sandroliveira
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Galeria Mortalhas
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De um estrangeiro no mundo, alguém que não está perdido, sequer solitário, apenas sorumbático na medida.
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sandroliveira · 6 years ago
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Longitriste VI
Ao abrigo da minha indiferença, dá-te pressa Porque hoje decidi mudar e nunca mais te ofertar Silêncio e treva. Aligeira teu passo, minha indolência açoda. Tracejo mentira e ruído Uma vez que não aprendi a tua demora. Persegue-me e faz tintinabular tua palavra. Emparelha tua luz a um perdulário De nadas. Pois hoje eu te daria ardor imaculado E de ti, jamais me afastaria. Adianta. Acorda. Aforçura minha urgência Tenho fome da tua persistência.
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sandroliveira · 6 years ago
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Longitriste V
Rebuscando coisas em minha alma, Dirijo meu olhar para mais alto E entrego o titânio do meu coração Ao calor da tua frágua. Duvidas do que sentes. Crêes apenas no que ouves. Repulsas a permanência e subitamente, Me ofereces doblez e estertores. Arrojado à tua suscetibilidade mórbida Lamento tua sumária imagem E esqueço o farfalhar das ramagens Encovando no sorriso um óbito. Procurei por rosas Nesse teu buquê de imbecilidades. Mas empalideci e murchei ao oblívio Da tua própria insignificância Mercando a imortalidade. Que te iludas por um momento. Assim não corro o risco de manchar Meu gozo beatífico do esquecimento.
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sandroliveira · 6 years ago
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Longitriste IV
Ai dos outros que me amam. Porque só a ti quero confidenciar As minhas mortes. Se fosses também poeta, Para que de ti conseguisse um aporte, Trarias também outras e possíveis mortes E pensaríamos eviternidade. Ai daqueles que não te amam Se ainda agora tu oferecias Uma maunça de estrelas caídas, E dizias estar conformado No viço lúteo e pronto de partidas. Ai de mim que ainda não te amo. Mas há tempo para enxugar teu pranto Sempre que cobiças a eternidade.
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sandroliveira · 6 years ago
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Longitriste III
Direi a todos os meninos Que o que lhes espera é a friúra Dos jazigos. Direi sobre a tristeza depois da morte, O desencanto das cosias e sua feiura. Depois, mostrarei a eles um corte Cavado pela ausência. Direi a todos que a incandescência Do amor é um tipo assassino. Que mais vale um menino Do que um homem morto.
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sandroliveira · 6 years ago
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Longitriste II
Da concha das tuas mãos O fragoído das águas contra A mouquidão Rumorosa das minhas palavras. Espargido, acurvo-me encharcado Dolorido Siderado Chofrado No sumo do teu exício. Alarga-me os lanhos. Pois já esqueci que vou morrer.
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sandroliveira · 6 years ago
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Longitriste I
Era como se fosse uma conquista Não saber o que fazer Da vida, e tentasses aprender A morrer Sem despedidas. E é como se fosse fundo e líquido Teu desejo, e alcançasses O lampejo Lutuoso E dançasses hirto. Como se amasses e falasses E ainda me visses Decesso e ocaso E tudo coincidisse No vazio. Mas atenta: a mentira já foi olvida. Forceja um pouco de outridade Se ainda acreditas. Tenta a eternidade. Desperta-te e regressa. Volta!
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sandroliveira · 6 years ago
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Amorte IX
E o que nos restou ao longo dos meses? Olho teus lábios e das coisas me esqueço, Derrubo para fora de ti uns falsos deuses, À medida que, na tua queda Eu permaneço. Dos lances difíceis e furtivos, Os que ainda me lembro, O mesmo fantasma na tua cara de gozo Lançando das cores do meimendro A tua vida clandestina Sem mim de novo. Mas ainda tácito, curvo-me sobre o tempo, Ato o segredo do meu ser no teu Ao ritmo rafado do bandolim. Da postrema gota de sangue Sorvo teu vicioso nada em cada momento, Para que morras imenso dentro de mim.
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sandroliveira · 6 years ago
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Amorte VIII
O teu desígnio de permanecer e existir É o mesmo que experimentar o nada: O arrobo da tua euforia A ilusão contente Acerca da letícia de nossas roladas. Se contudo há alguma coisa entre nós, Tu sabes bem: é sempre tênue e incerta. E sabes mais: que sou o teu próprio algoz Na fronteira da tua erronia, E não podes pagar com a mesma moeda Como querias. Embora te recuse um'alegria profunda Na sombra da minha lírica, Para q'olvides o passado um instante E me denegues as paisagens noturnas, Tua vida é pra mim algo de importante. Mesmo que em teu auditório particular Tu rias e chames por mim em segredo, De modo algum posso tentar ignorar: Esxite aqui um pouco de amor, Mas aspiro teu degredo.
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sandroliveira · 6 years ago
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Amorte VII
Nunca exigi o teu reconhecimento Nem assento dentro do teu coração. Ambiciono não mais q'o teu silêncio E apetência p'ra minha consternação.   No momento em que revi teu rosto As atrocidades já haviam acontecido, E dessa indiferença de carne e osso, Arrisquei conseguir algum sentido. Tua mente retida em fatos estranhos, Aliada à simpatia fingida e distante, Deixou as minhas coisas num canho, Já que nada para ti figura ser bastante. À minha monstruosidade inominável Preludiava o teu arraigado ceticismo. Assim é teu amor, sempre impraticável, Porque faz da nulidade um morticínio.
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sandroliveira · 6 years ago
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Amorte VI
Como se o sudário sobre um morto Fosse, na verdade A vivacidade das orquídeas Que paliando tua mancha no meu corpo, Sepultarias tu a tua existência Dentro da minha?   Pois se de golpe tu morresses Durante a primeira aurora sobre o mar, No nado espúmeo dos peixes, Talvez eu pudesse te amar. E se um canto em notas dissonantes, Ou o peso dos toques [Que te acariciam] No puro pesar e sofrimento de antes, Tuas aves com minha voz cantariam? E se o que fosse claro escurecesse Em meio à podridão e mesquinhez, A dor e o arrufo A facúndia morbípara, E tu ainda sofresses A falta do meu grito contra a mudez? E se tivesse o vôo alto dos pássaros, Encontrarias tu sem mim o amparo A fim de menoscabar nossas mágoas? Tens pressa? Mas ainda te atrasas.
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sandroliveira · 6 years ago
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Amorte V
Na ponta do teus dedos Tu tinhas o laivo da fome. Das rosas eu ainda te iludia Como se a noite, feita de vinhas No suor ebuliente dos homens Se fizesse minha. Mas dela, ainda assim Não me querias. E agora me esqueço das palavras Que repercutiram exatamente Como uma lástima. Mas sei que te lembras da minha cara Quando no sigilo da noite Vestal e predestinada Queres apenas água. Lembrei-me da roxura dos teus toques O júbilo doentio na tua cara Um afluxo condensado de gozo As alvoradas tintas de rúbidas mortes Mas nada disso fez parar esse choro. E quando por ti eu chamei Puxando batalhas Contra esse flume de lágrimas Desejei que não mais existisses. Mas agora te canto o azul escuro da íris Porque deixaste em mim altar e morada. Porém: Nega-me-te! Pois já não creio em mais nada. Nem mesmo no advento das floradas.
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sandroliveira · 6 years ago
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Amorte IV
I É tua tristura costumar Mas carrega o meu nome. Como o sarrido dum rufo tempo Que, igualmente É um grito de fome cômpar Do meu atenazamento. Esburacaram no oco do peito um túmulo Para guardar a palma cheia de fulgor E no pouco espaço Combinado ao fedor Omitiram deles que éramos o defunto. A mesma noite que fulgurou Graça e tentação no teu olho [Das coisas emanadas da molúria] Fez nascer em mim Num traço babélico de fúria Um desejo de te querer disforme E morto. II Mas que não seja assim. E se for preciso: Ama-me a mim Ou aspira a constância E um certo devaneio semelhante Ao desfastio insólito De morrer alheado num enxame [De belezas No remanso] Por um instante.
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sandroliveira · 6 years ago
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Amorte III
Tristíssimo e informe: a ti me apresento. Aliás, poupo-nos da dúvida Que há no verbo do meu sofrimento.
A carne, a presença da dor e a múltipla Maneira de insistir e te fazer desejar Constância e quietude. Mas sem autonomia, não pude cobiçar Uma bocada de avença e similitude.
Foi como se eu te inumasse no breu Conservando a harmonia dos abetos Enquanto contrafazias teso afeto.
Vê, já não preciso te dizer adeus.
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sandroliveira · 6 years ago
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Amorte II
A dois passos de mim Morres de sede À procura daquilo que desconhecias. Só posso dizer que disso não procede O vigor de tentar curar nossas feridas. De amarujentas lágrimas Colho junto da libitina dos pássaros A ideia de tibungar num arroio de vida. Se é que não sou apenas o náufrago E a dor suspicaz Sequente das tuas partidas. Para empalmar de mim uma melodia, Pensas o retrato do sol poente A noite pardacenta O inaperto dos dias Mas nada é assim tão vil e indiferente Quanto a idéia precipitada De conseguir rosas duma carniça.
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sandroliveira · 6 years ago
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Amorte I
Percorri as prateleiras vazias Como quem procurou a água fria, Mas percebi a morte quase vizinha. Como se te negasse, E vivesse ainda c'o teu coração frio, A água sempre me faltasse E nunca pudesse atingir o rio. Deixaste um pouco de ti em tudo, Sobre todas as coisas o olvido Da noite rutilando a luz mais sombria. E o peso morto das palavras, Aquelas que nunca me dizias, Ressumou à oquidão Dos meus ouvidos. Mas no sumo da boca Há açaimo, escachada fome E aquele que não existe. Ao passo que me finjo de morto E o outro ao teu lado me omite.
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