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O QUÃO CRUÉIS SOMOS COM MULHERES NEGRAS?
–  Por: Ezequias Castro 
“A pessoa mais desrespeitada na América é a mulher negra. A pessoa mais desprotegida na América é a mulher negra. A pessoa mais negligenciada na América é a mulher negra” – Esse é um trecho do discurso intitulado “Who taught you to hate yourself” do ativista norte americano Malcolm X. Assim, é necessário se questionar: por que permanecemos tão cruéis com as mulheres negras?
Nos últimos anos, os debates sobre representação racial, estética negra e, principalmente, racismo, aumentaram de forma significativa. Nos marcos da história é possível lembrar de Beyoncé e a sua lendária performance da música Formation no intervalo do SuperBowl, em 2016.
Dentro do contexto brasileiro, recentemente, a funkeira e empresária carioca Ludmilla saiu as vaias do Prêmio Multishow (organizado pelo canal Multishow), ao subir no palco para receber o prêmio de melhor composição pela sua música “Onda Diferente”, na qual colabora com a brasileira Anitta e o estadunidense Snoop Dogg.
Dentro do campo político brasileiro, Marielle Franco, a quinta vereadora carioca mais votada, militante dos direitos humanos e mulher negra, foi brutalmente executada em março de 2018 junto com seu motorista Anderson Gomes, enquanto saía de uma atividade com mulheres no Rio de Janeiro.  Até hoje, um ano após o assassinato, as investigações suspeitam de milicianos, no entanto, o caso corre em segredo de justiça e ainda não foi solucionado.
Ao entendermos o que a psicologia nos ensina, compreendemos que o racismo é negligenciado pelos profissionais da área de saúde mental que, ao atenderem pessoas negras, o individualizam e o veem como problema pessoal e não social.
Assim, existem três mitos que cercam a mulher negra, especificamente, no Brasil: o da “mulher guerreira”, sempre vista como forte, ou popularmente, como a que “não leva desaforo pra casa e nada a abala”; o segundo mito, é o da mulher “preta mãe”: aquela mulher com dotes culinários, nascida para servir e cuidar da casa e dos filhos; o terceiro mito é da “mulata exportação”, em que temos uma mulher negra de pele mais clara que é objetificada e sexualizada pelos seus corpos curvilíneos, sensualidade e facilidade para dança. Dessa forma, esses três estereótipos dialogam diretamente com a forma perversa a partir qual as tratamos, assim como o racismo e a estruturação de uma cadeia preconceituosa que perdura há centenas de anos.
Ao longo desses vinte e quatro anos de idade venho observando o quão cruel a sociedade tem sido com as mulheres negras. Os casos de crueldade citados há pouco reúnem fatos do passado e do presente e, nisso, é importante entender como acompanham o avançar da história. Tenho uma irmã – negra - com alguns anos de idade mais velha e desde pequeno observo a sua luta constante para se adequar aos padrões estéticos pré-determinados pela sociedade. São anos renegando o seu cabelo crespo, seus traços negróides e até mesmo seu corpo curvilíneo.
Agora, é questionável sobre quantas são as Ludmilas que são desrespeitadas e desacreditadas todos os dias e saem vaiadas nos diversos campos de suas vidas por se destacarem em algo e serem reconhecidas por isso? Quantas são as Marielles que são desprotegidas e acabam mortas ao assumirem lideranças e lutarem contra as opressões sofridas pelo seu povo? Quantas Marias, Martas, Raimundas veem sua saúde mental sendo abalada pela estrutura do racismo e são negligenciadas pelos profissionais da saúde?
De onde vem toda essa crueldade? Será do racismo enraizado e institucionalizado em nossa sociedade ou da cultura do machismo construída ao logo dos anos? Por que é tão difícil para nós aceitarmos mulheres negras líderes e em posição de sucesso? Estaria na desconstrução desses mitos a solução para tanta crueldade?
Ultimamente temos visto que empresas, pessoas públicas e as artes se posicionarem, problematizarem e levantarem debates sobre o tema -  até mesmo um dia internacional da mulher foi criado para dar visibilidade e abrir diálogos sobre o assunto.  É certo afirmar que à mulher negra não lhe foi dado o direito de exercer o seu corpo, pelo menos não no Brasil. São mulheres que desde muito cedo são vistas pelo olhar do outro e que tiveram os seus direitos de estarem vivas, serem respeitadas e receber afeto usurpados e negligenciados pela sociedade e políticas públicas.
É necessário enxergar a mulher negra por outra perspectiva, criando a possibilidade de uma existência saudável, livre e benéfica. Afinal, não foi e nem é nada fácil ser arrancada de suas raízes para, de forma obrigada, ajudar a construir a identidade e cultura de um país que se orgulha dos títulos de honra, mas nunca poderá se orgulhar de como essa parte da história foi escrita.
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