pela lei do mercado, quando se há baixa oferta e alta procura, os preços sobem. Compra quem tem dinheiro, quem não tem, passa fome.
Se somarmos a alta dos preços do alimento, o crescente desemprego, o avanço do agronegócio em áreas de matas nativas, a liberação de agrotóxicos, o incentivo de uso de medicamentos de ineficácia comprovada em detrimento da vacinação em massa encontramos um ambiente perfeito para o novo coronavírus ficar em terras brasileiras por um bom tempo...
EXISTE LUZ NO FIM DO TÚNEL
Fecho as argumentações deste texto expondo o papel fundamental dos movimentos sociais no Brasil.
Para isso, gostaria de expor uma experiência pessoal.
Durante meus anos de graduação na Unesp passei por alguns “perrengues” financeiros - aluna bolsista enfrentando diversos cortes de bolsas de pesquisa e permanência estudantil. Sempre fui muito próxima dos movimentos sociais do campo, sobretudo do MST, bem como do movimento estudantil.
A solidariedade, o carinho que existe nesses movimentos é o que nos dá força para continuar. Sem eles eu não teria metade do conhecimento que tenho hoje e nem alimento (de qualidade e sem veneno) na minha mesa. Foram inúmeras doações de alimentos, produzidos com muito amor e luta que me ajudaram a ter forças físicas (e emocionais) para terminar o curso de Geografia. Foi o carinho, o afeto que encontrei no movimento que me deu colo nos momentos mais difíceis da minha vida.
Dessa forma, aproveito esse texto para agradecer publicamente o MST, sobretudo o MST do Pontal do Paranapanema que, além de ter me ajudado nos momentos de maiores dificuldades da minha vida me ensinou muito do que ensino hoje aos meus educandos e educandas. Eu não seria nem metade do que sou hoje se não fosse por todo o conhecimento que adquiri vivendo com todos vocês.
As iniciativas como a feira agroecológica “Raízes do Pontal” são fundamentais. É de se saudar toda a organização dos grupos de pesquisa, dos docentes e discentes da universidade e do movimento social. Um grande abraço para o pessoal do MST do Pontal, para o pessoal do CEGeT e do NERA. A força de vocês me inspira e me faz continuar.
No contexto pandêmico, há diversas iniciativas feitas por movimentos sociais como o MST - Movimento dos trabalhadores sem terra - e o MTST - Movimento dos Trabalhadores Sem Teto - que em meio a pandemia se arriscam para colocar comida de qualidade na mesa dos brasileiros.
O MST distribui alimentos sem agrotóxicos, agroecológicos e frutos da luta pela reforma agrária na mesa de brasileiros e brasileiras, oriundas de assentamentos e acampamentos. Já foram milhares de toneladas de alimentos doados por todo o Brasil desde o início da pandemia.
O MTST, com iniciativas como a “Cozinha Solidária” distribui gratuitamente refeições completas e balanceadas, bem como dialoga com a população incentivando o cultivo de hortas urbanas comunitárias nas periferias que fornecerão alimentos paras as cozinhas solidarias, bem como a doação desses alimentos à comunidades vizinhas. Além disso o MTST distribuiu toneladas de alimentos em cestas básicas, máscaras, kits de higiene, kits para gestantes etc.
Todas essas iniciativas são frutos de muita luta e solidariedade.
E fizeram tudo isso ante a dor da perda de entes, ao seu empobrecimento, a criminalização dos movimentos sociais, a hostilidade de pessoas desinformadas. Se isso não é resistência e se a resistência e a luta não for o caminho, já não sei mais o que é.
Vale ressaltar que as lutas dos movimentos sociais, sobretudo o camponês não iniciaram hoje. O campesinato esteve à frente de lutas políticas contra a “modernização” do campo durante grande parte do século XX, tornando-se uma grande resistência contra a dinâmica capitalista no campo.
A pergunta de agora quem responde é você:
DE QUE LADO VOCÊ ESTÁ?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Evidenciamos no texto que existem modelos de produção agrícola em disputa no campo brasileiro. O modelo agrário exportador baseado no desmatamento, na concentração de terras, no envenenamento de pessoas e de águas subterrâneas e superficiais, na expropriação da população campesina, indígena, quilombola é insustentável. E um modelo que luta pela reforma agrária e pela produção de alimentos sem agrotóxicos e de maneira agroecológica.
Dessa forma, disputa entre PCA x PQA é evidente. A lógica de produção camponesa é um ato de resistência que produz com o objetivo de satisfazer as necessidades familiares e resiste à “modernização” do campo, ou seja a lógica do agronegócio, sobrevivendo à uma estrutura completamente desfavorável à sua existência.
Enquanto, graças ao agronegócio, pessoas, desde a mais tenra idade estão sendo intoxicadas e indo a óbito pelo consumo de alimentos contaminados por agrotóxico. Vemos, no campesinato a luta e a resistência. Mesmo sofrendo diversas investidas do poder hegemônico, ele cria e se recria, em diferentes espaços, em diferentes lugares. Caracterizado pelas raízes fundadas no âmbito familiar, da pequena produção, vive diariamente produzindo alimento de qualidade, à margem de uma sociedade que consome esses frutos.
O Genocídio da população brasileira não compete apenas ao governo Bolsonaro, embora seja mais evidente. O Estado capitalista brasileiro mata, aos poucos, a população brasileira há décadas e isso fica evidente na produção de alimentos, na flexibilização e precarização do trabalho urbano ou rural, no sucateamento SUS, na guerra às drogas, enfim... são muitas as evidencias que nem cabem neste texto. Estamos falando aqui de um problema ESTRUTURAL e não conjuntural.
Dessa forma, pedir a queda do governo Bolsonaro seria apenas “tampar o sol com a peneira”. Precisamos repensar urgentemente no modelo de produção agrícola e pensar em um outro modelo de sociedade onde a produção de alimentos esteja baseada no respeito à vida.
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(...) “ o acaso não existe. Quando alguém encontra algo que verdadeiramente necessita, não é o acaso que proporciona, mas a própria pessoa, seu próprio desejo e sua própria necessidade conduzem a isso”. HESSE, Herman.
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