Tumgik
recigio · 2 years
Text
Hora de voltar!
Como um toque suave em seu ombro ele acordou:
-Senhor Pedro? Pedro? -Oi… Oi? O que?
Ele abriu os olhos, sentindo a confusão de quem sai um sono pesado. Estava de pé, era como se estivesse há muito tempo ali, pensando em outra coisa. Ao seu redor, somente um véu branco, brilhante, sem fim. Ouvia um som metálico suave, baixo e irreconhecível. Era agradável.
-Seja bem vindo sr. Pedro! Era uma voz vinda de lugar nenhum preenchendo todo o lugar.
-Bem vindo? - Ele tinha a cabeça enevoada ainda.
-Sim! Você chegou...
-Cheguei !?
-No pós vida!
Então ele havia morrido, era isso?
-Eu morri? Estou no céu.
-Morreu, mas... bem... céu? Isso depende!
-Depende do que?
-Qual era a sua religião?
-Eu não lembro… eu não sei onde eu estava…
-Não importa muito, de verdade, estou aqui para lhe guiar de volta. Não se preocupe.
-Eu vou reviver?
-Não é bem isso, você vai voltar de um jeito diferente!
-Voltar? Vou reencarnar?
-Você pode considerar assim.
- Espera ai!? Isso é um tipo de purgatório? Não vou pro céu?
-Céu, inferno? Minha bela criatura, faça as contas! Você acha que a gente tem esse espaço todo?
-Como assim?
-Não importa, logo você estará de volta e se tornará um ser melhor.
-Para terra?
-Eu estava pensando em outro planeta, mas posso fazer isso por você.
-Ainda não entendi, me explique, eu volto um novo homem? Vou nascer de novo?
-Não posso entrar em especificidades técnicas, digamos que você tem que experimentar aspectos diferentes da vida dessa vez.
-Do sexo oposto então, vou ser mulher?
-Eu pensei em um belo carvalho!
-Uma árvore?
-Por que não? Uma vida longa, pacifica, que ensina muito sobre doação.
-Não poderia ser um animal?
-Não sei não, uma planta cairia muito bem sr. Pedro.
-Deixa eu voltar como um animal, vai?
-Tudo bem… então, vejamos, uma tartaruga!
-Uma tartaruga? Por que não uma bela onça?
-Sr. Pedro, o objetivo disso tudo é lhe tornar uma criatura melhor!
-Mas por que não uma onça?
-O sr. era muito ansioso seu Pedro! Onças não vão lhe ensinar a ter paciência.
-Eu não me sinto impaciente agora.
-O sr. teve um ataque fulminante…
-Mas isso é muito comum!
-Enquanto socava a mesa do escritório e gritava ao telefone…
-Todo mundo tem seus problemas!
-Sr .Pedro, o sr. tomava três calmantes diferentes e fumava quatro carteiras de cigarro por dia.
-Tudo bem, entendi, tartaruga?
-Tartaruga! Já estou ajeitando aqui, vai ser rápido!
-Não, espera aí, acho que poderia ser outro animal!
-Hum... talvez um panda, mas para esse eu tenho poucas vagas. Consigo te encaixar como um tamanduá bandeira, o que acha de formigas?
-É aquele bicho com língua grande? Quem tal uma passarinho?
-Não é sua vez de voar ainda!
-Minha vez de voar?
-Não posso entrar em detalhes. Aceite a tartaruga, eu poderia te mandar de voltar como peixe, e você sabe que os peixes não fazem lá muito coisa.
-Certo, tudo bem, já entendi. Mas, me faz um favor?
-Talvez eu devesse escolher uma criatura sem grandes desejos…
-Não, não é bem isso, eu só queria ser uma daquelas que vivem menos, não uma eternidade, como aquelas que alcançam duzentos anos. Então eu volto aqui, a gente conversa de novo, faz toda revisão, e troca pra outra coisa, sabe, para não enjoar.
-Sempre cheios de espertezas, a forma humana é sempre a mais difícil. Quando vocês chegam da fase esquilo, mal conversam comigo. O próximo desafio é sempre a gula, uma moleza! Certo, tudo bem!
-Ótimo, obrigado!
-Vejamos então. Impaciência, raiva, ego, vício… tartaruga te ensinará muita coisa.
-Entendi.
-Mas olha! Tem adultério aqui também. Sr. Pedro, o senhor tem outra coisa para resolvermos!
-Há não! Fiz isso também?
-Fez, três vezes!
-Três?
-Por ano, em média.
-Há, quer saber, eu me rendo, por que não manda aquele panda mesmo então? Dizem que não fazem sexo.
-Não muito. O problema é que tenho poucas oportunidades para esse… vou abrir uma exceção para você. Talvez tartaruga serviria, contudo precisamos trabalhar essa questão do celibato. Estamos entendidos, serás panda! Sr. Pedro! Capriche!
-Não deve ser muito difícil…
-Todo mundo fala isso, principalmente quando é a vez de voltar como um humano. Nem sempre é tão fácil.
Pedro se calou, aceitando seu destino e pensando que, talvez, não fosse lá uma coisa ruim. E no momento que estava partindo, uma última duvida preencheu sua mente
-Normalmente o que somos antes? Digo, antes de irmos pra terra como seres humanos? Que ser a gente era?
-Você se surpreenderia!
-Não vai me contar né?
-Não posso, desculpe.
-Tudo bem, te vejo em breve.
-Assim que chegar sua hora.
0 notes
recigio · 2 years
Text
De perto, ninguém é normal
De perto, ninguém é normal. A gente passa boa parte da vida tentando definir normalidade e comportamentos sociais adequados.
- Oi? Olá? Tudo bem? Por favor! - Garfo na esquerda, escovar os dentes pela manhã, não esquecer de beber 2 litros de água todo dia. Mas, de perto, ninguém é normal. Todas essas criaturas complicadas, fluidas, com suas cabeças tão pequeninas perto da grandiosidade do universo. Elas não sabem o que querem, ou não sabem o que fazer para conseguir. Enquanto isso, dançam errado as musicas certas, ou dançam certo as musicas erradas. Essa busca insana, essa confusão de sons, texturas e cores, em que não existe nenhum caminho sinalizado para ser seguido. O que nos resta, todo dia, é tentar ser um pouco melhor, conseguir ser refúgio. Ser local de descanso para boas almas que chegam desamparadas. “Tá tudo bem, não é só você!” No fim, todo mundo está meio perdido, alguns assumem, outros não.
0 notes
recigio · 2 years
Text
Estrela
Sentia o vento seco e salgado arrastando, grudando meus cabelos em uma mistura de sal e suor. Sentia a boca seca, os lábios ressecados, jogado em um jangada à deriva, vendo passar um dia após o outro, sentindo uma falsa esperança com cada miragem no horizonte causada pelo meu estado febril. Para meu corpo, não me faltava alimento, do barco, tive a sorte de resgatar o suficiente para viver de forma farta ate o fim dos dias. Para minha alma, tinha muito pouco, havia de me saciar contando as ondas durante o dia, e a noite, com um céu claro, mas vazio, observar o nada. Até os sonhos a muito tempo haviam me abandonado, mas, exausto, um dia sonhei. Dentro do nevoeiro da minha mente, ao longe, no horizonte, um ponto ao longe brilhava. Cerrei meus olhos, tentando distinguir se minha mente me enganava novamente. Ela cresceu, se aproximou, estiquei meus braços enquanto chegava mais e mais perto. Passeava entre as nuvens, dançando, fazendo frente a um fraco luar. Saltei no barco, fiquei de pé. Estiquei meus braços cansados, acenei, como que em um surto, esperando que aquele corpo celeste me notasse. Aquela luz brilhou, sumiu, voltou, então em um lance, brilhou azul, forte, cruzou os céus sob a minha cabeça. Fiquei na ponta dos pés, balancei o mais alto que pude meus dedos no ar. Era tão bela. “Que o destino me permita essa graça, que dos meus pecados que pago agora, eu tenha essa regalia”. E senti medo, um temor bobo e infantil de que ela sumisse e nunca mais voltasse. De pé no sereno, era só mais uma criatura esquecida pelo mundo. Então, ela se aproximou, eu ainda de olhos fechados senti a pequena jangada balançar e ranger quando seus pés tocaram a madeira. Ainda de olhos fechados, senti suas mãos baixarem meus braços, como se dissesse "agora está tudo bem"..” Vi cores do seu brilho através dos meus olhos fechados.Senti seu calor quando me abraçou. Então meu espírito viveu, então meu espírito reviveu e ganhou esperança. Minha alma recebeu alimento, senti paz. Achei que viveria, enfim, como uma criatura divina, pela eternidade. Então também, ela se foi, deixando um rastro cálido e moroso. Respirei fundo, uma, duas, três vezes. Agora os dias passam e eu espero a noite, espero para sonhar, espero na esperança que volte, que volte seu abraço para eu viver eternamente.
0 notes
recigio · 4 years
Text
As pedras e os morangos
E numa tarde de chuva fria, vestido uma roupa negra e um chapéu de couro, o pregador chegou. Parecia um corvo velho. Naquela vila pequena esquecia pelo resto do mundo, onde as maiores preocupações eram morcegos inofensivos que atacavam as bananas, e as pulgas que empesteavam as crianças que viviam grudadas dia e noite nos cachorros, ele começou a soltar sua língua.
Chegou sem nada, montou um palanque improvisado no meio da praça, constituído por duas caixas de madeira e uma tábua por cima, e começou de forma virulenta a propagar suas ideias.
Ninguém deu bola no começo, as crianças davam risadas, os poucos que passavam pela rua achavam que não havia de ser nem o primeiro, nem o último desmiolado que colocaria os pés naquele lugar. Eles mal haviam esquecido do anterior que também havia aparecido como se brotado das entranhas do mundo. Esse anterior, uma criatura rechonchuda, nas sua media idade, chegou a cavalo com olhar distante. E depois de ter farejado o chão uma tarde toda, dando por fim uma bela lambida em um pedaço específico de um barranco perto da praça, decidiu-se e anunciou: “aquela era a terra mais saborosa do mundo!”. Apelidaram de “come terra”. Andava com um prato e uma colher por todo lado. Tentando convencer as pessoas do poder medicinal de um bom prato de terra.
Naquele episódio, a velha Lucia achou que aquilo tudo era uma questão a ser tratada com um bom vermífugo. Como se fazia com os animais e as crianças quando tinham vontade estranhas. Como a vida, os filhos, o cachorro e o marido, principalmente ele, velho e teimoso, não lhe davam tempo para se preocupar com malucos, quando percebeu, o "come terra" havia sumido. Pode ter perecido, ou enjoado do sabor do solo. Tanto fazia. Ela bateu as chinelas enquanto varria a porta da casa e via o pregador grasnar embaixo do sol, do alto de seu poleiro. "Como aquele, esse também há de ir embora".
Mas não foi. Passou a primeira noite pedindo de forma servil por comida. Na segunda e na terceira já havia quem lhe alimentasse. Ganhou uma toalhinha para seu palanque. Em seguida, lhe fizeram um outro melhor, de madeira, e um telhadinho de lona para que se abrigasse da chuva.
“Temos direitos”, dizia ele. “Podemos fazer o que quisermos. Eu sou aquele que veio para libertá-los.". “Não sei o que diabos ele quer libertar alguém aqui? O velho Chico da sua dor nas costas? O Antonio da cachaça ou as vacas dos carrapatos?", pensava dona Lucia. Seja o que for, se conseguisse, talvez fizesse um favor a todos. Na visão do corvo, aquela cidade seria a melhor de todas. Isso estava claro, se lhes escutassem. Aquele povo, ele mostraria, era o melhor povo do mundo. Da sua boca saiam promessas, palavras de mel. Seriam firmes e quem não gostasse que fosse embora.
Então algo no tempo começou a mudar. Veio primeiro a dor nos ossos, logo em seguida uma secura na boca. Aquela senhora calejada pela vida sabia. Era o frio, matreiro, esperneando, vindo devagarinho. Entraria pela porta e quando fosse percebido, todos estaria na frente da lareira ou debaixo das cobertas para não morrer de frio. Foi na lavoura que ela notou os primeiros sinais. O milho, que sempre veio com fatura, foi colhido todo falhado pelos seus filhos. "Você vai fazer lenha meu velho, o suficiente para meses, e trate de escolher as que queimem bem", disse ao seu marido. “Vocês vão tratar bem os animais”, disse aos filhos. “Quero que as vacas saudáveis estejam saudáveis quando o inverno chegar. Só deus sabe como esses animais sofrem na palha gelada. De agora em diante vamos tratar de salvar um pouco de comida para os tempos difíceis nessa casa."
Foi mais ou menos por essa época que o pregador havia arrumado uma concubina, uma mulher muito mais nova que ele, muito bela. Agora estava tratando de propagar sua espécie. Voluntários fizeram um casebre improvisado, com cadeiras e luminárias para escutá-lo falar. Era só o que ele sabia fazer. “Tão útil quanto um cuco barulhento de hora em hora”, falava Lucia para si mesma, parecia bastar para alguns.
Um dia o marido de Lucia voltou de um carteado no bar com seus amigos e lhe disse que o corvo também falava do frio. "Besteira”, dizia o pregador. “Fez um frio mixuruca ano passado, nesse não há de ser diferente. Vamos trabalhar meus amigos, não temos preocupações".
"Se espalhando como um ramo doente de chuchu”, pensou Lucia. "Esse também há de secar". Não secou. O frio chegava mais perto e forte. Enquanto alguns se preparavam, costuravam casacos, não ficavam na chuva ou mais tarde na rua para não se gripar, o pregador, escondido dentro de vestes peludas, dizia que aquilo tudo era besteira. Reclamava dos que poupavam comida. "Querem ficar magros, morrer da fome?". Proibiu todos os que o seguiam de poupar qualquer comida e tratou de fazê-los trabalhar mais. “Quem trabalha não há de passar fome”. Até o pequeno centro comunitário, que normalmente estaria cheio de comida para os tempos difíceis agora estava vazio. Havia sido banido pelo corvo. Cada um que construísse o seu.
A velha Lúcia tratou de guardar comida em dobro. "Quando não tiverem o que comer quando chegar o inverno, vou ter que alimentar o dobro". Aquelas bocas famintas viriam, sabia, não ia conseguir negar um lugar sopa e lugar quente.
E a temperatura caiu muito nos dias seguintes, porque as palavras do pregador não podiam mudar o rumo da natureza. Porque sua boca não era capaz de torcer o mundo a sua volta. Em uma noite que ventava de forma terrível, que fazia todas as vacas mugirem assustadas o primeiro filho do corvo chegou. Foi recebido cheio de pompa e comemorações. Nos dias seguintes, o pregador tratou de instituir que todas as crianças deviam receber o que comer com fartura. Então seu filho, sua mulher e ele mesmo comiam o que havia de melhor naquela região.
Lucia salvou algumas pobres almas, ela tentou. Ficou sem dormir por dias preocupada. No começo, quando as vagens secaram, os seguidores do corvo se convenceram que não era nada. “Todo ano isso acontece, o que tem de errado nisso? São os deuses testando a nossa vontade! Vamos plantar novamente”. Ele gostava de apontar para as pessoas e pedir se estavam com frio. “Só alguns friorentos”, repetia ele. Lucia tratava de cuidar bem da reserva de comida que fez ordenadamente em um quartinho. Trancou bem as vacas no rancho e mandou seus filhos correrem atrás dos ratos.
Em seguida sofreram os animais, quando faltaram os grãos para alimentarem. “Temos então carne”, disse o pregador. “É um fluxo normal da vida, criamos os animais para o abate e então chegou sua hora. Não foi sempre assim? Logo esse friozinho há de passar”. Mas de novo não passou, e enquanto fazia mais e mais frio, não havia mais o que comer. Parecia que o vento podia passar pelas cobertas. Os animais foram trazidos para dentro de casa e dormiam todos juntos.
Sem grãos, sem animais, sem leite. Quando os corpos esguios levantavam a mão pedindo que deviam fazer, o pregador respondia que tratassem de plantar e achar animais para abater. Quando percebeu que não havia mais doações para receber, ficou bravo. “Como querem ouvir minhas palavras se não me dão o que comer?” Ficou colérico. Disse que ali mesmo faria um milagre. “Vá me tragam o resto de comida existe guardado”. Quando trouxerem de suas casas o pouco que ainda tinham, ele levou todo mundo para fora e para o frio.
E essa foi a fatídica “noite das pedras”.  Porque uma vez ao relento, ele afirmou que tudo que eles precisavam estava bem ali e ordenou que todo seu povo comece o barro e as pedras. Assim como fez o "o come terra" um dia, tentou convencê-los que eram doces como morangos. E eles comeram. E não foi a fome que fazia o estômago roncar todos os dias que os levou a fazer isso, não, foi outra coisa. Doía demais pensar que aquele homem havia os enganado aquele tempo todo. Que era tudo uma grande mentira, depois de tudo que haviam feito. Melhor comer as pedras.
Ninguém percebeu, mas a velha Lucia sabia desde o começo, desde que os pés de fruta começaram a secar aos encantos das palavras daquele homem. Não eram suas ideias que haviam levado aqueles pobres coitados a tragédia, não! E não era nenhuma palavra nova, ou feitiçaria. O que ele fazia era dar voz ao mais vil, ao mais tenebroso, a aquilo que todo homem sábio sabe que existe em cantos obscuro da sua alma. Ele colocava para fora todas aquelas ideias malditas que temos que conter nos momentos de raiva. Ele libertava as portas do inferno dentro de cada um.
E quando não havia mais o que fazer - e se acabaram as pedras - um dia, disfarçadamente, ele foi embora. Como todos os malucos anteriores. Carregou uma carroça com comida e se foi deixando a mulher e o filho. Deixou a fome e a loucura para aqueles que não conseguiam abrir os olhos. Deixou meia dúzia de pobres coitados com a ilusão de que um dia voltaria.
Os que sobreviveram, a duras penas, vivendo da solidariedade alheia, repetiram muito tempo depois. “Há como eram bons os tempos dele”. E mesmo que alguns rissem, eles não deixaram de repetir e sonhavam com o dia em que outro homem como aquele aparecesse. Esqueceram das pedras, esqueceram do trabalho na privada para pô-las para fora. Sobrou apenas o gosto de morango.
0 notes
recigio · 5 years
Text
Resgate
Ele acordou com o brilho incomodo de uma luz piscando no painel.  Não havia recebido nenhum sinal de vida durante 763 dias, 4 horas, 30 minutos. Ele sabia por que havia colocado o contador no relógio que carregava no pulso. Procurou desesperadamente por outros sobreviventes durante muito tempo. E agora, aquela luz. Ele sabia exatamente o que significada, ele mesmo a havia programado.
Olhou para o teto de metal e fingiu que era indiferença. Não era, era medo. Depois do acidente no espaço, ele passou muito tempo tentando fazer as coisas funcionarem. No momento da catástrofe, tudo aconteceu muito rápido, quando ele percebeu, estava em um pedaço da nave, sozinho, vagando sem controle pelo espaço.
Agora que ele havia se acostumado, quando ele viva seus dias, de alguma forma, em paz consigo mesmo, a luz piscava. Fechou os olhos, desejou que a luz sumisse e tudo continuasse como estava. Ele não sabia o que lhe assustava mais, a ideia de que aquilo poderia ser apenas um aviso falso do computador, ou então o contrário, um achado de verdade. Ficou imóvel, no escuro de seus pensamentos. Preferia não encontrar nada… Não, Aquilo era mentira! Quando ele abriu os olhos, foi esperando que a luz ainda estivesse lá. E estava. Quando chegou perto painel e a claridade forte do visor iluminou seu rosto, ele queria que não fosse um erro. Parte dele pelo menos. A que não estava tentando puxá-lo para um lugar seguro. Passaram-se alguns minutos, ele apertou outro botão, que ele também havia programado. Uma voz soou.
- Aqui é a engenheira do setor Beta, código 3456-3 cambio! Cai em um planeta anão. Enviando um chamado de socorro, cambio! .... Droga! – ruído, uma voz frustrada.
A data da transmissão era de 100 dias atrás, por algum motivo a nave havia encontrado só agora. Ela foi repetida 30 vezes, durante dias, então parou. Talvez a antena da nave não havia varrido aquela região antes. Sentiu uma espécie de angústia. Ele percorreu rapidamente os arquivos da nave e procuro pelo setor, depois pelo número. Encontrou a foto. Quando a voz se juntou a imagem e um ser humano se materializou em sua mente, algo estranho começou a acontecer. Ele não conseguia tirar os olhos da tela. Ele tocou com os dedos o painel frio e sentiu uma espécie de calor percorrer pelo corpo. Fazia tanto temo que ele sentia... o nada. Então era assim? Isso que significava sentir alguma coisa? Primeiro, era como se ele se lembra-se de quem era, depois, lembrou-se como era sentir-se cativado. Aquele rosto, aquela forma. Ele quase havia esquecido como eram os outros, seus semelhantes. Não lembrava mais como alguns podiam ser tão belos. E aquela, aquela era a imagem da criatura mais bela de todos o universo. Não havia dúvidas.
Apertou um outro botão no painel e gravou uma resposta.
- Olá, aqui é o Dr. Isacc, cientista da antiga frota do setor Gama, cambio! – Era estranho, era muito estranho escutar sua voz. Ela soou fraca, seca, baixa. Pigarreou e tentou de novo. Quanto tempo que não falava?
- Estou a deriva no espaço, cambio.
Andou nervoso pela nave, a, possivelmente, imagem do único ser humano vivo naquela galáxia estampa uma das telas. Arrastou os pés, como lixas, esfregando o chão de metal da nave. Teve vontade de correr, sentiu o coração acelerar. Sentou-se com as costas encostadas na parede. Esperou. A primeira noite quase não dormiu, ficou virado de lado, de frente para o painel esperando. Sonhou, durante o sono teve um pesadelo, alguém arrancara o computador da nave e ele nunca seria capaz de receber nenhuma resposta.
Acordou, o computador estava lá, da mesma forma que na noite anterior. Que em todas elas anteriores. Não havia nenhum sinal, nenhuma resposta. Passaram-se dois dias. Nada. Ele não comia mais, só dormia quando a exaustão o dominava. Estava perdido, sabia que estava, cada vez que olhava aquela foto.
Então tomou uma decisão. Se fosse possível ele tentaria, daria um jeito. Fez os cálculos, como pode, de forma aproximada. Só havia um planeta próximo com aquelas características, na direção do sinal. Não havia motores, não havia combustível. Mas, ainda havia outra forma, ainda que lhe custasse muito. Olhou ao seu redor e seus olhos percorreram os canos que levavam o oxigênio pressurizados pelo seu pedaço de espaçonave. Reparou nos cilindros que continuam o gás e nas mangueiras. Era isso. Na verdade, era bem idiota, talvez suicídio.
No começo seus dedos se mexeram devagar, depois, conforme ele foi desamarrando os canos e puxando os cilindros, se convenceu que era a única coisa a ser feita. Foi para o computador, calculou a sua posição no espaço e o lugar exato em relação ao ponto de origem da transmissão. Faria um furo na traseira da nave e outro na dianteira. Colocaria a mangueira e um cilindro em cada um deles.
Soltaria o gás pelo espaço por uma das entradas e como a boa e velha física havia lhe ensinado, a pressão lhe empurraria pra frente. Próximo do alvo ele, manualmente abriria o cilindro do outro lado e pararia a nave. O computador foi encarregado de calcular o tempo que ele manteria a passagem de gás aberta. Pegou um pedaço de metal pontudo e começo a bater no casco, em um lugar que parecia mais macio da nave. Demorou um bom tempo e cortou a mão em vários lugares. Conseguiu. Escutou o som do ar escapando pela abertura. Colocou rapidamente um dos canos fechando a passagem e tapou tudo com fita adesiva e pedaços de pano da roupa que vestia. Usou muito mais do que precisava da fita. Melhor garantir. Fez o mesmo do outro lado.
Estava feliz, quase delirante. Sentia-se vivo, e a quanto tempo que não se sentia assim? Trinta e dois minutos e quarenta segundos de gás, acelerando, era o que ele tinha. Riu alto, seriam dias, mas ele chegaria no local. Como aquilo era uma completa loucura. Ele sabia que era, mas estava decidido. Abriu o gás e escutou-o escapando para o espaço. Lentamente sentiu um empuxo, no começo quase imperceptível, depois, mais forte. Acompanhou o movimento no painel, estava funcionando.
Respirou fundo. Limpou o machucado da mão com água e passou amarrou um pano. Enquanto fazia isso ficou pensando. Então é isso que nós somos? Um ser que só vive enquanto ainda sonha?
Ele sabia, soube desde o momento que viu aquela imagem. Estava completamente perdido, ele teria que encontrá-la, ou morrer tentando. Não havia motivo para ficar a deriva, esvanecendo, até que pouco a pouco não sobrasse mais nada.
Sim, estava completamente perdido, cativado por aquela imagem, por aqueles olhos. Era como todos os outros idiotas, que fizeram coisas idiotas na vida correndo perigo. Mas era dele, era ele naquela história. E era viva, era algo pelo qual tentar.
E ele foi. Quando chegaria, o que encontraria, haveria de lhe tirar a respiração, de um jeito ou outro, e lhe provar que estava vivo.
0 notes
recigio · 5 years
Text
Tumblr media
0 notes
recigio · 5 years
Text
Tumblr media
A garota e o balão.
0 notes
recigio · 5 years
Photo
Tumblr media
Pintura óleo.
0 notes
recigio · 5 years
Text
Lhamas e Salsichas
Uma lhama cruzou graciosa o centro da cidade. Ela tinha cachecol gola rosa, com dois poms-poms pendurados. Os sons das suas patas tocando os paralelepípedos gastos ecoaram pela praça vazia no domingo tarde a noite. A última barraquinha de cachorro quente da vila nevada estava quase fechando. A lhama reduziu o passo e parou de frente para o vendedor. Ele vinha lhe observando de canto de olho desde que ela aparecera. Ela deu uma fungada sentindo o cheiro das salsichas, estava ruminando alguma coisa verde. - Noite! - Diz o vendedor. - Boa noite amigo! - Responde uma figura montada no animal (Eu não sei o que você pensou, mas lhamas não falam, bom, pelo menos não compalavras, e não essa. Que eu sabia). - Veio pilotando um veículo novo hoje seu Jorge? – O vendedor abriu um sorriso ao reencontrar o amigo. - O de sempre? Humm... vai levar dois? - Indagou ele, segurando um pão aberto ao meio e olhando para o animal que estava carregando o homem. - Só um mesmo, ela já comeu. - Responde Jorge, dando um tapinha carinhoso no dorso da lhama. Ela fica ruim do estômago se come esses tipos de embutidos. - Há, eu entendo! Isso aí é culpa da indústria! Esses frangos que eles usam, que você compra no mercado, sabe? Vi uma reportagem na tv outro dia, leva três dias, três! Do ovo para o abate. Só deus sabe o que fazem com as aves. Inflam que nem balões, da noite para o dia! Mas não se preocupe! As minhas salsichas, há, eu escolho a dedo! Se você não cuidar... - ele bate com a colher na panela e começa a encher o pão com todo tipo de recheio. - Completo? - Completo! – e depois de alguns segundos de silencio - Como estão as vendas? - Há, você sabe, esse negócio novo de FoodTruck, essa modinha, está acabando com a gente... - É quase uma praga, não é? E nem é um negócio barato. - É caro, mas eles tão parcelando, fazendo cheque-bom para 30, 60... o povo paga. - Entendo... é por que é novidade. Vai ser como aquele lance da geleia espacial. Daqui a pouco esquecem. - Escuta só, eu não ia perguntar a respeito, mas e esse negócio aí que você está montando? - A Marcia? Há, eu resgatei ela semana passada de uns sequestradores Eslováquios. É um amor de animal. - Dá trabalho? - Quase nada, come pouco, não ronca a noite, uma beleza. - Acha que consegue uma pra mim? Eu gostei. - Posso ficar de olho. - Soube da Lucia. Dizem que sumiu. – Disse o vendedor mudando de assunto. - De novo? - Pois é! - Ele entrega o pão para o homem que dá uma mordida e abre um sorriso. - Está muito bom! O que é que tem aqui? - Você sabe que eu tenho meus truques! - Você tem que me contar um dia desses o que tem nessa receita - diz Jorge se equilibrando na lhama, virando para ir embora. - Há, se eu te falasse ia ter que te matar! Os dois riram, por que era verdade.
0 notes
recigio · 5 years
Photo
Tumblr media
Em algum lugar anoitece, os pássaros voam para cara, enquanto as últimas nuvens brancas passam por trás das montanhas. A escuridão vai se misturando com as árvores e a natureza se prepara para descansar. É meio bobo, mas Estou orgulho. (em Ascurra) https://www.instagram.com/p/BvpBzz5F5FG/?utm_source=ig_tumblr_share&igshid=1kvybht42jvat
0 notes
recigio · 6 years
Link
O link com o pdf para ler!
0 notes
recigio · 6 years
Photo
Tumblr media
0 notes
recigio · 6 years
Text
O porco e a princesa
- Suba no porco princesa! - Mas, é um porco! - Foi o que eu falei. Suba no porco! - Mas, ele é um porco! - Se fosse um cavalo, eu diria “suba no cavalo”. A não ser que ele esteja me enganando a muitos anos, e ele não é disso, ele é um porco sim! Não se engane, é dos melhores! - Aposto que meu falecido pai nunca precisou montar em porquinhos! O que vão pensar? - Minha cara, tenho certeza que ele não perderia uma noite de sono depois de cavalgar esse porco simpático. Uma coisa é avaliar as coisas pelo que elas são capazes, e isso você deve fazer bem, o resto são só opiniões. - Ele morde? - É claro que não! É um amor de pessoa! Agora princesa, suba no porco! Estamos atrasados! O porco e a princesa.
0 notes
recigio · 6 years
Text
Carta aos ambiciosos
Então, você nasceu uma criatura ambiciosa. Meus parabéns, se eu estivesse por perto, colocaria minhas mãos nos seus ombros e diria: “não vai ser fácil”. Desde pequeno percebi que o mundo era um local selvagem, que meus pensamentos não estariam em paz. De alguma forma a gente sabe que vai ser assim, amaldiçoado, do primeiro lampejo de consciência, até o momento em que será enterrado a sete palmos debaixo da terra. Em algum ponto, enquanto a gente desenha com giz de cera, ou está se emporcalhando no barro montando castelos,  percebemos que queremos o melhor do mundo, logo em seguida, ao calcular as nossas possibilidades, descobrimos que não somos bons que chega para isso. E isso não é injustiça, é apenas uma dura verdade. Talvez se você fosse só mais um ser humano contente com o estado atual das coisas. Se fechasse os olhos e aceitasse que aquele vazio existencial faz parte da vida, então estaria tudo bem. Mas não está e você quer muito mais que isso. Bom, precisamos fazer alguma coisa não é? Você, em fraldas, sujo de barro e com sua espátula de plástico decide: “vou ser um maldito desbravador!” Naturalmente você embarcará em missões mundo a fora. Você pega seu facão e entra na primeira floresta que encontra, disposto a abrir caminhos até seus sonhos. Então, tal como uma criança confiante e ingênua que cruza a estrada sem olhar para os lados, tudo dá errado e você é atropelado pelo caminhão mundo. Fica lá, seu corpinho estraçalhado, esticado no asfalto, quer dizer, na floresta, de olhos vidrados. Logo em seguida um pensamento: “Eu nunca vou chegar lá”. Sim, eu sei, desastroso. Você aceita que é um desastre. Mas deixe eu te contar uma coisa: se essa vontade é sua maldição, também é o caminho para cura. Você não para, há não! “Vamos tentar outra coisa, serei um marujo! Um danado de um capitão dos mares!”. Como próximo desafio, aventura-se em altos mares, e acredita que, mesmo em um navegar lento, chegará até segredos no horizonte. E em algum ponto dessa história até está confiante. “Olha só, não é que estou saindo do lugar!? Como é bonito o azul do céu e dos mares”. Muito bem, aqui eu lhe daria mais um tapinha nas costas e um sorriso: “Há, não se engane, mesmo achando que já passou por tudo na vida, você está apenas começando”. Em um momento o sol brilha, no outro, a mais altas das ondas transforma o dia em noite e você é esmagado novamente, dessa vez pelas aguas escuras. Você acorda na praia, com areia na cara e as gaivotas no céu. Sobreviveu, mas não sobrou nada. Qualquer coisa que tenha juntado se foi.A conclusão é clara, você se enganou novamente. Não vai dar, não existe qualquer caminho. Só que, e aquela comichão que não te deixar ficar parado? O que você faz com ela? Vai render-se ao nada, ao pouco? Não, não faz sentido. E assim, um dia de cada vez, em um caminho a esmo, o que lhe resta é tentar ser um pouco melhor. Você sente frio, calor, sede, e de alguma forma seu espírito resiste. Quando você chega ao fim, em algum ponto que pode muito bem ter sido o inicio de tudo. Você olha para traz e pensa: “Fiz tudo isso por que? Será realmente que aprendi alguma coisa?”. E você, talvez, estará enganado mais uma vez, por que agora lhe falta toda aquela confiança que você tinha antes, que o mundo lhe tirou, e agora você é incapaz de fazer julgamento justo consigo mesmo. Mas tenha certeza, aprendeu, certamente, e se tornou, mesmo que só um pouco, um ser humano melhor. Depois de todos os sofrimentos do mundo, você descobre que precisar amar mais as pessoas, aceitar menos as porradas do mundo e não contentar-se com menos do que um futuro digno. Um número bem maior de músicas parecem fazer sentido. Sim, o mundo lhe tirou tudo,mas foi apenas para você perceber que só precisa da vontade de sonhar com algo melhor. Você é um maldito, desgraçado, sofrido... ambicioso. Dói, não pense que não dói. E o que mais dói é a consciência de ser imperfeito, de ser incapaz de ser o que é preciso para alcançar o que se deseja. É isso que machuca e não suas falhas propriamente ditas. Porém, sua ambição não lhe deixa desistir, por que: “vamos morrer tentando”. Não era assim?  “Até meu corpo ser entregue por uma procissão a um lugar sete palmos abaixo do chão”. Então, como se fosse alguma espécie de mágica, um dia você acorda e toma consciência que sabe andar pela floresta. Um dia, os ventos melhoram e você veleja de forma intensa pelos mares. Talvez isso aconteça  no momento em que você não se importar mais em chegar lugar algum e estiver em paz apenas tentando, evitando repetir todos os seus erros. Não se engane, as ondas continuam, você ainda se perde, você as vezes perde tudo, e perde tudo de novo, e de novo, e coisas que você amava muito. Mas aqui eu lhe daria um tapinha nas costas com um olhar mais tranquilo: “Você vai se sair bem, vai sim”. Eu sei que lá no fundo da tua alma brilha um luz que não te abandona. Nos momentos de escuridão, dentro e fora da tua mente, ela, sua maldição, do berço ao céu , não vai te deixar ficar caído no chão, jamais, teu orgulho e teu pecado, tua ambição. Digo isso, no fim das contas, para que se prepare. Ela vai lhe entregar tudo que sonha, mas não antes de consumir todas as tuas forças.
0 notes
recigio · 6 years
Text
Incidente in Ascurra
São 23:30 da noite, dia 31 de Maio. Faço o caminho Indaial/Ascurra pela Br 470. Chegando perto do trevo da cidade que tem como homônimo um festival com equinos e bovinos  (Rodeio), uma fila enorme de carretas estava parada na BR. -Há, pronto! - pensei - Agora os caminhoneiros dinamitaram a ponte! Imaginei na minha cabeça um carro pequeno, 4 pessoas, 100kg de dinamite. Homens encapuzados, uma explosão, a ponte caindo a baixo. O pessoal estava dando a volta por dentro da cidade de Rodeio, segui o caminho para dar a volta também. Eu morro bem perto da ponte, quem me conhece, sabe. Faço uma volta por Rodeio, passando pelo centro de Ascurra e voltando.Caminhões parados por todos os lugares. O caminhoneiros tomaram a ponte, estava claro. Agora o troço todo tinha ficado sério. Tudo bem, nesse caso, eu chegaria em casa de qualquer jeito, haveriam de me deixar passar. Sigo.Me aproximando agora pelo outro lado, a visão era de luzes, cones e desespero. Havia meio bilhão de caminhões de bombeiros e viaturas da polícia federal. -São os alienígenas, só pode ser. "Incidente in Ascurra". Minha mente fervilhava. Pousaram ali na ponte, os "greys", olhos grandes, nave redonda e brilhante. Só de sacanagem talvez abduziram algumas cabeças de gado do pai e estavam querendo falar com o nosso líder. Paro o carro perto do bombeiro. -Oi! Eu posso passar? Eu morro ali perto da ponte. - Aponto com o braço para fora da janela. Eu pensaria em como lidar com os aliens depois. - Ninguém pode ir - me diz ele - Caiu um carregamento de produtos tóxicos no rio, 12 mil litros, se você passar, você pode morrer. Jesus, Maria, José. Agora era uma cena de filme de verdade. - Meus pais estão lá. - Foi todo mundo retirado - me explica ele. Bom, tudo bem, todo mundo retirado. Olho para o meu celular ,quase sem bateria. Que bom! Nem mesmo o carregador eu tinha. Ligo para a minha mãe. - Estamos no teu tio - diz ela. Retirada as pressas de casa, de roupão, cobertor e travesseiro. Paro o carro e fico ali contemplando a visão de um acidente químico, envolvendo o risco de morte para quem ficasse próximo em um raio de quilômetros. "Você vai morrer se passar".Minha mãe também me conta que no momento do acidente o meu pai foi correndo visualizar o ocorrido, agora, momentos depois, ele sentia um calor estranho pelo rosto e já tinha sinais de intoxicação. - Há, pronto! - de novo. Vou perguntar quanto tempo vão interditar o lugar. Não tinha mais nada pra fazer, fui lá conversar os transeuntes, com o pessoal que se amontoava ao redor de um dos bombeiros. - Tem previsão para liberarem? - Já tão liberando, conseguiram falar com o dono do caminhão. Apesar das indicações no veículo, a carga é segura. - Produtos para limpeza d'agua ou coisa do tipo, me explica ele. Bom, não era os caminhoneiros, muito menos os alienígenas. Até que seria legal se fosse a prova da vida extraterrestre estão perto de casa. Não foi dessa vez. - Mãe pode voltar, a barra está limpa. - Ligo para ela. Havia todo um comitê se dispersando agora e ficava tudo bem. Enquanto a carreata de ambulâncias e bombeiros iam embora, eu fiquei pensando que alguém agora ia ter que contar para o meu pai que os efeitos e os gases tóxicos que ele estava sentindo eram todos psicológicos.
0 notes
recigio · 6 years
Text
Quando eu vejo
Quando eu vejo as árvores que correm pela janela, Quando eu vejo a imensidão de nuvens lá no céu, Há eu vejo, há meu deus como eu vejo! Eu lembro de todo profundo amor que ficou para trás, Lembro dos sonhos que me foram tirados e levados embora. Quando eu vejo as águas dos rios, As ondas dançando no mar, Eu escuto, há meu deus como eu escuto! Os sons do meu coração quebrando, Brilhando em pedaços, Lembro como doí deixar que se vá, Alguém que se ama tanto. Quando eu sinto o vento nos cabelos, Quando eu vejo a vida lá fora, Há eu sinto, há meu deus como eu sinto! Como pode me deixar, Sozinho num mundo tão belo? Quando vejo o doente lutando pela vida, Quando eu vejo o fracassado mais uma vez se levantar, Então eu corro, então eu corro, Há meu deus como eu corro! Então minha alma corre, e corre, Pra qualquer lugar que não seja aqui, Onde você foi parar? Como faço para te encontrar? O que eu faço aqui sozinho nesse mundo, Que ainda tem esperança?
0 notes
recigio · 7 years
Text
Quando descobri
Você me tinha preso nos seus olhos, a noite toda, talvez você soubesse que aqueles sorrisos eram portões para alma. Eu quis te carregar comigo, queria que ficasse, não fosse embora. Queria ser morada, refúgio, resistência, porto seguro. Encontrei perfeição na tempestade, brasa quente que resiste na tempestade de neve, cachorro bravo que balança o rabo contente.Era você, e eu já estava preso. Era loucura ingênua, era coração dócil, alma iluminada. Era dias melhores, raio de luz quente que entra pela janela depois da noite escura.
0 notes