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Me lembro que se fosse ontem.
Era 30 de Outubro e o típico menino do interior chegava na cidade grande com uma mala, uma mochila e sem nenhum sonho.
- Mas sem nenhum sonho Jr?
- Sim, sem sonhos, sem certezas.
Eu estava completamente perdido em minhas convicções, medos, alegrias, amizades … Certezas?
Quem tem certezas é adolescente! Adulto não tem certeza de nada, vive nesse eterno teste e acerto hehe.
Sair de Americana foi sem dúvidas a melhor decisão da minha vida.
Eu estava completamente desajustado com tudo o que havia vivido nos últimos 5 meses pós meu aniversário de 28, por que tudo havia mudado:
Eu sentia como se a minha alma tivesse sido arrancada do meu corpo e outra tivesse sido colada ali e ela estivesse me perguntando: ”Oi, o que é, que tá rolando?” - E eu também não sabia.
Comecei a chamar de tudo quanto é nome, crise de identidade, crise dos 30 [mesmo tendo 28 recém completados], crise geral, pane no sistema, hehe, eu nem sei mais do que chamar.
Minha vida estava bem bonita com a minha carreira, muito obrigado (como já dizia a contemporânea Karol Conká).
Eu era um publicitário de sucesso, recém formado, jovem, ganhando relativamente bem.
Pai de uma gatinha muito fofa chamada Lisiel, que sempre me ajudou do seu jeitinho peculiar.
A vida estava perfeita pode se dizer, estava numa constante.
Havia me formado no final de 2022, com louvor. Era o representante da sala, melhores notas, premiações e membro do concelho de publicidade de Campinas.
Acho que começou assim que 2023 virou:
Em fevereiro fui chamado pelo coordenador do curso, a dar uma palestra da minha trajetória de vida, pra mim, foi o auge da vida académica. Poder passar minha jornada de sucesso aos calouros, tirar alguns minutos pra contar como foi sair de vendedor em uma loja de decoração, para coordenar as ações de marketing de uma fábrica de moda casa. Me lembro de levar meu primo Mateus pra me dar suporte durante a palestra e depois disso, passarmos numa hamburgueria gostosa em Campinas, tomarmos algumas cervejas, e na volta pra casa, ser recebido por Lisiel com um pulo no colo que se tornou um abraço quentinho na cama, aonde dormimos como anjinhos.
Mas pela primeira vez em anos fiquei sem ter um tempo útil de noite.
Quero dizer, desde que comecei a trabalhar com 17 anos, eu sempre estudei na parte da noite, apesar de ser um cara calmo, amava a agitação de ser um excelente aluno.
Estudei um técnico em construção civil aonde me descobri na área de projetos, estudei também redes sociais, fiz um curso de corretagem e por fim consegui uma bolsa integral para cursar publicidade em Campinas.
Ter tempo livre não fazia parte dos planos, e por ai já comecei a me frustrar com aquela vida.
Não era nem pra eu estar nesse país para começo de conversa.
Eu tinha me preparado durante meu TCC inteiro pra cursar a pós graduação no exterior, a bolsa estava pronta eu só precisava pegar uma boa nota numa prova de proficiência e eu fui tonta o suficiente pra não acreditar em mim e abrir mão da bolsa, por medo de tirar nota baixa na prova.
Agora me encontrava aqui, em Americana sem pós graduação no exterior e com tempo de sobra pra fazer vários nadas.
Aonde usá-lo? Bom pra mim fazia total sentido ficar até mais tarde no trabalho adiantando os projetos que eu mesmo tinha desenvolvido.
Eu amava! Como eu amava trabalhar com marketing numa empresa de decoração. Amava cada detalhe. E quando chegava em casa sempre tinha um abraço fofo da Lisiel e o jantar prontinho da minha mãe.
Aliás, minha mãe! Uma mulher singular, muito amorosa e com um coração enorme.
Sempre com a mesa cheia de quitutes pros seus filhos e netinhas que moravam praticamente na casa grande da avó.
Eu pagava praticamente todas as contas de casa:
Água, luz, internet, reformas e cuidava também dos inquilinos que minha mãe tinha, garantindo que tudo estivesse sempre ok em casa e com a minha família.
Descobri um tempo depois, em terapia que na verdade eu estava meio que casado com a minha mãe e havia assumido o papel de “Homem da casa”. Isso nunca foi um peso pra mim por que eu sempre tive muito amor da minha família, era um prazer pra mim.
Era um prazer ser um bom filho, o melhor aluno, o colaborador mais esforçado.
Era um certo vício em ser sempre o melhor em tudo, o que me gerou um perfeccionismo bem chatinho.
Essa era a outra parte de mim da qual eu demorei a entender.
Numa noite em casa, deitado na minha cama com a Lisiel dormindo sob meu peito, comecei a pensar sobre isso:
“Nossa Jr, você chega a ser chato! Tudo tem que estar perfeito e eu tenho que ser o dono da razão!” Estava nessa pira quando senti algo vindo da minha gatinha.
Não vu conseguir traduzir em palavras, mas sentia que ela me enviou uma mensagem e não eram boas notícias.
Eu parei tudo e olhei pra ela, deitada quietinha sob meu peito e suas patinhas.
Eu comecei a querer a chorar e ela estendeu umas de suas patinhas sob a minha boca, “dizendo”:
- Para, tudo vai ficar bem!
Fiquei meio estranho aquela noite, mas como estava cansado do trabalho acabei pegando no sono.
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Faltava 1 semana para o meu aniversário. Eu já havia negociado na empresa, o meu banco de horas.
Iria pegar 3 dias, de segunda à quarta.
O plano era conseguir uma boa viagem como fazia todos os anos, no dia 30 de Maio.
Mas dessa vez sair na sexta a tarde e só voltar na Quarta à noite.
Estava procurando alguns destinos brasileiros, mas tudo mega caro como de praxe.
Eu tinha uma reserva bem ok, pra viagem, mas precisa escolher algo dentro do meu orçamento.
Na empresa, havia finalizado o projeto de páscoa e já terminando um catálogo da coleção que lançaríamos no natal.
Eu havia coordenado tudo, desde o conceito das fotos, as locações em parques e restaurantes. As paletas de cores que usaríamos, combinado com nossa fotógrafa o tratamento de imagem.
Poxa, eu realmente amo trabalhar com isso!!
É 19:00 de uma quarta-feira, o telefone da minha mesa toca e meu gestor está na linha:
- Oi Junior, já está meio tarde. Você já está terminando o catálogo?
- Oi Rô, está praticamente pronto, acredito que o nosso designer possa apenas revisar e então entregamos amanhã mesmo.
- A perfeito! Eu precisava falar contigo, consegue me encontrar na sala de reunião em uns 10 mins?
- Claro, indo pra lá então.
Ali eu soube que seria demitido
Alguns meses antes, meu diretor havia contratado uma gestora para supervisionar o meu setor e o setor de desenvolvimento da empresa.
Olhando hoje, confesso que não fui muito receptivo, mas ela também não era de dar o braço à torcer. Foi um período horrível na minha vida.
Eu sempre amei os meus trabalhos, meus superiores, a vida corporativa, os almoços arrastados de sexta-feira.
Pra mim sempre como viver numa série norte-americana.
O cafezinho expresso na caneca, as conversas de corredores, a admiração por um trabalho bem feito.
Como foi um tempo bom.
Tudo isso acabou no momento que o Rodrigo me disse:
- Então Junior, a empresa está optando por te desligar hoje mesmo. Não aconteceu nada em especial, você vai receber todos os seus direitos mas o que eu te digo é pra tomar cuidado com a maneira como você fala as coisas.
Fui ali taxado de superior, talvez?
Fui ali demitido por causa da minha supervisora que não aceitava minha presença?
Fiz algo horrível pra alguém e eu nem tive a oportunidade de saber?
É isso, nunca soube.
Falar que não doeu e que não queria ter tido informações mais concretas do por quê, seria mentira das boas. O fato é “Eu havia sido demitido pelo primeira vez na minha vida, e a sensação foi um mix de liberdade com rejeição”.
Sai da sala, arrumei minhas coisas numa caixa e fui pra casa de Uber.
Chegando em casa, estava sozinho, minha mãe estava fora e Lisiel não veio me receber, já tinha dormido. Pensei.
- Cara que loucura!
Não estava triste por não ter renda nem nada disso, afinal eu tinha.
Ia receber uma pequena bolada antes do meu aniversário e ainda 5 meses de seguro desemprego pegando o teto do benefício. Então poderia ficar de boa, não precisaria me preocupar por hora.
Sou solteiro, não tenho filhos (fora a Lisiel), as contas estão pagas, meu cartão não está com a fatura tão alta assim.
Eu estava sem faculdade e sem emprego.
Mas, tudo estava bem. :)
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Esse é um manifesto pelo começo.
Começar um projeto, botar para quebrar, buscar o que parece arriscado. Não só dizer que "estou começando a pensar naquilo", ou "vamos nos encontrar no dia tal", ou "preenchi uma aplicação para algo ..." Nada disso! Começar! Passar do ponto em que não há volta. Dar o salto. Comprometer-se. Fazer Algo Acontecer!
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Capítulo 1: Rua Augusta
A madrugada ia dando lugar para o dia, quando eu e meus dois amigos, Thalles e Tubarão, entramos no que só poderia ser descrito como o after do after. A Rua Augusta, com suas luzes nebulosas e promessas de eternidade, nos engoliu em seu ventre de concreto e neon.
Thalles, o eterno galã de 24 anos, e Tubarão, o charmoso enigma de quase 30, haviam conseguido entradas baratas, com a promessa de drinks à vontade. Pagaram minha entrada — um ato de generosidade que se tornaria habitual. O local era um segredo bem guardado, escondido no fundo de uma galeria que mais parecia um beco de mistérios - Ao cruzarmos a porta, fomos transportados para noite novamente, outra dimensão sem julgamentos. A música? Uma entidade viva, pulsava através de nós, e eu me deixei levar pela dança sem reservas, sem medos, apenas ali curtindo cada nota no meu corpo.
Entre a multidão, uma figura se destacou: Raquel. Baixinha, loira, com seios fartos e um sorriso que iluminava a penumbra. Seu jeito tinha um quê de carioca, uma ginga que me atraía, mesmo eu sendo o único não hétero do grupo: - Oi, meu nome é Raquel. E o seu? — ela perguntou, com uma voz que carregava o calor do Rio. - Junior — respondi, sentindo o flerte implícito em seu olhar. - Hmm, você é altão. Bora dançar comigo? Eu amo essa música! Vemmm. Minha mão foi levada pela loira e ela tinha razão. A música era perfeita. Nós dois nos perdemos no ritmo. Mas a noite ainda guardava mais surpresas. Meu amigo Thalles me chamou para o banheiro, e foi lá que Tubarão nos apresentou a um pó que prometia elevar a festa a outro nível. Seis carreiras, duas para cada um. A festa dentro de nós começou a competir com a festa ao redor.
De volta à pista, Raquel reapareceu, e logo formamos uma roda. Uma latinha circulava, contendo um lança (Que diziam ser da melhor qualidade). Minha vez chegou, e com uma baforada, passei adiante. - Vamos para o camarote! — Raquel sugeriu, e antes que percebêssemos, estávamos no alto, observando a festa de um ponto foda.
No camarote, Raquel se sentou em um sofá cromado, e eu me vi refletido em uma parede espelhada. O reflexo mostrava Leonardo, meu altergo, confiante, que havia deixado a timidez no interior e aqui na capital, ele veem. Trazendo um Junior confiante e pronto pra qualquer rolê. - É, acho que bateu forte — Tubarão comentou, observando a cena. - Porra, bateu mais que forte! — concordei, sentindo o mundo girar.
A noite avançava, e com ela, os limites da realidade se desfaziam. Raquel, com um sorriso travesso, trouxe mais surpresas escondidas nos seios, e a festa se intensificou. Dois saquinhos de padê da melhor qualidade e um frasco de ácido. (Acredito que daqueles peitos poderiam sair, qualquer droga que eu quisesse). O ácido foi passando e chegando em mim.. Foi minha segunda e útima baforada da noite. - Perai!! (pensei) Algo mudou. A música se distanciou, e uma sensação amigável mas estranha me invadiu. Meus sentidos se esvaíram, e a morte sussurrou em meu ouvido.
Meu último pensamento foi uma despedida para a vida que eu havia vivido, repleta de momentos marcantes e prazeres simples. ... Beleza, morri. Foi foda, vivi o que queria, comi bem, sorri demais [enquanto pensava, um filme passava em minha mente com todos momentos maravilhosos, todas as festas, beijos, transas intensas, almoços em restaurantes caros no meio da tarde de expediente, transas carinhosas, minhas viagens à praia, à Salvador, à Buenos Aires, as delícias gastronômicas, o aroma do café preto pela manhã, minha família, amigos, o sorriso do meu irmão gêmeo e todo meu sucesso como diretor de marketing. ] Pensei: "É isso. O show acabou. Desligaram minha tv. Fim pra mim. Tchau." Vi a tela da minha existência se apagar, e com ela, a certeza de que o show havia terminado.
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