Tumgik
rss28 · 6 years
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Só um desabafo
Sou solteira, tenho vinte anos e nunca, nunca me apaixonei. Na verdade não conheço muito bem os meus sentimentos, mas tenho consciência que minto para mim mesma e me engano em relação a forma que me sinto em diversas situações, principalmente naquelas que envolvem o coração. Conheço um rapaz há muitos anos, treze para ser exata, estudamos por muitos anos juntos e sempre fomos amigos. Tínhamos uma relação tranquila durante todo o ginásio, ele não era meu melhor amigo e nem nada do tipo, mas a gente se dava bem e conversávamos sempre que podíamos. Eu nunca havia notado ele com outros olhos, sabe? Ele sempre estava lá, mas eu estava sempre focada em outras coisas e nunca havia prestado muito atenção nele, mas naquela época eu tinha uma melhor amiga, éramos inseparáveis e embora não tivéssemos os mesmos costumes, nos dávamos super bem e estávamos sempre juntas. Me lembro que um dia ela comentou comigo que achava ele um gato, eu nem me importei, concordei, porque ele realmente estava ficando um rapaz bonito, mas não tive nenhuma segunda intenção. Me lembro que naquele mesmo ano briguei com essa minha amiga por causa desse rapaz, porque infelizmente, ele não tinha interesse nela, mas passava um bom tempo conversando comigo. Não com qualquer interesse romântico, era mais porque nos dávamos bem mesmo, porque compartilhávamos dos mesmos gostos e interesses. Eu nunca havia tido qualquer interesse romântico por ele. No ano seguinte eu mudei de escola, a escola que estudava até então só ia até a oitava série e por isso toda a turma que se formou, saiu transferido para uma outra escola para estudar o ensino médio. O primeiro ano chegou com grandes mudanças para mim, para começo de conversa eu e essa minha amiga nos afastamos demais, havíamos caído em salas diferentes e isso abalou muito nossa amizade, mas por total coincidência, eu havia caído na sala desse garoto e de outros amigos que sempre foram muito próximos. Se antes nós nos dávamos bem, começamos a nos dar muito melhor. Afinal, ficávamos o tempo todo juntos na escola, conversamos sempre e sobre tudo, nos dávamos super bem e tínhamos uma personalidade muito parecida. As garotas da sala viviam na cola dele e consequentemente na minha, porque eu era o único elo entre ele e elas, já que ele nunca conversava com essas meninas, na verdade ele não era o típico garoto normal de quinze anos. Ele era diferente sabe, ele não passava muito tempo com meninas, não se engraçava com elas, era super respeitador e não se sentia a vontade em falar com as outras garotas, corriam até alguns boatos entre os amigos mais próximos que ele poderia ser gay, algo que eu tive sérias duvidas durante um tempo, mas nunca tivemos prova disso. Me lembro de ter dado muitos foras aquele ano, alguns até na presença dele e me lembro também de muitos comentários de diversas pessoas falando que a gente combinava, que tinha alguma coisa que rolava entre nós dois, mas eu sempre negava! Até mesmo a minha mãe dizia que a gente combinava e que a gente devia namorar e coisa e tal. E pronto, fui ouvindo tanto essa frase que de repente me perguntei se era ou não verdade. Será que a gente realmente combinava assim? Comecei a dizer para mim mesma que talvez fosse mesmo verdade, que a gente era muito parecido e pensava muito igual em relação a relacionamentos, comecei a pensar que se nós dois namorássemos, a gente ia dar muito certo, ou então, muito errado. Era um pensamento perigoso, mas eu era jovem, nunca havia me apaixonado. Fui percebendo que de repente eu prestava mais atenção nele, que de repente eu ficava muito tempo grudada nele e que eu queria ter o máximo de contato com esse garoto, mas ele dificultava muito isso, ele não era do tipo que ficava ao redor, tipo, naquela época eu andava de braços dados com meus amigos, abraçava eles e estava sempre junto com os meninos, mas essa garoto em especial era diferente, ele não me dava a mínima atenção e aquilo feria meu orgulho. Eu nunca havia passado despercebida por um  garoto antes, então o fato de estar afim de um que nem me notava, era constrangedor e completamente irritante. Era o único que eu queria, e o único que não correspondia o meu sentimento. Fui lá e contei para minha mãe dos meus sentimentos e não satisfeita ainda fui e contei para outro amigo que era muito próximo de nós dois. Esse outro garoto era meu confidente e ele era completamente leal e verdadeiro, eu confiava nele de olhos fechados e foi por causa disso que eu confiei nele. Ele sempre  ria de mim e zombava dos meus sentimentos, mas ele jamais comentou sobre eles para ninguém. Nunca! As vezes eu preferia que ele tivesse contado, porque talvez assim o outro garoto teria me notado. Enfim, não foi assim, e bola para frente. Em um dia louco, saímos mais cedo da escola e estávamos indo embora a pé, como fazíamos sempre. Estava eu, esse rapaz que eu estava afim e mais duas meninas da nossa turma, quando um dos meus amigos sai correndo atrás de nós, me lembro daquilo como se fosse ontem e sinto o desconforto e o peso no coração toda vez que me lembro daquele acontecimento, eu amava esse outro rapaz, tinha admiração por ele e nós nos dávamos super bem, ele era tímido e discreto, o típico nerd e a gente se adorava e passávamos horas juntos, conversando sobre livros, animes, bandas de rock e coisas do tipo. Quando ele parou na minha frente, ofegante, as mãos no joelho e os olhos arregalados, eu sabia que tinha alguma coisa de errado. Eu me lembro dele dizer entre goles de ar e respiração alta, que gostava de mim. Aquilo foi cruel, eu não sabia o que dizer ou o que fazer, queria me enfiar em um buraco e nunca mais sair, mas precisava resolver a situação, olhei para as pessoas que estavam comigo que pareciam tão surpresas como eu, olhei para o tal amigo que eu era afim e depois para o outro garoto na minha frente, então suspirei e pedi licença para os outros. Eu não tinha nenhum sentimento por esse garoto, disse isso para ele, disse que gostava muito dele e tal, mas que não era desse jeito, pedi desculpa, e ele me agradeceu, disse que me entendia, se virou e foi embora e eu corri até meus outros amigos, depois fomos embora tranquilos. No meio do caminho as meninas tomaram outro rumo e eu e o garoto que eu estava apaixonada seguimos juntos por outro lado, falamos sobre o que tinha acontecido, eu expressei minha opinião, disse que estava chateada, ele me ouviu, me disse muitas coisas que hoje eu nem me lembro e de repente eu precisava dizer para ele o porque de ter rejeitado meu outro amigo, então disse para ele que eu achava que gostava de alguém. Olhei nos olhos dele e disse sem palavras que era dele que eu gostava, não tinha como disfarçar, todos os indícios que eu dei, todas as palavras, disse que gostava de um amigo e que a gente era muito parecido, mas que eu tinha medo porque éramos muito amigos e ele jamais havia demonstrado qualquer outro sentimento em relação a nós dois que não fosse amizade. Mas isso não mudou nada. Ele simplesmente me ouviu, não soube o que me respondeu, eu fui para minha casa, ele foi para dele e seguimos em frente. Eu fiquei furiosa, mas esperançosa, achei que tinha avançado as coisas e que agora era só questão de tempo para as coisas mudarem. Mas nada mudou! Continuamos amigos, seguimos em frente, até o dia que em uma excursão da escola, nós fomos até um parque de diversão que havia em uma cidade próxima, eu fiquei eufórica, ficaríamos o dia inteiro junto, tinha que rolar alguma coisa. Eu era ingênua e confiante demais naquela época, não entendia os sinais, ou os entendia errado, enfim, fomos ao tal parque, realmente ficamos juntos durante horas, ficamos três horas só na fila da montanha russa, sozinhos, juntos e mesmo assim, não rolou absolutamente nada. Desisti dele naquele dia. Segui em frente e fingi que nunca havia sentido nada, cheguei a conclusão que estava confundindo meus sentimentos, que porque nos dávamos super bem e tínhamos ideias muito parecidas, a gente devia ser um casal. Ouvi muitas opiniões, de diversas pessoas que dizia que a gente ia fazer um casal incrível, que acabei acreditando nisso, no fim quebrei a cara, fiquei chateada, mas melhorei logo e finge que isso tudo nunca havia acontecido. Enfim, passou. No segundo ano eu mudei para o período noturno e ele ficou de manhã mesmo. Perdemos o contato, logo depois mudei de cidade e então voltamos a nos falar com tudo. Enfim, percebi que naquele ano ele tinha sofrido uma mudança enorme, quando nós dois éramos amigos, nunca trocamos um abraço, para se ter uma ideia, eu nem mesmo tenho fotos com ele, ele nunca deixou que eu tirasse foto, nunca permitiu que eu abraçasse ele, isso magoa até hoje. Enfim, ele mudou e amadureceu, ficou amigo de muitas meninas que eu nunca fui particularmente amiga, ele tirava foto com elas e logo depois começou namorar uma garota mais nova. Isso foi há anos. Hoje eu já tenho vinte anos. Nós nos falamos ainda, as vezes durante horas pelas redes sociais, eu tomei coragem, afinal, todo mundo fica mais corajoso atrás de um celular, e contei para ele dos meus sentimentos antigos, contei para ele como me sentia, disse o que pensava, falei sobre meu coração, rimos disso, ele me confessou que também havia tido sentimentos por mim, mas que era muito imaturo naquele época, e que ele achava que eu era demais para ele, que tinha personalidade muito forte e estava sempre cercada por outras pessoas para dar bola para ele, sabe, nesse sentido? Já se passaram vários anos e nós nunca mais nos vimos. Ainda fazemos promessas que não sabemos se vamos cumprir, ele quer muito me ver e me abraçar, e eu quero muito que as borboletas no meu estômago morram quando eu finalmente ver ele outra vez, isso para chegar a conclusão que esse sentimento não existe e que eu estou apenas me enganando. Mas é difícil me convencer a distância. Gosto dele. As vezes eu passo muito tempo sem pensar nele, as vezes sigo em frente e me envolvo em outros relacionamentos, mas a verdade é que passo muito tempo solteira, durante todos esses anos eu só tive um namoro e ainda assim, nunca consegui me afastar dos meus sentimentos por esse amigo. É louco, eu sei. Mas ainda está lá. É frustrante, as vezes eu passo uma eternidade sem pensar nele, mas de repente ele volta a ocupar meus sentimentos e eu não posso afasta-lo, as vezes acho que ainda vamos ficar juntos, as vezes penso que a gente tem tudo haver, imagino como seria se tivéssemos confessado nossos sentimentos naquela época, como seria se eu tivesse beijado ele naquela rua, ou naquele parque, mas eu nunca vou saber a resposta para essas perguntas. O tempo passou, estamos longe, ele namora já faz anos, ele ama a namorada dele eu torço por eles. Realmente! Eu quero que ele seja feliz e eu quero que ela o faça feliz, mas eu não posso me enganar e fingir que esse relacionamento não me ofende e não me ressente até hoje. Acho que sinto ciúme. Eu tenho vinte anos e não sei se tenho um coração partido por causa dessa história, eu não sei se amo ele, se não amo, eu não sei se é apenas uma curiosidade por nunca poder saber o que teria sido de nós dois, até porque o 'nós dois' nunca existiu. Nos falamos pela última vez semana passada, eu comentei uma foto que ele postou no status do whats, conversamos por algum tempo, ele demorou horas para me responder e depois eu fiz a mesma coisa, não é de propósito, eu acho. Ele já não acredita mais que vamos nos ver e o hoje eu tenho medo que ele esteja certo, principalmente porque eu quero. Eu quero ver ele, eu quero vê-lo para acabar logo com esse sentimento inquieto no meu peito, esse sentimento que me toma e que eu nem conheço. Tenho medo das minhas reações, dos meus sentimentos e pensamentos, e se eu nunca superar esse sentimento? E se eu descobrir que realmente estou apaixonada por ele, que sempre estive todos esses anos, e se ele estiver destinado a namorada atual dele? O que eu vou fazer? Eu não quero um coração partido! Mas eu não quero que essa situação se estenda por mais tempo. Estou cansada, eu realmente quero dar um fim nessa história.
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