Festival de fanfics dedicado ao nosso querido maknae, Oh Sehun! ♥
Don't wanna be here? Send us removal request.
Text
Agradecimentos e Revelações
De junho do ano passado até fevereiro deste ano, com total de 91 plots doados, 60 adotados e 29 fanfics escritas, finalmente chegamos ao fim da Sehun!Fest 2017! Dentre essas 29 fanfics, 9 foram SEKAI, 6 SEBAEK, 4 SESOO, 4 SEHO, 4 HUNHAN, 1 XIUHUN e 1 CHANHUN.
Para os nossos queridos participantes da Fest (que divulgaram, doaram seus plots, adotaram e concluíram suas fanfics), nosso imenso agradecimento! A Fest só aconteceu graças à vocês. Então, muito muito obrigada! ♥ Pedimos desculpas se algo foi insatisfatório ou deixou a desejar. Fizemos o possível que estava ao nosso alcance e de todo o nosso coração para fazer da Sehun!Fest um projeto que agradasse a todos. Esperamos que tenham se divertido!
Agradecimento especial para à Karolis (@Lepetit_Han) por ter incentivado e ajudado com a ideia do projeto desde o início, à Thaís (@Soonebyu) pelos conselhos e toda a ajuda ao longo desses meses, à Patty (@Mildred) pela dedicação ao corrigir as fanfics, e à Brena (@Sekaism) pela ajuda na produção das capas! E também para a fanbase mais linda de todas, SehunBrazil, pela divulgação. Todos que ajudaram com o projeto, muito obrigada! ♥
E finalmente chegamos ao dia da revelação!! Aos autores participantes, muito obrigada por terem dedicado o seu tempo à Fest e nos presenteado com suas estórias incríveis! E aos doadores também, muito obrigada por cada plot ♥
#20 Secret l Autor: Eduardo (@12du) l Plot doado por: @Lepetit_han
#76 Between Thoughts l Autor: @darkbluerose l Plot doado por: @soonebyu
#72 Verdade ou Desafio? l Autor: @mildred l Plot doado por: @ohprince
#21 Intrinsic Love l Autor: @ohshnism l Plot doado por: Anônimo
#73 Era para ser apenas uma noite l Autor: @Black_Pearl_ l Plot doado por: @Scherry
#86 Cobertor l Autor: @BruhhMansur l Plot doado por: @prolyxa
#83 Como (Não) Se Apaixonar por Byun Baekhyun l Autor: @xiudae l Plot doado por: @prolyxa
#84 Esqueceram de Mim l Autor: @taozing l Plot doado por: @prolyxa
#87 Me chama de Mario l Autor: @fantaosies l Plot doado por: @prolyxa
#35 Maldito crush que não passa l Autor: Ana Clara @wonderbaek l Plot doado por: @Junhyung
#34 O Consultor de Caldas l Autor: Zea (@unyeol) l Plot doado por: Anônimo
#9 Aftermath l Autor: @dyogaxmo l Plot doado por: Anônimo
#60 Prims l Autor: @Mrs_Fairy l Plot doado por: @Nikkojgin
#91 Give Way l Autor: @exoduz l Plot doado por: @ohprince
#29 7 Wonders of You l Autor: Thaís Leal (@sexlox) l Plot doado port: @Point-less
#82 Tarde de estudos l Autor: @94line l Plot doado por: @prolyxa
#38 Um belo (bem) adormecido l Autor: Beatriz (@sekaiordie) l Plot doado por: @sekaism
#90 Como lidar com colegas de quarto barulhentos l Autor: @prolyxa l Plot doado por: @ohprince
#47 Solar l Autor: @kimkaijongin l Plot doado por: @yihoshi
#85 Vizinho gostoso l Autor: Eduardo (@12du) l Plot doado por: @prolyxa
#23 Hello l Autor: @jiminyeol l Plot doado por: @ohshnism
#93 Aquela pintinha l Autor: @bearcute l Plot doado por: @ohprince
#46 Te pintar de ver l Autor: @ghostxwriter l Plot doado por: @nikkojgin
#66 Eu odeio não odiar você l Autor: @Lailys l Plot doado por: Anônimo
#8 Stranger Kiss l Autor: @drunkbyun l Plot doado por: @ohprince
#48 Fim, meio e começo l Autor: @_radioativa l Plot doado por: @Bonkzy
#27 Here comes the Sun l Autor: @limun l Plot doado por: @Point-less
#45 Não existem acidentes l Autor: @Noobdy l Plot doado por: @Deliciousboy
#49 Trust me l Autor: @mirkness l Plot doado por: @Lepetit_han
Aos autores que optarem por publicar a sua estória no SocialSpirit, não se esqueçam de colocar a tag da nossa fest!! #sehunfest2017. Entretanto, isso se aplica somente para aqueles que concluíram a fanfic no prazo. Por favor, respeitemos e sejamos justos com os autores que cumpriram com a data de entrega.
Depois que postarem suas fanfics no SocialSpirit, não se esqueçam de nos marcar no TWITTER para fazermos a divulgação do link!
Atenciosamente, Equipe Sehun!Fest & Ohprince ♥
4 notes
·
View notes
Text
29 - #49 Trust me
Título da fanfic : Trust me
Sinopse: " Sehun e Luhan são parceiros na polícia coreana, vivem como cão e gato, sempre discutindo mesmo em serviço: Mas no fundo um sabe que sempre pode contar com o outro, que podem lhe confiar a vida, e no fim descobrirão que poderão confiar seu coração também"
Couple : HunHan
Número do plot: #49 Sehun e Luhan são parceiros na polícia coreana, vivem como cão e gato, sempre discutindo mesmo em serviço; mas no fundo um sabe que sempre pode contar com o outro, que podem deixar a vida um na mão do outro, e no fim descobrirão que podem deixar o coração um na mão do outro.
Classificação: 16
Aviso: Yaoi, drama, Policial
Quantidade de palavras: 3038
Era um final de tarde abafado. As nuvens no céu anunciavam a aproximação de uma chuva.
— Passageira, com certeza. — Comentou Sehun, olhando na mesma direção em que Luhan, vendo o céu cor de chumbo com nuvens pesadas.
— Você prevê o tempo agora? Pensei que tivesse feito Direito, não Meteorologia. —Luhan respondeu irônico.
—Como sempre um doce de pessoa não é Luhan. — O maior revirou os olhos para o outro enquanto este fingia imitar o seu jeito.
—Vocês dois, por favor, não comecem! Estamos no meio de uma operação. Querem estragar tudo?! —Junmyeon lhes chamou a atenção.
Ambos ficaram quietos e voltaram aos seus postos, esperando o sinal de seu superior para que invadissem o prédio.
Poucos minutos se passaram, e entre cotoveladas implicantes, os garotos quase perderam o sinal de seu superior para que invadissem o local.
—Faça a retaguarda direito, Novato. — Luhan sussurrou para Sehun quando as equipes foram separadas.
—Ah, claro Luhan. Não é como se fôssemos parceiros há quatro anos. — Sehun respondeu irônico. —Além de ter salvado sua vida umas 500 vezes, um obrigado seria ótimo.
— É seu serviço Sehun, apenas faça. — Luhan respondeu atento a sua volta.
—Mas que merda Luhan. —Sehun gritou em resposta, saindo de sua posição para fitar o outro, o qual lhe olhava assustado pela reação repentina. — Quando você vai parar com essa porra de superioridade?
—Não é superioridade. — Luhan apontou a arma na direção de Sehun, atirando logo em seguida e acertando um homem que apareceu na porta atrás do moreno, o qual sequer se mexeu. Eram anos trabalhando juntos e em quase todas às vezes acabavam discutindo no meio da missão, mas nada que atrapalhasse o seu andamento.
—Você precisa confiar em mim. Você não é melhor do que eu. — Sehun respondeu, voltando à formação.
—Tenho minhas dúvidas. — Luhan respondeu rindo e o maior apenas o ignorou, ouvindo as ordens de seu superior pelo ponto.
—Vire à esquerda. —avisou. — Tem três naquela sala.
—Você não precisa me dizer. Eu ouvi as ordens.
—Tudo bem, senhor sabe tudo. Talvez eu quisesse apenas prevenir o meu parceiro. — Sehun respondeu, entrando na sala e encontrando três homens como Suho havia lhe informado. Atirou em um que caiu no chão sem tempo para se defender; o ato chamando a atenção dos demais. Porém, Luhan havia se posicionado em uma pequena janela, conseguindo atirar no segundo e fazendo o terceiro procurar de onde viera o tiro. A distração do homem possibilitou que Sehun saísse de trás de um móvel onde se posicionara e o acertasse diretamente com um tiro.
—Mas tem razão. Talvez seja melhor você morrer e eu arranjar outro parceiro. — Gritou para que Luhan lhe ouvisse.
Um disparo foi ouvido e Sehun olhou para trás de si, vendo um quarto homem cair morto no chão.
— Você que vai morrer se não prestar mais atenção, Sehunzinho. — Luhan pronunciou o apelido arrastado; uma forma de provocar o outro que revirou os olhos e voltou a sua posição.
—Segundo e terceiro andar limpos. Como estamos no primeiro, equipe Desordem?! —Junmyeon falou pelo ponto, fazendo Luhan revirar os olhos pelo nome que haviam dado a Sehun e a si.
—Tudo limpo, equipe Alfa. — Respondeu monótono.
—OK, evacuar agora. O alvo da missão não se encontra neste prédio.
—Sequer temos um nome de equipe legal. — Sehun falou frustrado quando saíram do prédio.
— O que você queria? Não temos uma conversa decente sem que acabemos numa briga. — Respondeu Luhan, passando pelo outro para subir no carro, mas não sem antes bagunçar os cabelos alheios.
—Pare com essa mania, isso é irritante.
~~~~
O fim da noite estava próximo e como prometido a chuva traçava seu caminho até o chão com pingos grossos e gelados. Todos já haviam partido, exceto Sehun que esperava seu ônibus debaixo de uma árvore que não servia para muita coisa.
Um carro conhecido passou por si fazendo com que revirasse os olhos em um ato impensado, mas para sua surpresa o carro deu marcha ré e parou a sua frente. O vidro do motorista se abaixou lentamente, mas Sehun já sabia a quem pertencia o Volvo preto.
— O que você quer? — Gritou para que o outro lhe escutasse por cima da chuva.
—Entre, eu te dou uma carona.
—Meu ônibus já está vindo. — Respondeu mesmo não sendo verdade. Sabia que aceitar um favor de Luhan era o mesmo que pedir para que o outro lhe jogasse na cara pelo resto de sua vida.
— Não seja teimoso Sehun. Prometo não lhe cobrar. — Luhan lhe lançou um sorriso que o rapaz julgou ser um tanto falso. Mas seu corpo tremia pelo contato com a água e Sehun temia ficar gripado e precisar se afastar ou ter de aguentar as piadinhas de Luhan, então resolveu que o melhor seria aceitar.
—Tudo bem. —Respondeu correndo até a porta do carona.
—Não consigo entender como ainda não conseguiu comprar um carro. — Luhan falou quando já estavam no trânsito, seguindo até o endereço que Sehun havia lhe dado.
O tom de Luhan parecia sincero e de pura curiosidade, então Sehun não viu problema em lhe responder. — Ainda estou pagando meu financiamento estudantil.
Luhan apenas murmurou um "Ah", e não perguntou mais sobre o assunto ou voltou a puxar qualquer conversa; fato que Sehun agradeceu, pois estava tentando se concentrar em não tremer de frio.
Quando chegaram em frente ao prédio, Sehun mal esperou o carro parar por completo e já estava com a mão na maçaneta.
—Ei, não vai me convidar para subir?—Perguntou Luhan antes que o maior fechasse a porta, surpreendendo o rapaz que lhe olhou confuso.
—Hum, você quer subir? —Sehun perguntou incerto. Queria logo sair dos finos pingos que ainda teimavam em cair.
—Seria bom. — Respondeu Luhan, deixando Sehun ainda mais confuso.
—Tudo bem. Apartamento oito, terceiro andar. —O moreno respondeu por fim e correu para dentro do prédio. Queria tirar logo as roupas molhadas e duvidava muito que Luhan estivesse realmente falando a verdade com relação a ir até o seu apartamento.
~~~~
O contato com a água quente fez com que o corpo de Sehun se encolhesse, mas o moreno ignorou o fato e apenas deixou com que seu corpo relaxasse e se acostumasse com o novo contato. Horas se passaram sem que percebesse e ele só se deu conta do tempo, quando ouviu leves batidas na porta do banheiro, as quais o fizeram pular de susto pela ação inesperada.
—Sehun, eu só queria avisar que eu bebi a garrafa de vodka que estava na cozinha. — Luhan pronunciou as palavras de modo embolado, entrando no banheiro sem se dar o trabalho de respeitar a privacidade de Sehun.
—Você está maluco Luhan! —Sehun gritou em resposta, puxando a toalha sobre si quando o olhar do outro recaiu sobre seu corpo.
—Você tem um corpo e tanto Sehun. — Luhan comentou, fazendo o outro corar automaticamente e o empurrar para fora do banheiro.
Deslizando pela porta, Sehun ficou preocupado com o que havia acontecido ali. Aquele não era o comportamento habitual de Luhan e isso estava começando a assustar Sehun. Contudo, logo um pensamento lhe atingiu: o mais velho era fraco para bebida... Então por que havia bebido?! Talvez ele não soubesse, mas Sehun duvidava que essa fosse a questão.
—Sehun, eu preciso que você cuide de mim. — Luhan gritou do outro lado da porta.
Sehun respirou fundo antes de sair do banheiro, afinal precisava ir até o seu quarto buscar uma roupa.
—Babaca, por que bebeu? —Deu um leve chute no corpo mole de Luhan no chão, o qual pareceu não reagir.
Com um suspiro, Sehun seguiu até o quarto. Entretanto, em um ato inesperado, Luhan lhe agarrou por trás, lhe surpreendendo e fazendo com que todo o seu corpo congelasse.
—L-Luhan... O que você está fazendo?— Sehun perguntou confuso.
—Shh... Apenas curta o momento. — Luhan beijou o pescoço de Sehun, deixando-o sem reação.
—Pare... Você não sabe o que está fazendo, Luhan. — O moreno tentou empurrar o outro que apenas o apertou mais contra si.
—Eu sei exatamente o que estou fazendo Sehun, e eu quero você... Por muito tempo eu quis você.
As palavras saiam em tom provocativo; o hálito quente eriçando os pelinhos do pescoço de Sehun.
—L-Luhan. —Sehun gemeu o nome do outro quando o mesmo deu una leve sugada em seu pescoço. —Pare, por favor... Nós... Nós não podemos fazer isso.
—Nós podemos sim, Hunnie. Você não tem ninguém e eu também não. — Luhan continuava a dar leves beijos pela face alheia, enquanto Sehun se contorcia em seus braços tentando raciocinar direito.
No começo Sehun desejou Luhan. A primeira vista ele era perfeito e Sehun o desejou de todas as maneiras. Mas bastaram as primeiras missões para que certa aversão surgisse ao homem de cabelos escuros. As brincadeiras, os apelidos, as implicâncias e a constante falta de humildade de Luhan, fizeram com que seu desejo pelo outro fosse se esvaindo, até aquele momento. Ali, o desejo reprimido por todos os anos estava presente, aflorado, fazendo com que sua pele queimasse ao toque alheio, e seu membro pulsasse por atenção.
— Somente uma noite Sehun. É tudo o que te peço.
A voz em súplica foi tudo o que Sehun precisava para ceder ao desejo carnal. Levado pelo impulso, ele se virou para o menor. Suas mãos automaticamente envolveram o pescoço alheio enquanto sua boca se direcionava aos lábios fartos de Luhan. Ele sabia que era uma escolha arriscada, mas o desejo em si era mais forte. Sua linha de raciocínio estava em dúvida entre continuar ou simplesmente abandonar a situação, e ele precisava se decidir rápido, antes que as mãos de Luhan resolvessem explorar o seu corpo e assim o restante de si perdesse totalmente o controle.
Quando o beijo terminou, Sehun viu a cor sumir do rosto ofegante do parceiro.
Os olhos de Luhan reviraram e ele ficou mole nos braços de Sehun, que deu leves batidas no rosto alheio, mas o menor parecia cansado demais e o desmaio parecia mais um sinal disso... Ou talvez fosse um sinal divino para que Sehun não se envolvesse com Luhan.
Essa foi uma hipótese que Sehun se viu meditando durante toda a noite enquanto checava Luhan de hora em hora. Estava impossibilitado de dormir, pois sua mente mergulhava nas possibilidades do que não havia acontecido.
Pela manhã, Sehun resolveu sair mais cedo, afinal não estava a fim de aguentar as piadinhas que tinha certeza que o outro faria. Esperaria até que estivessem no trabalho, pois para si era iminente que Luhan implicaria com o assunto, mesmo com pessoas por perto.
Entretanto para sua surpresa, Luhan não comentou sobre o assunto. Na verdade sequer falou consigo ou lhe dirigiu o olhar, o que de certa forma foi agoniante para Sehun, que estava habituado ao jeito do outro, mas que resolveu não comentar sobre a mudança repentina já que ele próprio tinha seus motivos para não querer conversar com o menor.
~~~~
A semana transcorreu silenciosa. Luhan alegou ter uma gripe repentina e com isso se afastou. O caso em que estavam trabalhando há meses continuava na estaca zero; sem a localização ou alguma pista, eles não poderiam encontrar o homem que havia assassinado 12 mulheres em bairros distintos de Seul sem um motivo aparente além de diversão. Um psicopata bem qualificado era o que apostavam, já que seus crimes eram quase perfeitos.
Mas isso não era algo que abalava Sehun. Ele já havia aprendido a lidar com esse tipo de dor. Entretanto, o sentimento que estava alojado dentro de si era muito além de dor... Parecia mais com perda e Sehun se negava a acreditar que a razão para se sentir daquele jeito fosse o seu parceiro arrogante.
~~~~
Era uma tarde chuvosa. Luhan havia voltado para o trabalho depois de um chamado de seu superior. Eles tinham uma pista do local onde o assassino atacaria e não podiam perder tempo ou membros da equipe, já que Luhan ainda alegava estar doente. Mas quando apareceu no quartel, o rapaz parecia saudável, sem aparente sinal de doença recente, o que não passou despercebido por Sehun, que se perguntava o motivo de tal ato desnecessário por parte alheia.
— Parece que tardes chuvosas combinam com o crime não é mesmo?— Comentou, na esperança de quebrar o clima tenso que havia se instalado quando ficaram sozinhos.
Já em seus postos, em uma sacada precária de uma casa abandonada, em um beco sujo demais para que qualquer pessoa passasse ao entardecer, Luhan sequer lhe olhou quando se posicionou entre as vigas tentando se camuflar, se esconder da chuva e ao mesmo tempo mirar para a rua.
— Você pode fazer a retaguarda daí. Essa estrutura não vai nos aguentar. — Ele falou pela primeira vez quando Sehun ia se aproximar; sua voz soando monótona e profissional como nunca havia soado em anos de profissão.
— Tudo bem. — Sehun murmurou em resposta.
Os minutos pareceram horas; algo que afligia Sehun pelo silêncio nunca experimentado antes.
—Equipe Desordem em posição. — Luhan falou assustando Sehun, que não esperava pela fala; afinal já estavam ali há algum tempo e o mais velho permanecera quieto.
— Até quando vai continuar com isso? — Sehun perguntou suspirando, se dando por vencido.
— Isso o que? — Luhan respondeu sem retirar os olhos da mira.
— Esse silêncio... O fingimento quanto a estar doente.
Sehun observava o rapaz, então viu quando o mesmo deu de ombros como se não se importasse com o assunto.
Sua reposta demorou a vir. — Eu não gostaria de me envolver com você. — Luhan respondeu por fim, olhando para Sehun pela primeira vez, o qual não pôde deixar de notar o olhar triste do outro.
— Por quê? — Sehun perguntou antes que pudesse formular as palavras.
— É complicado Sehun... Vamos apenas nos focar na missão. — Luhan retomou o seu posto e Sehun sentiu um aperto em si.
— É por isso que mais cedo pediu para Junmyeon lhe trocar de parceiro? — Perguntou magoado, relembrando a conversa que preferiu ignorar no momento.
— Sim. Não queira explicações.
— Como assim não queira explicações? Você sequer sabe separar sua vida profissional da pessoal? — Sehun gritou em resposta, assustando o outro.
— Vamos conversar depois, Sehun.
— Não! Vamos conversar agora! Deus sabe há quanto tempo estamos procurando por esse cara e toda vez que chegamos perto não dá em nada.
— Sehun, por favor.
— Por favor peço eu, Luhan. Você aparece na minha vida e coloca tudo de ponta cabeça, e depois de anos, finge me desejar pra depois simplesmente desaparecer? Seria mais fácil colocar a culpa na bebida! — Respondeu irritado, colocando a arma de lado.
— Não é o que eu gostaria... Sinto muito. — Luhan respondeu calmamente; reação que irritou ainda mais Sehun.
— Ah, pelo amor de Deus! Não tente dar uma de calmo pra cima de mim.
— É necessário... Não quero brigar com você.
— Por quê?
— Não vale a pena, Sehun. — Pela primeira vez Luhan abaixou a arma e olhou em seguida para o moreno.
— Eu gostaria de uma explicação decente, Luhan.
— Explicação? Eu não tenho uma explicação! Eu só sei que mesmo que eu não goste, eu desejo você! Mesmo que eu não queira, é com você que sonho todas as noites! É você quem faz com que eu tenha dúvidas de mim mesmo, e eu odeio isso. — Luhan respondeu.
Sehun não sabia o que responder. Apenas queria se aproximar do outro e lhe abraçar... Tomar os lábios doces que secretamente desejava, e foi o que fez. Com passos lentos, ele se aproximou do menor, os olhos fixos no mesmo. Mas para a surpresa de ambos, a estrutura balançou prestes a desmoronar e as vigas tombaram, levando-os a uma queda iminente de quase 3 metros.
Tudo aconteceu rápido demais: Luhan perdeu o equilíbrio, caindo pela lateral, se segurando em uma parte precária enquanto tiros eram disparados a distância. Junmyeon gritava no ponto para que a equipe estivesse a postos já que o assassino se aproximava. Sehun havia se salvado por pouco, retornando ao lugar de onde não deveria ter saído. Ele olhava horrorizado a cena ao seu redor.
— Sehun, me ajude. — Luhan gritou enquanto Sehun continuava estático sem saber o que fazer.
Ele avistou o homem vindo na direção do prédio onde estavam e sacou sua arma. Entretanto, os gritos de Luhan o fizeram parar e abandonar o revólver para salvá-lo. Ele viu o assassino passar por si enquanto ajudava Luhan; um sorriso sugestivo nos lábios do meliante, como se já previsse que não seria pego naquele dia.
— Eu sinto muito. — Sussurrou para Luhan que tremia em seus braços devido à quase morte.
Luhan lhe deu um tapa no ombro enquanto o afastava de si.
— Idiota! Você teve a chance de matá-lo! Por que não o fez? — Perguntou no tom de voz modesto que usava há quatro anos com Sehun, o que deixou o rapaz confuso pela mudança repentina de seu parceiro.
— Porque eu não iria deixar o homem da minha vida morrer! Nós teremos outras oportunidades para pegar aquele cara. — Respondeu sincero depois de alguns minutos, arrancando um sorriso bobo da parte de Luhan.
— Junmyeon vai nos matar.
— Com certeza vai nos rebaixar a guardas de trânsito por algumas semanas, mas tudo bem se eu estiver com você.
— Novato idiota! Ainda não aprendeu. — Luhan respondeu brincalhão, se levantando em seguida. — Obrigado. — Acrescentou.
A voz alheia soou tão baixa que pareceu um sussurro, o qual fez o coração de Sehun palpitar e um sorriso surgir em seus lábios. Pela primeira vez ele ouvia um agradecimento do outro, o que pareceu absolver todos os anos anteriores quando Sehun desejava isso.
~~~~
Duas semanas depois...
— Eu não acredito que o Junmyeon nos colocou como mascotes de trânsito. — Reclamou Luhan, retirando a enorme cabeça e se sentando ao lado de Sehun.
—Bem... Poderia ser pior.
— Impossível! Como? — O menor perguntou cético.
— Eu não sei, mas poderia. — Sehun respondeu.
— Idiota! Se não tem alternativa, não comente sobre o assunto.
— Vai começar com as ignorâncias, Luhan? Porque eu posso me retirar, sabe... Estou cansado pra isso. — Sehun afirmou pegando sua enorme cabeça e se afastando.
Entretanto, diferente das outras vezes, Luhan não retrucou. Apenas segurou o seu braço, o fazendo parar no lugar com um leve sorriso no rosto. O menor o compensou com um beijo e um pedido de desculpas, algo que se tornou recorrente em seus dias com Sehun.
6 notes
·
View notes
Text
28 - #45 Não existem acidentes
Título da fanfic: Não existem acidentes
Sinopse: "–Preciso de gazes e ataduras para estancar o ferimento! Ele já perdeu muito sangue! – Um dos socorristas grita, colocando uma compressa com gaze, fazendo certa pressão para estancar o ferimento. Outro paramédico chega e eu consigo ver através de todo o seu profissionalismo. Ele está chocado, ele pensa que SeHun é apenas um garoto e também em como sua vida deve ser para que sua única solução fosse parar de viver. Enquanto SeHun é colocado na ambulância e o movimento de minutos atrás vai gradativamente parando, eu continuo o observando. Sua pele pálida, seus olhos fechados e o local do corte continuam em minha mente. Vejo o vapor de sua respiração leve na máscara e me inclino levemente, tentando perceber em qual ponto ele se perdeu. Seguro sua mão com cuidado, como se pudesse quebrá-la em um instante e toco em seu rosto. Por mim, permaneça vivo. "
Couple: SeHo
Número do plot: #45 Sehun tenta se matar, mas Suho, um paramédico o salva. Porém, se preocupa com o estado do garoto e resolve ajudá-lo, notando tão trágica a sua vida estava, mas nunca sabendo qual foi o real motivo da tentativa de suicídio do garoto.
Classificação: +16
Aviso: -
Quantidade de palavras: 4660
Nota do autor(a): Eu espero que gostem, com todo meu coração. Eu sei que deve ter ficado um pouco confuso, mas eu decidi mudar todo o plote bem no último dia de entrega e precisei alterar muita coisa por isso. Tipo muita mesmo. Eu, sinceramente, pensei em não entregar, mas uma vozinha no fundo do meu coração falou que eu deveria tentar. Então, agora estou aqui as 23:31 escrevendo as notas hehe. Enfim, peço desculpas por, talvez, ter ficado confuso. Eu não li a história quando terminei, porque eu realmente estou cansada e ansiosa. Se eu ler, possivelmente vou apagar tudo de novo e não vai dar tempo de reescrever. Espero que tenham gostado e qualquer dúvida, podem perguntar. As coisas na minha cabeça são mais fáceis de entender do que as que eu coloco no papel hehe. Eu espero que gostem, porque apesar de tudo eu amei escrever essa história. Muito obrigada por lerem! Até a próxima. :D
Quando Oh SeHun tenta morrer, as pessoas continuam com suas vidas normais. Uns andam apressados para o trabalho, outros já estão neles e muitos levam seus filhos para a escola. Não há nada de diferente para eles, mas para mim há.
Pare com isso, seu idiota. Esse não é o seu destino.
Eu sussurro.
Não dê o que ele quer. Continue vivo. Permaneça vivo.
Eu imploro.
SeHun é uma daquelas pessoas que são a fonte de inspiração das outras, mas por trás de toda essa grandeza, eu sei que ele continua sendo aquele garotinho que brincava comigo e que tinha medo do escuro.
Ele aprendeu desde cedo que não dá para fugir do que se está predestinado a fazer, e é por isso que não hesitou momento algum para o que estava prestes a acontecer. Ele deveria morrer, porque o mundo girava dessa forma.
Ele não era um garotinho forte que batia o pé e falava o que queria, ele era apenas ele. Sem mais ou menos e estava cansado de tudo. A única coisa que SeHun podia fazer era aceitar o que o destino reservava, mas ele não entendia que, apesar de difícil, até mesmo o que estava predestinado podia ser mudado.
Não foi sempre assim, foi?
Humanos sempre reescreveram seus destinos. Reis tiranos que possuíam o poder para governar para sempre foram destronados por guerras sangrentas e pessoas que não são almas gêmeas desistiram de sua outra metade para ficar com aqueles que amavam, não porque estavam destinados, mas porque queriam. Não era o destino responsável por vidas humanas, era a vontade que eles possuíam.
Apesar de SeHun não ser exatamente um humano, ele tinha alguns genes de um e, era por isso, que deveria ser capaz de mudar tudo.
Eu tento segurar sua mão, mas havia uma barreira construída entre nós e eu não era poderoso o bastante para quebrá-la. Então eu apenas o observei planejar sua morte com um cuidado extremo. Havia pontos importantes que deveriam ser levados em conta.
O primeiro era que ninguém deveria vê-lo morrer. Não queria que sua morte traumatizasse ou ficasse nas memórias de um conhecido ou desconhecido. Ele deveria permanecer sozinho até mesmo na sua morte.
O segundo ponto era que deveria ser longe o suficiente para que nenhum conhecido o visse. Seria doloroso demais imaginar alguém que o prezava tanto ver seu corpo pálido e sem vida.
O terceiro ponto era que não deveria ser em uma construção. Ele queria morrer olhando as estrelas e sentindo o cheiro ameno das flores. Queria morrer sentindo que havia pertencido a algo maior do que ele. Queria morrer sendo parte da natureza.
Esses três pontos eram importantes para ele, mas algo havia dado errado. Talvez a natureza não estivesse pronta para o brilho que SeHun carregava, porque naquele bosque distante, longe do centro da cidade, uma moça o encontrou pouco depois de ele ter cortado seu pulso.
Os sons incessantes da ambulância e os passos rápidos foram escutados. Os paramédicos surgiram entre as folhagens. Eles cercaram SeHun como se ele fosse apenas um objeto a ser observado, agacharam-se e o analisaram novamente.
-Preciso de gazes e ataduras para estancar o ferimento! Ele já perdeu muito sangue! – Um dos socorristas grita, colocando uma compressa com gaze, fazendo certa pressão para estancar o ferimento.
Outro paramédico chega e eu consigo ver através de todo o seu profissionalismo. Ele está chocado, ele pensa que SeHun é apenas um garoto e também em como sua vida deve ser para que sua única solução fosse parar de viver.
Enquanto SeHun é colocado na ambulância e o movimento de minutos atrás vai gradativamente parando, eu continuo o observando. Sua pele pálida, seus olhos fechados e o local do corte continuam em minha mente.
Vejo o vapor de sua respiração leve na máscara e me inclino levemente, tentando perceber em qual ponto ele se perdeu. Seguro sua mão com cuidado, como se pudesse quebrá-la em um instante e toco em seu rosto.
Por mim, permaneça vivo. SeHun SeHun SeHun SeHun...
Continuo chamando o seu nome, esperando que ele reaja, rezando para que fique bem ou que seus olhos se abram.
A sala de espera do pronto socorro estava meio cheia, mas ninguém estava esperando que SeHun acordasse. Não havia ninguém que o conhecia ou sabia quem ele era. O expediente do paramédico que o socorrera havia acabado. Eu o vi andar lentamente até o balcão e perguntar para a atendente onde estava o Oh.
Foi então que eu reparei em sua mão direita. Ele era igual SeHun, havia o sangue de um deus em seu corpo. Kim Junmyeon era um semideus, pois todos os semideuses carregavam em alguma parte do corpo, uma marca de seu nascimento. Uma marca que falava de qual deus ele era filho. Uma marca que definia seu futuro.
Você é filho de Hécate, a deusa dos encantamentos e dos caminhos, pode ajudar SeHun.
Penso, enquanto vejo o Kim se aproximar lentamente de um SeHun desacordado na cama do hospital.
-O que um filho de Ares está fazendo aqui? Por que você não quer acordar?- Sua voz era doce, e por um instante senti que ele podia me ver, pois seus olhos focaram em minha direção.
Salve-o. Eu não posso dizer o motivo dele estar assim, mas prometa que vai salvá-lo. Ele não tem ninguém agora.
Falo, na esperança de que Junmyeon conseguisse me escutar e surpreendo-me por ele continuar me encarando fixamente, mesmo sabendo que o semideus não conseguia realmente me ver. Quando uma pessoa ficava em coma, os médicos comuns acham soluções lógicas para tal situação, mas estas apenas escondem o real motivo: o de elas não quererem acordar, porque o mundo do inconsciente é bem melhor do que o da realidade.
A única forma da pessoa em coma acordar é ela desejando voltar. Seja por saudades ou por qualquer motivo, mas há um método muito mais rápido e perigoso que é utilizado por aqueles que apresentam a benção de Hécate. Kim Junmyeon, sendo filho da deusa, tem o dom de entrar na mente das pessoas que não conseguem acordar e assim, pode ajudar SeHun a voltar.
Eu torcia para que ele conseguisse, mas não havia nenhum motivo para ele o fazer. Essa pequena tarefa poderia significar ficar preso no labirinto da mente de SeHun para sempre. Então por que ele estaria tão disposto a ajudar o rapaz?
Foi então que me lembrei de Jongin. O Kim é um garoto brilhante e completamente apaixonado por SeHun, o qual talvez nunca saiba disso, porque a possibilidade dele acordar era pequena. SeHun não queria permanecer vivo. Estava tão acostumado a temer a escuridão que não notou quando ele próprio se tornou escuro.
Mas você pode SeHun... Pode voltar a brilhar. Você pode voltar a ver o mundo não apenas como um dever, mas sim como simplesmente o mundo. Sem obrigações ou preconceitos, ver a natureza e as estrelas sobre si e pensar que a vida pode ser bela, porque ela é. Mesmo com toda a crueldade a envolvendo.
Eu sussurro ao lado de seu ouvido sem parar, mostrando toda minha esperança, como se ela o contagiasse, como se ele pudesse me escutar. Torcendo para que o paramédico dissesse as palavras mágicas para ter, ao menos, uma chance de ter Oh SeHun de volta e ele diz. Fala com toda sua convicção que trará o menino quebrado de volta, e dessa forma o vejo verdadeiramente.
Percebo que Kim Junmyeon não é um nome adequado para chamá-lo agora, então o chamo de SuHo, que significa “aquele que protege”. Agora que ele estava no mundo que SeHun havia criado e que o estava impedindo de sair do coma, deveria simplesmente o chamar de SuHo, um guardião que protegeria SeHun para que ele conseguisse voltar à vida.
A primeira coisa que reparei ao olhar ao redor foi que estávamos no jardim da antiga casa de SeHun. Um pequeno garotinho parecia falar sozinho enquanto corria rapidamente. Seus risos eram tão altos e encantadores que sorri abertamente.
Era uma daquelas memórias antigas que eu achei que apenas existiam em minha mente. Eu não sabia que aquele menininho se lembrava disso.
Naquele dia, nós estávamos brincando como todos os dias. Ríamos de como todos os vilões pareciam bem pequenos quando estávamos juntos e pulávamos como se estivéssemos pisando em uma lava quente, até que ele se cansa e deita na grama.
Eu o acompanhei e segurei suas mãos pequenas, enquanto olhávamos as nuvens.
-Vamos prometer três coisas? – O pequeno garoto pergunta e eu me lembro de que aquilo já havia sido real. Um SeHun tão pequeno, mas tão brilhante como o sol e que era feliz, já havia me considerado o seu melhor amigo. Havia algo de tão maravilhoso nisso, na nossa amizade que eu percebi o quanto era ruim ser esquecido por aquele garotinho. Foi a primeira vez que senti um sentimento egoísta de também querer ficar naquele mundo criado por SeHun.
SuHo apenas observava atento, pensando no que deveria fazer. Ele estava escondido em uma árvore até que sorriu levemente.
-A primeira é que devemos ser sempre bons! Nós sempre devemos derrotar os malvados, ok? – Eu apenas assenti rapidamente, porque naquela época eu pensava que realmente podia ser assim. – A segunda é que não devemos nos abandonar, sempre vai estar comigo, não é? Como o Robin e o Batman. – E eu assenti novamente, porque estar com ele e brincar me davam a sensação de ser invencível.
Qual é a última?
Eu perguntei e ele apenas apertou mais forte minhas mãos. SeHun não me respondeu, mas eu sabia o que ele estava pensando. Sabia que ele queria que eu prometesse que minhas asas nunca cairiam por causa dele.
Eu prometo Hunnie! Nós vamos sempre ser invencíveis!
-Isso, nós somos incríveis juntos. – Sua vozinha saiu animada e ele novamente começou a correr. Percebi o exato momento em que SeHun notou que estava sendo observado por SuHo. – Tem alguém atrás da nossa base secreta, vamos ver quem é. – ele sussurrou em meu ouvido e foi até lá.
O Kim percebeu também e sabia que não podia fugir, suas mãos apertavam com força sua camiseta. Ele nunca havia feito algo do tipo antes.
-O que faz aqui moço estranho? – O SeHun criança o olhava desconfiado até que gargalhou divertido. –Esse não sou eu de verdade... Eu sou apenas uma das memórias daquele que procura. Você pode desistir e voltar de onde veio. Eu não me lembro de você e nem sei o que significa para o SeHun. O que quer aqui? E por quê?
-Eu vim salvar ele. – SuHo falou olhando seriamente para o garotinho.
-E por que você acha que é bom o bastante para salvá-lo? Por que você acha que ele quer ser salvo?
-Eu posso não ser bom o bastante para conseguir salvá-lo, mas sou bom o suficiente para ajudá-lo a sair daqui, para guiá-lo. Eu irei conversar com ele e se o SeHun não quiser ir, eu o deixarei aqui. Eu me preocupo com ele. - Seus olhos demonstravam sinceridade.
-Você realmente não é bom com as palavras. - O SeHun pequeno riu divertido, vendo a expressão emburrada de Jumnyeon. - Mas ele gostou de você, então vou explicar o motivo de ter visto uma das memórias dele. Você verá outras quatro memórias e verá como isso de alguma forma interferiu para ele querer estar aqui. Ele criou esse mundo para os outros o entenderem, mesmo que minimamente. Boa sorte, garoto. A porta para o outro lugar é lá. - O garotinho apontou para a porta da própria casa e sorriu com doçura, até que finalmente seus olhos pousaram em mim. Ele pareceu surpreso ao me olhar, mas logo se recompôs e indicou que SuHo fosse embora.
- Antes de eu ir, você pode me dizer o motivo de essa ser a primeira memória? Não é apenas porque é a mais antiga, certo?
-Essas promessas foram as primeiras que fiz e as primeiras que ele quebrou. Agora vá e esteja pronto para lutar. Mesmo que sejam memórias, cada pessoa aqui consegue ver vocês. – O pequeno garoto novamente apontou para a porta já aberta. Então nós fomos.
A segunda memória realmente acontecia dentro da casa. Eu sabia o que ia ocorrer, mas desejei que não fosse isso. Então eu vi um jovem de 15 anos chorando enquanto arrumava a mala e escutei sons insistentes vindo do banheiro, mostrando que alguém lutava desesperadamente para sair de lá.
Desculpe SeHun.
Digo, enquanto vejo SuHo se aproximar do garoto. Surpreendo-me por ele abraçar a outra memória de SeHun e surpreendo-me ainda mais ao ver o outro corresponder.
-O que faz aqui? – O adolescente pergunta, soltando-se rapidamente apenas para pegar a mala para partir. Aquele dia foi a primeira vez que SeHun acreditou que eu não era real. Foi o primeiro momento em que eu não pude protegê-lo e foi naquele mesmo lugar e naquela mesma hora que eu perdi minhas asas.
-O que está acontecendo? - SuHo pergunta. É notável sua preocupação com o garoto, mas, ainda sim, é inútil. Nada mudaria o que estava prestes a acontecer.
-Minha mãe... – Ele sussurrou baixinho, contendo suas lágrimas. Eu poderia falar que estava tudo bem chorar na frente dos outros, mas sabia que ele nunca se permitiria a isso, mesmo sabendo que o outro o havia visto chorar momentos antes. – Ela tentou me matar, então de alguma forma eu consegui empurrá-la até o banheiro e a tranquei lá...
SuHo novamente o abraçou, assim como eu. E juntos dissemos que ele podia chorar; que estava tudo bem demonstrar que estava desesperado e foi assim que SeHun desabou completamente.
-Ela é tudo o que eu tenho... Por que ela está tentando matar o próprio filho? Por que ela continua dizendo coisas sem nexo? Eu juro que ela não é assim! Ela é amorosa e sempre faz biscoitos quando me sinto triste. O que aconteceu? Depois do que houve, eu fugi de casa como estou fazendo agora e descobri dois dias depois que ela estava morta. – Sua voz aos poucos foi morrendo, dando lugar a um choro descontrolado.
O SeHun daquela época não soube o porquê de sua mãe agir assim, mas depois de alguns anos, ele percebeu e se perguntou constantemente se seria melhor ter morrido naquela noite. Se sua mãe ainda estaria viva se nada disso tivesse acontecido. Era nesses dias que eu segurava sua mão, mesmo sem ele sequer sentir.
-Vamos. Você ficará bem. – A voz de SuHo era doce. Ele pegou a mão de SeHun e começou a andar até a porta. – Sabe? Quando se tem um problema muito grande é natural você tentar fugir dele. Não se sinta culpado pelo o que está fazendo e nem pelas consequências disso. Todos nós temos arrependimentos, a diferença é como agimos sobre eles. – Assim, nós três fomos para a próxima porta. No instante em que passamos para a terceira memória, o Oh de quinze anos agradeceu e sorriu pequeno, desaparecendo em seguida.
A passagem havia nos levado até uma rua escura. Um senhor gentil pergunta se SeHun sabe o significado de uma marca registrada em seu braço esquerdo e ele apenas fala que era uma marca de nascença.
Foi naquele dia que Oh SeHun percebeu o que ele era. Foi ali, em uma rua escura, mas quente, que um jovem de 16 anos descobriu que era filho de Ares, o deus da Guerra.
Também foi naquele dia que o adolescente descobriu como o universo realmente era. Aquele senhor contou para ele sobre como todas as criaturas naquele mundo possuíam um destino já selado assim como todas as outras criaturas de mundos tão distantes que ele sequer imaginava a existência.
O universo foi criado por um ser supremo chamado por todos de ‘O Deus’ e era governado por ele até hoje. Ele havia criado os elfos e as ninfas para ajudarem a Mãe Natureza a cuidar da Árvore da vida. Afrodite, a deusa do amor, era necessária para que houvesse o amor. Semideuses eram extensões de seus pais e necessitavam fazer o mesmo trabalho que eles.
Toda a galáxia era planejada cuidadosamente e todos os seres estavam predestinados a fazer as suas funções. Durante todos os bilhões de anos aconteceram fatos como deveriam acontecer. Os humanos, apesar de sempre cumprirem seus destinos, eram os únicos capazes de mudá-los, porque sua função é nada mais do que entreter o Deus. Eles podiam mudar seus destinos, mesmo que outros tenham sido reescritos quase no mesmo instante.
Era por isso que muita atenção era dada para os seres que não possuíam magia, porque o simples fato de poder mudar algo que nenhuma outra criatura podia era incrível, mas muito perigosa.
Assim, Deus começou a questionar se foi realmente certo os criar para seu entretenimento, mandando que os Deuses sempre ficassem observando os seres não mágicos.
Desse modo, SeHun descobriu que como a extensão de seu pai, ele tinha a função, o destino, de ocasionar guerra, porque mesmo Deus sendo um ser poderoso, deveria existir o equilíbrio entre o bem e o mal na galáxia, para que nada fosse destruído.
O homem que explicou tudo para um SeHun jovem foi o mesmo a oferecer um abrigo para pessoas como ele. Ele o acolheu como um filho e fez um segundo lar para o Oh.
SuHo continuou o observando e suspirou. Ele não gostava dessa verdade; sabia que o destino era algo que não podia ser mudado, mas aquilo ainda o incomodava muito. Os monstros que surgiam quando alguém desobedecia as regras do Deus eram poderosos e as cicatrizes que ele tinha eram a prova de tudo isso.
Assim, nós vimos SeHun seguir o senhor e fomos para a quarta memória.
O local agora era a instituição que havia acolhido o Oh. Ela estava pegando fogo e SeHun com seus 20 anos tentava desesperadamente encontrar seu melhor amigo, LuHan. Eu lembro que foi nesse dia que desejei mais do que nunca, voltar a ter asas, já que elas podiam afastar o fogo de SeHun.
As chamas se alastravam por todas as partes, e preso por algumas placas de ferro estava o homem que havia o acolhido. SeHun correu até lá e tentou de todos os modos mover as placas, até que as mãos daquele que ele chamou de mentor tocaram as suas.
-Você precisa ir, SeHun. Meu trabalho terminou aqui. – Ele falou, enquanto tossia.
-Eu não posso te deixar aqui! – O Oh gritou nervoso, tentando sem sucesso algum mover aquelas placas. Elas eram pesadas e SeHun era fraco demais para conseguir.
-Você deve me deixar aqui e ir. O seu destino não é morrer aqui. Você poderia construir uma nova instituição o que acha? – O homem falou com dificuldade. SeHun ainda tentou mover mais uma vez as placas, mas quando percebeu que realmente não conseguiria tirá-lo dali, correu até a saída do prédio.
Muitos do que considerava da família continuavam ali, mas ao perder suas duas pessoas importantes, SeHun perdeu um pouco dele mesmo naquele dia. Ele não chorou, apenas consolou todos e se fez forte. No outro dia, convenceu a todos de criar uma nova instituição que abrigaria semideuses e os mandaria para suas missões, tornando-se o líder dela.
SuHo analisou tudo de longe. Naquela hora eu percebi que ele estava chorando, não por ver inúmeras pessoas do mesmo modo, mas por perceber que SeHun era apenas um adolescente quebrado. Ele se fazia de forte na frente dos outros, mas quando as luzes estavam apagadas, as lágrimas que ele tanto escondia vinham à tona.
Foi naquela hora que Junmyeon se perguntou quantas vezes SeHun já havia chorado no escuro... Quantas vezes aquele adolescente tomara uma decisão tão difícil e pensou nas consequências que elas causavam... Quantas vezes SeHun precisou dizer tchau para aqueles que amava e quando foi a última vez em que ele fora ele mesmo.
Eu queria responder, mas me dei conta de que nem mesmo eu sabia das respostas. SeHun havia chorado, tomado decisões e falara adeus tantas vezes que eu sequer havia contado. E eu sequer me lembrava de quando fora a última vez em que vi o sorriso único e verdadeiro dele.
Então, em um silêncio cheio de perguntas, nós fomos para a quinta memória.
Era uma memória recente, ele tinha 23 anos como agora e era líder da instituição. Todos o respeitavam, principalmente Kim Jongin. SeHun sabia que nunca poderia fugir do destino, mas ainda sim, havia criado aquele lugar e instruído aquelas pessoas de um modo diferente do que deveria. Ele falou que poderiam realmente mudar o que estava predestinado com uma guerra. Se eles destruíssem os humanos, aqueles que eram responsáveis pelo equilíbrio entre o bem e o mal, o mundo que Deus havia criado deveria mudar. Eles poderiam convencer o ser supremo mostrando suas forças.
Assim, fez inúmeros acordos com inúmeras outras instituições e se preparavam para a guerra, mas LuHan, o amigo que SeHun procurou por anos depois daquele incêndio, apareceu. Ele estava do outro lado, estava protegendo os humanos.
Ele mandou uma mensagem para SeHun, para que desistisse de toda aquela loucura. Falou sobre o passado dos dois e sobre as consequências daquela decisão precipitada. Aquilo não deveria dividir SeHun, mas dividiu e isso afetou sua liderança.
O Oh se perguntava se o que estava fazendo mandaria a todos em uma missão suicida, porque mesmo com tantas instituições ao seu lado, havia tantas outras do lado de seu primeiro amor e ex-amigo.
Vendo a indecisão de seu comandante, os outros semideuses começaram a questionar se Oh era apto para liderá-los. Não havia dúvidas sobre suas habilidades, mas um líder desencorajado era a ruína para o seu exército.
Assim, SeHun decidiu fazer o que fazia de melhor: fugir.
Ele correu para um lago e se permitiu olhar as estrelas e pensar mais sobre si.
SuHo continuou observando tudo com extremo cuidado, e assim que viu que estava tudo bem ser descoberto pela extensão do garoto quebrado, ele se permitiu ser visto pelo mesmo.
-Você pode me levar para o seu verdadeiro eu? Já vi as cinco memórias. – Ele falou sorrindo gentilmente. O outro apenas assentiu e pediu para que o seguisse. Nós andamos cerca de vinte minutos até que chegamos a um bosque.
O SeHun verdadeiro estava lá, observando o céu e eu sorri. Ele estava vivo ali. Eu podia sentir.
-Você deve voltar com a gente, SeHun. – Kim Junmyeon falou alto, atraindo o olhar do garoto que eu estava com saudades.
-Por quê?
-Porque você é diferente. É o mais simples labirinto sobre o qual já escutei falar e o primeiro que entrei. Sua mente é mais complexa do que isso, então por que se deixou ser encontrado de modo tão simples? Apenas com suas memórias... –SuHo continuou o observando. – Você nunca realmente quis morrer. Você quis ser encontrado, por isso usou de uma solução simples para ser entendido.
-Não fale o que não sabe! – SeHun bradou e algo surgiu do céu.
Era uma criatura diferente, não havia um rosto e seu cheiro era insuportável, cheirava podridão. Ela correu até Junmyeon, o atirando para longe.
-Eu sei que você tem medo do destino, SeHun. – Suho continuou falando, tentando se desviar a todo custo daquela criatura estranha. Ela parecia a própria personificação da morte e isso o assustava. – Sei que se culpa por todas as mortes, mas saiba que mesmo em coma, todo esse arrependimento não irá embora. - O monstro rugiu, voltando a atacá-lo com precisão. SuHo gritou quando as garras da criatura lhe atingiram. Seu sangue começou a se derramar pelo chão, mas ele continuava falando. – Eu sei, porque isso também aconteceu comigo. Eu também mandei pessoas para missões e elas não voltaram, também matei pessoas indiretamente, simplesmente porque estar com um semideus é perigoso, mas você não pode pensar para sempre no passado SeHun, ou ele vai devorá-lo como está acontecendo agora.
SuHo atacou o monstro, chutando-lhe com uma força desconhecida, fazendo-a cair ao chão. Com um sorriso, ele novamente olhou para SeHun.
-Não deixe que seu passado o consuma. Se você tem um plano, deve fazê-lo. Mesmo que eu não concorde em destruir os humanos, podemos pensar em outras soluções juntos. – ele continuou, mas antes que conseguisse dizer mais alguma coisa, a criatura se levantou e foi em sua direção.
Chutes eram trocados, enquanto Junmyeon tentava desesperadamente se defender das garras da criatura com cheiro de morte. Ela parecia uma pessoa encapuzada, mas não havia rosto. Seus dentes eram visíveis e horríveis, enquanto suas mãos estavam cheias de feridas e garras tão grandes e afiadas como uma faca.
-Eu sei que é difícil, mas você prometeu que sempre seria bom! Que nunca abandonaria o seu anjo, SeHun! Você prometeu que nunca deixaria de acreditar nele, mas você o fez! Você quebrou as asas do seu anjo da guarda e ele ainda está aqui. Nós não podemos vê-lo, mas sua memória o viu. Eu sei! Ele nunca descumpriu as últimas duas promessas, SeHun! – Quando SuHo falou isso, surpreendi-me. Poucos semideuses sentiam nossa presença ou se lembravam de nós.
Acredite em Suho, SeHun. Ele pode te ajudar. Eu não o culpo por nada.
Eu grito e, de repente, sinto que sou escutado. Lágrimas começaram a cair do rosto de SeHun, mas a criatura ainda não parava de atacar Junmyeon. Eu gritei novamente desesperado, até que SuHo prendeu o monstro com linhas feitas por seu feitiço.
-Nós não podemos mudar o passado, mas vamos juntos tentar mudar o futuro? Eu sei que você tem medo do destino, SeHun, mas você venceu muitos deles. Se quiser chorar daqui para frente, chore. Você já se mostrou forte o suficiente por uma vida. Nós sempre estaremos aqui para você. Eu sou filho de Hécate e ela me ensinou que é capaz de modificar o que as Moiras tecem.
-E se não der certo? E se tudo o que fizermos ocasionar sempre algo pior do que deveria ser? – SeHun perguntou, olhando-o com esperança.
SuHo apenas sorriu e lhe entregou uma pequena espada.
-Nós só vamos descobrir se tentarmos. Eu não concordo em destruir os humanos, mas podemos tentar chegar ao Deus de tudo. O que acha? Não sei como faremos, mas podemos tentar. Primeiro você precisa matar o seu monstro. – SuHo apenas o olhou com expectativa e quando SeHun finalmente cravou a espada no centro da criatura, eles apertaram as mãos e sorriram um para o outro.
Eles não se conheciam antes disso, mas SuHo conseguiu trazer SeHun de volta à vida e ganhou sua amizade, porque uma amizade é criada de diversas formas e entrar na mente de SeHun para salvá-lo está no topo delas.
Eu sorri. Mesmo SeHun não conseguindo me enxergar, ele encontrou outro Robin e isso era o suficiente para mim.
Eu poderia contar para Deus sobre o que eles haviam planejado, poderia avisá-lo que os humanos não são tão temíveis quanto semideuses insatisfeitos que sabem exatamente o que querem, mas estava com raiva dele.
Ele havia visto isso antes de mim, e por isso deu aquela missão absurda, falando que Oh SeHun deveria morrer para um bem maior. Foi ele que mandou a matriarca Oh matar um jovem Sehun, implantando cenas horríveis de um futuro que o rapaz poderia criar. Foi ele que mandou LuHan queimar a instituição e sumir, fazendo tudo parecer mais uma missão do Oráculo de Delfos. Foi ele quem construiu sua própria ruína.
Se a missão de SeHun era criar uma guerra igual ao seu pai, ele a criaria, mas em um nível tão catastrófico que mudaria o sentido do mundo. Perdendo ou ganhando, Oh SeHun e Kim Junmyeon sabiam que nada mais seria como antes.
Eles não queriam fugir do destino, mas sim alterá-lo.
O meu destino sempre foi estar ao lado de SeHun e assim que eles achassem uma solução, eu lutaria ao lado deles. O Rei tirano deveria perder sua coroa por causa de sua própria criação. Estávamos prontos para as consequências se elas incluíssem abalar o mundo, o que com toda certeza, iria.
2 notes
·
View notes
Text
27 - #27 Here comes the sun
Título da fanfic: Here comes the Sun
Sinopse: Depois de uma noite difícil, há sempre um novo sol.
Couple: HunHan
Número do plot: #27 Unhappy (marriage): um casal, após 5 anos de casamento, não consegue mais manter uma boa convivência juntos. Nada parece como antes; toda a adrenalina, a emoção e a felicidade em ficar perto não está mais lá. Mas não é como se Sehun quisesse deixar Luhan escapar de seus braços. O que será que ele pode fazer para impedir seus laços de desatarem?
Classificação: +14
Aviso: UA, Slash, menção a baeksoo, fem!Baekhyun
Quantidade de palavras: 10807
Nota do autor(a): me desculpa, de verdade, se eu não fui fiel ao plot doado ou de alguma forma decepcionei quem teve a ideia
Little darling
I feel that ice is slowly melting
Little darling
It seems like years since it's been clear
Estavam naquela situação há tempo demais, Sehun notou. Como se estivessem presos em rotinas diferentes, onde a vida de um, não parecia mais fazer parte da vida do outro. Dois estranhos sob o mesmo teto seguindo seus próprios caminhos, ambos em direções opostas. A falta de interesse, a nítida exaustão e a sensação latente de que apenas estavam empurrando aquele relacionamento, tentando tornar mais longo o que já estava fadado. Talvez por terem se acostumado àquela vida, talvez para evitarem tudo o que teriam pela frente caso alguém desse um passo em direção à conversa que os levaria ao divórcio.
Amar até que a morte os separe é completamente possível, mas saber lidar com as controvérsias de dividir a vida com uma pessoa, contornar os obstáculos impostos pelo mundo afora e também aqueles que se criam dentre as paredes que se formam o lar, trata-se de outra história. O amor e apenas ele, seria capaz de ir contra todos os sentimentos opostos, derrubar as barreiras que se construíam entre dois corações que se pertenceram um dia?
Sehun não se reconhecia mais.
Costumava ser do tipo animado, daqueles que sempre encontram motivos para rir e conseguem tornar qualquer situação divertida. Era o centro das atenções na rodinha de amigos, a estrela do escritório e o sonho de uma boa parte das pessoas que cruzavam seu caminho. Mas agora, os amigos só serviam mesmo para uma saída até o pub mais próximo e tomar umas cervejas no final de semana, adiando a ida para casa. No escritório, ao menos profissionalmente, tudo estava bem apesar da cara sempre fechada num semblante sério, causando receio para qualquer aproximação. E quanto a ser um sonho, bom, isso aparentemente nem em casa funcionava mais.
Luhan era um filho da puta. Porque ele também poderia ter feito algo, tentado segurar um pouco mais forte do seu lado e trazer Sehun de volta. Mas ele caiu junto, os dois embolados naquela corda em direção ao fundo do poço. Ele não fez nada, só os deixou seguir no rumo que haviam tomado até chegar onde estavam.
No bom dia automático antes de saírem para o trabalho e costas viradas uma para outra, com um vão enorme no meio da cama, durante a noite. Listas de supermercado e contas da casa eram o único assunto a menos que houvesse uma lâmpada quebrada. Às vezes alguém se lembrava de avisar que não chegaria a tempo para o jantar, ou avisava que tinha deixado comida pronta na geladeira. No mais, era cada um na sua.
Sehun não era do tipo de cara que observa apenas o que está diante dos olhos; costumava se perder nas entrelinhas que muitas vezes não queriam dizer nada, mas que ele não conseguia deixar passar. Gostava de procurar significados, de deixar as coisas implícitas e procurar pelas respostas, ao invés de recebê-las de bandeja. Talvez por isso fosse bom em seu trabalho, se perdia na atenção prestada e as horas se passavam sem que sequer se lembrasse do que o esperava fora do prédio da editora Byun.
E, também, talvez por isso seu casamento parecesse tão fracassado quanto poderia, naquela rotina forçada de convivência.
Sehun, naquela noite, saiu arrastado para o bar com os colegas de trabalho com intuito de comemoração. Sua chefe, ironicamente, festejava o pós-divórcio. Um ano desde que aquele longo e arrastado processo, do qual ouvia a amiga lamentar diariamente, pois o ex-marido vivia encontrando motivos para adiamentos ou novas audiências, terminara oficialmente. Devolvendo a Baekhyun seu nome de batismo e mantendo os dedinhos do Wu bem longe de seus negócios e dinheiro.
Ela parecia ter muito o que comemorar, ainda mais comparando ao ano anterior quando chegava à editora no modo zumbi, com olheiras gigantes e brigando com todo mundo. Aquele era o exemplo de casamento que realmente deveria ter acabado, ou sequer começado.
Sehun virou uma dose de conhaque, se contorcendo todo por dentro enquanto o líquido descia pela garganta. Não era de beber além do sociável, mas estava tão cansado, exausto, queria se sentir animado daquela forma como seus colegas estavam. Queria se sentir feliz de novo, como quando corria para casa para deitar no sofá com o marido e ver televisão até pegarem no sono, ser acordado no meio da madrugada com beijos molhados no rosto e então ser arrastado para cama. A ideia de sair dali para dar de cara com a cama fria e lençóis separados, porém, não era nada agradável.
"Eu estou comemorando, Sehun-ah. O Kris não morreu, tira essa cara de enterro", Baekhyun brincou ao sentar-se ao lado dele no bar.
Um riso meio irônico escapou dos lábios de Sehun.
"Quer conversar?"
Injusto. Era completamente injusto ter Baekhyun como o ombro de apoio e alugar seus ouvidos com lamúrias bem naquele dia que ela julgava tão especial. Mas se tinha alguém que poderia entendê-lo...
Sehun deu de ombros.
"Vou chutar: Luhan."
"Bingo!"
Baekhyun e Luhan haviam se encontrado apenas duas vezes, ambas em confraternizações de final de ano da editora. Mas nunca chegaram a conversar mais de dois minutos, eram completos estranhos.
"Você bem que podia esquecer ele um pouquinho e se divertir... Tentar colocar a cabeça no lugar, sabe? Ver se... Deve tentar ou... Só deixar pra lá."
Baekhyun, de verdade, não queria sugerir aquilo. Não queria seu amigo numa situação daquelas quando sabia que no coração dele ainda havia o outro de canto a canto. O seu caso era completamente diferente, seu ex-marido era um cretino que tornou qualquer sentimento bom que ela tinha por ele em ódio, repulsa. Mas Luhan não. Não o conhecia de fato, mas Sehun falava dele com um brilho saudoso nos olhos ainda que a situação entre o casal não fosse das melhores.
"Nesse final de semana, você é meu Sehun. E não vou te deixar com tempo para remoer nada..."
"No que está pensando?"
"Que tal vermos como seria sua vida sem o Luhan... E...", sua ideia estava implícita. Como seria caso os dois se separassem de vez. "Daí você decide o que é melhor pra você."
Não dando tempo de obter uma resposta, Baekhyun arrastou Sehun para o grupo que o pessoal da editora formara entre risadas altas e falas animadas. Levou Sehun para dançar, lhe contou piadas sem graça e parou com ele para analisar cada um presente naquele bar. Aquilo era quase um hobby para Sehun, e Baekhyun descobriu na primeira semana dele como seu estagiário, quando o garoto de casamento marcado se esquecia das tarefas para observar os demais funcionários como se aquilo fizesse parte de suas obrigações.
O relógio marcava cinco e vinte sete da manhã quando todos se despediram no estacionamento, sumindo dentro de carros do Uber ou táxis. Era costume que deixassem seus carros no prédio da editora ou fossem, pela manhã, ao trabalho de metrô, pois em saídas como aquelas ninguém poderia voltar para casa no volante.
"Lembra que eu disse que você era meu nesse final de semana? Não chegou a hora de voltar pra casa ainda, Sehun-ah."
Sehun pegou o celular. Não tinha uma sequer ligação perdida ou uma mensagem a sua procura. Não era de chegar tão tarde em casa, embora sempre passasse da meia-noite nas sextas-feiras. Luhan não o procurara. Não queria saber dele, nem mesmo para conferir se nada grave tinha acontecido.
Sehun voltou caminhando para a editora, o braço servindo de apoio para Baekhyun andar nas calçadas irregulares com aqueles saltos finos, e se deixou ser levado para onde quer que a amiga fosse.
*
Ao acordar com a luz quente do sol no rosto, Sehun se impulsionou para levantar, só então sentindo o cinto de segurança preso ao seu corpo.
"Só mais vinte minutos e a gente chega. É quase uma da tarde, aliás...", Baekhyun comentou ao notá-lo acordado. Sua voz soara divertida e Sehun se perguntou como, afinal tinham dormido muito pouco antes de saírem com Baekhyun criando suspense sobre onde iriam, mas deu voz a outro questionamento.
"Onde estamos?"
"Na verdade, para onde estamos indo... Agora posso falar já que não dá mais pra você fugir: Haeundae. Lembra da casa que eu ofereci pra você ter umas férias com o Luhan e você recusou? É pra lá", respondeu sem tirar os olhos da estrada.
Na época em que se casaram, Sehun estava no último ano do curso de Literatura e Luhan ainda buscando estabilidade na carreira. Tiveram uma festa pequena e bem familiar no jardim da casa da avó de Sehun, mas passaram a noite no pequeno apartamento de Luhan, onde moraram juntos por dois anos. No dia seguinte Sehun teve aula e Luhan uma emergência com um Golden Retriever idoso. A lua de mel acabara adiada. E adiada. E adiada. Porque agora Luhan tinha uma pequena clínica e Sehun estava começando como editor efetivo na editora Byun.
E com o tempo nem mais falavam na viagem, até que chegaram onde estavam.
Realmente não demorou até que chegassem. A casa bonita e toda branca, tinha um jardim enorme do lado de fora, uma varanda alta na entrada com cadeiras de balanço e a porta de madeira com uma daquelas campainhas antigas que precisava bater contra a madeira, só de estética.
"Sabia que as roupas do demônio serviriam para alguma coisa algum dia! Não se preocupe, estão lavadas com água quente!", Baekhyun falou enquanto procurava as chaves na bolsa. "Acho melhor você vestir algo mais confortável antes de sairmos para almoçar."
Sehun ainda usava as roupas formais do trabalho, mas Baekhyun tinha trocado os saltos por chinelos e o vestido de saia longa por uma camiseta regata e shorts antes de sair de casa. Era quase outra pessoa, se comparada com a dona da editora ou ex-esposa de Kris.
Sehun varreu a casa com os olhos, cômodos grandes e muito abertos com enormes janelas de vidro, a decoração rústica e praiana que a deixava óbvia como casa de veraneio, enquanto era guiado ao quarto de hóspedes onde ficaria e também onde estavam as roupas do ex-marido de Baekhyun.
"Ele raramente as usava, porque além de nunca querer vir pra cá, quando vinha ficava enfiado em casa ou saía apenas à noite e todo pomposo de terno e gravata", ela desdenhou e depois riu. "Te espero lá embaixo."
*
Fora Luhan quem fizera o pedido.
Sehun chegou a pensar que ele estava brincando, mas não estava. Era real, o rosto sereno estava sério e os risos haviam cessado. Os dois estavam na varanda pequena do apartamento, sentados no chão dando risada de nada e de tudo ao mesmo tempo em meio àquelas conversas que surgiam sem propósito e vagavam pelos mais diversos assuntos. Também do nada e ao mesmo tempo de tudo que aquelas palavras mágicas saíram dos lábios de Luhan. Do nada, porque pareceu despretensioso, simples, um desejo que nasceu e ganhou voz, num tudo que se completavam e podiam se sentir assim, de forma tão natural no meio da noite, rindo sobre o camarão com pimenta que havia engasgado Kyungsoo.
E enquanto a comida ia sumindo do prato de Baekhyun, Sehun ainda dançava com o garfo nas tiras de espaguete.
"Não me diga que está pensando no que ficou em Seul? Você vai resolver isso quando voltarmos amanhã à noite, Sehun."
"Não, eu só me lembrei de uma coisa."
"Do que?"
"Do pedido. Quando Luhan me pediu pra casar com ele..."
Baekhyun suspirou frustrada. Não queria Sehun deprimido enquanto planejava diverti-lo. Enquanto planejava que ele percebesse que, talvez, estar sem Luhan pudesse lhe fazer bem também.
"Kris me pediu em casamento aqui em Haeundae. Ele fez isso aqui ser nosso lugar especial, mas depois que nos casamos nunca mais quis voltar. E eu comprei a casa por causa dele...", Baekhyun encheu a boca, mastigando rápido para poder continuar a falar. O mesmo prato que ela adorava e seu ex-marido odiava, trazia lembranças que para sempre estariam fincadas no coração da mulher. Fosse qual fosse o rumo que viesse tomar. "Eu era apaixonada por ele, mas... Tudo se destruiu enquanto eu forçava a continuar tentando, mesmo ele tendo mudado. Mesmo ele estando cada vez mais insuportável. Tem coisas que precisam acontecer, mas apenas no seu tempo. Não mais nem menos, nem pra sempre."
Deixaram o restaurante com a nova promessa que se cumpriu enquanto Baekhyun levava Sehun pela praia, mostrando tudo o que gostava. Até mesmo fizeram uma breve aula de mergulho e compraram um peixe que nem um dos dois saberia preparar. Ao anoitecer, Baekhyun levou-o ao luau do quiosque do gelo. E os dois amanheceram na praia, a sensatez voltando junto com o nascer do sol, ambos sentados na areia ao som das ondas a se quebrarem e zumbidos do vento correndo entre eles.
Iriam embora dali algumas horas e, desde o restaurante, Sehun não havia mais tocado no nome de Luhan. Tinha deixado o celular de lado na casa de Baekhyun para evitá-lo se, por milagre, seu marido o procurasse. Ele esvaziou a mente e se deixou ser levado.
"Por que não deu certo no final das contas? Você e o Kris..."
"Ele mudou. Simples", Baekhyun deu de ombros, ainda fitando o mar como se buscasse algo além de seu horizonte e prosseguiu com a voz mansa, serena, pois era apenas uma lembrança distante, algo que não a incomodava mais. "Mudou completamente, mas aos poucos. E eu quase não percebi. Quando me dei conta, ele já estava escolhendo as minhas roupas, decretando os lugares que eu poderia frequentar ou não e... Basicamente, monopolizando toda a minha vida. Eu devia ter notado isso quando ele exigiu que eu usasse o sobrenome dele. Sabe, eu estava tão feliz porque finalmente iríamos nos casar que nem cheguei a pensar sobre contestar isso de deixar o Byun e me tornar Wu. Mas mesmo assim ele tornou isso quase uma regra... Ou seja, já naquela época ele queria que eu me tornasse declaradamente posse dele. Ele é um idiota!"
"Vocês sempre pareceram bem... Digo, na empresa, nas festas, pareciam felizes."
"Ele é um fingido. Um cara totalmente de aparências. Mas a questão é que eu passei a não querer mais estar com ele, estar perto dele. Vê-lo. Eu o queria longe como estamos agora, entende? Ao contrário de você, que quer tentar dar um jeito, que quer que as coisas se resolvam. Você sabe que eu te adotei desde aquele dia em que foi fazer entrevista comigo e gaguejou nas três primeiras tentativas de dizer o próprio nome, não é? E que se quiser eu posso muito bem ir lá dar uns puxões de orelha no Luhan, porque se ele não der valor ao que tem, o Chanyeol está na fila esperando."
O olhar incrédulo de Sehun, os olhos saltados e a boca aberta a pegaram de surpresa tanto quanto ele mesmo estava.
"O que, vai dizer que nunca percebeu que meu irmão é caidinho por você? Nunca reparou como ele só falta te engolir quando te olha?"
"E-eu, sei lá, só pensei que fosse o jeito dele", Sehun quase ria de incredulidade. Então era por isso toda a gentileza? "Isso é sério?"
"Quem vê esse homão virando conhaque no bar nem imagina o neném que é!", brincou Baekhyun e riu em seguida.
Então houve um silêncio de palavras, apenas o som da natureza mostrando que também participava daquele momento entre amigos.
"Luhan me chama assim. Chamava... Hoje em dia ele deixa escapar vez ou outra, mas tenho certeza que é sem querer."
"Como?"
"Neném", Sehun ruborizou ao admitir em voz alta. Nunca tinha chegado a alguém e falado sobre isso, mas quem presenciara (seu irmão principalmente), acabara por perturbá-lo com piadas infantis.
"Realmente não tem jeito, Sehun. Sua felicidade vai estar sempre onde ele estiver, não importa o que a gente faça, o quanto você se distraia. Quando o momento apaga e o álcool vai embora, seus pensamentos voltam pra ele... Então a gente vai voltar pra Seul e você vai dar um jeito de se resolver com o seu homem. Corre atrás. Não deixe as coisas morrerem assim", ela sorriu doce, reforçando o encorajamento. Apoiaria Sehun em qualquer que fosse a decisão dele. "Neném."
Baekhyun correu para a água, largando na areia os saltos que havia carregado até ali nas mãos, e Sehun foi logo atrás rindo da cara toda contorcida da amiga que tremia de frio. Pareciam duas crianças brincando de molhar uma a outra como se já não estivessem ensopadas. O sol que clareava naquele tom forte de laranja, não servia de muita coisa, e os dois amigos saíram da água agarrando os próprios braços na tentativa inútil de evitar aquele vento que, na pele molhada, tornara-se doloroso. Apesar disso, nos lábios roxos que escondiam os dentes batendo, podiam-se notar sorrisos contidos, mas genuínos.
*
No carro, durante a viagem de volta, tocava N'SYNC em um volume tão alto que as batidas das músicas se tornavam leves estrondos, e ainda assim eles podiam ser ouvidos aos berros acompanhando a letra de Tearin' up My Heart. Pareciam dois loucos que se esqueceram de que a adolescência havia passado e ficado bons anos lá trás, mas não estavam nem aí.
Sehun sentia-se como se pudesse alcançar o céu para ver de perto as estrelas, como se nada pudesse impedi-lo de tentar. Seu celular devia ter descarregado em algum momento, o deixando alheio ao mundo e, quando chegou em casa, ouvir o marido questionando-o o fez abrir um sorriso discreto, daqueles que escapam pelos cantos mesmo depois de todo o esforço para serem escondidos.
Ele então ignorou aquela barreira que havia sorrateiramente se erguido entre os dois e surpreendeu o homem com um breve encostar de seus lábios nos dele; a pele quente e macia reagindo por todo o seu corpo em saudade. E aí ele deu as costas e foi para o quarto, deixando Luhan parado no meio da sala, sem entender coisa alguma, com o coração acelerado e o corpo travado.
*
Não tinha um novo projeto há quase três meses e, enquanto nada surgia, fazia pequenas revisões para alguns colegas. No resto do tempo, ficava no café da esquina do prédio da editora ou na sala de Baekhyun, quando ela não estava ocupada.
Sehun trabalhava, principalmente, com Kim Kai, escritora conhecida no ramo como a versão coreana de Sophie Kinssela ou uma mistura da autora britânica com a norte americana Collen Hoover. Na primeira reunião de divisão de Sehun, lhe foram direcionados vários risinhos por parte de alguns colegas quando foi selecionado para a categoria de romances chiclits e young adults.
Porque para eles parecia tão patético que o cara gay fosse viver um clichê como aqueles com os quais trabalharia. Mas Sehun não se incomodou, porque como lhes havia dito, impondo-se naquela sua primeira participação como um funcionário oficialmente efetivo, não havia gêneros para um amante da literatura e um bom profissional.
Sehun sabia que era visto como protegido de Baekhyun, que só não tinha que lidar com a versão adulta do bullying escolar, porque os demais prezavam seus empregos, então se limitava a apenas ignorar e seguir.
Seu primeiro trabalho fora o terceiro livro de Kai a ser publicado. A ajuda foi mútua, muitas vezes os dois tendo de se sentar no chão da sala de Sehun para discutir ideias entre risos. Ambos fugiam do ditado que dizia que escritores colocavam experiências em palavras, pois aos quase trinta anos, Kai, que publicara livros como As primeiras vezes e Não há morte que nos separe, sequer tinha tido algum relacionamento sério na vida, um namoro que fosse. E Sehun, que naquela altura estava com um casamento entrando em risco sem perceber, talvez imerso demais na vida daqueles personagens que viviam entre desencontros, conseguia se ver em diversos daqueles parágrafos.
Baekhyun, que já imaginava por onde os planos de Sehun rondavam, nem mesmo questionou quando ele pedira para sair mais cedo. Apenas desejou uma boa sorte em meio a sorrisos, deixando o homem com as bochechas avermelhadas e se sentindo óbvio demais, porém com certo calor de esperança o tomando.
*
Os pais de Luhan não vieram para o casamento. Na época, o convite foi enviado mais por educação e também como um aviso. É claro que, se realmente expressassem desejo de ir e Luhan sentisse a sinceridade e recebesse um pedido de desculpas, ele mandaria as passagens. E perdoaria os pais pelos julgamentos, pelo abandono. Mas ele soube que o convite chegou ao destinatário apenas graças ao serviço de rastreamento do pacote.
Luhan é o tipo de cara que não gosta de deixar sua vulnerabilidade à mostra, aquilo que lhe fazia sentir-se fraco. Ele nunca deixava transparecer o incomodo que lhe causava aquela relação conturbada com a família, mas não conseguiu evitar cair no choro, sem conseguir engolir uma gota de lágrima pra dentro de volta. Foi como se aquela trava que segurava tudo dentro dele tivesse se rompido, deixando escapar todas as lágrimas que guardara por muito tempo. Por horas ele chorou, com a cabeça deitada no peito do futuro marido, o qual tentava consolá-lo.
Mais tarde houve uma ligação, a voz de Luhan ainda estava afetada, os olhos e o nariz inchados. Ele não esperou pelo alô, ou pelo quem é. Ele despejou tudo e decidiu que agora teria apenas uma família: Sehun.
Fora Sehun quem esteve ao seu lado quando reviraram a cidade em busca de um prédio bem localizado, não muito caro e que pudesse ser transformado numa clínica veterinária. Fora Sehun quem o ajudou na limpeza e toda a reforma torturante daquele lugar — quando o corretor disse que só precisava mexer aqui e de uma pintura ali, pareceu perfeito, mas logo entenderam o porquê do preço.
Sehun nunca se deu muito bem com gatinhos, mas naqueles primeiros meses, quando Luhan apareceu com uma caixa cheia deles em casa, porque foram largados na porta da clínica, Sehun até mesmo ajudou a dar mamadeira, ganhando alguns leves arranhões aqui e ali que mais tarde se transformaram num negócio vermelho e inchado, com uma coceira infernal. Com os antialérgicos em dia, Sehun quase tinha dois empregos, saía da editora direto para a clínica e ficava lá ajudando no que era possível ou só passando o tempo à espera do marido, encantado com toda a dedicação que ele tinha com os bichinhos. Ele dizia amar todos os animais igualmente, mas Sehun sabia que ele tinha uma quedinha especial por gatos.
Passou na farmácia para comprar uma caixa daqueles comprimidos mágicos que há tempos não precisava e tomou logo dois antes de seguir para a clínica.
O tempo parecia não ter passado por lá; podia até fingir que fora ontem mesmo que sua carga horária na editora havia aumentado, o impossibilitando de continuar indo para lá depois do trabalho. Tudo no mesmo lugar. No entanto, sentia-se levemente deslocado e de repente muito nervoso de chegar ao escritório de Luhan onde por muitas vezes se trancaram, ou no consultório, que era um lugar sagrado para o marido.
"Sehun?"
Sehun não reconheceu a voz naquele primeiro momento, mas logo sorriu ao notar a mulher ir apressada ao seu encontro com uma expressão animada e um gatinho debaixo do braço. "Quanto tempo menino!"
"Oi, senhora Jun!", Sehun, tão saudoso quanto a mulher, a cumprimentou formalmente. "Eu só vim ver o Lu--"
O rosto de Jun logo se fechou. "Aconteceu alguma coisa? Você nunca mais veio aqui e o Luhan resolveu sair cedo... Ele nunca sai cedo, está tudo bem?"
Jun era a esteticista da clínica, uma das primeiras funcionárias dali. Conhecia as manias do chefe, o amor dele pelo trabalho e o perfeccionismo que ela podia jurar ser o causador de seus cabelos brancos. Mas não sabia nada mais do que isso.
"Está sim, senhora Jun...", Sehun respirou fundo, tentando não parecer frustrado. "Ele é seu?", perguntou do gato que não parecia muito simpático, com as orelhas, uma delas pretinha, viradas para trás enquanto encarava Sehun.
"O Chaplin? Ah, não. Ele é do Luhan. Quer dizer, é tipo um mascote aqui da clínica. Ele foi resgatado já adulto e as pessoas preferem adotar filhotes, então ele foi ficando por aqui até que o Luhan se apegou."
Sehun não disse nada, sentia-se culpado. Luhan teria levado o gato para casa se não fosse por ele.
"Eu acho melhor eu ir andando, senhora Jun. Foi um prazer revê-la."
Eles se despediram e Sehun forçou um sorriso. Esteve tão animado com aquele primeiro passo e acabava de receber um belo tapa na cara por tudo ter dado tão errado.
*
Estava nostálgico demais naqueles últimos dias, era isso. Com certeza. Sentia saudade, tanta e de tudo. Por essa razão aquela cena parecia se repetir diante dos seus olhos, quase da mesma forma que acontecera anos antes. Luhan e Kyungsoo sentados na mesa da cozinha, cheiro de comida caseira sendo preparada e risos ecoando.
Kyungsoo sempre foi genial. O mais perfeito irmão que Sehun poderia ter. Aos olhos do garoto, era a pessoa mais incrível do mundo. Kyungsoo sabia fazer de tudo, desde uma rabanada melhor que a da própria mãe até um curativo sem causar nenhuma dor, como prometera, no corte do dedão do pé de um marmanjo chorão de dezesseis anos.
Kyungsoo era sonhador. Fez Biologia na mesma universidade que Luhan estudou Medicina Veterinária e, como sempre dizia que faria, saiu pelo mundo para trabalhar nas mais diversas pesquisas. Falavam-se no facetime pelo menos uma vez por semana e Kyungsoo sempre tentava estar de volta à Coreia para as festas de final de ano.
O primogênito dos Oh os colocou um na vida do outro.
Naquele dia, Sehun chegou em casa feito um furacão, indo direto para cozinha bisbilhotar as panelas, porque sexta-feira era dia de Kyungsoo vir para casa e sua mãe fazer aquele monte de comida gostosa para compensar a nutrição por pizza do filho mais velho. E aí tinha mais alguém lá além da mãe, da avó e do irmão.
Luhan tinha o cabelo meio comprido na época, com um corte todo repicado parecendo feito em casa. Ele evitava olhar nos olhos das pessoas e tinha um sorriso muito tímido, talvez por estar entre tanta gente diferente, mas encantador.
Sehun nunca tinha se interessado por alguém até então, apesar de sentir a curiosidade que normalmente move um adolescente. Ele nunca tinha sentido aquele bolo esquisito na boca do estômago junto do medo de agir feito um idiota na frente de uma pessoa que ele sequer sabia o nome ou se veria outra vez. E por essas reações que o deixaram meio paralisado no meio da cozinha, pouco ligando para o seu molho de carne favorito, mais tarde ele viria a considerar que Luhan foi para ele tudo o poderia ter sido.
Como todos os seus romances, aqueles dentre páginas de livros, Sehun havia chegado à conclusão de que não era justo desvalidar o amor à primeira vista. Todo mundo, em algum momento da vida, sempre teria essa sensação ao olhar pela primeira vez para alguém. Poderia durar muito tempo, mas também nem dois minutos. E no caso de Sehun, já haviam se passado cinco anos.
Com um tapa na cabeça e um "acorda, Sehun" vindo de Kyungsoo, antes de mais risadas tomarem conta do cômodo, ele apresentou seu melhor amigo ao irmãozinho. Aquele dia ficou para a história. A vovó até narrou toda a cena com troca de olhares, suspiros apaixonados e rostos corados, que talvez só ela tenha visto, no discurso que fez na festa do casamento.
Luhan passou o final de semana com os Oh e Sehun passou o final de semana sentindo coisas estranhas beirando a um nervosismo com um toque de curiosidade. Queria se sentar para conversar com o garoto e enchê-lo de perguntas. Queria saber mais sobre ele. Queria ser amigo dele também. Queria um monte de coisas, mas também se contentava em apenas observar.
"Soo?"
Não soube como reagir naquele primeiro momento. Kyungsoo nunca aparecia assim do nada. Mas logo retribuiu aquele abraço esmagador.
"Não acredito que você ainda continua crescendo! Até onde eu sei, isso só vai até os vinte", Kyungsoo reclamou de brincadeira ao se afastar. Era quase injusto ser tão menor do que o seu irmãozinho mais novo.
"Na verdade, uma pessoa só cresce até os dezoito ou dezenove, e o Sehun parou nessa fase. Depois disso vem a parte em que você começa a encolher de velhice, Kyungsoo", Luhan comentou com um sorriso pequeno no rosto, ainda sentado à mesa, observando a cena dos irmãos. "Você que está menor."
"Ei, você é mais velho do que eu!"
"Ah, mas quando a gente começou a namorar, eu era praticamente da mesma altura que o Luhan", Sehun olhou para o marido com um olhar divertido e provocativo. Com os anos, havia se tornado mais alto que ele também.
"Vocês estão mesmo me chamando de velho?"
Os irmãos riram. Luhan queria fechar a cara e fingir estar bravo, mas acabou rendido às risadas.
"A senhora Jun me ligou. Disse que você foi lá agora... Aconteceu alguma coisa?"
"Não... Eu só saí mais cedo da editora e passei lá pra te ver."
A troca de olhares entre Kyungsoo e Luhan não passou despercebida por Sehun.
"Certo, eu vou ali fora conversar com o meu maninho. Acho que você consegue não deixar o nosso jantar queimar, certo Lu?"
Caminharam pela entrada da casa até estarem na calçada, vagando sem rumo. O lugar era completamente residencial e sempre tinha pessoas passeando com cachorros e crianças andando de bicicleta.
"Então, o que tá pegando?", Kyungsoo soltou.
"Como assim o que tá pegando?"
"Eu estou de férias e decidi adiantar minha volta pra Coreia, porque eu pretendia fazer uma viagem pela América do Sul primeiro..."
"Se você trabalha viajando, qual a graça de viajar de férias?"
"Não ter obrigações?", Kyungsoo deu de ombros com um pequeno riso. "Sehun, eu decidi vir por causa do Luhan. Você sabe que a gente se fala sempre, certo? E que ele me conta bastante coisa, mas não tudo. Então... Ele acabou desabafando um dia desses aí e..."
Droga. A boca de Sehun ficou amarga e a garganta seca. Ele tinha muito medo do que poderia ouvir.
"Ele acha que você quer o divórcio."
"O quê? Claro que não!"
"Sehun, eu cheguei domingo de manhã. E você tinha sumido todo o final de semana, seu celular estava desligado e o Luhan não fazia ideia de onde você poderia estar!"
Sehun riu de como as coisas pareciam loucas agora.
"O que exatamente o Luhan te contou?"
"Nada demais, só que vocês estavam afastados e ele não sabia o porquê. E você, tem algo pra me contar?"
"Eu viajei com a Baekhyun."
"Sua chefe bonitona?"
"Eu sou gay, Kyungsoo. Nasci e vou morrer assim!", Sehun quase riu da surpresa no rosto do irmão ao ouvi-lo falar da amiga, mas estava incrédulo com o tom insinuante na voz do irmão. "Tem um tempo que o Luhan e eu estamos... Numa fase difícil, digamos assim. E estamos… Bem, eu não sei o que fazer. Ele também não parece fazer nada, parece não querer mais nada, cheguei a pensar que ele estava indiferente a nós. E que talvez ele andasse pensando em divórcio... Baekhyun meio que tentou me ajudar, eu precisava desse tempo pra colocar algumas coisas no lugar e eu sei que foi imprudente não ter avisado nem nada, mas... Eu... eu estava puto sem saber o que fazer e ele não estava nem aí!"
"Você sabe, mais do que qualquer outra pessoa, como o Luhan é fechado, certo? E que guarda tudo pra si. A única pessoa com quem ele consegue se abrir de verdade é com você... Ele estava bem mal quando a gente conversou..."
Luhan tinha medo. Essa era a verdade e Sehun a notou semanas depois de terminar com ele pela primeira vez. Na época eles não namoravam exatamente, mas ficavam às escondidas e, até onde ambos entendiam, eram exclusivos. E esse era o ponto para Sehun, porque ele gostava de verdade de Luhan. Ele abriu seu coração e Luhan travou. Então semanas mais tarde, quando o medo de Luhan de se abrir foi superado pelo de perder Sehun, eles se tornaram namorados.
"Mas hyung...", Sehun suspirou cansado. Já não entendia muita coisa dali. Esteve tão focado no seu problema, nos seus conflitos, em encontrar um culpado sempre vendo isso em Luhan, que sequer teve chance de reparar no quanto tudo aquilo afetava o outro também. "Eu quero tentar resolver as coisas, quero resolver."
*
Sehun estava com tanta vergonha de chamar Luhan para sair. Há tanto tempo não faziam algo do tipo, que já não era mais natural. Sabia que Luhan estranharia e tinha medo de uma recusa, ou de qualquer hesitação por parte dele. Mas Kyungsoo disse que era uma boa ideia. Saírem à noite para dar uma volta de forma descompromissada. Nada de jantares formais ou encontros em lugares sofisticados como casais de dramas costumam fazer para impressionar ou se redimir. Eles nunca foram disso. Talvez caminhar pelo parque, sentar em algum lugar na grama para ver as luzes do rio.
Baekhyun achou uma ótima ideia e Sehun achou melhor ainda levar os dois, o irmão e a amiga junto.
"Então você está tentando juntar seu irmão com a sua chefe?", Luhan perguntou suave e despreocupado. Ele tinha os dedos entrelaçados uns aos outros e as mãos juntas em frente ao corpo, enquanto os dois caminhavam lado a lado, logo atrás de Kyungsoo e Baekhyun que pareciam discutir. "Quem você acha que está tirando quem do sério?"
"Baekhyun tirando o Kyungsoo. Ela é bem autoritária."
"E o Kyungsoo tem uma paciência limitada."
"Ele deve ter se irritado e passado a ignorá-la e agora ela está puta da vida com ele."
Riram. Foi natural unirem as mãos quando Kyungsoo e Baekhyun terminaram a conversa que levou àquela discussão, ainda na rua de frente para o parque, e passaram a caminhar calados.
"Como andam as coisas na clínica?", Sehun tentou parecer normal, mas estava quase irritado com todo o receio que o tomava ao fazer uma simples pergunta ao próprio marido. "Eu conheci o Chaplin no dia que passei por lá."
"E sua alergia?"
"Tomei remédio antes. E não peguei nele."
"Você odeia o remédio porque dá sono."
"É. O que aconteceu com ele, com o Chaplin?"
"Hmm", Luhan olhou para os pés, seus passos quase combinando com os de Sehun. "Enquanto umas pessoas tratam os animais até bem demais como se fossem bebês humanos, tem outras bem cruéis que abandonam sem dó. Mas eu não reclamo de quem "humaniza" os bichinhos... Pelo menos estão cuidando e se importam com eles. Eles se apegam muito fácil às pessoas quando elas os tratam bem... E aí elas simplesmente somem... Consegue imaginar o quanto isso deve doer?"
"Vai ficar com ele?"
"Ele já está bem acostumado comigo e não quero que ele passe por isso de novo..."
"Pensa em levá-lo pra casa?", era verdade que Sehun sentia um sono infinito com remédio para alergia. Já chegara a dormir doze horas seguidas e acordar com sono. E precisava estar atento no trabalho, mas podia tentar. "Posso procurar um médico pra tentar encontrar algum remédio sem efeito colateral."
"Eu não sei", Luhan pareceu pensativo. "Tem certeza?"
Sehun deu de ombros.
Às nove da noite, em volta do rio, tinha pouquíssimas pessoas e a maioria se exercitava correndo ou caminhando. Kyungsoo e Baekhyun estavam bem à frente quando Sehun parou Luhan para deixá-los seguirem a sós e embora certamente Luhan pensasse que ele quisesse dar um pouco mais de privacidade àquele possível casal, Sehun queria mesmo era estar com ele.
Sentaram-se ao chão, num dos degraus que desciam para o meio da praça, onde estava um grande vazio. Sehun deitou a cabeça nas pernas de Luhan e esticou as suas próprias, fitando o céu e fingindo não esperar qualquer reação que fosse por parte do marido.
"Você tinha medo de coruja", lembrou. "Já tratou alguma coruja?"
Sehun quase se desmanchou quando sentiu os dedos alheios embrenharem-se em seu cabelo. Seus olhos seguiram diretamente para o rosto de Luhan, encontrando dois pontos de luz dilatados a encarar-lhe.
"Sim, uma vez só, alguns meses atrás. E o seu trabalho?"
Havia curiosidade verdadeira. Não era apenas uma forma de passar o tempo forçando uma conversa, porque não paravam para conversar e às vezes era tudo o que queriam, mas ninguém dava partida.
"Kai está terminando o livro novo e vai publicar usando o próprio nome. É engraçado, porque o nome real dela vai ser meio que o pseudônimo do pseudônimo."
Conversaram um monte de coisas, tirando finalmente um tempo para se fazerem presentes um na vida do outro, tomando ciência de tudo o que deixaram passar. Recordavam entre risos situações engraçadas enquanto falavam aleatoriedades como o café da confeitaria na esquina de casa ou a última ligação da mãe ou da vovó.
Já se passavam das onze quando o celular de Sehun deu sinal de vida, vibrando por uma mensagem de Kyungsoo perguntando onde estavam. Sehun, então, ligou para ele e pediu que pegasse carona com Baekhyun. E Kyungsoo nem podia contestar porque, talvez, aquele fosse um sinal de que Luhan e Sehun tinham se entendido.
Mais tarde naquela noite, quando saiu do banho com os cabelos molhados e apenas com uma toalha amarrada no quadril, Sehun sentou-se na cama e chamou por Luhan, pedindo ajuda com o cabelo. E quando as luzes se apagaram, ele não hesitou em se aninhar às costas do marido.
Saudade. O braço de Luhan enlaçando sua cintura, o rosto dele contra suas costas, a pele quente contra a sua numa manhã fria e preguiçosa tinha gosto de saudade. Sehun ficou quieto na mesma posição de quando dormia, ainda que precisasse levantar logo. Permaneceu de olhos fechados, sentindo o conforto daquele abraço envolver todo o seu corpo. Levou alguns minutos até Luhan se remexer aqui, puxá-lo mais pra perto dali, até se render para se sentar na cama e se ajeitar para sair dela. E Sehun sentiu um calor no peito, como aquele de um sol nascendo numa manhã fria e aos poucos quebrando o gelo com seu calor, no ar nasalado que escapou do marido com um riso atingindo sua nuca. Os lábios dele se encostaram ali brevemente e como se tivesse tomado uma boa dose de coragem saiu da cama num pulo.
*
Luhan era do tipo de cara que preza demais a confiança e que a mínima quebra, pode ser irrecuperável. Com ele não tinha pedido de perdão, porque isso qualquer um pede, fala da boca pra fora sabendo que é o que o outro deseja ouvir. Luhan precisava sentir que a pessoa de fato estava arrependida e em parte era por isso que seu relacionamento com a família nunca mais deu certo. Porque ele sentia o julgamento e a reprovação, ainda que palavras de saudade fossem discursadas. E para Sehun era difícil saber por onde caminhar quando nada do tipo tinha se infiltrado entre eles.
Naquela semana tudo estava diferente. Eles prepararam o café da manhã juntos duas vezes. Sehun foi ver Chaplin e, depois do jantar, caiu como uma pedra na cama. Eles até mesmo se sentaram para ver TV juntos, mesmo que cada um num canto do sofá. Tudo parecia estar no caminho certo. Até mesmo combinaram um jantar entre amigos, ideia de Kyungsoo, que trouxe comida de um restaurante tailandês e Baekhyun vinho e soju.
Sehun não sabia ao certo se os dois estavam se entendendo ou apenas focados no mesmo propósito, mas sentia-se grato por tê-los. Luhan e ele estavam dormindo juntos nos últimos dias, juntos de verdade, com pernas entrelaçadas, e não apenas dividindo a mesma cama. Mas Luhan estava demorando a ir se deitar e por isso Sehun resolveu ir chamá-lo, encontrando-o sentado no sofá apenas com o abajur da sala ligado, o resto da casa todo no escuro.
"Luhan?", ele chamou.
Luhan olhou em sua direção, o rosto quieto, e bateu com a mão no sofá chamando Sehun para se sentar logo ao seu lado. Ficaram os dois olhando o nada à frente.
"Você, em algum momento, chegou a pensar que não daríamos certo? Principalmente nesses últimos anos... Chegou a pensar em nos separarmos?", Luhan perguntou.
"Não", Sehun respondeu direto. "Mas eu tive medo de que isso acabasse acontecendo em algum momento. Ou que fosse o que você queria."
"Você já ouviu falar que o amor até existe, mas só dura no máximo nos três primeiros anos?"
"E você acredita nisso?"
"O tempo destrói tudo."
"Você acredita nisso?", Sehun insistiu.
"Não. Eu ainda amo você, e percebo que até mais do que antes quando paro pra pensar... Mas não consigo entender o que aconteceu, talvez tenha sido o tempo", Luhan desviou sua atenção para o rosto de Sehun, que fez o mesmo, encontrando seus olhos. "O que aconteceu com a gente, Sehun?"
Estava todo mundo dormindo quando, no meio da madrugada de Natal, Luhan e Sehun foram para a rua ver a neve que começava a cair, finalmente. Sehun tinha esperança que ainda no dia vinte e cinco ela surgiria, e por isso não dormiu. E Luhan estava ali apenas porque o encontrou pendurado na janela da sala ao descer para beber água.
Pareciam duas crianças rolando no chão duro coberto pela fina camada branca. Pararam quando cansados, tremendo os dentes, enquanto Sehun falava sobre quando teria neve o suficiente para fazerem bonecos e anjos.
Parecia tão fofo e adorável. Inocente.
Quando viu o irmãozinho de quem tanto Kyungsoo falava pela primeira vez, Luhan ficou incrédulo. Porque na sua cabeça era só um moleque magricela e manhoso, e não um garoto maior do que si próprio e praticamente um homem feito. Mas aos poucos ele foi entendendo Kyungsoo. Porque Sehun tinha aquela aura de menino, a criança que ia tornando-se adulta aos poucos sem deixar para trás a melhor parte da infância. Sehun tinha acessos de risos por coisas bobas, ficava corado facilmente e adorava fazer graça. Contar piadas, fazer brincadeiras.
A cada vez que via Sehun, Luhan sentia um calor pequeno crescer no peito, o leve indício de que algo se desabrochava ali. E naquela noite, no meio de todo aquele frio, acabou por não resistir aos lábios pequenos, agora arroxeados. Num segundo estavam sentados lado a lado nos degraus de entrada da casa dividindo um cobertor, observando tudo em volta tornar-se branco, no outro, tinham a boca encostada uma na outra, os olhos fechados e um calor surgindo dos infernos.
Luhan até pensou em se desculpar pelo impulso, mas não deu tempo, estavam fazendo de novo. Beijaram-se quase até o amanhecer e depois pelos cantos da casa até o fim do feriado.
"Acho que... A gente apenas foi se deixando acomodar."
Seus pais se divorciaram quando Sehun ainda tinha dez anos de idade. Eles nunca pararam para conversar com os filhos a respeito dos reais motivos. Eles não brigavam muito também, o que acabou por deixar tudo ainda mais confuso. Eles apenas se sentaram todos juntos para o jantar e, enquanto Sehun pegava um pouco de arroz, o homem disse que estava indo embora. E depois a conversa que se seguiu foi para explicar sem explicar de verdade que seria melhor assim e a decisão era mútua.
Kyungsoo dormiu no quarto de Sehun naquela noite, e os dois passaram um bom tempo olhando para o teto até que o irmão mais velho concluiu que não deveriam se meter com coisa de adulto. Convencendo o irmãozinho de que tudo ficaria bem.
Sehun nunca soube ao certo o que ocasionou o divórcio dos seus pais, pois para ele sempre pareceu tudo bem. A ideia que se tem é que os pais sempre tem tudo sobre controle, mas eles estão apenas se escondendo o tempo inteiro para não deixar que os filhos vejam suas fraquezas. E Sehun entendia agora que nem sempre o amor é o bastante.
"Cinco anos é muito tempo quando a gente acorda e percebe que passou, mas enquanto vivemos esse tempo, ele não é nada."
Little darling
The smiles returning to the faces
Little darling
It seems like years since it's been here
"Eu te disse hyung, que naquele dia ele deixou bem claro que acha que não funcionamos como um casal."
"Ele não disse isso."
"Não exatamente."
"Por isso que eu não quero me casar, é complicado. E frustrante. O casamento é tão destrutivo que transformou o único casal que eu achava que realmente daria certo pra sempre nisso aí."
"Hyung!"
"E não é, Sehun-ah?"
O café de Sehun permanecia do mesmo jeito de quando a garçonete o trouxe; talvez apenas um pouco mais frio.
"Você... Percebeu algo diferente nos nossos pais antes deles falarem sobre o divórcio? Chegou alguma vez a falar com a mamãe sobre isso?"
"Não. Quer dizer, não exatamente. Não direto ao ponto. Sei tanto quanto você."
O silêncio que surgiu entre os irmãos pensativos não se estendeu por muito tempo, graças à presença de Baekhyun.
"Sobre o que estão conversando com essas caras de enterro?", ela perguntou. "Pensei que estaria animado com seu novo projeto, Sehunnie."
"Eu estou."
"Como você pode ser assim tão sem educação? Onde estão os seus modos?”
“O quê?"
Kyungsoo forçou uma expressão séria, quase indignada. "Chega assim do nada e não cumprimenta devidamente as pessoas. Eu sou mais velho do que você, onde está seu respeito?"
"Por favor! Desde quando você liga pra formalidades, senhor. Você mesmo disse que tinha se desapegado de costumes depois de tanto tempo fora do país!"
A discussão ganhou voz e os dois já nem sabiam mais qual era o contexto de tudo, soltando palavras e assuntos sem conexão com o início daquela conversa como se fossem de extrema importância. Sehun ficou quieto observando, controlando o riso para não chamar atenção, disposto a ver onde aquilo daria, mas em certo momento as vozes foram aumentando, uma tentando se sobressair sobre a outra, e ele teve de intervir.
"Até discordando vocês concordam. Seria um tipo de gato e rato, love-hate interessante de ver acontecer. Vocês deviam se casar."
Como Sehun esperava, dois gritos inicialmente sincronizados foram direcionados a si:
"Eu nunca vou me submeter a um desastre desses!"
"Eu nunca mais cometo esse erro outra vez!”
"Mamãe ia adorar ter a Baekhyun como nora."
"Yah!"
Sehun se encolheu quando recebeu dois pares de olhos raivosos, mas tinha um sorriso divertido no rosto.
"Sobre isso, eu estava pensando em passar o final de semana em Namhae; você devia vir. Você e o Luhan."
"Não acho um bom momento."
"Quando foi a última vez que você foi lá pra passar um tempo?"
"Não sei... Uns dois anos?"
"É isso. A gente vai pra Namhae na sexta-feira. Quem sabe isso não desperta as lembranças dos tempos de bobos apaixonados de vocês?"
Sehun revirou os olhos de forma dramática, dando de ombros, mas a ideia, ele precisava admitir, era boa.
*
Oh Sooji estava aposentada há cinco anos e passava a maior parte do tempo lendo blogs na internet. Foi assim que ela descobriu duas garotas de dezesseis anos grávidas que decidiram não ficar com os bebês. E também leu algumas matérias sobre casais homo afetivos que usaram barriga de aluguel para ter seus filhos. Naquela mesma semana, ela ligou para Sehun chamando-o para passar o domingo em casa, e botou logo as cartas na mesa do almoço.
Sehun sabia que a mãe adorava crianças, lecionou até quando pôde sem reclamar e cuidou dele e do irmão a vida toda. Sooji ainda mantinha os quartos de Kyungsoo e Sehun sempre à espera da visita dos filhos, assim como pretendia que um dia acontecesse o mesmo com os netos nas férias da escola ou feriados. Mas ele não. Quer dizer, não tinha nada contra exatamente as crianças, mas tinha medo da ideia de ser responsável por uma. De ser pai, de cuidar. Não se sentia preparado, apesar dos seus vinte e sete anos, e não se tratava daquela frequente ideia de se sentir incapaz quanto a qualquer novidade que ouse a surgir na vida nem que seja por pensamento, era quase uma certeza latente que não, era melhor não.
Luhan nunca tinha expressado nenhuma vontade de ser pai, também, apesar de ser o único a responder as ideias malucas da sogra ouvindo-a com certo interesse que Sehun sabia não ser disfarce. Já Sehun travava mesmo.
"Esse quarto parece menor a cada vez que eu venho aqui", Kyungsoo comentou, dando uma breve olhada em volta, enquanto se sentava na cama de Sehun.
"Cadê o Lu?"
"Com a mamãe, a ouvindo falar alguma coisa sobre ovular e mães que geram seus netos."
Sehun correu quarto afora resmungando enquanto Kyungsoo segurava o riso, a avó interior da senhora Oh não era com quem ele queria lidar naquele momento.
Luhan estava sentado na mesa enquanto a mulher mexia em algo na dispensa. Sehun pigarreou para denotar sua presença, interrompendo o assunto, quer ele qual fosse, mesmo com a possibilidade de levar um tapa na cabeça pela falta de educação. No entanto a mulher parecia de muito bom humor, talvez pela presença dos filhos juntos em casa para o final de semana. Talvez por Luhan ter atendido ao seu pedido de pesquisar um pouco mais sobre as hipóteses que ela havia lhe dado.
"Sehun-ah, estou fazendo chocolate. Lembra de quando, depois do jantar, eu e sua avó tomávamos café e você e o Soo chocolate quente?", ela perguntou com a voz sorridente.
"E quando o Luhan ficou para o jantar pela primeira vez, ele tomou café com vocês, mesmo depois de você ter oferecido o chocolate..."
"Mas aí certo dia, alguém insistiu pra eu não tomar café e virou um hábito ficar sentado na escadinha tomando chocolate", o sorriso no rosto de Luhan era bem pequeno, a sobrancelha esquerda erguida enquanto fitava Sehun.
Tanto tempo buscando ajuda da cafeína para se manter em pé durante as aulas acabou fazendo Luhan tomar gosto pela bebida, mas, na época, Sehun não conseguia entender como alguém conseguia apreciar o sabor daquilo. E deu até um ultimato, Luhan estava proibido de beijá-lo depois de ter tomado café.
As bochechas de Sehun esquentaram.
"Olha só pra vocês dois, ainda agem como se estivessem no primeiro ano de namoro!", Sooji comentou animada fazendo ambos desviarem seus olhos um do outro. Ela colocou duas canecas de chocolate sobre a mesa e uma na bandeja que tinha separado. "Kyungsoo deve estar revirando as caixas de livros antigos dele. Tive que guardar, porque na estante acumula muito pó."
Quando se retirou da cozinha, ainda pôde ser ouvida reclamando que se Kyungsoo tirasse os livros das caixas para devolver à estante, teria que vir limpar toda semana.
Sehun pegou as duas canecas com chocolate e caminhou para frente da casa, onde se sentou no primeiro degrau da escadinha da varanda de entrada esperando por Luhan. Seu coração estava ansioso, esperando o outro vir a seu encontro e as batidas perderam o ritmo com o ranger da porta.
"Do que ela estava falando?", se forçou a perguntar. Era quase ridículo que estivesse se comportando como um adolescente escravo de sua primeira paixonite perto do próprio marido.
Luhan sentou-se bem do lado. Tinha espaço para que ficassem alguns bons palmos separados, mas as laterais dos corpos se encostavam.
"Sobre uma irmandade de avós que são mães de aluguel dos netos", a voz saiu com ar de riso.
"O quê?"
"Na verdade é só um grupo no Facebook onde essas avós trocam experiências, tiram dúvidas e essas coisas."
Sehun não sabia como lidar com essa informação; apenas bebeu seu chocolate. Ainda preferia chocolate a café, no entanto, depois de certa idade, a cafeína era mais uma necessidade fisiológica do que qualquer outra coisa.
"Eu também não acho uma boa ideia, apesar de não saber como dizer a ela", Luhan comentou. "Quer dizer, é estranho. Pra mim é estranho."
"É exatamente isso: estranho."
Foi estranho, também, deitar tão juntinho um do outro naquela cama estreita. Mas foi bom se lembrar da noite em que Luhan fugiu do quarto de Kyungsoo pela primeira vez para passar a noite com Sehun.
*
Sehun levantou bem cedo. Queria pegar apenas a mãe acordada para uma conversa antes que a avó chegasse. Ele desceu até a cozinha, colocou água para o café no fogo e o arroz para cozinhar. Quando a mulher apareceu, finalmente, acabou surpresa por encontrar o filho, afinal Sehun era sempre o último a acordar.
"A senhora já foi mais matinal", ele resmungou.
"Eu sou aposentada e meus filhos estão criados, vou acordar cedo pra quê?", ela riu.
Era certo que entrar naquele assunto levantaria muitas hipóteses, principalmente pelo fato de Sehun ter desencanado ainda criança quando Kyungsoo explicou do seu jeito o porquê de o pai estar indo embora, mas Sehun decidiu que era o que precisava. E por isso perguntou, de forma clara e direta, qual tinha sido o real motivo da separação de seus pais. Por que ele foi embora tão abruptamente e nunca mais voltou? Por que mandava cartões e presentes, os levava para passear uma vez ou outra, mas ainda sim parecia ter se desprendido totalmente da família?
Sehun queria que tivesse acontecido uma traição, talvez algo com o dinheiro que os tivesse feito perder a confiança um no outro; dinheiro sempre estraga tudo. Queria mesmo ouvir qualquer outra coisa, mesmo absurda, que não fosse o que viria seguido de sua pergunta.
"Seu pai nunca teve outra mulher, sequer casou de novo. Nem eu. A gente também nunca chegou a discutir, a brigar, e por isso você nunca desconfiou de nada. Nossa relação foi muito boa enquanto éramos adolescentes. Ela mudou enquanto estávamos na faculdade, mas estávamos ocupados demais pra nos dar conta. E aí a gente se casou, porque parecia o certo depois de tanto tempo de relacionamento. Então veio o trabalho, depois vocês que até mesmo foram uma luz na monotonia que havia se instalado, mas... Já estava tudo desencaminhado. Seu pai recebeu a proposta de trabalho na Universidade de Hokaido e decidimos a separação."
"Nunca contamos pra vocês por medo de não entenderem ou até se culparem, não queríamos que os nossos problemas interferissem na vida de vocês. Mas ele sempre manteve contato pra saber de vocês, e sempre que vinha do Japão passava direto aqui pra buscá-lo."
"Mas não veio no meu casamento."
"E ele não te ama menos por isso, só que pra ele é mais difícil entender, aceitar."
"Você ainda sente alguma coisa por ele?"
"Carinho. Tivemos uma vida juntos, e vocês. Não foi falta de amor, Sehun. Nós nos amávamos e muito. Só que a gente deixou isso se perder, deixou a vida nos afastar enquanto ela acontecia. Até que chegamos a um ponto muito distante pra sequer tentar encontrar o caminho de volta."
"Eu sinto muito."
"Já passou. Mas... Tem alguma coisa que queira me contar? Talvez sobre você e o Luhan?"
"Nada que eu não possa resolver", Sehun sorriu. "E mãe, sendo sincero, nós ainda não pensamos em ter filhos. Pode deixar que quando conversarmos melhor sobre o assunto, a gente te avisa. Deveria dar umas dicas ao hyung também. Ele é o mais velho e ele que deveria ser pai primeiro."
*
Graças ao novo projeto do livro de Kai, Sehun não teve muito tempo naquela semana. As horas passavam com ele entre páginas, marcações em tinta vermelha e conversas com Jongin. Quando se dava conta, não tinha mais tempo para ir à clínica de Luhan, de preparar ou comprar o jantar ou simplesmente passar algum tempo com o marido antes de ambos irem dormir.
Mandava uma mensagem ou outra no meio do dia, as quais recebia emojis junto das respostas — coisa que era bem engraçada, considerando que Luhan costumava decretar ódio às carinhas amarelas irritantes — e às vezes ligava. Percebera certa mudança desde aquela última conversa que mais parecera um ultimato. Uma mudança em Luhan, em seu olhar e em suas ações, que avisavam Sehun da sintonia de ambos, que não só ele estava disposto a correr atrás.
Sehun estava deitado no sofá que tinha em sua sala, descansando enquanto Jongin tinha saído para comer, quando Baekhyun entrou. Ela perguntou da escritora, e do trabalho. E então disse que tinha alguém esperando por Sehun.
"É o seu marido", ela sorriu parecendo muito satisfeita. "Pode ir, a gente começa mais cedo na segunda."
"Mas a--"
"Vai logo, Sehun!"
Já se passavam das oito horas, quase nove, e Sehun estava de pé apenas com aquele café amargo que a vida o havia ensinado a suportar. Encontrou Luhan na sala de convivência, que era bem como uma sala de estar qualquer, sentado no sofá confortavelmente enquanto folheava um livro tirado da pilha sobre a mesa.
"Oi", ele falou meio sem jeito, as mãos nos bolsos e os olhos incapazes de esconder a ansiedade.
Luhan rapidamente se levantou e deixou o livro de lado, no lugar de onde havia tirado.
"Oi. Desculpa não ter avisado que vinha... Você já pode sair? Podemos ir comer alguma coisa..."
*
Sehun gostava de comida de rua, de se sentar para beber e comer nas barraquinhas espalhadas pelo centro da cidade. Mas era algo que não fazia desde a época da faculdade, quando saía da biblioteca junto de Luhan que vinha buscá-lo. Sempre paravam pelas barracas de comida e, principalmente nos finais de semana, caminhavam pelas calçadas de Hongdae.
Chegaram em casa pouco depois da meia-noite. O passeio fora agradável e Sehun sentiu seu corpo se arrepiar diversas vezes quando Luhan naturalmente se aproximava para repousar uma mão em suas costas guiando o caminho, segurava seu pulso ou até mesmo enlaçava sua cintura com o braço. Seu corpo não sentia tanta saudade de Luhan enquanto eles viviam aquela rotina desgastada, porém a partir do momento em que passaram a agir contra aquela corrente, Sehun sentia cada centímetro de pele reagir.
Luhan ficou de guardar o carro de Sehun, o qual viera dirigindo e Sehun respirou fundo ao se atirar no sofá. Um tanto quanto frustrado.
Em algum momento no meio daquele conflito, ele sentiu raiva de Luhan. Parecia tão mais fácil culpá-lo por não ter impedido que ambos se afastassem do que aceitar que simplesmente aconteceu e os dois tinham sua cota de responsabilidade. Ele xingou Luhan muitas vezes, ainda que sozinho no carro a caminho do trabalho, não conseguindo entender o que estava acontecendo. Sentiu-se rejeitado e acreditou que não existia mais amor naquela relação estacionada no indiferente. Eles deviam estar vivendo o ‘felizes para sempre’ do final dos contos de fadas, quando tudo se resolve e estabiliza, mas, na vida real, a história só continua, ganhando desde novas linhas a novas personagens.
Seu momento frustrado, onde esfregava as mãos com certa fúria contra os cabelos, foi interrompido por Luhan ao entrar em casa.
"Seu cabelo cresceu. Eu odiei quando você deixou curto daquele jeito."
Sehun estava todo descabelado.
O tilintar das chaves ecoou pelo cômodo quieto quando Luhan as deixou de lado no aparador. Ele foi até Sehun, se sentou bem ao lado dele, e terminou a bagunça com uma mão só deslizando pelo cabelo dele. Sehun quase ronronou feito um gatinho carente ao sentir os dedos do marido contra sua cabeça, e não pôde evitar fechar os olhos.
Existem momentos que você, por mais que tente, não consegue alinhar os acontecimentos em sequência. Eles se gravam por sensações, o sentimento de calor no peito pela lembrança de cada cena espalhada como um quebra-cabeça. Esse era um momento assim para Sehun, porque ele se lembrava dos beijos que ocorreram, das mãos quentes contra o seu corpo, do toque suave e macio do encontro de pele. Estava gravado também o som das respirações ofegantes, dos grunhidos e soluços contidos. Mas, ao acordar na cama pela manhã sem roupa alguma no corpo e os lençóis todos no chão, não sabia dizer quando começou e quando terminou.
Sentou-se meio desajeitado, cada canto de seu corpo ainda reagindo, e de repente doeu, doeu mais que em qualquer outro momento. Doeu de saudade, doeu de medo. O receio lhe acometendo tão drasticamente, a insegurança tomando seus anseios. Sehun nunca soube exatamente quando aquela relação começou, podia ser na primeira vez que colocou os olhos em Luhan, no primeiro beijo roubado ou naquele pedido desajeitado de namoro, mas talvez ela estivesse fadada a um fim que ficaria marcado a ferro quente em seu peito.
"Você acor--", Luhan notou logo da porta as lágrimas grossas correndo no rosto de Sehun, ainda que ele estivesse de cabeça baixa, num choro silencioso. A bandeja com o café da manhã foi deixada de lado, antes que ele se sentasse em frente ao marido com o rosto assustado e preocupado. "Sehun..."
"Você... Ainda se casaria comigo se tivesse a chance de voltar no tempo? Se tivesse a chance de fazer tudo diferente, já conhecendo o nosso futuro?", o esforço que ele fazia para que cada palavra dita naquela frase corrida saísse coerente, era descomunal.
"Por que você está perguntando isso?"
Sehun não soube responder, subitamente aquela era sua maior dúvida.
Doeu em Luhan também. Doeu no medo de perder Sehun para sempre. De aquela relação que antes se esticava forçadamente tivesse seu fim definitivo. Ele ouviu a conversa do marido com sua sogra e foi quase desesperador saber que tudo dependia dele. Apenas dele e de Sehun. Porque isso mostrava o quão culpados eram. Ele arrastou-se pela cama até estar perto o bastante para deitar o corpo de Sehun sobre o seu num abraço, ainda sentindo o corpo dele se remexer conforme as lágrimas corriam, o choro tornando-se audível.
Sentia-se culpado por não manter aquela promessa de fazer Sehun feliz para sempre, de cuidar e amá-lo, proteger seu coração, mas não pôde evitar quando tudo começou a ficar para depois, e então para amanhã e posteriormente para algum dia, quem sabe. Luhan queria se ver daqui algum tempo, sentado na varanda daquela casa numa cadeira de balanço lendo um livro, talvez um livro de Sehun dedicado a ele, sabendo que ao entrar pela porta da casa encontraria o marido roncando no sofá enquanto um drama, àquela altura, antigo, rodasse na televisão. Queria ser capaz de estender a família deles como a sogra tanto desejava. Queria, ainda mais que tudo, deitar a cabeça no travesseiro à noite e dormir tranquilo, sem nenhuma inquietação perturbando seu sono.
Fora horrível perceber que a intimidade natural que tinham havia se tornado algo receoso, hesitante das duas partes. E naquele momento Luhan entendeu o que queria e precisava de verdade, mais do que tudo. Precisava de Sehun, de Sehun feliz e era capaz de tudo por isso. Era seu maior desejo e lutaria para que nunca se deixassem cair daquela forma outra vez.
Sehun sabia que o final feliz não existia, mas que poderiam tentar a felicidade um dia por vez. E foi com essa nova promessa que eles seguiram, compartilhando todos os momentos, desde sorrisos a inseguranças das quais nasciam pequenas inscrições, um com outro e até mesmo fazendo terapia juntos. Porque eles ainda tinham um longo caminho pela frente e, eventualmente, alguém acabaria por cair naquele poço outra vez, e só encontraria a saída se o outro continuasse lá em cima, segurando na outra ponta da corda, pronto para puxá-la.
Little darling
I feel that ice is slowly melting
Little darling
It seems like years since it's been clear
Alguns anos mais tarde...
Baekhyun se tornava cada vez mais insuportável conforme a barriga crescia e ainda que estivesse trancado em sua sala, Sehun podia ouvi-la aos berros com os estagiários. Mesmo de licença médica, insistia em passar despretensiosamente pela editora, agora sob-responsabilidade de Sehun.
Sehun colocou fones nos ouvidos, a fim de se concentrar e terminar seu trabalho para tentar ir mais cedo pra casa, e mandou uma mensagem para Kyungsoo pedindo que, por favor, o socorresse de uma grávida histérica. Tinha medo que a bolsa dela estourasse a qualquer momento no meio de um daqueles gritos.
Quando chegou em casa, naquela tarde, encontrou Luhan deitado no sofá com Chaplin embolado aos seus pés e riu. Sehun quem o havia trazido para casa, numa surpresa a Luhan, e no final, o gato parecia mais apegado a si que ao próprio dono, pois por mais que o evitasse, Chaplin estava sempre o seguindo.
Ele se desfez do casaco, da camisa e do cinto para ficar mais à vontade e se juntar àquele ninho de pernas e patas, mas Luhan logo acordou ao sentir o corpo dele se aconchegar sobre o seu. Ainda de olhos fechados, ele se pôs a beijar onde quer que seus lábios alcançassem na pele de Sehun e logo o gato pulou fora com um resmungo.
Os dois riram e depois dormiram ali mesmo, ignorando a dor nas costas e em cada articulação do corpo que sentiriam ao acordar.
4 notes
·
View notes
Text
26 - #48 Fim, meio e começo
Título da fanfic: "Fim, meio e começo"
Sinopse: Ter um relacionamento duradouro não são para todos, e esse foi o caso de Sehun. Seu namorado simplesmente se cansou e quis separar, sendo obrigado a ver o namoro que sempre o fez bem ser desmoronado em apenas um segundo. Mas lá estava seu melhor amigo, Luhan, ajudando-o quando tudo parecia não ter nenhuma solução.
Couple: HunHan
Número do plot: #48 Sehun decide sair com seu melhor amigo Luhan para uma boate depois de ser deixado pelo namorado.
Classificação: +18
Aviso: Álcool, Homossexualidade, Insinuação de sexo, Linguagem Imprópria
Quantidade de palavras:6449
Nota do autor(a): Conheci o projeto através de uma amiga que me avisou sobre a Sehun!Fest e aqui estou. Yey! /peguem todos suas taças de champanhe e vamos brindar no estilo Val Marchiori qqqq Eu espero que a doadora do plot possa ler e que esteja do seu agrado. /quase que não sai, estava igual os atrasados do ENEM pra mandar a tempo *vai rir e chora* Agradeço quem leu e vamos dar muito amor ao projeto! XOXO❤
Ser largado não é fácil.
- Levanta dessa cama, Sehun ah. – a coberta foi jogada pra longe, e eu me encolhi com a temperatura gelada da manhã – Já faz três dias que você não sai do quarto e eu não quero um amigo em decomposição.
- Hyung...
Sentei na cama e abracei sua cintura num piscar de olhos, soltando as lágrimas que haviam parado horas atrás. A dor se tornava cortante por ter que despertar e se lembrar de que a realidade era mais dura do que o esperado, desejando intensamente voltar ao sonho onde tudo estava bem melhor.
Na quarta feira, três dias atrás, meu namorado veio em casa. Seria um dia qualquer se não fosse ele agindo estranho, desviando dos meus beijos e abraços, sendo monossilábico o máximo possível e dizendo algo na hora de ir embora que me deixou totalmente em choque:
- Pra mim já deu, Sehun. Vamos ser apenas amigos. – sorriu amarelo – E eu também conheci alguém... Não acho que seria legal querer algo com ele e continuar com você.
Sabe quando a ficha não cai? Eu fiquei na porta do apartamento, parado sem dizer nada, apenas observando suas costas se afastando e sumindo depois que o elevador saiu do andar. Então eu entrei em casa e fechei a porta – no automático; pronto, foi o começo do meu inferno.
Era mais de um ano de namoro! O que havia acontecido pra terminar assim?! Fui insuficiente? Não tinha lhe dado atenção? Havia feito algo que o chateou ou o deixou bravo?
Eram essas e mais outras questões que rondavam minha cabeça por todos esses dias, me fazendo perder o apetite e faltar às aulas com medo de encontrá-lo. Eram as pequenas lembranças que acabavam lentamente comigo, tudo por causa de uma única pessoa. Eu dei o meu coração e no final acabou indo direto para o lixo.
Dói.
Sangra.
Perturba.
Cheguei a pensar que conhecê-lo talvez fosse um erro que não deveria ter cometido, mas no final eu o amei e continuo amando.
- Sai dessa, Sehun. – recebi palmadinhas nas costas – Não é o fim do mundo e ele vai se arrepender por ter feito isso com você, anota o que estou dizendo.
- Não vai, não. – funguei na camiseta alheia – Ontem ele foi marcado numa foto com um cara e parecia muito feliz. Joonmyeon está bem enquanto eu estou aqui, chorando sozinho por um relacionamento que foi direto para o lixo.
- Então comece a viver sua própria vida. – meu hyung me fez soltá-lo; o rosto quase numa completa carranca – Eu disse que ele não prestava, não disse?
- Hyung... – o abracei mais forte, esfregando os olhos na sua camiseta – Hoje não, por favor.
Luhan, o moralista que está falando comigo, é chinês e meu melhor amigo. O conheci na universidade. Apesar de fazermos cursos diferentes – ele Engenharia de Produção e eu Ciências Contábeis – nos conhecemos através do grupo de dança que fazemos parte, e nos tornamos melhores amigos depois que fomos ao acampamento do grupo e nos aproximamos naturalmente por sermos parecidos.
Apesar de um ano de diferença, ele não me obriga a tratá-lo como alguém mais velho e está sempre emprestando o ombro quando preciso desabafar. Um tanto sincero, é alguém que dará sua opinião sem se importar com o ‘sentimentalismo’. Talvez fosse por essa sua qualidade que a nossa amizade continue tão bem.
- Você tem que sair do quarto, Sehun. – fui obrigado a soltá-lo e ele ajeitou minha franja, repartindo-a no meio entre um longo suspiro – Você sabe como foi difícil conseguir superar o meu ex e foi muito legal da sua parte me ajudar a sair da fossa, então irei te ajudar agora.
- Como? – voltei a me jogar na cama, de costas para si – Eu me doei tanto nesse relacionamento e Junmyeon simplesmente se apaixonou por outra pessoa. Acho que foi um erro ter me apaixonado...
Senti o colchão afundar e uma mão mexendo no meu cabelo.
- O relacionamento ter chegado ao fim não significa que não valeu a pena. – Luhan se deitou ao meu lado, continuando com o carinho – Seres humanos pensam mais em si do que nos outros, e se você entrou nesse relacionamento com todo o seu coração, então uma parte sua está nele. Não existe nada mais bonito do que isso. Doar-se sem receber nada em troca não é para todos.
Sorri pequeno e agradeci por ele tentar me fazer sentir melhor, achando que teríamos um lindo momento entre amigos e passaríamos o dia na cama, mas não foi isso que o aconteceu. Luhan me obrigou a tomar um banho e ameaçou me despir se continuasse fazendo manha.
Passar os três dias enfurnado no meu pequeno apartamento era o mesmo que não existir, afinal tudo o que fiz foi chorar, pegar algo pra comer quando o estômago doía demais e voltar para cama. E pra minha surpresa, Luhan havia ajeitado e deixado a pequena mesa cheia de comida insistindo pra que me alimentasse ao menos um pouco.
Esse foi o ‘dia de recuperação do coração quebrado de Oh Sehun’, como disse Luhan. Eu estava tão chateado que ele até escovou meus dentes e penteou meus cabelos, dizendo que pagaria um sorvete – algo que amo demais – caso decidisse sair do casulo, mais conhecido como minha casa.
- Não sei, Lu. – me joguei no sofá – Não tenho vontade de fazer nada. Se saio de casa, acabo vendo milhares de casais e aí vai bater a bad. Sério, não preciso de nenhuma faísca pra me deixar pior do que já estou.
- Você deveria trabalhar no teatro pra conseguir interpretar tanto drama. – o insensível me puxou pelo braço – Levanta daí, Sehun. Ficar em casa o dia inteiro só irá te fazer mal, vai por mim. Se não ocupa a sua mente com outra coisa, então é na certa que começará a ter trilhões de pensamentos desnecessários.
Acabei sendo convencido e deixando que as minhas decisões ficassem em suas mãos. Troquei de roupa por outra qualquer e fui arrastado pra fora do prédio. O coitado do Luhan tentou me animar de diversas formas, mas sabe aqueles dias em que você só quer ficar preso em casa o dia inteiro? Era eu naquele minuto.
E realmente, sair havia melhorado o meu dia nublado. A sua companhia me fez tão bem que até consegui sorrir, sentindo um pouco de confiança e achando que a superação estava a caminho. Almoçamos um lanche e depois fomos assistir a um filme bem engraçado, e eu esqueci um pouco da dor no coração.
Foi uma tarde maravilhosa em comparação as que tive nos outros três dias. Era como conseguir respirar depois de ficar tanto tempo debaixo da água.
- Vamos, escolha um sabor. – olhávamos os milhares de sabores da minha sorveteria favorita perto de casa. – Esse parece gostoso. É de menta, não é? – ele perguntou.
- Uhum. – eu respondi.
Foi então que relembrei dos momentos em que Joonmyeon e eu comprávamos sorvete e ele me servia o seu sabor favorito: menta. Quando você pensa que não conseguiria se lembrar de mais nada do seu ex-namorado – afinal foram três dias se martirizando sem parar –, o cérebro vai lá e adiciona mais um pouco de tortura.
E Luhan percebeu quando entrei em transe, estalando os dedos na frente dos meus olhos pra me acordar pra realidade. A dura realidade.
Sorri, fingindo que estava tudo bem, e escolhi o bendito sabor. Hoje seria o último dia pra relembrar absolutamente tudo sobre Joonmyeon. Amanhã será um novo dia e eu não iria perder o meu tempo com alguém que não deu valor aos meus sentimentos.
Após pegar o meu copinho de sorvete, sentei na cadeira que ficava de frente para a rua, observando alguns casais que passavam de mãos dadas e pensando se os solteiros passavam raiva – como estou no momento – quando viam essa gente feliz.
- Desfaz essa carranca que o sorvete está delicioso. – Luhan pegou a segunda colherada do meu sorvete – Você parece melhor agora. Talvez seja efeito do sorvete ou minha companhia... – sorriu.
- Obrigado.
Foi tudo o que consegui dizer. Luhan sofreu com a minha companhia ‘morta’ por toda a tarde e é nesses momentos que vejo o quão bom é tê-lo como amigo. Mas ele conseguiu me surpreender e não tinha como eu expressar gratidão suficiente ao saber que ele passaria a noite lá em casa pra que eu não me sentisse sozinho. Eu sou alguém que adora a companhia das pessoas e ficar três dias sem alguém por perto me deixou mal. Claro, foi a minha opção, mas Luhan sabe como me sinto e é por isso mesmo que a minha gratidão por ele só aumenta.
Quando estávamos saindo da sorveteria, demos de cara com o moço que havia sido marcado na mesma foto que o meu ex. Acho que ele nem sabia da minha existência, porque percebeu o meu olhar e deu um pequeno sorriso antes de seguir seu caminho.
Apenas respirei fundo e tentei não ficar afetado. Me esforcei para voltar ao normal e conversar sobre algo banal com Luhan, assim eu pararia de pensar besteiras e focaria na minha melhora.
(...)
Final de semana acabou. Segunda-feira chegou.
Acabou a moleza!
Tomei um banho gelado pra despertar completamente, ficando assustado com o meu reflexo no espelho enquanto secava o cabelo. Minha aparência estava acabada! Tinha ‘bolsas’ enormes abaixo dos olhos e meu lábio estava quase roxo, dando um acabamento de defunto.
Fui pra universidade entre indignação e resignação, preparando o coração pra explicar aos outros que o meu namoro havia acabado e que não gostaria de comentar sobre o assunto.
Para a minha felicidade, todo mundo parecia saber e não me perguntaram absolutamente nada; ainda foram uns amores comigo quando entregaram as matérias que perdi e se prontificaram a explicar o que eu não entendesse.
Mas alegria de gente que está com o coração partido não dura muito, ainda mais quando a vida colabora pra você estudar na mesma universidade que o seu ex. Mesmo que o campus dele não fosse o mesmo que o meu, ainda assim comíamos no mesmo refeitório.
- Abaixa a cabeça, Sehun. – meu amigo passou o braço pelo meu ombro pra que eu não virasse a cabeça – Ele está por perto.
O final de semana foi o suficiente pra Luhan ter conseguido fazer uma lavagem cerebral e colocar na minha cabeça que eu não deveria ficar com vergonha (Joonmyeon quem deveria!). Era de conhecimento público o nosso relacionamento, e mesmo com o tanto de preconceito da nossa sociedade, nós nunca tentamos esconder. E é por isso mesmo que demonstramos muito afeto na medida do possível, tendo muitos amigos de mente aberta que nos diziam que éramos um ótimo casal.
Foi Joonmyeon quem acabou com o relacionamento bonito. Foi somente ele, porque eu continuei no mesmo lugar. Eu mantive os meus sentimentos intactos. Fui o único. Ele quem decidiu virar pra ver outra paisagem em vez de admirar a que já tinha.
Ele decidiu jogar o que era seu para adquirir algo novo.
Joonmyeon não se atreveu a se sentar na mesma mesa que a nossa. Apenas cumprimentou rapidamente os meus amigos e me disse um “oi” baixo antes de se afastar.
- Você está bem? – me perguntaram – Se você quiser, eu vou socar esse filho da puta.
- Uau! Até semana passada você estava dizendo que o Joonmyeon era um homem maravilhoso, Kai.
- Isso é porque ele me ajudou com as minhas dores musculares, Sehun-ah. Agora é diferente; ele fez algo imperdoável com você.
- Não quero que o intimide, muito menos que queira socá-lo. Violência não levará a nada e isso só mostrará que ele está certo em ter terminado comigo.
- Mas Seh-
- Quieto Kai. – Luhan apareceu de mansinho na mesa, assustando a nós dois – Eu sou o único capaz de dar conselhos. Não quero que o Sehun dê ouvidos a você e vá para o mau caminho.
- Ah, qual é! Eu sou quase um ancião de tão sábio.
Acabamos dando risada da sua cara de pau e me senti acolhido entre amigos que me faziam bem – mesmo que Kai tenha sugerido usar de violência. E estava tão confortável entre eles que me peguei pensando se Joonmyeon estaria bem.
Mesmo depois de toda a cachorragem alheia, eu o conhecia. Mesmo se quisesse, eu teria que ser um monstro pra lhe desejar o mal, afinal Joonmyeon é alguém de bom coração e raramente brigávamos. E quando acontecia, ele sempre acabava cedendo com pedidos de desculpas que faziam o meu lado apaixonado esquecer o orgulho e passar uma borracha por cima da besteira.
Foi por pensar nas suas qualidades que cheguei à conclusão de que deveríamos conversar; ciente de que não haveria volta. E para isso eu precisava de mais algum tempo pra superar.
- Acorda Sehun. – Luhan passou o braço pelo meu pescoço, andando assim comigo até a porta da minha sala – Você está muito avoado, sabia? Vai ficar bem se eu te disser que vou te pagar um sorvete?
- De novo? – sorri mostrando os dentes como se estivesse extremamente feliz – Já estou sabendo a sua tática, senhor Luhan. Uma pena que eu sei o que se passa nessa sua cabecinha. Você não vai conseguir me engordar e roubar o meu posto de melhor abs.
- Que pena! Mas a proposta ainda está de pé. – ele foi se afastando e acenando com a mão – Estarei livre na última aula, então me encontre no clube quando as suas acabarem.
Concordei com a cabeça e entrei para a minha sala. Assisti às aulas com um pouco de tédio até dar o horário de ir embora e quase fui um dos primeiros a sair. Andei rápido pelo corredor pra sair do meu campus e ir até o outro, infelizmente o do meu ex, esperando não encontrá-lo no meio do caminho.
Mas era como se a vida estivesse me provocando, e Joonmyeon estava num dos corredores junto com o moço da foto, aquele que encontrei na frente da sorveteria. Estavam de mãos dadas e sorrindo muito, do mesmo jeito que éramos antigamente.
Apressei os passos respirando fundo e passei por eles de cabeça baixa pra não chamar a atenção de ambos, mas descobri que foi inútil quando Joonmyeon chamou o meu nome. E como um bom covarde, eu não lhe dei atenção e me afastei quase correndo pra chegar logo à sala do clube.
- O que aconteceu? – um dos membros perguntou e só então percebi que havia muitas pessoas presentes – Por que está chorando, Sehun-ah?
Segurei a vontade de soltar o berreiro e me agachei, abraçando as pernas e escondendo o rosto nos meus joelhos. Eu era o único sofrendo por um namoro fracassado e me doía estar cada vez mais ciente de que o relacionamento não valera nada.
Os braços de alguém envolveram o meu corpo até que conseguisse me abraçar e eu desabei sem nem ao menos me importar com quem quer que estivesse me olhando. Infelizmente só consegui me acalmar quase quinze minutos depois, tempo no qual fiquei chorando pateticamente. Só então parei pra pensar na merda.
E lá estava Luhan com o seu rosto transparecendo compreensão, ajudando a me reerguer a cada dia com pequenas atitudes que tocavam o meu coração. Eu seria eternamente grato pelas suas atitudes.
(...)
- Tem certeza de que você quer isso? – o mais velho perguntou enquanto arrumava o cabelo na frente do espelho – Não faz nem um mês que está solteiro. Acho que é melhor ficarmos em casa.
- Não estou te obrigando a vir comigo, Luhan. Se não quer me acompanhar, então vou sozinho.
Vesti a camisa jeans, ajeitando o meu cabelo pela última vez antes de ameaçar sair sozinho e perceber o chinês me seguindo. Eu estava cansado de ficar me martirizando. Precisava me divertir um pouco, sair com os amigos e quem sabe encontrar alguém que pudesse me ajudar a esquecer o que senti por aquele ingrato.
Muita gente da nossa idade ficava no meio da rua porque o bairro era conhecido pelas boates e acabamos por encontrar nossos amigos no caminho, mas infelizmente não fomos para a mesma direção e no fim era novamente apenas o chinês e eu.
Entramos na boate por volta das dez da noite. Confesso que mal entrei e bateu o desânimo, mas Luhan me puxou pra dançar ao som da música alta. O lugar estava tão cheio... Todo mundo dançava e gritava e era impossível não ser contagiado e aos poucos fui me entregando ao ritmo alucinado.
- Vou pegar alguma coisa pra beber, você quer? – perguntei, limpando a gota de suor da testa, vendo-o negar com a cabeça – Já volto.
Peguei um mojito e socializei enquanto bebia, mas infelizmente não apareceu ninguém que chamasse a minha atenção. Vi Luhan se divertindo com algumas pessoas, mas ele também não pegou ninguém, e veio ao meu encontro com o rosto um pouco suado e ainda carregando um sorriso enorme.
Deu um gole na minha bebida e limpou os resquícios com a língua, tirando sarro do meu gosto fraco por bebidas.
- Não tire sarro! Fica gostoso na hora do beijo. – me apoiei no balcão e olhei em volta, percebendo um cara bonito nos olhando enquanto dançava – Ei, Luhan. – mexi o queixo na direção do desconhecido – Ele está nos olhando já faz um tempo. Você acha que é pra mim ou pra você?
- Não faz o meu tipo e ele é muito babaca pra você. – Luhan revirou os olhos e voltou a ficar de costas para a pista – Ele é da minha sala e sempre fica se gabando das pessoas que pegou; não é nem um pouco carinhoso. Vai por mim, rostinho bonito e personalidade horrível. Se souber que estuda na mesma universidade, pode apostar que vai espalhar pra todo mundo que ficou com você.
- Ele ainda está nos olhando e tentando sensualizar. – segurei a risada, achando a dança bem esquisita e relembrando de alguém que dançava bem esquisito – Lembra muito o Joonmyeon tentando ser sexy.
- Ei, não vem falar do Joonmyeon agora. – Luhan parou na minha frente, me prendendo entre o balcão e seu corpo – Vamos acabar com as esperanças desse idiota sensualizador? – sorriu travesso – Ele sempre me irritou e quero poder dizer que roubei a sua presa quando tentar dar uma de fodão pra cima de mim.
Se não fosse pela nossa boa amizade, eu teria lhe olhado esquisito e perguntado se não havia batido a cabeça em algum lugar, mas era fácil topar com o que desejava. Tudo porque era ele. Luhan faz tanto por mim e é por isso que não estranho as suas ideias.
A gente deu risada, o vi lamber os lábios e depois assoprar o hálito fresco na minha direção, aproximando o rosto aos poucos até os nossos narizes se tocarem. Mas eu pensei: se vamos provocar alguém então temos que fazer bem feito. Puxei o seu corpo pra mais perto, passando os braços pela sua cintura e sentindo os seus envolver o meu pescoço.
A expressão que Luhan fez quando mordiscou o meu lábio não era a mesma de segundos atrás, e me senti envolvido pela situação, a qual me fez sentir calafrios. Não consegui aguentar a ansiedade e o beijei. Segurei sua nuca enquanto tentávamos nos acostumar com o ritmo, e fiquei tentado a melhorar cada vez mais.
- Sehun...
Fui com o rosto mais pra frente entre diversos beijos estalados e não nego que adorei quando era correspondido na mesma intensidade, sentindo o sabor refrescante e fraco da bebida. Desci a mão da cintura até a sua bunda, apertando-a um pouco e sentindo-o sorrir. O beijo que era pra ser simples acabou se tornando gostoso e quente.
- Acho que isso foi mais do que um beijo. – comentei enquanto respirava um pouco alterado e olhei na direção do cara pra ver se ainda o encontrava nos encarando, mas Luhan voltou a me beijar mais algumas vezes, me distraindo. – Parece que não sou o único na seca.
- Você beija muito bem. – ele limpou o canto da boca entre risadas – Se eu soubesse disso antes, já teria investido em você faz tempo.
- Agora estou solteiro, viu.
Fiz uma piada e recebi um sorriso.
Não posso dizer que estou 100% curado da doença chamada ‘chute na bunda e parta para outro’, afinal só se passou pouco mais de um mês e esse tempo não é suficiente pra superar alguém. Só que não posso afirmar que ainda sinto o mesmo pelo Joonmyeon como quando nos separamos. Meus sentimentos esfriaram e aos poucos fui me acostumando com a ideia de que não havia mais nada entre nós dois.
E tudo isso por receber forças de amigos e familiares, principalmente de Luhan que agora está praticamente morando lá em casa. Ele foi a pessoa que mais me deu apoio em todo esse tempo, me consolando e me dando bronca quando merecia ou queria fazer alguma burrada.
- Pare de olhar pra minha boca e vamos dançar. – o puxei pra pista.
A vontade que tinha de encontrar alguém havia evaporado, pois era muito mais divertido rir e dançar com o meu melhor amigo. Não sei quanto tempo ficamos ali, mas nossos corpos já estavam suados e Luhan insistia em apertar a minha bunda e me beijar algumas vezes, o que sempre acabava em risadas.
Chegou uma hora em que eu não estava mais aguentando ficar em pé. Eu estava cansado o suficiente pra querer voltar pra casa, e apesar de Luhan querer ficar mais um pouco, ele acabou aceitando me acompanhar para fora dali. Já se passava das duas da madruga e a rua continuava movimentada, então resolvemos comer alguma coisa antes de voltarmos para minha casa.
Sentia-me bem leve. Depois de um mês na fossa, finalmente um pouco de diversão!
Mal chegamos em casa e Luhan se jogou na cama todo suado enquanto eu decidi tomar um banho rápido antes de deitar. Assim que saí do banheiro, o encontrei roncando de boca aberta. Coloquei um dos meus pijamas nele para que não dormisse tão sujo e empurrei seu corpo para o lado até que ficasse encostado à parede, o lado que ele gostava de dormir.
Comecei a pensar nos beijos que demos e foi muito bom. Quer dizer, foi delicioso. Talvez um dia ele aceite me beijar mais vezes...
- Obrigado, Luhan. Eu me diverti muito hoje, graças a você.
(...)
Seis meses após o fim do namoro...
Metade de um ano já se passou desde que meu namoro terminou e hoje em dia não tenho os mesmos tormentos que antes. Kai diz que estou conseguindo superá-lo muito bem, mas a verdade é que continuo um pouco chateado, só que agora sei lidar com isso.
Seria mentira dizer que não quis jogar algumas pragas em Joonmyeon, mas sempre parava quando percebia a minha linha de raciocínio maldosa. Luhan passou a morar comigo e as visitas constantes de amigos na minha casa ajudaram bastante a não pensar no assunto mais do que o necessário.
- Sehun-ah! – o chinês gritou da cozinha – Vem cá experimentar o molho. Acho que está esquisito.
- Quem é o chef? – apareci na cozinha, me aproximei do fogão e experimentei o conteúdo da colher esticada na frente do meu rosto – Acho que está bom. Talvez um pouco mais de pimenta.
- Tem que ficar aqui do meu lado, senão como irei aprender sobre a culinária coreana?
- Fala como se eu soubesse cozinhar. – dei risada, puxando uma das cadeiras para observá-lo enquanto ele preparava a comida – Vou ficar aqui fazendo companhia.
Luhan sorriu pela última vez antes de voltar ao que fazia. Leu mais uma vez a instrução na internet enquanto misturava a panela cheia de bolinhos de arroz com a pasta de pimenta, tentando preparar o tteokbokki. Ele decidiu que queria aprender mais sobre a nossa cultura depois que minha mãe veio aqui em casa na semana passada.
Todo dia era um prato diferente, mas isso não queria dizer que saía gostoso. A verdade é que Luhan era meio desastrado; suas mãos cheias de pequenos cortes davam indícios de suas peripécias na cozinha. Aí, como uma alma caridosa, eu sempre faço os curativos em todos os seus cortes.
Estávamos no período de férias e hoje era final de semana, logo eu tinha folga do trabalho de meio período.
- Vamos comer! – ele falou animado enquanto deixava a panela em cima do balcão de mármore e espetava um bolinho com o garfo, me servindo – Abre a boca.
- Hm... – mordi algumas vezes e fiz suspense, fingindo uma careta – Isso está estranho, Luhan.
- Ah, para. Nem deve estar tão ruim assim. – ele comeu o que sobrou do que eu tinha mordido – Viu, ficou bom.
- Estou brincando, ficou muito gostoso.
Recebi um tapinha bem fraco no braço e ele me serviu outro bolinho na boca. Eu sempre gostei de receber atenção das pessoas, quase como um carente, e Luhan vivia me mimando com pequenas coisinhas que deixavam alguém como eu todo feliz.
Só que nos últimos meses ouvi fofocas de que Joonmyeon havia terminado o namoro comigo, porque eu o traía com Luhan, o que não era verdade. E por mais que odiasse fofoca, isso ficou na minha cabeça. Pensei em como esses rumores poderiam ter surgido.
Andar abraçados ou de mãos dadas, dar comida na boca, mexer no cabelo um do outro como forma de carinho e ainda viver na mesma casa... Talvez esses fossem os principais motivos que nos levaram a ser o centro da fofoca.
Agora mesmo parecíamos um casal de namorados. Estávamos na cama assistindo um filme qualquer e a cabeça de Luhan estava apoiada no meu ombro, além dele estar abraçado a mim, praticamente grudado ao meu corpo. Claro que eu não reclamo, mas fico preocupado se ele não fica incomodado com a fofoca e só não age esquisito pra não me machucar...
- 忘掉他吧. 我还有喜欢你 (Wàngdiào tā ba. Wǒ hái yǒu xǐhuān nǐ)
“Esqueça-o. Eu ainda gosto de você.”
O olhei e ele estava dormindo e falando em mandarim. Não entendi tudo o que dizia; apenas a parte de ainda gostar de alguém. Talvez essa fosse a resposta que eu precisava: Luhan gostava de alguém e provavelmente precisava conversar sobre o assunto. Eu queria ter certeza de que não estava atrapalhando a sua vida amorosa, pois ele se tornara importante pra mim, mais do que já era.
Esperei que acordasse pra que assim pudéssemos ter a nossa conversa. Espreguiçou-se sorrindo e de um jeito manhoso, abraçando meu corpo enquanto contava o que havia sonhado.
- Precisamos conversar. – o fiz se sentar, e olhei em seus olhos tentando ficar sério.
- É algo muito sério? – ele perguntou e eu concordei com a cabeça – E sobre o que seria? – quis saber.
Nunca comentei sobre o boato que pairava a respeito de nossa relação e talvez ele se sentisse desconfortável quando lhe contasse. Acabei ficando em silêncio, pensando em formas de abordar o assunto sem parecer ofensivo ou algo do gênero.
- Não sei se você está sabendo dos boatos sobre estarmos muito próximos e... – ele afirmou com a cabeça e fez um sinal com a mão como se dissesse ‘prossiga’ – E eu queria saber se estou afetando a sua vida amorosa.
- Sehun. – ele segurou o meu rosto com ambas as mãos – Você me conhece e sabe que eu digo na sua cara quando não gosto de algo. Se não falei nada é porque não me incomoda, muito pelo contrário. – encostou a testa na minha, sorrindo com os olhos que quase se fecharam por completo – Faz muito tempo que não me sinto feliz como agora. Você me faz sentir que sou querido. Não é xenofóbico, adora esse meu lado que parece sufocante para alguns e, acima de tudo, me aceita como sou.
- Então estamos tudo bem? – perguntei e ele soltou um ‘uhum’ baixinho e deixou um selinho em meus lábios – Você e essa mania de me dar selinhos. Desse jeito não vai conseguir um novo namorado.
- E quem disse que eu quero outro? – as mãos em meu rosto desceram para o meu pescoço, e eu senti o seu polegar fazendo um carinho gostoso em minha mandíbula. Sem desviar os olhos dos meus, ele inclinou um pouco o rosto pra me dar outro selinho – Eu não quero ninguém além de você.
- Luha-
- Shh... Não pense muito... Você faz isso demais, Oh Sehun.
Voltou a me dar vários selinhos até que a mão desceu pelo meu ombro e me puxou pela gola da camiseta, aprofundando o beijo com vontade. A minha mente estava em total branco e fora de sintonia, e eu o correspondi sem muito entusiasmo até o seu corpo se encaixar ao meu e ele se sentar sobre as minhas pernas.
Poderia ser o meu melhor amigo, mas a amizade começava a ir para escanteio. O desejo me dominava aos poucos, e eu abracei o seu corpo, gostando cada vez mais do contato.
Foram tantos beijinhos que não aguentei e desci para o seu pescoço, mordiscando bem de leve a pele branquinha até a orelha, brincando com o lóbulo e aproveitando pra apertar seu corpo na região da cintura, coxas e bunda. Enquanto isso, Luhan bagunçava o meu cabelo, às vezes puxando os fios entre arfares pesados.
Nossos olhares se encontraram quando afastei um pouco o rosto, e eu vi como seus lábios estavam avermelhados, além de sua expressão de felicidade.
- Eu não sei o que dizer. – fui sincero. Ele pretendia sair do meu colo, mas apoiei as mãos em sua cintura, impedindo-o de se levantar – Foi bom, isso não posso negar, mas sinto como se estivesse te usando.
- Se alguém aqui deveria dizer isso, então esse alguém sou eu. Você nem gosta de mim do jeito como eu quero e mesmo assim correspondeu ao meu beijo. – abaixou o olhar e voltou a me encarar – Eu sei que você ainda gosta do Joonmyeon, então saiba que nunca mais irei forçar os meus sentimentos por você.
- Você realmente gosta de mim? – perguntei e ele concordou meio incomodado – Desde quando?
- Desde que você me ajudou a superar o meu ex. – Luhan respondeu.
Era muito tempo!
- E... Você gostaria de tentar algo comigo caso eu dissesse que estaria disposto a...?
Luhan fez uma careta e tentou novamente sair do meu colo, mas não o deixei.
- Não se force, okay? Nós dois sabemos que você ainda gosta dele.
- Um pouco, mas a cada dia esse sentimento vai diminuindo. Você lembra como eu ia mal humorado pra universidade? Hoje em dia é tão tranquilo... Ele não me assombra mais como antes e isso é tudo graças a você. Então não me importo se tentarmos algo.
- Eu não quero forçar os meus sentimentos em você, Sehun-ah. Parece besteira, mas sempre achei que acabaria o ‘encanto’ se eu contasse o que sinto. Eu quero que você goste de mim, porque esse sentimento surgiu de forma espontânea, não por te contar.
- Então vamos continuar somente na amizade?
- Acho melhor assim. – ele sorriu – Me conte caso se apaixonar por mim e eu saberei se você está sendo sincero apenas pelo seu olhar. Porque eu quero aquele olhar apaixonado que você direcionava para o Joonmyeon apenas para mim. Só pra mim.
Acabamos nos abraçando e ficando assim por longos minutos.
Eu realmente quero começar a gostar do Luhan. Ele me faz muito bem e sei que não me arrependerei caso for nutrir sentimentos por uma pessoa maravilhosa como ele.
(...)
Os dias foram passando, mas a verdade é que nada mais foi igual ao que era antes.
Os abraços constantes ficaram escassos, o carinho que recebia era apenas de vez em quando e Luhan voltava tarde em casa por conta do bico que conseguiu num fast food. A casa se tornou solitária e eu sentia saudades da sua companhia e de rir de coisas banais. Só sabia que o chinês morava em casa, porque ele sempre comprava o sorvete que eu amava e o deixava no freezer.
Tudo piorou quando as aulas começaram e acabávamos nos encontrando somente na saída da universidade. Aquela sensação de tristeza voltou aos poucos e todos os meus amigos perceberam e tentaram me animar. Entretanto ninguém era como Luhan.
- Isso daí pra mim tá parecendo alguém apaixonado. – Kai retrucou enquanto bocejava – Depois que você foi largado pelo Joonmyeon, você e o Luhan começaram a fazer praticamente tudo juntos. Soube até que se pegaram em uma boate!
Eu ia retrucar, mas parei no último segundo. Eu estava apaixonado?
Foi então que comecei a rir, assustando todos ao meu redor. A ficha havia caído naquele momento. Eu não pensei em Joonmyeon por um bom tempo, porque minha mente ficou preenchida somente por uma única pessoa: Luhan.
Achei que seria bom contar a ele, porque fizemos quase uma promessa, mas aí me lembrei de algo que tinha prometido a mim mesmo na época em que meu namoro terminou. E eu precisava fazer isso o mais rápido possível pra poder seguir em frente sem nenhuma pendência.
À noite, mandei uma mensagem para Joonmyeon, pedindo pra que nos encontrássemos para conversar. Muito relutante, ele aceitou ir à sorveteria que conhecíamos muito bem, combinando de que nos encontraríamos na esquina da mesma.
- Aqui Sehun.
Aproximei-me e não soube como cumprimentá-lo, optando por largar a timidez de lado e o abraçando como fazíamos antes de namorar. Entramos na sorveteria contando bem superficialmente sobre as nossas vidas e fui fazer o meu pedido quando Luhan apareceu.
A surpresa dele foi tão grande quanto a minha. Eu não sabia que ele estava trabalhando aqui!
Ele viu quem me acompanhava e sorriu amarelo, e na mesma hora eu soube que ele havia ficado chateado. Eu queria me explicar, mas ele correu atender outra pessoa antes de me dar a chance de esclarecer o mal entendido. Acabei deixando pra lá, porque mais tarde lhe explicaria tudo e agora só queria me livrar dos ‘incômodos passados’.
Joonmyeon e eu sentamos numa mesa afastada, um de frente para o outro. Ele com o sorvete sabor menta e eu com outro qualquer. Menta é bom, mas chega uma hora que enjoa.
- Eu ouvi dizer que você e o Luhan estão namorando. Ele não ficará chateado por me ver com você?
- Eu e ele não namoramos. E hoje será o último dia em que nos encontraremos a sós. – dei uma bocada no sorvete de casquinha, sorrindo – Hoje é o dia do adeus, Joonmyeon. Hoje é o dia em que quero colocar o ponto final em tudo o que senti e guardei de você. – sua expressão mostrava algum sentimento que não sei explicar por palavras, mas era algo bom – Você foi um ótimo amigo e namorado, mas então terminamos daquele jeito abrupto e eu me ressenti por longos meses. Fiz algumas besteiras pra provar que tinha te superado quando nem estava tão bem assim, mas meus amigos sempre estiveram ao meu lado. E mesmo que eu tenha sofrido na época, hoje em dia entendo que foi o melhor a ser feito. E eu soube através dos seus amigos que você não me traiu, pois só começou a se envolver com o seu atual namorado depois que terminamos o nosso namoro, e isso só prova o respeito que teve por mim. – estava começando a ficar emotivo e ele pegou na minha mão, acompanhado de um sorriso – E agora só quero saber de uma única coisa: você é feliz com ele?
- Muito. – Joonmyeon sorriu – Eu fui feliz com você Sehun, e agradeço pelos bons momentos que tivemos juntos. Eu me arrependi tanto pela forma como terminamos, mas não conseguia olhar na sua cara, porque carregava a culpa por te fazer sofrer. – as primeiras lágrimas saiam dos seus olhos – Você sofreu porque deixei de amá-lo e nada disso teria acontecido se meus sentimentos tivessem permanecido os mesmos.
- Passado. – limpei a lágrima grossa que rolou pela minha bochecha – Agora está tudo bem. – olhei na direção do balcão, vendo que Luhan atendia uma pessoa – Apesar de todo o sofrimento, hoje posso dizer que gosto de outra pessoa.
- É mesmo? Fico feliz por você e espero que essa pessoa possa te fazer muito feliz. Você merece.
- Ele já me faz... Eu que fui muito cego por não perceber antes. Eu espero que você também seja feliz Joonmyeon, de coração.
Ficamos conversando mais um pouco até ele receber uma ligação e dizer que teria que ir, despedindo-se com um forte abraço. A conversa havia sido mais fácil do que eu imaginava. Fingi que estava indo embora, mas fiquei sentado na calçada, esperando pelo funcionário da sorveteria na tentativa de surpreendê-lo quando seu expediente acabasse.
Consegui lhe dar um susto com um abraço por trás, ouvindo um grito alto que fez todos que estavam num ponto de ônibus ao lado nos olhar.
- Não me dê um susto desses, menino! – Luhan brigava comigo enquanto continuávamos andando abraçados – Você e Joonmyeon conversaram sobre o que?
- Sobre o fim, meio e começo.
- Fim, meio e começo? Não seria ‘começo, meio e fim’?
- Não. O fim de uma etapa, o desenvolvimento do meu amor por você e agora, o começo de um novo relacionamento. – o soltei, fiquei sob a luz do poste, e olhei em seus olhos para que ele soubesse o quão apaixonado eu estava naquele momento – Eu descobri que te amo Luhan. E eu não estou falando isso porque sei dos seus sentimentos. Estou te contando porque é o que sinto. Porque eu amo a sua companhia e quero as suas risadas que me contagiam e animam o meu dia, os seus abraços cálidos e poder andar de mãos dadas sem que sejamos somente amigos.
- Isso quer dizer que...
Concordei com a cabeça, pegando em suas mãos.
- Namora comigo, Luhan. Olhe bem fundo nos meus olhos e perceba o quão apaixonado eu sou por você.
Luhan segurou o meu rosto, concordando rapidamente com a cabeça e me encheu de beijos. Ele estava tão feliz que o sentimento passou pra mim e acabei rindo durante o beijo.
Eu não sei quanto tempo durará o meu novo namoro. Pode ser um mês como também a vida toda. Contudo eu não quero mais ter medo. Quero ser corajoso e aproveitar a vida ao lado de alguém que me faz tão bem como Luhan. Viver somente o agora.
“Uma pessoa pode conhecer o mundo todo sem andar a correr de um lado para o outro; uma pessoa pode ver o caminho do céu sem olhar pela janela. Quanto mais se avança, menos se sabe.”
LAO TZU
5 notes
·
View notes
Text
25 - #8 Stranger kiss
Título da fanfic: Stranger Kiss
Sinopse: Baekhyun tinha metido Sehun numa roubada. Teria que beijar um completo estranho para a gravação de um vídeo. Mas talvez, ele acabasse gostando até demais da experiência.
Couple: SeKai
Número do plot: #8 Em um experimento social no qual Sehun é convidado (praticamente arrastado e forçado) por seu melhor amigo, Baekhyun, a participar e beijar um estranho pela primeira vez.
Classificação: 16+
Aviso: Nenhum.
Quantidade de palavras: 3178
Nota do autor(a): Perdão por essa tentativa falha de comédia, galera. Mas espero que gostem!
– Porra Baekhyun! Eu já disse umas sete vezes que eu não quero fazer isso!
– Hunnie~ – Sibilou. – É só uma vez, poxa! Vai ser bem rapidinho, não custa nada, vai!
Sehun já estava ficando puto da vida com a situação em que se encontrava. Seu melhor amigo – ou inimigo, depende do ponto vista –, Byun Baekhyun, cursa Cinema na faculdade, e isso não seria um problema já que o mais velho realmente gosta do que faz. Porém, entretanto e todavia, três dias atrás, ele chegou para Sehun com a cara mais cínica do mundo e disse nestas exatas palavras:
– Hun-ah, tenho que fazer um experimento social em vídeo por causa de um trabalho da faculdade… – Hesitou, comprimindo os lábios. – E bom… Nesse trabalho, um grupo de pessoas desconhecidas terá que se beijar, aí eu coloquei você na lista dessas pessoas, beleza?
– Ah, de bo-
E quando Sehun finalmente percebeu o que o mais velho tinha dito, xingou e deu uns tapas bem dados no pobre Baekhyun. O coitado ficara tão traumatizado, que resolveu fugir do mais novo por três dias para se prevenir de um possível assassinato. Quando finalmente se encontraram na casa de Sehun e o Byun já estava crente de que o mesmo tinha se conformado com a situação, foi bombardeado por mais uma sessão de xingamentos e tapas.
– Meu senhor! O que você estava pensando quando me colocou nessa lista, criatura de Deus?! – Sehun dizia enquanto segurava os ombros do menor, o chacoalhando.
– Você devia me agradecer! Seu “bv” já devia estar voltando! – Claramente o garoto de cabelos castanhos não tinha medo algum de desafiar a morte.
– Caralho Baekhyun, eu ‘tô me segurando demais ‘pra não te empurrar da varanda, seu ridículo! – Sehun largou os ombros do mais velho e se jogou dramaticamente em sua cama, enterrando a cara no travesseiro. – Não se passou em nenhum momento nessa tua mente que eu não queria participar, inferno?! Ou pelo menos que você deveria me avisar antes de fazer essa palhaçada?!
– E se eu te avisasse, tu ia aceitar? – Baekhyun perguntou enquanto segurava o riso, se sentando perto do mais novo em sua cama.
– É claro que não! – Sehun tirou a face do travesseiro de um jeito tão rápido que Baekhyun até se assustou. – Mas eu ia recusar educadamente, poxa!
O mais velho não aguentou e soltou uma bela de uma risada, fazendo Sehun lançar um olhar fulminante para si.
– Ao menos existe algum significado ‘pra essa ideia, Baekhyun?
– Nenhum... Só quero a minha nota A+ nesse segundo semestre! – O rapaz piscou os olhos de forma quase inocente e deu o seu melhor sorriso na tentativa de convencer o garoto mais alto.
Na mente do Oh só se passavam duas coisas: Queria muito esganar Baekhyun, ah, como queria! Mas também queria que ele tivesse uma boa nota, pois não desejava ver o amigo se ferrar todo em uma possível recuperação, visto que o baixinho era bem esforçado nas coisas que fazia.
– Pode me explicar direito como vai funcionar esse vídeo? – Sehun deu um suspiro derrotado. Preferiu se entregar logo, era melhor e mais fácil.
– Sehunnie~ – Baekhyun praticamente pulou em cima do mais novo, que levou um baita susto e quase caiu da cama com o menor junto de si; uma belíssima cena. – Sabia que você não ia me decepcionar!
– Eca! – Sehun falou irritado enquanto Baekhyun distribuía beijos em seu rosto. Tratou logo de empurrá-lo para longe, fazendo-o rir. – Agora me explique tudo antes que eu mude de ideia!
– Certo, certo. – Byun se ajeitou e se sentou novamente na cama. – Eu convidei um total de seis pessoas, contando com você. Três homens e três mulheres, ‘pra ser mais específico. Fiz umas pesquisas básicas ‘pra ver se essas pessoas tinham algum tipo de conexão e quando percebi que não, logo resolvi que seriam elas. É simples, Sehun. Você só vai precisar beijar alguém desconhecido na frente de uma câmera, pronto!
O mais novo se perguntava de onde Baekhyun tirava essas coisas, sinceramente.
– Quando acabar, eu posso ir embora? – Viu Byun assentir e o olhou desconfiado. – Se você estiver mentindo…
– Calma aí! Eu juro que não ‘tô! – Baekhyun ergueu as mãos em rendimento. – Não precisa nem mesmo ver os beijos das outras pessoas, só ficar lá esperando enquanto eu e a KyungHee, que é a minha ajudante no trabalho, gravamos.
– Ih, ‘cê já incluiu a KyungHee nisso aí?! Não ‘tô gostando! Não ia ser só você?
Veja bem, não era que Sehun não gostasse de KyungHee. Ele até conversara com a garota algumas vezes e a considerava bem legal até. Ela tinha uns lábios bem bonitos, não dava para negar. Entretanto, já estava com certo receio de beijar um estranho... Imagine beijar um estranho na frente de Baekhyun? E para piorar, na frente de KyungHee também. Seria um verdadeiro desastre, já podia sentir!
– Mas ela é a minha parceira no trabalho, eu não posso fazer nada! Vamos lá, Hunnie! Prometo que vai ser rapidinho. Você vai lá, tasca um beijo em alguém e pronto, pode ir embora, livre para seguir a vida. O que acha?
Baekhyun estava se esforçando tanto para convencê-lo. Por que não chamar alguém da faculdade? Tanta gente interessada em tirar as teias de aranha da boca e logo Sehun, que só queria saber de maratonar Naruto, é convidado! Tinha que rever suas amizades, sinceramente.
– Urgh, ‘tá bom, cara. Eu faço isso! – Antes que Baekhyun pudesse pular em cima de si novamente, resolveu interromper. – Só me diz logo quando vai ser essa gravação, ‘pra eu poder me preparar.
Nesse momento, Byun ficou totalmente em silêncio e de cara pálida. Até Sehun se preocupara. O garoto ficara em silêncio do nada... Aí tinha coisa.
– Então… É amanhã… – Sussurrou tão baixo que Sehun pensou que estava ouvindo coisas.
– Como é? Tu falou muito baixo, bicho... Achei até que tu tinha dito que seria amanhã! – Sehun riu, mas só até perceber que o mais velho não ria junto. – Eu te dou cinco segundos ‘pra correr antes que eu realmente te empurre da varanda!
E nem preciso falar que Baekhyun levou a terceira sessão de xingamentos e tapas na semana, não é mesmo?
{...}
Sehun estava tão nervoso com aquele treco, que tivera uma bela de uma dor no estômago pela manhã. Foram horas preso no banheiro, coitado.
Tudo parecia estar dando errado naquele fatídico dia: Seu chuveiro elétrico estava na versão polo norte e de lá não quis sair. Seu cabelo não queria ficar arrumado de jeito nenhum e as olheiras estavam tão evidentes que parecia que havia ficado quatro noites sem tirar um cochilo. E o pior de tudo, se esquecera de comprar pão no dia anterior e sua refeição foi resumida em bolachas.
Recebeu uma mensagem daquele projeto de Satanás – lê-se Baekhyun – dizendo o endereço para onde ele deveria ir às exatas duas da tarde. Nada muito complicado; tudo seria feito no apartamento de Byun, o qual tem um mini estúdio ‘pra essas coisas.
Não era muito longe de sua própria casa, então resolveu tentar dar um cochilo; nada de muito demorado para não se atrasar.
Caiu no famoso conto, já que seu “cochilo” durou um total de duas horas, fazendo-o acordar perto da uma da tarde. Foi um desespero tão grande quando viu as horas no celular, que só deu tempo dele entrar correndo para tomar banho – outra vez, já que queria ao menos ficar cheirosinho – e escovar os dentes.
Quando acabou, abriu o armário e pegou seu amado moletom de One Piece – se Deus quiser, o desconhecido iria ser um daqueles anti-otakus e sairia correndo, amém – e uma calça jeans meio rasgada. O desespero estava tanto que quase saiu descalço e com a toalha molhada do banho em cima da cama. Pegou um tênis branco que já estava ficando meio amarelado e o colocou. E claro, estendeu a toalha no varal de casa; responsabilidade acima de tudo.
Já decentemente vestido, saiu de casa na correria também, porque viu que Baekhyun estava ligando para si. Estava ferrado. Mas quem mandou o colocarem naquela patifaria?!
Não demorou muito para estar em frente ao prédio do melhor amigo. Entrou logo na construção, cumprimentou o porteiro que era um carinha legal e pediu que o mesmo avisasse para Baekhyun que ele estava subindo. Quando entrou no elevador, estava sozinho, e aproveitou esse fato para ficar arrumando os seus cabelos loiros – que ainda estavam meio revoltados – enquanto tentava não se desesperar pensando que, em alguns minutos, estaria com seus lábios colados com um estranho. A tentativa de esquecer foi tão grande, que Sehun quase não percebeu que a porta do elevador tinha se aberto.
Um homem de cabelos castanhos entrou e olhou rapidamente para Sehun todo concentrado no seu próprio cabelo bagunçado. Não é nem necessário comentar sobre a vermelhidão no rosto do Oh, afinal, fora pego no flagra.
Começou a encarar o homem, enquanto o mesmo pegava o celular do bolso.
Ele é bonito, pensou Sehun. Tinha olhos bem escuros e pequenos, uma pele maravilhosa, lábios cheios e um maxilar marcado. É, ele é muito bonito!, pensou outra vez. Também percebeu que o outro era um pouquinho mais baixo do que si. Infelizmente, para seu azar, o garoto notou as suas encaradas nada discretas. Sehun desviou o olhar para o teto do recinto metálico, enquanto ouvia o moreno ao seu lado rir baixinho. Ótimo, mais um mico ‘pra lista!
A porta do elevador se abriu no sétimo andar do prédio, e coincidentemente, ambos os garotos saíram naquela hora.
– Pode ir primeiro… – Murmurou o Oh, recebendo um aceno com a cabeça em confirmação por parte do desconhecido, que logo passou em sua frente.
Sehun dera um suspiro de alívio; ficara realmente nervoso com a presença daquele homem. O dia claramente não estava sendo fácil. Afastando esses pensamentos, saiu do elevador antes que a porta do mesmo se fechasse consigo ali dentro e andou um pouco até a última porta do corredor, que era onde Baekhyun morava.
Mas… Espera aí! Por que o cara do elevador estava indo para lá também?
Sehun pensara que ele iria para a direção oposta, mas como sempre, caiu no conto. O homem até mesmo bateu na porta, e a menos que Sehun estivesse louco da cabeça, aquela era a porta de Baekhyun com toda a certeza!
Não pode ser, não pode ser, não pode ser, não pode ser!, pensou Sehun, engolindo em seco quando a porta se abriu, revelando uma KyungHee com uma cara de puro tédio, mas que logo mudou para uma feição preocupada ao encarar o desconhecido do elevador – esse era o mais novo apelido dado por Sehun para aquele homem –.
– Ah, olá, Jongin! – Murmurou com uma voz meio cabisbaixa. – Você chegou bem na hora, mas acho que o seu parceiro não vai-
E então, a garota olhou mais a frente e, finalmente, percebeu a presença de Sehun, o que fez o clima ali mudar completamente.
– Sehun!!! – Gritou e saiu correndo em disparada para ir atrás do pobre Oh, que mal teve tempo de se proteger do soco que levou nos ombros.
– Ai, KyungHee!!
– Era ‘pra doer mesmo, seu idiota! – Falou brava enquanto Sehun massageava seu próprio ombro. – Por onde andou?! Baekhyun ‘tava quase tendo um ataque de tão nervoso que ficou por achar que você não viria. Por que você não avisou que ia se atrasar, hein?! – Quando o Oh ia tentar dar uma desculpa, fora interrompido pela garota. – Mas isso não vem ao caso... O que importa é que você chegou e… – Deu um sorriso malicioso.
– E o que, criatura?! – Já estava ficando desesperado, visto que a garota praticamente o arrastava para entrar no apartamento e também, tinha o tal do Jongin ali.
– Jongin também chegou!
Sehun levou uns cinco segundos para processar, mas assim que viu o cara desconhecido do elevador – ou seja, Jongin – dar um sorriso de lado para si e acenar com as mãos, percebeu no que tinha se metido.
Puta merda, eu vou beijar esse cara!!!, engoliu em seco e tentou sorrir para mostrar que estava bem, mas só saiu uma careta meio estranha.
– Prepara essa boquinha, Oh Sehun! – Disse KyungHee, com a maior cara de satisfação enquanto segurava Sehun e Jongin pelos braços e os levava para o mini estúdio de Baekhyun.
Chegando lá, viram Byun dando uma olhada em suas duas câmeras – duas das muitas que ele tinha guardada, vale frisar –. Assim que viu a garota com os olhos brilhando e segurando certos atrasados, abriu um sorriso quase diabólico.
– Achou que ia escapar chegando mais tarde, Sehun?
– Claro que não! Se eu quisesse escapar, eu ficava em casa e nem aparecia!
– Então avisa da próxima vez que você for se atrasar assim, inferno!!! – Baekhyun abriu uma carranca, mas ela era falsa, já que o que mais queria era soltar uma risada bem alta ao ver a careta brava do mais novo. – Jongin, chegou na hora certinha, obrigado por ter vindo.
Quê?!, pensou Sehun, sentindo-se totalmente injustiçado.
– Mas ele se atrasou também! – Ponto para Sehun.
– Diferente de você, ele avisou. – Dez mil pontos para Baekhyun. Fatality!
Nesse momento, todos no estúdio riam, até Jongin!
Sehun cruzara os braços com tamanha injustiça! Claramente estava sendo o zoado do dia, e não podia ser realidade tantos tombos para um dia só!
– Mas vamos parar de faladeira e vamos ao que interessa. – KyungHee disse assim que largou os dois garotos. – Vocês dois, vão ‘pra lá, por favor.
Apontou para o canto direito do estúdio, onde tinha uma parede de cor cinza. Ambos foram, claramente sem jeito, e ficaram lá parados, encarando qualquer lugar que não fosse o rosto um do outro.
– Vamos lá, quero terminar isso em uma só tomada! – Disse Baekhyun, sorrindo, enquanto posicionava a câmera. – Vou começar… Agora!
E com esse aviso, ambos os rapazes começaram a se olhar decentemente. Sehun estava muito nervoso. Para piorar a situação, sentiu o seu rosto inteiro queimar quando notou que o moreno o olhava de cima a baixo, com um sorrisinho de canto. E que sorriso!
– Ah… O-oi? – Sehun tentou dizer, mas acabou gaguejando, fazendo Jongin rir baixo.
– Oi, Sehun. – Jongin mordeu os lábios. Se a pressão do Oh não tinha subido de vez, agora seria a hora.
– E-eu… Ai, merda, eu não sei o que eu faço… – Sehun cobriu o rosto com as mãos, fazendo KyungHee, que estava do outro lado da sala, pôr as mãos na testa em preocupação. Esse beijo saíria ou não, meu Deus?!
Jongin, percebendo o nervosismo do outro, resolveu tomar a frente da situação, por mais que por dentro ele estivesse tão nervoso quanto o maior.
– Ei, não cubra seu rosto, ele é muito bonito e eu estava gostando de olhá-lo, sabia?
O coração de Sehun deu até um solavanco, mas isso são apenas detalhes!
Ele tirou as mãos do rosto bem devagar e respirou fundo. Não podia negar que ficara “levemente” atraído pelo homem desconhecido que já não era mais tão desconhecido assim, então o que custava deixar a vergonha de lado?
– Olha aí, não foi tão difícil, foi? – Falou o moreno, sorrindo quando o outro balançou a cabeça em negação. – Você ‘tá um pouco distante, deixa eu te trazer para mais perto, hm?
Vendo que Sehun aceitou seu pedido com um baixo “sim”, passou os seus braços, que eram cobertos por uma camisa branca de mangas, ao redor da cintura do mais alto e o puxou para si, fazendo seus rostos quase se chocarem.
Com o rosto de Jongin tão perto do seu, Sehun entrara numa espécie de transe. Os olhos escuros do moreno eram como uma realidade paralela e ele simplesmente não sabia nem o que estava fazendo mais.
– Você gosta de me olhar, né? Percebi isso minutos atrás, no elevador. – Jongin riu ao ver o rapaz de cabelos loiros arregalar os olhos. – Não precisa ficar desesperado, gatinho assustado. Eu gosto disso.
Gatinho assustado?! Aí não!
– Gosta de ser observado, Jongin? – Sehun já não tinha mais resquícios de timidez, fato que o moreno pôde confirmar quando viu aquela olhada do loiro para a sua boca.
– Talvez… – Jongin trouxe o maior para mais perto ainda de si, apertando um pouco os braços ao redor do garoto. – Mas sabe do que eu gosto mais ainda? – Direcionou seu olhar para a boca bastante rosada de Sehun e torceu para que ele entendesse o recado.
E bom, ele entendeu. Segurou o rosto do menor com as duas mãos e deu um selar inocente no canto dos lábios do mesmo, para provocá-lo. Jongin resmungou um baixo “não provoca” e como não tinha nada a perder, Sehun foi bonzinho e resolveu ser direto. Com os lábios entreabertos, atacou de vez os semelhantes do moreno, que não tardou a pedir passagem com sua língua, a qual logo lhe fora concedida. Como Sehun estava já há um bom tempo sem beijar, se deixou ser guiado por Jongin, que por sinal, sabia muito bem o que estava fazendo.
O que era para ser um beijo lento e sensual se tornou um beijo desesperado, onde ambos queriam e precisavam de mais. Sehun, com suas mãos, começou a puxar levemente os cabelos acastanhados de Jongin, que arfou entre o ósculo.
Como infelizmente ninguém ali tinha pulmões com ar inacabável, tiveram que se separar, mas não sem deixarem as famosas mordidinhas nos lábios um do outro.
Segundos depois, se encararam ainda ofegantes e começaram a rir por se lembrarem da situação em que estavam. Olharam para Baekhyun e KyungHee, ambos boquiabertos, e riram outra vez.
– Ora, ora, Oh Sehun! ‘Pra quem não queria vir, se empolgou demais, hein? – Disse Baekhyun, ainda meio surpreso, mas dando aquele mesmo sorriso digno de um demônio.
– Muito engraçado você! ‘Tô morrendo de rir. – Sehun revirou os olhos. – E já que acabamos por aqui, vou embora.
– Como é?! – Todos no recinto perguntaram, fazendo o loiro prender o riso.
– ‘Tô indo embora, ué. – Jongin pareceu meio bolado com sua afirmação, então Sehun logo desistiu da pose indiferente. – Pega meu número com o Baekhyun, ‘tá bom? ‘Pra caso, você sabe... Quiser repetir... É só me mandar mensagem – Tirou a ousadia do fundo de sua alma e soltou essa, mas logo depois, saiu correndo enquanto gritava “adeus” para todo mundo, principalmente para KyungHee, que parecia ainda estar pensando na cena de minutos atrás.
Boa sorte para Jongin e Baekhyun que teriam que tirar a garota dos seus próprios pensamentos... O que não seria nada fácil!
{...}
– Adivinha quem tirou um A+ no trabalho?! – Cantarolou um Baekhyun extremamente animado.
– Baekkie, meus parabéns! – Disse Sehun do outro lado da linha, realmente feliz pelo amigo. – Você merece idiota!
– Me elogia ‘pra depois me xingar! Eu não mereço isso!
– Nem vem com seus dramas, peste! – Riram. – Ei, Baekkie?
– Hum?
– Adivinha quem marcou um encontro com Kim Jongin amanhã?
– O QUÊ?! – Baekhyun praticamente berrou.
– Tenho que desligar~
– Sehun, pera, me explica direi-
E desligou. A vingança por tê-lo colocado em uma lista sem seu consentimento seria ficar sem saber de detalhe nenhum do tal encontro.
Sehun estava ansioso para o dia seguinte chegar... Para talvez e apenas talvez repetir os beijos que dera em Jongin no dia da gravação do vídeo. Mas era só um talvez!
2 notes
·
View notes
Text
24 - #66 Eu odeio não odiar você
Título da Fanfic: Eu odeio não odiar você
Sinopse: Pelos corredores da faculdade eles juravam se odiar, mas quando estavam sozinhos esse sentimento podia mudar.
Couple: Hunhan
Número do plot: #66 Sehun e Luhan se odeiam. Mas depois que Sehun consulta uma vidente e ela diz que Luhan é sua alma gêmea, fatos estranhos começam a acontecer e tudo indica que o destino quer que os dois fiquem juntos.
Classificação: +18
Aviso: insinuação de sexo, yaoi
Quantidade de palavras: 3175
A faculdade costumava ser o lugar favorito de Sehun. Ele não tinha uma boa relação com o padrasto, então estudar desesperadamente desde os quatorze anos sempre fora seu maior refúgio. Mais tarde, quando fora aprovado em sete faculdades dentre as dez que se candidatou, de imediato optou pela melhor do país e uma das melhores do mundo – a Universidade Nacional de Seul – gabando-se sempre de ser um dos eleitos a duas da Sky (acrônimo usado para se referir as três universidades mais prestigiadas da Coreia do Sul).
Ele estava no quarto período de Medicina, o qual seguia pelo quarto semestre consecutivo como o melhor aluno do curso. Era o número um. Aliás, um era seu número. Sentava-se sempre na primeira carteira da primeira fileira das salas de aula, dos laboratórios, do auditório também; era o primeiro a levantar a mão o mais alto possível para responder qualquer pergunta feita, assim como sempre era o primeiro a ser ignorado por qualquer professor... e pelos colegas, claro. Especialmente depois do aluno novo...
Luhan era o nome dele – o mais novo queridinho de todo o campus – o cara pequeno do intercâmbio. Nos primeiros dias de aula, por coincidência ou não, ele se sentara ao lado de Sehun, parecendo a todo instante o desafiar com as duas mãos chacoalhando no alto, disputando uma resposta a cada pergunta formulada pelos professores. A princípio fora uma disputa divertida: pela primeira vez tinha alguém naquela faculdade que estava ao nível de Sehun. Mas com o tempo a graça fora desaparecendo, especialmente quando ele perdeu o título de melhor aluno para o baixinho da China. Aí sim a coisa ficou séria.
Eles se odiavam. Não existia eufemismo para o que sentiam. Eles não se gostavam, eles se odiavam mesmo, com todas as letras. É claro que Luhan não tinha simplesmente decidido isso; as trombadas que recebia diariamente pelos corredores da faculdade o tinha ajudado a chegar a tal resultado. Eventualmente, ele sabia que ser amigo dos amigos de seu inimigo não havia contribuído para uma melhor relação, mas ele não se importava muito sobre isso. Ele era chinês num país como a Coreia do Sul, qualquer oferta de amizade era válida.
O problema maior, em questão, era o fato de que Sehun tinha um grupo seleto de amigos. Junmyeon, o carinha estranho, mas incrivelmente inteligente que cursava Matemática. Jongdae, o músico jovem, mas com alma de velho. Por último e não menos importante, Jongin, de Letras; este talvez fosse o mais esquisitão de todos com suas sandálias de couro, a pochete exagerada e as roupas coloridas, além de seu humor sempre oscilante, variando entre o alegre e a terrível vontade de se matar.
- Pela milésima vez, Junmyeon, eu não quero assistir Uma Mente Brilhante! – Jongin resmungou impaciente. – Eu já perdi as contas das tantas tardes que eu aturei você e esse filme chato!
- Chato é você querendo assistir Casablanca! Quem assiste Casablanca nos tempos de hoje se não for pela faculdade?
- Eu adoro – Jongdae admitiu com um sorriso maroto nos lábios.
- Você não decide nada, Jongdae! Quietinho aí!
O estudante de Música revirou os olhos; já estava cansado daquela discussão. Eles nunca foram exatamente um grupo pacífico de amigos, estavam sempre discutindo por algo, mas ultimamente as desavenças haviam aumentado consideravelmente.
- Desculpa por ter dado a ideia de assistir os filmes da sexta num sábado – Luhan falou um pouco preocupado. – Não precisam discutir, que tal fazermos qualquer outra coisa?
Sehun revirou os olhos e soltou um riso anasalado de puro deboche, ainda tentando ignorar a presença do pivô daquela discussão, sem muito sucesso.
- Algum problema? – Luhan rebateu irritado, com os olhos que não paravam de revirar.
- Já vai começar... – Jongdae suspirou e se jogou no chão, porque bem, eles estavam ali pra fazerem qualquer coisa para aliviarem a tensão após uma semana exaustiva de provas, mas tudo o que faziam era discordarem de coisas banais.
- Sinceramente, problema tem sim – Sehun falou encarando Luhan com olhos desafiadores. – Eu quero saber o que você faz num encontro de amigos, quando você não é nosso amigo...
- Na verdade... – Jongdae interveio, mas fora imediatamente cortado.
- Não somos amigos! – Sehun repetiu duramente, dessa vez fuzilando Jongdae com os olhos. – E ainda por cima fazendo a gente assistir filmes da sexta num sábado. Você acabou de chegar e acha que pode quebrar uma das nossas regras assim do nada?
- Puta que pariu, como você é chato! – Luhan exclamou levantando-se do chão e saindo do quarto.
- Espera aí! Você está indo aonde?
- Para qualquer lugar onde você não esteja – rebateu entediado e Sehun, obviamente, sentiu-se ofendido com a resposta. Imediatamente seguiu o outro, porque ele não deixaria o garoto andando pela sua casa sozinho.
- Bom, se quiser eu te mostro o caminho da saída.
- Quem concorda comigo que eles estão querendo muito se pegar? – Jongdae ergueu-se do chão do nada e encarou os outros amigos à procura de resposta, estes que apenas concordaram silenciosamente. A disposição deles era comparada a de um aposentado na casa dos setenta após o almoço.
- Ai, até seus xingamentos são ultrapassados. Você é entediante, sabia? – Luhan parou no meio do corredor e encarou rapidamente Sehun, este que apenas semicerrou os olhos para o intercambista antes de passar por ele em direção à escada.
Eles chegaram à cozinha incrivelmente arrumada. A senhora Oh era professora de língua estrangeira e nas horas vagas uma verdadeira maníaca por limpeza. Naquela semana ela estava em viagem a Busan para um congresso, mas não tinha partido antes de uma faxina, deixando a casa inteiramente impecável. O que de fato não era impossível de ser mantido já que Sehun herdara muitas manias da mãe, como a de andar sempre com álcool em gel na bolsa, escovar os dentes a cada refeição e não apenas chupar um chiclete de menta ou ter aversão a lugares sujos e bagunçados. De quebra, o padrasto preferia manter-se longe sempre que era obrigado a ficar a sós com o filho de sua nova esposa, por isso, naquele fim de semana estava na casa da mãe, o que ajudava na casa deles sempre limpa.
Sehun abriu a geladeira e pegou algumas cervejas sob os olhares atentos de Luhan.
- Eu sei que é a que você gosta – provocou com um sorriso ladino, abriu uma garrafa e bebeu um gole. – Mas eu realmente não sei se devo deixar você beber uma... – ele ergueu o olhar, pensativo. – Você pode tentar me convencer, se quiser.
Luhan sorriu e depois iniciou uma sessão de risadas, logo sendo acompanhado por Sehun, este que voltou a beber.
- Você é um cretino! Espero que morra afogado com a cerveja, idiota! – disse, o corpo descansava sobre o balcão da cozinha.
Encostado a geladeira, Sehun sorriu e tomou mais um gole enquanto os dois trocavam olhares em silêncio.
- Pensei que quisesse estar num lugar onde não estou – provocou.
- Infelizmente a casa não é grande o suficiente para nós dois – sorriu debochado. – Ou então para o seu ego enorme.
Sehun riu novamente e tomou mais um gole de cerveja.
- Por que você não se revela logo?
- Revelar o que?
- Eu sei que você quer transar comigo.
Luhan soltou um riso quase gritado, desacreditado.
- Eu disse que essa casa não é suficiente para o seu ego...
- Qual é... – ele revirou os olhos, divertido. – Desde o primeiro dia você está empenhado em tornar a minha vida miserável.
- Aparentemente, você faz isso por si mesmo – Luhan se desencostou do balcão e andou até Sehun. – Ninguém te falou antes o quanto você é insuportável com: “ah, como sou bom, ah, como sou inteligente e blá blá blá?...” Sinceramente, você é o cara mais chato que eu já tive o desprazer de conhecer e olha que eu gosto muito de caras.
Eles se encararam com raiva. Mas a troca de olhares fora quebrada quando Luhan arrancou da mão de Sehun a cerveja e bebeu um pouco dela.
- Seus amigos são os únicos que te toleram. Eu realmente os admiro muito por serem tão persistentes.
- Cala a boca!
- Eles são caras legais. Mas, sinceramente..., – ele bebeu mais um gole da cerveja, agora, com um ar pensativo. – se eu quisesse transar com um de vocês, eu escolheria o Jongin. Ele definitivamente faz o meu tipo com o ar meio hippie, embora aquela pochete que ele carrega para todos os lados seja um pouco broxante.
Houve um novo silêncio, dessa vez mais curto, antes deles avançarem um sobre o outro e se beijarem nos lábios. A garrafa de vidro fora parar no chão e nem mesmo o barulho dela se espatifando em mil pedaços fizera os dois se afastarem... Nem quando Sehun precisou virar Luhan, suspendê-lo no ar pelas coxas torneadas e colocá-lo em segurança sobre o balcão da cozinha. A boca de um parecia a cada segundo mais faminta do que a outra; talvez fosse culpa dos hormônios da idade ou da frustração que era os dois se odiarem ao mesmo nível que se desejavam.
- Ok... Talvez eu queira transar com você – Luhan falou sem muito fôlego assim que se afastou o suficiente para ser ouvido, não impedindo que os lábios de Sehun migrassem afoitos para seu pescoço longo, macio e branco. – Mas, temos que prometer não falarmos... M-Minha nossa! – ele gemeu e agarrou os cabelos negros da nuca de Sehun com força. – Temos que prometer não falarmos... sobre isso com n-ninguém.
- E continuarmos nos odiando – Sehun acrescentou com a voz abafada.
- Oh – Luhan concordou silenciosamente, os olhos se apertaram em prazer e as pernas rodearam imediatamente a cintura fina de Sehun. – Só vai ser dessa vez.
- Só uma vez – concordou.
As bocas voltaram a se encontrar, loucas, com urgência de se sentirem. As coxas de Luhan foram agarradas sem muito cuidado; ele gemeu por isso, mas sorriu safado, acendendo nele todo o desejo que vinha por meses tentando esconder. Ele passou os dois braços sobre os ombros fortes e largos de Sehun e mergulhou com os dedos nos cabelos escuros enquanto sentia as mãos ossudas do outro vagando desesperadas entre suas pernas e a cintura fina.
- Quarto! – Luhan suspirou de olhos fechados.
Ele sentia as pernas fracas e o corpo todo insuportavelmente quente, mas obrigou-se a pular do balcão e puxar desesperado Sehun em direção a qualquer cômodo que tivesse uma porta e não pudessem ser incomodados.
- Não vou fazer no quarto da minha mãe – Sehun afirmou com os cabelos apontando para todos os lados por causa dos dedos de Luhan. – Não podemos no meu quarto – por causa de Jongdae, Jongin e Junmyeon.
- O escritório do seu padrasto – Luhan deu a ideia com a voz desesperada. Ele se agarrou nos ombros de Sehun novamente e o beijou no queixo, achando-o muito atraente com a roupa amassada e o cabelo bagunçado.
- Nem sob tortura piso meus pés naquele lugar – nem mesmo com os anos a relação dos dois homens daquela casa havia melhorado; eles eram pessoas de personalidade forte e viviam em conflito por isso. – Podemos no banheiro.
Luhan sorriu de canto, satisfeito, antes de concordar e ser arrastado às pressas para o banheiro social da casa. A porta fora fechada num estrondo e Luhan jogado contra ela. Seu corpo fora agarrado por duas mãos e os lábios tomados com pressa. Ele sorriu entre o beijo, achando graça de que para alguém que o odiava tanto até que Sehun parecia o desejar bastante.
- Entendi a sua, cara – ele falou após afastar o rosto de Sehun, este que o olhou um pouco perdido, anestesiado pelo calor que o percorria da cabeça aos pés. – Você que estava..., aliás, está interessado em transar comigo.
- É sério que quer discutir isso justo agora? – Sehun olhou para baixo, mais especificamente para a calça com o volume, prova de sua já excitação. – Não seja um pé no saco logo agora – ele sorriu sacana e desceu o zíper da calça, depois olhou Luhan de um jeito provocador. – Melhor aluno do semestre – comentou em tom blasé enquanto arrancava a blusa preta de manga curta do corpo, revelando o abdômen bem definido. – Você é o melhor em mais o que, hm?
Luhan o encarou por alguns segundos achando Sehun um completo idiota arrogante e pedante, mas um completo idiota arrogante e pedante incrivelmente quente. E é claro que ele não quis ficar para trás, especialmente depois de ser desafiado daquela forma. Ele andou vagarosamente, sensualizando o máximo que pode, até a pia do banheiro, onde num pulo se alçou para cima dela. Puxou a calça de jeans escuro para fora do corpo e tirou o moletom do tronco ficando apenas com uma blusa branca larga e a cueca escura. Depois bagunçou os cabelos castanho mel, abriu as pernas devagar e esperou.
Sehun estava um pouco intimidado, no seu canto. Luhan tinha uma beleza única, era delicada e viril. Uma mistura enlouquecedora dos charmes que Sehun admirava superficialmente num homem.
- Você tem que me tocar se quiser transar comigo – o intercambista falou com deboche, sabendo sim que tinha deixado Sehun balançado.
Sehun se aproximou, pegou Luhan pelo cabelo e o puxou para ele.
- Você é muito petulante – sussurrou rente aos lábios do chinês. – Mas isso me excita.
- Me beija logo! – Luhan ordenou, tocando os braços desnudos de Sehun. – Você fala demais – revirou os olhos.
- Você não man... – ele não conseguiu completar a frase, sentindo no mesmo instante os lábios furiosos de Luhan o beijando com desejo. Levou alguns segundos para reagir, surpreso, mas logo suas mãos voltaram a apertar a pele nua das coxas grossas de Luhan, gostando bastante da maciez e do quanto elas eram fartas entre seus dedos.
As mãos grandes adentraram a camisa de Luhan, descobrindo o corpo firme e que reagia muito fácil aos seus toques, arrepiando-se a todo instante. Luhan parecia bastante sensível e Sehun adorou descobrir isso. Ele puxou a peça branca, passando-a pelos braços finos do chinês, para logo em seguida descer os lábios para o pescoço alheio e seguir em direção à clavícula, repetindo o movimento e provocando Luhan ali após notar o quanto ele parecia amolecer com carícias recebidas no pescoço.
- Eu sa-sabia que você me queria – Luhan sussurrou com os olhos apertados, aproveitando a sensação que sentia. Era tão bom isso, porque desde o primeiro dia ele se sentira atraído por Sehun, mas a personalidade arrogante o afastou, e no entanto, as amizades o aproximaram da forma que ele desejava. Só que após o desejo veio a raiva e após a raiva veio o desejo; era um ciclo sem fim. De alguma forma, Luhan começava a pensar que os dois só funcionavam bem daquela forma.
Sehun riu rapidamente, sem dar muita atenção. Apenas deu um tapa estalado na coxa de Luhan e ordenou: – Tira a cueca!
Imediatamente Luhan se livrou dela. Para provocar um pouco mais, saltou para fora da bancada da pia, virou-se e empinou o quadril para Sehun. Após alguns segundos de espera, onde o rapaz não parava de encarar o seu corpo, Luhan o olhou por cima do ombro com um sorriso provocador.
- Eu sei que é bonito, mas é ainda melhor quando você toca.
Sehun suspirou e se aproximou, levando imediatamente as mãos para o quadril de Luhan e o apertando. Admirado, analisou o corpo um pouco mais de perto antes de seus lábios beijarem do pescoço à nuca, da nuca às costas de Luhan, saboreando o gosto da pele alva e macia.
- Por que você me provoca assim? – Sehun sussurrou, sentindo-se miserável, porque não era justo que aquele cara o fizesse sentir tudo o que estava sentindo. Ele nem ao menos sabia onde devia tocar, porque queria tocar tudo, beijar tudo. Imediatamente, sentindo o membro fisgar dolorosamente, abaixou finalmente a calça junto à cueca e roçou sua intimidade na bunda de Luhan gemendo excitado, este que levou uma mão em direção à sua cabeça, trazendo-o novamente para seu pescoço, o incitando a beijá-lo ali.
- Você é muito gostoso – Sehun segredou bem baixinho com a boca encostada ao ouvido de Luhan, que sorriu bastante satisfeito.
- Você tam...
- Sehun! – eles ouviram uma voz próximo a eles. – Sehun? Luhan? – era Junmyeon.
- Ai, caramba! – Sehun se afastou de Luhan num salto, pegou as roupas e jogou-as para o outro.
- Sehun? – ele ouviu o chamar mais uma vez, mais perto ainda.
Vestiu a roupa amassada, ajeitou o cabelo, mas antes de sair Luhan o puxou para um último beijo estalado. Um beijo confidente e intenso.
- Oi – Sehun falou do outro lado da porta. – Por que está berrando?
- Grosso! Aonde estava? – Junmyeon questionou e de dentro do banheiro, Luhan aproximou-se da porta para ouvi-los melhor, sorrindo arteiro. – Estávamos procurando você e Luhan para a sessão de filmes. Decidimos assistir O Senhor dos Anéis – ele olhou para todos os lados da casa. – Luhan foi embora?
- Não me importo – deu de ombros.
No banheiro, Luhan deixou a boca se abrir desacreditado com a cara de pau de Sehun, ao mesmo tempo em que se divertia com os joguinhos dos dois.
- Sinceramente, você é tão burro que eu não consigo acreditar na tua inteligência – Junmyeon falou sem paciência com o amigo. – Aquele chinês tá doido para transar com você e enquanto isso você fica aí cheio de charme... Que injustiça!
- Ele tá, é?! – Sehun questionou, fingindo desinteresse.
- Mas é claro, seu idiota! – Junmyeon revirou os olhos. – Me pergunto quem de nós se sente mais frustrado com a sua cegueira. Se quer saber, Jongin quer muito transar com o Luhan, mas desistiu quando percebeu que não tem chance alguma.
- Luhan sabe disso?
- Jongin o convidou para uma sessão de filmes particular no sábado passado, cara – Junmyeon sorriu malicioso. – No fim eles só assistiram filmes mesmo. Trágico – caçoou.
Sehun sorriu de cabeça baixa, pensativo.
- Está rindo do que, idiota? – Junmyeon perguntou sem paciência. – Anda, vamos perder o filme.
- Quando foi que eu dei permissão a vocês de me chamarem de idiota?
- Desde o momento em que o Luhan passou a te xingar de todos os nomes e você só ficar estressadinho – ele suspirou com deboche. – Ai, que fofinhos, parecem um casal de adolescentes descobrindo que a boca não serve só para comer.
- Que nojento você, cara – Sehun resmungou, mas sem se sentir verdadeiramente ofendido. – Vai na frente, vou ao banheiro rapidinho.
- Ok, trás o Luhan junto. Aposto que ele está entediado enquanto te espera no banheiro – Junmyeon disse enquanto seguia para o segundo andar da casa.
Sehun sorriu com a cara de pau do amigo e Luhan riu do outro lado, sentindo-se ridículo por estar passando por aquela situação. Exposto de todas as formas possíveis.
A porta fora aberta e Luhan pulou no colo de Sehun, beijando-o com pressa. Eles teriam que voltar para junto dos amigos, mas estavam confiantes de que mais tarde, quando a casa fosse só dos dois, teriam a noite que mereciam, finalmente.
6 notes
·
View notes
Text
23 - #46 Te pintar de verde
Título da fanfic: Te pintar de verde
Sinopse: E ali naquele dia frio e branco... Eles se pintaram de verde. E nos dias seguintes se tornaram vermelho, roxo e até mesmo azul. Mas no final sempre se recordariam do dia em que foram verdes pela primeira vez. Naquele terraço, em meio a tanto branco.
Couple: SeKai
Número do plot: #46 Jongin queria descobrir o que tinha por trás dos óculos de Sehun, o menino tímido da classe.
Classificação: +16
Aviso: Fluffy
Quantidade de palavras: 4149
Ele deixa o lápis cair sobre a folha repleta de cálculos, seus dedos doem e ele se repreende mentalmente por não ter dado ouvidos quando seu melhor amigo dissera para que ele procurasse fazer as atividades com antecedência e não deixar para a última hora como sempre fazia. O rapaz até havia tentado, chegou a usar pela primeira vez a escrivaninha que tinha em seu quarto, mas qualquer coisa tirava a sua atenção e naquele dia em questão, observar os movimentos dos galhos da árvore que ficava na frente da sua janela acabou se tornando mais empolgante do que Álgebra. Tudo era mais empolgante do que Álgebra.
Jongin observou o relógio em seu pulso esquerdo e constatou o que já imaginava. Precisava ir pra aula. E a julgar pela expressão da bibliotecária, ele pôde de fato confirmar isso. A senhora de cabelos escuros claramente tingidos para esconder os fios grisalhos, o encarava como se fosse capaz de matá-lo apenas com o olhar. Ele decidiu não ficar ali pra ver se ela poderia mesmo fazer aquilo e apenas resolveu ir embora. Jongin fechou o seu caderno e logo em seguida o guardou em sua mochila fechando a mesma. Empurrou sua cadeira para trás para poder levantar, mas o som do objeto de madeira arranhando o piso atraiu a atenção da mulher que apenas o encarou e levantou uma de suas sobrancelhas.
— Me desculpe. — Jongin disse baixo em um tom praticamente inaudível. Ele não soube ao certo se a mulher havia o ignorado ou apenas não tinha escutado, mas ela apenas virou o rosto e voltou a encarar o computador a sua frente. Ele quis bufar, mas limitou-se a apenas colocar a mochila sobre um dos ombros e girar os calcanhares em direção à saída.
Jongin havia ficado todo o começo da manhã na biblioteca de sua escola, a atividade deveria ser entregue mais tarde naquele dia e ele sabia que se simplesmente fosse para sala, não estudaria e consequentemente perderia nota para o exame final. Os corredores estavam bem iluminados, mas poderiam ser facilmente confundidos com algum cenário de filme de terror. Além do rapaz, não havia nenhum outro ser humano caminhando por ali. Estava caindo o mundo em forma de neve lá fora e nem ele entendia como isso tinha acontecido, afinal, quando ele saiu de casa apenas caia uma neve fina e as ruas ainda estavam normais.
Suas mãos buscavam por calor dentro do bolso de seu casaco, era início do inverno e aquele dia em especial estava mais frio que o de costume nessa época do ano. Jongin adorava ficar em casa o dia inteiro em dias assim, na verdade, ele adorava ficar em casa o dia inteiro todos os dias. Pena que era um estudante e precisava cumprir com a sua responsabilidade de ir às aulas.
Ele dobrou no corredor que dava para sua sala e finalmente pôde ver alguns alunos, mas não tinha pelo que comemorar. Se ali houvesse no máximo dez pessoas era muito. Jongin caminhou lentamente até seu armário e sentiu um arrepio na espinha ao tocar a porta de metal extremamente gelada com a ponta de seus dedos. Maldito frio. O rapaz tratou de pegar os livros que usaria naquele dia e assim que abriu a porta do armário teve vontade de ajoelhar-se em agradecimento ao notar que as luvas de inverno que tanto procurou dentro de casa antes de sair estavam ali. Ele nem mesmo se lembrava de quando tinha as usado pela última vez.
Fechou o zíper da mochila e logo colocou as luvas quentinhas. Naquele dia, seu melhor amigo, Baekhyun, não havia chegado ainda e provavelmente nem iria para a escola por causa da neve que tomava conta da cidade. Jongin suspirou. Sentia que aquele seria um dia cansativo e tedioso. Gostaria que Baekhyun ou Minseok estivessem ali.
Voltou a caminhar e se pôs na frente da porta de sua sala; abriu a mesma e parou por alguns segundos ao notar a grande falta de alunos naquele dia fazendo com que se perguntasse ainda mais o porquê de ter levantado da cama. Poderia ter fingido uma febre ou usado a neve como uma desculpa. Porém conhecia muito bem a sua mãe para deduzir que ela seria muito capaz de levá-lo arrastado para a escola. Olhou para o canto da sala e viu o rapaz de óculos que o intrigava desde o primeiro dia de aula; ele era quieto e não parecia gostar muito de conversar. Jongin tinha certa curiosidade sobre o garoto, mas nunca trocaram muitas palavras além de consultas rápidas quando o professor permitia em alguma prova ou atividade. Fora isso, o rapaz não falava com mais ninguém. Apenas para responder oralmente algumas questões que eram perguntadas, principalmente na aula de Geografia. Jongin odiava Geografia e Álgebra.
Caminhou até a mesa que ficava atrás do rapaz e sentou-se ali, colocando a sua mochila sobre a mesa em seguida. Observou o estacionamento pela janela ao seu lado e suspirou ao notar a neve cobrindo os carros na altura da roda. Será que haveria aula? Ouviu o som de lápis caindo no chão e viu o rapaz a sua frente se abaixar para pegar alguns de seus lápis que haviam caído enquanto ele tentava abrir seu estojo. Jongin notou um perto de seus pés e também se abaixou para pegá-lo.
— Aqui. — Ofereceu o lápis por cima do ombro do rapaz que já havia pegado os que estavam no chão.
— Valeu. — O rapaz virou-se um pouco para olhá-lo e repuxou os lábios em um sorriso quase inexistente. Sehun intrigava Jongin.
A porta foi aberta de repente fazendo com que os alunos que ainda estavam em pé se sentassem em seus lugares. O professor de estatura baixa e cabelos raspados caminhou até o centro da sala com sua maleta em mãos, mas diferente de todas as aulas, ele não a colocou sobre a mesa.
— Tenho um aviso, por favor, prestem atenção no que vou dizer. — O professor iniciou revezando o olhar entre cada um dos poucos alunos ali. — Devido à forte nevasca que o estado está enfrentando as aulas foram canceladas. — Duas garotas mais ao fundo deram um grito de felicidade discreto.
— E como iremos pra casa, professor? — Jongin indagou ignorando a reação das duas garotas.
— Esse é o porém da questão. — Assim que o mais velho terminou a frase um coro de suspiros foi ouvido. — Infelizmente a nevasca se formou rápido o suficiente para que as escolas da área não conseguissem ser alertadas, então todos que estão aqui continuarão aqui até que a situação do lado de fora melhore. — Do fez uma breve pausa para que o murmurinho que havia se iniciado terminasse. — Vocês só poderão sair daqui acompanhados de um responsável, então liguem para seus pais e avisem sobre a situação.
— Então estou preso aqui? Meu pai está no trabalho, professor. — Um garoto perguntou.
— Infelizmente sim, vocês só sairão com seus responsáveis. É uma medida de segurança que estamos tomando, mas não se preocupem, vocês poderão ficar em espaços como a cantina, por exemplo. O número de funcionários não é grande, mas farão lanches para vocês enquanto esperam.
Os alunos assentiram.
— Mais alguma dúvida?
— Não.
— Desculpem crianças, eu também não queria estar aqui. Por favor, entendam a situação. — O professor Do sempre foi um dos professores favoritos de todas as turmas. Isso explicava a compreensão dos alunos com aquela notícia. O jovem professor saiu rapidamente da sala para dar o aviso nas outras turmas.
Jongin suspirou pesado. Era só o que faltava ficar preso dentro da escola enquanto nevava no estado inteiro. Os alunos começaram a arrumar suas mochilas e ele procurou por seu celular para informar à mãe o que havia acontecido.
— Mãe? — Falou assim que a ligação foi atendida. — Escuta. Eu estou preso na escola... É eu sei, eles disseram que só vamos poder sair com nossos responsáveis. — A voz de preocupação dela era notável do outro lado da linha. — Fica calma, eu sei que está no trabalho. Não precisa largar o seu plantão, tudo bem? Assim que der a senhora vem... Isso... Quando sair daí me avisa. — E encerrou a chamada. Sua mãe era enfermeira e estava lotada de trabalho naquele momento, mas avisou que assim que fosse possível iria buscá-lo.
A sala já estava vazia se não fosse por ele e o garoto a sua frente. Todos haviam pegado suas mochilas e saído provavelmente em direção ao refeitório. Jongin levantou-se para arrumar sua mochila, mas notou que Sehun não dava nem sinais de que iria também.
— Você não vai? — Perguntou curioso. Sehun limitou-se a apenas negar com a cabeça. — Sabe... Achei que essas coisas só aconteciam em filmes.
— Tenho que concordar com isso.
— Você não é de falar muito, né? — Jongin deixou a mochila sobre a mesa e passou a caminhar devagar pela fileira. — Digo... Até mesmo na aula.
— Falo apenas o necessário. — Sehun ergueu o olhar para o mais velho. Perguntava-se o que ele queria puxando assunto.
— Entendi. — Jongin sentou-se sobre a mesa do professor e passou a encarar o lado de fora. — Alguém vai vir buscar você? — Perguntou voltando sua atenção ao rapaz mais novo. Sempre foi curioso sobre o garoto, talvez essa fosse uma boa oportunidade para conhecê-lo melhor.
— Não. — Sehun encarou o jovem a sua frente e notou que ele estava esperando que dissesse algo mais. — Moro com a minha tia e ela está doente.
Jongin assentiu enquanto balançava os pés. Então ele mora com a tia e ela está doente. Não sabia o porquê, mas estava feliz pelo rapaz estar aparentemente entrando em uma boa conversa com ele.
— É o que parece. — Sehun suspirou afundando-se em sua cadeira. Torcia para que parasse de nevar logo e ele pudesse ir pra casa o mais rápido possível.
— Talvez demore.
— Eu sei. — Foi tudo o que Sehun disse.
Jongin se levantou e enfiou as mãos no bolso.
— Certo... Quer fazer algo? — Indagou com a sobrancelha arqueada.
— Além de ficar aqui sentado? Acho que não. — Sehun não queria parecer rude ou mal educado, mas de fato estava sem ânimo para fazer qualquer coisa. E também se sentia estranho por estar conversando com o outro rapaz, eles nunca haviam trocado tantas palavras como agora.
— Bom... Parece que vamos ficar aqui por um tempo, então seria melhor nos distrairmos com algo. — Jongin disse.
Sehun odiava admitir, mas o rapaz tinha razão. Agora... Onde estavam os amigos do mais velho?
— Você não precisa ficar aqui. Seus amigos devem estar na cantina. — Sehun comentou. Não que a companhia de Jongin estivesse ruim, mas o mais novo estava sempre acostumado a vê-lo sempre rodeado de seus amigos.
Jongin lembrou-se do fato de Baekhyun e Minseok nesse momento estarem em casa provavelmente dormindo e se perguntou como seria estar no lugar deles.
— Eles não vieram e mesmo assim por mim tudo bem ficar aqui.
— Tudo bem, o que quer fazer? — Sehun deu-se por vencido.
Jongin pensou por alguns segundos, mas logo uma ideia passou pela sua cabeça.
— Estamos na sala então não podemos ficar sem aula, o que me diz? — Perguntou de forma divertida vendo uma expressão confusa no rosto do mais novo que agora tinha arrumado sua postura e o encarava com curiosidade.
— Não faço ideia do que você está pensando em fazer. — Sehun comentou baixo.
— Abra o livro na página 46, seu moleque! — Jongin elevou o tom de voz e bateu a mão com força na mesa que os professores usavam.
Sehun teve que segurar uma risada.
— Você por acaso está imitando o professor Kwon?
— Eu sou o professor Kwon.
Sehun finalmente havia entendido a brincadeira do Kim, mas não entendia por que estava achando graça daquilo. Era algo tão bobo.
— Essa eu quero ver.
— Tire os pés da mesa. Não te deram educação em sua casa? — Sehun nem mesmo estava com os pés na mesa, mas lembrou-se que o professor em questão costumava falar isso mesmo que ninguém estivesse com os pés sobre a mesa. Maluco.
— Desculpe professor. — Falou, entrando na brincadeira do mais velho. Sehun sempre foi tímido para iniciar conversas, mas tinha certa facilidade em mantê-las e Jongin estava vendo isso pela primeira vez.
— É por causa de alunos como você que eu odeio essa escola, só estou aqui porque transo todos os dias com a senhorita Park. — Essa foi a gota d’agua para que ambos os rapazes caíssem em uma risada alta o suficiente para ser ouvida dos corredores.
— O que está acontecendo aqui? — A porta foi aberta de forma brusca os assustando e a figura que apareceu fez com que cessassem toda a risada. — Vocês não podem ficar na sala.
— Ah, oi professor Kwon. Achei que pudéssemos ficar aqui. — Jongin comentou, tentando parecer inocente.
— Achou errado. — Gentil como um coice de cavalo. Sehun pensou, apenas pensou.
— Desculpe. — Ambos os garotos disseram juntos.
— Vou olhar até o banheiro e quando eu voltar não quero mais ver vocês aqui. — O homem maduro com seu bigode volumoso fechou a porta em seguida.
— Quando eu voltar não quero mais ver vocês aqui. — Jongin repetiu a frase antes dita e fez uma careta. — Babaca.
— Você o imitou muito bem. — Sehun elogiou em meio a uma risada.
— Minha sorte é que ele não ouviu a última parte.
— Não é como se ele transar com a diretora fosse um segredo. — Disse agora de pé e com a mochila nos ombros. — Ainda mais quando dá pra escutar os gritos dela vindo da diretoria. — Toda a escola sabia que o professor de História e a diretora tinham um caso; não é como se eles fizessem questão de esconder.
Jongin riu nasalmente e pegou a mochila que havia deixado sobre a mesa.
— O que acha de irmos para a biblioteca? Não vamos poder ficar aqui de qualquer forma e lá tem aquecedor. — Sugeriu.
— Eu deveria negar já que levei esporro do senhor Kwon por sua causa e nunca levei esporro na vida. — Sehun começou caminhando até a porta. — Mas não tenho muitas opções, então tudo bem.
— É assim que se fala.
[...]
— Por que ela está olhando assim pra gente? — Sehun perguntou em um sussurro assim que entrou na biblioteca acompanhado do mais velho. A bibliotecária parecia querer fuzilar os garotos.
— Não é para gente, é para mim. — Jongin respondeu enquanto passava pela senhora sem dar bola. — Ela sempre me olha assim, eu não entendo.
— Você deve aprontar aqui, por isso ela fica assim.
— Eu nunca fiz nada. — Jongin se defendeu. Como Sehun poderia pensar isso dele? Um cara que não aprontava nada.
— Se você diz. — Sehun deu de ombros.
Ambos caminharam até os fundos da biblioteca e foram até algumas prateleiras que continham os exemplares de ficção científica. Sehun tateou alguns livros, mas nenhum lhe interessou. Ele não era muito fã de ficção científica.
— Você vai sentar aí?
— Sim... É confortável, o carpete é quente. — Jongin havia largado a mochila e estava sentando-se com as costas apoiadas na prateleira. Ele costumava ficar ali por dois motivos quando queria matar aula. O primeiro era por que era um lugar que tinha um excelente ponto de internet e o outro era o fato da bibliotecária não conseguir vê-lo dali.
Sehun resolveu acompanhar o mais velho e também se sentou no carpete enquanto apoiava suas costas na parede atrás de si.
— Me conte um pouco sobre você. Estamos no último ano e estudamos juntos desde o ano passado, mas nunca trocamos muitas palavras. — Jongin havia cruzado as pernas e agora olhava Sehun com interesse.
— Eu nunca fui de falar muito, ainda mais depois que me mudei. — Sehun começou. —E como as pessoas não ligam muito pra isso mesmo eu apenas fico em meu mundo. — Terminou com um sorriso sem graça.
— Onde morava antes?
— No sul, em uma cidade pequena. — Sorriu recordando-se de quando ainda morava em sua antiga cidade. Ele adorava correr de bicicleta pelas ruas pouco movimentadas.
— E você gostava de morar lá? — Jongin notou pelo sorriso do mais novo que sua resposta era sim, mas ele queria perguntar.
— Eu cresci lá e tinha alguns amigos, então sim, eu gostava.
— Sente falta? — Jongin imaginava que sentia. Se fosse ele sentiria, ele nunca foi muito acostumado a mudanças. Havia se mudado apenas uma vez em seus dezessete anos e já era o suficiente pra ele.
Sehun suspirou.
— Todos os dias.
— Deve ter sido difícil crescer em um lugar e de repente ter que mudar para outra cidade. — Conseguia se imaginar no lugar dele.
— De fato foi, mas estou aqui há dois anos, então acabei me acostumando um pouco. — Um pouco. Sehun havia se mudado há dois anos e mesmo assim não se acostumara por completo. Talvez fosse pelo fato de que agora ele fosse uma pessoa mais sozinha.
— E você mantém contato com seus antigos amigos? — Jongin quis saber.
Sehun não admitiria agora, mas estava gostando de ver o interesse de Jongin em sua vida. Sentir que alguém se importa com você era uma sensação que ele não sentia a um tempo vinda de outra pessoa que não fosse sua tia. Mesmo que aquelas perguntas talvez fossem apenas por educação do mais velho.
— Não. A distância acabou esfriando isso. — Ele se lembrava das noites que passava brincando com seus vizinhos e até mesmo da primeira festa que havia ido com seu antigo melhor amigo.
— E seus pais? Você comentou sobre a sua tia...
Esse era um assunto que ele não se sentia confortável para falar.
— Eu prefiro não falar sobre eles. Apenas moro com a minha tia desde os meus oito anos.
— Desculpe. — Jongin suspirou. Tinha medo de deixar o outro desconfortável e quieto novamente. — Ela deve ser uma boa mulher.
— E ela é. — O sorriso nos lábios do rapaz denunciou a admiração que sentia pela mulher. — Me conte sobre você. — Indagou curioso.
Um espirro foi ouvido e ambos levaram os olhares para a senhora que agora limpava seu nariz com um lenço velho. Nojento.
— Bom, eu moro com meus pais e tenho uma irmã mais nova. — Jongin disse voltando sua atenção à conversa e tentando esquecer a imagem da velha chata limpando o próprio nariz em um pano nada limpo.
— Como ela se chama? — Sehun não tinha irmãos, mas adoraria ter tido.
— Hyunjin. Ela é a irmã mais adorável que eu poderia ter.
Jongin abriu sua mochila e pegou seu celular em busca de uma foto da irmã.
— Aqui uma foto dela. — Disse entregando o aparelho para Sehun.
— Ela é fofa... — O sorriso da garota transmitia uma alegria visível. Ela era bem parecida com o irmão. — Quantos anos ela tem?
— 14 anos.
— Gostei da camisa dela. — Comentou devolvendo o aparelho.
— Ah, ela joga no time juvenil de futebol da cidade. — Jongin comentou orgulhoso.
Se tinha alguém que Jongin mimava e dava todo e qualquer apoio, esse alguém era sua irmã. Sua mãe conta que quando Hyunjin nasceu ele sentiu ciúme dela, mas logo foi ganhando afeto e com cinco anos já gostava de dar banho na pequena. Mesmo que ele não tivesse coordenação suficiente pra isso e sua mãe sempre o ajudasse nessa tarefa.
— Então ela é uma grande promessa do futebol?
— Não quero parecer um irmão babão, mas sim, ela é espetacular em campo.
— Gostaria de vê-la jogar qualquer dia.
— Podemos marcar. — Jongin sugeriu animado. Adoraria que Sehun o acompanhasse em algum jogo da sua irmã.
— Certo. — Sehun sorriu devido à animação do rapaz. — Mas e você? Pratica algum esporte?
— Eu domino a modalidade de ficar deitado o tempo inteiro.
Sehun teve que rir.
— Admiro os praticantes desse esporte magnífico. — Debochou.
— O Baekhyun até tenta me fazer jogar futebol com ele algumas vezes, mas todo o talento da família foi pra minha irmã. — Jongin comentou lembrando-se das inúmeras vezes em que o amigo tentou arrastá-lo para jogar com ele nos fins de semana.
— Baekhyun é aquele seu amigo loiro? — Sehun sabia que o rapaz tinha dois amigos próximos, mas não sabia quem era quem. Ser calado havia o deixado observador demais.
— Ele mesmo.
— Ele me parece legal...
— E ele é. Tirando o fato de ele ser um fofoqueiro de primeira. — Avisou. — Se você estiver pensando em contar algum segredo a ele é melhor pensar dez vezes antes de fazer isso.
— Vou fazer uma nota mental sobre isso. — Sehun sorriu.
Um silêncio se fez presente, mas não um silêncio desconfortável. Sehun tirou seu celular da mochila junto com seu fone.
— Você quer ouvir comigo?
— O que vai escutar? — Jongin perguntou curioso.
— Vai saber se ouvir comigo. — Touché.
Jongin engatinhou até o lado de Sehun para que pudesse ouvir música com o mais novo. Nunca se imaginou tendo essa intimidade com o rapaz, ainda mais em apenas um dia, mas se sentia feliz por saber que Sehun estava confortável ao seu lado. E o resto da tarde se seguiu ao som de The Script que tocava em um volume médio nos fones do mais novo e embalava os pensamentos dos dois garotos que haviam começado uma relação um tanto quanto improvável.
O sol fraco estava se pondo naquele momento a julgar pelos filetes fracos na cor laranja passando pelas persianas da janela. Jongin havia tido uma ideia. Havia se passado alguns minutos desde a última música, ele levantou-se sobre o olhar atento de Sehun. Pegou a sua mochila e ofereceu sua mão ao rapaz.
— Está a fim de pintar a cidade de verde? — Sorriu ao ver a expressão confusa no rosto do rapaz.
— O que está pensando em fazer? — Sehun se perguntou o que Jongin estava aprontando dessa vez. Havia passado o dia todo o seguindo.
— Vem comigo. — Aproximou a sua mão a do mais novo com um sorriso no rosto.
— Eu ainda vou levar uma advertência hoje. — Foi a última coisa que Sehun disse antes de pegar na mão do Kim e seguir com ele pelos corredores.
[...]
Haviam subido alguns lances de escada e agora estavam de frente para uma porta vermelha enorme. Sehun deduzia ser a porta que dava acesso ao terraço do prédio.
— Não é todo dia que ficamos presos na escola porque a cidade está tomada pela neve. Aproveita o dia de hoje. — Jongin disse enquanto cutucava a fechadura com um clipe de metal torto.
— Você tá querendo arrombar a porta? — Sehun nunca tinha feito nada do tipo. Jongin era um louco.
— Não é bem arrombar, eu só quero abri-la.
— Sem ter a chave.
— Tanto faz. — Disse sem paciência. Estava perdendo a prática. — Droga... Isso parecia mais fácil nos filmes.
— Por que quer entrar no terraço? Deve estar congelando.
— Vamos pintar a cidade de verde.
A porta finalmente abriu e Sehun não conseguia acreditar que Jongin realmente tinha conseguido fazer aquilo. Ambos passaram por ela e logo Sehun constatou que estava completamente certo sobre a temperatura. Ele estava congelando.
— Eu nunca fiz nada parecido. — A fumaça saindo de sua boca denunciava o frio que estava sentindo. Se não estivesse com roupas apropriadas com certeza já teria congelado vivo.
— Pra tudo tem uma primeira vez. — Jongin comentou com um sorriso.
Como ele poderia sorrir enquanto estava fazendo um frio daquele?
— Tipo estar no terraço de um prédio enquanto neva pra caralho? — Sehun questionou.
Jongin gostou de ouvir o mais novo usar um palavrão, talvez porque ele tivesse a ideia de que o rapaz era certinho demais.
— Tipo isso.
— O que estamos fazendo aqui? — o rapaz quis saber.
Jongin caminhou para o parapeito e encarou a paisagem a sua frente. Sehun o seguia logo atrás com as mãos enfiadas no bolso.
— Eu não sei.
— Você falou algo sobre pintar a cidade de verde.
— Você não gostaria de pintá-la? Como diz na música “Vamos pintar de verde a cidade, como nossa casa, vamos colorir as ruas como nossas.” — Jongin citou a última música que ouviram nos fones de ouvido.
— “E fazer este lugar se sentir como nosso.” — Sehun sussurrou para si mesmo ao lembrar-se da letra.
— Cada pessoa tem a sua própria esperança, mas ela precisa ser pintada. Eu às vezes penso em mudar alguns hábitos e parar de perder tanto tempo dentro de casa enquanto poderia estar colorindo alguém de verde. Eu ainda não pintei a minha própria esperança, quem dirá a de outra pessoa. — Jongin encarava o horizonte. Era possível ver a praça em frente à escola tomada pela neve e os tetos das casas brancos como nuvens.
— Está vendo todo esse branco? — Sehun indagou.
— Sim.
— Não falo da vista a nossa frente. — Sehun afirmou, atraindo a atenção do mais velho que o encarou de forma profunda, fazendo com que o frio que sentia se transformasse um calor que vinha de seu âmago. — Eu falo sobre o meu interior e sobre você também.
— Você...
— Quer me pintar de verde?
— Achei que não fosse perguntar.
E ali naquele dia frio e branco...
Eles se pintaram de verde.
E nos dias seguintes se tornaram vermelho, roxo e até mesmo azul.
Mas no final sempre se recordariam do dia em que foram verdes pela primeira vez.
Naquele terraço, em meio a tanto branco.
“It’s alright ‘Cause tonight we’re gonna paint the town green”
— THE SCRIPT
2 notes
·
View notes
Text
22 - #93 Aquela pintinha
Título da fanfic: Aquela pintinha.
Sinopse: Eu acabei me dando conta que meu fetiche só existe mesmo pelo Junmyeon e por aquela maldita pintinha.
Couple: SeHo
Número do plot: #93 Talvez Sehun tivesse fetiche por pintinhas, principalmente pela pintinha acima dos lábios de Kim Junmyeon.
Classificação: +16
Aviso: homossexualidade, linguagem imprópria.
Quantidade de palavras: 2154
Nota do autor(a): Eu realmente espero que tenha ficado boa, ao menos isso. Quando eu ''adotei'' o plot dias depois comecei a faculdade e acabei esquecendo de escrever, a pessoa aqui demorou e veio terminar nas últimas semanas de dezembro para janeiro, por isso acabei não escrevendo mais e estou bem triste com isso, porque não me coloquei para realmente trabalhar. Mas seguimos assim. Obrigada a quem doou o plot e a quem leu <3 Obrigada a organização do SehunFest.
“Que pintinha linda... Nossa... Os lábios do Hyung são tão bonitos… Como seria beijá-los? Será que eu posso beijar essa pintinha linda que ele tem bem acima dos lábios? Porra... Seria um sonho”.
— Sehun?
— Anh? — murmurei e percebi que estava quase babando na mão enquanto olhava para Junmyeon. — O que foi hyung?
— O que foi pergunto eu. — ele riu. — Do nada você ficou olhando para a minha cara como um idiota. Meu rosto está sujo?
— Não, não mesmo. — sorri nervoso. — Tinha um sujinho, mas o vento já levou.
— Você está bem estranho esses dias. — ele disse guardando suas coisas na bolsa. — Estou indo para a minha aula. Me avise se sair cedo. Se não sair, me espere na frente da faculdade.
— Ok. — suspirei quando ele se levantou e saiu.
Por onde eu devo começar… Vejamos, eu talvez tenha um certo fetiche, ou admiração, pela pintinha acima dos lábios de Kim Junmyeon. Só talvez... Um pouco... Nem tanto assim. Ah, quem eu quero enganar? Eu sou louco por essa pintinha! Na verdade, eu sou louco para beijar o Junmyeon e a pintinha é um bônus que deixa a boca dele ainda mais irresistível em minha opinião.
Junmyeon e eu nos conhecemos desde crianças. Ele é dois anos mais velho, porém sem problema algum para mim que sempre fui jogado querendo ser adulto.
Nunca tive desejo pelo Hyung, e realmente só o via como um amigo, talvez um irmão mais velho. Porém de uns meses pra cá, eu venho começando a pensar nele de outra maneira... O observo muito, até porque não posso negar o quão bonito Junmyeon é. Os olhos dele são lindos, os cabelos sedosos, o nariz bonitinho e a boca, puta merda que boca! Mas aquela pintinha é a minha morte, eu me lembro de quando reparei nela pela primeira vez.
Junmyeon havia ficado bêbado em uma festa — o que quase nunca acontecia — e eu como um bom amigo e também por morar com ele, tive que ajudá-lo a andar e cuidar dele até chegar em casa (foi uma luta e tanto). Depois que eu consegui fazer ele tomar banho e trocar de roupa, fui colocá-lo na cama, e talvez eu tenha olhado demais para o rosto dele e passado a mão pelos cabelos dele, e foi então que aquela pintinha me chamou a atenção. Eu passei uns bons minutos encarando-a e comecei a sentir uma vontade de beijá-la.
Depois desse dia, eu até fui procurar na internet se eu tinha algum fetiche por pintinhas, mas acabei percebendo que não. Eu consegui ficar perto do Kyungsoo que é cheio de pintinhas e não senti vontade nenhuma de tascar um beijão nele. Então eu acabei me dando conta de que meu fetiche só existe mesmo pelo Junmyeon e por aquela maldita pintinha.
Aí vem algo que eu achei que nunca aconteceria: eu não consigo ficar com mais ninguém depois que comecei a reparar no Junmyeon. Com ninguém mesmo, nem um beijinho, mãozinha boba, nada! E eu estou ficando louco, porque a cada vez que me aproximo do Junmyeon eu sinto vontade de beijá-lo e de ficar passando a ponta dos dedos naquela pintinha... Eu sou um idiota!
— Respira e bola pra frente, Sehun. — murmurei. — Só ignora essa vontade besta.
Como se ignorar o desejo fosse fácil.
[...]
— E então, como foi a prova? — perguntei a Junmyeon enquanto ele se servia.
— Acho que me saí bem; são poucas as provas que me deixam realmente com medo, você sabe. — Junmyeon disse e riu. — E você, ainda sem trabalhos e provas?
— Por enquanto sim. — murmurei.
Junmyeon sentou-se a mesa para jantar e até segurando os hashis ele é um fofo. Quando ele está comendo, sempre faz um bico e a pintinha fica ali me dando a maior secada, essa desgraçada.
— Que ódio. — disse e Junmyeon me encarou confuso. — Digo... Digo, eu não sei o que eu digo agora, mas não foi nada.
— Sehun, o que está acontecendo com você? — Junmyeon disse sério. — Não é a primeira vez que isso acontece. Você tem estado todo perdido e até acho que apaixonado... Isso explicaria muita coisa na verdade.
— Como assim?
— Você passa uns bons minutos olhando para o nada, depois suspira feito um bobo e por último, mas não menos importante, você sorri. — ele largou os hashis e cruzou os braços. — Você quase não sorria antes, a não ser que estivesse bem bêbado ou tivesse acabado de ganhar chocolate.
— Ei, eu sou uma pessoa muito simpática!
— Simpatia não tem nada a ver com sorrisos. — ele sorriu pequeno. — Por quem está apaixonado?
— Lógico que simpatia tem a ver com sorrisos. — disse tentando mudar o assunto.
— Sehun, pare de se fazer de besta, porque de besta eu sei que você não tem nada.
— O que?
— Criatura, por quem você está apaixonado?
— Não posso dizer. — voltei a comer.
— Então realmente é verdade. — ouvi a risada dele. — Poxa Hunnie, pensei que eu seria para sempre o único amor da sua vida.
— Você é. — disse rindo, mas sabe aquele pingo quase chuva de verdades atrás de uma brincadeira? Pois é.
— Não sou não. Você vai me largar por uma menina ou um cara qualquer. Esses anos todos em que eu vivi apenas por você e pelo nosso amor, e você simplesmente muda isso? Você vai me largar assim?
— Para com isso, Junmyeon. — disse e levantei a cabeça para olhá-lo; o sorriso dele é tão lindo.
— Por que você me olha tanto? — Junmyeon estalou os dedos. — Sério cara. Às vezes assusta.
— Te olhar?
— Você não me olha! Você... Sei lá Sehun. Às vezes parece que você me admira, sabe? Você me olha de um jeito... — ele riu. — Mas deve ser só impressão minha. Você está apaixonado por outra pessoa, então não tem porque me olhar desse jeito.
— É, é claro. — murmurei.
[...]
Às vezes eu fico confuso com tudo que sinto em relação ao Junmyeon. Não sei se eu realmente só gosto de encarar ele e queria no máximo levar ele para a cama, ou se eu sinto algo mais do que isso e quero pedir ele em namoro. Minha cabeça é uma eterna bagunça.
Depois daquele jantar, ele vem me enchendo o saco querendo saber quem é a pessoa que eu gosto. Foi então que eu soltei que a pessoa que eu gosto tem uma pintinha acima dos lábios, e aí vem a causa dos meus problemas: Junmyeon grudou na cabeça que eu sou afim de um cara do curso de Petróleo e Gás, sendo que eu nem conheço esse cara e muito menos pessoas que são do curso Petróleo e Gás.
— Junmyeon me deixa em paz. — reclamei entrando no meu quarto. — Você passou o dia grudado em mim... Acho que até um carrapato sentiria inveja de você.
— Isso é jeito de falar com o seu hyung? — cruzou os braços e eu sentei na cama. — Aquele cara é ou não é o cara da pintinha?
— Cara da pintinha? — ri. — Você já deu até apelido?
— Você não me diz o nome, então preciso chamar de alguma coisa que seja menor do que ''o cara que o Sehun está afim e sempre parece um idiota sorrindo e suspirando pelos cantos''. — ele sorriu. — É ou não é?
��� Não é.
— Como assim? — ele suspirou e se aproximou, se jogando na minha cama. — Assim fica difícil, Sehun.
— Não sei por que está querendo saber. Eu que gosto dessa pessoa e não estou fazendo esse alarde todo.
— Porque você é um besta. — ele chutou minhas costas devagar. — Eu sou seu hyung, você deveria me contar as coisas.
— Deveria? — virei para encará-lo e foi o pior erro da minha vida.
Junmyeon estava com a cabeça encostada no meu travesseiro, meio jogado de lado; os lábios formando um biquinho.
Talvez algum santo ou o próprio Deus não tenham pena de mim e sempre tragam esse tipo de momento para a minha vida, porque eu só me lasco e não é nada interessante ou legal.
— E de novo Sehun viaja até o cara da pintinha. — Junmyeon disse rindo depois que estalou os dedos para que eu parasse de encará-lo. — Esse cara tem o dom de te fazer ficar bobo. É incrível.
— Ele é horrível. — suspirei. — Tipo, muito.
— Então porque você gosta dele? — Junmyeon se sentou no meio da cama e eu me deitei ficando com a cabeça perto de suas coxas. — Se ele é tão horrível assim você deveria se afastar e não continuar nisso.
— Não estou dizendo que ele é horrível dessa maneira, Junm. — suspirei. — Ele é horrível por ser tão incrível.
— Ah sim. — riu. — O famoso amo e odeio ao mesmo tempo. Esse cara realmente tem poder sobre você.
— Queria que não tivesse. É só ele sorrir que eu fico louco, ou quando ele faz biquinho e a pintinha fica tão lindinha me dando oi. — ri da minha própria besteira. — Quando ele ri alto e acaba batendo em alguém do lado, ou quando ele inventa de pintar o cabelo a cada três meses só para mudar o visual, porque a vida com o mesmo visual é como um clichê de doramas. Quando ele anda com aqueles suéteres grandes que cobrem até as mãos dele, ele fica ainda mais fofo, ainda mais lindo, e quando ele conta piadas sem graça achando que está fazendo a melhor coisa, sem saber que todos acabam rindo pelo jeito como ele contou e não da piada em si.
— Sehun...
— Ele morde a ponta do dedo indicador quando está confuso e eu gosto de observá-lo, não com malícia, mas com admiração, porque ele parece um anjinho. Ele canta toda a noite antes de dormir e acha que eu não escuto. Às vezes eu entro no quarto dele apenas para cobri-lo, porque ele tem a mania de dormir sem o lençol e geralmente durante a madrugada é muito frio. Quando ele acorda, ele fica ''Sehun, f-''
— Foi você quem me cobriu? — ele murmurou. — Sehun, esse tempo todo que você tem estado meio perdido é por minha causa? Você gosta de mim ou algo assim?
— Talvez.
— Eu sou o cara da pintinha? — perguntou e eu assenti ainda olhando para o teto. — Por que a pintinha?
— Eu acho ela linda acima dos seus lábios. Seu rosto já é perfeito e com ela tudo parece em harmonia. — não tive coragem de encará-lo. — É um charme acima dos seus lábios.
— Eu não sei o que falar. — ele disse baixinho.
— Não fala nada... Na real nem tem mesmo o que você possa falar. — murmurei. — Uma hora isso passa.
— Sehun, olha pra mim.
— Não.
— Obedeça ao seu hyung.
— Não vem com essa de hyung, Junmyeon. — bufei fechando os olhos. — Não e não.
— Ok.
Achei que ele sairia do quarto e eu poderia finalmente gritar que eu sou um burro, mas eu senti um peso em cima de mim e então quando abri os olhos Junmyeon estava me olhando, em cima de mim!
— Junmyeon!
— Sehun! — ele riu. — Minha boca está a centímetros da sua, o que acha?
— Devo achar algo?
— Quando você quer você é muito tapado. — ele disse, se ajeitando e apoiando seus braços um em cada lado da minha cabeça. — Me beija.
Porra.
Junmyeon abaixou um pouco a cabeça e seu nariz encostou-se ao meu fazendo aquele famosinho beijo de esquimó. Acabei sorrindo e colocando as mãos na cintura dele. Junmyeon fechou os olhos e eu beijei primeiro o seu queixo; depois subi um pouco para perto dos seus lábios, para aquela pintinha. Beijei uma, duas, quase cinco vezes enquanto sentia a respiração rápida de Junmyeon. Abri um pouco meus lábios pegando apenas o lábio superior dele e puxando-o devagar em uma leve sugada. Acabei desistindo de continuar com aquilo e parti logo para o beijo.
Beijar Junmyeon era realmente a melhor coisa que eu poderia provar no mundo. Acho que valeu a pena esperar ou ficar igual a um idiota e sentir isso tudo calado por ele.
— O que acha de me beijar mais vezes? — Junmyeon perguntou e eu ri. — Ainda estou chocado com o fato de que você beijou várias vezes a minha pintinha.
— Claro! Ela torna seu rosto ainda mais irresistível. — disse e ele sorriu. — Você é lindo.
— Acho que você também. — ele disse.
Talvez eu esteja apaixonado mesmo.
[...]
— Junmyeon! Para de morder o lábio... Meu Deus. — reclamei e ele riu do outro lado da mesa. — Parece que me tenta... Você e essa coisa aí.
— Que coisa? — Perguntou sorrindo.
— Essa pintinha desgraçada. — suspirei e ele se levantou, acabando por se inclinar sob a mesa. — Junmyeon...
— Vem cá me beijar de novo. Quem sabe eu deixo você beijar outras pintinhas pelo meu corpo.
Por enquanto, não temos nada sério ou algo que eu possa julgar como sério, mas estamos indo devagar aproveitando um ao outro. E vez ou outra eu me aproveito daquela pintinha e das outras pelo corpo dele, até porque eu tenho algo parecido com um fetiche por pintinhas, mas é somente aquela pintinha acima dos lábios de Junmyeon e as outras que ele tem pelo corpo todo.
4 notes
·
View notes
Text
21 - #23 Hello
Título da fanfic: Hello
Sinopse: Oh Sehun era um fotógrafo bem sucedido: tinha bons amigos em quem confiava e bons colegas de trabalho. Para ele, não havia muito que reclamar em sua vida, e no quesito amoroso... bem, ele não ligava muito para essa parte. A volta de uma pessoa de seu passado, Kim Jongin, poderia ser o início de uma reviravolta nos sentimentos de Oh Sehun e uma maneira de fazer as pazes com seus erros de adolescência.
Couple: SeKai
Número do plot: #23 Jongin é um famoso modelo que é convidado a fazer um ensaio especial a pedido de um renomado fotógrafo da indústria da moda. Ele só não esperava que o tal fotógrafo fosse seu primeiro namorado do colegial, Sehun, que por um mal-entendido deu fim a um amor que tinha tudo para ser perfeito.
Classificação: 12 anos (contém algumas expressões de baixo calão).
Aviso: Nenhum.
Quantidade de palavras: 10.795
Nota do autor(a): Apesar da história se passar em Seul, na Coreia, não sou muito segura no uso dos termos de tratamento, então por isso eles estão ausentes nessa história. Acho que talvez o final pareça meio apressado, mas é porque não quis arrastar por muito tempo, para não ficar maior ainda. Segui a indicação do plot, mas alterei algumas coisas que achei que fariam mais sentido na história que imaginei, e espero que fique bom da mesma maneira! O título vem da música "Hello" da BoA. Boa leitura! :)
Enquanto a chuva caía torrencialmente no lado de fora do edifício Gangnam, o dia de trabalho dentro do pequeno estúdio de Sehun estava sendo relativamente calmo, como todos os outros.
Sehun havia terminado um photoshoot pela manhã (um casamento civil realizado em um cartório próximo) e naquele momento estava lidando com algumas revelações de fotografias de um evento da semana anterior. Ele gostava de realizar seu trabalho com calma, fechado em sua própria sala, ouvindo sua playlist de músicas relaxantes, e observando o resultado de seu trabalho; este, em questão, que ele havia executado com a ajuda de seu xodó (sua câmera fotográfica, Chibi).
Seu próprio estúdio (dentro de um local maior que também continha os estúdios de outros fotógrafos) era espaçoso e tinha um ambiente que lhe agradava muito. Sehun e Yoongi foram os primeiros a fazer parte do estúdio IBEX, já que Taeyeon abriu a empresa e decidiu que os dois seriam seus ajudantes no negócio. Para falar a verdade, o trio já se interessava desde muito tempo em tal assunto. Junmyeon (que já era amigo antigo de Sehun) e Taehyung chegaram um pouco mais tarde, quando o negócio já havia crescido bastante e necessitava de uma equipe maior.
Sehun estava finalizando alguns detalhes nas edições em seu computador, preocupando-se em destacar ao máximo as partes que os clientes haviam pedido. Ele havia gostado muito da maneira que o casal (e até alguns membros da família) havia posado para suas fotos. Grande parte deles parecia genuinamente feliz, e ele admirava tais coisas nos casamentos em que participava. Muitas vezes ele sentia que alguns não pareciam estar realmente no que era para ser o ‘dia mais feliz de suas vidas’.
Não demorou muito para que o trabalho inicial acabasse e Sehun salvasse as alterações necessárias, decidindo esperar a reunião com sua chefa para então depois retornar à suas atividades.
Todos da equipe já estavam presentes na sala de reuniões, sentados em um círculo na grande mesa central daquela sala. Sehun sempre pensava que aquele lugar parecia como nos filmes, com aquelas grandes janelas e a mesa enorme. Ao lado de Taeyeon, porém, havia duas outras pessoas que Sehun não conhecia. Logo que a reunião começou, ele ficou sabendo de quem se tratavam quando estes foram apresentados: eram Kim Jisoo e Lee Taemin, representantes de moda da Versace e de alguns de seus modelos.
Os fotógrafos também foram apresentados de maneira rápida, para que pudessem seguir com a reunião e a programação daquele encontro.
— Bem, apresentações feitas, queria agradecer a presença de todos e a oportunidade de ter representantes de uma marca tão importante quanto a Versace aqui no nosso estúdio — Taeyeon retornou a falar, sorrindo levemente para os ‘visitantes’ e para sua equipe.
Sehun assentiu para Taeyeon, mesmo que ela estivesse focada totalmente em seu discurso e não estivesse prestando muita atenção nele, que sentava nos últimos lugares da mesa.
— Surgiu uma proposta de parceria entre a IBEX e a Versace em relação às fotografias dos modelos da marca nas campanhas de Outono/Inverno, Primavera/Verão durante alguns meses. Aqui — ela colocou a mão sobre uma pasta, que continha algumas páginas — está o planejamento inicial, o qual pode mudar, e vou passar para vocês darem uma olhada... — Agora, passo a palavra para um dos representantes da nossa futura parceria...
— Oi pessoal, sou Lee Taemin e queria dizer que ouvi coisas muito interessantes sobre a empresa de vocês, e posso garantir que esta parceria será muito produtiva — o rapaz sorriu, e Sehun tinha a sensação de que ele era uma pessoa muito agradável. — Neste arquivo temos algumas das coleções que serão fotografadas, assim como alguns modelos. A reunião de hoje é mais para acertar detalhes sobre o período de tempo de trabalho, assim como a disponibilidade dos fotógrafos, já que sabemos que vocês têm suas atividades individuais e não podem largar tudo para trabalhar apenas para nossa marca — ele deu um pequeno riso, e algumas pessoas da sala o acompanharam.
Sehun observou atentamente alguns outros detalhes adicionados por Lee Taemin e também por Kim Jisoo, já que ela era uma das responsáveis pela mídia e marketing da marca, e explicava mais detalhes sobre questões de propaganda e de como a parceria traria benefícios para as duas partes envolvidas. O contrato estava sendo discutido, e volta e meia ele recebia sugestões de seus colegas e também oferecia algo com que pudesse trabalhar no futuro. O negócio parecia realmente favorável para todos os que participariam.
A pasta com as informações da marca e dos modelos estava passando por cada um dos fotógrafos da equipe, e quando chegou a Sehun, ele se desligou um momento da reunião e observou atentamente os detalhes dos documentos, pelo menos o máximo que conseguiria lendo por cima. Eles teriam tempo para ler o contrato novamente mais tarde e ajustar as negociações depois daquela reunião, então ele não estava tão preocupado em ler tudo e entender tudo já naquele instante.
Quando chegou às fotografias da coleção, Sehun se sentiu muito satisfeito com as peças de roupa que aparentemente fariam parte dos ensaios fotográficos. No fundo, ele ainda era muito interessado em questões de moda e em como roupas poderiam transformar uma pessoa totalmente. Ele possuía uma ou outra roupa de marca que costumava utilizar nos eventos em que ia, e, quando mais novo, ele era um seguidor de eventos das marcas que gostava.
Folheando mais algumas páginas, Sehun percebeu que alguns modelos utilizavam peças de roupas simplificadas, o que talvez significasse que tais roupas não faziam parte da coleção da famosa marca. Sehun não estava prestando muita atenção nas pessoas que vestiam os acessórios; ele estava mais preocupado em reparar nas fotos em si, tentando se guiar para quando fosse sua vez de tirá-las. Os rostos passavam tão despercebidos que Sehun somente percebeu que conhecia um dos modelos por ver seu nome escrito no canto da página.
Kim Kai.
Sehun reparou no nome mais uma vez, para ver se não havia confundido, e teve a confirmação de que estava certo quando viu a fotografia da pessoa em questão. Ele respirou fundo – o mais discretamente possível visto que ainda estava no meio da reunião – tendo dificuldades para acreditar na pessoa que estava vendo naquelas fotos. Alguém que ele teria que rever, depois de tantos anos sem saber muitas notícias sobre o rapaz...
(Alguns anos antes, quando Sehun e Jongin tinham 16 anos)
Sehun estava deitado de costas em sua cama, mexendo em seu celular e checando suas redes sociais. Jongin também estava em sua casa, mas ao contrário de Sehun (que vivia encostado em algum lugar ou outro, por ser um pouco sedentário), ele estava em pé, de frente ao espelho.
Jongin amava dançar e, além disso, vivia fazendo planos para quando já tivesse se formado no Ensino Médio e fosse escolher uma profissão no futuro. Ou ele seria dançarino ou, contando com a sorte e com a beleza que ele sabia que tinha, seria modelo desses de passarela ou simplesmente modelo de roupas.
Os dois rapazes eram opostos em alguns detalhes, mas muito parecidos em outros, como no fato de Sehun também gostar de dança (e até aprender um estilo de break dance) e de ambos terem ideias sobre o que tentar no futuro, mesmo que ainda fossem bem jovens e desfrutassem de um bom tempo para terminar a escola.
Pensando em futuro, Sehun olhou para sua câmera digital, que estava em cima da cômoda perto da porta. Ele tinha vontade de registrar aquele momento, de estar com Jongin e vê-lo sorrindo bobamente para o espelho, porém a preguiça de levantar o atrapalhava em cumprir sua própria vontade.
— Jonginie, quando você parar de se exibir no espelho, pode trazer minha câmera junto? — Sehun decidiu pedir provocando o mais velho (só um pouco!), vendo que o rapaz já estava até sussurrando consigo mesmo. Ele teria que sacrificar a pose de Jongin (pois queria tirar fotos dele em frente ao espelho), mas ainda assim sabia que as fotos de seu namorado ficariam boas.
Jongin fez uma careta para Sehun, mas não demorou muito para se dirigir até a cômoda e pegar o objeto, antes de se jogar ao lado de Sehun na cama também deitando de costas, e lhe entregando a máquina digital.
O mais novo começou a acessar a galeria de fotos de sua câmera, tentando desviar a atenção de Jongin que estava nele, para poder tirar uma foto dele desprevenido. Jongin saberia que ele tirou a foto depois, claramente, mas Sehun gostava dos elementos de surpresa e naturalidade que saíam nas imagens – e Jongin também, mesmo que não admitisse.
— Pra sua informação, eu não 'tava me exibindo no espelho — Jongin falou depois de um tempo. — 'Tava pensando naqueles testes de modelo que vou fazer mês que vem e refletindo o assunto...
Sehun virou seu rosto para o lado, observando Jongin. O outro rapaz estava olhando para o teto, ainda parecendo perdido em seus pensamentos.
— Jongin deitou numa cama refletindo sobre a existência — Sehun brincou, nunca cansando de refazer a mesma piada com o filme quando alguma pessoa dava uma brecha.
Jongin nem se deu ao trabalho de responder àquilo; simplesmente virou o rosto para Sehun e revirou os olhos levemente.
— Se eu for um modelo de sucesso, estava pensando em usar um nome artístico ao invés do meu próprio nome...
— Hummm — Sehun lentamente mexeu com sua câmera com uma mão, enquanto a outra segurou na mão de Jongin. — E o que você concluiu com isso? Conseguiu pensar em algum nome?
Seu namorado se virou por completo na cama, deitando-se de lado e apoiando sua cabeça em uma das mãos, e deu um suspiro breve.
— Pensei em algo como ‘Kai’ ou ‘Kim Kai’.
— Kai? De onde você tirou isso de ‘Kai’?
— Minha prima pequena me chama assim, não sei porquê. Mas eu gostei e parece bem diferente do meu nome comum. Ia ser legal poder usar um nome desses sendo famoso — Jongin deu de ombros.
Sehun arqueou as sobrancelhas. Somente Jongin poderia pensar em uma coisa dessas...
— Aí no futuro você terá que explicar porque escolheu esse nome e vai dizer que foi por causa da sua prima pronunciando o seu nome real errado? — Ele perguntou, desafiando o mais velho.
— Sim — Jongin confirmou, sorrindo brevemente. — A Chae vai ficar orgulhosa disso, porque eu vou fazer questão de contar pra ela o motivo quando ela tiver idade pra entender — ele finalizou, dando um sorriso convencido.
Sehun assentiu para ele, entendendo e achando que seu namorado era realmente adorável. Ele aproveitou o momento que tanto queria e tirou uma foto de Jongin, mesmo que ele não estivesse tão distraído assim. Seu namorado saiu sorrindo na foto, e Sehun achou que talvez aquela fosse uma das fotos favoritas que ele tinha de Jongin (e olha que ele já havia tirado muitas delas, desde quando os dois ainda eram apenas amigos).
— Agora eu tenho a primeira foto oficial de Kim Kai... — Sehun se gabou, assim que examinou a imagem na tela da câmera e mostrou para Jongin. — Será que se eu vendê-la no futuro, depois que você for famoso, consigo uma boa grana?
Jongin revirou os olhos mais uma vez (honestamente, ele já deveria estar acostumado com as bobagens de Sehun!) e balançou a cabeça em negação, optando por se aproximar de Sehun, largando sua mão para se ajeitar na posição que queria, e se aconchegar a ele.
— Se eu for famoso — Jongin corrigiu, e Sehun ouviu um pouco da insegurança que o outro rapaz tinha com a questão da carreira de modelo. — Você tem centenas de fotos minhas e vai poder ficar rico se alguém quiser comprar qualquer coisa. Mas não aceito que você venda minhas fotos assim, porque na maioria delas eu pareço um bobão só porque estou com você.
Sehun largou sua câmera de lado, colocando-a sobre o criado mudo, e se aproximou mais de Jongin, oferecendo seu peito como travesseiro para o mais velho, envolvendo-o em seus braços, apesar do moreno ainda ser um pouco mais alto do que ele.
— Tudo bem — Sehun fingiu dar um longo suspiro de indignação — Acho que terei que ficar pobre e sem divulgar nenhuma das suas fotos mesmo...
Jongin deu um beliscão em Sehun, provavelmente percebendo que o namorado só estava querendo lhe encher a paciência – o que era um hobby de Sehun, possivelmente. O mais velho bocejou, e antes que pudesse falar coisa alguma, Sehun refletiu que seria uma ótima ideia que os dois pudessem tirar um cochilo.
Olhando para o topo da cabeça de Jongin, que já estava respirando suavemente sobre seu peito, Sehun concluiu que talvez Kim Kai fosse um nome que realmente caísse bem no maior. Ele mal podia esperar para ver o nome dele (fosse esse mesmo ou outro) espalhado por outdoors e revistas famosas. Jongin merecia o mundo.
(Presente)
Sehun sentira uma dor de cabeça incômoda desde a hora em que saíra do estúdio, embaixo de chuva, até chegar em casa, e só relaxou assim que conseguiu tomar um remédio e um bom banho.
Ele queria se distrair, mas desde que a reunião havia terminado – e que os detalhes para o contrato haviam sido revisados e seriam confirmados – Sehun teve dificuldade em manter o foco na questão profissional de tudo. Só de pensar que em pouco tempo ele iria rever Jongin, dessa vez apenas como alguém com quem trabalharia junto, era fato suficiente para deixá-lo nervoso.
Chanyeol, seu irmão mais velho, ainda tinha contato com Jongin já que morara até alguns meses atrás em Jungnang e por isso sabia da vida das pessoas de lá. Sehun... Bem... Sehun não perguntava sobre Jongin desde o incidente (que definiu a vida dos dois até aquele momento), mas sabia que o outro rapaz havia seguido o sonho e a vontade de ser modelo.
Sehun só não esperava que tivesse que vê-lo em ação, literalmente, pois era bem provável que fosse o futuro fotógrafo de Jongin assim que o contrato com a Versace começasse a valer. Teria que fotografar Kim Kai, e não Jongin. Sehun não sabia como se sentiria sobre isso... Ele teria que viver na pele, já que somente pensar naquilo o deixava ansioso com a situação.
(Chanyeol não ajudou em nada quando simplesmente deu uns tapas leves no ombro de Sehun, dizendo “sinto muito, maninho” e foi para o seu quarto, provavelmente para estudar para as aulas que daria no outro dia)
O futuro parecia querer pregar uma peça em Sehun, talvez se vingando pelo rapaz ter tentado prever tudo quando era adolescente e sem muita noção sobre as coisas.
~~~
Depois de ajustados todos os detalhes referentes à duração do contrato e de como os fotógrafos trabalhariam (nos períodos determinados), Sehun temia o momento em que reencontraria Jongin. Não sabia qual seria a reação do outro rapaz ao vê-lo depois de tanto tempo, ainda mais sabendo que o contrato teria duração de alguns meses; período esse em que os dois teriam que conviver com frequência, de certa forma.
Chanyeol não havia sido de muita ajuda quando Sehun teve seu pequeno surto sobre trabalhar com Jongin depois de sete anos sem vê-lo, então ele só pôde contar com Joohyun para pedir conselhos e desabafar. Sua amiga disse que ainda estava em outra cidade, mas se ele estivesse muito desesperado voltaria para conversarem sobre aquilo pessoalmente; ela ofereceu também as redes sociais para o conforto de Sehun. Era incrível como Joohyun era realmente a melhor pessoa do Universo.
Parecia dramático, mas Sehun já tentava se preparar psicologicamente para encarar novamente Jongin, principalmente numa situação em que ele dificilmente teria tempo para conversar casualmente com o mais velho.
Não era de agora que Sehun pensava que um dia talvez tivesse que esclarecer as coisas com Jongin – até porque alguns membros de sua família ainda consideravam Jongin como parte dela. Ele só esperava que pudesse fazer isso de forma natural (se é que havia maneira natural de se desculpar com um ex por ter sido ridículo e ter terminado com ele por motivos idiotas).
Porém, anos haviam se passado e Sehun gostaria de acreditar que havia mudado muito em relação aos sentimentos de antes, por mais que entendesse as razões do seu eu adolescente (mas achava ele um babaca, pensando nisso atualmente). Ele temia o reencontro, talvez mais pelos sentimentos e lembranças que trariam, do que por medo de rever Jongin.
Sehun só não achava que o reencontro dele com Jongin aconteceria da pior maneira possível (okay, talvez ele estivesse sendo um pouco dramático agora), bem antes do previsto e quando ele estava totalmente desprevenido na sala ‘de estar’ do estúdio, o lugar onde todos os fotógrafos se reuniam em intervalos, ou até para conversar quando tinham tempo livre.
O movimento no estúdio estava aparentemente normal. Cada pessoa da equipe estava ocupada com suas tarefas e Taeyeon estava ausente, resolvendo questões administrativas e coisas pessoais. A equipe estava tranquila, ainda mais depois do contrato com a Versace, já que isso significaria um investimento maior na empresa e também reconhecimento para o estúdio e seus fotógrafos.
(Na verdade, ninguém tinha um ex que era modelo da Versace, até onde Sehun sabia, então não haveria porque alguém se sentir receoso ou irritado com a parceria. Yoongi e Junmyeon agiram de forma madura sobre a notícia – comentando sobre as responsabilidades que tinham e o que poderiam resolver com o dinheiro extra – enquanto Taehyung comentou que infelizmente não ficara totalmente contente, já que a marca não era Gucci. Basicamente, as reações foram dentro do esperado)
Sehun estava preparando uma torrada para comer no intervalo da tarde, quando percebeu um pouco de movimento pela entrada do estúdio e ouviu a voz de Taehyung falando qualquer coisa que ele não conseguiu entender.
Veja bem, Sehun não era uma pessoa muito curiosa, e ele geralmente deixava as pessoas bem confortáveis em sua presença, preferindo sempre ficar em seu canto, sem incomodar ou espiar os outros. Mas, naquele momento, ele não conseguiu evitar tentar enxergar quem eram as pessoas que estavam no estúdio àquela hora (talvez clientes? Mas eles geralmente não entravam naquela sala) e saber o motivo de tanta comoção.
Qual não foi sua surpresa ao perceber que um rosto muito parecido com uma certa foto de revista que ele havia visto há pouco tempo, e bem parecido com um rosto que ele conhecia muito bem na adolescência estava ao lado de Taehyung, junto a outras pessoas que estavam no estúdio também. Sehun voltou seu olhar rapidamente para a mesa de aperitivos e fingiu nem estar presente naquele momento.
A vontade de passar despercebido pelos visitantes foi tanta, que Sehun acabou se desesperando para agir normalmente e acabou derrubando um dos talheres no chão, causando um som alto no cômodo que já parecia mais silencioso.
Parabéns Oh Sehun!
Ele só teve tempo de coletar a faca do chão e colocá-la levemente sobre a mesa de canto, até que Taehyung se aproximou dele, chamando seu nome. Sehun fez uma careta para a cafeteira, respirando fundo e se preparando para enfrentar o seu destino.
(No fundo, Sehun ouvia a voz de Joohyun lhe chamando de dramático)
Sehun virou seu corpo para o outro lado, ficando de frente para Taehyung, Jongin (que estava mais afastado) e mais outro modelo que parecia muito jovem. A moça que provavelmente viera com eles parecia conversar com Junmyeon, um pouco longe dali.
Jongin... Jongin tinha seus cabelos castanhos ajeitados para baixo, e seu olhar mantinha uma seriedade que Sehun não imaginava ver dedicada para si mesmo. Ele estava tão diferente, tão adulto, e o fotógrafo percebeu que as fotos da revista não faziam justiça ao quão bonito ele era na vida real, e o quão familiar ele ainda parecia em alguns aspectos (Sehun teve pouco tempo para reparar nos detalhes que ainda lembrava).
— Sehun, três modelos da Versace vieram visitar o estúdio hoje! — Taehyung disse animado, juntando as mãos, provavelmente não percebendo o desconforto que Sehun estava sentindo. Ele nem teria porque imaginar o comportamento estranho do amigo, na verdade. — Esse aqui é o Jungkook — ele apontou para o rapaz de cabelos escuros que parecia bem jovem — e esse aqui é o Kim Kai — sorriu apontando na direção de Jongin, e ambos os modelos retribuíram o sorriso para ele. — Este é nosso fotógrafo, Oh Sehun...
Sehun tentou sorrir um pouco (torcendo para que seu sorriso não estivesse parecendo uma careta) e ofereceu a mão para os dois modelos, primeiro para o mais novo e depois para Jongin. O último o cumprimentou de maneira rápida e continuou com uma expressão fechada.
— É um prazer conhecer seu estúdio — Jungkook falou depois que as apresentações haviam sido encerradas. — Me interesso muito por fotografia e esse lugar é incrível! — o rapaz justificou, sorrindo tanto para Sehun quanto para Taehyung.
— Ah, obrigado...?! — Sehun respondeu um pouco envergonhado. Ele realmente gostava de trabalhar ali, porque além da estrutura boa que eles tinham, o pessoal era profissional e muito companheiro. Ele sentia que podia considerar todos como amigos de certa forma. — Espero que vocês gostem do nosso trabalho. Fico contente que você já se sinta confortável por aqui... — ele sorriu, pensando no quanto o outro rapaz parecia gentil.
Jongin continuou em silêncio, apenas observando a interação que os outros tinham em sua frente. Depois daquela breve troca de elogios, Taehyung voltou a comentar sobre outras coisas, já que ele costumava ter facilidade em ser extrovertido.
— Lá — Taehyung apontou para a mulher que estava com Junmyeon – o nome dela é BoAh, e ela também é uma das modelos da Versace, mas acho que ela criou uma amizade instantânea com o Junmyeon, então a apresentação fica pra outra hora — ele riu um pouco, o que foi suficiente para quebrar o gelo.
Os quatro rapazes trocaram algumas conversas – Sehun procurou participar, mas evitou ao máximo encarar o seu ex – e foi realmente agradável, tirando o fato de que Jongin parecia matá-lo com o olhar toda vez que seus olhos se encontravam. Logo, os modelos se despediram, avisando que talvez seus colegas também decidissem aparecer por lá para conhecer o estúdio e a equipe.
Sehun não se preocupou nem um pouco. Ele já teve que rever Jongin sem nenhum aviso prévio. Não era como se tivesse algum outro ex cujo coração tivesse partido na adolescência.
Depois daquele encontro, Sehun voltou para seu próprio estúdio, decidindo por ajeitar algumas das pastas dos eventos daquela semana. Ele se perdeu um pouco no que fazia ao se lembrar de Jongin naquela tarde, como ele ainda tinha o mesmo sorriso (daquela vez, direcionado a Taehyung), mas parecia ao mesmo tempo uma pessoa totalmente diferente da qual Sehun conhecera um dia.
O fotógrafo não sabia muito bem como se sentir com essa revelação sobre alguém que ele costumava conhecer tão bem, e tampouco como se sentir em relação ao reencontro com Jongin.
~~~
Quando o trabalho começou efetivamente, Sehun se preocupou em focar somente no seu profissionalismo e tentar esquecer que Jongin estava no estúdio ao lado – literalmente. Algumas sessões estavam marcadas para o mesmo horário e Sehun teve a sorte de ter uma sessão fotográfica com a modelo Sunmi no mesmo período em que Taehyung tiraria fotos de Jongin.
O rapaz teve a ajuda de Seulgi na sessão de fotos, já que ela era uma das acionistas da empresa e gostava de participar dos photoshoots, fornecendo instruções para o design que a revista procurava, além de outras informações que poderiam ser relevantes. Sehun considerou que se saiu bem, e que tudo havia dado certo, até porque Sunmi e ele haviam se dado bem e trabalhado em harmonia durante todo o tempo.
(Fora que Sunmi era realmente linda e não parecia ter sequer um ângulo ruim, o que facilitou bastante o trabalho de Sehun, já que apesar de tirar fotos das roupas e de todas as combinações escolhidas para a modelo, ele também focou na beleza da garota, a qual sempre se sobressaía nos looks)
Por mais que tivesse conseguido se sair bem com sua própria sessão de fotos, o nervosismo se fez presente novamente assim que Sehun terminou sua parte e ficou sozinho, já que Taehyung ainda estava no estúdio ao lado trabalhando com Jongin.
O fotógrafo se distraiu com seus próprios afazeres e tentou ao máximo ignorar a presença de Jongin no local, mas não teve muito sucesso nessa tarefa, pois se distraiu com uma risada alta que ouviu do outro lado do estúdio quando estava no salão comum próximo à cafeteria.
Por curiosidade, ele olhou para a direção onde seu colega geralmente ficava depois das sessões de fotos, e reparou que ele e Jongin estavam numa conversa animada, pois ambos sorriam e davam risadas durante a conversação.
Bastou uma troca de olhares entre Sehun e Jongin (quando o mais velho percebeu que estava sendo observado) para que o mesmo adquirisse uma expressão mais séria e voltasse seu olhar para Taehyung, dessa vez assentindo para o rapaz com uma expressão mais sóbria.
Sehun abaixou sua cabeça, voltando a olhar para seu copo de café e sentindo-se bobo por ter sido pego olhando para o outro. Ele provavelmente deveria parar de ficar olhando de longe para o rapaz, e tentar conversar como um adulto, talvez até falar com Jongin sobre o passado dos dois, o qual no momento parecia ainda mais não resolvido do que antes.
Não era como se Sehun tivesse planejado ter feito o que fizera com Jongin (mesmo sendo adolescente, ele tinha certeza de seus sentimentos pelo outro), mas ele também não esperava que um dia tivesse que enfrentar a situação tão diretamente. Sim, ele pensava na possibilidade de talvez um dia reencontrar Jongin (ainda mais por saber que Chanyeol e possivelmente o resto de sua família em Jingnang mantinham laços com ele), mas não queria que fosse da maneira que acontecia agora.
De certa forma, Sehun já havia se acostumado com a ausência de Jongin em sua vida. Mesmo amadurecendo e percebendo que havia magoado o mais velho, não era como se ele pudesse reaparecer na vida de Jongin para se desculpar com um “ei Jongin, eu fui um babaca, mas juro que eu gostava de você de verdade, eu só fui bem burro”.
(Tudo bem, ele poderia ter se esforçado para manter contato e aí não teria feito tudo o que fizera... Entretanto, a tragédia já estava feita e agora ele teria que arcar com as consequências da imaturidade que teve quando decidiu terminar com Jongin da forma que terminara: por achar que era melhor acabar com seu namoro antes que fosse abandonado/trocado por um trabalho distante do mais velho)
Os trabalhos individuais que não envolviam o contrato com a Versace serviram para distrair um pouco Sehun do problema que ele tinha em seu estúdio, além de servir como inspiração para outros trabalhos, já que ele sempre gostava de repensar suas técnicas e trabalhar para melhorá-las cada vez mais.
Depois de algumas conversas com Chanyeol, Joohyun e até mesmo com Junmyeon (que sabia dar conselhos e coisas do tipo, por mais perdido na vida que parecesse às vezes), Sehun conseguiu decidir que arrumaria um jeito de contar toda a verdade a Jongin... Contar o motivo da “burrice que havia feito” (como seu irmão dizia), e pedir perdão pelas coisas que falara.
O problema foi que, por mais preparado que ele estivesse para discutir o assunto, Sehun desejaria ter mais tempo até enfrentar o mais velho, e não ser jogado na frente dele logo na segunda sessão de fotos que faria com os modelos da Versace. Sim... Ele seria o próximo a tirar fotos de Jongin – e ainda por cima para a Coleção de Inverno!
Sehun iria sofrer muito... Ele já estava prevendo isso.
No dia da sessão de fotos em questão, Sehun estava nervoso por ter que trabalhar com Jongin, o qual parecera não ter gostado muito da ideia de ter que seguir suas instruções.
O ambiente entre os dois não estava muito amigável, e Sehun agradecia por naquele dia Junmyeon ficar como ajudante no ensaio – já que seu amigo sabia da história e não o encheria de perguntas depois. Nem todo mundo entenderia o porquê do modelo da Versace não ir com a cara de um dos fotógrafos da IBEX.
A tensão entre os dois (e não o bom tipo de tensão, Sehun gostaria de adicionar) chegou a um ponto onde os dois discutiram por coisas absurdas (“Você não ‘tá segurando essa câmera errado?” “Segurando como? Com as minhas mãos?”) e Junmyeon teve que interromper a sessão para que os dois parassem de se encarar e discutir feito crianças.
(E a situação parecia realmente infantil, porque Sehun não se lembrava de querer brigar ainda mais com Jongin. Ele só queria que os dois pudessem conviver civilizadamente até ele explicar o que havia feito. O mais velho nem precisaria aceitar as desculpas, só bastava ouvi-lo e compreender suas razões!)
A ideia de Junmyeon consistia que ambos saíssem para um intervalo, já que teriam tempo de voltar à tarde e terminar a sessão de fotos com tranquilidade. Ele disse que os dois precisavam treinar a cordialidade antes de tentar continuar com as fotos – do contrário alguém acabaria arremessando algo na outra pessoa. Aquilo parecia muito um sermão de mãe, e Sehun riria da surpresa de Jongin se não estivesse se sentindo um pouco ofendido também.
Não que Junmyeon estivesse errado em chamar a atenção dos dois, mas ainda assim...
Sehun revirou os olhos para seu amigo, mas convidou Jongin para uma conversa, nem que fosse para tratar especificamente do problema que havia com o tratamento entre eles. Jongin aceitou até com facilidade, e ambos foram de carro (no automóvel de Sehun) até uma pequena cafeteria que havia perto do estúdio.
Depois de fazerem seus pedidos – coisas leves, pois ambos sabiam que havia aperitivos no estúdio caso quisessem algo a mais – os dois rapazes sentaram-se a uma das mesas ao fundo.
— Jongin... — Sehun murmurou, tentando pensar em como começar a conversa.
Jongin simplesmente arqueou suas sobrancelhas enquanto tomava um gole de seu cappuccino.
Sehun suspirou. O modelo ainda não havia falado o seu nome desde que se reencontraram, e por algum motivo isso o incomodava muito.
— Me desculpe Jongin — ele voltou a falar, tentando pensar nas palavras que poderia dizer para que o outro não o odiasse repentinamente (mais do que já o fazia). — Eu não esperava que a gente tivesse que se reencontrar nessa situação, e eu não soube o que fazer quando te vi no estúdio depois de tanto tempo...
O outro rapaz continuou em silêncio, apenas observando Sehun ou, às vezes, olhando para baixo, para a mesa.
— Sei que faz anos que a nossa história acabou, mas eu não me esqueci do que te fiz e sei muito bem a minha culpa em tudo aquilo que falei e te magoou...
Jongin soltou um riso amargo.
— Hum... Só que isso não foi o suficiente pra você me procurar antes e pedir desculpas — Jongin declarou, erguendo a sobrancelha. — Mas agora como temos que trabalhar juntos, você se sente obrigado a isso, não é? — perguntou, e em seu tom havia um desafio e possivelmente, mais mágoa ainda de Sehun.
— Não — Sehun balançou a cabeça, tentando fazer com que o outro compreendesse que ele estava sendo honesto. — Eu já vinha pensando nisso faz muito tempo, mas não era algo que eu sabia como fazer, ou nem sabia se podia fazer. Eu não podia chegar do nada na sua vida, depois de anos, e dizer “poxa Jongin, desculpe por ter dito que nosso relacionamento não foi nada... Na verdade eu ‘tava mentindo por covardia” depois de você ter ajeitado sua vida muito bem sem mim...
— Você queria que eu tivesse esperado por você pra ajeitar a minha vida, Sehun?
— Você sabe que não foi isso o que eu quis dizer — Sehun esfregou o rosto, tentando colocar as palavras no lugar. — O Chanyeol ainda fala com você. Cara, a minha mãe fala com você e eu sei muito bem que ela ainda deve te tratar como filho. Fui eu que me afastei, e eu não sabia como tentar contato de novo, ok? Eu não podia chegar à sua vida depois de anos, como se nada tivesse acontecido, querendo me desculpar por uma merda que eu fiz quando adolescente.
— Você não podia me procurar, mas eu podia passar anos da minha vida me perguntando o que eu tinha feito de errado para o garoto que eu amava ter me chutado para escanteio, né? — Jongin ficou sério, mas logo desviou o olhar para o lado.
— Me desculpa — Sehun repetiu, tentando ser convicto. Ele sabia que palavras muitas vezes não significavam nada, mas ele queria que Jongin sentisse a verdade no arrependimento que ele queria demonstrar. Ele tentaria uma tática diferente, por fim. — Jongin... Você tinha sido aceito naquela agência de modelos que queria... Você se lembra?
O outro sussurrou uma confirmação, ainda decidindo não olhar para Sehun.
— Eu ainda ‘tava tentando entrar na Universidade de Seul, mas você já tinha sido aceito e era só viajar para começar os treinamentos e tudo mais. Eu era um atraso pra você.
— Você era meu namorado, que devia me apoiar quando viu que eu ia realizar um sonho... — Jongin finalmente encarou Sehun. — O que você não devia ter feito era dizer que a gente deveria terminar, porque “éramos muito jovens e o nosso namoro nem iria pra frente mesmo” — ele parafraseou com um tom irritado. — Você insinuou que o nosso namoro (de anos) e a amizade que a gente tinha não valeriam de nada se a gente ficasse longe um do outro Sehun.
— Eu sei que isso foi idiota e—
— Idiota é pouco...
— Mas eu tava com medo, ok? Eu não queria te prender comigo, Jongin. O que eu poderia te oferecer dali algum tempo? Você seria um modelo ou até mesmo conseguiria a carreira de dançarino que queria, e eu ficaria lá, sendo aquilo que te prendia à Jingnang.
— Sehun—
— E eu sei que a gente se amava, okay? Mas eu não era o mais inteligente naquela época, muito menos uma pessoa tranquila que sabia esperar as coisas acontecerem pra depois sofrer...
Jongin ficou em silêncio novamente, suspirando alto, mas ainda assim olhando para frente. Sehun percebia que pelo menos a resistência do outro havia diminuído um pouco em relação ao que ele tinha para falar.
— Você podia ter falado comigo ou com o Chanyeol sobre isso — Jongin por fim voltou a falar.
— Eu sei.
— Você me magoou muito Sehun.
— Eu sei — ele abaixou a cabeça, sentindo novamente o embaraço que sempre sentia ao pensar que havia machucado a única pessoa de quem realmente havia gostado. — E eu quero te pedir desculpas por isso, de verdade Jongin. Eu nunca quis fazer mal a você, por mais canalha que eu tenha sido naquele dia — ele olhou diretamente nos olhos de Jongin. — E eu não ‘tô pedindo pra você me aceitar como amigo de novo, ou pra você esquecer, mas só... Vamos trabalhar juntos, certo? Queria que nenhum de nós tivesse que brigar ou se sentir mal por estar no mesmo ambiente...
Jongin respirou fundo, dessa vez demorando um pouco mais para voltar a falar.
Sehun agradecia que seu café havia sido entregue muito quente, do contrário ele não estaria morno, ainda mais depois do tanto de coisas que ele havia falado até aquele momento.
— Tudo bem — Jongin disse, depois de terminar de comer o pequeno pedaço de doce que havia pedido. — Pelo menos por hoje, eu vou parar de implicar com você. Considere isso uma trégua, porque vamos ter uma sessão de fotos e somos profissionais, então brigas iguais às que aconteceram há pouco não podem mais acontecer. Okay?
— Por mim, tudo ótimo — Sehun respondeu; agradecido — Obrigado, Jongin. Eu fico muito aliviado por você ter aceitado me ouvir e ter concordado com isso tudo...
Jongin deu de ombros, e Sehun podia jurar que viu um princípio de sorriso querer aparecer em seu rosto – porém talvez fosse ilusão de sua mente que queria algo a mais do que o olhar sério que o rapaz vinha lhe oferecendo desde a primeira vez que se reencontraram.
— Vamos voltar então? — Jongin ofereceu, jogando na lixeira um dos pacotes que estava na mesa e levantando-se.
Sehun assentiu e também se levantou, seguindo Jongin até fora da cafeteria, já que o mesmo havia feito o pagamento e tudo o mais.
A ida para o estúdio foi mais leve, e Sehun até arriscou puxar assunto com Jongin, pois ele estava mais receptivo a responder sobre as coisas do cotidiano. A tensão parecia ter sido espantada dali, e o fotógrafo ficara agradecido de que pelo menos a sessão de fotos poderia ser confortável para os dois.
Junmyeon também notou a diferença no “ar” que rodeava Jongin e Sehun (e até mesmo pediu para que seu amigo lhe contasse tudo mais tarde, claramente porque a ideia havia sido dele e ele era um gênio). Sehun balançou a mão, como se estivesse se desfazendo do que o outro rapaz dizia, e começou a segunda parte de seu trabalho, dessa vez contando com a colaboração de Jongin e conseguindo se concentrar nas fotos que teria que tirar e não nos problemas que os dois tinham entre si.
(O problema realmente foi o fato de que Sehun havia se esquecido de como era tirar fotos de Jongin, então ver o rapaz sorrindo ou fazendo poses foi o suficiente para mexer com o seu coração, porque ele era fraco. Agora que o problema com a comunicação dos dois havia sido resolvido – pelo menos por hora – Sehun tinha medo de arranjar um problema bem maior em relação a se acostumar com a presença de Jongin novamente em sua vida, ainda mais se o mais velho não parasse de ser uma visão de tirar o fôlego)
~~~
Tudo bem... Sehun pensara que tirar fotos de Jongin seria seu maior problema, mas na verdade ele se enganara completamente com tal ideia. Tirar as fotos não era nada em comparação a ver Jongin com tanta frequência no estúdio, já que quando o rapaz não estava participando das sessões, ele estava conversando voluntariamente com Sehun. Provavelmente porque não havia muita gente que ele conhecesse no local, mas ainda assim, ele escolhia Sehun.
A maior surpresa do fotógrafo, na verdade, foi perceber que o mais velho voltara a lhe olhar com uma expressão “normal”, sem encará-lo com frieza, o que era algo pelo qual Sehun era agradecido (mas ainda não entendia como merecia tal coisa).
(Talvez porque Jongin e ele tiveram mais algumas conversas sobre o assunto e ele sentia ter tirado um peso sobre as costas assim que terminou de contar sua história para o modelo, o qual dissera que tentaria entender a situação)
Sehun definitivamente evitou falar disso com Chanyeol, sabendo que seu irmão iria lhe provocar muito. Ele somente contou para o maior que Jongin e ele estavam tendo um relacionamento normal, de colegas, e que ele se sentia muito mais leve agora que sabia que Jongin não lhe odiava mais.
(No entanto, Sehun ligou para Joohyun para contar à amiga sobre as atualizações de sua vida – e para ouvir as dela também – e pedir conselhos de como ser um bom amigo para o ex que o havia perdoado mesmo depois de tudo)
Pouco mais de dois meses de parceria com a Versace e a situação parecia totalmente sobre controle – na medida do possível – e Sehun nunca poderia ter imaginado que voltaria a conversar com Jongin normalmente, e que os dois estivessem se dando bem, mais uma vez.
Uma das revistas com as primeiras coleções havia sido publicada, e Sehun a estava folheando, observando o seu trabalho e de seus colegas estampado naquelas páginas.
As fotos estavam espalhadas, independente de fotógrafo ou modelo, e Sehun admirava o bom trabalho que todos haviam feito. Não que ele não soubesse que todos eram excelentes profissionais, mas é que ver o trabalho pronto, sabendo que havia dado tudo certo (apesar de alguns imprevistos) era bem recompensador.
— Ficaram excelentes, não é?
Sehun olhou para o lado, para a direção de onde a voz tinha vindo, e se surpreendeu ao ver Jongin ao seu lado, com um sorriso no rosto. Ele ainda não estava acostumado a ver o outro parecendo confortável ao seu lado.
— Eu gostei muito, — Sehun assentiu, sorrindo levemente para Jongin. — A coleção também não é tão ruim assim — ele finalizou humorado.
Jongin deu um pequeno riso – Sehun talvez tenha sentido muita falta daquele som – e colocou a mão sobre a boca, provavelmente tentando evitar que suas risadas saíssem muito altas.
(O Jongin adolescente gargalhava com quase todo o seu corpo, mas sempre tentava esconder um pouco o som fazendo o mesmo gesto. Sehun nunca esquecera aquilo)
— Ah, eu gosto das roupas, mas essa coleção não foi uma das minhas favoritas — o mais velho comentou, voltando a olhar para as fotos. — Essa foto da Sunmi ficou muito boa...
— Obrigado — Sehun passou a mão por seu pescoço, se sentindo um pouco envergonhado ao ver que Jongin estava elogiando suas fotos. — Você se lembra da Joohyun? — perguntou, mesmo sabendo que o rapaz conhecia sua amiga da época em que eles ainda eram muito novos.
Talvez não fosse uma boa ideia tentar trazer coisas daquela época à tona, mas Sehun sentia que o passado dos dois, o todo, nunca poderia ser esquecido totalmente.
— Uhm, vagamente — Jongin respondeu, enrugando um pouco o nariz.
— Quando contei pra ela sobre as fotos com a Sunmi, ela disse que iria chorar, porque estava longe e não poderia vir ao estúdio pra tentar conhecer ela — Sehun disse; humorado. — Não sei como, mas ela é muito fã da Sunmi e me encheu o saco perguntando como ela era “na vida real”.
Jongin soltou outro riso, dessa vez um pouco mais alto do que o anterior, e Sehun sentia que estava ganhando na vida, voltando a presenciar tais cenas.
— O-kay, agora sim parece a Joohyun que eu lembro... — Ele brincou, voltando a olhar para Sehun e depois para a revista.
Os dois logo se distraíram com o resto das fotografias, enquanto o estúdio voltava a se encher de gente. A sorte era que havia várias edições da revista pelo salão, e Sehun poderia ficar olhando aquela com calma. E, apesar das diversas revistas que existiam, ainda assim Jongin continuou observando as fotografias e roupas ao seu lado, comentando com ele o que achava e ouvindo opiniões também.
Sehun não conseguia deixar de perceber a maneira como Jongin falava animado, ou como ele apontava questões de moda das quais entendia bem, e como ele elogiava os fotógrafos e inclusive as diversas fotos de Sehun que estavam na revista. Ele sentia que esses sentimentos, que estavam aparecendo aos poucos, eram preocupantes, principalmente porque ele sabia como era fácil gostar de Jongin e apreciá-lo apenas por estar por perto.
O mais incrível de tudo era que, mesmo depois de algumas conversas estranhas, eles voltaram a ter um relacionamento bom: uma amizade de novo. De um lado, era bem diferente daquela que tiveram quando jovens, mas de outro, era similar por ficarem confortáveis um ao lado do outro.
Durante um tempo, Sehun não ficou muito no estúdio; a não ser depois de alguma sessão quando fosse trabalhar com as fotos de seus clientes. Ocasionalmente ele recebia mensagens de Jongin no celular sobre coisas que estavam acontecendo, ou sobre fofocas que o rapaz havia descoberto sobre pessoas relacionadas a ele.
(Jongin foi quem pediu o número do fotógrafo, e essa era outra coisa que o mais novo demorara muito a acreditar que fosse realidade)
Em uma tarde aparentemente comum, Sehun chegou atrasado ao estúdio no qual começaria uma sessão de fotos com uma das modelos – HyunA, se sua memória não falhasse – então não teve muito tempo de conversar com seus colegas e nem mesmo ver se Jongin estava lá.
No entanto, ele não precisou esperar muito para perceber que o mais velho estava no local, pois visualizou o modelo assim que decidiu dar uma pausa com as fotos e ir buscar um pequeno e rápido aperitivo.
Jongin estava de saída, mas escutou Sehun entrando na sala, e logo foi até a direção alheia para se despedir.
(Sehun choraria muito em breve se Jongin não parasse de ser uma pessoa tão considerada)
— Sehunie! Achei que você não tivesse aparecido por aqui hoje! — Jongin começou a falar — Mas enfim, já ‘tô indo embora. A gente se fala outra hora ok? Bom trabalho!
Ele deu um pequeno abraço em Sehun e se dirigiu até a saída, deixando o mais novo um pouco paralisado devido ao contato repentino, fazendo-o ficar com as bochechas bastante quentes de vergonha.
Puta merda.
~~~
Talvez Sehun tivesse deixado a situação chegar exatamente onde ele não queria... Talvez ele estivesse interessado em Jongin (novamente)... Talvez ele quisesse ter coragem de pedir uma nova chance ao outro rapaz depois de todos esses meses de convívio, mas...
... Jongin ainda era um modelo. E ele ainda viajaria para longe para continuar fazendo seus trabalhos, principalmente depois do fim do contrato que estava se aproximando.
Sehun pensava em como seria namorar Jongin mais uma vez, poder ficar com o rapaz novamente, e ver de perto cada nova conquista dele, algo que fazia o seu coração disparar de vontade (e algumas vezes de medo também).
Ele não sabia o porquê de ter se deixado levar pelos sentimentos mais uma vez. Como pudera deixar o seu coração ser conquistado de novo por Jongin? Contudo, no fundo, ele achava que não era algo que pudesse controlar. Talvez aquele fosse o efeito que Jongin tivesse sobre si. Aparecendo em sua vida para fazer com que ele não conseguisse resistir e nem evitar se apaixonar novamente por alguém que já havia amado muito quando era mais novo.
Em meio ao desespero de não saber o que fazer naquela situação, ele pediu novamente socorro àqueles que conhecia e que podiam ajudá-lo em qualquer decisão: Joohyun e Chanyeol (e até Yixing e Kyungsoo entraram na história por estarem junto com Chanyeol na hora); Junmyeon às vezes tinha um conselho ou outro para dar também. Sehun explicou aos dois que ainda gostava de Jongin e queria ficar com ele mais uma vez, mas não sabia se tinha direito de ‘remexer’ com a história do passado ou até de tentar conquistar o mais velho novamente, sabendo que o mesmo teria que continuar viajando pelo mundo.
Chanyeol olhou para Sehun e disse que apoiava o irmão em tentar reconquistar Jongin, contanto que ele não aprontasse de novo, pois Jongin era da família, e Sehun não poderia magoar o rapaz mais uma vez. Fora a pequena ameaça corporal contra Sehun caso ele fosse idiota novamente, Chanyeol ofereceu ajuda caso ele precisasse de qualquer coisa e ainda lhe desejou boa sorte.
Sehun esperava que tivesse MUITA sorte.
Joohyun, que estava há milhares de quilômetros de distância, ouviu tudo o que o amigo tinha a falar, principalmente quando Sehun destacou o receio em tentar mais uma vez um relacionamento que não havia terminado bem com o homem por quem estava apaixonado. Sua amiga apenas suspirou algo como “homem bom é aquele com o qual a gente não se envolve”, mas por fim disse a Sehun que ele deveria tentar algo com Jongin, se ainda sentisse algo forte pelo mesmo. Segundo ela, os dois sempre pareciam muito apaixonadinhos, e talvez a vida tivesse dado outra chance para que eles pudessem aproveitar o amor agora que estavam mais velhos.
Sehun somente desejava que Jongin também acreditasse que a história dos dois merecia uma segunda chance.
Pensando logicamente no histórico das coisas, o fotógrafo acreditava que seu maior medo era enfrentar o fato de que Jongin continuaria “dando a volta ao mundo”; que eles teriam praticamente um relacionamento à distância e ele não sabia se poderia oferecer algo assim para o mais velho. Pelo menos, não sabia se podia lidar com isso, algo exatamente igual ao que ele tinha fugido quando mais novo.
Relacionamentos à distância com pessoas meio-famosas davam certo?
(A resposta para esta pergunta veio em forma de um tapa na cara de Sehun, quando ele descobriu que seu colega, Yoongi, tinha um noivo que viajava o mundo em apresentações de dança, e que raramente voltava para Seul. Aparentemente, os dois namoravam há muitos anos e Sehun ficou se sentindo um pouco amargurado ao perceber que uma história similar a sua estava dando certo para outra pessoa. Mas aquilo também lhe deu um pouco de esperança, pois talvez nem tudo estivesse perdido se ele decidisse confessar seus sentimentos a Jongin e pedir para eles reatarem novamente...)
~~~
Havia uma pequena celebração sendo realizada entre as pessoas do estúdio, alguns representantes da Versace e também os modelos que fizeram parte das sessões de fotos, meio que sendo um encerramento para as atividades da parceria de sucesso entre ambas as empresas.
As pessoas podiam trazer seus acompanhantes, se quisessem, e por isso o local parecia cheio de vida e com conversações ocorrendo nos diversos cantos e mesas do terraço de um dos prédios centrais de Seul, alugado para a confraternização. O local tinha janelas enormes que envolviam quase todo o local, salvo por algumas partes onde se localizavam sacadas que permitiam sair um pouco do ambiente fechado.
Sehun estava um pouco nervoso naquela noite, pois havia decidido falar com Jongin sobre as intenções de talvez namorar o rapaz, se ele quisesse, ou talvez apenas continuar nessa amizade (meio estranha) que eles estavam tendo. Ele havia tomado apenas um pouco de soju, já que não queria ficar embriagado, e sentia que a bebida havia lhe deixado mais desinibido e talvez até com mais coragem de conversar com o mais velho.
(Se ele fosse rejeitado, poderia voltar ao soju para esquecer as mágoas enquanto escutava alguma playlist de músicas tristes de doramas e coisas do tipo)
Não demorou muito até encontrar Jongin no meio do salão, conversando com um dos representantes que, se Sehun não estivesse enganado, se chamava Lee Taemin. Os dois pareciam se conhecer muito, e por mais que no fundo o fotógrafo sentisse uma pontada de ciúmes por ver Jongin se dando bem com outro cara tão profissional e resolvido na vida, ele sabia que não tinha direito algum de se sentir daquela maneira. Jongin era apenas seu amigo.
(Pelo menos até aquele momento Jongin era seu amigo. Deus sabe o que aconteceria com o relacionamento dos dois até o final daquela noite)
Sehun até que estava com sorte, já que nem precisou ir atrás de Jongin para chamar a atenção do outro: o modelo o viu de longe, e decidiu ir até ele de livre e espontânea vontade portando um sorriso no rosto.
(Ok, naquele momento ele já estava ficando um pouco mais nervoso. Sehun precisaria de outro copo de soju para o que estava disposto a fazer)
Jongin o cumprimentou como já havia fazendo nos últimos meses: com um pequeno aperto de mão e um tapa leve no braço, e Sehun não conseguia evitar o sorriso que seguia ao olhar para o rapaz e vê-lo parecendo se divertir.
— Uhm — Colocou a mão nos bolsos de seu casaco, nervosamente. — Você quer ir comigo até ali, perto da... sacada? — Sorriu levemente. — Ouvi falar que a vista é muito bonita daqui de cima…
— Claro — Jongin assentiu, aproximando-se do mais novo e o seguindo até o local indicado pelo mesmo.
A brisa estava fresca naquela noite e o céu bem estrelado, o que permitiu que o cenário para onde eles olhavam ficasse ainda mais bonito. Sehun estava encantado.
— É lindo, não é? — Disse, enquanto se apoiava sobre o pequeno muro que fazia parte da sacada e olhava para Seul, podendo ter uma visão de vários prédios e ruas embaixo.
Ele não era muito fã de altura, mas o local tinha muita segurança e não havia risco dele cair todos os andares abaixo apenas se apoiando sobre o murinho.
— Sim — Jongin suspirou baixo (mas Sehun ainda foi capaz de ouvir), ficando numa posição parecida com a dele e apenas um pouco longe de onde estava. Seus braços quase se encostavam. — Às vezes, fico muito tempo longe daqui e sinto falta do lugar. Da beleza simples da cidade… — Murmurou.
Sehun fez um som de entendimento, mas não poderia dizer muito sobre o assunto. Mais uma vez ele era lembrado de que Jongin ficava pouco em Seul, sempre indo trabalhar pelo mundo.
— Jongin...
— Sehun...
Os dois rapazes falaram os nomes um do outro ao mesmo tempo, e quando perceberam o acontecido riram, se olhando rapidamente depois de voltarem a ficar ‘normais’.
— Você primeiro… — Sehun ofereceu, apontando para Jongin.
Ele iria falar para Jongin sobre como se sentia, e aquilo poderia esperar. Primeiro ele queria ouvir o que o modelo tinha a lhe dizer.
— Tudo bem — Jongin sorriu brevemente antes de voltar a olhar para frente.
Sehun o imitou, apreciando a maneira como a lua brilhava forte no céu naquela noite.
— Bom, acho que semana que vem eu viajarei para a Austrália — o mais velho disse, entrelaçando seus próprios dedos como se estivesse nervoso.
(Sehun achava que ele fazia isso por tal motivo, por nervosismo, mas talvez estivesse desejando muito que o outro se sentisse assim)
— E eu sei que o contrato acabou e a gente meio que não se verá com frequência, ou não se verá no geral, e eu queria saber se você acha que podemos manter contato mesmo depois que tudo acabe? Quer dizer, quando eu estiver longe — Jongin mexeu em seu cabelo. — Se você achar possível, claro… — ele olhou para Sehun, por fim.
Sehun conseguiu apenas assentir, tentando tranquilizar Jongin com seu olhar, antes de poder dizer o que estava querendo.
Jongin queria continuar em contato com Sehun. Ele queria que os dois continuassem amigos. Mesmo que fosse do outro lado do mundo ou pelo menos em um fuso horário diferente.
Jesus.
— Eu—Claro, Jongin — Sehun respondeu depois de um tempo. — Eu quero muito continuar em contato com você, mesmo que você decida morar nos Estados Unidos ou coisa do tipo — ele assegurou. — Mas, por favor, não vá morar nos Estados Unidos — ele fez uma careta, e Jongin riu um pouco.
Jesus. Sehun estava mesmo apaixonado.
— Mas o que mesmo você iria me falar, Sehun? Quando eu te interrompi?
O ar havia ficado mais leve, mas Sehun sentia que suas mãos estavam tremendo e seu coração estava desesperado. Desde quando ele havia se tornado um adolescente apaixonado? Ou era aquele o efeito que Jongin sempre tinha nele?
— Bom… — Começou, virando-se totalmente para Jongin e tentando arrumar sua postura. A última coisa não deu muito certo, já que ele ficou meio encostado de lado no muro da sacada. — Eu queria mais uma vez pedir desculpas por tudo o que eu já te fiz, mesmo que tenha sido há anos…
— Sehun, eu já disse que te perdoei…
— Sim, eu sei, mas é que— Sehun respirou fundo, — ainda assim eu te machuquei, e sei que foi horrível da minha parte, porque fiz você sofrer por algum tempo. Eu também sofri, mas foi mais por idiotice minha mesmo. Perdão por não ter te procurado em seguida e dito que a culpa não era sua.
— Tudo bem Sehun. Já é passado…
Sehun assentiu, aproximando-se de Jongin a uma distância segura, não querendo deixar o outro desconfortável.
— Jongin… — Sehun voltou a falar, depois do passo dado a frente. — Os últimos meses foram muito importantes na minha vida. Eu consegui trabalhar com moda, que era algo que meu eu do passado teria sonhado, consegui conhecer pessoas incríveis, e alguns modelos que são exemplos no país todo, e voltei a falar com você, depois de anos me sentindo um babaca pelo que fiz contigo, — ele resumiu, mantendo o contato visual com o mais velho — Mas acho que a coisa mais marcante foi que eu não consegui deixar de me apaixonar por você, de novo… — confessou, percebendo que havia diminuído um pouco o volume de sua voz com a frase.
Ele percebeu que Jongin soltou uma arfada, arregalando um pouco os olhos em surpresa com sua revelação, mas nada muito drástico, o que o deixou mais aliviado, de certa forma.
— Sehun…
— Jongin, eu sei que não mereço mais nenhuma oportunidade depois de tudo que te fiz, mas eu queria dizer que, se houver alguma chance de você ainda sentir algo por mim, e querer ficar junto, eu estou disposto a tentar de novo… A ser melhor dessa vez, mais do que a primeira vez que eu não cuidei do que a gente tinha…
— Sehun, eu não sei. Eu… — Jongin parou de falar, olhando um pouco para o lado, desviando seu rosto do alheio.
— Jongin, você não precisa dizer sim ou até mesmo me responder agora… Eu só não queria que você fosse embora sem saber a maneira que me sinto. Por mais egoísta que isso seja, eu queria poder te falar a verdade, dizer como eu me sinto agora, já que talvez daqui pra frente seja difícil da gente se encontrar…
Jongin acenou positivamente com a cabeça, parecendo entender a intenção do fotógrafo.
Apesar de tudo, o mais novo não tinha receio de receber o ódio de Jongin. Rejeição? Sim. Mas o outro não o magoaria propositalmente.
— Sehun — Jongin disse seu nome, desta vez olhando para ele com algum tipo de emoção nos olhos, a qual o maior não conseguia identificar. — Eu sinto alguma coisa por você também — ele confessou, abaixando a cabeça logo depois. — Eu só acho que preciso pensar sobre sua sugestão, ainda mais que logo eu vou embora, de novo, e isso foi o que nos separou da primeira vez, não é?
Sehun concordou, percebendo a hesitação do outro e a razão dele em tê-la. Ele havia mesmo terminado as coisas da maneira que havia por não acreditar que Jongin e ele poderiam se amar estando tão longe um do outro, mesmo que na época não tivesse justificado daquela maneira.
Mas e o que mudaria agora? Se a situação era tão similar com a que havia acontecido na adolescência, se Jongin continuaria ficando muito tempo distante, se eles teriam que se virar desse jeito, o que mudaria?
Bem, um dos fatos era que Sehun agora era adulto, tinha certeza de sua profissão e não temia mais o futuro tanto quanto seu eu de dezessete/dezoito anos. Ele sabia que, se caso precisasse conversar com Jongin, as tecnologias do dia a dia permitiriam com muito mais facilidade, e seu trabalho oferecia um salário bom que permitiria que vez ou outra ele viajasse até onde o modelo estivesse.
(Vendo seu colega, Yoongi, apresentando o noivo para todos do estúdio e contando o quão orgulhoso estava dele por ‘conquistar’ o mundo da dança, e observando a maneira que o rapaz loiro, Jimin, agradecia e também elogiava Yoongi, ele sentiu que talvez houvesse esperança para sua situação amorosa também)
Porém, Sehun nunca admitiria que achara os dois 'fofos', muito menos para o colega que não tinha cara de quem gostava de discutir questões sentimentais com os amigos do trabalho.
— A situação é parecida mesmo Jongin, mas não é a mesma. Quer dizer, eu não quero que seja a mesma. Prometo que dessa vez eu não vou desistir, se você ainda me deixar tentar… — Sehun insistiu mais uma vez, tentando pelo menos convencer o moreno a pensar.
Se ele não quisesse, Sehun não insistiria a ponto de incomodá-lo e fazê-lo não querer nem a sua amizade.
— Eu — Sehun, eu vou pensar no assunto, okay? — Jongin respondeu mais uma vez, e seu tom de voz era honesto. — Eu te responderei direito, e não vou te enrolar ou fazer você esperar muito. Só que eu preciso fazer isso, por mim, entende?
— Tudo bem Jongin… — Sehun deu um pequeno sorriso. — Eu posso esperar por você ou por sua resposta, qual seja ela… — Ele segurou as mãos de Jongin e as beijou carinhosamente. — Independente de tudo, você pode contar comigo como seu amigo, tudo bem?
Jongin assentiu, corando levemente com a atitude alheia.
(Sehun tinha um pouco mais de controle sobre seu rosto e não ficava com as bochechas tão vermelhas quanto Jongin. Pelo menos, não sempre. Ele não podia dizer o mesmo sobre a ponta de suas orelhas, já que elas estavam fervendo; mas ele conseguia disfarçar)
— Vamos voltar lá pra dentro? Eu quero te apresentar para algumas pessoas que eu conheço — Jongin ofereceu uma de suas mãos para que Sehun segurasse e o seguisse, sorrindo timidamente.
— Okay — Sehun concordou, sorrindo em resposta (ele tinha certeza de que seu sorriso estava enorme) e entrelaçando seus dedos aos alheios, sentindo o calor da mão do rapaz e sofrendo um pouquinho.
Ele acabou descobrindo que Jongin era amigo de Lee Taemin da Versace - e por isso os dois pareciam tão íntimos - e que eles já haviam estudado juntos em algumas matérias do curso de Artes que Jongin havia feito. Os dois deram sorte de trabalhar juntos na Versace, já que não fazia muito tempo desde que o modelo fora contratado pela empresa, e também não ficaria lá por muito tempo.
A noite da celebração continuou por mais um bom tempo, e Sehun conseguiu parabenizar grande parte de seus colegas e dos modelos pelos trabalhos, assim como também foi muito elogiado pelas pessoas com quem conversou. Jongin se separou dele em alguns momentos para conversar com seus amigos, mas não era difícil de Sehun encontrá-lo no salão ou até mesmo de ver que o outro estava olhando para ele.
Por mais que estivesse um pouco ansioso pela resposta do mais velho e querendo saber de uma vez por todas se teria ou não uma chance com o rapaz, ele já não tinha tanto medo do futuro depois daquela noite. O fotógrafo tinha a sensação de que as coisas acabariam bem mesmo com Jongin viajando para o outro lado do oceano na semana seguinte.
Sehun não era uma pessoa clichê, veja bem, mas havia um famoso ditado que dizia que “o amor conquista tudo”, não é mesmo? Ele não ligaria de esperar mais um pouco ou de fazer sua parte para provar que para ele aquilo também daria certo.
~~~
Mais uma vez o verão de Seul surpreendia as pessoas com uma chuva forte caindo em meio a um dia onde o sol parecia que imperaria sobre a cidade que não parava por um instante.
Sehun teve que cancelar uma das sessões externas que faria em um parque, porque a chuva inesperada decidiu deixar o local cheio de lama, e não havia maneira de tirar fotos estéticas o suficiente naquele clima, principalmente quando as pessoas do grupo todo vestiriam branco.
O caminho até seu carro (uma BMW que ele havia comprado há algum tempo) foi com um guarda-chuva, e Sehun agradecia por ser um caminho curto a percorrer a pé, já que ele era muito alto para o guarda-chuva protegê-lo totalmente.
Com o rádio ligado, ele seguiu caminho até o seu apartamento que ficava agora em uma região menos central da cidade, esperando que o trânsito não estivesse tão ruim por causa do tempo chuvoso nas ruas. A sorte era que o percurso não era muito longo, e Sehun não precisava passar em nenhum mercado para fazer compras, já que havia feito isso no dia anterior. Ele poderia aproveitar o tempo para chegar ainda mais cedo em casa.
O fotógrafo começou a se sentir relaxado antes mesmo de chegar a seu destino, porque daquela vez ele sabia que seria diferente dos últimos dias em que chegara cansado do trabalho e sem muito ânimo para fazer alguma coisa além de dormir. Ele abriu a porta de seu apartamento e entrou, tirou os sapatos e os colocou num cantinho e...
— Sehunie, você já chegou! — a voz de Jongin ecoou pela sala, e Sehun não teve tempo de fazer muita coisa antes que o mais velho se aproximasse dele, o abraçasse e o cumprimentasse com um beijo casto.
O rapaz não tinha muito que reclamar na verdade. Ele adorava ser recebido assim, principalmente quando Jongin estava de folga e podia ficar em seu apartamento... No apartamento que agora era dos dois.
— Jonginieeee — Sehun aumentou a última sílaba, tentando fazer um som irritante, sabendo que não podia esconder o seu sorriso. Ele sabia que Jongin voltaria naquele dia, mas vê-lo ali, em casa, já fazia seu coração se aquecer de tanto amor. Abraçou o modelo ainda mais apertado e colocou a cabeça sobre o ombro alheio, fechando os olhos — Senti sua falta...
— Eu também senti a sua, Sehunie — Jongin passou os dedos pelos cabelos de Sehun, murmurando levemente algum trecho de música que o mais novo não conhecia. — Mas agora eu estou aqui, não é? Eu sempre volto, babe — Jongin se separou um pouco do maior e sorriu de orelha a orelha.
E eu sempre vou esperar por você, por quanto tempo você me deixar ser aquele que coloca um sorriso em seu rosto…
Legenda da foto: Kim Kai pousando em uma das fotografias que Sehun encontrou na pasta com informações sobre os modelos da Versace.
2 notes
·
View notes
Text
20 - #85 Vizinho gostoso
Título da fanfic: Vizinho gostoso
Sinopse: Sehun precisou se controlar ao máximo depois que viu o vizinho chegando da academia suado.
Couple: SeSoo
Número do plot: #85 Sehun tentava não ficar muito fora de si quando via Kyungsoo, seu vizinho, chegando da academia todo suado.
Classificação: +18
Aviso: Linguagem imprópria e Sexo
Quantidade de palavras: 8709
Sehun havia nascido com a bunda virada para a lua. O futuro, o qual planejou, parecia vir até si de bandeja. Bolsa da faculdade cem por cento ganha com êxito, graças às horas redobradas de estudos nos finais de semana e do cursinho pago pelos pais. Depois, um apartamento inteirinho só para ele; presente de formatura do seu irmão mais velho que era um empresário fora do país. Podia se dizer que Sehun era um filhinho de papai que só estudava, e que em breve teria o seu próprio negócio – mais uma vez com ajuda da família, porque essas coisas eram complicadas e caras. Mas Oh nunca havia duvidado de sua capacidade, e quando queria algo, fazia o impossível para conquistá-lo. E trabalhou duro nos últimos anos para juntar uma grana para fazer o seu sonho se tornar realidade.
Assim que inaugurou a clínica veterinária e pet shop e se mudou para o mais novo apartamento, Sehun se sentiu mais maduro, adulto pode se dizer. Com seus recém vinte e quatro anos e formado em Medicina Veterinária, ele teria uma vida inteira pela frente para fazer tudo o que sentia vontade; sem horário estipulado para chegar em casa, poderia deixar a louça suja na pia sem ninguém reclamar, a toalha em cima da cama caso estivesse muito atrasado, poderia ter um gatinho (o que realmente aconteceu após morar por praticamente quatro meses com o felino de pelagem cinza adotado).
Sehun amava o que fazia. Sempre gostou de animais e poder ajudá-los de todas as maneiras possíveis era muito satisfatório. Combinava super com a sua área; era uma pessoa doce e tranquila, conseguia conquistar os bichanos, e claro, atraia muito a atenção da mulherada, e também de alguns homens que ousavam flertar consigo e convidá-lo para jantar numa sexta-feira. Oh sempre recusava, pois não tinha interesse em se relacionar com seus clientes, nem com ninguém para falar a verdade; estava apenas focado em sua profissão.
Isso, é claro, até se encontrar com o gostosão no elevador.
Naquele dia, Oh acabou ficando mais tarde na clínica. Um cachorrinho tinha sido atropelado e ele não teve coragem de mandar o pobre bichinho para uma clínica vinte quatro horas aberta. Não, não. Ele tinha que cuidar do animal, fazer o possível para salvá-lo, o que felizmente aconteceu. Ele praticamente chorou ao ver o filhotinho deitado imóvel na maca. Mas tudo ocorreu bem no final.
A clínica veterinária ficava próxima do local onde morava, então poderia ir a pé e deixar a mente relaxar.
Voltou para casa de tardezinha. O sol já estava indo embora e fazendo o céu adquirir uma cor alaranjada pelo contraste que fazia entre as nuvens. Uma visão de tirar o fôlego, e que lhe proporcionou uma foto linda para o stories no Instagram, e mais outra logo em seguida, dessa vez, de seu próprio rosto cansado, sendo pintado pelas cores. Uma foto digna para postar e receber diversos elogios.
Enquanto esperava o elevador descer, o rapaz respondia algumas mensagens no Kakao, e ria digitando freneticamente algumas delas. Estava quieto, não havia feito nada para merecer um turbilhão de emoções e sensações. Sério.
Um baixinho chegou de supetão do seu lado; respirava com certa dificuldade e tinha a camiseta justa colada pelo suor em seu corpo forte. Ele não era só lindo, era gostoso pra cacete. A boca carnuda, os olhos grandes e redondinhos, a cabeça raspada, sem contar aquele corpo. Sehun nunca ficou tão desnorteado enquanto crushava alguém. Ele também nunca achou alguém tão bonito, e muito menos pensou em tantas besteiras em um curto espaço de tempo. Por Deus. “Puta merda”, foi o que ele pensou assim que se deu conta de que estava secando o homem ao seu lado.
Aqueles dez segundos foram o bastante para deixá-lo com as pernas bambas e o coração acelerado.
Recobrou a compostura enquanto ambos entravam no cúbico metálico, e por coincidência tocavam no mesmo botão.
- Desculpa – sussurrou. Achou que o outro não ouvira a sua voz de tão baixa e trêmula que ela saiu.
- Relaxa. – Que. Voz. Sehun só queria sair daquele lugar minúsculo antes que fosse ter um colapso mental. Já não bastava o cara ser gostoso, ele ainda precisava ter aquela voz grave que com certeza deixava muita menininha mole e muito adolescente com um problemão no meio das pernas.
Sehun saiu rapidamente do elevador, e mais uma vez, por ironia do destino, o rapaz desconhecido também saiu, caminhando em direção à porta que ficava em frente da de Sehun. Eram vizinhos.
O maior entrou no apartamento e fechou a porta cuidadosamente, não sem antes olhar rapidamente para o homem, o qual também entrava em seu lar enquanto secava a testa com uma toalha branca – a qual ele não notara anteriormente nas mãos alheias. Também, quem se importaria com um pedaço de pano quando se tinha uma visão daquelas? Só uma pessoa extremamente atenciosa.
Com o celular em mãos, Sehun abriu a tela de conversa com Minseok, seu melhor amigo, para contar o acontecimento recente. Precisava desabafar! Aquela situação era estranha demais.
Hun: Hyung?
Min: Desculpa a demora, fui tomar banho.
Havia conhecido Kim Minseok numa das festas da faculdade e desde então se tornaram inseparáveis. O Kim, por ser o mais velho, sentia necessidade de cuidar dele. Na época, Sehun conseguia ser inocente até demais, não vendo muita maldade nas pessoas que tentavam tirar proveito dele.
Hun: Tudo bem! Preciso te falar um negócio que aconteceu agora pouco.
Min: Diga.
Hun: Melhor eu mandar áudio.
E mandou. Contou tudo o que tinha acontecido, adicionando mais uns detalhes que o pobre Minseok não queria ter escutado assim que tocou a tela para ouvir o áudio de quase dois minutos. Porra, Sehun!
Min: Eu sei o que é isso.
Hun: O quê?!
Min: Há quanto tempo você não transa?
Hun: Faz um tempinho...
Min: Tá aí sua resposta. O nome é tesão acumulado.
Hun: Af. O que eu faço hyung? Não tô flertando com ninguém.
Min: Use e abuse das suas mãos.
E bom. Sehun não tinha muito que fazer para aliviar aquela excitação que se formara em seu baixo ventre. Poxa! Estava tão focado em seu trabalho – e com razão – que nem se preocupou com as reações de seu corpo. Mas ele também não era nenhum santo. Nos finais de semana abria várias abas no anônimo e procurava um bom pornô gay amador para assistir. Metia a mão nas calças e trabalhava por tempo suficiente até o corpo estremecer todo e um gemido, alto demais para o horário, reverberar pelo quarto. Mas estamos falando de sexo, e Oh estava na seca a mais tempo do que se lembrava.
**
O relógio marcava o mesmo horário que no dia anterior quando voltou para casa. Não estava fazendo de propósito, claro que não. Só quis dar uma ajeitada nos documentos da clínica, checar se os produtos não estavam fora da validade. Tinha uma menina que trabalhava especificamente para fazer aquele tipo de serviço, mas precisava conferir, era sempre bom.
Tentou andar no mesmo ritmo para que chegasse no momento exato.
E lá estava ele, Sehun, em frente ao elevador. Dessa vez, olhava para a porta metálica e mantinha as mãos no bolso, engolindo em seco de vez em quando.
Umedeceu os lábios assim que sentiu uma presença, virou o rosto como quem não queria nada, afinal os olhos foram feitos para ver. Apertou as mãos nos bolsos do jaleco, a ansiedade fazendo sua testa começar a orvalhar pelo nervosismo. Entretanto, murchou quando avistou uma senhora segurando algumas sacolas, e o cheiro de lavanda logo preenchendo suas narinas.
Foi educado o suficiente para se curvar e desejar uma “boa tarde” de maneira simpática, sendo retribuído pela senhora, a qual engatou em uma conversa aleatória. E Sehun a acompanhou, pois não seria nenhum mal educado.
O veterinário havia colocado esperanças demais em ver o vizinho gostoso novamente. Iludido.
Meu Deus... Sehun tinha vinte e quatro anos na cara, era adulto e tinha sido tocado – não como gostaria – pelo desconhecido só porque o mesmo exalou testosterona ao ponto de deixá-lo com vontade de fazer muitas coisas. Estava realmente na seca.
Min: E aí, viu o carinha lá?
Hun: Não. Ele não deve ir todos os dias à academia. Se é que vai lá.
Min: Ele pode praticar algum esporte. Se bem que, pelos seus relatos, ele só estava com a toalha e uma garrafa de água. Então...
Hun: Sim, estava. É melhor eu nem pensar muito nisso, senão ficarei na punheta por mais tempo. (carinha triste)
Min: Eu até te comeria, Hunnie. Mas você não faz o meu tipo.
Hun: Filho da mãe.
Min: Te amo. (coração vermelho pulsante)
Hun: Só cuido do teu cãozinho de graça, porque ele é muito fofo...
Sehun praticamente jogou o celular no sofá da sala e caminhou até a cozinha. Estava morrendo de fome, e nada que um jantar bem reforçado, e melhor, vegetariano, não deixasse o rapaz mais relaxado. Também deixou comida para o gatinho que já estava ao seu redor miando daquele jeitinho que o fazia se derreter todo.
Depois que jantou, se obrigou a lavar a pilha de louça suja que se acumulara durante alguns dias, deixando a cozinha brilhando de uma vez por todas.
Foi para a sala, ligou a televisão, ajeitou o felino em seu colo e terminou de assistir a série que estava pendente há uma semana.
Estava tão cansado que quase dormiu, porém não podia acumular mais uma série e colocá-la na lista de ‘séries que não acabei, mas que um dia terminarei de assistir’, pois todo mundo sabe que é pouco provável que você acabe. Por isso, atacou o café sem açúcar e assistiu sua série até o final, dormindo feliz mais tarde por causa de uma conquista boba.
**
Os dias de trabalho felizmente (e infelizmente) haviam acabado.
Para o veterinário tinha os seus prós e contras. O bom é que teria, nos próximos dois dias, tempo para fazer vários nadas, entretanto (e com certeza) seria puxado pelo melhor amigo para alguma balada à noite. O ruim é que não teria nenhuma chance de esbarrar no vizinho. Tudo bem, teria outras oportunidades. Talvez ele tivesse crushado demais o vizinho e pensasse demais nisso. Porém, tiraria a ideia rapidinho da cabeça e aproveitaria bem o final de semana.
O que realmente aconteceu, pois Sehun acordou com uma baita ressaca no domingo à tarde – nada que um remédio para dor de cabeça e mais algumas horas dormindo não resolvessem.
Estava tão exausto que apenas comeu um ramen comprado acompanhado de um copão de suco de morango, e foi direto pra cama, não sem antes claro, tomar um banho e escovar os dentes.
**
Sabia que estava encrencado quando passou a voltar para casa sempre no mesmo horário. O que não era exatamente um problema, pois normalmente voltava para seu apartamento às seis e meia, e com os últimos acontecimentos estava voltando praticamente às sete horas. O que eram trinta minutinhos, certo?
Muita coisa, na verdade.
Primeiro que na segunda-feira havia esbarrado – literalmente – em seu vizinho. Estava distraído demais no celular quando foi entrar no prédio e bateu de frente com ele, o qual apenas se curvou e pediu desculpas daquele jeitinho de deixar o veterinário sem fôlego.
E segundo que naquela semana eles se esbarraram mais vezes (e Sehun anotou mentalmente os dias que o outro ia à academia).
Oh jamais admitiria para si que só fazia aquilo porque realmente estava de olho no vizinho, e poxa, estava na seca também, qual é. Olhar não arrancaria pedaço. E o baixinho parecia não ligar muito para ele; mesmo que passasse a cumprimentá-lo na terceira vez em que se encontraram na entrada do elevador. Claro que Sehun não conteve o sorriso tímido e o rubor nas bochechas, devolvendo um “boa noite” baixinho.
Depois que chegava em casa, pegava o celular e mandava mil mensagens para Minseok. Pobre do rapaz que tinha que aturar o outro todo bobo, e pior, ler tantas sacanagens para uma pessoa só.
Min: Por favor, guarde essas pornografias pra você! Ou melhor, por que você não dá um jeito de dar em cima dele?
Hun: E se ele já estiver comprometido?
Min: Pelo menos você vai superar mais cedo. O ‘não’ você já tem, só falta tentar.
Hun: Não sou tão descarado assim, hyung.
Min: Mas pra falar sacanagem você é, né? (carinha rindo)
Hun: Idiota. (carinha revirando os olhos)
Min: É sério, faz alguma coisa. Não aguento mais ler essas safadezas. E preciso levar o Pudim pra vocês darem banho nele.
Hun: Saudades do Pudim. Só me avisa quando que eu deixo o horário marcado pra ele.
**
Sehun estava exausto. Tinha trabalhado um bocado e até passado raivinha, porque um cliente foi extremamente grosso consigo, só porque o cãozinho dele tinha piorado depois de ter ido lá. Mas ele não tinha culpa! Era só uma virose que o animal pegou, e que logo passaria. Ele sabia disso.
Porém não deixaria que aquilo estragasse o final do seu dia. Até passou no mercado para comprar um potão de sorvete sabor morango, seu preferido. Não se lembrava de quando fora a última vez que tinha tomado, só sabia que precisava urgentemente de uma dose de açúcar.
Estava tão aéreo que nem pensou no vizinho – ainda desconhecido, mas nem tanto também – enquanto voltava para casa, cabisbaixo.
O homem lhe cumprimentou, e Oh respondeu um tanto desanimado. Recebeu uma expressão indecifrável, mas que não ligou muito por estar cansado demais.
- Você é veterinário, certo?
Sehun estava tão concentrado em procurar a chave correta para abrir a maldita fechadura, que seu corpo sofreu um sustinho, fazendo com que derrubasse as chaves no chão. O vizinho pegou o objeto e entregou a ele.
- Obrigado – sorriu sem mostrar os dentes – Sim, eu sou.
- Meu gato precisa de um banho, mas ele odeia água. Não aguento mais ser arranhado. – O baixinho olhava para os próprios braços. E que braços! As veias sobressaindo na pele alva – Trabalha aqui perto?
O olhar firme do baixinho lhe fazia se sentir nu, ou algo do tipo. O coração parecia que sairia a qualquer momento da caixa torácica.
Opa! Pera aí. Seria essa uma oportunidade?
- Sim, a minha clínica não fica muito longe daqui.
- Tem algum cartão...? – Ele ergueu a sobrancelha.
- Só um instante. – Sehun abriu a bolsa transversal e pegou a carteira, retirando de lá um cartãozinho com o nome, endereço e o número de sua clínica – Aqui. Eu trabalho de segunda a sexta. Mas ela abre sábado também, até às quatro horas da tarde – explicou direitinho.
- Hm. Eu vou passar lá amanhã então... É o dia em que eu não vou para a academia. – Uma informação muito útil que o mais alto já havia deduzido.
- Ok. – Não sabia o que responder, então se limitou àquilo.
- Então tá... – O rapaz fechou os olhos como se tentasse enxergar o que estava escrito no crachá preso ao jaleco - Sehun. Boa noite.
- Boa noite. – Sehun acabou se atrapalhando todo quando ouviu seu nome soar tão sexy pela boca do outro.
- Doh Kyungsoo – o baixinho completou, como se lesse a mente do veterinário, e entrou em seu apartamento.
Já sabem né? Oh correu para o seu apartamento e mandou alguns milhares de mensagens para o melhor amigo, contando o que tinha acabado de acontecer.
Mas tinha um porém. Ele não poderia dar em cima de seu futuro cliente!
Quem ligava pra isso? Sehun era dono do próprio negócio. Era lógico que ele poderia dar umas flertadas, claro, se tivesse coragem suficiente para fazer isso.
Além de ganhar um cliente, tinha conseguido o nome dele também. Doh Kyungsoo. Um nome lindo para um cara mais lindo ainda. Precisava dar um jeito de ter aquele homem em sua cama de alguma forma.
Mas não pensem que Sehun era todo atirado assim. As pessoas têm necessidades, inclusive sexuais. Como já dizia o seu melhor amigo: “era tesão acumulado”, e ele estava solteiro. Então, não tinha nada demais estar desejando tanto alguém assim, ainda mais o baixinho musculoso, braços fortes... E outras coisinhas a mais que o horário talvez não permita.
Só precisava de um pouco de paciência e coragem até o dia e horário que Doh apareceria em sua clínica.
**
Sehun acordou mais cedo do que o normal.
Talvez estivesse muito ansioso para trabalhar naquela sexta-feira, ou porque teria um cliente especial e precisaria de forças para não cair de quatro – literalmente.
Mas como um bom profissional, o foco era o gatinho do Doh, e claro, cuidaria muito bem do felino, o qual com certeza sairia limpo e cheiroso, mas talvez não tão contente de sua clínica. Porém ele faria o possível para devolver o bichano tranquilo.
Doh iria à clínica por volta das seis horas, o que Sehun deduziu ser após o trabalho. Muitas pessoas que trabalhavam durante o dia levavam seus bichinhos àquele horário, o que fazia o veterinário repensar sobre a sua carga horária. De qualquer forma, poderia aproveitar aquela oportunidade com as duas mãos, já que ambos moravam no mesmo prédio e provavelmente sairiam juntos.
E lá estava Kyungsoo, dessa vez cheiroso e arrumado, com um gatinho preto e branco no colo – os olhos bem amarelos arregalados. Pobrezinho.
Sehun não se conteve em se aproximar do gatinho e conversar com ele, ousando até mesmo roçar os dedos nas orelhinhas pontudas.
- Ele já deve saber o motivo de estar aqui – Sehun comentou com o menor. A aproximação proporcionou ao rapaz um aroma deveras gostoso vindo do outro, o que lhe deixou um pouco desnorteado.
- Eu só espero que ele fique bem.
Sehun notou a preocupação alheia. Era evidente que o rapaz era apegado ao gato pela maneira com a qual olhava para o mesmo.
- Ele ficará – disse com firmeza – As meninas vão cuidar muito bem dele.
- Qualquer coisa eu arrombo o seu apartamento.
- Ah – Sehun franziu o cenho tentando imaginar naquele momento o que seu vizinho poderia fazer consigo.
- Eu ‘tô brincando. Mas é sério, espero que ele fique bem.
Logo, uma das mulheres chegou com um sorriso meigo nos lábios, dando total atenção ao felino, tentando conquistá-lo. A mesma fez algumas perguntas ao Doh e não levou muito tempo para seguir com o Mok – que veio descobrir ser o nome do gato – para dar banho.
- Eu vou cuidar de mais um “paciente” – Sehun fez aspas com os dedos. – Então fique a vontade. Em breve o Mok estará de volta, acredito que ele seja o último animalzinho a tomar banho antes de fecharmos.
- Você demora muito tempo pra fechar a clínica?
Sehun ergueu a sobrancelha, mas se manteve firme, sem demonstrar a expressão de surpresa com a pergunta.
- Não muito. – Tinha as mãos no jaleco enquanto balançava o corpo, apreensivo – Por quê?
- Moramos no mesmo prédio – Kyungsoo disse como se fosse o óbvio – E podemos voltar juntos. A menos que tenha outro compromisso.
- Não tenho. Pode ficar me esperando se quiser – soltou um risinho tímido e seguiu para sua sala onde cuidaria de um cãozinho doente.
Sehun atendeu o seu último caso do dia ao mesmo tempo em que Mok acabava de tomar o seu banho. O bichano encontrava-se calmo, sem sinais de que tinha passado por estresse, e Doh ficou todo bobo pelo trabalho excelente, acariciando a pelagem, agora macia e cheirosa do animal.
Finalmente deu o horário de fechar a clínica e o veterinário respirava fundo para não transparecer a ansiedade que sentia. Suas mãos começaram a suar mais do que o normal e o seu estômago sofria algumas pontadas.
- Droga – murmurou para si mesmo enquanto caminhava em passos lentos para a sala onde Kyungsoo estava lhe esperando – Vamos?
- Sim. – O moreno levantou do lugar onde estava sentado e colocou o gato na caixinha.
No início, o veterinário não sabia o que fazer e muito menos o que falar. Não sabia agir de modo normal na presença do baixinho, portanto os diversos meios para puxar assunto ficaram presos em sua garganta. Porém, felizmente, Doh pareceu se tocar da situação em que se encontravam, e tomou as rédeas, jogando um comentário pra lá de engraçado sobre as possibilidades de seu gato arranhar a cara da mulher responsável pela limpeza deste.
- Já teve casos de cachorros fugindo e nós correndo pela rua desesperados atrás deles – Sehun riu ao se lembrar do acontecimento.
- Eu imagino que sim. Ainda mais cachorros de porte grande. – Kyungsoo afirmou.
Os dois andavam lado a lado, calmamente como se não tivessem pressa para chegar a seus respectivos apartamentos.
O caminho fora melhor do que Sehun imaginara que seria. Descobriu que Kyungsoo era farmacêutico e trabalhava do outro lado da cidade e que era dois anos mais velho do que ele. E achou a informação interessante, já podendo imaginá-lo de jaleco assim como si, não podendo conter o sorriso.
Se estivesse delirando, poderia deduzir que tinha pintado um clima bem gostosinho entre os dois. Ainda mais quando o veterinário soltou sem querer, mas sem querer mesmo, que ele havia ficado uma gracinha careca, recebendo um “obrigado” em meio a um sorriso maravilhoso que fez com que ele achasse que poderia ter um treco a qualquer momento. Com certeza era o sorriso mais lindo do mundo, e de bônus tinha um formato de coração.
Assim que chegaram ao prédio e subiram para o andar de suas moradias, o silêncio pareceu ter voltado novamente, deixando Oh um pouco constrangido por não saber exatamente o que fazer para se despedir.
- Obrigado por ter cuidado do meu gato. Praticamente salvou as nossas vidas.
- Minha clínica sempre estará aberta para você.
- E o seu final de semana também? – Kyungsoo perguntou sério.
Sehun piscou os olhos e tentou falar alguma coisa, porém gaguejou bonito, o que fez o farmacêutico rir divertido pela sua expressão de surpresa.
- Qual é? Acha que eu não notei o seu interesse? Pelo visto você é bem lerdinho pra não notar o meu também.
- É... Você me pegou. – Sehun desistiu de tentar fazer-se de desentendido, rendendo-se totalmente a Kyungsoo e os seus joguinhos.
- Ainda não. Mas estou querendo. – Essa jogada com certeza deixou o veterinário todo vermelhinho. Kyungsoo além de ser um puta gostoso, ainda era direto, e não tinha sequer medo de levar um fora.
- Você é bem direto – Sehun sussurrou tímido.
- Estou apenas apressando as coisas para nós dois – disse simplista.
- Ok – Sehun suspirou – No meu apê ou no seu?
- No meu. Vou fazer um jantar bem delicioso pra gente
Sehun com certeza gostou da ideia, ainda mais por saber que Kyungsoo parecia ‘cozinhar’ como um hobby.
- Fechou então. Amanhã aqui às oito horas – o farmacêutico jogou uma piscadela, deixando o maior todo bambo.
- Beleza.
Antes de entrar em seu apartamento, ouviu a voz de Doh lhe chamando.
- Me dá o seu número.
- Ah... Sim. – ele ainda estava sem jeito com a situação; todavia faltava pular de alegria pelo recente acontecimento.
Passou o número e se despediram depois de uma troca intensa de olhares; uma tensão sexual palpável no ar por estarem próximos demais. Kyungsoo foi o primeiro a dar às costas e entrar, e Sehun fez o mesmo que ele logo em seguida.
- ‘Tô te falando Sehun! Você dará essa bunda amanhã.
Conversava com Minseok pelo celular. A emoção fora tanta que precisou fazer a ligação, soltando tudo de uma vez assim que o mais velho atendeu.
- Você acha hyung?
- Se eu acho? Cê tá brincando, né? O cara fala que tá afinzão de ti, te convida pra comer na casa dele. Acha mesmo que ele vai comer só a comida? Meu querido, a sobremesa será você.
- Há possibilidades…
- Possibilidade é o caramba! Eu tenho cem por cento de certeza. Se joga nesse homem de uma vez. Talvez só assim pra você acabar com esse humor do cão que tu tá tendo ultimamente.
- Como se eu tivesse culpa, né? Acabo me estressando no trabalho. Aqueles bostas não cuidam direito dos bichinhos e levam para a clínica nas últimas. Tadinhos.
- Gente sem noção... Mas pelo menos você ‘tá ali pra salvar eles. E você é um excelente veterinário – ouviu o outro cantarolar.
- ‘Tá, me fala quando vai levar o Pudim.
- Segunda-feira.
- Interesseiro – resmungou.
- Se um dia você for preso, eu te tiro da cadeia. Relaxa, ‘tá tudo esquematizado.
- ‘Tá se achando demais.
- Meu lindo, você não ‘tá com essa bola toda pra cima do advogado mais gostoso da Coreia do Sul.
- Boa noite! – Sehun gritou entre gargalhadas, desligando a chamada na cara de seu amigo.
Mais tarde o celular vibrou, e todo despreocupado fora ver do que se tratava a notificação. Sehun se engasgou com a própria saliva quando leu “Doh” na tela, ficando todo nervoso para responder o “Oi, Hun” alguns segundos depois.
Virtualmente se sentia mais confiante, então foi fácil engatar uma conversa confortável e divertida. Já tinha achado Kyungsoo legal pra caramba mais cedo quando conversaram de verdade, além do mesmo transparecer preocupação consigo aparentando ser todo bobinho. E aquilo só aumentou seu interesse.
Foi dormir somente quando se deu conta de que já era de madrugada e Kyungsoo alegou estar morrendo de sono. Com muita dor no coraçãozinho se despediu dele, mandando um sticker fofo, sorrindo faceiro quando recebeu um também.
***
Sehun não conseguia negar que estava nervoso para caralho. Chegou até mesmo a acordar com dor no estômago novamente, fazendo-lhe recusar o café da manhã pelo enjoo - que logo fora esquecido assim que viu a mensagem de bom dia de Kyungsoo, ficando extremamente animado enquanto conversava com o rapaz.
Passou a manhã toda assistindo televisão, ou melhor, pensando num carinha aí, imaginando como seria a noite... O que fariam, o que comeriam e o que rolaria depois do jantar.
Era muito para o pobre veterinário.
O dia passou num piscar de olhos. E lá estava Oh se arrumando todo e colocando o seu perfume preferido pra ficar bem cheiroso e atrair Kyungsoo ainda mais. Tinha os seus métodos também.
Olhou no relógio e balançou a cabeça em confirmação: a hora era agora e não podia mais fugir. Verificou se o celular estava em seu bolso e seguiu para o apartamento do farmacêutico, tremendo dos pés a cabeça.
- Boa noite, Sehun. – Doh recebeu-o com o seu sorriso de matar qualquer um. Ele estava lindo.
- Boa noite Soo – entrou no apartamento aproveitando para dar uma olhada no local, cogitando se Kyungsoo era realmente organizado ou se ele tinha arrumado tudo por causa dele.
- O nosso jantar não vai demorar muito. Daqui a pouco ‘tá saindo.
O veterinário se xingava mentalmente por não saber como responder. Queria poder agir sem aquela vergonha toda, mas sentia-se receoso demais.
– Vem, vamos pra cozinha. – E Sehun foi, cheio de timidez.
Se Doh já era lindo sem fazer nada, cozinhando então o deixava ainda mais eufórico. Não podia negar, estava caidinho pelo baixinho careca, e a tendência era só aumentar.
Mais uma vez o farmacêutico tomou o controle do assunto, fazendo o veterinário se soltar aos poucos até estarem rindo de micos que já pagaram na rua. Como a vez em que Kyungsoo se atrapalhou todo e tropeçou no próprio calçado, ou quando Sehun derrubou no chão o sorvete que tinha acabado de comprar. Ambos tinham milhares de micos a serem compartilhados.
Teve um momento em que Doh se sentou na cadeira – Sehun estava em pé, no parapeito da entrada da cozinha – e ficou olhando fixamente para si, como se prestasse atenção em cada palavra que proferia, de braços cruzados ressaltando os músculos. Não demorou muito em desviar o olhar, piscando os olhos, nervoso, pela situação. E o baixinho se limitou a rir, levantando-se novamente para dar uma olhada no fogão.
Depois de conferir como andava a própria comida, Kyungsoo não voltou a se sentar, e sim, caminhou em sua direção se escorando do outro lado da entrada da cozinha.
Com a aproximação repentina naquela distância considerável, Sehun ficou sem jeito, mas permaneceu conversando normalmente, passando a língua entre os lábios sem parar enquanto olhava de vez em quando para a boquinha de coração.
E Doh notou com certeza aqueles olhares, porque já havia percebido que o veterinário não sabia disfarçar suas intenções, o que era muito bom. Então, com jeitinho, foi se aproximando cada vez mais do maior. Tocou a cintura alheia com calma, observando a maneira como o rapaz sorriu envergonhado, tendo os olhos nublados pela vontade que sentia, assim como ele. Deixou uns beijinhos no pescoço alheio e foi subindo em direção à boca, onde finalmente puderam se entregar e se beijarem com vontade. E Sehun não se conteve em nenhum momento, enfiando a língua despudoradamente na boca dele, apertando o corpo do outro colado ao seu.
Separaram-se ofegantes. Kyungsoo tinha a boca inchada e um sorriso safado nos lábios, e Sehun, além de estar na mesma situação, ainda sentiu algo lhe cutucando, podendo ver depois que era o “amigo” do mais velho dando um grande olá para o seu que também marcava a sua calça.
Logo o jantar ficou pronto e Sehun agradeceu mentalmente. Estava morrendo de fome, pois não tinha comido muito bem durante o dia.
Fez questão de ajudar Kyungsoo organizando a mesa. Lógico que o farmacêutico tentou pará-lo, mas depois de muita insistência e um biquinho que Sehun fez sem perceber, o mais velho se rendeu e voltou a sua atenção para o prato de vidro onde pôs a sua suposta iguaria Tagliatelle Bolognese, colocando-a em seguida no centro da mesa.
Sehun sentou-se e esperou o dono da casa ir buscar o que quer que fosse, arregalando os olhos ao vê-lo trazendo consigo um vinho.
- Tudo isso pra mim?
- Tenho que fazer bonito no primeiro encontro – Kyungsoo disse enquanto servia o vinho nas duas taças de vidro.
- Primeiro? Então terá outros? – Sehun brincou, mas com um fundinho de verdade.
- Se você quiser, sim.
E Sehun não era nem bobo de negar os convites futuros.
- Eu quero – trocou um sorriso cheio de intenções com o menor, e de bônus ganhou um beijinho na boca.
Assim que experimentou a comida de Kyungsoo, o veterinário fez questão de despejar elogios pela refeição. O farmacêutico apenas sorria envergonhado, dizendo que não era nada demais, e que ele merecia comer alguma coisa que prestasse na primeira noite. Notou que o baixinho não sabia lidar com elogios, e achou aquilo muito fofo pelas suas expressões. Doh só tinha cara de mau, mas na verdade era extremamente educado e gentil.
Após comerem, ajudou com a louça mesmo ouvindo diversas intervenções sobre deixar aquela bagunça ali, que no outro dia ela seria resolvida. O mais velho mais uma vez cedeu à carinha meiga, pegando um pano de prato na gaveta e começando a secar os talheres.
A verdade era que Sehun só estava ganhando tempo para ficarem juntos antes de infelizmente ir embora. Mal sabia ele que Kyungsoo tinha outros planos para a noite.
- ‘Tá a fim de assistir a um filme? - Doh perguntou como quem não queria nada.
Eles haviam terminado de limpar a cozinha, e o mais novo secava suas mãos no pano que o outro segurava.
- Claro. Qual filme? – Sehun respondeu como se acreditasse que realmente iriam assistir ao filme. Quem nunca jogou o lance do “filmezinho”? Todo mundo sabia que era uma desculpa esfarrapada.
- Podemos maratonar X-Men. O que você acha?
Ok, talvez ele estivesse pegando pesado. Sehun era apaixonado pela série, e o outro também era. Então esse lance de se pegarem no sofá talvez não viesse a acontecer. Ou foi o que ele pensou.
Sentaram-se no sofá e Kyungsoo colocou o filme. Optaram por não fazerem nada para comer já que não fazia muito tempo que tinham jantado, e estavam cheios depois de se atracarem no macarrão. Eram bons de garfo.
No início, Sehun estava definitivamente prestando atenção no filme. Gostava demais dos X-Men; acompanhava tudo, tinha até algumas HQs e feito uns cosplays em sua adolescência. Ele podia ser todo metidinho a adulto, mas não conseguia esconder o seu geek interior.
Até aí tudo bem. O coração acelerava a cada cena, o sentimento nostálgico fazendo os olhos marejar ao lembrar-se de quando assistira ao filme pela primeira vez. Aquela coisa de fã.
Porém sua atenção toda fora interrompida quando sentiu o joelho alheio encostar-se a sua perna. Pronto, ficou todo retesado, nervoso, começando a suar somente com aquele contato.
Olhou de relance para Doh e o mesmo parecia tranquilo olhando para a televisão, como se estivesse completamente focado no que se passava. Então, deu uma mexidinha na perna fazendo com que aquela parte se roçasse ainda mais, aproximando-se cautelosamente, deixando os ombros se chocarem um no outro. Aí não teve jeito! Kyungsoo colocou a mão na sua coxa e ficou apertando de leve, e Sehun só sabia morder os próprios lábios por conta do tesão, ainda mais pela sensibilidade em que seu corpo se encontrava.
Sentiu o olhar do baixinho queimando sobre si, e mais uma vez direcionou o rosto para o rapaz, deixando bem claro que sim, queria muito pegar ele a noite inteira.
Doh captou o sinal verde imediatamente, não demorando muito para pousar a mão em sua nuca e puxá-lo para um beijo lento, de início. O baixinho maltratou o seu lábio inferior com mordidinhas, puxando-o apenas para deixá-lo com mais vontade. E Sehun, todo apressadinho, encaixou de vez as bocas e beijou aquela boca carnuda com vontade, ambos deslizando as mãos pelo corpo um do outro para se conhecerem ainda mais.
As mãos bobas arrancavam vários suspiros, e uns gemidinhos baixos por parte de Sehun, ainda mais quando o mais velho apertou sua bunda, fazendo-o sentir uma pontada em seu baixo ventre, o qual se remexeu todo – fato que não passou despercebido por Kyungsoo que, sem pensar duas vezes, levou a mão até o meio de suas pernas, sentindo o seu membro ereto por cima do jeans que usava.
- Deixa eu te confessar uma coisa - ouviu a voz rouca de o rapaz sussurrar em seu ouvido – Fiquei com vontade de te pegar desde a primeira vez que te vi no elevador.
- E-Eu também... – Sehun pendeu a cabeça para o lado, deixando que Doh prosseguisse com os beijos ali, se tremendo todinho quando este deu atenção àquela parte sensível enquanto ele puxava com firmeza os seus cabelos.
- É... Você não é bom em disfarçar as coisas – Kyungsoo riu ladino.
Nesse patamar, Sehun já nem sabia de mais nada, apenas se entregava.
- Difícil me controlar... Você é tão gostoso.
Quem estava se controlando há algum tempo era Doh, mas depois da confissão ficou ainda mais complicado e tacou o foda-se, pegando o maior no colo e levando-o para o seu quarto.
Kyungsoo fazia academia, malhava e comia batata doce, é claro que ele conseguia levar Sehun até o cômodo às cegas. O veterinário até mesmo brincou em como ele era forte, recebendo uma mordidinha no pescoço e um aperto forte nas coxas.
Doh colocou Sehun delicadamente sobre a cama, e quando fez menção para sair e ligar a luz, o outro se agarrou em si.
- Soo... - Sussurrou. Por ser sua primeira vez com o rapaz, era normal estar com vergonha. Entretanto não sabia como o outro poderia lidar com aquele pedido, e sentiu um pouquinho de medo.
- ‘Tá se sentindo bem? Se não quiser fazer tudo bem, Hun. – Sentiu o hálito quente chocar-se contra o seu.
- N-Não é isso... Só que – engoliu em seco, tomando coragem – Não acenda a luz – fechou os olhos com força após dizer aquilo de maneira quase inaudível.
Doh ficou um pouco surpreso, mas logo sorriu como se entendesse o que se passava em sua cabeça. Não queria deixá-lo constrangido, longe disso!
- Como preferir, meu bem.
Sehun sentiu a mão alheia tocar sua bochecha e fazer um carinho, e assim que abriu os olhos, a respiração falhou: Kyungsoo tinha uma expressão que nunca havia visto até então, como se quisesse passar tranquilidade.
– Caso se sinta constrangido ou incomodado com qualquer coisa é só me falar que eu paro, ok? Não quero que se sinta mal. Tenha em mente que eu não me importo se a gente não fizer nada. Podemos voltar a assistir ao filme que ‘tá tudo certo.
- Pode deixar, Soo – sorriu como se um peso tivesse sido tirado de suas costas – E eu quero sim.
- Adoro quando me chama assim. – Kyungsoo respondeu, voltando a beijá-lo com afinco.
Por vê-lo apenas parcialmente por conta da penumbra do quarto, e tendo somente a luz da lua para iluminar um pouco o ambiente, Sehun falou para o menor que o mesmo poderia acender o abajur. Doh perguntou várias vezes se o rapaz tinha realmente certeza disso antes de cumprir o seu desejo, e após vários “sim, Soo... ‘Tá tudo bem, sério”, ele ligou e pôde visualizar um Sehun lindo em sua cama, os cabelos esparramados pelo colchão.
Não resistindo nem um pouco à beleza do outro, Kyungsoo se acomodou entre suas pernas e voltou a maltratar o seu pescoço, deliciando-se com os seus gemidinhos baixos enquanto passava a destra pelo torso por baixo da camiseta - não demorando muito para tirar a mesma e jogá-la em um canto qualquer.
Puxando Sehun para o seu colo, Doh deslizou as mãos pelo corpo nu do rapaz, sentindo a pele morna se retesar pelos seus toques. Segurando com firmeza a cintura alheia, caiu de boca nos mamilos eriçados do maior, o qual automaticamente colocou a mão em sua nuca, e passou a rebolar sobre o seu falo duro e ainda coberto.
Doh foi descendo aos poucos até chegar ao local onde queria. Apertou o membro de Sehun por cima da calça alheia, mordendo os lábios ao visualizar o rapaz todo manhoso e entregue para si, ficando com mais vontade ainda de tomá-lo para si. Porque sim, era evidente que queria ter uma noite de prazer com o maior, e se tudo desse certo poderiam ter mais vezes e quem sabe uma coisinha a mais, né? Sehun era incrível, e ele não se arrependeu nem um pouco quando tomou coragem para cumprimentá-lo quando passaram a se encontrar no elevador por acaso. Sabia que deveria tomar uma atitude já que ficou ainda mais interessado quando o notou olhando para si daquele jeitinho. Deveria fazer alguma coisa. Não podia deixar a oportunidade passar.
No início ficou com um leve receio, porque poderia ter sido coisa da sua cabeça. Mas depois que se esbarraram na entrada do prédio e os dois ficaram um bom tempo se encarando, sabia que tinha que falar com o rapaz de qualquer maneira.
Após deixar Sehun totalmente despido e fazer o mesmo consigo, recebendo um “Nossa Soo! Que saúde”, ele envolveu os dedos ao redor do membro rígido do rapaz iniciando uma masturbação lenta. Sentia-o pulsar em sua mão e aquilo lhe instigou ainda mais a prosseguir com os toques.
Sehun não soube controlar mais os gemidos quando Doh passou a deslizar a língua sobre a extensão de seu pênis duro para logo em seguida sugar sua glande, causando-lhe um grande tremor.
As bochechas queimavam pela excitação e pela vergonha do contato visual profundo que ambos mantinham mesmo naquela posição. E Sehun achou que poderia gozar somente com aquele olhar safado que recebia enquanto tinha o seu membro engolido por Kyungsoo; seus testículos também recebendo uma atenção especial.
Doh abandonou o falo alheio e se esticou para pegar alguma coisa na gaveta da pequena cômoda, ao lado da cama. Acabou por ficar com o seu pênis próximo ao rosto de Sehun. O mais novo não conseguia resistir àquela visão maravilhosa que deixava a sua boca salivando. Por isso ajeitou-se de maneira que pudesse ficar com o rosto ainda mais pertinho, e segurou o membro alheio sem aviso prévio.
Kyungsoo tomou um pequeno susto pela ação, mas assim que viu o que o outro queria, ficou de joelhos sobre a cama e deixou que Sehun o chupasse o quanto quisesse, segurando os cabelos alheios com força e pendendo a cabeça para trás ao sentir a boquinha do maior fazendo um ótimo trabalho em si.
A felação foi finalizada depois que puxou os cabelos do mais novo, afastando-o de si e ouvindo um “ploc” característico quando este abandonou o seu pênis e voltou a se deitar na cama.
O corpo de Sehun sofreu um choque ao sentir o dedo alheio a tocar a sua entrada. O líquido gélido mais a sensação de estar sendo estimulado ali por Kyungsoo, era demais. Abriu mais as pernas e rebolou, choramingando para que o mais velho enfiasse logo os dedos em si. E Doh nem ousou negar aquele pedido, enfiando o indicador com calma na entrada alheia e esperando o maior se acostumar com a intrusão para assim prosseguir com os movimentos, arrancando sons manhosos da boca de Sehun.
E como adorou ouvi-lo gemer alto quando passou a movimentar dois dedos em sua entrada, alargando-o para que conseguisse receber o seu membro sem se machucar. Sehun tinha a sua intimidade pulsando e gotejando pré-gozo, melando sua barriga a cada vez que Kyungsoo tocava o seu ponto sensível.
- S-Soo! – ele revirou os olhos, rebolando com vontade – P-Para... Não quero gozar ainda…
Kyungsoo então afastou os seus dedos, pegou a camisinha e revestiu seu membro com o látex, colocando um pouco mais de lubrificante no mesmo. Ficou entre as pernas de Sehun e foi envolvido por seus braços, sendo prendido ali. Deixou alguns selares pelo rosto alheio como se quisesse relaxá-lo antes do momento.
- P-Pode ir... – A voz de Sehun estava falha e rouquinha, e mesmo assim continuava linda.
Doh posicionou o pênis na entrada alheia e a penetrou bem devagarzinho, respirando fundo ao ter Sehun se contraindo e o expulsando sem querer; seu membro sendo completamente esmagado pelo interior do rapaz. Com muito autocontrole, ele conseguiu enfiar tudo, e ambos gemeram após o feito.
- V-você é tão grande, Soo. – Sehun o puxou para um beijo eufórico, batendo sem querer os dentes.
E Kyungsoo nem ao menos conseguiu responder por estar com a boca ocupada e o coração acelerado.
Pouco a pouco foi aumentando a velocidade das investidas. Sentir o interior de Sehun estava sendo melhor do que havia imaginado. O rapaz tinha uma expressão deveras pornográfica, e arranhava toda a extensão de suas costas e ele não era louco de reclamar. O maior estava lindo daquela maneira, tão entregue.
Quando sentiu que Sehun se acostumara com seu tamanho, passou a penetrá-lo com vontade e rapidez, arrancando vários “ah, Soo!” e uma série de palavrões por parte dos dois, porque se tinha uma coisa que Kyungsoo gostava era de falar muita palavra de baixo calão durante o sexo.
Sehun estava no paraíso com toda a certeza do mundo. Kyungsoo tocava seu corpo com vontade, descobrindo seus pontos fracos e onde poderia deixá-lo mais excitado. Metia com força e bem fundo, e sua próstata era atingida facilmente, fazendo-o delirar de puro prazer. O mais velho também beijava, mordia e agarrava com força as suas coxas. Ele jamais se esqueceria daquela foda.
Doh saiu de dentro de si, e ele soltou um resmungo, mas logo gemeu manhoso quando fora colocado de quatro na cama e recebeu um tapa bem gostoso em sua bunda.
- Empina pra mim, gatinho. – E Sehun se empinou todo, abrindo um pouco mais as pernas.
Mais uma vez Kyungsoo o penetrou, colocando ambas as mãos em sua cintura, puxando o seu quadril com força para se chocar contra o dele. Os testículos alheios chegavam a produzir um barulho forte contra as suas nádegas, tamanha era a força do impacto entre os seus corpos.
Sehun rebolava, pedia por mais sem se importar se algum vizinho iria ouvi-lo. No momento, sentir o pênis de Kyungsoo dentro de si era o mais importante.
Ele estava quase gozando e Doh pareceu notar, pois segurou o seu membro e o masturbou ao mesmo tempo em que o fodia, exercendo mais pressão sobre sua entrada quente e apertada. O rapaz segurou com força os seus cabelos suados, enquanto pendia a própria cabeça para trás.
- E-Eu não vou mais aguentar... – Kyungsoo ouviu Sehun dizer com um fio de voz. Com a afirmação alheia, ele aumentou (como se fosse possível) a velocidade com que penetrava o mais novo, fazendo a cama ranger e bater na parede.
Não demorou muito para que Sehun gozasse deliciosamente em sua mão, contorcendo-se todinho na cama e chamando-o manhosamente. Em seguida foi sua vez de chegar ao ápice, momento em que envolveu o torso alheio com seus braços e mordeu o ombro do rapaz com força.
Não demorou em sair de dentro do mais novo, tirar a camisinha (amarrando-a e jogando-a do lado da cama) e se deitar ao lado do rapaz, sendo abraçado antes mesmo de poder fazer alguma outra coisa. Claro que ele retribuiu o abraço, dando um beijinho na testa suada do mais novo e fazendo um carinho no braço dele.
Não precisaram falar nada... Apenas aproveitaram aquele momento juntinhos, no silêncio da madrugada, enquanto trocavam algumas carícias.
Sehun caiu no sono primeiro e Doh ficou observando a face corada e os cabelos úmidos bagunçados. Deixou mais um beijo na bochechinha alheia e adormeceu.
***
Quando Sehun acordou no dia seguinte, sentiu falta do corpo alheio ao seu lado, algo que o fez abrir os olhos rapidamente e se sentar na cama. Mas logo se tranquilizou quando ouviu um barulho vindo da cozinha, deduzindo ser Kyungsoo mexendo em alguma coisa.
Seu celular encontrava-se na sala, então não podia verificar as horas. Levantou-se da cama, pegou sua cueca do chão e a vestiu, indo para onde estava o farmacêutico.
- Bom dia, flor do dia. – Kyungsoo disse assim que avistou o maior entrando na cozinha. O cheiro preenchia o ambiente, e na mesa tinha pães integrais, queijo e mais alguns potinhos para acompanhar.
- Bom dia Soo. Acordou cedo, hm? – Sehun esfregava os olhinhos e bocejava, e Doh o achou muito fofo.
- Na verdade, minha intenção era deixar o café da manhã pronto e te acordar – disse enquanto se aproximava, puxando o mais novo para um beijo.
- Bobo – Sehun sorriu envergonhado – Obrigado... – Sussurrou a última palavra.
- Achei que precisaria de um café bem reforçado para recuperar as energias – Kyungsoo brincou.
- Aish... Você não para nunca de me deixar assim! – Abraçou o outro e colocou seu rosto na curvatura do pescoço alheio.
- Vem, vamos comer – Doh puxou ele para se sentar à mesa.
Sehun comeu bastante. Estava morrendo de fome e ainda sentia uma leve dorzinha nas nádegas por causa da noite longa que tivera. Porém, não comentou nada com o mais velho. Preferiu ficar calado antes que ficasse mais vermelho.
A manhã foi repleta de risadas e muitos beijinhos com gosto de café e pão. O veterinário se viu adorando por demais a companhia de Kyungsoo, e isso porque era a terceira vez que falavam bastante. Ele não se importava se os dois tinham sido precoces por terem ido para a cama sem se conhecerem direito. Se nada desse certo, pelo menos tinha conhecido e transado com o seu vizinho.
Sehun ficou para o almoço, e nem precisou que Doh insistisse muito, porque ele queria ficar, e se pudesse passaria o dia inteiro ali. Entretanto ele sabia que tinha suas obrigações, e não podia incomodar o outro... Só que ele tinha gostado até demais do baixinho. Até mesmo repetiram a foda, e no sofá! Não era justo sair como o bobo da história.
De banho tomado pela segunda vez – porque Kyungsoo não o deixaria voltar para o seu apartamento cheirando a sexo – o veterinário ficou mordendo a ponta do polegar, nervoso. Como deveriam se despedir? Rolaria um segundo encontro? Ele não fazia ideia do que viria a acontecer.
- Obrigado pela companhia Hun, foi muito bom.
Os dois estavam de frente para a porta de Doh, olhando um para o outro, perdidos.
- Foi bom sim. Então... – Passou a língua entre os lábios.
- Sehun.
O mais novo olhou para as íris escuras, prestando atenção.
– A gente precisa terminar de maratonar X-Men.
Sehun com certeza não escondeu o sorriso.
– O que você acha?
- Eu acho... – aproximou-se de Kyungsoo na medida em que falava – Que devemos terminar de assistir na minha casa dessa vez.
- Hm, é só me dizer o dia e a hora que eu estarei lá. – Doh sussurrou rente ao seu ouvido, deixando um beijo estalado em sua bochecha.
- Que tal esse final de semana? – Sehun colocou seus braços em volta do pescoço alheio.
- Que tal nós estendermos essa maratona?
- Tipo assistir um filme a cada semana? – Sehun recebeu uma confirmação do menor – Mas e depois que terminarmos?
- A gente acha outra trilogia de filmes e assim vai indo.
Sehun não era tão lerdo para perceber a conversa cheia de segundas intenções. Kyungsoo também queria o mesmo que ele: se encontrar mais vezes. E isso era bom pra cacete.
Foi um tantinho difícil se despedirem, pois Doh ficou lá beijando e beijando aquela boquinha e abraçando o rapaz, falando várias besteirinhas em seu ouvido. Por fim, o veterinário foi para casa, o que não levou trinta segundos por serem vizinhos e morarem na frente um do outro.
Quando chegou, mandou uma mensagem para Minseok, recebendo a resposta imediatamente. E seguiram trocando mensagens durante o resto do dia.
Min: Eu te falei. :)
Hun: Falou mesmo, viado.
Min: E agora vai rolar mais?
Hun: Lógico que sim. Mas confesso que fiquei com medinho, porque eu realmente gostei dele, hyung.
Min: Ih, recém deu e já se apaixonou.
Hun: Cala a boca, Minseok. Não estou apaixonado, apenas muito afim. Falta muito para eu me apaixonar...
Min: Ou talvez mais um mês se encontrando.
Hun: Tu não colabora em nada, né? Puta que pariu.
Min: Tô só falando o óbvio, meu lindo.
Hun: Agora vou dormir. Amanhã de manhã o Soo vai me levar para o trabalho. (olhinhos)
Min: A SITUAÇÃO TÁ MAIS RÁPIDA DO QUE EU IMAGINEI, MEU DEUS!
Hun: Af... É porque ele trabalha longe e vai de carro, aí ele me ofereceu carona... Só isso!
Min: Daqui a pouco ele tá comprando cafezinho pra ti, e etc.
Hun: Boa noite, hyung! (carinha brava e um coração vermelho)
Min: Vai lá, novinho. Boa sorte com teu novo boy. Não se esquece de apresentar ele pra mim hein?! Por foto não é o bastante. Ele tem que pedir a minha benção.
Hun: Vai cagar.
Min: Caguei ontem. Boa noite, Hunnie. (carinha piscando)
***
No outro dia, Sehun se encontrou com o farmacêutico no corredor entre seus apartamentos, dando um selinho rápido no mesmo devido a sua timidez. E os dois seguiram de mãos dadas (isso mesmo) até o estacionamento do prédio.
Doh, como prometido, levou o veterinário até o trabalho, não perdendo a oportunidade de beijá-lo antes de infelizmente se despedirem.
Sehun de fato era uma pessoa muito sortuda. Além de ter ganhado o apartamento de seu irmão, de quebra conheceu o vizinho careca e musculoso. Quem sabe, ambos não se gostariam o bastante para no futuro terem algo a mais? Sehun pouco se importava com o tempo, estava afim e tinham mais que aproveitar as coisas.
No fundo ele sabia que os dois poderiam dar certo. Kyungsoo era legal pra caramba, os dois tinham muitas coisas em comum, e de brinde se combinavam bastante na cama. O que poderia dar errado, né? Isso mesmo, nada! Pelo menos nada segundo o próprio Oh Sehun.
Dyo: Hun, cê sabe que o síndico mora no andar de baixo, né?
Sehunnie: Puta que pariu!
Dyo: KKKKKKKKKKKKKKK.
Sehunnie: Não ri de mim! Ele deve ter ouvido tudo!
Dyo: Deve? Ele com certeza ouviu muito mais do que o permitido.
Sehunnie: Não vai fazer nem um ano que me mudei e já serei expulso.
Dyo: Nah, eu não deixo, relaxa.
Seunnie: Promete?
Dyo: Prometo.
E lá estava Sehun, sorrindo feito bobo por causa do mais velho, esquecendo-se de que provavelmente tomaria uma bronca do síndico pelo barulho.
16 notes
·
View notes
Text
19 - #47 Solar
Título da fanfic: Solar
Sinopse: Byun Baekhyun tinha a vida que julgava perfeita para si. Uma esposa, um lar, a profissão que sempre sonhou; estava feliz e sentia que nada poderia estragar aquilo. Porém, tudo muda de repente: seu maior tesouro, o motivo de sorrir todos os dias, sua esposa Joohyun, acaba morrendo em um acidente de carro. Devastado pelo sentimento de culpa e a dor da perda, ele decide deixar a capital Seul e partir para Busan, uma cidade que estava em ruínas pela guerra. O médico desejava poder ajudar os feridos e a tentar esquecer a amada aspirando ares novos. Entretanto, seus planos vão por água abaixo quando depara-se com Oh Sehun, o general do exército sul-coreano.
Couple: SeBaek
Número do plot: #47 Byun Baekhyun, um médico, perdeu sua esposa em um acidente de carro; e agora, abandonando a cidade para evitar as lembranças da morte de sua amada, Baekhyun se muda para Urk (uma cidade em guerra) para contribuir ajudando os soldados feridos. Quando o moreno chega, fica impressionado com a beleza de Oh Sehun, o soldado chefe, encarregado de comandar a equipe de soldados de Urk (...)
Classificação: +18
Aviso: álcool, bissexualidade, homossexualidade, nudez, sexo, violência.
Quantidade de palavras: 37.482
Nota do autor(a): Quero dizer para a pessoa que doou o plot que foi maravilhoso trabalhar com ele, trabalhoso também, pois tive que sair da zona de conforto que era o Fluffy e arriscar-me em drama romântico, algo complicado de ser fazer. Bem, ficou enorme pelo contexto, por mais romance que tenha, estavam no meio de um confronto armado e eu não poderia esquecer isso e jogar isso no esquecimento, seria muito errado e não sou o tipo de autora que desenvolve rápido as coisas. Também quero afirmar que fiz algumas mudanças, por exemplo, o nome da cidade mudou de Urk para Busan, sendo inspirada na situação da Catalunha, mas não é igual. Abaixo, deixarei alguns links que podem ser importantes para situar-se na história: Patentes do exército brasileiro (que foram as que usei): aqui Mapa de Busan: aqui Música usada no fim da história: aqui
“— Fizemos todo o possível para salvá-la, senhor Byun — introduziu o doutor. Baekhyun já balançava a cabeça, incrédulo, com lágrimas cristalinas brilhando em seus olhos. — Porém, o impacto foi forte demais e infelizmente ela não resistiu.”
Essa frase passava pela cabeça de Baekhyun como se fosse um filme sem fim, onde ele já sabia qual seria o final e jamais gostaria de revê-lo. Suspirou, tendo sua mente tomada por lembranças de Joohyun, sua amada esposa, enquanto levava suas malas para o carro.
Por mais que tentasse, as lembranças do acidente não saíam de sua cabeça. Todo o santo dia ao acordar, se olhar no espelho ou qualquer outra atividade trivial, se lembrava do sorriso perfeito — aos seus olhos — da esposa, enquanto ela segurava firmemente sua mão e dizia eu te amo pela última vez. Então, após dois míseros minutos admirando o sorriso da esposa, foi surpreendido por um caminhão. Tendo que desviar do veículo, acabou por bater com toda a força em uma árvore, sendo que, infelizmente, o lado mais atingido foi o de Joohyun.
Não suportava mais as lembranças e a culpa o consumindo, não conseguia mais ter um dia de paz desde o acidente. Por isso, decidiu que iria se mudar de Seul para Busan. A cidade necessitava de um efetivo maior de médicos por conta da guerra que assolava o local e Byun não pensou duas vezes antes de aceitar o convite de seu amigo Kim Jongdae e acompanhá-lo para ajudar os feridos.
Era difícil se despedir da cidade onde tinha sido tão feliz. Seul era muito especial para Baekhyun; os melhores anos de sua vida tinham sido ali. O inicio de namoro, a formatura na faculdade de Medicina, o casamento, a casa novinha que ele comprara para os dois com tanto esforço, os sonhos que eles tinham. Ah, o rapaz se apoiou no capô do carro — que seu irmão mais velho, Baek Beom, tinha lhe emprestado — e suspirou. Estava na hora de se desprender daqueles sentimentos, tinha que superar o acidente.
Seria a primeira vez em meses que iria dirigir. Após o acontecido, ele ficou em um estado de transe — para a família, pois para ele era um estado de luto — por várias semanas, indo morar na casa dos pais e preferindo caminhar até os lugares, deixando sua família ou amigos o levarem para onde queria. Ao se sentar naquele banco e colocar as mãos no volante, sentiu um turbilhão de sensações o invadirem. Olhou para as próprias mãos e viu as cicatrizes que o lembravam do acidente. Além das que tinha nas mãos, ele ainda carregava uma enorme nas costas.
Apertou os dígitos ao redor do volante e pôs a chave na ignição. Com toda a calma que conseguiu acumular, respirou fundo e começou a dirigir. Era complicado, difícil, terrível… Ele não tinha adjetivos corretos para descrever aquele momento; sentia suas mãos tremerem e seus pés baterem nervosos no carro. Pelo menos, sua respiração ainda estava controlada, assim como os batimentos cardíacos, mas sentia que poderiam se descontrolar a qualquer momento.
Isso não aconteceu. Felizmente, durante todo o trajeto de quase uma hora de duração, conseguiu conter suas emoções e dirigir sem causar um acidente. Ao chegar ao local, se surpreendeu com o que viu: devastação, revolta, cadáveres, militares e feridos, todos juntos e misturados naquele local hostil. Nunca tinha visto algo parecido em toda a sua vida, não pôde conter sua surpresa.
— Ei, você, garoto. — Baekhyun ouviu o chamado e virou-se na direção do som, deparando-se com um homem alto, vestido de farda verde escura e várias medalhas brilhando no peito. — Não podes ficar parado aí, estás a atrapalhar o trabalho dos meus soldados. — A voz era seca e fria, não esboçava a mínima emoção, além do tom de ordem.
Baekhyun sentiu o nervosismo o atingir. Não queria parecer rude, mas não iria aceitar o modo com que aquele homem tinha se referido a si. Ele poderia ter sido mais simpático, oras, tinha acabado de chegar depois de uma cansativa viagem. Elevou o rosto e percebeu a aproximação do cara de farda. Era intimidante, mas Baekhyun não era do tipo que se intimidava facilmente com as pessoas.
— Não precisa falar dessa forma comigo. Eu não ficarei parado aqui o restante do dia, estava somente a olhar ao redor — tentou soar o mais firme possível. Virou-se para pegar suas malas, porém teve seu pulso segurado, com uma força considerável, mas não o suficiente para machucar.
— Percebo que és o tipo de pessoa petulante e que não mede o teor das palavras que fala. — Soltou o pulso de Baekhyun. Ergueu a própria face e deixou clara sua soberania perante todos que ali estavam. — Tenha cuidado, garotinho, essa sua petulância pode lhe prejudicar em um futuro não muito distante.
Depois de pronunciar tais palavras foi embora, deixando a marca de seus dedos na pele branca de Baekhyun. Ponderou por certo tempo sobre as palavras daquele homem, e logo revirou os olhos, deveria ser só mais um militar idiota que se achava superior por vestir uma farda e ter medalhas penduradas no peito.
Bufou e andou rumo ao porta-malas, abrindo-o e começando a retirar as malas. Não tinha levado muita coisa, grande parte dos objetos contidos na casa seriam de uso desnecessário em Busan no momento atual — além de vários lembrarem-lhe Joohyun. Afastou esses devaneios e pegou suas malas, entrando no dormitório onde ficaria.
Grande parte das pessoas que vivia em meio à guerra em Busan morava em dormitórios. Eram locais pequenos, com no máximo vinte quartos, que poderiam abrigar cinco pessoas em cada. No que tinha escolhido para se hospedar, não seria obrigado a dividir o quarto com ninguém — algo bom, pois não estava disposto a dividir sua privacidade com ninguém no momento.
A recepcionista pediu somente o nome e alguns outros dados pessoais; após as respostas lhe entregou a chave. Não havia elevador, muito menos energia elétrica — as pessoas deveriam viver a base de cartas para se comunicar e lâmpadas de querosene para iluminação —, por isso teve que subir as escadas rumo ao segundo andar, caminhar por alguns corredores e encontrar o quarto número sete.
O quarto não era muito espaçoso, um cubículo equipado com uma cama de solteiro, um criado-mudo e uma mesinha, onde descansava vários papéis e envelopes para cartas, além de uma caneta esferográfica azul e uma lâmpada de querosene. Baekhyun suspirou, pousando a mala no chão. Abriu a mochila e tirou um porta-retrato que exibia a foto mais importante de sua vida: o dia de seu casamento.
Joohyun estava tão bonita, o vestido não era nada muito exagerado; ela preferia algo mais simples. Isso não importava nem um pouquinho para Baekhyun. Ele só queria se casar com a mulher que amava, nem que fosse de pijama, e faria qualquer coisa que ela quisesse. Na foto, beijava-a apaixonadamente, enquanto os convidados sorriam e batiam palmas. Só percebeu que estava chorando quando uma de suas lágrimas molhou a foto.
Se jogou na cama, abraçando o porta-retrato contra o peito, ao mesmo tempo em que lágrimas teimosas caíam de seus olhos, molhando completamente o seu rosto. Não via motivo para contê-las, sentia muita falta da esposa e não deixaria de derramar uma lágrima sequer por ela.
Baekhyun nunca gostou de dormir sozinho. Desde pequeno tinha o costume de levantar no meio da noite e ir para a cama dos pais, os convencendo com seu sorriso retangular a deixarem-no dormir consigo. Quando os pais passaram a julgá-lo crescido demais para isso, a vítima passou a ser Baek Beom, o irmão mais velho que fazia tudo pelo mais novo. Então, veio a melhor companhia para si: Joohyun.
Era uma tortura sem tamanho virar para o lado esquerdo da cama — os dois jamais trocaram de lado em todos os longos três anos de casados — e não sentir nada para abraçar, a não ser o grande vazio naquele local. Infelizmente, não era somente a cama que estava completamente vazia, o coração de Baekhyun também estava.
Quando acordou no dia seguinte, após mais uma noite de pesadelos e de dormir abraçado com o porta-retrato, se levantou e encaminhou-se para o banheiro. Lembrava o sistema de vestiários da faculdade, sendo divididos entre homens e mulheres, com dez chuveiros para cada um. Todos eram separados por uma parede de granito, que os impedia de ver quem estava ao seu lado.
A água era fria, muito fria. Como não havia energia elétrica, eles seriam obrigados a tomar banhos frios enquanto estivessem morando em Busan; obviamente que tudo seria mais difícil em um local assolado pela guerra, ele já esperava por isso. Se escorou na parede do box e deixou a água molhar completamente o seu corpo, fechou os olhos e aproveitou a sensação do líquido congelar sua pele.
“— Baek, me promete uma coisa? — Joohyun se aninhou nos braços do marido, enquanto os dois assistiam a um filme que passava na televisão.
— Tudo o que você quiser meu amor. — Beijou a bochecha da esposa.
— Se algum dia, alguma coisa acontecer comigo, você fará o possível para ser feliz.
Baekhyun franziu a testa, soltando-se parcialmente da esposa, encarando o rosto sério dela. Segurou a face alheia com as mãos, acariciando-a, e sorriu.
— Se você está me pedindo isso, eu farei o possível para ser feliz, mesmo sem você. — Joohyun compartilhou o sorriso. — Mas, saiba que eu duvido ser capaz de viver sem você ao meu lado. Nada vai nos separar, Joo.
— Nunca sabemos o dia de amanhã, Baek.”
As lágrimas do rapaz se misturavam com a água fria que caía do chuveiro; era a última promessa que ele tinha feito a Joohyun. Será que ela tinha pressentido que algo iria acontecer? Sentia que iria acabar deixando Baekhyun sozinho? Socou a parede do box até que saísse sangue de seus dedos, tinha que extravasar a raiva.
— Eu vou cumprir essa promessa, meu amor — sussurrou, para si mesmo, quando sentiu que estava mais calmo. — Vou tentar ser feliz, Joo. Mesmo que eu falhe, falharei tentando. Por você, por você.
Ao sair do banho, sentiu sua mão esquerda doer. Porém, não tinha tempo para sentir dor, tinha muito trabalho a ser feito para que sentisse uma dorzinha de nada; pessoas estavam morrendo e sua obrigação era a de ajudá-las. Trocou de roupa, pondo sua camisa e calça branca, tirando sua maleta de primeiros socorros da mala.
A área hospitalar não ficava muito longe do dormitório, bastava andar alguns poucos metros e chegaria ao local onde eram levados os soldados feridos e alguns poucos moradores de Busan — os que tinham melhor poder aquisitivo em outras palavras. Quando Baekhyun apareceu, Jongdae já o esperava.
— Temos muitos pacientes, Baekhyun — avisou ao andarem juntos para dentro da tenda. A estrutura não era das melhores; eles eram obrigados a trabalhar dentro de uma espécie de barraca de acampamento, que abrigava o máximo de pessoas que eles conseguissem colocar ali dentro. — Os confrontos têm piorado nas últimas semanas e nosso contingente não está dando conta de tantos soldados feridos.
— Vocês atendem somente soldados? — Deixou a maleta em cima da mesa e pegou alguns prontuários. Olhou em volta e percebeu que grande parte dos enfermos, exceto dois, usavam o uniforme do exército sul-coreano.
— É perigoso entrar em contato com os habitantes de Busan; eles podem estar contaminados. Infelizmente, não temos o equipamento necessário para lidar com doenças infecciosas e não podemos arriscar que nossos poucos médicos se contaminem. — Recebeu um olhar incisivo de Baekhyun como resposta.
— Jongdae, eu não vou ver pessoas sofrerem por conta de um capricho ridículo. — Largou o prontuário na mesa e pegou novamente sua maleta. — Somos médicos, Jongdae, médicos. O nosso dever é salvar vidas, independentemente do que essa pessoa for, entendeu? Eu não vou ficar parado dentro de uma tenda, enquanto pessoas inocentes sofrem lá do lado de fora sem receber uma mísera ajuda. Eu não nasci para fazer vista grossa aos problemas das pessoas, eu vou ajudá-las.
Baekhyun saiu da tenda, ignorando completamente os gritos de Jongdae para que voltasse. Andou decidido rumo ao carro e abriu a porta sem nenhum cuidado; colocou a chave na ignição. Joohyun o tinha pedido para ser feliz e ele seria cuidando do próximo, como sempre amou e estudou tanto para fazer.
Dirigiu por longos quilômetros, parando em uma parte mais afastada da área hospitalar. Estacionou o carro e desceu do veículo, pronto para ajudar quem precisasse de si. O lugar era bem pior de perto, as pessoas agonizavam no meio do que antes era uma rua, várias tinham algum ferimento, muitas com as camisas sujas de sangue. O cheiro pútrido chegava a dar ânsia de vômito.
Caminhou em frente a algumas calçadas e observou o estado das pessoas. Olhares sem nenhuma esperança, tristeza estampada em cada centímetro das faces machucadas que elas exibiam, nunca tinha visto algo tão assustador em toda a sua vida. Bastaram mais alguns metros para que sentisse sua camisa ser puxada por uma pequena mão. Olhou para baixo e avistou uma garotinha.
— Oi — ela disse, de forma adorável, tendo as bochechas vermelhas após terminar a frase. Baekhyun sorriu, do jeito mais doce que conseguia, algo não muito difícil para si que sempre amou crianças, e abaixou-se para ficar na mesma altura que a menina.
— Oi, pequena. — Passou os dedos finos com delicadeza no pequeno rostinho. — Precisa de ajuda? Está doendo? — Apertou levemente o joelho ralado da garota.
— Sim — respondeu baixinho e fez um biquinho.
Baekhyun não poderia deixar, de forma alguma, aquela menina vagando por aí com um ferimento. Pegou a garotinha no colo e a colocou no teto do carro, a única superfície plana que ele tinha acesso naquele momento. Abriu sua maleta e pegou a água oxigenada junto com o algodão, além de um band-aid colorido que tinha.
— Eu vou fazer um curativo no seu joelho, ok? — A menina assentiu. — Vai arder um pouquinho, mas não é para se mexer. Qual é o seu nome?
— Yerin.
— Então, Yerin, onde estão os seus pais? — Passou cuidadosamente o algodão no ferimento; por sorte não estava infeccionado, o que facilitava seu trabalho. A menina fez um biquinho choroso e Baekhyun temeu pelo pior. — Seus pais estão aqui?
— Papai foi junto com aqueles homens vestidos de verde. — Baekhyun entendeu que o homem tinha sido recrutado pelo exército, provavelmente deixando a família desamparada no meio daquela guerra. — Mamãe ficou triste, muito triste, e foi embora. Ela disse que iria trazer o papai de volta, mas eu sou muito pequena ‘pra ir junto.
— Alguém está cuidando de você? Não me diga que a sua mãe te deixou sozinha? — Seria uma imensa falta de responsabilidade; já sentia raiva só de pensar em tal possibilidade.
— Mamãe me deixou com meu tio Min. — Baekhyun suspirou aliviado ao ouvir aquela resposta. Terminou de limpar o machucado, colocou o band-aid e sorriu na direção da menina, pondo-a no chão.
— Pronto! Curativo feito, mas precisa tomar cuidado, nada de ficar correndo por aí e cuidado para não cair, pode acabar se machucando ainda mais — informou. Yerin assentiu com a cabeça e também deixou um beijo na bochecha do médico.
— Obrigado, anjinho.
— Anjinho? — Baekhyun repetiu confuso.
— Minha mamãe disse que anjinhos são bonitos e cuidam das pessoas. E também usam branco, assim como você. — Apontou para as roupas de Baekhyun, que sorriu com o pensamento da menina. — Tem um sorriso bonito e brilhante, então você é um anjinho.
— É, talvez eu seja um anjinho. — Yerin arregalou os olhos e abriu a boca em surpresa. Baekhyun deu uma risada. — Como um anjinho eu tenho que ajudar outras pessoas, assim como lhe ajudei. Por isso, você vai voltar para casa agora e eu vou trabalhar, ok? — Deu um beijo na bochecha da garota, que se despediu, indo rumo a sua casa.
Baekhyun ainda tinha muito trabalho a fazer. Colocou suas luvas de látex e apertou a maleta contra os dedos, deveria começar por algum lugar. Dirigiu-se a um rapaz que tinha a mão extremamente castigada por bala de revólver, estava sentado na calçada, com a respiração acelerada, enquanto perdia muito de seu sangue. O jovem doutor tinha que retirar a bala dali com o máximo de cuidado possível, para não piorar a provável infecção. Mandou o rapaz, que descobriu chamar-se Do Kyungsoo, estender o braço para si, pegou uma pinça e com o máximo de cuidado tirou a bala do ferimento.
Kyungsoo sorriu para o doutor, ao mesmo tempo em que ele enrolava a mão dele com o esparadrapo. Disse que doeu — e muito — a retirada da bala, porém ficar com ela ali o deixando incapacitado de fazer qualquer atividade era bem pior. Agradeceu e levantou do chão, caminhando de volta para seu esconderijo.
O próximo a ser ajudado foi um estrangeiro chamado Zhang Yixing, o chinês tinha ido passar férias na Coreia do Sul e foi surpreendido pela guerra em Busan. Tinha um corte grande na coxa direita, protegida parcialmente por um pano enrolado no local, já empapado de sangue. Infelizmente, não poderia trocar suas luvas, pois era a única que tinha, então foi obrigado a não seguir o código de higiene, que diz que se deve trocar todo o material descartável.
Desenrolou o pano, observando o estado caótico em que se encontrava o pobre homem. Tirou alguns lenços descartáveis de sua maleta e iniciou o processo de limpeza do ferimento, dando graças a Deus quando percebeu que não estava tão infeccionado quanto imaginava. Yixing sentia que sua perna poderia cair a qualquer momento, temia perder o membro inferior, por isso Baekhyun receitou-lhe um analgésico, para, pelo menos, diminuir a intensidade das dores que sentia. Após a limpeza, repetiu o procedimento feito com Kyungsoo: enrolou o esparadrapo na coxa do chinês, recebendo um sorriso dolorido, mas cheio de agradecimento por suas ações.
Quando se preparava para ajudar mais pessoas, foi parado por um homem fardado que o segurou pelo ombro; o rosto sério não parecia disposto a tolerar desculpas esfarrapadas para o motivo de estar ali. Obviamente, Byun não abaixou o rosto, ficando cara a cara com o soldado.
— Não pode ficar aqui — informou o tenente Park Chanyeol, cujo nome o médico descobriu ao ler na farda. A voz grossa passava tanta imponência quanto aquele militar idiota que tinha encontrado no dia anterior. — É proibido que ultrapassem a linha de risco.
— Eu não ligo ‘pra isso — rebateu; tão sério quanto o homem. Ele era bem mais alto do que si, porém, para Byun, isso não importava. Poderia enfrentar quem quisesse pelo seu direito de ajudar ao próximo. — Estou aqui para ajudar.
— Pois ajude dentro da área hospitalar. — Baekhyun reconheceu aquela voz séria e sem nenhuma emoção, mesmo sem a necessidade de virar-se para trás. Chanyeol bateu continência e foi dispensado pelo militar idiota. — Estando aqui, atrapalha ainda mais o trabalho dos militares; seu trabalho é cuidar dos feridos na ala hospitalar.
— Eu cuido de quem eu quiser, onde eu quiser — disse, com toda a ênfase possível. Seu rosto se contorceu por raiva daquele homem idiota, que se sentia a pessoa mais poderosa do local. — Você não é ninguém ‘pra mandar em mim.
— Eu sou o general Oh Sehun. Eu mando em todos que entram em Busan, ou seja, você me deve total respeito. Sua obrigação é acatar todas as minhas ordens, independentemente da sua opinião a respeito delas. — Aproximou-se ainda mais do médico, com o rosto impassível de sentimentos. — Vai sair daqui, agora.
Baekhyun acelerou sua respiração como um touro com raiva, mas infelizmente teria que respeitar aquela maldita ordem. Por enquanto, teria que ir embora daquele lugar abandonado e deixar de ajudar mais naquele dia, mas com toda a certeza voltaria.
Deixou o general sozinho, virando-se para o lado contrário e andando sem olhar para trás até o seu carro. Bufou ao jogar a maleta no banco de trás, batendo no painel três vezes. Não podia perder a calma, tinha que ficar calmo e manter a cabeça no lugar; então respirou fundo e se concentrou em dirigir de volta para a área hospitalar.
Jongdae estava com a expressão preocupada e os braços cruzados na frente da tenda. Passou direto pelo amigo, largando a maleta na mesa e pegando alguns prontuários. Kim parou na sua frente, esperando explicações, estas que não vieram.
— Você ultrapassou a linha de risco? — indagou, tanto com preocupação quanto com certa raiva pendendo em seu tom de voz. — Responda Baekhyun, você foi lá?
— Mas é claro que eu fui! — exclamou como se fosse óbvio. — Eu não poderia ficar vendo o sofrimento alheio daqui. Nós temos condições de cuidar de todos os feridos desse local. Todos, sem nenhuma exceção. — Deixou Jongdae para trás, caminhando em frente a algumas macas, mais parecidas com camas do dormitório.
— Baekhyun, a linha de risco existe para nos proteger; ela se baseia no fato de que quem está depois da linha pode estar infectado com doenças graves. Não temos o equiparato para lidar com vírus e infecções desse porte. — Recebeu um olhar de tédio por parte do outro doutor. — Sem contar os roubos; muitos são furtados ao passar por ali. E também temos um campo minado, pode haver bombas por lá.
— Você pode me dar um milhão de argumentos para que eu pare de ajudar essas pessoas, pode me dizer as histórias mais assustadoras que já aconteceram aqui, pode falar o que quiser Jongdae. — Ficou de frente para o colega. — Mas o meu argumento é mais forte: eu vou fazer o possível e o impossível para ajudá-los e não me importa ser roubado ou pegar uma doença se for para salvar uma vida inocente.
Não adiantava; Baekhyun era teimoso e iria persistir até o último segundo de vida em seus ideais na Medicina. Pelo restante do dia, trabalhou ajudando os soldados que chegavam feridos, afinal eles não tinham culpa, estavam tentando ajudar sua pátria na árdua luta contra os rebeldes de Busan —, que insistiam em uma separação para se tornar uma nação independente da Coreia do Sul —, porém só desejava que aquelas pessoas tivessem a mesma chance para sobreviverem.
Ao anoitecer, quando voltava para o dormitório, foi parado por um dos médicos que trabalhava junto consigo. O nome do rapaz era Kim Jongin, um moreno bonito e cuidadoso, que o parabenizou por ter coragem o suficiente para cruzar a linha de risco. O jovem afirmou que ninguém tinha atravessado a linha desde a sua criação, pelo medo de serem contaminados ou roubados.
O moreno era uma pessoa interessante, com pensamentos parecidos com os de Baekhyun. Os dois conversaram por longos minutos, até chegarem aos seus respectivos quartos no dormitório Pelo menos ele tinha conseguido um novo amigo que concordava consigo.
Naquela noite, tinha sido mais fácil cair no sono. Sentia-se feliz como não acontecia há muito tempo ao lembrar-se da pequena Yerin e dos rostos agradecidos de Kyungsoo e Yixing. Seu coração aqueceu dentro do peito e uma felicidade sem tamanho o atingiu. Ao sentar-se na beirada da cama, rodou a aliança que ainda usava nas mãos, dando um pequeno sorriso; estava cumprindo a sua promessa, estava tentando ser feliz sem a presença de Joohyun.
Acordou no dia seguinte sentindo-se pleno. Tomou o mesmo banho gelado do dia anterior, comeu o café da manhã — dado em uma espécie de refeitório, onde todos os que moravam dentro do dormitório se reuniam e aproveitavam as refeições diárias, sendo que todos comiam a mesma comida — e dirigiu-se ao carro. Desta vez, nem se deu ao trabalho de ir para a área hospitalar; dirigiu direto para fora da linha de risco, desviando das barreiras montadas pelos soldados, muito fracas por sinal.
Algumas pessoas sorriram ao ver Baekhyun, como se ele fosse algum tipo de salvador da pátria. Logo ele pegou sua maleta e colocou suas luvas, estas que eram novas, pois ele tinha feito questão de trocar e pegar mais alguns pacotes extras, encaminhando-se para sua jornada diária de ajuda.
Primeiro cuidou de Jeong Yeon, uma mulher que tinha um corte feio no ombro. Não era grande ou extenso, mas era dolorido como qualquer outro tipo de ferimento. De certa forma, foi fácil estancar o sangramento e fazer um curativo. Depois, ajudou alguns parentes da mulher, como seu irmão mais velho Junmyeon, o primo Jeongguk e a cunhada Dong Sook.
— Ninguém nunca faz nada por nós, senhor — Junmyeon, que era o mais velho entre os feridos, afirmou, ganhando a atenção de Baekhyun. — Todos nos julgam como a escória desse lugar, o que restou do que era de bom em Busan. Você é o primeiro em tempos que tenta ajudar a gente. Muito obrigado por isso.
— Por favor, não me chame de senhor. Meu nome é Baekhyun. — Terminou um dos curativos que fazia em Ji Sung, um adolescente que acumulava inúmeras escoriações pelo corpo. — Não faço mais do que a minha obrigação. É meu trabalho ajudá-los.
— O senhor poderia nos assistir morrer sem fazer nada — Hwitaek, o garoto que tinha quebrado o braço esquerdo, disse. — Muitos dos médicos que estão aqui, só salvam os soldados; consideram eles muito mais importantes do que nós, meros mortais — ironizou.
— Eu realmente sinto muito por isso — Baekhyun afirmou sincero; a tristeza evidente em sua voz. Terminou seu trabalho para com Ji Sung, dispensou o rapaz e virou-se para atender o próximo paciente, no caso, uma garota chamada Soojung. — Eu gostaria muito de poder trazer todos os médicos aqui para ajudá-los, mas eu não posso forçá-los a fazerem algo que não querem.
— Tudo bem, doutor Baekhyun — Junmyeon consolou, sorrindo pela primeira vez em dias. — Ter você aqui trabalhando por nós já é o suficiente. Agradecemos muito por tudo, tudo mesmo que você está fazendo pela gente.
Estava verdadeiramente emocionado com as palavras de todos. Seu segundo dia estava sendo bem mais produtivo do que o primeiro; conseguiu ajudar várias pessoas e recebia tanto palavras, quanto gestos — como abraços, apertos de mão, beijos nas mãos ou no rosto — carinhosos em agradecimento pelo seu trabalho. Desde que começara a trabalhar como médico, esse era o dia mais especial de toda a sua profissão.
Porém, quando tudo estava indo bem, foi abordado por um dos soldados de Oh Sehun. O homem era o primeiro abaixo do general presente em Busan, sendo um dos favoritos para substituí-lo quando este resolvesse deixar o cargo — o que não iria acontecer tão cedo, provavelmente. Se chamava Kim Taehyung, tão sério e arisco quanto o seu superior.
— Não podes ultrapassar a linha de risco. Está passível de punição — avisou, com sua voz firme, mas não tão grossa quanto à de Park Chanyeol ou séria quanto à de Oh Sehun. — Terei que levá-lo comigo ao quartel do general.
— Não irei contigo a lugar nenhum — Baekhyun rebateu, exasperado. Franziu a testa em desaprovação, e o soldado não esboçou nenhuma reação; parecia se divertir com a tentativa do médico em ser ameaçador. — Eu vou ficar aqui, ainda tenho muitas pessoas para ajudar.
Taehyung aparentava que não iria fazer nada, pois Baekhyun já tinha lhe dado às costas. Entretanto, assim que o médico se virou, o soldado pegou seu comunicador e anunciou o código azul — significava que alguém tinha desrespeitado uma ordem dada por um superior. Logo dois militares, sendo eles Park Chanyeol e Park Jimin, apareceram e bateram continência. Apontou na direção oposta e os dois soldados correram na direção do menor.
— Ei, me soltem! Eu não fiz nada! — Baekhyun exclamou, com raiva borbulhando em seus poros. Debatia-se tentando se soltar, porém eram fortes demais. Taehyung se aproximou de si, olhando-o com soberba, e deu-lhe um soco na boca. O doutor sentiu o gosto de sangue invadir seu paladar.
— Nunca se deve desrespeitar uma ordem de alguém superior. — Sorriu satisfeito ao ver o estrago que tinha feito nos lábios rosados do médico. Aproveitou-se de sua vantagem e bateu novamente em Baekhyun, dessa vez no olho. — Levem-no para o quartel do general Oh; ele tem o direito de saber do acontecido.
Os dois soldados assentiram, sem questionar as ordens do coronel. Taehyung sentia deleite quando se mostrava superior às outras pessoas. Ele gostava de diminuir as pessoas que estavam em sua presença, sempre fazendo de tudo para humilhá-las de todas as formas possíveis. Definitivamente, ele jamais seria tão bom quanto o atual general.
O quartel era um local grande, o maior que Baekhyun tinha visto desde a sua chegada a Busan. Ao entrarem, pôde visualizar alguns soldados iniciantes treinando no campo aberto, correndo ao redor do lugar. Os treinamentos eram visivelmente pesados, muitos deles estavam à beira de caírem de exaustão. Quando adentraram o prédio, foi possível visualizar quadros e fotos dos antigos generais e outros soldados importantes, além de várias portas pelos corredores, com várias reuniões ocorrendo ao mesmo tempo.
O coronel bateu na porta da última sala do corredor, onde havia uma placa sinalizando que pertencia ao general, este que estava lendo alguns papéis. Tirou os óculos que usava para leitura e autorizou a entrada, soltando os relatórios na mesa. Taehyung entrou na sala e fez sinal para que Baekhyun fosse solto, este que foi jogado na cadeira.
— O que significa isso, Coronel Kim? — Sehun indagou, com toda a aspereza necessária.
— Este ser — apontou para Baekhyun —, ultrapassou a linha de risco e me desacatou. Ele não obedeceu às minhas ordens, sendo que eu sou um superior.
— Coronel... Não tens o direito de usar da agressão física para domar ninguém que está nesta área. Não permito isso — disse, com firmeza. Baekhyun sentia-se tonto, estava a ponto de desmaiar. Taehyung iria replicar, porém Sehun foi mais rápido. — Não replique minhas ordens, soldado — disse com desprezo, pois sabia que um dos pontos fracos do Kim era ser desprezado; ele odiava com todas as suas forças quando isso ocorria.
— Sim, general — o coronel concordou, visivelmente contrariado.
— Está dispensado. — Taehyung bateu uma continência rápida e saiu da sala, antes que praticasse alguma loucura contra seu superior. — Vocês dois, estejam avisados: não sigam as ordens do coronel Kim se elas não passarem por uma prévia autorização minha. — Os dois soldados assentiram. — Estão dispensados, podem ir.
Após os dois soldados saírem da sala, Sehun voltou sua atenção para Baekhyun. O jovem médico sentia a cabeça latejar, o olho estava tão inchado que ele nem conseguia piscar, o lábio doía e ele sentia o sangue seco no canto da boca.
— Peço-lhe desculpas pelo modo que meu subordinado o tratou — pediu, de forma sincera. Baekhyun levantou o rosto e encarou a face do general, este que não esboçava expressão nenhuma. — Saiba que não gosto que tratem as pessoas com violência desnecessária.
— Você é o general daqui, e ainda tem a cara de pau de dizer que não gosta de violência? — Baekhyun riu sem humor. — Não precisa ser tão hipócrita na minha presença, todos vocês militares são idiotas.
— Não estou sendo hipócrita, senhor Byun. — Recostou-se na cadeira e Baekhyun poderia jurar que iria sorrir de forma cínica, porém manteve o rosto inexpressivo. — Sei que achas que pelo fato de eu ser o general isso faz de mim um homem violento. Estás enganado. Sim, é necessário fazer o uso de armas, mas somente quando é estritamente necessário. Não usamos quando queremos ou ao nosso bel prazer, temos princípios.
Baekhyun pensou por alguns minutos naquelas palavras. Sehun não estava mentindo. Realmente os militares não usavam de violência em todas as suas abordagens, o próprio general e Chanyeol quando o viram do outro lado da linha somente o puniram verbalmente.
— Realmente alguns de vocês têm princípios. — Cansado de ter que ficar naquela sala, levantou-se pronto para ir embora, porém sentiu uma súbita tontura, tendo que se apoiar na estante que estava ao seu lado. Sehun rapidamente foi em sua direção, servindo de apoio para o menor. — Não precisa, eu estou bem. — Estava nervoso com aquela súbita aproximação; não era acostumado a toques de desconhecidos.
— Não está não. — Agachou-se para ficar na mesma altura que Baekhyun. — Vou levar-te até o seu quarto no dormitório. Não está em condições de andar sozinho por aí. — Byun nem pôde questionar, pois o general o pegou no colo, como se fosse uma noiva. — Não precisa ter medo, pode segurar-se em mim.
Baekhyun estava retraído, sentindo-se impotente por estar sendo carregado daquela forma, ainda mais pelo general que julgava ser um idiota — não, sua opinião não iria mudar tão facilmente. Depois de certo tempo pensando se era ou não uma boa ideia, passou os braços em volta do corpo do general, ficando bem paradinho. Os dois não trocaram nenhuma palavra durante todo o trajeto.
— Amanhã nós iremos conversar sobre o seu comportamento inadequado. — Posicionou-o na cama. Ajeitou a própria postura e desamassou seu uniforme. — Mas agora, descanse; já passaste por muita coisa hoje. Voltarei no mais tardar para ver como estará, passar bem.
— Obrigado — Baekhyun agradeceu antes de Sehun sair pela porta. O outro apenas assentiu, deixando o médico esgotado, dolorido e sozinho em seu quarto.
Realmente necessitava de um descanso após um dia cheio, entretanto tinha que cuidar dos próprios ferimentos. Quando ia se preparar para levantar da cama e pegar sua maleta de primeiros socorros, foi surpreendido por batidas na porta. Franziu a sobrancelha, se perguntando quem poderia ser e vencido pela curiosidade deixou que entrasse.
— Vim ver se está bem, Baekhyun-hyung. — Jongin entrou no quarto e se sentou na cama; carregava sua própria caixa de primeiros socorros. — Estou pronto para cuidar desses machucados que fizeram em você.
— Obrigado Kai, mas não precisava se incomodar. — Usou o apelido do novo amigo, que o próprio tinha lhe dito que poderia usar.
— Amigos são para essas coisas. — Começou pelo corte no lábio de Baekhyun e depois colocou um curativo. Já o olho inchado seria necessário colocar gelo para melhorar. — Vai ter que dormir com essa bolsa de gelo em cima do olho, senão não irá desinchar.
— Tudo bem, eu só desejo descansar, estou esgotado. — Pegou a bolsa de gelo das mãos do amigo, a posicionou acima do olho e deitou em seu travesseiro. — Novamente, obrigado.
— De nada. — Fechou sua maleta e caminhou em direção à porta. — Fique em repouso. Nada de esforços desnecessários, senhor Byun — brincou, mas também com uma pitada de seriedade. Fechou a porta ao sair e deixou-o finalmente descansar.
Como já estava entregue ao mundo dos sonhos, não percebeu a visita que Sehun o fez a noite. Era madrugada quando a porta do quarto foi aberta — tinha acesso ilimitado a todos os dormitórios e, consequentemente, aos quartos —, observou o médico dormindo com uma bolsa de gelo pousada sobre o ferimento. Manteve distância para não correr o risco de acordá-lo. Quando finalmente acalmou-se e teve certeza de que estava bem, foi embora, com o coração bem mais leve.
Baekhyun teve um sonho estranho durante a noite. Andava por um local deserto, sem mais ninguém ao seu redor. A grama era bem verdinha e estava descalço, e de repente sentiu alguém segurar sua mão. Porém, não sabia quem era; não conseguia visualizar o rosto da pessoa. Então, ouviu seu nome ser chamado ao longe, alguém o esperava bem à frente. Foi o momento em que o sonho acabou e o médico acordou ofegante, percebendo que já havia amanhecido.
Respirou fundo, tirando a bolsa de gelo do olho, piscando repetidas vezes para ter certeza de que estava melhor. Levantou-se da cama e foi direto para o banheiro, tomando um revigorante banho, o que mais precisava naquele momento. Ao terminar sua higiene, comeu sua refeição e encaminhou-se para a sala do general, que já tinha avisado que queria conversar consigo no dia anterior.
— Posso entrar? — perguntou, após dar duas batidas na porta. Ouviu uma afirmação e entrou na sala, deparando-se com a face séria e inexpressiva do outro. — Com licença.
— Estás melhor, doutor Baekhyun? — indagou e o loiro assentiu, sentou-se na cadeira de frente para a mesa e elevou o rosto para encará-lo. — Soube que cruzaste novamente a linha de risco ontem, realmente fizestes isso?
— Sim, eu fiz e já lhe aviso que não me arrependo — respondeu sério. Sehun suspirou, deixando os óculos de leitura na mesa, largando seus relatórios. — Farei quantas vezes for necessário para ajudar aquelas pessoas.
— Não quero assustá-lo, meu jovem — introduziu, sendo que, curiosamente, era mais novo do que o doutor —, mas o descumprimento de minhas ordens pode levá-lo para a cadeia. Tenho certeza de que não irá gostar de lá.
— Se eu for para a cadeia por algo que julgo correto ter feito, irei entrar naquele lugar de cabeça erguida e sem nenhuma culpa dentro de mim — rebateu.
O general estalou a língua para tentar manter a calma. Aquele doutor era a pessoa mais difícil de lidar que ele já tinha conhecido. Ele não queria apelar para os métodos mais radicais, mas o faria se fosse necessário para mantê-lo em segurança. Apoiou os braços na mesa e entrelaçou as mãos, cravou os olhos nas feições compenetradas de Baekhyun.
— Senhor Byun, acho que ainda não entendeste o teor de minhas palavras: se não obedecer às minhas ordens, terei o direito de prendê-lo e não hesitarei em fazê-lo caso seja necessário — avisou quase em um sussurro. — Espero não ter que ver-te novamente em minha sala por conta deste assunto, estamos entendidos?
— Compartilho do seu desejo: não quero ver a sua cara de porta novamente — provocou e levantou-se da cadeira. Sehun finalmente demonstrou algo em sua expressão: raiva. — Esteja avisado que não irei parar, não vou desistir.
Saiu da sala, batendo a porta, deixando Sehun ainda mais enraivecido. Deu um soco na mesa e bufou. Aquele garoto estava querendo lhe dar trabalho, porém também sabia como fazer alguém perder a cabeça. Pela primeira vez em dias, deu um sorriso ladino: iria transformar a vida daquele doutor num inferno. Ah, se iria.
— Quero o tenente-coronel Park Chanyeol, da divisão sete, em minha sala, imediatamente — ordenou, ao falar para a secretária pelo telefone. Rapidamente o tenente apareceu na sala. — Tenho uma tarefa muito importante para ti. Já conheces o doutor Baekhyun, certo?
— Sim, senhor.
— Ele não está cumprindo as minhas ordens e eu jamais permitirei que alguém falte com respeito a mim desta maneira. — Recebeu um aceno positivo de Chanyeol. — Então, quero deixar-lhe responsável por vigiar o doutor. Você será os meus olhos; deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para impedi-lo de atravessar a linha de risco.
— Sim, senhor.
— Esteja ciente de que se eu avistar Baekhyun novamente do outro lado da linha, você será punido. Sabes que as minhas punições são as piores. — Park concordou; o general era realmente duro com quem descumpria suas ordens. O último caso havia sido o de Kang Sang Ik; o rapaz era um informante dos rebeldes de Busan que conseguiu entrar no exército. Quando Sehun descobriu as verdadeiras intenções do rapaz, o expulsou do exército e o mandou direto para cadeia, por traição à pátria. — Estás dispensado, pode começar o serviço.
Chanyeol bateu uma continência e ao sair da sala já foi atrás de Baekhyun. O doutor estava com raiva do general, raiva de Busan, raiva de toda aquela guerra desgraçada, raiva de ser tão fraco e de não conseguir ser capaz de ajudar aquelas pessoas, raiva de não estar sendo capaz de cumprir sua promessa feita a Joohyun. Ele não estava sendo feliz como prometeu e sentia raiva de si próprio por isso.
Infelizmente, por precaução, não poderia ajudar os feridos naquele dia. Não poderia levantar suspeitas... Tinha que tomar cuidado a partir daquele momento e, além disso, evitar a todo o custo encontrar-se com Oh Sehun. Aquele cara era um porre! Não o suportava mais estragando todos os seus planos; era desgastante. Ele desejava um pouco de paz em sua vida e aquele cara de porta estava estragando tudo.
Por mais que estivesse colérico com aquele general maldito, tinha que manter a calma e tomar as decisões corretas para não colocar o seu trabalho em risco e deixar aquelas pessoas desamparadas. Então, após aquela conversa, se dirigiu a parte de trás do dormitório, onde se encontrava uma extensa floresta. De forma surpreendente, aquele lugar ainda não estava devastado; chegava a ser um local calmo, bom para dar uma espairecida, algo que necessitava naquele momento.
Caminhou por entre as plantas de uma cor amarelo pálido e sentou em uma pedra qualquer, abaixando o rosto para encarar os próprios pés, deixando os fios claros de seus cabelos invadirem sua visão. Juntou as mãos, entrelaçando os próprios dedos, e fechou os olhos, sentindo a brisa fresca de outono bater em seu rosto. Respirou fundo... Precisava manter o foco e ninguém, nem Oh Sehun, iria atrapalhá-lo em conseguir o seu objetivo. De repente, enquanto pensava em várias formas de evitá-lo, sentiu alguém cutucar o seu ombro. Olhou apressado para o lado e sorriu ao perceber quem era.
— Yerin, o que faz aqui? — Abriu um sorriso e aproveitou para abraçá-la.
— Vi que o anjinho estava triste e você não fica bonito triste — respondeu ao mesmo tempo em que enrolava uma mecha do cabelo na ponta dos dedos. Fez um biquinho infantil com os lábios. — Anjinhos não deviam ficar tristes.
— Todos têm sentimentos, não importa se são pessoas ou anjinhos. — Pôs Yerin em seu colo, acariciando os cabelos longos e lisos. — Como você conseguiu vir até aqui?
— Eu passei por ali. — Apontou para as árvores; provavelmente havia uma trilha ali e por isso ela tinha conseguido passar pela linha de risco. Baekhyun sorriu largamente. Era tudo o que precisava para poder continuar ajudando as pessoas que precisavam de si.
— Anjinho já está mais feliz depois de te ver. — Deixou um beijo na bochecha alheia e Yerin sorriu de forma tímida.
Os dois conversaram por um bom tempo. A garota contou sobre o quanto sentia falta da mãe e do pai e de como gostava de seu tio Min — que na verdade se chamava Minseok. Baekhyun ficou compadecido pelo sofrimento da garota; era nítida a tristeza que ela sentia por estar longe de quem mais amava, e ele sabia como era se sentir assim. Fez o possível para consolar Yerin, disse que eles voltariam logo, não a deixariam sozinha para sempre e que eles a amavam — era o que ele realmente esperava.
(...)
— Estava com uma menina. Ela era bem pequena, devia ter uns cinco ou seis anos. De certa forma, se pareciam, mas não posso afirmar que sejam pai e filha — Chanyeol informou ao general, que balançou uma caneta com os dedos.
— Não é filha dele — Sehun afirmou, após um curto período de tempo em silêncio. Recostou-se na cadeira e respirou fundo, largando a caneta na mesa. — Na ficha de inscrição para o programa escreveu que não tem filhos, mas que gostaria de ajudar as pessoas como se fizessem parte de sua família.
— Sim, senhor. — Chanyeol levantou-se da cadeira e pegou o seu quepe, o pôs na cabeça e bateu continência. — Continuarei o meu trabalho, senhor. Prometo trazer-lhe mais informações amanhã.
Assentiu, sem dar-se ao trabalho de olhar para o tenente-coronel; somente ouviu o barulho da porta sendo fechada. Suspirou ao pensar em tudo o que estava acontecendo nos últimos dias. Baekhyun era a única pessoa com coragem para desrespeitar e questionar suas ordens, além de enfrentá-lo. Aquilo era uma loucura e algo estranhamente bom.
Não podia negar que ter uma pessoa diferente com quem lidar era bom e uma experiência nova. O doutor demonstrou ser uma pessoa difícil de ser domada e que não iria dar o braço a torcer facilmente, porém ele também não estava disposto a desistir facilmente de fazê-lo acatar suas regras e cumprir suas ordens. Faria Byun Baekhyun andar na linha, custasse o que custar.
Levantou-se da cadeira, deixando os óculos de leitura sobre a mesa. Pegou o seu quepe verde escuro e o posicionou em sua cabeça, indo rumo à porta, abrindo-a para sair da sala. Por onde passava, as pessoas ou faziam uma reverência ou uma continência, todas demonstrando o maior respeito por seu cargo. Respeito este que conquistou com o esforço de seu duro trabalho.
Dirigiu-se ao dormitório D, onde o médico estava hospedado. A recepcionista não hesitou em lhe dar a chave do quarto de número sete quando a pediu. Era bem claro que ela estava nervosa na presença do general, pois todos sabiam que Sehun punia o mínimo erro que qualquer um chegasse a cometer.
Subiu as escadas e andou pelos corredores empoeirados e silenciosos. Os únicos sons que ele conseguia ouvir era o piar de alguns pássaros, além do farfalhar das folhas causadas pela ventania. Pigarreou e ao invés de abrir a porta com a chave, julgou mais respeitoso bater na mesma — usaria a chave caso o doutor se recusasse a abri-la. Ficou alguns minutos parado de frente para o imenso pedaço de ébano, até Baekhyun abrir a porta e contorcer a cara ao perceber quem era.
— O que você quer? — tentou soar tão áspero quanto o general conseguia ser. Porém, seu nervosismo o traiu. Talvez o homem quisesse lhe punir de alguma forma mais séria naquela noite e era impossível não temer tal possibilidade. — Não cruzei a linha de risco hoje.
— Vou ser direto: tens algum filho? — indagou. Por mais que na ficha dele constasse que não, poderia muito bem estar mentindo somente para conseguir a vaga ou talvez estivesse tentando encontrar o filho no meio daquele terror chamado guerra.
— Não, eu não tenho — respondeu de forma imediata. Sehun tinha aprendido, de certa forma, a ler as pessoas e nada nas expressões alheias apontavam que estava mentindo. Se estivesse, sabia disfarçar muito bem. — Por que esta pergunta tão repentina?
— Tenho meus motivos — foi tudo o que respondeu.
Baekhyun estava visivelmente desconfortável com sua presença, tanto que não conseguia encará-lo nos olhos. Mexia as mãos sem parar e as ficava esfregando uma na outra repetidas vezes; os pés também se mexiam. Esperava que o general fosse logo embora, afinal já tinha respondido a pergunta daquele ser, mesmo sem entender o motivo. Então, como se uma lâmpada acendesse em sua cabeça, lembrou-se de algo.
— Você me viu com uma menina, não foi? — perguntou, ao perceber que o general andava para longe de si. Sehun parou sua caminhada e voltou seu olhar para a porta do quarto, deparando-se com o rosto temeroso. — Acha que ela é minha filha?
— Sim, vi você com uma garotinha — distorceu, sem transparecer que era uma mentira. Não poderia permitir que Baekhyun desconfiasse que ele tivesse colocado alguém para segui-lo. Do jeito que o médico era, iria dar um jeito de estragar tudo.
— Você não está pensando em fazer algo contra ela, está? — sua voz soou irritada e ameaçadora. Se aproximou do general, com o dedo em riste e avisou: — Não ouse encostar nela! Se você tentar fazer algo, não medirei as consequências dos meus atos.
— Já lhe avisei que temos princípios e um dos mais básicos diz que não devemos machucar nenhuma pessoa inocente, ainda mais uma criança. — Aproximou-se de Baekhyun, que abaixou a mão. Tinha um rosto sério, como Sehun ainda não tinha visto. — Se ela não é sua filha, quem é? Faz parte de sua família?
— Não, a conheci quando atravessei a linha de risco no primeiro dia. Estava ferida e segundo os meus princípios, jamais poderia deixá-la daquela forma. — Abaixou o olhar e se apoiou na porta. — Desculpe-me por pensar que seria capaz de fazer algo, mas fiquei com medo.
— Isso é algo muito comum. Grande parte das pessoas sente medo de mim, já me acostumei com isso. — Por mais que não exibisse expressões faciais concretas, Baekhyun era uma pessoa sensível e pôde sentir a tristeza presente naquela frase; encontrava-se bem escondida, mas seu coração conseguia percebê-la.
— Não sinto medo de você, não te conheço o suficiente para sentir medo de ti — afirmou, tentando amenizar o impacto de suas palavras de alguma forma. Sehun arqueou uma das sobrancelhas e Baekhyun mexeu as mãos em sinal de nervosismo. — Quero dizer que essa sua pose de durão faz as pessoas terem medo da sua aparência, mas ninguém te conhece de verdade. Nenhum deles sabe como você é por dentro.
Sehun encarou o rosto inseguro de Baekhyun por longos segundos, pensando nas palavras ditas. Realmente, pouquíssimas pessoas conheciam o verdadeiro Oh Sehun, sem aquela farda, aquele quepe e aquela patente de General. Mas, como ele era verdadeiramente? Nem mesmo o militar sabia. Há tanto tempo se dedicava àquela profissão que não sabia mais diferenciar o general de seu eu verdadeiro. Como diriam os jovens: sad but true.
— Pode me contar mais sobre esta menina? Quem é ela, onde está sua família... — Tentou mudar de assunto. Sua voz saiu baixa e pela primeira vez abaixou o rosto e não teve coragem de olhá-lo.
— O nome dela é Yerin, me contou que o pai dela foi convocado pelo exército e que a mãe foi atrás dele; disse que iria voltar quando o encontrasse. — Sehun riu pelo nariz, sem nenhum humor. Baekhyun torceu o rosto em confusão. — Por que essa reação?
— É óbvio que essa mulher não vai voltar. — Baekhyun o olhou descrente e balançou a cabeça em negação. — Acha mesmo que vai voltar? Claro que não! O homem ter ido para a guerra foi somente um pretexto para abandonar a garota.
— Não fale isso! — exclamou. — Ela vai voltar.
— Baekhyun, sei disso por experiência própria. Essa mulher jamais voltará, assim como a minha mãe nunca voltou. — As expressões do médico suavizaram e ele atentou-se as palavras alheias. — Eu deveria ter uns seis anos, era Natal. Estava feliz, os meus pais estavam juntos no mesmo cômodo sem brigar durante um dia inteiro. Então, quando anoiteceu, eu vi a minha mãe na porta e perguntei aonde ela ia; ela me respondeu que iria buscar o meu presente. — Suspirou. — Estou esperando o meu presente há vinte anos.
Baekhyun não tinha palavras suficientes para consolá-lo, nem ao menos sabia o que pensar. Sehun nunca tinha se mostrado fraco para ninguém, pois não tinha coragem de falar sobre sua família — se é que aquilo poderia ser chamado de família: uma mãe ausente, um pai alcoólatra, um irmão morto na juventude… Carregava o peso de ser o único que teve um futuro naquele lugar.
— Não sei o que dizer — Baekhyun sussurrou sem jeito; o outro prendeu seu olhar em algum ponto aleatório do corredor. — Sinto muito por isso, mas espero que a mãe de Yerin volte.
— Não sinta nada, Baekhyun, já superei essa perda há muito tempo. Não sinto necessidade de ter uma mãe. — Sehun se esforçou para passar firmeza. Falhou miseravelmente. — Mesmo tendo certeza de que ela não vai voltar, vou torcer para estar errado desta vez. — Arrumou o quepe em sua cabeça e pigarreou. — Tenha uma boa noite, doutor Baekhyun.
— Para você também, general Oh — desejou, de um modo formal, mas não estava sendo irônico; queria somente demonstrar respeito. Sehun sentiu aquilo e acenou positivamente com a cabeça, afastando-se.
O doutor voltou para o quarto, pensando no diálogo. Talvez, Sehun não fosse tão frio assim quanto imaginava. Podia ser somente por conta de sua patente que ele se fazia de duro com as pessoas que estavam a sua volta; mas Baekhyun não estava tão convencido assim; ainda não confiava no militar e seu plano de evitá-lo estava de pé.
No dia seguinte, enquanto o médico pensava nas formas possíveis de prosseguir com seu plano de não se encontrar mais com Sehun, o general foi convocado para uma reunião, organizada pelo presidente da Coreia do Sul em conjunto com o Ministro da Defesa. Ocorreria no quartel e contaria com a presença do alto escalão do governo e do exército.
— Quais os saldos da guerra contra os rebeldes até o momento, General Oh? — O ministro da Defesa, de nome Jong Sun, perguntou. Era bem óbvia a cautela deles para com a guerra, havia mais contras do que prós em assumir publicamente a guerra em Busan.
— Estamos fazendo tudo o que está ao nosso alcance, senhor. — Apoiou os cotovelos na mesa e juntou as mãos. — Os rebeldes não estão de brincadeira. Eles têm armamento suficiente para nos confrontarem de igual para igual, já provaram isso. Eles planejaram cada passo... Temos a impressão de que o plano já existia há um bom tempo.
— Que tipo de armamento eles têm? Não pode ser melhor do que o nosso! — Jong Sun exclamou; o homem de idade pegou um copo de água para tentar manter a calma. O cerco estava fechando, eles não desejavam pedir ajuda do exterior para combatê-los.
— Bombas, fuzis, metralhadoras, revólveres, facas e vários outros tipos de arma. Além disso, eles conseguiram, de alguma forma, transporte de combate. Eles provêm de carros blindados e com alta capacidade de passageiros — Ko Shinwon, General de Divisão, que estava em missão pelo lado Norte de Busan e tinha sido convocado especialmente para aquela reunião respondeu. Na hierarquia militar, ele estava abaixo de Sehun no comando.
— Eles contam com bons estrategistas. As bombas foram posicionadas em locais planejados após a linha de risco, e Gangseo está completamente tomada. Nossa inteligência está na tentativa de mapear onde provavelmente as bombas estão, mas colocaram algum dispositivo que nos impede de encontrá-las. Colocamos o nosso melhor técnico de informática na missão para que ele tente mapear totalmente a área — Sehun complementou.
— Fico satisfeito em saber que estão fazendo o possível e o impossível para detê-los, mas o nosso tempo está acabando — o presidente, Lee Minho, finalmente se pronunciou, ganhando a atenção imediata de todos os presentes. — Estamos suportando este combate há quase seis meses; muitos soldados estão mortos e muito dinheiro já foi gasto, sendo que vocês nos disseram que seria fácil combatê-los.
— O presidente está certo. Segundo nossos últimos orçamentos, já gastamos quase o quíntuplo do que foi estipulado; recursos que iriam para Gijang foram usados em Gangseo, onde a situação está pior. Segundo nossas provisões, os gastos tendem somente a aumentar e não temos tanto dinheiro assim para ficar gastando com um combate qualquer — esclareceu Kim Hyojong, Secretário de Economia e Finanças.
— Entendo a sua pressa para que esse combate armado acabe, mas está sendo difícil. Estamos fazendo tudo o que podemos, e isso demanda recursos, sabem disso. Por favor, acreditem em nós, aumentem um pouco mais o prazo — Sehun pediu.
— Dois meses. — Lee Minho se levantou da cadeira e apoiou as mãos na mesa. — Você e seu exército, general Oh, tem dois meses para acabar com esses rebeldes. Se isso não acontecer, iremos declarar guerra.
Assentiu e todos os presentes cumprimentaram-se, para logo depois o alto escalão do governo ir embora da sala, junto com o restante dos oficiais do exército, sobrando somente Sehun. Respirou fundo, rodou na cadeira giratória e sentiu o peso em seus ombros: era sua obrigação ganhar aquele combate; tinha que acabar com aquilo em dois meses. Dois meses. Custe o que custasse.
(...)
Baekhyun tinha um plano e estava certo de que nada poderia dar errado. Com a ajuda da pequena Yerin, saiu de seu quarto no dormitório no mesmo momento em que os soldados estavam em reunião — para não correr o risco de ser pego — e foi guiado por ela para chegar até a trilha que o levaria para depois da linha de risco.
Sentia-se mais leve em poder voltar a ajudar as pessoas, e elas tinham sentido sua falta no dia anterior. Explicou que estavam tentando proibi-lo de ajudá-los, mas que não iria desistir; faria de tudo para que elas ficassem bem. Cuidou de vários feridos, sem deixar Yerin de lado, já que a garota o ajudou em tudo que precisava — sem contar o fato de que ela o chamava carinhosamente de anjinho.
Este ato se repetiu pelos três dias seguintes e Baekhyun acreditava fielmente que estava tudo dando certo. Porém, não contava com Park Chanyeol. O militar o seguia por todo o canto, passando despercebido pelo rapaz, que na euforia de ajudar os outros não conseguia cuidar de si próprio.
Naquele dia em especial, após certo tempo observando e anotando os pontos importantes, Chanyeol informou ao general o horário em que Byun costumava atravessar a linha de risco para ajudar os feridos em Busan. Sehun sorriu ao receber as informações e dispensou-o, alegando que iria cuidar daquilo sozinho.
No horário demarcado no papel que tinha recebido, dirigiu-se a parte detrás do dormitório, onde estava a floresta e a trilha que Baekhyun utilizava. Pouco mais de cinco minutos depois, o doutor apareceu acompanhado daquela garotinha que Chanyeol tinha citado. Sorria abertamente, enquanto carregava Yerin no colo, e poderia muito bem passar-se por pai dela.
Aquela cena fez o peito do general aquecer-se. Baekhyun era tão amoroso com a menina que o militar sentia tristeza ao imaginar quão triste seria para ela saber que sua mãe jamais voltaria. Ela realmente não iria voltar, assim como Oh Seyeon, sua mãe, nunca voltou; pressentia isso. Então, pela lógica, o médico era a única pessoa que tinha.
Por um momento, quis dar meia volta e deixá-lo ajudar os necessitados, porém era a autoridade máxima e devia dar o exemplo. Tinha que deter Byun, mesmo que aquilo doesse depois. Afastou seus devaneios e focou no que deveria fazer. Atentou-se ao momento em que Baekhyun entrou no meio da mata e o seguiu, mantendo uma distância considerada segura. Após alguns minutos, ambos estavam no lado proibido de Busan.
Baekhyun, ainda sem soltar Yerin de si, caminhou pela terra devastada indo rumo aos feridos. Sehun percebeu a felicidade presente nos olhares dos moradores; eles já esperavam e estavam acostumados às visitas periódicas do médico, mais um motivo para que a culpa pesasse em seu coração.
Entretanto, sua atenção logo mudou para uma movimentação estranha nos arredores. Percebeu quando alguns homens encapuzados deixaram uma mochila preta suspeita do lado de uma das casas de cor marrom. Um deles ativou algo e o general arregalou os olhos: obviamente era uma bomba! Não pensou duas vezes antes de sair do local em que estava agachado e pular em cima de Baekhyun e Yerin; os três caíram em um canto qualquer, com o general deixando os dois abaixo de seu corpo, tendo somente o tempo de ouvir a explosão ao fundo e sentir a poeira invadir sua visão.
Sehun sentiu Baekhyun segurar firmemente seu uniforme, como se fosse capaz de rasgá-lo pelo excesso de força, assim como também conseguiu sentir a respiração acelerada em seu pescoço. Além do coração quase saindo do peito, o general sentia os olhos arderem pela poeira que a bomba tinha levantado. Ofegante, ele ergueu a cabeça para tentar visualizar os estragos. Feridos, mortos, destruição, caos. Foi isso que viu.
— Vocês estão bem? — Desprendeu-se um pouco de Baekhyun. Era uma pergunta um tanto quanto idiota, mas necessária naquele momento, por mais que estivesse nítido seu susto. Yerin nem se fala.
— Eu… estou vivo — Baekhyun respondeu com a voz trêmula. Apertou Yerin contra seu corpo, estava tão encolhida que poderia sumir em seus braços. — Como você chegou aqui?
— Soube por terceiros que você continua desobedecendo minhas ordens. — Soltou completamente Byun, que se sentiu estranho com aquela aproximação repentina. Porém, foi ainda pior quando o general se afastou; sentiu-se frio, pois o outro o deixava aquecido. — Vim atrás de você. Mas, então, percebi que havia uma movimentação estranha e quando notei que era uma bomba sendo ativada, senti a obrigação de te proteger.
— Obrigado Sehun, por proteger a mim e a Yerin. — Baekhyun, pela primeira vez na presença do general, sorriu. Aquela sensação de aquecimento no coração voltou a atordoar o mais novo, que desviou o olhar do médico. — Temos que voltar, realmente é perigoso ficar aqui e você está ferido.
— Não é nada demais — Sehun disse, referindo-se ao ferimento. Era somente um corte na perna e na percepção do general não era grande coisa, pois já tinha passado por algo pior. — E a menina? Vai deixá-la em que lugar?
— Levarei para a casa que vive com o tio. Yerin me levou para conhecê-lo no dia anterior, então sei onde fica. — Levantou-se do lugar onde estava e foi acompanhado por Sehun, que não os deixariam sozinhos de forma alguma. — Não deveria fazer esforço, esse corte parece grave.
— Não é grave, Baekhyun. — Sehun afirmou e o doutor bufou, passando a andar rumo à casa de Minseok. — E meu trabalho é o de proteger as pessoas. Não deixarei vocês dois andarem sozinhos depois desse incidente.
Baekhyun nada podia fazer além de prosseguir com sua caminhada, ao mesmo tempo em que Yerin se agarrava a si como um pequeno coala. A menina estava quietinha e o médico não tinha certeza se isso era bom ou ruim.
A casa em que ela morava com o tio situava-se ao lado de onde morava antes com os pais. Minseok — durante seu encontro com Baekhyun — informou ao médico que sua irmã, Minhyun, era uma irresponsável que tinha engravidado sem desejar, tendo feito aquilo somente para segurar o casamento com o pai de Yerin, chamado Yesung. Infelizmente, assim como Sehun, tinha certeza de que ela não voltaria.
Ao chegarem ao seu destino, Yerin finalmente disse algo; um simples tchau anjinho, mas que significou muito mais para Baekhyun. Ele deixou um selar na testa dela e a entregou para os braços do tio. Sehun assistiu à cena de longe, sem interferir em nenhum acontecimento.
— Vai me dar uma bronca, agora? — Baekhyun indagou, após alguns minutos de silêncio. Os dois andavam de volta para a base militar de Busan, com o médico chutando algumas pedras no caminho e o general sentindo sua perna começar a doer.
— Uma bomba ter sido explodida foi aviso o suficiente para lhe mostrar que nós somente desejamos proteger todos os que habitam os dormitórios. — Suspirou quando sentiu uma fisgada na perna. — Porém, existem pessoas teimosas como você que insistem em desafiar as ordens de superiores.
— Ei, mas tenho bons motivos para isso! — Baekhyun reclamou e cruzou os braços, franzindo a testa em seguida. — Não concordo com o modo que vocês tratam os moradores que ficam após essa linha de risco imaginária que foi criada. Eles são os esquecidos e tratados como uma escória, sendo que eles chegaram antes de nós todos. São os que mais merecem respeito.
— Entendo a sua preocupação com todos eles. Você é médico e deve cuidar das pessoas, mas não podemos fazer isso por todos que estão aqui — tentou argumentar. — Há muitos riscos aqui, o que passaste hoje foi só um simples exemplo. Podemos ser assaltados, mortos, feridos, pegar alguma infecção grave e nosso efetivo de médicos não conseguiria lidar com esse tipo de caso.
— Então, por que vocês não os tiram de lá? Levem-nos para o lado seguro. — Parou na frente do general, o encarando. — Você mesmo me disse várias vezes que seu trabalho é proteger as pessoas, então faça-o direito. Dê a elas uma chance de sobreviver, pelo menos uma. Eu vim aqui e presenciei o sofrimento delas, é horrível... — a voz estava embargada e ele não conseguiu prosseguir, deixando algumas lágrimas caírem de seus olhos.
Sehun nunca foi muito bom em consolar as pessoas, pois geralmente era o motivo delas chorarem; então como não sabia muito que fazer, somente embalou Baekhyun em um abraço desajeitado. Sentiu sua camisa ser molhada e ouviu os soluços do médico, que demorou em se acalmar. Mesmo quando parou, não afastou os braços do general de si, pois eles eram acolhedores, tudo o que necessitava naquele momento.
Ao chegarem, Sehun o acompanhou até o quarto; sentia-se abalado demais para ficar sozinho.
— Sente-se Sehun. Não posso deixar esse ferimento na sua perna. — Baekhyun pegou sua maleta de primeiros socorros e foi em direção ao general, que tinha acatado sua ordem. — Posso rasgar a sua calça?
— Ela tem um buraco de bala e isso me obriga a trocá-la, um rasgo a mais não vai fazer diferença. — Ergueu o corpo mais para cima, praticamente deitando-se na cama do médico. — É muito sério, por acaso?
— Vamos ver. — Baekhyun rasgou o tecido verde musgo e verificou a ferida. O sangue estava secando, porém ainda existia líquido saindo; tinha um tamanho médio e isso o fazia acreditar que algo poderia ter entrado ali dentro. — Sente algo aqui dentro? Tenho a sensação de que algum estilhaço pode ter atingido sua perna.
— Só está doendo — afirmou.
Baekhyun pegou a água oxigenada junto com o algodão e começou a desinfetar o machucado. Felizmente sua percepção estava errada e o estilhaço não tinha chegado a entrar na perna de Oh, somente o tinha cortado.
— Você trata Yerin com muito amor — o general disse, de repente, para iniciar uma conversa. Estava com a perna tão dolorida e somente um diálogo poderia fazê-lo se esquecer, pelo menos por enquanto, daquilo. — Qualquer um poderia achar que é o pai dela.
— Yerin é um amor; ela me conquistou na primeira vez que a vi. — Sorriu quando a imagem dela invadiu sua mente. — Se eu pudesse, teria um filho agora. Mas como não posso, quero formar uma família no futuro, casar, ter uns três filhos e um animal de estimação.
— Uau, é uma família bem grande. — Arrancou uma risada de Byun.
— Você não pensa em ter uma família? — O médico indagou. — Sinceramente, acho que você seria um bom pai.
— Duvido, não suporto crianças. — Baekhyun parou de cuidar do ferimento e o encarou. — Elas são chatas, dão trabalho, choram demais, gritam muito alto, são mimadas, fazem bagunça. Não suportaria um dia com elas.
— Oh, mas você está vendo somente o lado ruim de ter um filho! — exclamou, ajeitando-se na cama e virando o corpo para vê-lo melhor. — Além do que você disse, elas são fofas, inocentes, dão os sorrisos mais sinceros que eu conheço, amam os pais de forma incondicional, trazem felicidade até para a pessoa mais ranzinza da Terra.
— Então, eu sou a pessoa mais ranzinza da Terra, pois elas não conseguem me trazer felicidade — Sehun afirmou.
— Você só não encontrou a pessoa certa para te fazer feliz, Sehun. — Voltou sua atenção ao ferimento; bastava apenas protegê-lo com o esparadrapo e terminaria.
— Você já encontrou essa pessoa, Baekhyun? — indagou curioso.
O médico parou o que estava fazendo e entrou em um estado de transe. Não sabia o que responder; aquela questão o tinha pego desprevenido. Poderia falar de Joohyun, ela tinha o poder de fazê-lo sorrir assim que aparecia em seu campo de visão, porém estava morta e não desejava trazer aquele assunto à tona naquele momento.
— Não, ainda não encontrei — respondeu sério, pondo fim ao assunto.
Sehun calou-se após aquela resposta. Era óbvio que o doutor estava escondendo algo, entretanto não tinha o direito de questioná-lo. Quando o curativo finalmente foi feito, Byun deixou uma série de recomendações para o general: não forçar a perna, tentar repousar sempre que possível, olhar bem onde pisa e mais um monte de coisa que ele não fez questão de prestar atenção.
Baekhyun era um médico tão preocupado com o bem-estar de seus pacientes que se ofereceu — na verdade, obrigou-o a aceitar — para levá-lo até o seu quarto. O general estava a ponto de jogá-lo pela janela se ele perguntasse mais uma vez como estava sua perna, se a estava sentindo, se estava doendo, incomodando e blábláblá. Para a sorte de Byun, eles tinham chego ao destino final.
— Obrigado por ter cuidado do meu ferimento, Baekhyun. — Apoiou-se na porta.
— Fiz somente o meu trabalho. — Sorriu. — Obrigado por ter salvo a mim e a Yerin.
Então, abraçou Sehun, que arregalou os olhos com o ato. Não era acostumado com o contato físico feito dessa forma, e nem se lembrava de qual fora a última vez em que foi abraçado ou abraçou alguém. Não ficaram muito tempo daquela forma, mas o suficiente para que Baekhyun tivesse as bochechas pintadas de vermelho.
— Te-te-tenho que ir. Tchau. — Ao terminar a frase, saiu correndo em disparada pelos corredores, sem ter a coragem necessária de encarar o rosto do general.
— Tchau — Sehun pronunciou-se e deixou um sorriso escapar dos lábios.
(...)
No dia seguinte, após acordar, o mais novo deu-se conta de que não tinha punido Baekhyun por ter desrespeitado mais uma vez as suas ordens. Decidido a fazer algo a respeito daquele problema, ele se dirigiu ao quarto do médico, ciente de que poderia levar uma bronca por não estar em repouso como lhe fora recomendado.
Mas, para não dizer que ele não estava seguindo todas as recomendações, o general fez questão de andar sem nenhuma pressa e tomou o máximo de cuidado para não pisar em falso ou exagerar na carga imposta a sua perna machucada. Quando chegou, fez o mesmo de sempre: bateu na porta e esperou Byun atender.
— O que faz aqui tão cedo? Deveria estar descansando! — mandou. Baekhyun ainda usava seu pijama, digamos que um tanto quanto constrangedor: a camisa exibia patinhos amarelos em um fundo roxo, assim como o seu short.
— Belo pijama. — Apontou em direção ao traje e o médico sentiu suas bochechas corarem em vergonha. Maldita vergonha que sentia sempre que estava de frente para o general! — Ontem, querendo ou não, você descumpriu uma de minhas ordens e deve ser punido por isso.
— Se você veio me proibir de ultrapassar aquela linha, eu já lhe aviso que não irei fazer isso. — Baekhyun abriu completamente a porta e estendeu o braço em direção à cama. — Pode entrar e sente-se na cama, não pode forçar a perna.
— Não lhe proibirei de passar por ali, pois percebi que não vai adiantar. — O médico saiu do caminho e Sehun se acomodou na beirada do móvel. — Você não sabia, até este momento, mas eu coloquei o tenente-coronel Park Chanyeol para lhe vigiar. Ele que me contou tudo o que você fez nos últimos dias.
— Você não tinha esse direito! — Cruzou os braços com raiva estampada em sua face. — Isso é errado, não poderia ter colocado alguém para me vigiar! Tenho direito à privacidade!
— Vamos ao que interessa: na minha concepção, o único modo de fazer com que você não atravesse mais aquela linha de risco é que eu, pessoalmente, cuide do seu caso. — O rosto de Baekhyun se contorceu em uma careta confusa. — A partir de hoje, irei vigiar-te de perto.
— Mas o quê?! — Baekhyun exclamou e passou as mãos nos cabelos loiros, enquanto o outro se limitou a assentir com a cabeça. — Isso não é justo! Não fiz nada de errado! Você não deveria me perseguir dessa forma! Sou mais velho, e você deveria me chamar de hyung.
— Ah, sonhe com isso. — Sehun balançou a cabeça em negação. — Nunca te chamarei de hyung.
— Será mesmo? — provocou e ganhou a atenção do mais novo, que agora estava curioso com as intenções do outro. — Eu proponho um desafio: se eu ganhar, você me chama de hyung e se você ganhar, faço o que você quiser.
— E qual será este desafio? — Sehun perguntou realmente animado, pois gostava de desafios.
— Como você não pode forçar a perna, sugiro uma volta na piscina que se encontra no quartel. Quem der a volta mais rápido, ganha. — Sorriu e estendeu a mão. — Aceita?
— Aceito. — Apertou a mão do médico.
Após ambos aceitarem o desafio, foram em direção ao quartel. Naquele momento, por ser sábado, não tinha ninguém na piscina, ou seja, caminho livre para os dois. O local era grande e gelado, muito diferente do calor maçante que fazia do lado de fora; as paredes eram ladrilhadas de branco, assim como o piso e havia uma arquibancada vermelha, além da piscina de cinquenta metros.
— Não vai tirar a camisa? — Sehun indagou, pois já tinha tirado a parte de cima do uniforme; faltava somente a calça.
— Não, prefiro assim mesmo.
Não era uma total mentira; afinal ele não desejava ter que exibir a imensa cicatriz que estampava as suas costas. Sentia vergonha dela, era feia, deformada, lembrava-lhe a dor e todo o sofrimento que sentiu ao perder Joohyun. Não queria ter que lembrar daquilo tão cedo e muito menos encarar o rosto de nojo que Sehun provavelmente faria. Ele não suportaria passar por isso.
Sehun achou estranho, mas não questionou. Baekhyun tinha direito de cair na piscina da forma que achasse melhor. O general tirou a calça, exibindo sua boxer vermelha — a qual o médico ficou encarando; porém ao ser flagrado desviou o rosto cheio de vergonha. Teria que admitir: o mais novo era muito bonito; os cabelos loiros entravam em contraste com a boxer vermelha, além de combinarem com o aspecto branco do local.
— Como vamos nadar? — Baekhyun foi tirado de seus devaneios pela pergunta. — Será peito, costas, borboleta, livre?
— Peito — respondeu e Sehun apenas assentiu. — Quando eu chegar ao três, nós dois pulamos. — Subiram na plataforma apropriada para o salto, alongaram os ombros e braços, depois se colocaram em posição. — Um. Dois. Três!
O único som que pôde ser ouvido foi o de ambos os corpos se chocando contra a água. Sehun estava em forma; era inegável que fora mais rápido no início, porém ele não tinha tanta resistência, e fazia muito tempo que não nadava. Já Baekhyun, bem... Não era o exemplo de pessoa ativa, mas gostava de natação, tanto que foi por isso que escolheu tal desafio. Nadar era cansativo e desgastante, e contava com isso para ganhar.
O general não tinha chegado nem a outra ponta da piscina e sentia seus braços doerem. Entretanto, a vontade de ganhar era maior do que sua dor e por esse motivo ele estava dando o máximo de si para ganhar — sendo que ainda não tinha pensado qual seria a punição caso ganhasse. O lado bom era que aquilo servia de terapia para sua perna machucada, visto que não sentia nada naquela região.
Baekhyun foi o primeiro a virar para completar a volta; o outro conseguiu bater segundos depois. Para tentar diminuir a diferença, Sehun forçou ainda mais os braços — provavelmente ficaria com cãibras e dores pelo resto da semana, mas isso não importava no momento presente — e sentiu sua respiração acelerar ainda mais, tendo que subir mais vezes à superfície para respirar.
Se pudesse sorrir embaixo d’água, o médico o faria. Tinha a noção da dificuldade que ele tinha imposto a Sehun, e sentia-se bem com isso, pois a chance de ganhar era grande. Quando estavam no final, o mais novo conseguiu se aproximar de forma considerável, porém Baekhyun provou que, mesmo sendo baixinho e até mesmo um pouco mais fraco fisicamente do que o outro, era muito bom em uma piscina.
Baekhyun tinha ganhado o desafio.
— Ah, yeah! — exclamou sorridente, após sair da piscina. As roupas estavam molhadas, os braços doloridos, a respiração acelerada e o coração batendo loucamente no peito; mas isso não era motivo para adiar a comemoração. — Terá que me chamar de hyung!
Sehun deveria estar com raiva por ter perdido. Era muito competitivo e odiava o segundo lugar — de acordo com seu pai, quando ainda tinha amor pelos filhos e não bebia, o segundo lugar era o primeiro lugar para os perdedores. Porém, estranhamente, ao ver Byun sorrir pela vitória e comemorar alegremente por isso, sentiu o peito se aquecer e uma vontade de sorrir — só que era especialista em esconder seus sentimentos, por isso manteve a postura séria.
— Eu deixei você ganhar. — Recolheu suas roupas e ajeitou uma mecha do cabelo.
— Nem comece com essas historinhas! Eu ganhei, aceite. — Cruzou os braços e prostrou-se na frente de Sehun, com um rosto de felicidade misturado com deboche. — A partir de hoje, eu sou o Baekhyun-hyung pra você.
— Não acredito nisso — murmurou. Após terminar de recolher suas roupas, suspirou e ficou de frente para Baekhyun, que tentava firmemente manter o foco na felicidade de ter ganhado de Sehun e não no corpo dele. — Até mais tarde, Baekhyun-hyung.
— Até mais, Sehun! — disse divertido, enquanto assistia o general caminhar rumo aos vestiários. Ao ter certeza de que ele não o via mais, Byun abriu ainda mais o seu sorriso e bateu palmas, segurando-se para não gritar bem alto.
Poderia ter continuado a comemorar ali, porém sua roupa o estava incomodando. Como médico, sabia que poderia acabar pegando uma bela gripe se continuasse daquela forma ao ar livre, e por esse motivo passou a andar de volta para o dormitório — sem tirar o sorrisão do rosto.
Levou outra muda de roupas para o banheiro e tomou um belo banho. Pôs o seu jaleco, pegou sua maleta e caminhou rumo à área hospitalar. Naquele dia cuidaria dos feridos que ali estavam — depois iria pensar em outro plano para atravessar a linha de risco.
Ao chegar à área hospitalar, foi recebido por Jongin, que estava com o rosto ligeiramente mais sério do que o de costume. O moreno somente limitou-se a dar um sorriso pequeno quando avistou Baekhyun, porém era nítida a falta de emoção presente naquele gesto.
— Está tudo bem, Jongin? — Deixou a maleta sobre a mesa e encarou o amigo. — Você está estranho, geralmente está sorridente e brilhante. Até agora não deu um sorriso aberto.
— Aconteceram algumas coisas, Baekhyun. — Era a primeira vez que ele falava algo de forma tão séria. Largou o prontuário na mesa e suspirou. — Mas não quero te encher com os meus problemas. Temos coisas mais importantes a serem feitas agora.
Baekhyun ainda estava curioso com o assunto, mas iria respeitar a decisão de Jongin. Pegou um dos prontuários e dirigiu-se à maca do paciente, denominado como Kim Sung Jin, que tinha um buraco de bala exposto no braço esquerdo, além de uma febre altíssima pela demora do resgate. Foi necessária a retirada da bala, soro fisiológico — pois existia uma desidratação intensa — e alguns remédios para abaixar a febre.
Jongin, mesmo sem esboçar nenhum sorriso, aproximou-se do amigo para lhe fazer companhia. Os dois pareciam amigos de longa data naquele local; Byun sentia mais empatia por ele do que por Jongdae — que somente assistia aos dois. Pode parecer exagero, mas era verdade: o Kim mais novo tinha uma cabeça mais aberta e quem sabe o mais velho conseguisse convencê-lo a sair daquela área e explorar a linha de risco consigo.
Enquanto cuidava de outros pacientes, percebeu quando todos os seus colegas de trabalho pararam subitamente suas atividades e olharam diretamente para a porta. Curioso como era, ele fez o mesmo, e surpreendeu-se quando avistou Oh Sehun parado bem atrás de si.
— O que você ‘tá fazendo aqui? — Abaixou o prontuário que estava em suas mãos.
— Vim conferir se realmente estás a trabalhar na área designada a vocês médicos, hyung. — Olhou ao redor e percebeu o quão assustados estavam todos os presentes, exceto por Baekhyun. Isso era de se esperar já que jamais tinha pisado naquele lugar desde a sua criação.
— Que bom que veio até aqui. Há muitas coisas que eu quero te mostrar. — Baekhyun foi até a mesa, deixou seu prontuário e tirou o estetoscópio do pescoço. — Sabia que as condições de trabalhos aqui são péssimas? Este lugar é minúsculo e não temos nem o básico para fazermos um bom trabalho.
— Quando vieste para cá, sabia muito bem das condições que enfrentaria — Sehun afirmou.
— Isso não é desculpa para nos deixar à própria sorte. Médicos não fazem milagres se não tiverem o mínimo necessário para trabalhar — rebateu.
Ficaram se encarando por longos segundos e Jongin, nervoso com alguma possível reação negativa por parte do general, colocou-se atrás do amigo. Sehun limitou-se a arquear a sobrancelha na direção do moreno e logo em seguida encarou Baekhyun, como se fizesse uma pergunta silenciosa, a qual o médico entendeu.
— Esse é o Jongin. Ele é meu amigo — esclareceu, deixando claro o seu nervosismo.
— Amigo? Certeza? — Alternou seu olhar entre Jongin e Baekhyun; por fim parou no mais velho presente ali, o que o fez engolir em seco. Estava ficando cada vez mais nervoso.
— Certeza — Jongin foi quem respondeu, tomando a frente, acabando por ficar cara a cara com o general. Existia uma nítida tensão pairando entre Kim e Oh. Os dois se encaravam como se pudessem começar uma briga a qualquer momento, sendo este o maior medo de Baekhyun. — Somos apenas amigos.
— Baekhyun — Sehun chamou —, Faça uma lista de tudo o que vocês médicos precisam e me entregue na hora do almoço. — o general que até então estava com o quepe em mãos, o colocou na cabeça e tirou os olhos do moreno, pondo-os em Byun. — Passar bem, hyung.
— Pa-pa-passar bem, Sehun — desejou.
Quando o mais novo dos três saiu do local, Baekhyun faltou somente desmaiar na cadeira de tanto alívio que sentia. Nunca mais deixaria Kim Jongin e Oh Sehun na mesma sala enquanto estivesse presente; era pressão demais em seu pobre coração. Entretanto, seu maldito amigo virou-se para si com um sorriso divertido no rosto, como se nada demais tivesse acabado de acontecer.
— Por que você ‘tá com esse sorriso idiota na cara? — Baekhyun perguntou, sentando-se na cadeira mais próxima.
— Você não percebeu nada? — Jongin indagou.
— Além do fato de que vocês dois quase se atracaram aqui na minha frente? — ironizou. — Não, eu não percebi mais nada. Tinha mais alguma coisa para eu perceber?
— Ele gosta de você! — Jongin exclamou e recebeu como resposta uma careta de Baekhyun. — É sério! Ele sente ciúmes, por isso ficou com aquela cara de porta.
— Ele sempre fica com aquela cara de porta. — Baekhyun se levantou da cadeira e pegou sua maleta, junto com seu estetoscópio. — Você está vendo coisa onde não tem Jongin; ele não gosta de mim dessa forma e eu muito menos. — Caminhou em direção à porta. — Vou almoçar, cuide-se e foque no trabalho.
Baekhyun voltou para o dormitório e levou sua caneta e uma das folhas de papel que tinha para o refeitório. Aproveitaria para fazer a lista de tudo o que os médicos precisavam para trabalhar com decência e realizar o melhor serviço possível em meio àquela guerra. Quase não comeu nada, de tanto que pensava em tudo o que poderia escrever naquela lista que aquela altura já estava bem extensa.
Ao terminar de escrever, ele deslocou-se para o quartel, visando chegar à sala do general Oh. Percebeu que todos nos corredores do quartel o encaravam, como se já soubessem o que ele faria ali. Provavelmente achavam que ele tinha aprontado mais alguma coisa naquela semana. Ignorou os olhares tortos — e também alguns de pena — e bateu na porta do general, que já o esperava.
— Fez a lista que eu pedi? — Sehun perguntou, sem tirar os olhos dos papéis que tinha em mãos.
— Sim, aqui está. — Baekhyun estendeu o papel na direção do outro, que o pegou, deu uma rápida olhada e logo o jogou em um canto qualquer da mesa. — O que você tanto lê nesses papéis? Deveria descansar um pouco; esforço demais pode matar.
— Não exagera. — Sehun largou os papéis na mesa e encarou o médico. — São os relatórios que foram feitos acerca do nosso confronto contra os rebeldes de Busan. Estamos tendo muitos problemas para detê-los, o governo está nos pressionando.
— Dá ‘pra perceber. — Baekhyun afirmou e Sehun arqueou uma das sobrancelhas. — A área hospitalar está lotada de soldados... Todos os dias chegam vários, sendo que grande parte acaba morrendo e não é por conta das nossas condições, e sim pela gravidade dos ferimentos.
— Nosso efetivo de soldados tem diminuído rapidamente. Nos últimos dias, nós perdemos mais de duzentos somente no lado Sul. Estamos perdendo muita força naquele lado e infelizmente eu não posso mandar soldados daqui para lá. — Passou as mãos no rosto e suspirou. Jogou os óculos que usava contra a parede, assustando Baekhyun.
— Ei, sei que você está muito desgastado por causa do trabalho, mas deve existir alguma solução. — O mais velho pousou sua mão direita sobre a do general, que elevou seus orbes castanhos para encará-lo. — Vocês vão conseguir encontrá-la, eu tenho certeza.
Mantiveram contato visual tempo suficiente para que sentissem um formigamento estranho no peito — e Baekhyun podia garantir que não era um infarto a caminho, mesmo que seu coração estivesse extremamente acelerado, quase rasgando seu peito em nervosismo. Sehun aproveitou e apertou a mão do médico, esquentando-a como sempre fazia quando estava ao lado de Baekhyun (o mais velho sempre se sentia esquentar quando estava perto do outro).
— Não há nada em que eu possa ajudar? — indagou Baekhyun, afastando subitamente sua mão. Sehun pigarreou e rapidamente voltou sua atenção aos relatórios.
— Cuidar de nossos soldados feridos junto dos outros médicos já é trabalho o suficiente para que você nos ajude. — Levantou da cadeira e pegou seus óculos do chão; por sorte não estava quebrado.
— Mas eu quero ajudar mais! — Baekhyun fez um bico e cruzou o braço, sem ter a mínima ideia do que fazer. Então, segundos depois, estalou o dedo e se levantou animadamente da cadeira. — Eu já sei como posso ajudar: eu posso me infiltrar nos rebeldes quando ultrapassar a linha de risco, assim trarei informações para vocês.
— Não, nem pensar — Sehun disse; sério.
— Por favor! — Baekhyun se colocou na frente do general e tentou fazer um biquinho fofo. — Eu farei um bom trabalho, prometo! Trarei muitas informações!
— É perigoso Baekhyun. — Pôs as mãos nos ombros do mais velho. — Se eles descobrirem irão te matar. Não quero que arrisque a sua vida dessa forma, é desnecessário. Iremos encontrar outra maneira de acabar com isso.
— Sehun, confie em mim. — Baekhyun aproximou-se um pouco mais do outro. — Dê-me esta chance! Eu não vou te decepcionar, prometo. E Byun Baekhyun jamais descumpre uma promessa.
— Eu confio em você, e sei que jamais me decepcionaria em algum trabalho. — Sehun levou sua destra à bochecha de Byun, depositando um carinho ali. — Eu não quero que você se machuque... Jamais me perdoaria se algo desse tipo acontecesse com você.
Baekhyun deleitou-se com a mão que, naquele momento, estava fria em sua pele tão quente. Era um choque além do térmico; sentia uma eletricidade desconhecida passar por seu corpo, algo que ele somente tinha sentido ao ter seu primeiro beijo com Joohyun no pátio da escola. Deixar Sehun amornar sua bochecha com os dedos finos era uma sensação prazerosa, que desejava poder sentir por mais tempo.
— Vou levar-te até a reunião dos oficiais militares do Exército hoje à noite. Iremos conversar com eles a respeito de sua proposta. Quando entrarmos em um consenso, saberemos exatamente o que fazer. — Recolheu sua mão, contra a sua vontade, deixando o mais velho com um louco desejo de pedir para que ele continuasse o carinho. — Pode ir.
— Sehun, pode me fazer um favor?
— Peça.
— Não trabalhe mais do que deve. — Desviou seu olhar do general, mas logo criou coragem suficiente para voltar a encará-lo. — Eu também me preocupo contigo, mesmo que às vezes não pareça. Por isso, descanse. — Baekhyun pensou em como se despedir e acabou por limitar-se a deixar sua mão pousada no peito do mais novo. — Até mais tarde.
— Até mais tarde, hyung.
Então Baekhyun foi embora e deixou um General extremamente confuso e encantado para trás. Após a saída dele, Sehun jogou-se na cadeira e largou os óculos na mesa. Passando as mãos pelo rosto, ele respirou fundo e disse, para ninguém em especial:
— O que você está fazendo comigo, Baekhyun? — Suspirou.
(...)
Baekhyun deixou a água gelada cair por suas costas, causando quase a mesma sensação que Sehun o fez sentir. Quase a mesma, pois o general não o fazia sentir somente um choque, mas sim uma descarga elétrica de mais volts do que o doutor seria capaz de contar. Era incrível o poder que aquele homem conseguia exercer sobre si.
Apoiou-se na parede gelada do box e suspirou; estava cada vez mais confuso em relação ao outro. Tinha certeza de que não sentia nada, mas após aquele simples toque, essa suposta certeza tinha se dissipado. Conhecia Sehun há apenas uma semana, o odiara completamente no princípio e agora sentia um carinho crescer em seu peito toda vez que o via. Carinho, não amor. Disso ele tinha certeza.
“— Joo, o que fez você se apaixonar por mim? — Baekhyun ajudava, ou melhor, tentava ajudá-la a lavar a louça. — Tantas pessoas gostavam de ti e por que logo eu?
— Nenhuma daquelas pessoas se comparava a você, Baekkie. — Sorriu.
— Elas são melhores do que eu.
— Não são não. — Virou-se na direção do marido. — Baekkie, acredite em mim: você é muito mais especial do que imagina, e merece o melhor. Eu te amo por tudo que você tem por dentro: é sensível, amável, teimoso de uma boa forma, altruísta… São tantos adjetivos para te descrever que não terei tempo de falar todos.
— Você é ainda mais especial do que eu.’’
Baekhyun sorriu. Ainda doía lembrar-se de Joohyun, mas não tanto quanto antes. Agora, toda vez que pensava na esposa, conseguia sorrir, pois se lembrava dos bons momentos que vivera ao seu lado. Por mais que o acidente ainda rondasse a sua mente, as comemorações, sorrisos, toques, tudo de bom se sobressaía.
Mas e Sehun? Era um mistério para Baekhyun. Quando o conheceu, tinha certeza de que seriam inimigos, pois jamais conseguiriam manter uma conversa por mais de dois minutos sem brigarem. Entretanto agora, os dois estavam se aproximando. Quanta coisa pode mudar em pouquíssimos dias?
Deixou seus devaneios de lado e terminou o banho. Não podia ficar gastando água à toa naquele momento tão difícil. Saiu do banheiro, colocou sua roupa, voltou para o dormitório e se sentou na escrivaninha; tinha que escrever uma carta para a família. Bateu a caneta na mesa, pensando nas palavras certas a colocar no papel para que não ficassem mais tão preocupados consigo. Sua mãe nem queria que ele viajasse para Busan, pois alegava que seria perigoso ir para um local em guerra.
Contudo, ele não se arrependia de ter saído de Seul, porque sabia que se tivesse passado mais tempo ali acabaria de vez com seu astral. Não conseguiria superar a morte de Joohyun e seria um peso para sua família, mesmo que jamais admitissem isso. Respirou fundo e concentrou-se em escrever que estava bem e que sentia saudades.
Em seguida colocou a carta em um dos envelopes e a guardou dentro da gaveta. Então ouviu batidas em sua porta. Podia parecer incrível, mas ele sabia que não era Sehun. Algo dentro dele dizia que aquelas batidas não pertenciam à mão do mais novo; eram mais fortes, com certa pressa embutida. Definitivamente, não era.
— Com licença senhor Byun. — Era Park Chanyeol. — O general Oh pediu para que eu o levasse à sala de reuniões. Todos aguardam a sua presença.
— Podemos ir. — Baekhyun fechou a porta e seguiu o tenente-coronel.
Quando o médico ultrapassou a porta da sala de reuniões, todos ficaram quietos e olharam para ele. Alguns estavam assustados; outros descrentes, confusos, irritados, sérios. E tinha Sehun. Dentre todos aqueles homens — e algumas mulheres também, devemos ressaltar — o único que tentou confortar Baekhyun. Suavizou sua expressão séria e fez sinal para que ele se sentasse na cadeira que estava reservada ao seu lado.
— Quem é este rapaz, General Oh? — Jong Sun indagou.
— Este é Byun Baekhyun, um dos médicos que trabalha no resgate aos nossos soldados feridos. Ele tem uma proposta a fazer, pois, segundo ele, isto pode nos ajudar. — Pigarreou. — Ele se ofereceu para se infiltrar no grupo dos rebeldes de Busan.
— Duvido que isso dê certo — Kim Taehyung intrometeu-se, sendo que ele nem deveria estar ali, mas Jong Sun achou importante a presença de um oficial superior. — Ele é um médico! O que eles sabem sobre infiltrações?
— Eu sei muito bem o porquê de ter me oferecido — Baekhyun manifestou-se pela primeira vez e ganhou a atenção de todos os presentes. O olhar de Taehyung era o que mais pesava sobre si, porém sentiu quando a mão de Sehun apertou a sua, em uma tentativa bem sucedida de acalmá-lo. — O fato de eu ser um médico irá ajudar. Ninguém vai desconfiar.
— Ele tem razão nesse ponto — Ko Shinwon concordou. — Ele não é de Busan, ou seja, ninguém por aquelas bandas o conhece. Além disso, as feições dele transpassam tranquilidade. Ele não aparenta trabalhar para o Exército. É perfeito! — Sorriu.
— Há algum plano de infiltração, Comandante Kang? — perguntou Jong Sun.
— Sim, senhor, temos um plano. Posso expô-lo para todos? — Jong Sun assentiu e o Comandante de Operações Terrestres, Kang Hyunggu, se levantou de sua cadeira e abriu sua apresentação de slides que estava hospedada em seu computador. — Nosso setor de inteligência conseguiu rastrear uma das encomendas feitas pelos rebeldes: uma bomba de nêutrons, comprada de um mercado americano. Nós conseguimos deter o homem que iria entregar a mercadoria e ficamos com a bomba.
— Como eles tiveram acesso a uma arma dessas?! — Jong Sun exaltou-se.
— Senhor, eles têm muitos aliados, e provavelmente, contam com uma força exterior. Deu para perceber que a estratégia deles é de dizimar a população de todo o país, exceto daqui da região. Assim, eles tomariam o poder e formariam um governo de rebeldes e Busan se tornaria um país, sendo a Coreia do Sul completamente esquecida — Sehun esclareceu. — Passamos muito tempo sem entender o que os rebeldes queriam, e eles acabaram se aproveitando disso. Porém, eles terem encomendado este tipo de bomba revela toda a tática.
— Exatamente o que o general Oh disse — Hyunggu concordou. — Mapeamos a região da melhor forma que conseguimos e descobrimos algumas bases que eles mantêm, além de alguns líderes do movimento. O principal deles, até o presente momento, é Kim Minseok.
— O quê? — Baekhyun se levantou da cadeira, atraindo a atenção de todos.
— O conhece, doutor Byun? — Jong Sun inquiriu.
— Sim, sim, sim! Ele é o tio de Yerin, uma garotinha que eu conheci. — Sentou-se novamente na cadeira e passou as mãos pelo rosto, ainda descrente. — Não posso acreditar.
— Isso é algo melhor ainda. Minseok nunca irá desconfiar de você, doutor Byun. Basta convencê-lo de que está ao lado dele e que lutará com unhas e dentes pela causa. — Hyunggu limpou a garganta e prosseguiu: — Kim Minseok foi um dos precursores do movimento. Ele deu a ideia e junto com alguns outros idealizadores começou a colocá-la em prática; tudo teve início no ano passado, eles começaram a planejar e a comprar armamento, além de mobilizarem outras pessoas a participarem. Quando ele sentiu que tinha pessoas o suficiente, passou a fazer pequenos ataques, que logo tomaram uma proporção maior, ganhando a atenção do Exército.
— Entretanto, o plano de Minseok ganhou algumas alterações por conta de sua sobrinha Kim Yerin — Sehun revelou e Baekhyun finalmente caiu em si: ele já sabia. Então, por que não tinha lhe contado? — Como teve que ficar com a menina, foi obrigado a parar com os ataques maiores por certo tempo, focando mais em pequenos sustos. Ele faz de tudo para que a menina passe o maior tempo possível fora de casa, assim terá tempo necessário para seus planejamentos.
— Tendo nos baseado nestes fatos, bolamos um plano, que agora, envolverá o senhor Byun Baekhyun. — O citado levantou o olhar para encarar Hyunggu, que finalmente iria explicar o bendito plano. — Como temos o artefato que eles encomendaram, o senhor ficará responsável por entregá-lo aos rebeldes. Porém, também terá que colocar duas escutas nossas no local de reunião deles, além de ganhar a confiança de todos para conseguir mais informações. É um plano complexo. Aceita participar senhor Byun?
— Aceito — Baekhyun respondeu sério e soltou sua mão que ainda estava entrelaçada a de Sehun.
— Ótimo! Iremos repassar tudo com detalhes na próxima sexta-feira, dia em que a entrega está prevista. — Hyunggu desligou o notebook. — A reunião acabou.
Bastou o comandante informar isso para que Baekhyun saísse apressado da sala, sem se importar com os chamados do general. Ele estava bravo, irritado e ainda mais confuso. Por que aquele cara de porta não tinha lhe contado nada? Não confiava em si?
Mesmo sendo ignorado, Sehun não desistiu e quando conseguiu uma aproximação boa o bastante, pegou o braço de Byun, obrigando-o a parar e encará-lo. Os dois ficaram em silêncio por certo tempo, até o doutor começar a se debater para soltar-se. Em vão.
— Por que saiu daquela forma? — Sehun perguntou e Baekhyun riu sem humor. — Está bravo comigo? — insistiu.
— Por qual motivo não me contou sobre o Minseok? — o mais velho perguntou com certa raiva.
— Era uma informação confidencial, a qual não me era permitido te revelar. Sinto muito se isso feriu o seu orgulho, mas era por um bem maior. — Soltou o braço do médico.
Baekhyun tinha vontade de ficar, mas naquele momento, o orgulho ferido foi um motivo maior para que fosse embora e deixasse um Sehun culpado e com raiva de estar se sentindo assim para trás.
(...)
Sexta-feira — Base Militar Subterrânea
Sehun estava apreensivo, irritado e triste. Tudo ao mesmo tempo. Estava apreensivo por ser o dia em que começaria a missão que Baekhyun tinha se oferecido a participar; irritado, pois o citado anteriormente não tinha lhe dirigido a palavra durante toda a semana — ainda por cima tinha atravessado a linha de risco três vezes nesse meio tempo — e triste, porque sentia falta de Byun. É, isso mesmo: sentia falta.
O jeito irritante daquele baixinho, os cabelos loiros com alguns fios caindo na testa, aquele sorriso retangular tão raro com um brilho tão característico, a mão que se encaixava perfeitamente a sua... Até mesmo a teimosia dele. Oh Sehun estava completamente encantado — não, ele não diria apaixonado — por Byun Baekhyun.
No momento em que o dito cujo atravessou a porta da base militar, Sehun cravou os olhos nele, tentando deixar clara a saudade que sentia. Baekhyun também o encarou, mas logo desviou o olhar e arrumou o boné vermelho que tinha na cabeça.
— Senhor Byun — Hyunggu chamou-lhe a atenção —, você irá entregar essa mochila para Minseok bem naquele cruzamento de ruas que eu lhe mostrei no mapa. Provavelmente, ele irá te reconhecer, então aproveite para convencê-lo de que está do lado dele. Entendido?
— Entendido.
Hyunggu se afastou, caminhando na direção dos outros comandantes para que pudessem preparar os últimos detalhes. O plano era, de certa forma, simples na visão de Baekhyun, mas ele teria que executá-lo com cuidado; não poderia cometer o mínimo erro ou colocaria todo o país em risco. Nunca em sua pacata vida imaginou que faria parte de um plano do Exército.
O momento de agir estava cada vez mais próximo. A bomba estava dentro da mochila azul, as duas escutas nos bolsos da calça; o boné e os óculos escuros tentavam esconder a face de Baekhyun. Até conseguiam esconder seu cabelo e os olhos escuros, mas não impediam que percebessem seu evidente nervosismo.
Sehun percebia aquilo. Desejava poder embalar o doutor em um abraço, acariciar sua bochecha e passar suas mãos pelos finos fios de cabelo, enquanto dizia que tudo iria ficar bem e que jamais deixaria algo acontecer consigo. Suspirou com esses pensamentos, sendo interrompido quando uma mão pousou em seu ombro.
— Sehun — Baekhyun disse baixinho, com certo medo pendendo na voz. —, Me desculpe por ter agido dessa forma durante a semana inteira. Era somente o seu trabalho, eu não tinha esse direito.
— Tudo bem, hyung. — O mais velho sorriu. Era bom quando o general saía daquela pose de durão para ser carinhoso. — Está tudo bem com você? Parece muito nervoso... Se quiser desistir, tudo bem, ninguém irá te forçar a nada.
— Posso te abraçar? — Baekhyun perguntou e Sehun nem precisou responder em palavras, simplesmente passou os braços pelo corpo esguio do menor e deixou-o pousar sua cabeça em seu peito. Então, o ouviu sussurrar: — Eu estou com medo.
— Não deixarei nada acontecer com você, eu prometo. — Segurou o rosto do mais velho e deixou um selar em sua testa. Com a sua destra, tirou um walkie-talkie do bolso. — Está vendo isso aqui? Eu tenho um e você ficará com esse aqui; qualquer coisa que acontecer é para me avisar. Qualquer coisa. Entendeu?
— Entendi. — Baekhyun ficou na pontinha do pé e deixou um beijo na bochecha de Sehun, que por pouco, muito pouco mesmo, não corou. — Obrigado Hun.
— Temos tanta intimidade assim para usarmos apelidos um com o outro? — A voz do general, pela primeira vez desde que encontrou o médico, soou divertida.
— Aish, não estraga o clima, Sehun! — Sehun deu uma risada com o comentário alheio e Baekhyun pôde, finalmente, admirar seu sorriso aberto. Era tão bonito que faria todo o possível para vê-lo novamente. — Vou continuar te chamando assim só para te irritar.
— Isso não me irritou — Sehun admitiu. — Eu gostei de ser chamado assim por você. Somente por você. — Tal frase resultou em uma troca intensa de olhares; seus olhos se encontraram, mas também rumaram para os lábios avermelhados de cada um.
— Baekhyun, está na hora — Hyunggu informou, infelizmente estragando o momento e tirando os dois daquele transe. — O próprio general irá guiá-lo até o lado de fora e te deixará em um ponto estratégico para seu avanço.
Ambos assentiram e Sehun segurou firmemente a mão esquerda de Baekhyun, fazendo o possível para transparecer o quanto confiava no mais velho, o quanto acreditava que tudo daria certo e que o mesmo ficaria bem — apesar de lá no fundo também estar com muito medo. Caminharam de mãos dadas até o lado de fora e Baekhyun já estava pronto para ir embora e deixar todo o resto para trás.
— Baekhyun! —Sehun chamou antes do outro se afastar completamente de si. O médico virou na direção do general e foi surpreendido quando o mais novo juntou os lábios de ambos em um beijo verdadeiro; regado por sentimentos ainda confusos, mas com o consenso de ambos. — Vai ficar tudo bem, hyung.
Baekhyun estava torpe por conta do beijo. Não se sentia capaz de raciocinar o mínimo, tanto que não conseguiu responder a frase dita pelo general Oh. Os dois se afastaram, a contragosto, e o médico apertou as alças da mochila, abaixando a cabeça e pondo-se a andar em direção ao seu maior desafio.
Não foi muito difícil avistar Minseok entre todo aquele caos em que se encontrava Busan. O mormaço queimava o pescoço de Baekhyun, além do conteúdo presente em sua mochila. O Kim usava um óculos escuros de lentes verdes, cabelos tingidos da mesma cor e uma regata preta, para chamar o mínimo de atenção possível.
— Trouxe o que eu pedi? — Xiumin, esse era o codinome que ele utilizava para fazer suas compras ilegais, indagou. Olhava para todos os lados, na busca incessante de algum espião do governo.
— Sim, aqui está. — Naquele momento, Baekhyun era conhecido por Wook, este era o nome utilizado pelo negociador que ofereceu a bomba para os rebeldes. — Onde está o meu pagamento?
— Aqui… Baekhyun? — indagou, com visível confusão em sua face. Xiumin pegou Baekhyun pelo ombro e o arrastou até um local mais reservado. — Você é o Wook? O médico engomadinho que gosta de ajudar os outros é na verdade um vendedor de bombas?
— Aquilo de ajudar as pessoas é somente um disfarce. Acha mesmo que eu me importo com elas? — Riu. — Claro que não! Faço isso somente para manter a pose de bom moço, assim posso passar despercebido por todos aqui. Vender armas é algo muito mais eficaz para enriquecer hoje em dia.
— Hum, quem diria. Byun Baekhyun, o bondoso que é um “anjinho” para Yerin, na verdade é um canalha de carteirinha. — Os dois riram e Minseok deu um soco no ombro do outro. — Podemos continuar a nossa conversa, amigo?
— Claro, vamos!
Minseok guiou Baekhyun por entre os destroços do que antes eram casas rumo ao único bar que funcionava naquele lugar. Era quase uma caverna, mas que tinha um pouco da energia elétrica disponível em Busan; as paredes escuras davam certo ar de terror ao local. Pediu duas cervejas e recostou-se calmamente na cadeira.
— Então, por que veio até Busan?
— Fugi da polícia — Baekhyun mentiu, com facilidade invejável. Odiava beber; álcool deixava-o tonto e enjoado, mas teria que fazer mais um esforço. — Eles já estavam rondando a minha casa e conseguiram dados do meu computador. Aqueles desgraçados iam me prender, mas eu fui mais rápido e vim ‘pra cá.
— Pretende passar muito tempo por aqui? — Minseok estava com um brilho de interesse nos olhos. Via em Baekhyun um aliado forte para ganhar aquele combate e derrubar de vez o governo.
— O tempo que for necessário. — Baekhyun colocou o copo na mesa, encarou Xiumin e umedeceu os lábios. — Sinto que posso ganhar muita coisa em Busan.
Minseok sorriu largo. Seus olhos de gato esperto cravaram no sorriso retangular do outro; tinha encontrado a pessoa perfeita para lhe ajudar a cumprir a última parte de seu derradeiro plano.
— Baekhyun, tenho certeza de que irá ganhar muito aqui em Busan. — Os dois brindaram, sorrindo perversamente, logo em seguida tomando um gole da cerveja.
(...)
Quatro semanas depois…
Durante um mês inteiro, Baekhyun teve que se dividir entre: convencer Minseok que estava ao seu lado, ganhar sua confiança e cuidar das pessoas na área hospitalar — ultrapassando a linha de risco algumas vezes, só para não perder o costume.
Minseok estava caindo perfeitamente em sua lábia. Ele já tinha lhe apresentado a alguns dos outros líderes e o levado a bases rebeldes que tinha montado. Alguns líderes incluíam ex-soldados, que diziam ter sidos jogados de lado e queriam vingança. Baekhyun repassou todos os nomes para o Exército, que rapidamente encontrou as fichas de todos no banco de dados que eles tinham.
As bases eram muito bem equipadas, e os rebeldes tinham uma organização invejável que Minseok disse ter planejado por muito tempo para que tudo desse certo. Tinham armas, carros blindados, bombas, computadores e outros aparelhos de tecnologia, além de vários simpatizantes com o movimento — sendo alguns de fora do país também.
Baekhyun foi designado a cuidar dos rebeldes que chegavam feridos a uma das bases — aquela sendo nomeada de Base Kwon, já que o líder dali possuía este nome. Por mais que eles fossem problema dos governantes, o médico não conseguia deixá-los desamparados. Sentia-se na obrigação de cuidar deles, mesmo que alguns superiores do Exército insistissem para que ele não os ajudasse.
A vontade de ajudar o próximo estava acima de qualquer coisa para Baekhyun; jamais deixaria um ser humano sem atendimento se tivesse condições de ajudar. Alguns cogitaram tirá-lo da missão por causa disso, mas Sehun proibiu, pois estava dando certo e não iriam parar enquanto não descobrissem o próximo passo dos rebeldes.
Além de ter que passar informações sobre os rebeldes para os oficiais, Minseok teve a brilhante ideia de fazer com que Baekhyun se tornasse seu informante dentro da base militar em Busan. Claro que aceitou, mas com a ressalva de que tudo que revelava para Kim estava distorcido... Era tudo falso.
Durante este mesmo período, passou horas cuidando dos feridos da área hospitalar. Felizmente, o governo aceitou as recomendações presentes na lista entregue pelo general e compraram tudo que os médicos precisavam para cuidar dos soldados. O trabalho tinha ficado mais eficiente e rápido, e os remédios de boa qualidade deixavam os militares prontinhos para voltarem ao trabalho.
Para a loucura de Sehun, ele atravessou a linha de risco outras vezes para cuidar dos mais pobres de Busan. Todo o dia o general fazia um discurso imenso sobre quantos perigos existiam após aquela maldita linha, usando como exemplo aquela bomba que poderia ter matado tanto a si mesmo, quanto Baekhyun e Yerin.
Mas quem disse que ele lhe dava ouvidos? Era teimoso demais para isso. Sehun dizia mil motivos para que ele não atravessasse a linha e Baekhyun respondia com mil e uma razões — bem convincentes, por sinal — para poder atravessar a linha.
Ainda havia Jongin. O moreno insistia em tentar esconder o que estava acontecendo. Todos os dias ele aparecia com aquele rosto triste, a voz rouca, bem mais séria do que o normal, as roupas quase sempre amarrotadas... Os sorrisos que ele apresentava eram nitidamente falsos e os olhos inchados deixavam claro o choro recente.
Entretanto, após três semanas tentando esconder o que acontecia, Jongin apareceu bêbado, com uma garrafa de uísque em mãos, enquanto chorava copiosamente dizendo palavras desconexas. Baekhyun precisou da ajuda de Sehun para colocar o rapaz debaixo do chuveiro frio e depois trocar suas roupas — após o general insistir muito para que ele o deixasse tirar as roupas do moreno sozinho. Vai entender o porquê.
Quando acordou no dia seguinte com uma ressaca infernal e deu-se conta de que estava em outro quarto que não o seu, Jongin falou apenas em cavar um buraco para se enterrar. Tomou um café bem amargo e contou o motivo de estar tão mal: Park Chanyeol.
Sim, isso mesmo... Os dois mantinham um princípio de relacionamento, porém o maior sentia vergonha de assumir algo sério e aberto com o médico. Em sua cabeça retrógrada, isso seria uma vergonha perante seus colegas de profissão; algo ridículo, mas que Jongin somente poderia aceitar.
E no meio de toda essa confusão, estava Oh Sehun.
“— Sehun, por que me beijou? — Baekhyun indagou, após voltar são e salvo da missão. — Sei que você também pensava que eu não poderia voltar vivo, mas beijar-me já foi demais.
— Você não gostou do beijo? — Sehun se levantou da cadeira de sua sala e aproximou-se de Baekhyun, pondo sua mão direita no rosto do outro. — Se arrepende?
— Não é essa a questão. — Ele pensou em afastar a mão alheia, mas aquilo parecia um imã, fazendo com que ele fosse incapaz de resistir a tudo que estivesse ligado ao general. — O que significou aquilo? Fez somente por conta do momento? Teve algo a mais?
— Eu não me arrependo, Baekhyun-hyung. — Pôs seus lábios na orelha do outro, sentindo quando os pelos dele se eriçaram. — Te beijaria de novo, de novo e de novo. Sabe quando você me ignorou por uma semana inteira? Eu senti muitas saudades, não imaginas o quanto. Seu sorriso único, sua luz própria tão brilhante quanto o sol, seus cabelos loiros, sua mão que se encaixa perfeitamente à minha. Senti falta de tudo relacionado a ti, Baekhyun, por mais estranho que isso possa parecer.
— Sehun… — O citado pôs o dedo indicador nos lábios finos do médico, pedindo para que ele ficasse quieto. Dificilmente Baekhyun acatava ordens de outra pessoa, ainda mais do general, mas sentia-se tão estranho e nervoso perto dele que todos os seus preceitos mudavam. Seja para o lado bom ou ruim.
— Não diga nada, Baekhyun. Nada. — Encostou seus lábios nos do outro novamente. Byun deleitou-se com o sabor de menta presente na língua do general, a qual logo invadiu sua boca. — Aproveite o momento... Depois pode brigar comigo, me bater, me expulsar. Mas, por agora, aproveite. Somente aproveite.”
Sim, ele aproveitou muito aquele beijo... Muito mesmo... Com toda a certeza, foi bem melhor do que o primeiro. Foi um beijo mais intenso, com mais significado... Existia uma aura mais propícia para aquilo acontecer. Ah, mas Baekhyun estava confuso e Oh Sehun somente piorava as coisas.
Aquela tinha sido a primeira conversa dos dois depois que o doutor voltara de sua missão. Passaram três dias sem conversarem; Sehun achando que tinha ido longe demais e assustado o menor, acabando com suas chances de conquistá-lo. Já Baekhyun estava fugindo do outro mais do que o diabo da Cruz.
“— Baekhyun! — Sehun gritou, enquanto o menor acelerava loucamente seus passos para fugir. Porém, o general foi rápido e colocou sua mão direita no ombro do outro. — Vai mesmo ficar fugindo de mim? Pretende continuar com isso até quando?
— Até você parar com isso de que sente algo por mim. — Virou-se para encarar o loiro, seu rosto tinha feições um tanto quanto raivosas. — Pare de tentar me confundir Sehun, está fazendo isso somente para se divertir comigo.
— Claro que não! — Sehun exclamou exasperado. Na tentativa de que o mais velho o encarasse diretamente nos olhos, abaixou-se e apertou suas mãos contra os ombros alheios. — Baekhyun, eu jamais brincaria com os sentimentos de alguém, ainda mais os seus. Eu sei que não sou a pessoa mais fácil do mundo, que não sei demonstrar muito bem o que sinto e que grande parte das vezes eu faço isso da forma errada, mas acredite em mim: eu te amo, hyung. Realmente, te amo.
Baekhyun entrou em curto circuito naquele momento. Realmente não esperava que ele pronunciasse aquelas três palavrinhas que podiam desmantelar o coração de qualquer pessoa em sã consciência. Sua respiração ficou acelerada e temeu que Sehun tentasse lhe beijar; definitivamente não era o momento para isso.
— Sehun, eu… — pensou nas palavras que iria dizer, pois não queria soar duro demais e acabar com os planos do mais novo. Queria conseguir explicar o que sentia, por mais complicado que fosse. — Eu gostei dos seus beijos, não vou negar isso. Senti sua falta também, me acostumei com esse seu jeito duro e mandão de ser, de alguma forma ele me atraí. Sinto algo por ti, mas não sei o que... É uma confusão tão grande de sentimentos que eu estou sem saber o que fazer em relação a você.
— Baekhyun, seja sincero comigo e me responda: acha que pode conseguir sentir algo a mais por mim?
— Acho.
— Posso criar esperanças em um possível relacionamento acontecer entre nós dois? — perguntou, tentando não sorrir neste processo.
— Pode. — Baekhyun sorriu. — Eu também já criei esperanças em nós dois Hun.”
Aquela pequena frase dita por Baekhyun foi o estopim para que Sehun fizesse de tudo para conquistar o coração do médico. Não era um romântico nato, estava bem longe disso, mas tentaria de tudo — tudo mesmo — para conquistá-lo, custe o que custasse e sem importar quanto tempo levasse.
Como sabia que Baekhyun gostava muito de se arriscar em ultrapassar a linha de risco, mesmo que o próprio general fosse o responsável por cuidar de si, resolveu deixá-lo ajudar os mais pobres em Busan. Com uma condição: iria junto para garantir que nada de ruim acontecesse. Bem, a reação dele não poderia ser a melhor.
“— Sério mesmo Hun? — Assentiu, deixando um sorriso escapar ao ver as feições iluminadas do médico. Estava realmente apaixonado. — Claro que eu aceito! Pode mandar o Exército junto comigo; eu já atravessei sozinho mesmo.
— Olha... Não me dê ideias — Sehun referiu-se ao Exército e ganhou um soco leve no ombro.
— Obrigado, Sehun. — Deixou um beijo estalado na bochecha do outro. — Muito obrigado por tudo isso.
— De nada hyung.”
Na semana atual, o general e o médico atravessavam calmamente para o lado perigoso de Busan — Baekhyun deu como desculpa para Minseok de que estava ganhando a confiança do Exército, mostrando que estava ali somente para cuidar dos feridos.
Sehun não conseguia tirar os olhos de Baekhyun. Simplesmente não conseguia mais desviar sua atenção de cada movimento que outro executava: a forma com que ele cuidava de cada um dos enfermos, com tanto zelo, tomando o máximo de cuidado para não piorar a situação; a forma como conversava com cada um deles e dizia que tudo ficaria bem, iriam se recuperar e logo estariam andando por aí; o jeito de olhar intensamente para cada par de olhos como se todos fizessem parte de sua família.
O general não poderia ter se apaixonado por alguém melhor.
— Anjinho! — Baekhyun e Sehun olharam na direção do som e avistaram a pequena Yerin acenando ao longe. O mais velho sorriu abertamente e fez sinal para que ela se aproximasse, acabando por esconder a menina em um abraço.
— Oi, meu amor. — Beijou sua bochecha e acariciou seus cabelos. — Senti sua falta nas últimas semanas, fico feliz que esteja aqui.
— Quem é ele? — Apontou para Sehun, inflando as bochechas.
— Ele é o titio Hun. — Sorriu na direção do maior. — Ele é um anjinho como eu, mas a função dele é cuidar de mim, além de também proteger outras pessoas.
— Anjinhos precisam de outros anjinhos? — Yerin perguntou tão confusa quanto Sehun, que não entendia sobre o que os dois estavam falando.
— Sim, alguns anjinhos não são muito bons em cuidarem de si próprios. Então, outro anjinho se oferece para ajudá-los em tudo que precisarem.
Yerin sorriu e sentou-se ao lado de Baekhyun para não atrapalhá-lo em sua tarefa. Sehun teria de admitir que nem todas as crianças eram pestinhas e davam trabalho. A menina ficou quietinha durante todo o tempo em que ele esteve ali. Somente falava algo quando Byun dirigia a palavra a si ou quando tinha alguma dúvida.
O general ponderou por um instante: Baekhyun tinha lhe dito que gostaria de ser pai; seria isso um empecilho para que eles ficassem juntos? Dois homens não poderiam gerar uma vida, será que pensava nisso? Será que aceitaria a adoção? Mas, havia outra coisa: Sehun nunca tinha pensado em ser pai ou formar uma família.
Por um momento, pensou em desistir de Baekhyun. Talvez não fosse a pessoa certa para ele, talvez devesse deixá-lo em paz; ele poderia encontrar alguém melhor. Alguém que cuidasse de si, lhe amasse, lhe desse carinho e uma família.
— Sehun, o que tanto pensa? — Baekhyun pôs-se ao seu lado, com o rosto preocupado. Tinha terminado seu trabalho naquele dia, já que não poderia ajudar todos os feridos daquele lugar. — Está aí parado, me encarando há alguns minutos.
— Você adotaria uma criança? — Sehun perguntou, um tanto ansioso quanto temeroso pela resposta que viria. Baekhyun teve o rosto tomado por surpresa; jamais esperaria essa pergunta. — Sabe... Você me disse que sempre quis ter uma família, e bem, se você acabar aceitando ter um relacionamento comigo, não poderemos ter um filho biológico.
— Adotar é um ato muito lindo Sehun; é você dar uma família nova, outra esperança para uma vida. Claro que eu gostaria de adotar! Ficaria muito feliz de ter um filho, sem me importar que tenha ou não o meu sangue. — Sorriu. — Acima do sangue, da genética e da biologia está o amor, Sehun.
— Você é muito sensível, hyung. — Chamá-lo dessa forma não era mais um motivo de vergonha ou deboche; soava como um apelido carinhoso. Seus dedos finos pararam no canto dos lábios vermelhos, e ele segurou sua vontade de deixar um beijo ali. — Tenho certeza de que nasceste para ter uma família. — Então se lembrou de algo que queria perguntar. — Por que Yerin te chama de anjinho?
— Ela acha que eu sou um anjo. — Baekhyun sorriu ao se lembrar da lógica que a menina contara para chamar-lhe assim. — Não fui capaz de desmentir, então ficamos assim.
— Tenho que concordar com a menina: você é mesmo um anjo.
— Pare de me deixar com vergonha, Hun. — Escondeu seu rosto na curvatura do pescoço do outro, que se limitou a sorrir com o ato. — Se, hipoteticamente falando, eu aceitasse ter algo a mais com você e desejasse adotar uma criança, você aceitaria?
— Hipoteticamente? — Sehun perguntou e Baekhyun assentiu. — Sim, eu aceitaria. Você estava certo, nem todas as crianças são tão difíceis de cuidar. Elas demandam paciência, tempo e atenção, mas quando feito com carinho, tudo tende a dar certo.
— Mas você não aceitaria cuidar de uma criança somente por mim, né? Desejaria isso também, certo? — A voz de Baekhyun tinha um tom preocupado, tanto que se afastou para ter uma visão melhor do rosto pensativo que o outro exibia. — Uma família não é construída a base de desejos individuais... Os dois têm que concordar.
— Baekhyun, eu entendo a sua preocupação, porém sei de toda a responsabilidade acerca de um filho. — Sehun estava ligeiramente mais sério do que antes, e agora encarava o rosto avermelhado do outro. — E também não teremos filhos agora. Na verdade, ainda nem temos nada sério, não somos mais do que amigos.
Se em um período anterior Sehun dissesse que era amigo de Baekhyun, ficaria muito feliz. Isso significava que alguém conseguira ver algo de bom em si; alguém que não sentia medo pelo fato dele ser um general durão e arisco com grande parte das pessoas. Uma pessoa que poderia confiar e contar sempre que precisasse de ajuda.
Aquele não era o caso.
Deixara claro suas intenções atuais para com Baekhyun. Queria ser muito mais do que um simples amigo; desejava poder proteger e cuidar como somente amantes fazem. Estava mais do que encantado: estava nitidamente apaixonado; e por mais que tivesse dito que esperaria Baekhyun sentir-se certo de seus sentimentos, era uma espera árdua, que o fazia impotente e dependente.
— Sehun, eu entendo se você quiser desistir agora. — Baekhyun desprendeu-se completamente do outro, sentindo aquele vazio estranho e ruim se apossar de si. As palavras ditas tinham-no atingido em cheio, soando muito piores em sua mente. — Sou complicado demais ‘pra você... Não sou a pessoa certa, e tenho certeza de que você pode encontrar alguém bem melhor. Me desculpe.
Baekhyun saiu correndo, ignorando mais uma vez os gritos altos e desesperados para que voltasse. O abandonado ficou raivoso, perguntando-se o que estava fazendo de errado para que o outro não o amasse; sentia-se triste, como se tivesse perdido o sol que o fazia girar, que o fazia viver.
Já o fugitivo, deixou as lágrimas caírem como uma cascata e molharem o seu rosto. Era um covarde por fugir, reconhecia, mas era melhor assim: manter-se longe de Oh Sehun, antes que o machucasse... Antes que o fizesse infeliz... Antes que o matasse como fez com sua amada esposa Joohyun. Seu destino, se fosse para ser feliz, era ser feliz sozinho.
Quando chegou em seu quarto de dormitório, trancou a porta atrás de si e em seu pequeno momento de lucidez olhou ao seu redor. Era patético. Não tinha capacidade suficiente de encarar Sehun... Não conseguira manter sua primeira esposa feliz ao seu lado, não conseguira nem mesmo salvar a sua vida... Baekhyun não conseguia olhar o próprio reflexo sem chorar e se lembrar do maldito acidente. A quem queria enganar? Jamais conseguiria prosseguir com sua pacata vida em paz e sem se lembrar do homicídio que cometera.
Era um assassino.
Um assassino.
Oh Sehun não merecia um assassino ao seu lado.
Então gritou o mais alto que pôde, atraindo a atenção de todos que passavam pelo corredor. Entretanto, eles eram egoístas demais para sequer cogitarem ajudar em um possível surto que Baekhyun pudesse estar vivendo. Ao terminar o grito que estava preso em sua garganta, ele puxou os cabelos loiros com força, como se quisesse arrancá-los; como se tirá-los de sua cabeça fosse levar juntos seus neurônios e consequentemente suas lembranças ruins, as quais lhe atormentavam dia e noite.
Socou as paredes. Socou, socou, socou até perder a força. Socou até ver sangue sair de seus dedos fustigados pelas paredes descascadas e velhas. Olhou para seu estado e chorou ainda mais ao ver aquele sangue misturado com a tintura azul que coloria seu quarto. A cor que deveria acalmá-lo, a cor que tanto gostava, somente piorava sua situação.
Jogou tudo o que estava em cima da mesa no chão. Rasgou os papéis, deixando-os impregnados com seu sangue vermelho vivo, quebrou as canetas, a lâmpada. Arrancou brutalmente tudo que enfeitavam as paredes, desarrumou sua cama e bateu os punhos no colchão, como se aquele pedaço de espuma velha pudesse acabar com a sua raiva.
Ao sentir que não tinha mais nada a se fazer, mais nada a destruir naquele ambiente hostil, sentou-se no chão e abraçou os joelhos. Chorou. Chorou como o homem que tinha perdido a esposa. O homem que tinha assassinado a amada. O homem que tinha dado falsas esperanças a um jovem. O homem que também destruiria a vida de outra pessoa. O homem que amava Oh Sehun, mas que percebera isso tarde demais.
(...)
— General Oh! — Park Chanyeol entrou apressado na sala, ignorando o aviso que o outro sempre dizia de bater na porta antes de entrar. Deu uma continência atrapalhada e pôs-se a falar: — Os moradores relataram terem escutado barulhos estranhos vindos do quarto onde o senhor Byun está hospedado.
— Que tipo de barulhos? — A voz soou preocupada; deixou as fotos antigas que observava pousadas na mesa e encarou o tenente-coronel em busca de respostas concretas.
— Coisas sendo jogadas, quebradas, gritos e sons de choro. — Tentou diminuir a gravidade da situação, pois sabia o quanto Sehun se preocupava com o bem-estar de todos os que estavam sob sua responsabilidade. — Querem que o senhor veja o que está…
Chanyeol nem pôde terminar a frase, pois o general se levantou brusca e rapidamente da cadeira, derrubando-a no processo. Correu rumo ao dormitório como se não tivesse amanhã. Derrubou algumas pessoas, quase caiu no caminho e quando chegou à recepção, exigiu sem delongas a chave do quarto do mais velho — sem se importar em gritar com a mulher que trabalhava ali; sua educação ficaria em segundo plano naquele momento.
Subiu as escadas, correu pelos corredores e colocou a chave na porta com toda a força possível, quase a quebrando, tamanha a força que fazia. Depois de finalmente conseguir abri-la, o que viu em sua frente foi assustador: sangue, destruição e um Baekhyun inconsolável encolhidinho no canto do quarto.
— Amor… — O vocativo mais carinhoso que poderia usar para se referir a alguém foi usado pela primeira vez por Sehun em toda a sua vida na situação menos indicada para tal. — Baekkie…
O médico virou-se lentamente para encará-lo, sentindo-se cada vez mais inútil e frágil. Não queria ser visto daquela forma... Não queria ser somente um peso morto na vida de Sehun. Ele merecia alguém muito melhor, porém não teve coragem de expulsá-lo do quarto; sua suposta coragem se esvaiu ao encarar as feições preocupadas do mais novo.
— Sehunnie… — chamou em um fio de voz. Logo as lágrimas passaram a molhar novamente o seu rosto. Sentiu o corpo tremer e o general o acolher em um abraço quente. Queria poder sumir entre aqueles braços fortes, mas infelizmente era impossível fazê-lo literalmente.
— O que aconteceu aqui? — Sehun indagou, abraçando-o ainda mais forte.
— Eu sou um assassino, Hun — murmurou, mas o outro conseguiu ouvir, tendo seu rosto tomado por confusão. — Eu matei quem mais amava. Ela não merecia este fim. Eu a matei. A matei Sehun, e vou te machucar também.
— Baekhyun, o que está dizendo? — perguntou confuso. — Quem você matou? Que história é essa de me machucar?
— Quando eu morava em Seul, eu era casado com uma mulher, e ela se chamava Joohyun. — Não conseguiu conter a emoção ao lembrar-se de sua amada. — Um dia nós dois estávamos voltando de Bucheon de carro. Eu olhei por alguns segundos para o rosto dela e ela disse que me amava, então um caminhão entrou na nossa frente e eu bati em uma árvore. Ela está morta! Morta por minha culpa!
— Baek, acidentes acontecem, não foi culpa sua — Sehun tentou consolá-lo, mas foi em vão. O doutor balançou a cabeça em negativa, incapaz de não sentir o peso da morte em suas costas. — Infelizmente aquele caminhão apareceu; você não teve nenhuma culpa.
— Tive sim! — Deitou seu rosto no peito do mais novo, molhando o uniforme com as lágrimas. — Eu deveria ter prestado mais atenção na estrada, deveria ter somente apertado a mão dela, não precisava ter olhado. Eu a matei.
— Baekhyun, olhe para mim, por favor. — Ergueu a face castigada pela tristeza e culpa com seus dedos gélidos. Aproveitou e depositou um pequeno carinho no local, olhando fixamente para os orbes castanho-escuros. — Pode falar o que quiser, pode me mandar embora, me bater, continuar com essa loucura de que é um assassino, quebrar todo o seu quarto novamente, que não irei te deixar. Baekhyun, eu te amo, não estou brincando, não é uma fantasia qualquer: é amor verdadeiro. — Levou a mão do médico ao seu peito. — Consegue sentir? Ele só fica assim quando estou ao seu lado. Eu te amo! Não irei deixá-lo no momento em que mais precisa de mim.
Sehun beijou novamente Baekhyun, que dessa vez entregou-se de corpo e alma ao ato. Passou suas mãos pelo pescoço do general e sentiu seus dedos puxarem levemente os cabelos negros, enquanto o outro apertava as mãos ao redor de sua cintura.
— Sehun, eu pensei por muito tempo no que sentia por você e hoje sei o que é. — O mais novo tentou esconder toda a sua expectativa, mas foi impossível. Sentia medo da resposta, porém era melhor saber logo de uma vez. — Eu nunca tinha tido um ataque de nervos como o de hoje. Geralmente sou muito pacífico; não gosto de destruição, algo engraçado, já que vim morar em um local em guerra. Quando aceitei vir para Busan, foi por convite do meu amigo Kim Jongdae. Ele disse que precisavam de médicos para ajudar e como eu necessitava sair de Seul para espairecer, aceitei.
“Foi difícil, muito difícil suportar os primeiros dias. As noites eram uma tortura... Eu sempre sonhava com o acidente e me lembrava dos últimos momentos ao lado de Joohyun. O médico me contando sobre o falecimento de minha esposa sempre rondava a minha cabeça. Eu odeio dormir sozinho, sabe? Sinto uma sensação de vazio se apossar do meu peito, Joo me fazia sentir especial. Ela sempre soube do meu medo de ficar sozinho, então todas as noites ela me abraçava bem apertado e dizia que estaria tudo bem, que quando eu acordasse, ela ainda estaria ali. Como eu a amava. Sempre irei amá-la... Joohyun sempre terá um pedaço do meu coração.
Quando te vi pela primeira vez, te achei um grande idiota. — A risada de Sehun pôde ser ouvida. — Você falou comigo de uma forma tão dura e fria, julguei você como mais um cara idiota que se achava superior por usar uma farda de militar. Sempre atrapalhava meus planos de ajudar ao próximo... Eu queria tanto ajudar e você sempre acabava com tudo. Mas eu fui te conhecendo. Conheci o verdadeiro Oh Sehun. Um homem cuidadoso, prestativo, que sabe acabar comigo com uma palavra; carinhoso, romântico ao seu modo. Você é incrível demais ‘pra mim, mesmo que eu tenha demorado muito para notar isso.
No dia em que você revelou que a sua mãe te deixou no Natal, senti que você realmente tinha sentimentos. Você era mais do que uma patente de exército, estava bem acima de uma farda verde musgo: você é Oh Sehun, um homem que me conquistou com gestos e palavras. Me mostrou que sabe amar alguém, que sabe ajudar ao próximo e quando é mais duro quer somente o melhor para aquela pessoa. Você me salvou tantas vezes... Além de mim, também tem a Yerin; ela gosta muito de você. Não sei como alguém pode não gostar de Oh Sehun; é algo impossível.
Sabe por que não te contei nada disso antes? Tinha medo de estar indo rápido demais; em somente uma semana já estava caindo de amores por você. Poxa, nas últimas quatro semanas foi muito difícil não pensar em você! Quando ficamos afastados uma semana inteira por causa do meu orgulho, me senti vazio. Você me deixa aquecido Sehun, sem ti me sinto frio, sinto um vazio estranho no meu peito. É horrível. Por isso não quero perder mais tempo, não quero passar mais nenhum dia dormindo sozinho, quero te amar. Eu te amo Oh Sehun... Eu te amo.”
Sehun mordeu os lábios e sorriu de forma tão aberta que poderia rasgar a sua boca. Levantou-se, deixando o médico confuso e nervoso com o que faria, porém apenas o levantou do chão bruscamente (Baekhyun até mesmo deu um grito assustado com o ato repentino) e o rodou pelo quarto, enquanto o outro passava as mãos ao redor de seu pescoço para não cair.
— Eu sou o homem mais feliz em Busan, Baekhyun. — Sehun distribuiu beijinhos no rosto do médico, fazendo-o ficar com as bochechas vermelhas e soltar algumas risadas. — Eu te amo tanto, mas tanto. — Pôs o mais velho no chão e pegou suas mãos, encarando seus olhos. — Eu prometo Baekhyun; prometo que irei te fazer o homem mais feliz de todo o universo.
— Você já faz Sehun. — Baekhyun beijou-o intensamente, aproveitando o sabor de cafeína com hortelã que o beijo tinha. Era uma mistura maravilhosa. E no meio do caos em que todos permaneciam, duas pessoas encontraram a felicidade que tanto buscavam.
(...)
Sehun obrigou o doutor a dormir em seu quarto. Além disso, o fez jantar e ainda fez curativos em suas mãos, mesmo que fosse um desastre com isso — tendo confundido os vários frascos que estavam dentro da maleta alheia. Pelo menos estava se esforçando para cuidar de quem amava, e tinha como meta deixar Baekhyun o mais feliz possível ao seu lado.
Uma das melhores coisas em mudar-se — mesmo que de forma temporária — para o quarto do mais novo foi poder dormir juntinho dele. Sehun o rodeou com os braços fortes e o aconchegou em um abraço de urso, sussurrando palavras bonitas em seu ouvido, deixando-o todo sem graça e com vergonha. Formavam um casal tão bonito que o mais velho se perguntava como pôde passar tanto tempo sem os toques do outro.
Ao acordar, recebeu o café da manhã na cama — recordava-se que a última vez que isso tinha acontecido foi em seu aniversário, quando Joohyun levantou mais cedo e deixou a bandeja ali —, com um sorriso doce por parte de Sehun. Ele o proibiu de trabalhar naquele dia, alegando que estava muito debilitado e o esforço não seria bem vindo naquele momento.
Na mesma noite, Baekhyun estava deitado na cama grande e espaçosa que ocupava o quarto do mais novo. Por pura preguiça de pegar uma camisa no guarda-roupa, pegou uma camisa social azul clara que Sehun tinha largado no sofá. Era maior do que o seu corpo, mas confortável, ainda mais quando estava sem usar uma calça. Tinha o costume de dormir sem camisa antes do acidente, mas depois dele sentia-se mal toda a vez que o fazia. Era ruim sentir a fricção entre aquilo que carregava nas costas e o lençol frio. Além disso, não queria ter que exibir aquela cicatriz ridícula e medonha que carregava para o outro; tinha certeza de que Sehun o deixaria quando a visse.
Quando Sehun saiu do banheiro, o médico largou o livro que estava lendo em seu colo e sorriu ao vê-lo. O maior estava apenas com uma boxer branca e passava a toalha por detrás do pescoço. Ele sorriu ao perceber que estava sendo observado e Baekhyun desviou o olhar, sentindo as bochechas corarem. O mais novo largou a toalha no sofá e andou em direção à cama.
— Hyung, geralmente eu durmo assim, pois passo o dia inteiro com aquela roupa quente e preciso me refrescar a noite — explicou, sentando-se na beirada da cama. Baekhyun engoliu em seco, tentando distinguir se havia algum duplo sentido naquela frase. — Ontem não pensei nisso, pois estava feliz demais em ter você aqui comigo. Mas, se isso te incomodar, eu coloco uma roupa.
— Não, não quero que mude tudo o que faz por minha causa. — Baekhyun sorriu e bateu nos lençóis da cama. — Deita aqui.
Sehun sorriu e engatinhou na direção do namorado. Era tão bom se referir ao mais velho assim. Eles tinham algo sério, algo que poderia gritar aos quatro ventos. Sentou-se ao lado do menor e ficou observando o rosto concentrado nas páginas brancas e nas letras pequenas que o completavam. Ao perceber que Baekhyun estava somente com sua camisa social azul, umedeceu os lábios e levou sua canhota à coxa do outro, que desviou parcialmente a atenção do livro ao sentir o toque.
O corpo frio passou a esquentar quando aquela mão quente foi subindo lentamente. Sempre ocorria isso: Baekhyun acabava por sentir uma alta diferença de temperatura quando o general aparecia ao seu lado; era algo estranho, mas bom. Tentando ignorar — inutilmente — aquele toque, bebeu um pouco de água gelada do copo que estava no criado-mudo.
— Quer que eu pare? — Sehun sussurrou rente ao seu ouvido, fazendo seus pelos se eriçarem pela proximidade repentina. Baekhyun abaixou novamente o livro e encarou o olhar apaixonado do outro, o qual não parecia querer parar. Ele também não queria, então negou com a cabeça, curioso com o que aconteceria em seguida.
Sehun beijou a boca de Baekhyun com desejo, sentindo o gelo que a língua dele propiciava. Jogou o livro em um canto qualquer — ouvindo quando o mesmo bateu na parede — e posicionou sua destra no pescoço do outro, enquanto a outra mão subia pelas coxas alheias, dando uma leve apertada na bunda.
— Sehun… — Baekhyun gemeu ao sentir o outro morder seus lábios. Por mais que temesse o que poderia acontecer — e sabia o que aconteceria, pois era bem óbvio —, sentia uma vontade ainda maior de continuar. Estava sentindo-se tão necessitado de ter Oh Sehun somente para si; queria ser daquele homem por inteiro. Desejava ser amado por completo.
Sehun deitou-se ao lado de Baekhyun, apertando-o contra o seu corpo. Sentia a respiração acelerada contra a sua, o coração batendo forte, o nervosismo também era palpável. Ele estava ligeiramente nervoso, porém queria transpassar confiança. Levou seus lábios até o pescoço alheio depositando selares calmos por toda a região, enquanto os seus dedos subiram pelo torso magro do médico.
Calmamente, trilhou um caminho com seus dedos, olhando fixamente para Baekhyun. Sorriu e o outro não conseguiu segurar-se e fez o mesmo; sentia um nervosismo tremendo, mas ao olhar para o rosto apaixonado e sereno de Sehun, conseguia somente sentir todo o carinho e amor que ele sentia por si.
— Baekkie, se quiser podemos parar por aqui. — Deixou seus dedos passearem pelo tronco do mais velho. — Não quero que se sinta forçado a nada. Quero que goste quando tivermos relações mais profundas. Deve haver um consenso entre nós dois, você mesmo disse isso.
— Você é tão incrível Sehun... Às vezes eu sinto que não te mereço. — O mais velho riu de forma audível. — Não vou negar que estou muito nervoso, mas eu quero... Quero muito ser amado por você. Me ame Sehun, me faça somente seu.
Sehun sorriu e abocanhou os lábios vermelhos e finos de Baekhyun, enroscando os dedos nos cabelos loiros. Após morder e castigar aquela região do jeito que queria, partiu para a orelha do outro, mordendo-a levemente, o que resultou em um gemido. Aproveitou e sussurrou:
— Me toque também, Baekhyun. — Levou as mãos do médico ao seu peito. O homem ainda estava um tanto retraído, com medo de fazer algo errado. — Quero sentir seus toques... Quero sentir suas mãos em mim.
Baekhyun — que até então estava de olhos fechados por vergonha —, abriu-os e admirou o que estava em sua frente. Os cabelos negros e molhados de Sehun bloqueavam a visão de sua testa e alguns fios maiores chegavam a encostar em seus olhos intensos. Subiu suas mãos pelo pescoço do rapaz, passando seus dedos levemente pela área e em um ataque de coragem levou sua língua ainda fria àquela região, sentindo quando o outro engoliu em seco.
— Baekkie... — Sehun gemeu rouco. O médico não lhe deu ouvidos e sorriu malicioso, subindo e descendo por toda a extensão, depositando um beijo em seu maxilar e sentindo quando o suor do outro aumentou. Estava tão quente, a sensação gelada em sua língua tinha se dissipado. — Ah, Baekkie...
Sehun, como em algum tipo de vingança, levou suas mãos à bunda redondinha do menor, apertando-a com mais força, sentindo quando o rapaz se arqueou para si. Fez o médico entrelaçar as pernas em suas costas, dobrando os joelhos e aproveitou para abrir os botões da camisa social. Sorriu maldoso na direção de Baekhyun e deixou um chupão no mamilo direito do mesmo, o qual apertou as pernas ao redor de seu corpo, fazendo com que suas ereções se chocassem.
Sehun deixou a pontinha de sua língua percorrer todo o tronco de Baekhyun. Seus dedos deslizaram pelas laterais do corpo alheio, indo cada vez mais para baixo... Sem aviso, um de seus dedos rodeou a entrada do menor, ainda coberta pela boxer. Baekhyun soltou um grunhido ao senti-lo. Beijou o pescoço alheio, deixando um chupão ali.
Baekhyun mordeu os lábios castigados pelas mordidas e jogou o mais novo bruscamente para o outro lado da cama. Sehun realmente não esperava por isso, porém sabia que o médico era uma caixinha de surpresas. Byun estava perdendo a vergonha; sentia-se um pouco perdido, mas o sorriso do outro foi o suficiente para que ganhasse confiança.
Levou suas mãos à barra da boxer alheia e encarou Sehun como se pedisse permissão, esta que foi concedida. Tirou a peça íntima com delicadeza e quando a mesma já se encontrava no chão sentiu que estava na hora de tentar algo.
Os dígitos finos percorreram toda a extensão do membro ereto, arrancando um gemido quando um deles estacionou na ponta inchada. Então, Baekhyun levou o membro teso à sua boca, indo bem devagar, dando atenção especial à glande, deslizando sua língua ali. Alguns segundos depois, passou a chupá-lo com calma, logo aumentando a velocidade. Sehun jogou sua cabeça para trás, tamanho era o prazer que Baekhyun conseguia lhe proporcionar, tornando-o uma bagunça de suor e gemidos desconexos.
O mais novo sentia seu corpo tremer, e estava a ponto de ter um orgasmo. Então, afastou ligeiramente Baekhyun, que temia ter feito algo errado, mas ao encontrar um sorriso trêmulo ficou mais calmo.
— Ainda não — Sehun pediu. — Quero aproveitar mais um pouco.
Levou suas mãos fortes à boxer de Baekhyun e a puxou para baixo, tendo como resposta o avermelhar das bochechas alheias. Sorriu e entrelaçou os seus braços ao redor do pescoço do médico; seus dedos indo até a gola da camisa.
— Posso?
— Melhor não — Baekhyun respondeu nervoso.
— Por quê? — Sehun segurou o rosto do menor, que parecia a ponto de chorar. Então, lembrou-se do acidente; deveria existir alguma sequela ali. — Baekhyun, me deixe vê-lo por completo. Confie em mim.
Baekhyun virou-se de costas e assentiu, mordendo os lábios em ansiedade pela reação alheia. Sehun tirou lentamente a camisa do mais velho e surpreendeu-se com o tamanho da cicatriz do mesmo, a qual cortava as costas do médico na diagonal, tendo uma coloração mais clara do que a pele normal.
— Essa cicatriz faz parte de você Baekhyun, então eu a amo. — Deixou seus lábios molhados percorrerem toda a cicatriz, beijando-a com delicadeza, enquanto seu polegar direito secava as lágrimas que desciam pelo rosto do amante. — São as suas imperfeições que te tornam perfeito para mim.
Baekhyun virou seu corpo para encarar Sehun, que sorria ao ter a visão privilegiada do corpo esbelto. Deitou o corpo do menor na cama e dirigiu sua boca até a virilha, depositando alguns selares demorados, para logo depois deixar um chupão na área, ouvindo um gemido por parte do outro.
Desviou o caminho para o membro molhado de pré-gozo de Baekhyun, passando sua língua por toda a extensão e sentindo quando as unhas curtas do rapaz arranharam levemente as suas costas. Então, movimentou devagar as suas mãos, sentindo a maciez do falo alheio, brincando com os testículos do mesmo. Os arranhões em suas costas aumentaram e um gemido em deleite pôde ser ouvido. Passou sua língua pela parte de baixo do pênis, uma área extremamente sensível, que arrancou um quase grito por parte do outro.
— Se-Sehun… Mais, por-por favor… — Baekhyun pediu e o mais novo jamais recusaria um pedido feito para si daquela forma. Chupou o menor com avidez, não poupando nenhuma partezinha sequer; sua língua passeando pelas áreas mais sensíveis enquanto suas mãos marcavam de vermelho a bunda do médico.
Sentiu o líquido em sua boca aumentar e percebeu que era a hora de parar, ouvindo um murmúrio irritado de Baekhyun como resposta. Ele queria mais, queria bem mais. Mas ainda tinha outros planos e estes não incluíam deixá-lo se desfazer naquele instante.
— Vire-se, amor — pediu e, mesmo contrariado, Baekhyun o fez.
Sehun distribuiu mais beijos em suas costas, traçando linhas imaginárias com seus dedos enquanto distribuía chupões brutos na região, os quais ficariam bem roxos mais tarde. Baekhyun não conseguia dizer nenhuma palavra além de gemer, e suas ações limitavam-se a agarrar os lençóis da cama com força ao sentir seu namorado descer os toques para cada vez mais perto de sua entrada.
Os lábios de Sehun rodearam a pequena abertura, enquanto Baekhyun gemia o seu nome pedindo para que fosse mais rápido. Ele ergueu ligeiramente sua face e levou suas mãos à gaveta do criado-mudo, onde um pote de lubrificante e alguns preservativos esperavam para serem usados. Lambuzou seus dedos e quando sentiu que era o suficiente, depositou um selar calmo e demorado no lóbulo de Byun.
— Quer continuar? — sussurrou, acariciando os cabelos loiros.
— Quero.
— Tem certeza? — frisou; queria ter certeza antes de prosseguir. Estavam em uma parte tão importante quanto o começo. — Isso vai doer bastante, Baekkie.
— Sehun, eu quero — o médico disse firme.
Com esta afirmação, o mais novo introduziu seu dedo médio bem devagar no interior do loiro, sentindo quando ele se contraiu. Deixou alguns beijos nos ombros largos, e o menor relaxou um pouco, tentando se movimentar. Sehun fez leves movimentos de vai e vem e após certo tempo, colocou seu segundo dedo.
Baekhyun ainda sentia dor, porém ela já se misturava ao prazer. Quando ficou mais acostumado com os dedos em seu interior, moveu-se um pouco mais, soltando gemidos baixos ao mesmo tempo em que Sehun aumentava gradualmente a velocidade de seus movimentos.
Sehun colocou um preservativo e pediu para o mais velho se virar de frente para si, apoiando as pernas em seus ombros. Penetrou lentamente o menor, beijando-o com carinho para que ele esquecesse a dor momentânea.
Baekhyun arranhou com força as costas de Sehun, gemendo seu nome enquanto as estocadas aumentavam. Não havia mais tanta dor; o amor que ambos sentiam se sobressaía em relação a qualquer outra coisa. Eles eram um só, desde aquele momento até a eternidade.
O mais novo estimulou o membro rígido de Baekhyun enquanto o penetrava mais forte, arrancando um gemido alto do médico, o qual por sua vez se desfez ao mesmo tempo em que abraçava e beijava avidamente Sehun, fazendo-o atingir o seu próprio ápice. Os dois caíram de exaustão na cama, agarrados um ao outro, os corpos colados, respirações aceleradas, corações batendo forte em completa sintonia. Eles se amavam e naquela noite firmaram completamente isso.
— Sehun — Baekhyun disse baixinho; seus braços entrelaçando o torso do outro —, eu te amo.
— Eu também te amo, hyung. — Sehun sorriu e depositou um beijo na testa do menor, o qual se aconchegou ainda mais contra o seu corpo, sorrindo ao fazê-lo.
(...)
Baekhyun teve o mesmo sonho de semanas atrás. Caminhava de mãos dadas com alguém, que percebeu ser uma criança, mais precisamente uma menina. Dessa vez, olhou para o céu e focou-se no sol; estava feliz por algum motivo — ainda desconhecido para si. Então, ouviu seu nome ser chamado ao longe e um homem acenar para que fosse ao seu encontro. Quando partiu para encontrá-lo, acabou acordando.
Escondeu-se embaixo dos lençóis e percebeu que ainda estava abraçado a Sehun; sorriu. Após muitos meses, não acordou solitário em uma cama enorme; estava com seu corpo quentinho e do lado de quem amava. A sensação de estar completo era maravilhosa e a melhor coisa que sentia em tempos.
As bochechas de Baekhyun ficaram ligeiramente rubras ao se lembrar da noite anterior e de como fora amado por Sehun. O modo com o qual o rapaz explorara o seu corpo e o fizera se sentir amado, tinha sido mágico. Ainda encontrava-se nu e ao lado do maior, estava tão envergonhado que se escondeu ainda mais entre os lençóis.
— Bom dia Baekkie — Sehun desejou, procurando o rosto alheio, que estava completamente escondido.
— Bom dia — disse com a voz abafada.
— Por que está escondido aí? — perguntou curioso. — Não consigo nem ao menos ver o seu rosto, e um dos meus desejos é te beijar bem de manhãzinha logo após o nosso sono, sabe?
— Ah, Sehun, para! — Baekhyun fez um biquinho. — Eu estou com vergonha.
— Vergonha do que, amor? — O mais novo levou seus dedos aos cabelos loiros e os acariciou levemente.
— Nós dois estamos nus e você fica sendo carinhoso comigo — disse manhoso e arrancou uma risada do namorado, que ganhou um soquinho no ombro por isso. — Para de rir!
— Amor — deu ênfase —, fico muito feliz de estarmos assim, juntinhos, um do ladinho do outro logo após nos amarmos tão intensamente como ocorreu ontem. Desejo que possamos repetir o nosso amor muito mais vezes e que eu possa acordar ao seu lado, enquanto você se esconde entre os lençóis.
— Onde está o general Oh e o que você fez com ele? — perguntou divertido.
Sehun sorriu e atacou os lábios vermelhos de Baekhyun quando ele se desenrolou.
— General Oh aparece somente na hora do trabalho. — Beijou-o mais uma vez. — Este que está ao seu lado é Oh Sehun, o homem que pode acabar com você somente com uma palavra, bebê.
— Para com isso! E você ainda roubou a minha frase! — Subiu o lençol mais para cima ao perceber que o mais novo o olhava. — Desde quando eu deixei você me chamar de bebê? Eu sou seu hyung.
— Mas parece um bebê. — Apertou a bochecha vermelhinha. — Um bebê manhoso que precisa de cuidados, muito teimoso, mas com um coração tão grande que não cabe no peito.
— Um coração tão grande que se apaixonou por Oh Sehun. — Os dois riram e beijaram-se novamente. — Você não vai trabalhar hoje, né? Está tão bom aqui.
— Sou o general, Baekkie, não posso deixar a base desprotegida de uma hora para outra. — O mais velho soltou-se de Sehun e fez um bico, cruzando os braços no processo. — Amor, não fica bravo. Eu fico com você o dia inteirinho amanhã, prometo. Volta para cá.
Baekhyun negou com a cabeça e virou o rosto na direção da janela, sentindo seus olhos lacrimejar. Seria sempre assim? Sehun sempre colocaria o trabalho acima da relação de ambos? Ok, poderia parecer exagero, mas sentia-se inseguro naquele momento, como se pudesse ser deixado para trás a qualquer momento.
— Baekhyun, não chore. — Tentou por suas mãos no ombro do menor, porém foi impedido.
— Seu trabalho é mais importante do que nós, Sehun? — Encarou o namorado, algumas lágrimas teimosas desciam pelo seu rosto. — Ele vai atrapalhar a nossa relação? Me diga logo para que eu saiba o que vou enfrentar.
— Amor, entenda que sou o general e sempre deixei isso bem claro. Você me conheceu vestindo aquele uniforme e cuidando da segurança das pessoas que moram em Busan e tenho orgulho disso. — Suas mãos seguraram as de Baekhyun, depositando um ligeiro carinho. — Por mais que deseje ficar contigo, tenho responsabilidades e assuntos a tratar que não podem ser adiados. Já provei que te amo, acredite: não vou te abandonar na primeira briga que tivermos; ficarei com você até o fim de meus dias.
— Me desculpe — Baekhyun pediu com a voz trêmula e o mais novo temeu que ele tivesse algum tipo de ataque nervoso como o do dia anterior. — Eu tenho medo Sehun… Do dia para a noite eu perdi quem mais amava; foi tão de repente. Ela foi arrancada de mim de um modo bruto e eu não estava preparado para perdê-la daquela forma, ainda mais por minha culpa. — Pôs suas mãos no rosto de Sehun. — Não quero perder você da mesma forma, entende?
— Você não teve culpa no acidente, coloque isso na sua cabeça. — Sehun suspirou e Baekhyun abaixou o rosto para não ter que encará-lo. — Entendo a sua insegurança, mas confie em mim. Eu não vou deixar o meu trabalho ser um empecilho entre nós, mas neste momento estamos em guerra, consequentemente o meu trabalho é maior. Me desculpe.
— Não se desculpe; a profissão de médico também demanda muito tempo de trabalho durante o dia. — Fungou e limpou algumas lágrimas. — Não precisa ficar aqui comigo, pode ir trabalhar.
Baekhyun sorriu para tentar reforçar o pedido, porém o mais novo não era capaz de deixá-lo sozinho. Sabia que o menor ainda estava abalado com o que tinha acontecido nos dias anteriores; tinha sido um surto grave e eles nem tinham conversado sobre o assunto ou procurado alguma ajuda. Acariciou o rosto vermelho e sorriu, deixando um selo na bochecha alheia.
— Eu passo o dia inteiro com você, mas com uma condição. — Baekhyun o olhou em expectativa. — Quero que procure ajuda em relação ao surto que teve; não é algo normal e foi muito sério. Machucou a si próprio, gritou e quebrou todo o quarto, e parecia a ponto de ter outro ataque há alguns minutos. Temo pela sua saúde.
— ‘Tá bem, prometo que vou procurar ajuda. — Baekhyun respondeu um pouco contrariado, pois não achava que era para tudo isso. Mas como médico sabia que o melhor era procurar ajuda, sempre repetia isso para as pessoas e não era capaz de cumprir a própria recomendação. — Vamos mesmo passar o dia juntos?
— Vamos. Deixarei Taehyung no comando hoje, mesmo que eu não goste disso... Irá valer a pena por você. — Sorriu e deixou um beijinho na pontinha do nariz de Baekhyun. — Há um lugar em Busan que quero te mostrar, por isso arrume-se, iremos sair.
Baekhyun ficou animado e se levantou rapidamente da cama. Entretanto, ao perceber que estava completamente despido foi tomado por vergonha, enquanto Sehun dava uma risada alta e por causa disso acabou levando travesseiradas pelo ato. O médico enrolou-se no lençol e caminhou em direção ao banheiro; já o mais novo pegou o telefone.
— Tenente-coronel Park Chanyeol da divisão sete, por favor — pediu para a recepcionista que trabalhava no quartel.
— Senhor, quer falar comigo? — A voz grossa perguntou.
— Eu não irei trabalhar hoje; tenho compromissos que não podem ser remarcados para outro momento. — Pigarreou. — Seguindo a ordem de hierarquia do momento, o Coronel Kim deve assumir meu posto e por esse motivo quero que você fique de olho nele. Não o deixe executar nenhuma ação brusca em relação à guerra. Posso contar contigo para esta tarefa?
— Sim senhor, suas ordens serão cumpridas. — Pôde imaginar uma continência sendo feita ao desligar o telefone.
Os dois tomaram banho juntos — mesmo que Baekhyun tentasse expulsar Sehun do banheiro a cada dois minutos —, e tomaram o café no quarto ao mesmo tempo em que conversavam animadamente e trocavam algumas carícias. Depois de terminarem tudo que deveriam fazer, o mais novo passou a guiar o outro até o lugar que desejava mostrar.
O local encontrava-se atrás da base militar mais ao longe. Caminharam por entre a floresta em que Baekhyun tinha encontrado uma trilha para atravessar a linha de risco, porém desviaram para a direita, adentrando uma mata bem verdinha e viva, sendo possível escutar uma queda d’água a frente.
— Como é possível existir este lugar? — Baekhyun indagou encantado, enquanto seus olhos corriam apressadamente por cada cantinho da localidade. Uma imensa cachoeira descia com suas águas límpidas batendo nas pedras, árvores altas e verdes recobriam os arredores, e o som dos pássaros cantando passava uma calma absurda.
— Quando o Exército chegou a Busan, os rebeldes tinham tomado as partes centrais daqui, pois julgaram que os litorais eram mais perigosos. Por esse motivo, nós fizemos o maior cerco de segurança possível e conseguimos preservar essa área — explicou. — Além da beleza do local, temos toda a fauna e flora para preservar, é um trabalho nosso.
— Um trabalho muito bem feito, por sinal. — Baekhyun sorriu, apertando a mão direita de Sehun, olhando novamente ao redor.
— Sabe por que te trouxe aqui? — Sehun perguntou e o mais velho negou, pousando seu olhar sobre ele. — Aqui é um lugar muito especial, um dos poucos lugares bonitos que ainda se pode respirar um ar puro e de qualidade em Busan. Poucos sabem da existência, então é perfeito para que possamos ficar juntinhos o dia inteiro.
Baekhyun sorriu e deixou um beijinho na testa de Sehun, que passou seus braços pela cintura fina e o apertou contra seu corpo, sorrindo também.
— Vem, vamos nadar um pouco. A água é perfeita para isso — convidou.
— Claro! Você sabe que eu adoro nadar. — Os dois soltaram-se e tiraram as roupas, ficando somente com as íntimas. Desta vez, Baekhyun estava um pouco mais calmo em relação a sua cicatriz, mas ainda a odiava. — Vai você primeiro.
Sehun assentiu e pulou na água, logo se virando na direção de Baekhyun, fazendo sinal para que ele também caísse na água. Passou as mãos molhadas pelos cabelos negros e abriu os braços para receber o outro, que ao pular agarrou-se ao seu corpo.
— Posso te fazer uma pergunta? — Sehun assentiu. — Você não sente nojo quando encosta na minha cicatriz? Ela é feia, dolorida e tem uma textura horrível.
— Eu não vou dizer que ela é bonita. Essa cicatriz é a lembrança de um acidente que levou a sua esposa, então se eu dissesse isso seria uma hipocrisia tremenda. — Passou seus dedos levemente na imensa ferida, como se tentasse deixar um carinho na região. — Mas Baekhyun, eu não me apaixonei pela sua pele ou aparência, eu me apaixonei por tudo que você é. Seu jeito, suas ações, todo o seu conjunto fez com que eu caísse de amores por você.
— Eu ainda uso a minha aliança de casamento — admitiu, levantando a mão esquerda e a exibindo. As mãos ainda carregavam alguns poucos curativos. — Quer que eu a tire? Sei que ficar relembrando meu relacionamento passado pode te machucar.
— Você quer tirá-la?
Baekhyun pensou na resposta. No momento presente, sem nenhuma dúvida, ele podia afirmar que amava Sehun com todo o seu coração. O maior era a pessoa com quem desejava passar o resto de sua vida. Porém, sabia que grande parte de sua vida tinha girado em torno de Joohyun, e inevitavelmente acabava tendo lembranças dela em atos triviais de seu dia; pequenas coisas que tinham significados grandes demais. Exemplos eram aquela aliança e o porta-retrato — o general tinha feito questão de pegá-lo no meio daquele caos em que se encontrava o quarto, pois sabia que era algo importante.
— Eu tenho que tirá-la, Sehun — respondeu, após um longo suspiro. — Como eu já te disse, Joohyun sempre terá um pedacinho do meu coração, ela foi a primeira em tudo. Meu primeiro amor, minha primeira mulher, a primeira pessoa com a qual fiz planos para o futuro; ela foi especial em tudo que fez. E coisas materiais não representam nem um terço de tudo que ela representou e representa ‘pra mim, por isso eu não vou jogar isso e nem o porta-retrato. Joohyun não merece. Irei guardá-los, assim como faço com todas as memórias que restaram do nosso relacionamento.
— Faça o que achar melhor, Baekkie. — Abraçaram-se e Byun rodou a aliança, sorrindo ao perceber que somente as lembranças boas tinham permanecido. Sehun afrouxou um pouco o abraço e disse: — Eu tenho algo a dizer-lhe.
— Lá vem você me deixar sem jeito e envergonhado. — Fez um bico.
— Acho que temos algo firme o suficiente para que eu faça esse pedido a ti. Não vou me estender muito, pois me declarei há alguns dias. — Suspirou. — Quero saber se depois de tudo o que aconteceu entre nós, tendo em consideração todas as palavras que dissemos um para o outro, você aceita ser o meu namorado?
— Você tem alguma dúvida disso? — Sorriu. — Para mim já éramos namorados.
— Para mim também, mas eu queria fazer um pedido formal. — Acariciou a bochecha alheia. — Então, aceita?
— Mas é claro que eu aceito! — Beijou-o novamente. — Agora vamos nadar.
Baekhyun soltou-se dos braços do agora oficialmente namorado e afundou-se nas águas frias de Busan. Lembrava-se que as aulas de natação que fazia eram para melhorar seu condicionamento físico, que era bem ruim na adolescência. Tinha sido durante uma das aulas que ele conheceu Joohyun. Ela estava sentada na arquibancada e sorriu ao perceber que ele também a encarava. Jamais esqueceria tal momento.
O general seguiu Baekhyun, ambos admirando a cachoeira que os banhava; era tão maravilhosa, algo raro em um local tão hostil quanto aquele. O mais velho deixou-se afundar, fechando os olhos no processo e sentiu quando o outro passou seus braços por suas costas, deixando um selinho em seu ombro.
Quando cansaram de ficar na água, os dois voltaram à margem e se sentaram nas pedras. Ficaram se encarando com olhares apaixonados e sorrisos bobos; eram um casal romântico demais e não achavam isso nem um pouco ruim.
— Baekhyun, vem cá. — Sehun bateu duas vezes em sua coxa amorenada pelo sol, pedindo para que o médico se sentasse ali. As bochechas avermelhadas denunciaram o que o menor achava que o militar faria. — Eu não vou fazer nada do que você está pensando, pode vir.
Baekhyun mordeu os lábios, se levantou da pedra onde estava e se sentou onde Sehun pedira; ainda envergonhado e sem olhar para o rosto do outro.
O mais novo riu. Baekhyun era tão fofo que era impossível não se apaixonar cada vez mais a cada ação que ele executava; amava muito aquele jeitinho teimoso, mas nada era melhor do que tê-lo todo vermelhinho ao seu lado.
— Bem, sabes que a operação em relação ao Minseok está entrando na reta final, certo? — Baekhyun assentiu. — Nós do Exército já fizemos todo o planejamento para o último ataque e obviamente envolve você.
— E qual é? — Engoliu em seco.
— Todo o nosso efetivo presente em Busan irá cercar os arredores da base principal de Minseok. Estarão todos disfarçados de moradores comuns e a uma distância segura o suficiente para ele não perceber. — Segurou a mão de Baekhyun; seu rosto ganhando feições cada vez mais sérias. — Você terá uma escuta colocada em sua roupa e será responsável por nos dar o sinal de atacar. Quando Xiumin tiver todos os rebeldes juntos, você irá nos avisar e iremos aparecer de surpresa para atacá-los.
— E se algo der errado? — Baekhyun indagou nervoso. Por mais que tenha ido diversas vezes se encontrar com Minseok, o medo de algo dar errado era muito grande. Um passo em falso e tudo estaria perdido.
— Eu estarei à espreita — Sehun garantiu, apertando ainda mais o toque. — A condição para que o plano fosse aceito era a de que eu pudesse te acompanhar de pertinho para ter certeza de sua segurança. Também estarei com uma escuta, além de um disfarce como todos os outros soldados.
— Mas eu não quero que você fique em situação de risco. — Apoiou suas mãos nos ombros de Sehun. — Não quero matar você também.
A última frase foi sussurrada tão baixo que o general quase não ouviu. Quase... Quando teve certeza das palavras ditas, abraçou forte o menor, para caso ele chorasse, acabasse encontrando consolo naquele abraço.
— Não vou mais insistir nesse assunto, você sabe a minha opinião acerca disso. — Afastou um pouco o rosto de Byun para encará-lo. Havia tristeza em suas feições, entretanto nenhuma lágrima tinha sido derramada. — Estou indo, porque quero protegê-lo; não posso deixá-lo entrar naquele campo de batalha sozinho e sem nenhuma proteção efetiva. Quando o confronto começar, você será o único desarmado e há chance de Minseok usá-lo como refém e eu jamais me perdoaria caso isso ocorresse.
— Eu posso levar uma arma.
— Nem pensar! — Sehun exclamou. Respirou fundo para manter a calma e deixou seus dedos passearem pelos fios loiros dos cabelos alheios. — Baekhyun, suas mãos não combinam com armas; elas não foram feitas para machucar ninguém. Você nasceu para cuidar dos outros e nunca deixarei você colocar seus dedinhos finos em um cano frio como aquele.
— Sehun, eu entendo que sendo parte do Exército, você corre risco de vida, mas eu não quero que você se arrisque dessa forma. — Seus polegares passearam pelo rosto alheio. — Se algo der errado, eu me viro.
— Baekhyun, está vendo o sol? — O médico franziu a testa em confusão, porém assentiu olhando para o céu assim como o mais novo, admirando o céu azul e o sol brilhante. — Você é o meu sol. Antes de conhecê-lo eu não era feliz... Por mais satisfeito que eu esteja com a minha profissão, não ter ninguém do meu lado me machucava demais. Eu ficava remoendo o passado da minha família, o fracasso que ela foi e me culpando por isso. Você é o sol que derreteu a neve presente no meu coração, que o aqueceu com um simples sorriso. Toda a vez que eu olho para o sol eu me lembro de ti, lembro-me de quando te vi pela primeira vez, quando nos beijamos pela primeira vez e agora quando nos amamos pela primeira vez. Por isso, quero te dizer que caso algo dê errado ou você se sinta sozinho ou em perigo, olhe para o sol que você irá me encontrar.
— Isso é muito lindo, Sehun. Você sempre consegue me fazer chorar. — Os dois sorriram; Baekhyun tentando conter as lágrimas que se formavam em seus olhos. Ele nunca foi alguém do tipo que chorava por tudo, mas Sehun sempre conseguia desmantelar seu pobre coração com apenas uma palavra. — Deveria ser escritor ou filósofo ao invés de militar.
— Eu gosto do que faço — afirmou risonho. — Quando eu era pequeno, desejava ser um super-herói para ajudar todas as pessoas. No fim, acabei encontrando o que eu queria no Exército.
— Sehun, por mais medo que eu tenha de toda essa operação, acredito em você quando diz que vai ficar tudo bem. — Baekhyun sorriu, acariciando a bochecha do outro. — A partir de agora, toda vez que eu olhar para o sol irei me lembrar de você.
— Eu te amo, Baekhyun-hyung.
— Também te amo. — Beijaram-se de forma apaixonada, tentando transpassar todo o amor que sentiam um pelo outro. O mais novo queria confortar o amado, queria que ele acreditasse que tudo terminaria bem.
Baekhyun buscava conforto naqueles lábios salgados e nos braços fortes, tentava a todo custo por em sua mente que nada daria errado e que voltaria são e salvo para casa.
Era isso o que ambos esperavam.
(...)
Segunda-feira — Base Militar Subterrânea
— Soldados, este é o momento mais importante desde que nosso Exército chegou a Busan — Sehun introduziu; seu rosto impassível de qualquer sensação enquanto passava na frente dos militares, olhando para cada um daqueles rostos. — Trabalhamos arduamente nos últimos meses para conseguir deter os rebeldes e livrar os inocentes desse terror. Demoramos? Sim, demoramos muito para entender a tática que eles tinham, mas conseguimos e este é o momento perfeito para atacarmos.
— Irei repassar o plano pela última vez. — Hyunggu pigarreou e apontou para o mapa estendido no cavalete. — A divisão de número um irá cercar a área da base Kwon. O dever de vocês é impedir que os rebeldes presentes no local forneçam as armas que eles compraram. Todos vocês, soldados dessa divisão, estarão escondidos na parte subterrânea desta região, seguindo para lá usando o nosso túnel. Entendido?
— Sim, senhor! — a divisão um respondeu em alto e bom som.
— A divisão dois ficará responsável pela base Young, onde ficam os rebeldes que trabalham na estratégia e comunicação. — Apontou para a marca negra feita no mapa. — O trabalho de vocês é cortar a rede de informações que eles mantêm, deixando claro que o uso de violência é o último recurso a ser usado. Primeiro deverá ser feito o corte de todos os fios de telecomunicação. Entendido?
— Sim, senhor!
— A divisão três será a última a sair daqui. — intimou, olhando firmemente para o último grupo de soldados, que incluíam tanto Baekhyun quanto Sehun. O casal estava de mãos dadas. — Terão como tarefa proteger o senhor Byun em sua missão: infiltrar-se como fez nas últimas semanas no grupo principal e avisar quando estiverem prontos para nos atacar. O general Oh estará à espreita, acompanhando de perto a missão, enquanto o restante seguirá suas ordens, entendido?
— Sim, senhor! — a última divisão gritou.
— Então, que comece oficialmente a operação — Sehun afirmou, pondo em sua cabeça o quepe verde com o camuflado característico das roupas do Exército. Suspirou e virou-se para encarar Baekhyun que estava mais nervoso do que em qualquer outro momento de sua vida — exceto por seu primeiro casamento. — Ficará tudo bem Baekkie, eu prometo.
— Confio em você. — Sorriu, abraçando-o de forma rápida enquanto os outros soldados dirigiam-se aos seus devidos postos. Os dois fizeram uma longa troca de olhares, as testas coladas e o anseio por ficarem um ao lado do outro até que a guerra acabasse sem ter a necessidade de arriscarem suas vidas. Porém, era impossível. Beijaram-se, desejando fortemente que não fosse a última vez.
— Eu te amo, hyung. — Sehun deixou um selinho nos lábios finos, que estavam um tanto quanto trêmulos, passando seus polegares pelo rosto nervoso. — Lembre-se: caso precise de mim, olhe para o sol e eu irei ao seu encontro. Prometo.
— Vou olhar, prometo. Byun Baekhyun jamais descumpre uma promessa. — Os dois sorriram e Sehun avistou o sinal de Hyunggu para que saíssem da base. Ainda de mãos dadas, passaram a andar rumo ao lado de fora. — Te amo. — Sorriram ao chegar à saída, beijando-se novamente até chegar o momento do mais velho partir.
Baekhyun respirou fundo e subiu as escadas que davam para o lado de fora da base subterrânea. Engoliu em seco, olhando para trás uma última vez para ter certeza de que Sehun ainda estava parado ali, observando-o. E ele estava; com o rosto sereno tentando lhe passar o máximo de confiança possível. Sorriu também e acenou, indo embora de vez.
O primeiro ato que executou ao estar completamente do lado de fora foi olhar para o sol árduo que o esquentava. Balançou a cabeça para afastar seus devaneios e pôs-se a andar rumo à base principal de Minseok.
A base era a mais longe de todas as outras, pois Xiumin ansiava por deixá-la longe das vistas do Exército, mantendo-a escondida no meio de várias árvores na parte mais afastada possível da linha de risco. Ao mesmo tempo em que rumava ao local, chutava algumas pedrinhas e pensava em Sehun. Não conseguia tirá-lo de forma alguma de seus pensamentos; queria estar do lado dele ao invés de seguir para uma missão quase suicida que também poderia matá-lo.
Jamais suportaria uma nova morte em seu currículo. Seria demais para si carregar a culpa caso Sehun viesse a morrer, pois ainda não tinha superado por completo a morte da esposa — e talvez isso nunca acontecesse. Pôs as mãos nos bolsos do casaco e ergueu a cabeça, avistando a base a sua frente. Parou de súbito e respirou fundo antes de apertar o passo e entrar de vez no lugar.
— Finalmente chegou, Baekhyun. — Minseok sorriu daquele característico modo perverso, soltando a fumaça do cigarro que tinha em mãos. — Faltava somente você para darmos início.
— Já podemos começar, então. — Deu o sorriso mais convincente que conseguiu.
— Antes temos que resolver algumas pendências. — O modo que ele disse tal palavra fez um arrepio subir pela espinha de Baekhyun, que se limitou a engolir em seco. — Vamos para a minha sala. — Levantou-se da cadeira e guiou-o por entre o corredor, dispensando a presença de qualquer segurança ao seu lado.
— O que temos para conversar, Xiumin? — Sentou-se de frente para mesa, cruzando as pernas.
— Quero te mostrar algumas coisas que descobri nas últimas semanas. — Pôs o casaco negro que vestia na mesa e virou-se na direção da estante, tirando uma pasta dali. Jogou a pasta amarela na mesa e contorceu o rosto em raiva, sugando mais um pouco de nicotina. — Abra Baekhyun.
O médico sentiu sua garganta secar por completo, mas mesmo com medo levou suas mãos ao objeto. Abriu a pasta e seus olhos se arregalaram ao perceber seu conteúdo: várias fotos suas com o general Oh, além de imagens dos outros soldados planejando o ataque e rondando as bases.
— Acha que sou tão idiota assim? — Aproximou-se do médico que tremeu ao sentir o hálito quente em seu ouvido. — Realmente achou que eu não investigaria nada em relação a essa súbita aproximação sua? Achou mesmo que conseguiria me enganar?
Deu um soco na mesa, fazendo Baekhyun pular na cadeira.
— Não consegue responder? O gato comeu a sua língua? — Sorriu divertido ao ver o sofrimento alheio. Caminhou para detrás da mesa, abriu a gaveta e tirou seu revólver, pousando-o na mesa e deixando-o apontado na direção do outro. — Sinto lhe dizer, mas você não sairá vivo daqui.
— Min-min-minseok… — tentou algum argumento com a voz trêmula.
— Melhor calar a boca! A situação já está ruim o suficiente. — Minseok se sentou à mesa, segurando a arma entre os dedos, admirando-a como se fosse algum tipo de troféu. — Eu planejei muito tudo isso aqui. Não é uma revolta bobinha de rebeldes que querem aparecer. Quando idealizei essa revolta o plano realmente era tornar Busan independente, sermos uma pátria. Porém, percebi que isso era pouco comparado ao que poderíamos fazer. Eu queria mais, bem mais, muito mais do que vocês sequer possam imaginar.
“Então, um medicozinho qualquer vindo da capital Seul, sabe-se lá o porquê, decide que vai acabar com os nossos planos dessa forma, tentando enganar logo o chefe que planejou tudo por quase dois anos inteiros. Muita pretensão de vocês inocentes, mas pena que não durarão muito. — Andou na direção de Baekhyun e o pegou pelo colarinho da camisa, derrubando a escuta no chão. — Agora, sairá morto daqui.”
Baekhyun fechou os olhos, pronto para sentir o projétil atingir sua cabeça, porém o único som que ouviu foi o das paredes caindo por conta de alguma bomba implodida na região. Sentiu quando Minseok soltou sua camisa e alguns destroços o acertaram; a única coisa que pôde ver depois foi toda a poeira e caos em que tudo se tornou.
Rapidamente, se levantou do chão, sentindo quando Minseok segurou forte sua perna enquanto tateava o chão em busca de sua arma. Baekhyun aproveitou-se de sua vantagem e chutou o rebelde, livrando-se momentaneamente dele.
Então correu.
Com a ajuda de um de seus braços, protegeu os olhos de toda a poeira e correu o máximo que conseguia naquele momento. Pôde avistar corpos estirados no chão, sangue nas paredes dos que ainda resistiam — mas logo iriam cair —, alguns dos rebeldes já se recuperando do baque e uma ordem em alto e bom som vinda do líder: “Matem-no! Quero que Byun Baekhyun saia daqui somente morto, entenderam? Morto!”
A respiração acelerada, o coração pulsando fortemente dentro do peito, os lábios trêmulos... Várias vezes enquanto corria quase caiu. Eram pedras demais em seu caminho, troncos, corpos, armas largadas na rua. Avistou uma luta entre rebeldes vestidos de preto — que trabalhavam para Minseok —, e outros rebeldes vestidos de azul escuro juntamente dos soldados.
Sehun.
A imagem do general invadiu a sua cabeça. Onde ele estaria? Será que o estava procurando? Estava preocupado consigo? Balançou a cabeça... Era inútil pensar nele naquele momento, tinha que se concentrar em sobreviver. Sobreviver. A palavra que mais escutava nos corredores hospitalares pela primeira vez era referida a si próprio. Tinha visto tantas pessoas entre a vida e a morte, mas nunca tinha a presenciado de tão perto — exceto pelo episódio da bomba.
Estava ficando cansado... Apoiou as mãos nos joelhos e olhou para trás, avistando alguns dos carrascos comandados por Minseok. Tinha que dar uma parada, então se escondeu atrás de uma parede que ainda estava de pé. Ajoelhou-se e tentou observar seus perseguidores pelas frestas: estavam parados bem na sua frente, olhando para os lados enquanto tentavam descobrir para onde tinha ido. Ele tinha certeza de que logo estariam atrás de si novamente.
Sentou-se com as costas apoiadas na pedra gelada ao mesmo tempo em que várias pessoas morriam em sua frente. Estava tudo uma balbúrdia sem tamanho; pessoas se socavam, outras atiravam, algumas pisavam em bombas deixadas no chão — como em um campo minado. Não avistou Sehun em lugar nenhum, porém seus olhos atentos prenderam-se em uma silhueta esguia e assustada encolhida em um dos cantos.
— Yerin! — O barulho ao seu redor era tão alto que somente sabia ter gritado por sentir o esforço de suas cordas vocais. Ignorou qualquer resquício de cansaço em seu corpo e correu na direção da menina, que se encontrava com as roupas sujas, o rosto inchado por chorar e um ferimento causado por uma bala de raspão no braço. — Meu amor, você ‘tá bem? ‘Tá doendo muito?
— Muito — a garota respondeu chorosa e agarrou-se no pescoço de Baekhyun. O médico a pegou no colo e entrou em um dos imóveis que ainda resistia a toda aquela bagunça. Pôs a menina no chão e examinou rapidamente o ferimento: tinha sido somente de raspão, mas deveria estar doendo muito. Sem nenhum equipamento hospitalar em seu alcance, rasgou um pedaço de sua camisa e o enrolou da melhor forma que pôde no braço alheio.
— Eu prometo que vou cuidar disso depois, hum? — Yerin assentiu e Baekhyun a aninhou em seu peito, olhando ao redor para ter certeza de que estava minimamente seguro. Tomou fôlego e voltou a sua corrida ao mesmo tempo em que impedia os olhos juvenis de avistarem toda aquela violência.
Percorreu as ruas estreitas e cheias de pedras e poeira, tentando ao máximo não esbarrar em ninguém — algo impossível já que todos tentavam passar ao mesmo tempo por um espaço minúsculo. Procurava Sehun com seu olhar atento, mas infelizmente não o avistou em lugar nenhum; somente viu outros soldados atacando os dois grupos rebeldes. Para piorar sua situação, um dos capangas de Minseok prosseguia em seu encalço.
Virou à direita, à esquerda e novamente à direita; desviou de alguns homens que tentavam matar uns aos outros e apertou Yerin ainda mais em seus braços. Abriu as portas de casas alheias, pulou destroços, feridos e cadáveres; trocou várias vezes de direção e ouviu o som de bombas serem detonadas por pessoas desatentas que pisavam naquela espécie de campo minado. Viu todo o lixo presente nas ruas, o sangue encrustado em todos os lugares possíveis. Era horrível.
Sentiu seu coração doer dentro do peito e algumas lágrimas frias molharem seu rosto quente pelo sol, enquanto Yerin apertava sua camisa — o casaco tinha ficado pelo caminho. Não estava assim por cansaço, mas por medo: sentia medo de morrer, medo de falhar com Sehun, medo de que ele morresse por tentar protegê-lo, medo de que acontecesse algo com Yerin por conta de sua incompetência. Tantos medos.
Embrenhou-se entre as árvores... Estava chegando perto da base em sua cabeça. Estava quase chegando. Quase... Não teve muita certeza de onde tinha sido acertado, mas sentiu a dor lancinante de algo rasgando sua pele e uma fraqueza apoderar-se de suas pernas. Enquanto desabava no chão, sentiu uma dor imensa e soltou Yerin, guiando suas mãos até o ferimento.
— Dodói — a menina sussurrou, apontando para as mãos empapadas de sangue de Baekhyun. O modo infantil com o qual ela se referiu àquilo fazia parecer algo trivial, como cair de uma bicicleta. Mas não era. Tinha levado um tiro. Dois tiros.
Virou-se de barriga para cima e aproximou sua mão esquerda do rosto. Sangue, puro sangue. Provavelmente teria uma grave hemorragia. Os efeitos estavam se iniciando: sentia a respiração pesar, uma dor horrível no tronco e na perna esquerda — tanto que não conseguia apoiá-la no chão. Mesmo com os olhos pesados, piscou algumas vezes e focou sua vista no que estava acima de si: o sol.
“— Por isso, quero te dizer que caso algo dê errado ou você se sinta sozinho ou em perigo, olhe para o sol que você irá me encontrar.”
— Yerin, venha… aqui… — As palavras saíram com muita dificuldade, o que fez a garota perceber que tinha algo errado; seu anjinho não estava bem. — Vo-você… vai pro-procurar ajuda, hum? Procure pelo… titio Hun, e-e-ele vai… ajudar você. Diga que… que anjinho… viu o sol. Ele… ele irá… entender.
A menina ficou paradinha ao lado de Baekhyun pensando se deveria mesmo deixá-lo sozinho. Poderia ser uma criança a beira de completar sete anos, mas sabia que ele estava mal. A pele estava mais pálida, o sorriso era dolorido, as roupas completamente vermelhas de sangue, o modo fraco que a abraçava. Anjinho estava muito mal. Ao mesmo tempo em que algumas lágrimas cristalinas escaparam dos olhos pequenos, depositou um beijo na testa suada do mais velho, afastando-se a contragosto.
Baekhyun deixou seu rosto molhar-se por completo, seu corpo foi totalmente de encontro ao chão. Sua mão direita tentava proteger sua perna de alguma forma, enquanto a outra estava pousada em seu tronco. As pálpebras estavam se fechando, o sangue saía incessantemente de seu corpo e lembranças de seus últimos momentos com Sehun nublaram sua mente. Então, fechou os olhos e não tinha certeza se os abriria novamente.
(...)
Sehun sentia-se culpado. No meio de todo aquele caos, perdeu Baekhyun de vista; não sabia onde estava e muito menos onde seu namorado encontrava-se. Quando a bomba foi ativada, pulou atrás de uma das casas para se proteger, esperando a poeira abaixar para poder sair. Ao finalmente fazê-lo, percebeu como tudo tinha mudado: os soldados já atacavam, os dois grupos rebeldes disputavam a soberania do local e a base de Minseok tinha se transformado em pó.
Olhou para todos os lados possíveis para decidir qual era o melhor caminho a seguir. No fim, correu para frente, tentando encontrar alguma pista do paradeiro de Baekhyun. Correu... Correu por mais tempo do que era capaz de contar, até conseguir avistar um vulto baixinho saindo da floresta, as roupas estavam amarrotadas e sujas de sangue, o rosto tomado por lágrimas e o braço tinha um pedaço de alguma camisa enrolado de forma desajeitada. Era aquela menina que Baekhyun adorava! Mas, qual era o seu nome?
— Titio Hun! — exclamou quando chegou perto do general. O homem abaixou-se para ficar da mesma altura que a menina e atentou-se mais aos detalhes: não havia nenhum machucado visível, exceto pelo braço protegido por um tecido de camisa que logo reconheceu ser a que Baekhyun usava. O sangue em sua roupa estava na parte de baixo, então, pela lógica, se não era dela, só poderia ser de…
— Você estava com o Baekhyun? — Sua voz saiu trêmula; temia pela resposta, mas ficar sem ela era ainda pior. A menina assentiu e Sehun precisou fazer um esforço tremendo para não exigir respostas dela, era somente uma criança na sua frente. — O que aconteceu?
— Anjinho ‘tá machucado. — A garotinha aninhou-se no peito de Sehun, que a embalou em um meio abraço desajeitado. — Anjinho viu o sol; ele disse que você iria entender.
— Onde ele está? — foi impossível não aumentar o tom de voz. Yerin fungou e limpou algumas lágrimas. — Você pode me levar até ele?
Ela assentiu e entrelaçou sua mão a de Sehun enquanto o guiava floresta adentro. Quanto mais andavam, mais a ansiedade crescia dentro de seu peito. Ele queria saber qual era a real situação de Baekhyun e ajudá-lo, sentia muito medo de não chegar a tempo. No momento em que o corpo magro entrou no campo de visão, seu coração quase parou.
— Baekkie… — sussurrou, correndo na direção do namorado, sem soltar a mão de Yerin. Ajoelhou-se ao lado do homem desacordado e acariciou o rosto fustigado pelo sol e por toda aquela destruição que tinha enfrentado em Busan. Ignorou a indicação que dizia que não se deve mexer em alguém naquele estado e pegou-o em seus braços. — Meu amor, vai ficar tudo bem, eu te prometo.
Com Yerin segurando firmemente em sua camisa, passou a andar a passos rápidos de volta para a base militar. Colocou suas mãos várias vezes no peito de Baekhyun para ter certeza de que seu coração ainda estava batendo, aproveitando também para conferir se o médico estava respirando. A respiração alheia ficava cada vez mais fraca, porém o rapaz ainda estava vivo.
Quando finalmente chegou à base, levou-o diretamente para a área hospitalar. Não se importou em atropelar várias pessoas pelo caminho; somente deitou Baekhyun em uma das macas que estava livre e exigiu a presença de um médico — este foi Kim Jongin.
— Ele vai ficar bem? — Sehun indagou com todo o desespero possível.
— Temos que tirá-lo daqui imediatamente — Jongin afirmou, olhando de forma séria para o general. — Ele levou dois tiros e teve uma séria hemorragia. Não sabemos se a bala atingiu algum órgão vital, e temos que fazer a extração dos projéteis agora.
— Não pode fazer isso aqui?
— Preciso de uma sala de cirurgia equipada com aparelhos de monitoramento cardíaco e respiratório, além de condições melhores de higiene. Não temos nada disso aqui. — Pôs seu estetoscópio no pescoço e pegou sua maleta, pronto para ir embora daquele lugar. — Se ele ficar aqui irá morrer. O senhor tem cinco minutos para decidir se Baekhyun fica aqui e morre ou o levamos para um hospital de verdade e damos-lhe a chance de lutar por sua vida.
Sehun abaixou o olhar para encarar a face pálida de Baekhyun e não teve dúvidas ao vê-lo naquele estado. Olhou para Jongin e assentiu, permitindo a remoção do ferido para outro local. O general saiu apressado da tenda e ordenou que a única ambulância que eles tinham fosse dirigida para ali.
Os socorristas entraram e transferiram o corpo fraco de Baekhyun para outra maca, levando-o rumo à ambulância. Jongin acompanharia tudo de perto, assim como Sehun que estava uma pilha de nervos ao ver todos aqueles enfermeiros encherem seu namorado com tantos tubos, furando a pele macia com aquelas agulhas, além de colocarem um aparelho para que ele respirasse.
Quando já estava sentado na parte detrás da ambulância, segurando a mão de Baekhyun, olhou para o lado de fora e avistou Yerin olhando tristemente para si. Ela estava se sentindo abandonada novamente e Sehun sabia muito bem como era se sentir assim. A culpa consumia seu interior, então, em um momento súbito de coragem, estendeu a mão na direção dela e fez sinal para que ela entrasse no veículo consigo. Yerin sorriu pequeno e abraçou o general, enquanto seus olhos curiosos percorriam cada centímetro de todo aquele estranho equipamento ligado ao seu anjinho.
— Anjinho vai ficar bem? — perguntou baixinho, olhando para os orbes escuros e tristes do mais velho.
— Vai. — Ouvir Baekhyun ser chamado de anjinho não era algo bom naquele momento. A última coisa que ele desejava era que realmente o mais velho se tornasse um anjo. — Vai ficar tudo bem.
(...)
Duas horas depois - Hospital Geral de Seul
Baekhyun foi prontamente levado à sala de cirurgia, que já estava preparada para recebê-lo. Era o mesmo hospital em que trabalhava antes do acidente ocorrer; muitos de seus colegas o reconheceram quando chegou e ficaram extremamente curiosos — preocupados também — para saber o que aconteceu. Após a morte da esposa, nunca mais tinha pisado no hospital e Sehun jamais desejava que fosse de tal forma.
Obviamente, não poderia acompanhar a cirurgia, sendo obrigado a esperar do lado de fora e tendo como única fonte de notícias Kim Jongin, o médico responsável pelo caso. Ficou encarando a porta completamente branca, enquanto apertava a mão de Yerin e pensava em tudo o que aconteceu e poderia acontecer.
— Senhor — alguém o chamou, cutucando levemente seu ombro. Sehun respirou fundo, forçou as lágrimas a não saírem e virou-se para encarar quem estava atrás de si. Era um dos médicos, bem jovem e com um Dr. Yeo Changgu bordado no jaleco. — Estou aqui para cuidar do ferimento da menina.
— Ah, claro — afirmou com a voz cansada. Soltou a mão de Yerin, porém a menina não se desprendeu de si, olhando de forma suplicante para que a acompanhasse. Hesitou, pois não queria deixar Baekhyun ali sozinho, já que poderia receber uma nova notícia a qualquer momento; contudo também parecia errado deixar a garotinha sozinha.
— Pode vir com ela, senhor — o doutor pediu, ao perceber a situação incômoda em que se encontravam. — Cirurgias desse porte demoram muitas horas, ainda mais quando o paciente sofre uma hemorragia.
Sehun não desviou seu olhar dos orbes grandes e intensos de Yerin. A menina estava com medo e a única pessoa em quem confiava naquele momento era ele. Seria estranho se dissesse que estava apegando-se a ela pelo fato de lembrar tanto Baekhyun? Toda vez que encontrava a face infantil, as lembranças dos bons momentos que passara ao lado do namorado apareciam novamente em sua cabeça.
Rendeu-se. Pôs a menina em seu colo e ganhou um sorriso como resposta; suavizou sua expressão séria e passou a seguir o médico pelos corredores do hospital. Entraram no consultório e o médico fez sinal para que se sentasse em uma das cadeiras.
— Ela teve sorte, a bala foi de raspão — informou enquanto desenrolava a camisa do braço de Yerin, que estava sentada no colo de Sehun. — Mesmo assim, a deixarei em observação durante essa noite para termos certeza de que não ocorreu nada mais sério. O remédio que darei fará com que ela fique com sono, por isso a levaremos para um dos quartos.
Sehun limitou-se a assentir enquanto a segurava firmemente em seus braços. O doutor desinfetou a região, fez um curativo e levou os dois para o quarto onde teriam que passar a noite. Ele a deitou sobre a cama e deixou que Changgu injetasse o soro fisiológico.
— Amanhã irei examiná-la novamente. Tenham uma boa noite — desejou, saindo do quarto, deixando-os sozinhos.
Sehun jogou-se na poltrona ao lado da cama, sem soltar a mão de Yerin que estava sentindo seus olhos pesarem. Após ela pegar completamente no sono — algo que demorou umas boas horas, pois queria ter certeza de que ele ficaria ao seu lado e também achava que seu anjinho poderia aparecer a qualquer momento — o adulto depositou um beijo na testa dela e saiu do quarto para espairecer.
Baekhyun estava na sala de cirurgia há quase cinco horas e o general passou de raiva à tristeza... De esperança a vontade máxima de chorar, arrombar aquela porta e invadir a sala de cirurgia. Ou seja, um misto enorme de sensações e vontades, porém nenhuma coragem de realizar alguma delas.
Apoiou sua cabeça na parede e respirou fundo para tentar manter o pouco de lucidez que ainda tinha. Então, sentiu uma mão pousar em seu ombro.
— Senhor.
— O que faz aqui Chanyeol? — indagou, sua voz saindo mais rouca do que o necessário. Sua garganta estava seca e suas costas doíam, e por tal motivo voltou à postura correta.
— Soube o que aconteceu com o doutor Byun, por isso vim aqui dar-lhe o meu apoio. — Sehun estava pronto para fazer um discurso enorme de que não precisava de ajuda, porém Chanyeol prosseguiu: — Não adianta dizer que não precisa da ajuda de ninguém, pois te conheço e sei que precisa.
— Obrigado, mas já lhe aviso que isso não é necessário. — Sua pose de durão jamais mudaria.
— Todos estão preocupados. Os soldados viram quando saiu da base militar na ambulância. — Suspirou, esfregando as mãos pelo frio que fazia em Seul ao contrário de Busan que era muito quente. — Mesmo assim, Jong Sun quer que volte para lá o mais rápido possível.
— Não voltarei até ter certeza de que Baekhyun está bem — ditou sério, cruzando os braços. — No momento eu não tenho interesse algum nessa guerra maldita... Nem sei se voltarei a ter algum dia, pois ela pode ser a causa da morte dele.
— General, você tem que ser forte.
— Acha que não estou sendo? — Sehun exaltou-se em sua resposta, virando o rosto para encontrar a face de Chanyeol. — Tive que ver o homem que eu amo estirado no chão com duas balas! Duas balas — fez o sinal com as mãos — alojadas no corpo sem poder fazer nada! Nada! A culpa foi toda minha! Eu deveria tê-lo impedido... Desde o início eu sabia os riscos dessa droga de plano e o deixei ir. Que tipo de homem eu sou, Chanyeol? Que tipo de homem... — No fim de suas palavras, ele segurava a roupa do tenente-coronel, amassando o tecido entre os seus dedos. Deixou as lágrimas finalmente saírem, sendo consolado com um abraço.
— Sei que está sendo forte, mas precisa ser mais. — Chanyeol deu uma pausa. — Quando o doutor Byun perdeu a esposa, deve ter chorado muito, não tenho nenhuma dúvida disso. Mas ele foi forte o suficiente para sair de casa, deixar a família junto com toda Seul para trás e ir para Busan, uma cidade em guerra que não tem nada a oferecer. Tudo isso somente para ajudar o próximo, sem se importar em receber algo em troca, o que é algo lindíssimo. E também temos a Yerin. Descobri por meio do nome que o senhor me informou, Kim Yesung, que o pai dela está morto, sendo assim é pouco provável que a mãe dela volte. Minseok também não vai querê-la, então há somente vocês dois para cuidarem dela.
“Doutor Byun deixou muita coisa para trás pelo desejo de ajudar o próximo. Ele poderia ter desistido da vida e ter acabado completamente com ela, mas ele não desistiu. Sei que é difícil, ainda mais depois de tudo que já passou com a sua família, mas pense que Baekhyun não ficaria feliz caso desistisse de tudo. Pessoas morreriam pelo fato do senhor ficar aqui nesse corredor chorando a toa. Médicos estão tentando salvá-lo enquanto o general, que é a única esperança deles, está aqui parado.”
— Chanyeol, não posso deixá-lo sozinho — Sehun afirmou com a voz abafada. — Se eu estivesse passando por aquela cirurgia, tenho certeza de que Baekhyun estaria aqui. Prometi que o protegeria e não cumpri isso. Não faça eu me sentir mais culpado do que já me sinto.
— Não quero que se sinta culpado — Chanyeol rebateu. — Somente não desejo que desista de ser o nosso general. Existem pessoas a serem protegidas e rebeldes a serem detidos. Pode ficar aqui até o doutor Byun estar completamente bem, mas depois volte. Volte e faça tudo o que um superior deve fazer nessas situações.
Sehun assentiu, digerindo as palavras proferidas pelo tenente-coronel. Soltou-se do abraço, porém manteve seu corpo ao lado do maior, apoiando sua cabeça no ombro deste. Eram amigos há tanto tempo; tinham entrado no exército juntos e sairiam juntos, era uma espécie de promessa. E Oh Sehun nunca descumpria uma promessa.
Ficaram parados naquele corredor pelo que pareceu dias. Ninguém saía daquela sala de cirurgia; nenhum som era ouvido — exceto pelos ponteiros do relógio que demonstravam o tempo indo embora. Tal som irritava os tímpanos atentos do mais novo —, nenhuma informação era dada. Estava ficando cada vez mais impaciente e Chanyeol não tinha mais ideias de como mantê-lo calmo, pois aquela impaciência também o estava contaminando.
— General Oh. — A voz séria de Jongin percorreu toda a extensão do corredor; as feições cansadas e compenetradas não diziam nada a respeito de como tinha sido a cirurgia. Mais um motivo para que Sehun ficasse apreensivo. — Felizmente nenhum órgão vital foi atingido, porém tivemos que lidar com a hemorragia grave que ele teve. Fizemos uma transfusão de sangue e retiramos as balas, agora o deixaremos em observação.
— Mas vai ficar tudo bem? — Sehun indagou antes de Jongin afastar-se por completo.
— Não posso afirmar que ele estará bem, pois sempre há chance de algo dar errado. — Pôs a mão no ombro alheio, tentando confortá-lo. — Sehun, ter trazido o Baekhyun rapidamente para um hospital equipado fez toda a diferença. Isso fez com que ele não chegasse aqui morto e não estou exagerando. Acredite: você fez muito pela vida dele durante todo este período em que o conheceu. Amanhã poderá vê-lo; tente descansar um pouco. — Virou seu rosto na direção de Chanyeol, que engoliu em seco. — E você faça algo útil pelo menos uma vez na vida: convença-o a descansar.
Deu as costas para os dois e Chanyeol abaixou a cabeça frustrado.
Sehun ficou com o coração um pouco mais leve, porém sua preocupação ainda era palpável. Sabia que somente se sentiria bem após ver Baekhyun e poder tocá-lo, assim teria a mais pura certeza de que o mesmo estava vivo... Vivo para que pudesse aproveitar consigo os bons momentos de todo o casal.
(...)
Sehun obviamente não dormiu aquela noite; nem todas as tentativas de Chanyeol para que dormisse pelo menos algumas horas tiveram efeito. Transitou entre o corredor e o quarto de Yerin, pois não desejava que ela acordasse sozinha e pensasse que tinha sido abandonada.
Seus pensamentos também incluíam o que seu amigo tinha lhe informado: a garota tinha somente a si e a Baekhyun na vida; todos os seus familiares tinham lhe deixado de lado. Será que conseguiria cuidar dela? Seria um bom pai? Sim, começara a pensar em ter filhos, mas não imaginava que isso aconteceria tão cedo.
Yerin aparentava ser uma menina maravilhosa e o pouco tempo que passara ao seu lado tinha sido relativamente calmo. Porém, o medo de não ser o suficiente era grande, pois sua família não tinha sido boa consigo — e a dela muito menos —, e não tinha uma figura materna e muito menos paterna para se espelhar. Seu irmão, Sejun, morrera cedo por pura irresponsabilidade. E se acontecesse a mesma coisa? E se ele não cuidasse bem dela?
Suspirou, tomando um gole do café que pegara na recepção; cafeína era a única coisa que o mantinha acordado. Poucos minutos depois, o doutor Yeo apareceu, examinou a garota e disse que estava tudo bem, que ela poderia voltar para casa. Sehun perguntou-se qual casa, pois não tinha pensado para onde a levaria.
Chanyeol perguntou se deveria avisar a família de Baekhyun, afinal eles tinham o direito de saber tudo o que acontecera, mesmo que doesse muito. Sehun permitiu, sentindo a ansiedade e o medo se apossarem de seu corpo. Desejava conhecer a família do amado, mas jamais nessas condições. Eles poderiam rejeitá-lo quando descobrissem que era o general. Claro... Poderiam jogar toda a culpa em seus ombros e não discordaria: a culpa era mesmo sua.
— Coma um pouco, por favor — Park insistiu mais uma vez.
— Eu já disse que não estou com fome — Sehun respondeu impaciente.
O tenente-coronel limitou-se a suspirar e voltar ao seu almoço, junto de Yerin que se sentia tão desanimada quanto Sehun, mesmo tendo uma noção menor de tudo o que acontecia ao seu redor. O general batucava os dedos na mesa como se fosse algum tipo de mantra, tentando energizar bons pensamentos para Baekhyun. Nunca fora o tipo de pessoa religiosa, mas naquele momento valia qualquer coisa.
Já era bem tarde quando a família do médico chegou e Sehun foi capaz de reconhecê-los por meio do irmão mais velho, já que ele se parecia muito com o seu namorado. Baek Beom ficou responsável por tentar acalmar os ânimos de seus pais, que exigiam notícias acerca do estado de saúde do filho. Logo que percebeu a presença do general no corredor, a mãe de Baekhyun ficou inconformada.
— Por que não o impediu? Por quê? — ela gritava enquanto segurava seu uniforme, distribuindo tapas fracos em seu peitoral. — Esse era o seu trabalho! A culpa é toda sua! Sua!
— A senhora poderia se acalmar, por favor — Jongin pediu com a voz séria ao perceber o rumo que aquela discussão estava tomando. A mulher foi afastada de um Sehun em estado de choque. — Não culpe o general Oh só por ele ser um militar. Saiba que por causa dele seu filho ainda está vivo. Ele resgatou Baekhyun do meio da floresta e permitiu sua remoção para cá. Então, ao invés de arrumar discussão desnecessária em um hospital, agradeça por tudo o que ele fez.
Todos ficaram em silêncio sem terem coragem suficiente para encararem os rostos uns dos outros.
— Sehun, venha comigo. Irei levá-lo para ver Baekhyun. — Jongin disse e os olhos escuros do maior ganharam um brilho intenso de felicidade mesclado a um pouco de medo, pois ele não sabia como seria a imagem do namorado internado após uma cirurgia. A mãe do paciente estava pronta para rebater a decisão do médico, porém ele foi firme: — Não adianta me dizer que é a mãe dele; eu sei como amigo do Baekhyun o quanto a visita de Sehun lhe fará bem, por isso ele irá.
Sehun sorriu minimamente, sentindo aquele mesmo nervosismo de quando ficou frente a frente com Baekhyun pela primeira vez. Olhou rapidamente para Chanyeol que acenou levemente com a cabeça tentando confortá-lo, então seus olhos prenderam-se em Yerin, que estava de mãos dadas com ele
— Ela pode ir também? — indagou.
— Por ser uma criança e ter o sistema imunológico mais vulnerável, a Yerin não poderá entrar no quarto. Ao invés disso, ela o verá pelo vidro — informou.
O general fez um aceno positivo com a cabeça e estendeu a mão para a garota, que sorriu acompanhando os dois pelo corredor.
Sehun teve que trocar de roupa, vestindo-se adequadamente para entrar no quarto. Quando estava devidamente pronto, Jongin o levou para a unidade de terapia intensiva. Ele hesitou em entrar, abaixando a cabeça para não encarar nada que estivesse ao seu redor, porém ao pensar em tudo o que tinha acontecido nas últimas horas, criou coragem e forçou-se a encarar o seu namorado.
Foi horrível.
Não foi capaz de segurar as lágrimas ao vê-lo naquele estado. Baekhyun, que era sempre tão enérgico, teimoso e altruísta, estava preso a um monte de aparelhos, imóvel em uma cama de hospital. O rosto pálido, o corpo mais magro do que se lembrava, sua boca tomada por um tubo de oxigênio que impedia Sehun de ver aquele sorriso magnífico que possuía... Os braços com agulhas injetadas, o torso à mostra deixando claro o curativo enrolado no local do tiro. Tantos detalhes que o faziam se lembrar do estado de Baekhyun.
— Deixarei vocês dois a sós. — Jongin saiu do quarto e passou a fazer companhia a Yerin.
Sehun aproximou-se receoso; aquele não era o Baekhyun que amava. Não era o seu namorado, aquele que fez seu coração bater mais forte, seu estômago virar um bando de borboletas extremamente agitadas, o suor espalhar-se por todo o seu corpo, suas mãos tremularem, suas pernas bambearem e sua mente nublar-se por completo.
— Baekkie — sussurrou com a voz chorosa, segurando a mão esquerda do rapaz. Acariciou-a levemente, prestando atenção nas pequenas cicatrizes que ali estavam, as quais poderiam passar completamente despercebidas. Porém ele sabia que seu namorado sempre as olhava e se lembrava do acidente que provavelmente nunca conseguiria deixar aquilo completamente para trás. Agora ganharia mais duas cicatrizes e tudo por sua culpa. — Me perdoe meu amor. Me perdoe por não ter te protegido como disse que faria. Me perdoe…
Calou-se, deixando suas lágrimas silenciosas molharem completamente o seu rosto enquanto os irritantes bips da máquina de monitoramento cardíaco lembravam-lhe que Baekhyun ainda estava vivo. Debilitado, fraco e machucado, porém lutando para viver. Lutando como sempre fez.
(...)
Dez dias depois...
Baekhyun estava apresentando várias melhoras nos últimos dias e Sehun não poderia estar se sentindo mais feliz. Seu quadro ainda demandava observação, entretanto já não era tão grave quanto antes; o organismo estava reagindo positivamente aos medicamentos, nenhum sangramento fora detectado, não pegara nenhuma infecção enquanto estava na unidade de terapia intensiva e tinha sido levado para um quarto.
Sehun também tinha que agradecer Chanyeol. O tenente-coronel o tinha ajudado em tudo nos últimos dias; era uma pessoa insistente, tentara de todas as formas possíveis fazer com que seu amigo comesse e descansasse pelo menos por alguns minutos. Foi difícil convencê-lo, pois o general sempre tinha uma justificativa para não arredar os pés do quarto de Baekhyun, tanto que durante todos esses dez dias dormiu apenas por algumas horas.
Seria mentira dizer que não estava cansado; contudo o pensamento de estar longe quando o menor acordasse causava-lhe arrepios. Depois de saber que Baekhyun não gostava de dormir e acordar sozinho, ele fez uma promessa interna de jamais deixar que isso ocorresse novamente.
No momento atual, encontrava-se sentado na poltrona ao lado do namorado, o qual parecia dormir serenamente. Nos últimos dias, os únicos sinais de vida que tivera foram os de alguns dedos se mexendo, ele apertando levemente sua mão e um leve balançar de cabeça durante a noite quando aparentava estar sonhando com algo. Eram pequenos gestos que faziam a esperança de Sehun aumentar cada vez mais.
A família de Baekhyun não gostava de si, isso era nítido. A mãe do rapaz sempre lhe lançava olhares ferrenhos, culpando-o pelo estado atual do filho e querendo que ele fosse embora daquele hospital e deixasse o menor de uma vez. O pai não ficava muito longe, porém era menos incisivo, preferindo apenas manter-se afastado e acalmar a esposa. O único que parecia estar interessado em saber o que realmente tinha acontecido era Baek Beom; pelo menos o rapaz tentava entender qual era a relação entre o general e seu irmão.
Não, Sehun não tinha contado que era namorado de Baekhyun. Sentia que isso pioraria ainda mais a situação. Nem tinha conversado com o médico sobre como iriam contar isso para sua família, pois até meses atrás o mais velho tinha uma esposa e agora namorava um homem; isso seria um baque muito grande.
Ainda havia Kim Jongin que estava auxiliando-o em relação à família do namorado. Graças ao médico, Sehun pôde ficar no quarto, pois o moreno convencera os pais de seu amigo — especialmente a senhora Sunhee — que a presença do general seria de grande ajuda para que Baekhyun se recuperasse. Foi complicado fazê-los entenderem o motivo já que para eles Sehun não tinha qualquer relação com o paciente, então por que deixá-lo ficar no quarto? Sunhee indagou isso várias vezes e o máximo que o doutor respondeu foi: “Desde o momento em que Baekhyun chegou a Busan, os dois formaram uma grande amizade e Sehun se tornou uma pessoa importante para o seu filho; uma chance dele se recuperar.”
O mais novo cariciava os cabelos negros de Yerin ao mesmo tempo em que ela dormia em seu colo. Não houve um dia sequer que não perguntasse pelo anjinho: quando ele acordaria, quando voltaria a ficar consigo. Estava completamente encantado pela menina e agora entendia o motivo de Baekhyun gostar tanto dela: Yerin não dava trabalho algum por ser uma criança de seis anos; era quieta, fofa e até mesmo inteligente. Muito provavelmente se tornaria sua filha depois que o menor acordasse, pois agora já não sentia mais tanto medo; existia uma espécie de felicidade crescendo dentro de si.
— Sehun… — Uma voz fraquinha ecoou pelo quarto, tirando-o de seus devaneios. Seus olhos arregalaram-se o máximo que podiam e logo um sorriso brotou em sua face ao olhar para a cama onde estava Baekhyun.
— Baekkie? Ba-baekkie… — Deitou Yerin suavemente na poltrona e caminhou até o namorado, que estava visivelmente desorientado. Segurou as mãos frias e levou seus dígitos aos cabelos loiros. — Você está bem? Está sentindo dor? Está com fome ou sede? Quer que eu chame o médico?
Baekhyun não estava acompanhando o ritmo imposto por Sehun. Sua única ação era a de olhá-lo e tentar entender as palavras ditas, que mais pareciam confundir sua mente enferrujada pelo tempo que passara desacordado. Com certo esforço, levou sua mão aos lábios do maior, calando-o por completo.
— Onde eu estou? — foi a pergunta que seu cérebro foi capaz de formular.
— Você está num hospital em Seul. — Apertou a mão de Baekhyun. — Não se lembra do que aconteceu?
Byun desviou o olhar e entrou em uma espécie de letargia. Sua mente possuía algumas falhas nos últimos acontecimentos e muitas coisas eram somente borrões. Lembrava-se que era sua última missão para com o exército, tinha ido rumo à base de Minseok, e então tudo se transformara numa confusão de sangue, gritos e dor.
— Não muito. — Suspirou e pendeu a cabeça para o lado. Seus orbes confusos prenderam-se na menina que dormia serenamente no sofá e seu rosto se contorceu em uma careta de confusão. — Yerin? O que ela faz aqui Sehun? Ela está bem? Ela estava comigo, não é?
— Amor, calma — Sehun pediu, levando suas mãos aos ombros do exaltado, que tinha a respiração acelerada e sentira uma dor intensa alastrar-se em seu tronco. — Yerin está bem. Machucou somente o braço, mas o médico já cuidou disso. Como ela não tinha para onde ir, deixei que ficasse aqui comigo e com o Chanyeol.
— Sehun… O que aconteceu comigo? — Baekhyun perguntou temeroso.
— Você levou dois tiros — o general foi direto, tanto que após ouvir essas palavras o mais velho entendeu o motivo de sentir uma forte dor na parte inferior de seu abdômen. — Yerin estava contigo e procurou-me pedindo ajuda; ela mostrou onde você estava. Graças a ela eu pude te salvar.
Baekhyun desacelerou sua respiração, sentindo seu coração acalmar-se dentro do peito, enquanto sua cabeça trabalhava sem parar tentando recuperar os últimos momentos em que estivera desperto. Ele tinha uma vaga lembrança de estar olhando para o sol e ver suas mãos cheias de sangue. Apertou com urgência a mão de Sehun; a única pessoa que poderia confortá-lo naquele instante.
— Como estão as coisas em Busan? — perguntou. Definitivamente era a questão que mais atiçava sua curiosidade; desejava saber se tudo tinha dado certo ou se fora tudo em vão. — Você deveria estar lá.
— Não consegui trabalhar com você nessa situação. — Desviou o olhar e suspirou, hesitando em prosseguir. Aquele não parecia ser o momento propício para contar o que Chanyeol lhe informara; eram más notícias, tudo que Baekhyun não necessitava saber naquele momento. Porém, também sabia o quanto o outro poderia ser teimoso e o quanto não desistiria até conseguir arrancar o que queria saber dele. — Amor, você acabou de acordar, podemos falar disso outra hora.
— Hun, não esconda as coisas de mim. — Sua destra pousou no rosto contido do namorado. — Eu não suporto quando me tacham de fraco e acham que não vou suportar as notícias que me dão. Tive que insistir muito para que o médico me contasse a verdade sobre a morte de Joohyun... Minha família pensou que eu não suportaria aquilo e tentou esconder tudo de mim.
— Me desculpe... Se você quer saber eu lhe conto. — Ajeitou a postura, respirou fundo e virou-se para encarar Baekhyun. — Tivemos muitas baixas no confronto contra os rebeldes. Até o momento contabilizaram dois mil soldados mortos. Minseok foi esperto; ele tinha um grupo rebelde escondido em Ulsan. Aproveitaram o nosso desconhecimento em relação a este fato e atacaram. Porém, um grupo monarquista de Haeundae atacou esses dois grupos e causaram danos ao Minseok.
— Isso é horrível — afirmou. — Vocês conseguiram detê-los?
— Infelizmente não. — Suspirou. — Nossa base militar foi construída em um ponto estratégico. Se aquela área fosse tomada, provavelmente Busan teria sido liquidada há muito tempo. O condado de Gijang era o plano maior de Minseok e ele queria tomar posse daquela região para ter poder sobre todos os outros distritos. Felizmente, o exército foi avisado a tempo e impediu a ascensão deles ali, porém a faísca foi acesa no local. Muitos jovens insatisfeitos com a política atual se juntaram ao grupo rebelde, dando início a vários ataques.
— Há quanto tempo vocês estão em Busan?
— Quase seis meses.
— Mas eu estava em Seul e não sabia de nada. — Baekhyun encontrava-se cada vez mais confuso. — Jongdae me disse que Busan precisava de médicos depois do acidente e ninguém mais sabia desse confronto entre rebeldes e o exército.
— Fizemos de tudo para que nossa posse tanto em Gijang quanto em Gangseo fosse pacífica. — Não era algo fácil de explicar a alguém que não fazia parte do exército, por isso Sehun fez uma pausa para selecionar as melhores palavras para que o outro entendesse. — Baekhyun, guerras são muito ruins e não digo isso somente pelas mortes. Há todo um conjunto de situações que irão mudar bruscamente. O presidente Lee nos deu prazos para acabar com esses confrontos, entretanto os rebeldes provaram ser bem mais preparados e inteligentes do que nós pensávamos, e foi um baque quando percebemos todo o armamento e preparação que possuíam.
“Quando o senhor Minho decidiu que tudo deveria ser feito às sombras, foi por um bom motivo. Se anunciasse uma guerra iminente, o povo entraria em pânico e isso seria péssimo; muitas pessoas abandonariam suas casas, seu conforto familiar, todos os bens que conquistaram com muito esforço por nada. Isso causaria um declínio na economia, uma balbúrdia ainda maior na imprensa e desconfiança no exterior. Ninguém gostaria de viajar para um país em guerra, o turismo passaria por maus bocados e a nossa função, a função do exército, era impedir que tal coisa acontecesse.”
— Como vocês não conseguiram, o que acontece agora? — Quando viu o namorado engolir em seco, apertou mais forte a mão do mesmo, estimulando-o a falar.
— O presidente Lee Minho deu uma coletiva de imprensa ontem à noite. Ele declarou que o país está em guerra contra os rebeldes presentes tanto em Busan quanto Ulsan. — Baekhyun pressionou os olhos e Sehun passou a outra mão pelo rosto. — Muitos líderes aliados estão confusos e querem explicações... Tal guerra pegou as pessoas de surpresa. Há muito a ser conversado, porém nada pode ser feito enquanto o general estiver aqui.
— Então vá Sehun! — o mais velho exclamou. — Estou bem, como pode ver. Não precisa mais se preocupar comigo.
— Depois de tudo o que eu expliquei, você ainda não entendeu hyung? — Baekhyun abaixou o olhar e afrouxou o aperto na mão do maior. — Estamos em guerra e eu sou o general. Não são mais aqueles confrontos armados que você viu; aquilo não é nada perto do que uma guerra apresenta. Não manteremos mais uma base médica ali e muito menos dormitórios. Toda a área central de Gijang e de Gangseo será tomada pelo exército e iremos transformar os condados em um depósito de armas. Baekhyun, para ser mais claro: iremos lutar, eu irei lutar. Quando eu sair por aquela porta, posso nunca mais voltar. Nunca mais.
O lábio inferior de Baekhyun tremulou. Sua respiração ficou descompassada, as batidas de seu coração tornaram-se uma bagunça e lágrimas caíram de forma abundante pelo seu rosto. Sua cabeça balançava em negação e seus dedos prenderam a mão de Sehun como se o mesmo pudesse escapar.
— Então não vá — implorou, tendo como resposta um longo suspiro. — Sehun, não me deixe aqui sozinho. Eu… Eu não posso mais viver sem você. Por favor.
— Baekhyun, eu sou o general... Tenho que ir de qualquer forma. — Os dois mantiveram um contato visual intenso. Sehun tentava acalmar o namorado, acariciando sua mão.
O mais velho entrou em uma espécie de transe com os olhos arregalados sem desviá-los em nenhum momento. Então, de repente, afastou brutalmente os toques do maior.
— Hyung… — Sehun murmurou.
— Vá! Pode ir! Seu trabalho é muito mais importante do que nós, eu já entendi isso! Me deixe sozinho que nem ela fez. — Sehun tentou se aproximar, porém Baekhyun o impediu. — Ela foi embora, acabou comigo, acabou com nossos sonhos, com a nossa família... Destruiu o nosso futuro, destruiu o meu coração. Nós tínhamos planos Sehun... Planos! Joohyun pediria férias no trabalho, sabe para quê? Sabe para quê?! Para nós dois termos um filho, algo que sempre almejamos em nossa relação.
— Baekkie, se acalma — Sehun pediu ao perceber o estado caótico em que o namorado se encontrava. O mais velho balançou a cabeça negativamente e passou a balbuciar coisas sem sentido.
— Não, não foi ela quem destruiu tudo. Fui eu, eu destruí tudo Sehun. — Levou as mãos à cabeça, puxando alguns fios loiros com demasiada força. — Eu sou um assassino e vou matar você também. Se eu tivesse sido competente e completado o que vocês tinham me pedido, nada disso estaria acontecendo. — Fez uma pausa e Sehun achou que aquela crise tinha acabado. Entretanto, Baekhyun começou a chorar ainda mais, fazendo força para arrancar as medicações, debatendo-se de forma violenta. — Eu deveria ter morrido no acidente! Eu deveria estar prestando atenção na estrada! Eu deveria ter morrido nesse confronto! Eu deveria ter impedido você de me amar, Sehun! Eu não mereço você, não mereço. Eu mereço morrer sozinho, sozinho…
— Baekhyun, amor, fica calmo. — Sehun acariciou o rosto inchado, ouvindo os soluços altos enquanto as lágrimas caíam como uma cascata. Os fios estavam todos soltos, o ferimento latejava e voltara a sangrar. Deveria chamar o médico, porém seu foco atual era acalmar completamente o amado. — A culpa da guerra não é sua. Ela estava fadada a acontecer desde o início; o exército só tentou retardá-la. Entenda amor: não há como impedir alguém de se apaixonar, simplesmente acontece. Não me arrependo de ter aberto o meu coração, de ter lhe dado o meu corpo e os meus beijos; foi especial demais para que você diga que não me merece.
“Confesso que no início eu te achava um garoto teimoso e mimado que só me traria problemas; aquele seu jeito era tudo o que eu mais abominava e temia. Mas eu senti algo diferente desde o nosso primeiro encontro... O modo como não abaixaste a cabeça para mim quando lhe dirigi a palavra foi surpreendente. Quando permiti que ultrapassasse a linha de risco e vi como cuidava daquelas pessoas com tanto afinco, foi quando tive certeza de que estava apaixonado pela pessoa certa. Eu que não mereço você.”
Baekhyun sentiu os lábios tremularem; encarava Sehun sem expressar aquela loucura de minutos atrás — ainda estava ali, mas agora adormecida —, deleitando-se com o carinho depositado em seu rosto. Lágrimas ainda caíam, então, sem dizer nenhuma palavra, estendeu os braços, como se pedisse um abraço, sendo prontamente atendido.
— Não quero que você vá, não quero que me deixe sozinho aqui. — Suspirou, deitando sua cabeça no peito de Sehun. — Mas entendo sua necessidade; é o seu trabalho e eu sempre soube que isso poderia chegar a acontecer. Quando decidi ir embora de Seul, não foi por querer: foi pela necessidade de me afastar das lembranças que faziam mal a mim e mesmo assim não consegui me recuperar por completo. — Segurou o rosto do namorado com as mãos e pôde perceber os orbes escuros se encherem de lágrimas. — Então, por mais que eu não queira, o melhor é que você vá. Vá e faça o seu trabalho como general.
— Eu voltarei meu amor. Eu te prometo. Oh Sehun nunca descumpre uma promessa. — Mesmo naquele estado, os dois deram um sorriso mínimo; aquela frase era como um lema para os dois. O mais novo abaixou o olhar por alguns instantes, depois o direcionou à Yerin, que mesmo com toda aquela discussão ainda dormia serenamente. — Esqueci de lhe contar sobre Yerin. Descobrimos que o pai dela está morto e, como eu presumia, a mãe dela nem chegou a aparecer em Gijang, local em que ele estava. Minseok nunca quis cuidar dela, então restou somente nós dois.
— Você a adotaria comigo? — Baekhyun indagou, deitando-se na cama; seu ferimento doía demais, tanto que um grunhido dolorido escapou de seus lábios ao fazê-lo. Sehun assentiu enquanto apertava sua mão. — Ela será nossa filha?
— Sim, será. — Sehun suspirou.
— Melhor você ir. Quanto mais rápido for, mais rápido voltará. — Baekhyun disse tais palavras sem olhar para o rosto do namorado. — Sehun, quando eu olhar para o sol irei me lembrar dos nossos momentos juntos e terei certeza de que você voltará, por isso olharei sempre para o céu.
— Também vou olhar... Assim me lembrarei do seu sorriso tão radiante. — Sehun sentia que se ficasse mais alguns minutos ali, derramaria todas as lágrimas que segurou em toda a sua vida. — Eu te amo.
— Também te amo.
Sehun inclinou-se para beijar Baekhyun, sentindo aquela mesma sensação de medo do início da missão contra Minseok se apossar de seu corpo. Os dedos de sua mão direita se enroscaram nos cabelos loiros, enquanto sua outra mão apertava a cintura esguia com calma, para não machucar o menor. Ficaram daquela forma pelo que pareceu muito tempo, mas nunca seria tempo o suficiente para que pudessem se despedir.
Mesmo a contragosto, Sehun interrompeu o contato, pois sabia que quanto mais ficasse ali, menos vontade teria de ir embora. Ergueu-se do chão, caminhou rumo a Yerin e pegou-a no colo, depositando um beijo em sua testa. O sono era pesado devido aos dias em que passara em claro junto ao general. Deitou a menina ao lado de Baekhyun, apertou a mão dele ainda mais forte do que da última vez, caminhou rumo ao sofá, pegou seu quepe e o arrumou em sua cabeça.
Seus passos lentos o levaram rumo à porta. Sua mão apertou o batente e ele virou o rosto para encarar Baekhyun uma última vez antes de ir. Sorriram, acenando um para o outro sem sentirem a necessidade de chorar. Sehun respirou fundo e saiu do quarto, fechando a porta em seguida. Olhou para Chanyeol, que o esperava, e endureceu sua expressão: tinha uma guerra para vencer.
(...)
Seis meses depois — Seul
Caminhava pelo gramado verde, molhado pela chuva do dia anterior, apesar das nuvens escuras terem se dissipado para darem lugar ao intenso calor solar. Baekhyun segurava a mão de Yerin — que agora era sua filha e de Sehun perante a justiça, após um processo de adoção que durou pouco mais de quatro meses —, enquanto ambos aproveitavam a sensação de terem seus pés em contato direto com a natureza.
— Ainda não entendo o porquê de Jongin ter insistido tanto para que nós dois viéssemos aqui — Baekhyun disse, afastando alguns fios cinzentos que atrapalhavam sua visão; tinha pintado seu cabelo. Seus olhos prenderam-se em Yerin; ela estava escondendo alguma coisa. — Você está sabendo de algo que eu não sei?
— Não, papai. — Inflou as bochechas, encarando-o. Ficaram daquela forma por alguns segundos, até Yerin desviar o olhar. — Tio Nini disse que aqui tinha algo que deixaria você muito, muito feliz, mas eu não sei o que é.
— Esse Jongin. — Riu.
Depois de algumas semanas em repouso, Baekhyun decidiu que voltaria a ativa no hospital em que trabalhava antes do acidente acontecer. Nos últimos meses, cumpriu a promessa feita a Sehun e procurou ajuda médica para tratar os surtos que tinha; foi necessário um tratamento a longo prazo, o qual ainda estava em andamento.
Porém, nem tudo foi positivo. Seus pais deixaram claro a recusa para com seu envolvimento amoroso. Não confiavam no general e culpavam-no pelo evento que quase tirara a vida do filho mais novo. Já Baek Beom queria ver Baekhyun feliz, então apoiava a relação, sendo o único da família a fazê-lo. Por conta disso, o médico comprou uma nova casa — algo que faria mesmo se não tivesse brigado com a família, pois não dava mais para morar na mesma casa em que vivia com Joohyun —, tornando-se vizinho de Jongin.
Então, tínhamos Sehun. Seria mentira dizer que estava sendo fácil ficar longe dele; era difícil, muito difícil. Porém, a esperança de que ele voltaria são e salvo era imensa e Baekhyun acompanhava a guerra da forma que podia, principalmente pela televisão ou pela internet. Três meses depois de o general ter ido embora, recebeu uma carta escrita pelo próprio, onde dizia que as coisas estavam indo bem e que esperava voltar logo.
Depois não recebeu mais nada.
Isso o corroía por dentro... Conversava com seu terapeuta — de nome Hongseok — sobre o assunto, tentando ao máximo se acalmar. No início, teve algumas pequenas crises nervosas contando com Jongin para auxiliá-lo quando ocorriam; após certo tempo passou a controlar suas sensações de uma forma mais eficiente. Não chorava tanto quanto antes, a autolesão ficou no passado, lembranças do acidente estavam sendo enfrentadas com menos dor e Joohyun não era mais um tabu, tornara-se algo bom.
— Baekhyun! Baekhyun!
O médico ergueu o olhar, tentando encontrar a origem do chamado. Seus olhos atentos percorreram cada centímetro de grama possível, até se fixarem na silhueta projetada a sua frente. Alguém acenava para si, chamando seu nome. Era um homem. Definitivamente um homem alto que vestia um uniforme verde camuflado, um quepe na cabeça e algumas medalhas que reluziam ao sol.
Era ele, só poderia ser.
— Baekhyun!
Yerin o encarou como se pedisse permissão para correr; permissão esta que não foi necessária, pois o próprio Baekhyun saiu correndo na direção do namorado para abraçá-lo bem apertado e ter certeza de que aquilo tudo era real. Quando chegou mais perto e tocou cada pedacinho do corpo de Sehun, percebeu que estava mais magro e com menos músculos do que antes, os olhos exibiam olheiras enormes que contrastavam com o sorriso que ele exibia. Sorriso que aumentou ao ter Baekhyun em seus braços.
— Acabou Sehun? — perguntou.
— A guerra acabou meu amor. Foi árdua, perdemos muitos homens honrosos, passamos por situações inimagináveis, mas vencemos. — Acariciou os cabelos negros da menina e depois dirigiu seus orbes cansados, porém felizes para Byun. — Mas ainda não acabou tudo. — acrescentou.
Baekhyun franziu o cenho em confusão. Então, para exemplificar aquelas palavras, Sehun ajoelhou-se e tirou uma caixinha preta do bolso, abrindo-a e exibindo o anel dourado que brilhava pelo sol maçante daquele dia.
— Não quero passar nem mais um dia da minha vida sem vocês. — Sorriu, e o mais velho não conseguia fazer nada além de tremer o lábio inferior. — Quer casar comigo, bebê?
Baekhyun sorriu, sentindo os olhos se encherem de lágrimas — entretanto não iria chorar, pelo menos não naquele dia; já chorara muito em seis meses. — Eu quero — conseguiu afirmar após vários segundos com os lábios trêmulos, estendendo a mão na direção do outro que pôs a aliança em seu dedo.
Sehun se levantou e levou sua mão aos cabelos cinzentos de Baekhyun — estava ainda mais bonito do que se lembrava —; manteve contato visual intenso, seus olhos passeando pela face, tentando guardar o máximo de detalhes possíveis. Colou seu peito contra o outro e finalmente o beijou. Ah, como sentiu falta dos lábios róseos e doces que seu noivo possuía. Sentiu falta de ter suas mãos presas à cintura alheia e de poder encarar aqueles olhos bondosos.
— Eu te amo.
— Também te amo, Hun.
— Também te amo muito, viu? — afirmou, pegando Yerin no colo e depositando um beijo na bochecha vermelhinha.
— Senti sua falta, papai — a garota respondeu, sorrindo em seguida.
— Senti muita, mas muita, falta de vocês dois. — Os três sorriram e se abraçaram enquanto comemoravam a bonita família que formavam. Então, Sehun olhou para o céu, sendo seguido pelos outros dois. — Olhem para o sol... Sempre esteve ao nosso lado; desde o início nos acompanhou e nos manteve unidos. Ele protege a nossa relação, protegeu tanto a vida de Baekhyun quanto a de Yerin e até mesmo a minha nos últimos meses. Toda vez que olhava para ele, me lembrava de que tinha de voltar e ficar ao lado da nossa família. A família que nunca tive, mas agora terei a chance de ter.
Quando estiver transbordando em lágrimas, olhe para o céu... Até que suas lágrimas parem... E você sorria de novo... Não importa o quanto esteja longe... Eu vou superar e te iluminar...
Mesmo longe vou continuar te protegendo... Eu sou a estrela para a qual você continua a olhar... Mesmo que não possamos alcançar ou tocar... Eu ainda sou a luz... E seu sorriso e suas lágrimas me iluminarão...
6 notes
·
View notes
Text
18 - #90 Como lidar com colegas de quarto barulhentos
Título da fanfic: Como lidar com colegas de quarto barulhentos
Sinopse: A dica principal é: fuja! Porque se seu colega de quarto se chamar Byun Baekhyun e tiver um hábito esquisito de jogar League of Legends de madrugada com direito a uns gemidos nada lá muito normais no meio das partidas, suas noites de sono nunca serão as mesmas.
Couple: SeBaek
Número do plot: #90 Seu companheiro de quarto tinha essa mania estranha de gemer durante suas partidas em League of Legends. E Sehun só queria dormir, se possível sem ter que acordar no meio da madrugada achando que Baekhyun está se masturbando.
Classificação: +18
Aviso: bissexualidade, homossexualidade, insinuação de sexo, linguagem imprópria, nudez.
Quantidade de palavras: 9486
Nota do autor(a): Amém
Guia de convivência para colegas de quarto barulhentos, por SACQ – Sociedade Anônima de Colegas de Quarto
1. Introdução
Este presente guia sem fins lucrativos surgiu da tamanha necessidade de ajudar futuros colegas de quarto que talvez não saibam lidar com outro ser humano barulhento por conta de diversos motivos – signos incompatíveis, nenhum irmão mais velho ou mais novo como experiência de vida, antissocialidade, falta de paciência infinita, acostumado a ser um lobo solitário, a sorte tirada na roleta da desgraça, etc. Dessa forma, espera-se auxiliar a todo aquele que estiver na situação obrigatória de conviver com outra pessoa quando dentro das quatro paredes sagradas de um dormitório, para assim conseguir manter sempre a calma, o ambiente harmônico, limpo também, e ter uma coabitação ao menos decente com seu companheiro no decorrer do tempo em que estiverem dividindo do mesmo oxigênio, sabonete e barrinhas de cereal.
2. Dicas de convivência para que ninguém saia morto até o fim do semestre e, se todo mundo sobreviver, até o fim do curso
i. Evitar um colega de quarto barulhento é sempre a escolha certa a se fazer e maravilhosa também, mas se não for possível, é aquele ditado: paciência
Sehun havia dividido o quarto por muitos anos.
Quinze anos com a cama no lado oposto à do irmão mais velho contava como uma experiência e tanto para o seu currículo de colega de quarto profissional. Todos esses anos ouvindo roncos, inalando gases tóxicos do traseiro alheio em silêncio (desmaiado, talvez) e daquela meia da sorte que seu irmão insistia em nunca lavar, o porco; aturando a bagunça, as regras impostas por meio da tirania hierárquica e se assumindo por coação de uns chutes bem no meio do cu como um digno parceiro do crime quando seu irmão fugia de casa pela janela e precisava de ajuda para entrar. Uma década e meia de gritarias, cuecões, risadas e “eu te odeio!” daqui, com direito a outros tantos “eu te odeio mais!” de lá. Graças ao bom senhor do céu que o traste conseguiu seduzir uma alma perdida e casar.
Acrescente também todos os Natais da vida de Sehun às contas, onde precisou viajar uns trocentos quilômetros para uma cidadezinha no fim do mundo à casa da avó para dividir o purê de batata engrumado e sofrer por uma migalha de bolo de frutas (e com a porcaria da uva passa no meio), terminando por ser enxotado com outros trocentos primos a um quartinho minúsculo demais para tantos traseiros gordos recheados de sorvete de feijão vermelho.
Particularmente, Sehun estava bem mais do que acostumado a ter outra pessoinha respirando do mesmo oxigênio num cubículo quatro por quatro.
Tanto é que quando conseguiu vaga em duas boas universidades ao tentar o vestibular de História, foi preferir aquela mais longe de casa possível, não pensando nenhuma vez antes de catar seus trapos e bugigangas, além da poupança que juntou dos seus tantos trabalhos de meio-período que fazia nas férias para ir dividir o dormitório oferecido pela universidade com alguém desconhecido que ele, sinceramente, desejou poder ter como amigo durante cinco anos da sua vida.
Byun Baekhyun se tornou um bom amigo. Um amigo quase anjo em forma humana. Quer dizer, um anjo mais do tipo caído, sabe? Como a tendência nos livros adolescentes, bonito e com aquele jeitinho impossível de amar. Não que ele fosse o capeta sem asas, embora tivesse ficado igual a um quando desenhou um punhado de pênis na testa de Sehun com caneta permanente e o coitado foi à aula com isso sem saber o motivo das pessoas encararem a obra de arte em seu rosto; ou quando andava pelo dormitório sem nada no corpo, exibindo aquele pinto que era um atentado ao pudor (à boca de Sehun, claro)... Ele com certeza simpatizava com o senhor do terreno abaixo em situações do tipo.
Mas pensa numa pessoa gente boa? Baekhyun.
Afinal, que colega de quarto no primeiro dia de convivência te oferece pizza?
Sehun estava nervoso à beça quando se mudou; cagando e andando no desespero. O lado bom nisso é que não foi sozinho, tinha a companhia da melhor amiga, Joohyun ou Irene (ou Nenê também) como preferia ser chamada pelos mais íntimos.
Havia uma comoção de garotos em meio a despedidas tumultuadas em volta dos dois no primeiro dia da mudança. Era uma bagunça de pernas indo de um lado a outro com caixas e mochilas, uma animação movida por vozes engrossando e com pelos na cara, testosterona recendendo o ar com seus risinhos de alegria por estar longe da casa dos pais e viver a vida como na música do Ricky Martin, Livin’la vida loca. Sehun, no entanto, parado ali no meio com seus cacarecos, estava começando a ficar um pouquinho assustado com isso de começar a independência longe daquilo que era habitual e rotineiro.
– Os dormitórios podiam ser mistos – observou sério, parado ao lado de Irene em frente a um dos muitos prédios cinzas e frios destinados aos garotos estudantes daquela universidade. – Tô com medo.
Irene revirou os olhos e empurrou Sehun com o cotovelo numa brincadeira para descontrair.
– Que você me ama muito disso eu já sabia, mas entre dividir o quarto com você e a garota que vai ser minha futura fonte de esmaltes de graça e outras coisinhas a mais, acha que eu escolho quem?
– Pensei que eu fosse sua fonte de esmaltes de graça, sua mal agradecida – falou fingindo mágoa.
– Infelizmente, não só de esmaltes vive uma garota, Oh Sehun.
– E por isso vai me trocar por um rabo de saia? – perguntou. – Posso vestir uma pra você, se preciso. A ideia original vai continuar.
Irene abriu um sorrisinho.
– É tarde demais para conquistar meu coração com o seu rabo numa saia, Sehun – disse, vendo o amigo segurar um sorriso. – Mas tenho certeza de que vai encontrar o seu, seja de uma menina, que não vai ser a minha colega de quarto – frisou com um dedo na fuça do rapaz. – Ou um rabo masculino dentro de um jeans apertadinho.
– Fazer o que se gosto de gente? – perguntou em um tom inocente, fazendo Irene revirar os olhos.
– Das pessoas e seus rabos – a moça completou. – Vai dar tudo certo, tá?
Sehun riu nervoso e Irene se apressou a ajudá-lo a subir com as mochilas e caixas para o prédio em busca do seu dormitório.
No caminho, Sehun desejou do fundo do coração que o cara com quem fosse dividir o lugar, Byun Baekhyun segundo o nome fornecido pelo departamento de dormitórios, fosse gente boa. Podia até ser do tipo festeiro, o que significava que o quarto estaria constantemente vazio e silencioso; torceu para que fosse um pouco mais velho também, pois Sehun sempre se deu bem com pessoas de uma idade acima da sua; Irene era a prova disso, já que se tornara sua melhor amiga (e dona da sua primeira paixonite) na maior facilidade ao ponto de sair do colégio antes de Sehun e esperá-lo por dois anos para que fossem à universidade juntos.
O dormitório, um quatro por quatro bonitinho de tamanho considerável e espaçoso para dois rapazes conviverem de modo confortável com cada um no seu próprio canto, porém dividindo o banheiro minúsculo constituído por uma privada e chuveiro para uma ameba tomar banho, estava vazio de almas vivas, o que era bom e ruim ao mesmo tempo – 1) bom, pois Sehun poderia chorar sozinho mais tarde, sentindo o desespero e um punhado de saudades do seu quartinho de anos; 2) ruim, porque estava ansioso querendo saber como era seu colega.
Sehun deu uma longa observada no local, notando que um lado do quarto estava ocupado por coisas, por uma vida. Havia pôsteres de bandas e de jogos nas paredes, livros e mais livros organizados em fileiras na pequena estante que cada um tinha direito; as portas do guarda-roupa compartilhado cheia de adesivos, uma das camas bagunçada como se alguém tivesse saído às pressas não fazia muito tempo, um laptop de uma marca excelente na mesinha para estudos lotada de cacarecos que servia como divisória do quarto, um violão ao canto e pilhas de álbuns arrumados como o bem mais precioso do mundo.
Existia um cheiro também, um cheiro de limpeza – desinfetante e bom ar de lavanda –, como se a pessoa tivesse feito uma faxina ligeira talvez naquela própria manhã, assim como de perfume masculino, amadeirado, gostoso.
Ao menos seu colega de quarto era higiênico e cheirava bem.
– Músico? – Sehun chutou.
– E com muito bom gosto – Irene falou com divertimento, apontando para um álbum que Sehun adorava bem ali no meio da pilha cheia deles.
– Coincidência.
Sim, porque todo mundo gostava de uma banda com nome de macaco vindo lá da Cochinchina indie.
– Será? – Irene mostrou outro álbum de uma banda que só Sehun e mais meia dúzia de pessoas conhecia.
Sehun optou por fazer beiço e colocar seus pertences nos lugares que seriam seus a partir dali no dormitório, deixando a amiga fuxicar nas coisas do seu colega de quarto na maior cara dura. Notou, então, sobre o colchão da sua cama um post-it amarelinho com um recado escrito em uma letra torta, porém adorável:
Seja bem-vindo, meu colega de quarto ♥
Tentei dar uma arrumada no cafof– ops, digo nosso lar, mas me desculpa se ainda estiver bagunçado.
O jantar é por minha conta hoje. Espero que goste de pizza!
– Baekhyun.
Ps: caso precise de lencinhos (chorei também na primeira vez), tenho uma caixinha guardada na segunda gaveta da mesa do computador.
– Será que dá tempo de eu nascer de novo com um pinto e voltar aqui até o jantar? – Irene perguntou ao olhar o recadinho nas mãos de Sehun. – Quero trocar de colega de quarto.
Sehun mostrou a língua à amiga.
– Vai ficar com seu rabo de saia, vai – enxotou de brincadeira. – Porque eu e meu colega vamos comer pizza.
– Tomara que se engasgue! – falou.
O rapaz arregalou os olhos, vendo Irene correr à porta aos risos.
– E cuidado pra não se apaixonar pelo rabinho dele, hein! – a moça avisou.
– Para de ser idiota – resmungou.
A parte de se apaixonar era algo complicado a Sehun.
Havia tido aquela paixonite adolescente por Nenê, que mais pareceu um descontrole hormonal afetado pelo círculo cromático quando ela pintou o cabelo de azul, mas não foi aquela coisa que existia nos livros ou filmes de amor, entende?
Sehun sempre pensou que quando fosse gostar de alguém, gostar de verdade mesmo, seria como uma cena romântica, aquele tumtumtum de um coração cardíaco no peito, a coisa acontecendo em câmera lenta sob os efeitos de uma trilha sonora à la Taylor Swift, assim uma voz na sua cabeça dizendo “finalmente te encontrei, aí está você” e sua alma dando sinais de vida para dizer “caramba, você finalmente encontrou sua cara metade, homem, vai que é sua”.
Em 20 anos de respiro, Sehun nunca teve a chance de passar por essa linda experiência saída de um estúdio da Disney; acabou se envolvendo com as pessoas para trocar uns amassos e uns beijos sem esperar a coisa toda do amor. Então pense no quão ridícula é essa ideia de se apaixonar pelo colega de quarto. Justo ele. Além de ser um clicherismo existente naqueles best sellers que Nenê curtia ler de madrugada, era impossível. Se apaixonar pelo colega de quarto? Por favor, muito batido.
De qualquer forma, Baekhyun era um cara finíssimo como companheiro.
No entanto, não era nenhum santo destinado à auréola nem aqui nem na China. Sehun bem que sabia disso – Baekhyun se vestiu de Jesus no Dia das Bruxas, vê se pode? Aquilo fazia seu nome como candidato a um lugar no céu estar automaticamente riscado a fogo santo –, ainda mais quando a criatura insistia em dizer que a melhor pizza do mundo era a de uva passa com bacon, assim como tinha aquele hábito pra lá de esquisito em jogar League of Legends de madrugada com direito a uns gemidos nada muito normais no meio das partidas, acabando com o sono sagrado de Sehun e o fazendo acordar no meio da noite achando que seu colega de quarto muito sonoro está se masturbando.
E imagina? Ele está mesmo.
[...]
ii. Já dizia um grande filósofo: amai a todos como a ti mesmo, especialmente esse teu coleguinha de quarto barulhento
– em caso de você se encontrar com problemas de autoestima leia o capítulo 17 deste Guia, A arte de se amar e odiar seu colega de quarto: renascimento
Sehun tinha achado interessante a frase motivacional que a mocinha da orientação ao uso dos dormitórios disse no início da palestra que tiveram antes das aulas começarem: a paz vem de ti próprio, não a procures à tua volta.
Eram palavras do grande e querido Buda, e faziam bastante sentido se aplicadas a alguns momentos da vida, como os estudos e suas realizações pessoais. No entanto, quando você tinha como companheiro alguém que cursava o terceiro ano de Jornalismo e era responsável por um horário de notícias e informações na rádio da universidade na parte noturna, sendo assim bem expressivo no que cabia a arte da fala, era meio que impossível não caçar a bendita da paz em cada canto daquela porcaria de dormitório com sangue nos olhos.
A primeira noite mal dormida de Sehun foi um inferno e ele sinceramente pensou em trocar de quarto, até mesmo matar Baekhyun caso a opção anterior não estivesse disponível.
E tudo isso porque havia chegado todo acabado da primeira semana do seu trabalho número um de meio período, cheirando a óleo de fritura das batatinhas servidas naquele fast food mais lotado do que colônia de formiga, as pernas latejando por ter ficado de pé durante horas atendendo o pessoal perdido que chegava lá não sabendo nem o que comer (drive thru era a zona do terror) e só querendo dormir um pouquinho antes do despertador tocar para uma aula do curso de História cheia de datas para decorar e mais trabalho a ser feito no período da tarde. Não era pedir muito uma noite de descanso, era?
Mas quando estava dentro daquela escuridão gostosa chamada sono, Sehun ouviu o gemido. Era com certeza a voz sedosa de Baekhyun que, até segundos atrás, Sehun tinha conferido, estava sentado em sua escrivaninha jogando LoL no laptop com os amigos. Teria sido imaginação sua? Percebeu que não ao ouvir mais outro gemido – ãããnnn uuhh aaah.
Okay, pensou consigo mesmo. Baekhyun estava vendo pornô, era isso? Se fosse, estava bem que acostumado com essas situações; seu irmão mais velho era um consumidor de pornografia barata todas as santas noites no tempo em que dividiram o quarto. Bater punheta era o de menos. Quer dizer, Baekhyun estava batendo punheta? Logo assim, na cara dura? Descaradamente? Com as calças baixas e o pênis duro no meio da mão, enquanto seu colega de quarto a menos de duas semanas de convivência estava bem ali na cama ao lado? Era muita coragem.
Sehun se remexeu em sua cama até estar de frente para Baekhyun sentado na escrivaninha, o encontrando com os olhos pregados na tela brilhosa do computador numa guerra colorida mordendo o lábio, seu cabelo vermelho bagunçado como sempre estava, os dedos bem ocupados com o teclado e o mouse.
Baekhyun gemeu de novo, de um jeito prolongado e deixando escapar um suspiro nada decente.
Aquilo era uma partida mesmo ou uma sexy call ou sabe-se lá o quê?
– O que nesse meu lindo caralho você tá fazendo, Kim Jongdae? Junmyeon, olha pro seu lado, sua anta! – Baekhyun reclamou em seguida no headset, o fone de ouvido com um microfone para poder se comunicar com os amigos no meio de uma partida. – Ataca essa porcaria ou eu vou é atacar um tabefe no meio da sua cara larga, Jongdae. Para de ser cu frouxo, moleque. Aja como um guerreiro e cai dentro! Junmyeon, na sua esquerdaaaaaa! – O tal Jongdae deve ter falado algo, porque Baekhyun bufou. – Quê? Eu não tô falando alto! Não tô! Que colega de quarto? Eu não tenho coleg– Baekhyun ficou mudo por um segundo e soltou um: – Ai, caramba.
No mesmo instante em que Baekhyun se virou na cadeira de rodinhas para a cama alheia, Sehun fechou os olhos e fingiu dormir por algum motivo desconhecido bem do idiota.
Seu cabeçudo!, o rapaz se xingou mentalmente. Diz alguma coisa pra ele! Diz que você tá cansado, que teve aula cedinho, que foi trabalhar na porcaria do BK, que só quer dormir um pouquinho sem ninguém fazendo encenação de pornô barato, embora ele tenha uma voz bonita pra caramba... Abre o olho, teu frouxo.
Sehun parou de fingir? Se pudesse parar de respirar, tinha parado na maior boa. Mas nem. Ficou lá, paradinho, quieto, respirando devagar e sentindo os olhos de Baekhyun em seu rosto por longos minutos.
– Ele ainda tá dormindo – ouviu Baekhyun cochichar no headset. – Não, não parece fingir. Por que ele fingiria dormir, Jongdae? Sim, ele apagou de vez. Como um anjo. Mais bonito do que um, com certeza – Baekhyun falou com um sorrisinho de canto. – Não disse que eu tenho o melhor colega de quarto do mundo? Muito bonito, também. Sehun é uma gracinha. Morram de inveja. E okay, Mama Dae, vou tentar falar mais baixo.
Baekhyun fez o que disse: tentou. Mas deixou escapar uns gritos, outros gemidos no meio da partida que durou mais do que deveria. Foi, com certeza, uma das piores noites da vida de Sehun e ele nem abriu a boca para reclamar. Tinha até planejado o que dizer a Baekhyun na manhã seguinte, mandar a real pra ele e xingá-lo de idiota sem noção, falar umas poucas e boas ao meliantezinho barulhento.
Quase se esqueceu de tudo, no entanto, quando acordou e encontrou aquela caixa cheinha de donuts cobertos de chocolate à sua espera e Baekhyun sorrindo de um jeito lindo, porque era um completo golpe baixo aquilo de usar donuts e sorrisos bonitos; Sehun tinha um fraco por coisas assim.
– Dormiu bem? – Baekhyun perguntou.
Era a hora de despejar. De dizer o que estava entalado durante uma noite inteira. Soltar o verbo e descascar o pepino em cima do idiota do Baekhyun pela arruaça feita de madrugada. Contudo, assim que Sehun mordeu aquela nuvem de massa frita e recheada de creme para tomar um pouco de coragem no sangue e começar a falar umas verdades verdadeiras ao seu colega de quarto, Baekhyun se aproximou como quem não quer nada e meteu o dedão no cantinho de sua boca para limpar o chocolate, levando-o à boca em seguida. Depois, meio que suspirou meio que engoliu um gemido ao sentir o gostinho de chocolate e sorriu a Sehun de novo.
Puta merda, o Oh pensou.
– Como um anjo – se viu respondendo, também exibindo um sorrisinho.
Se era um idiota? Era.
[...]
iii. Respire bem fundo. Respirou? Respire fundo de novo e todas as outras vezes que puder, porque vai precisar.
Sehun era conhecido por ser muito paciente.
Pouca coisa conseguia tirar um “vai tomar no cu” dele e até mesmo uns gritos, quem sabe uns tabefes na orelha. Ele chegou a ser eleito por unanimidade na escola, numa brincadeirinha de “quem você se parece”, como um santo (nem dava pra zoar com um “de pau oco”, talvez de pau duro quando se masturbava na calada da noite em seu quarto) – Oh Sehun padroeiro da paciência; faltava só a auréola no cabeçote, porque nada, nadica de nada, o tirava do sério.
Ele aguentava tudo como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Nem quando anunciou a sua mãe que queria fazer História para ser professor de História, sabendo que ela tinha sonhado com mais um doutor na família e ela deu a louca por várias semanas em um chororô e faniquito de deixar qualquer um tentado a dar uns berros e mandar às favas da senhora que pariu. O rapaz aturou na paz e amor do seu silêncio.
E quando aguentou nove fucking anos e meio do aparelho dentário sem abrir a boca pra reclamar um pio? Nem quando o metal fazia ferida nos seus beiços, nem quando o dentista apertava demais, nem quando era difícil enfiar a porcaria do fio dental nos dentes com o aparelho na boca. Nem quando era quase que impossível comer carne ou qualquer coisa sem que metade do alimento fosse em sacrifício ao deus sanguinário do seu aparelho.
Sehun nunca, jamais, em hipótese alguma, reclamou ou ficou raivoso. Sempre na paz, aguentando na maior boa. Mas Sehun só faltou enfartar e entregar as botas ao Judas depois que ingressou na universidade.
Tem até aquele famoso ditado: o que a universidade não mata, ela estraga.
Menos de um semestre, com dois trabalhos para se sustentar (porque a senhora sua mãe disse, na hora da raiva, que não ia ajudar com tostão nenhum, só quem além de paciente, Sehun também tinha uma memória muito boa) – um no BK e outro dando aulas particulares a um garotinho que tinha pacto com forças satânicas –, mais aquela porrada de livros para ler, trabalhos para entregar, a semana de provas socando a porta da realidade e toda a lista de coisas ruins que a vida universitária tem o costume de usar pra ferrar com o emocional de alguém, somado ao fato de seu colega de quarto jogar LoL gemendo como se fosse uma galinha no abate até tarde da noite, Sehun tinha chegado ao fundo do poço da sua paciência quase que infinita.
– Eu vou matar o Baekhyun – Sehun anunciou do nada para a amiga depois de um momento profundo de reflexão, deixando Irene para trás a comer seu lanche duplo de muito queijo e gordura. Ela nem se deu ao trabalho de impedir que seu amigo se tornasse um assassino do colega de quarto; até porque Sehun não matava uma mosca, que dirá um ser vivo que o impedia de ter noites decentes de sono.
E Sehun estava com esse ânimo de fazer picadinho de Baekhyun quando chegou ao quarto e o encontrou sentado em sua escrivaninha em frente do laptop. Uma raiva desceu.
– Sehun, você chegou! – Baekhyun se virou e gritou animado, tirando dos olhos aquele par de óculos redondinho igual ao do Harry Potter. – Senti sua falta – acresceu o mais velho, abrindo um sorriso que Sehun sentiu vontade de quebrar (e guardar no coração para sempre). – Você só vem aqui pra dormir.
Sehun engoliu a resposta ácida que apareceu na ponta da sua língua – Dormir? Dormir como quando você tá no mesmo quarto? E nem é no bom sentido. Respirou fundo e preferiu ficar quieto.
Baekhyun voltou os olhos para o laptop onde um vídeo de gatinhos estava rodando e tornou a encarar Sehun, começando a falar do projeto que o jornal da universidade, mais a Medicina Veterinária e diversos outros cursos estavam realizando para resgatar, castrar e encontrar lares para os bichanos. Quando reparou, Baekhyun já tinha lhe puxado para se sentar na cadeira em que até segundos atrás estava e o obrigando a ver o vídeo.
Sehun respirou fundo de novo e por dois motivos: a) queria matar Baekhyun e b) não queria ver vídeo nenhum de gatos fofinhos, até porque nem gostar de gatos ele gostava, preferia cachorros. Contudo, respirou fundo e viu o vídeo. Baekhyun, parado atrás das suas costas, observava suas reações atentamente.
– Que foi? – perguntou apreensivo, a animação de antes sumindo do seu rosto. – Algum problema?
Sim, todos, Sehun pensou. E todos por sua causa, porque quero te matar por não me deixar dormir direito e não consigo, ainda mais quando fica sorrindo que nem idiota pra mim. Dá pra parar com isso?
Sehun respirou fundo mais uma vez.
– Cansaço.
Baekhyun franziu o cenho.
– Tem certeza de que é só isso? – quis saber. – Você parece ter emagrecido e tem olheiras debaixo dos olhos – observou, tocando com a ponta dos dedos a região mais escura da pele de Sehun em seu rosto. – Tá fazendo todas as refeições? – indagou, e Sehun admitiu que sim, embora não se lembrasse da última vez que comeu. – Dormindo direito? Se bem que você sempre deita nessa cama e apaga que nem uma pedra – Baekhyun resmungou com um risinho. – Nem meus gritos te acordam.
– Na verdade... – Sehun começou a falar e se calou abruptamente.
– Na verdade?
Baekhyun esperou por uma resposta e Sehun respirou fundo de novo. Irene tinha dito pra ele chegar ao colega de quarto e falar – joga essa porra de jogo de virgem mais baixo, porra! –, mas Sehun nunca conseguia quando chegava a hora.
– Na verdade? – Baekhyun o encorajou de novo. – Sehun.
O rapaz sentiu-se envergonhado diante do olhar de Baekhyun, porém fechou os olhos bem forte.
– Eles-não-me-acordam-porque-eu-já-tô-acordado-por-causa-dos-seus-gemidos-e-eles-fazem-com-que-pareça- que-você-tá-se-masturbando – acabou confessando depressa, num tiro só.
Ao ouvir o risinho de Baekhyun um minuto depois do silêncio que o dormitório ficou, Sehun supôs que ele tivesse entendido muito bem.
– Não é engraçado! – Sehun reclamou fazendo muxoxo.
– Desculpa – Baekhyun pediu ainda rindo. – Mas por que não falou pra mim? Era só chegar e dizer: Joga a porra desse jogo de virgem mais baixo, porra! – expressou. Sehun respirou fundo, pensando que precisava ouvir Irene com mais frequência e parar de aguentar tudo calado.
– Você tava querendo se matar não dormindo direito por tanto tempo, é isso? – Os olhos de Baekhyun vagaram preocupados para as olheiras do mais novo. – Sabe que pode me falar qualquer coisa, Sehun. A gente é colega de quarto e vai ser por mais dois anos, então você precisa ser sincero comigo e me dar uns toques, porque não sou Bidu nenhum.
– Eu queria matar você, na verdade – Sehun corrigiu. – E eu pensei que não precisasse te falar pra gritar e gemer menos nas partidas de LoL de madrugada, quando geralmente as pessoas dormem e querem descansar – retrucou com acidez.
– Gostava mais de você quando não era tão sincero, sabia?
– Você que pediu.
Baekhyun riu e Sehun o acompanhou.
– Desculpa – pediu mais uma vez e havia um tom de seriedade em sua voz. – Foi horrível da minha parte não pensar em você e ficar gritando.
– Gemendo também – Sehun acrescentou.
– Vou me comportar a partir de agora, okay? – finalizou o pedido de desculpas. – Juro de mindinho – falou de um jeito doce, erguendo o dedo em direção ao de Sehun para selar a promessa, este que revirou os olhos.
– Acho bom, porque é assustador, tá? – Sehun se viu na obrigação de explicar a experiência traumatizante a Baekhyun, este sorrindo da sua expressão. – Eu ficava olhando toda hora pra ver se você não tava vendo pornô ou se masturbando comigo ali do lado.
– Ficava toda hora olhando, é? – Baekhyun provocou o mais novo. – Seu safadinho. Se queria ver meu pinto era só pedir, não precisava ficar espiando, não.
Sehun respirou fundo pela quinquagésima vez naquela noite.
Ao menos teve uma boa noite de sono depois de todas aquelas partidas de LoL, gemidos e gritarias na sua cabeça.
(Baekhyun disse a si mesmo que precisava ser mais cuidadoso na hora de bater uma punheta e Sehun, na manhã seguinte, estava com a testa cheinha de vários pênis desenhados com tinta permanente.)
[...]
iv. Na dúvida, compre bons fones de ouvido. Um par a mais é sempre uma boa opção.
– Sabia que nesta vida vã e medíocre há coisas em que precisamos de verdade – Baekhyun recitou em seus momentos filosóficos de bêbado, entornando mais um gole de cerveja –, e coisas que queremos do fundo do coração achando que precisamos de verdade, meu querido e amado Sehun?
Sehun abriu outra latinha das cervejas que Baekhyun e ele saíram mais cedo para comprar como forma de fugir das responsabilidades da vida, tipo aquele artigo para ser entregue até meia-noite ao jornal da universidade e uma dissertação sobre Hitler e seu bigodinho tendencioso. Sehun tomou um grande gole e passou a Baekhyun, que bebeu no mesmo segundo.
– Por exemplo? – Sehun perguntou preguiçoso, estirando as pernas no chão limpo do dormitório e roçando seu braço no de Baekhyun sentado ao seu lado.
Baekhyun fechou os olhos por um segundo, as bochechas já meio rosadas pelas tantas latinhas mandadas na última meia hora de bebedeira, e refletiu. Fez aquele barulhinho de meditação “hmmmmmmmm”, tirando um riso de Sehun.
– Tipo – começou –, um teto sobre a cabeça é algo que todo mundo precisa de verdade, né? – falou. – Mas uma mansão de trezentos hectares, com quadra de basquete e academia equipada?
– Piscina e sauna também – Sehun acrescentou sonhador. – Uma linda sala de jogos como bônus.
– A geladeira cheia e todos os armários da casa lotados de comida.
– E internet de todos os megas possível.
– Com certeza não pode faltar pista para pousar o jatinho particular – Baekhyun disse.
– E cem milhões de reais na conta ganhando juros – o mais novo deixou escapar num suspiro.
Baekhyun concordou veemente, bebendo outro gole da cerveja.
– Viu? Isso é algo que todo mundo quer do fundo do coração achando que precisa de verdade – explicou.
– Talvez eu precise de verdade dos cem milhões, sim.
– Sem dúvida os cem milhões – Baekhyun afirmou. – Mas como somos pobres, a gente se contenta com pouco, então um emprego de salário mínimo, com décimo terceiro, abono e previdência social já é o bastante.
O rapaz fez um beiço todo pensativo, coçando os cachinhos da cabeça.
– Peguei todos os turnos possíveis pra trabalhar no BK durante as férias bem quando preciso de um descanso – Sehun resmungou baixinho.
– Que bom – Baekhyun disse com um riso.
– Bom por quê? – Sehun quis saber, olhando para Baekhyun com incredulidade. Como aquilo seria legal quando trabalharia igual a um burro no abate?
– Tenho motivo pra ir comer lá todos os dias e ver o escravo mais bonito daquele lugar.
Sehun revirou os olhos e Baekhyun logo o acompanhou naquela conversa que virou mais uma brincadeira de Verdade e Desafio de Coisas que Precisamos de Verdade e Coisas que Achamos que Precisamos de Verdade.
– Eu preciso de amor e carinho – Baekhyun confessou a Sehun, exibindo um sorriso de canto.
– Você precisa mesmo é de vergonha na cara.
Baekhyun gargalhou e empurrou Sehun com o ombro.
– Sério, tô carente e com muito tesão – insistiu. – Com saudade de foder – sua voz saiu rouca, e Sehun respirou fundo pra mandar embora aquele leve arrepiozinho que fez os pelos da sua pele ficarem eriçados.
Quase sugeriu que Baekhyun batesse uma punheta. Quer dizer, mais punheta do que ele já batia. Tinha pegado Baekhyun no flagra com o pênis duro várias madrugadas quando pensou que ele estava jogando LoL e gemendo, mas nunca chegou a dizer nada; se limitou a ficar deitadinho em sua cama de olhos bem fechados, esperando que ele pudesse terminar a sessão alívio de mão única – gozava de um jeito tão adorável tentando esconder com a outra mão aquele “aaaaaaaaaa” de um orgasmo. Por sorte, aquele dinheirinho velhaco que Sehun gastou pra comprar dois pares de fones de ouvido e usar quando Baekhyun inventasse de jogar LoL estavam tendo um bom uso em momentos como esse.
Sehun também quase disse o nome de Kim Jongin, o rapaz que vez ou outra via Baekhyun de conversa e risinhos no campus e apostava que eles tinham um tipo de amizade colorida que estava deixando Baekhyun cheio de tesão nas madrugadas. No entanto, preferiu ficar de bico fechado e sorrir amarelo.
– Tô com saudade de beijar na boca, Sehun – Baekhyun continuou e Sehun não soube o que fazer além de ficar ali parado, sentindo os olhos do mais velho devorando seus lábios. – Beijar bem aqui. – Levou um dedo para a região úmida e com gosto de cerveja no rosto de Sehun. – E aqui, aqui, aqui, e mais aqui. – O dedo viajou pela bochecha, o lóbulo da orelha, descendo pelo pomo de adão e escorregando para o mamilo de Sehun escondido atrás da regata. – Ah, aqui também. Encher de beijos. – O dedinho de Baekhyun escorreu do peito de Sehun e foi bem ao centro da calça de moletom.
Sehun nem respirou fundo dessa vez; o ar tinha sumido, e percebeu que estavam muito, muito próximos um do outro, lado a lado.
– Você só acha que precisa – se viu dizendo, forçando na voz um tom brincalhão.
Baekhyun balançou a cabeça e seus cabelos avermelhados, que precisavam de um corte, estando já na orelha, balançaram.
– Eu quero do fundo do coração. De verdade.
– Deveria ligar pro Jongin – Sehun falou baixinho, desviando o olhar de Baekhyun, este que soltou um risinho.
– Jongin é meu amigo e não quero foder com ele.
De olhos meio esbugalhados e vendo o sorriso de Baekhyun, Sehun se colocou de pé num pulo.
– E aquele artigo do jornal da universidade, hein? – questionou. – Não tem que terminar até meia-noite?
– Eu tenho? – devolveu preguiçoso, fitando o mais novo com uma sobrancelha arqueada. Sehun encarou o chão por um segundo, enquanto Baekhyun se aproximava. O mais velho ergueu o rosto de Sehun com o dedo, mordendo o lábio ao encontrar as bochechas alheias mais rosadinhas. – Okay, colega de quarto. Vou terminar o artigo e você limpa tudo aqui.
Embora não tivesse enchido o chão de latinhas e pacotes de salgadinho sozinho, Sehun não reclamou. Achou melhor limpar tudo o mais depressa possível, ouvindo Baekhyun cantarolar de frente para o laptop uma música romântica que dias atrás estava tocando na rádio – quero te beijar, quero te abraçar, te desejo noite e dia, quero me prender todo em você, você é tudo o que eu queria, você é tudo o que eu queriaaaa. Suas bochechas ficaram mais ardidas ao ouvir esse trechinho da música.
Depois de arrumar o dormitório, Sehun empacotou na sua cama, virou de costas para Baekhyun e meteu nas orelhas o par de fones de ouvido para que aquela voz enrouquecida e um tanto que bêbada (também muito gostosa de ouvir) do colega de quarto não fizesse, sem querer, que umas imagens bobas invadissem seus pensamentos.
Não adiantou de muito, porém. Mas aquilo era culpa do álcool, não? Por que sonhar em estar beijando o colega de quarto e fazendo outras coisinhas mais que não envolviam roupas no corpo só podia ser culpa de todo aquele álcool. Só podia.
Só podia.
Não é?
[...]
Colega de quarto: um estado de espírito, uma definição
co.le.ga de quar.to; substantivo masc. e fem.; aquele (a) com quem se vai dividir um lar ou inferno, quem sabe; parceiro em algumas horas; camarada em outras; brother (ou sister) quando a dificuldade bater; em muito dos casos, sua Nêmesis da cama ao lado; sujeito da frase “pra baixo todo colega de quarto ajuda” ou o objeto de “atura ou surta; a alma caridosa dona de um pacote de miojo extra. Aquele (a) que você mais odeia em alguns momentos, mas que também, sem querer querendo, vai terminar amando demais no fim das contas do jeitinho que for (barulhento e todo o resto). Ou não.
O falatório da mesa do refeitório da universidade estava alto, mas Sehun se encontrava alheio ao assunto – Kyungsoo, um veterano do curso de História, ia dar uma pausa na universidade para se alistar no exército e cumprir a obrigação o quanto antes, deixando assim sua namoradinha, Chanyeol, sozinha durante praticamente três longos e malditos anos. Nenê consolava a moça, que era sua colega de quarto, enquanto Sehun ficava ali com a cabeça nas nuvens, bem puto, pensando que queria matar Baekhyun. De novo.
– O que o ridículo do Byun fez dessa vez, além de roubar seu coração, pra te deixar virado no jiraya? – Irene perguntou, tirando o amigo da própria bolha.
Sehun suspirou, porque suspirar era o que mais fazia quando o assunto envolvia Byun Baekhyun.
– Existir pode ser uma opção? – respondeu irritado, mas logo se arrependeu disso, porque nas condições que Baekhyun chegara de madrugada, olho roxo, lábio cortado, talvez alguns dentes importantes faltando e o resto do corpo fodido foi quase como deixar de existir por conta de ir bancar o jornalista mexeriqueiro dado a detetive.
– É o que dá juntar Áries com Gêmeos – Irene sussurrou para Chanyeol, esta que aquiesceu como se fosse a explicação para tudo.
– O que importa é o coração, não é? – a moça mais alta respondeu de volta e as duas soltaram risinhos cúmplices que fizeram Sehun suspirar e sair da mesa todo resmungão, dizendo que não dava para aguentar essas mulheres e seus signos.
Mas, sinceramente, Baekhyun era uma senhora de uma anta. Não era possível. Será que não dava pra ser como qualquer jornalista por aí e escrever um livro? (Baekhyun insistia toda vez pra Sehun que a obrigação de escrever algum livro era do pessoal de Letras). Ou continuar na paz com a estação de rádio universitária onde passava as notícias e colocava umas musiquinhas top de linha para ouvir de boa? Ele queria ser locutor de qualquer jeito. Mas nãããããããão. Tinha que sair por aí bancando o Batman de Seul na versão de bolso. Ficava jogando LoL que dava menos prejuízo e não matava Sehun do coração, passando a noite toda perguntando se o ordinário estava bem.
– Ainda dói? – perguntou ao mais velho no meio da madrugada, aplicando um pouco daquela pomada nas costelas que cheirava mentol e tirava a dor do corpo.
– Um pouco – resmungou de volta, fechando os olhos quando Sehun passou o dedo no local bem devagarinho. – Mas se você der beijinho pra sar– Ai, seu bruto! – Baekhyun reclamou após ganhar de Sehun um murro bem no ombro que também havia sido vítima do espancamento. – Vem ser bruto comigo assim na cama, não onde tá machucado.
Sehun revirou os olhos, mas passou a pomada com um tantinho a mais de carinho.
De verdade, era uma relação estranha a deles, como qualquer relação entre colegas de quarto. Aquela mistura saudável de amor e ódio. Talvez mais amor do que ódio. Os dois se davam bem em alguns momentos, enquanto em outros estavam se matando com o olhar e grunhindo pelo dormitório como dois cães carniceiros, especialmente em semana de prova.
Sehun vivia querendo matar Baekhyun por alguma coisa; o rapaz sinceramente lhe tirava as paciências e a auréola de santo padroeiro. Baekhyun, por mais incrível que soasse, era o mais organizado e responsável – menos quando saía de trás do microfone da rádio pra bancar a Louis Lane da justiça por aí –, já Sehun... Organização não era lá muito a sua praia; vivia deixando toalha molhada em cima da cama, uma roupa jogada de qualquer jeito no guarda-roupa e ele só era responsável em algo que envolvesse dinheiro, então Baekhyun penava pra manter o quarto arrumadinho.
Em consequência ao convívio, nem tudo eram flores no dormitório.
Uma vez mesmo Baekhyun estava puto. Tudo tinha dado errado no seu dia. As aulas, o trabalho que entregou ao professor, aquela entrevista de emprego numa estação de rádio que foi fazer, Jongin e ele haviam discutido e o resto do dia foi uma ladeira de desgraça. Quando Sehun chegou do trabalho, também meio puto, porque as coisas não foram legais no decorrer do dia, tentou puxar um papo saudável com Baekhyun, mas levou um baita de um coice desnecessário que o fez chorar baixinho debaixo do chuveiro perguntando por que fazia tudo errado.
O dormitório ficou naquele climão. Silencioso. Os dois se evitando, olhares curtos e gelados, Sehun dormindo de costas para Baekhyun do seu lado da cama e Baekhyun se sentindo um cu de gente do outro não tendo ânimo nem pra jogar LoL. Mas foi Baekhyun dar uma tosse que Sehun se preocupou e se esqueceu daquele coice épico seguido do vai se foder.
– Pra mim? – falou a si mesmo quando chegou do trabalho e encontrou dois objetos em cima da sua cama.
Baekhyun saiu do banho nesse tempo, tendo o cabelo molhado e a toalha pendurada no pescoço para secar os fios. Sehun o encarou com o olhar confuso e Baekhyun baixou os olhos para o chão por um momento.
– Me desculpa – pediu sincero. – Por ter sido um idiota contigo noutro dia.
Sehun aquiesceu, porque conseguia entender que a vida gostava de cagar nas pessoas e deixar tudo ruim. Compreendia o mau humor, aquele sentimento de derrota, a tristeza disfarçada de irritação. Era normal a gente surtar e acabar explodindo naquele outro que não tinha nada a ver com a situação. Baekhyun teve um dia ruim e acabou descontando em Sehun sem que ele merecesse, então não custava ser o polo mais paciente e entender o lado do outro.
– Urso de pelúcia e donuts? – perguntou. Baekhyun deu de ombros e mostrou um sorrisinho amarelo. – Isso parece mais um pedido de namoro do que de desculpa, sabe – tentou brincar. Não gostava de ficar daquele jeito com o colega de quarto, como se fossem dois estranhos dividindo o lugar, era desconfortável e triste à beça.
Baekhyun alargou o sorriso.
– Posso ficar bem mal-acostumado se vier com essas coisas toda vez que pedir desculpa – Sehun continuou.
– Posso pedir em namoro também, que acha? – Baekhyun entrou na brincadeira, vendo Sehun rir.
– Ursinho e donuts toda semana, seria esse meu sonho?
– Se isso fizer você feliz, não me importo de ser um universitário mais pobre – Baekhyun respondeu. – Quem sabe um dia você diz que quer seu meu namoradinho.
Sehun riu baixinho e abraçou o urso de pelagem escura; tinha o leve aroma do perfume gostoso de Baekhyun e era tão macio, de um tamanho bom pra agarrar no meio da noite naquela carência e dormir agarrado. E os donuts tinham seus sabores favoritos, cobertos com aquele glacê colorido e brilhoso, a camadinha açucarada por cima naquela massa frita e crocante.
Sehun se viu sorrindo bobo para Baekhyun e aquilo significava que as coisas haviam voltando ao normal.
– A esperança é a última que morre – disse passando por Baekhyun a caminho do banheiro.
– Não me deixe morrer sem ganhar uns beijos! – o mais velho gritou do quarto quando Sehun se trancou dentro do cômodo.
É... Definitivamente tudo tinha voltado ao normal.
[...]
v. Peça com jeitinho ao seu colega de quarto.
Baekhyun sabia que tinha um hábito muito do estranho quando jogava League of Legends.
Junmyeon e Jongdae, dois dos seus melhores amigos que costumeiramente o acompanhavam nessas partidas do jogo online, viviam reclamando daqueles seus gritinhos de bom perdedor e dos seus chiliques com direito a uns gemidos dignos de um filme pornô barato, embora Baekhyun retrucasse que Junmyeon dava vários pitis também e que Jongdae gritava mais que tia no parto quando perdia ou conseguia derrubar alguém do time inimigo, então ninguém tinha direito de enfiar o dedo na sua fuça e julgar. Era algo que não conseguia evitar; quando reparava... Ops! Já tinha saído.
Mas desde que Sehun tomou coragem em falar as coisas na cara de Baekhyun, o mais velho passou a receber algumas correções quando estava no ápice de uma quase vitória no jogo e soltava os tais sons até sem perceber, por força do hábito. Os pedidos gentis para que Baekhyun se controlasse variavam com muita frequência.
– Geme mais baixo, Baekhyun.
– Jogue a porra desse jogo de virgem mais baixo, Baekhyun.
– Dá pra abaixar o volume do pornô aí, por favor?
– O filme de terror acabou ou tá difícil? Como que grita, pelo amor.
– Cala a boca.
– Fecha a matraca, hyung.
– Não vai dormir, não?
– Meus tímpanos estão pedindo arrego com esses berros.
– Mais um pio e eu te chuto dormitório afora. Com carinho, é claro.
Em dias bons, Sehun só suspirava e pedia que Baekhyun não gritasse muito mais alto do que a música em seus fones de ouvido, então se ajeitava na cama e dormia. Às vezes, Sehun nem falava nada e Baekhyun sabia que a) ele não se importava se gritasse ou gemesse ou b) algo não estava bem, por isso fazia o mínimo de barulho possível.
Naquela noite, no entanto, Baekhyun estava se preparando pra jogar com o pessoal que tinha reunido para uma partida. Iria ser massa, porque junto do seu Assassino, o Mago de Jongdae e o Atirador de Junmyeon, haviam chamado mais um Assassino, três Tanques, outro Mago, dois Lutadores, e meia dúzia de Suportes. A equipe de Baekhyun estava completa como sempre sonhou e teriam uma batalha daquelas de durar a madrugada inteira, já que Sehun pegou uma folga de todos os seus meios trabalhos e saiu para um encontro que talvez durasse o resto da noite.
Quando Sehun contou que um cara do curso de Engenharia o chamou pra sair, Baekhyun ficou sem reação.
– Você vai?
– Acha que eu devo ir?
Baekhyun franziu o cenho.
– Você quer?
– Você quer? – Sehun devolveu e Baekhyun não soube o que dizer, não esperava aquela pergunta.
Mas quando viu Sehun sair do dormitório todo bonitinho com os cachinhos escuros meio úmidos, cheiroso, e com os jeans justos, bateu aquele sentimentão de arrependimento em não ter dito nada naquele instante quando ele perguntou o que Baekhyun queria e nos dias seguintes quando estavam juntos no dormitório e a noite do encontro se aproximava. Baekhyun ficou chateado. Puto também. Dizer enciumado seria exagero? Por isso não pensou duas vezes em afogar as mágoas jogando LoL com os amigos.
Enquanto Baekhyun ajeitava alguns itens do seu Campeão, Sehun chegou. Ele observou o rapaz mais novo tirar os sapatos, colocar a sacolinha do BK na poltrona que tinham perto do guarda-roupa – sério que o cara o levou ao BK? Tipo... No lugar que ele trabalha todo dia? – e trocar de roupa, no qual Baekhyun meio que segurou a respiração ao ver o Oh pelado, ficava sempre desse jeito. O jeans apertado deu lugar a uma calça de moletom folgada e Sehun ficou sem camisa, porque seu queridíssimo colega de quarto gostava demais das suas camisas ao ponto de roubar todas.
– Como foi? – Baekhyun perguntou, sentado na cadeira de rodinhas do computador.
– Estranho – contou.
– Estranho por quê? O bocó te fez alguma coisa?
Sehun riu, negando.
– Ele não era a pessoa que eu queria sair.
– E você queria sair com quem?
O mais novo se limitou a olhar Baekhyun com profundidade e em silêncio, e foi o suficiente para que ele se visse um tanto que quente e sorrindo à toa.
– Vai jogar? – Sehun apontou para a tela do laptop de Baekhyun.
– A gente montou uma equipe! – disse animado. – Você devia entrar e jogar comigo – continuou e fez um biquinho para Sehun em uma de tantas tentativas de convencê-lo a fazer uma conta e se divertir um pouco. O mais novo negou com um sorriso, como sempre. – Prometo que não vou fazer barulho hoje.
– Ah. Mas e se hoj– Sehun começou e se calou abruptamente. Só havia tido uma ideia boba que queria realizar depois daquele encontro.
Sentado na cadeira de rodinhas do computador, Baekhyun deslizou até para perto de Sehun.
– Mas e se hoje? – provocou. O rapaz balançou a cabeça e Baekhyun prendeu Sehun no meio de suas pernas não tão longas, passando os braços ao redor da cintura dele. – Se não falar, não vou soltar você. – E apertou os braços um pouquinho mais em volta do quadril ossudo de Sehun, exibindo um sorrisinho. – Solta a língua, cachinhos.
O universitário ficou naquele diz-não-diz, dando uma mordidinha no lábio e sentindo os braços de Baekhyun em sua cintura. Soltou uma risada alta quando o mais velho enfiou o rosto na sua barriga e fez aquele barulho de pum ao colocar a boca na pele.
– E se hoje... – começou lento –, a gente... Tipo, ficar junto? – disse e logo se colocou a acrescentar: – Pra ver um filme. Passar o tempo, essas coisas – falou. – V-você me dar carinho – finalizou mais baixo.
– Carinho? – Baekhyun repetiu com a sobrancelha arqueada.
– Sua obrigação de colega de quarto é me dar carinho.
Baekhyun aquiesceu divertido.
– E eu ganho o quê?
– O que você quer ganhar?
– Um beijo. – Para finalizar, Baekhyun fez um biquinho adorável para o mais novo.
Sehun sentiu o rosto arder e o coraçãozinho bater como um louco. Quis matar Baekhyun naquele instante, mas era de amor.
Abriu um sorriso tímido e baixou o rosto em direção ao do mais velho, colando a sua boca na dele. Foi um daqueles beijos simples, sem nada de saliva e os dois tirando a roupa como Sehun imaginou tantas vezes, com direito a um Baekhyun em choque e de olhos abertos. Típico de um primeiro beijo.
– Seu beijo – Sehun resmungou e se afastou sem jeito do mais velho, indo se esconder debaixo das cobertas da sua cama em completa vergonha.
Em choque, Baekhyun continuou sentado na cadeira por uns minutos antes de cair em si e perceber o que tinha acontecido.
– Droga, você me beijou – falou para si mesmo. – Ai, caramba, você me beijou mesmo – falou mais alto, sorrindo. – Se eu soubesse que isso podia acontecer, devia ter pedido dois beijos. Não, melhor, devia ter pedido todos! – soltou afetado, com a mão no peito. – Posso pedir de novo?
Da cama, Sehun se limitou a responder:
– Vai jogar Baekhyun.
– Não até você me dar mais um beijo.
E largando a noite de LoL com os amigos para lá, Baekhyun se enfiou debaixo da coberta junto de Sehun e roubou daquela boca, a qual sempre quis se acabar de amores, todos os beijos do mundo.
[...]
vi. Caso nada dê certo no final das contas, junte-se a ele.
– e isto significa que seu colega de quarto não tem mais salvação e que você está bem ferrado.
Baekhyun conversava com os amigos naquele dialeto alienígena de LoL através dos fones de ouvido.
Era um tal de blind daqui, power spike agora, taca o Ward aí nesse canto do mapa, match up com fulano, peel no ciclano ali do lado, me tacaram um debuff do caramba, a gente vai dar um backdoor agora custe o que custar, vai pra tal lane, perdi dois farms e mais umas palavras estranhas que Sehun, sinceramente, não entendia bulhufas. Mas era engraçado de se observar. Baekhyun falava quase o tempo todo como uma matraca, resmungava coisas para si mesmo, daí do nada ficava em silêncio bem concentrado na tela do computador e só se ouvia os clicks-clicks do mouse no tablado da mesa. Começava a rir do nada e a comemorar ou falar palavrões e ficar bem puto, gritar e gemer daquele seu jeitinho costumeiro.
Na cama ao lado, com um livro de mistério aberto que nem estava mais lendo, Sehun sorria à toa achando interessante o suficiente pra se sentir animado em querer jogar também. Afinal, Baekhyun vivia tentando convencê-lo a jogar e dizendo que era legal e que seria divertido à beça.
– Ei, Bae – chamou com carinho. O mais velho desviou os olhos da tela por um segundo e lhe encarou. – Me ensina a jogar?
Não havia luz para descrever o tanto que o sorriso de Baekhyun brilhou ao ouvir aquelas palavrinhas. Abandonou os amigos e puxou Sehun para o seu lugar, sentando-se ao seu lado para ajudar a criar uma conta e escolher seu Campeão. Baekhyun era um bom professor em mostrar o que fazer, explicar as gírias e ensinar como mexer no inventário, como subir as habilidades, como se sair bem na primeira partida. Ele estava sempre ali do lado de Sehun com a boca muito próxima, sussurrando coisas – faz assim, ó ou desse jeitinho, Hunnie; bom garoto, fez direitinho; que kill bonito; hmmmm, quase lá, bebê ; aaaaa; aish, quer tentar de novo?; vem cá que te mostro como faz; muito bom.
Sehun acabou beijando Baekhyun em um desses momentos, metendo para dentro da própria boca aquela língua que teve o prazer de chupar.
– Posso saber o porquê desse beijo gostoso, uh? – O mais velho tinha a boca avermelhada pela troca de carinho de segundos atrás, e deixou uma bitoquinha nos lábios de Sehun.
– Só fiquei com vontade.
– Bom, eu com certeza não vou ligar se você me encher inteiro dessa sua vontade.
– Se continuar gemendo na minha orelha daquele jeito, talvez isso aconteça mesmo.
– Daquele jeito como? – Baekhyun perguntou rouco. – Assim? – E sua boca mordiscou o lóbulo da orelha de Sehun antes de começar a repetir os sons que tinha feito mais cedo sem que se desse conta.
A pele da nuca de Sehun automaticamente se arrepiou ao ouvir tão de pertinho, de modo mais provocante, aqueles gemidos que passou tanto tempo escutando Byun fazer enquanto jogava League of Legends no meio da madrugada.
Como se não bastasse fazer uma sessão sonora bem pornográfica ao pé do ouvido de Sehun, Baekhyun prolongou aquela tortura com beijos úmidos que desceram da orelha do maior para a curva do seu pescoço, ficando ali por um tempo nas clavículas ossudas do rapaz.
Então os dois se olharam em silêncio.
Desde que começaram a trocar beijos e a se enroscarem debaixo do edredom na mesma cama em afeto, não foram muito além de uma mão boba, Baekhyun provocando e uma camisa jogada no chão. Mas Sehun realmente queria alguma coisa a mais naquele momento e Baekhyun com certeza tinha um volume a mais criando vida dentro do moletom, local este em que o Oh tocou e viu o mais velho suspirar extasiado.
– Fica mais gostoso sem roupa – Sehun se viu sugerindo e Baekhyun o encarou sorrindo de canto.
– Então vem tirar.
Foi adeus ao LoL.
Sehun puxou Baekhyun pelo cós do moletom e o ajudou a tirar a blusa, que entalou em sua cabeça e gerou uma crise de riso e quase o uso de uma tesoura para cortar o nozinho do cordão que havia para ajustar o gorro – quem mandou ter um cabeção?; Você vai ver meu cabeção daqui a pouco, Oh Sehun. Depois da blusa, foi-se embora a camisa e todo o resto, ficando como único item aquele de tirar por completo a roupa de Sehun. Em menos de um segundo, Sehun estava nu tal como veio ao mundo, caindo na cama de Baekhyun com ele em cima de seu corpo.
O atrito do corpo de Baekhyun contra o de Sehun gerou um longo e profundo suspiro da parte de ambos, logo dando lugar a um beijo molhado que rendeu outro e mais outro e mais outro com bastante saliva, mordidinha no lábio e olhares apaixonados antes de mais outro beijo começar. Enquanto isso, as mãos de Sehun passeavam por Baekhyun, descendo e subindo em suas costas, às vezes arranhando a derme bem devagarinho com as unhas, às vezes acarinhando os quadris, às vezes se aventurando por descer em timidez ao traseiro e apertando a carne macia, impulsionando-o contra a sua ereção ardida no meio das pernas.
Baekhyun, provocando com leves reboladas o baixo-ventre do mais novo, abandonou a boca de Sehun e começou a deixar beijinhos úmidos por seu corpo. Demorou-se bem ali no pescoço afilado do rapaz, judiando e maltratando com carinho. Chupou a clavícula com delicadeza e fez caminho ao peitoral de um trabalhador de fast food, enchendo de atenção toda aquela região. Meteu na boca o mamilo rosado do rapaz e chupou, raspando os dentes com cuidado. Então partiu ao outro, fazendo a mesma coisa.
Na medida em que a boca de Baekhyun desceu um pouquinho mais ou que Sehun e ele não passassem de um amontoado de pele, suor e beijos, aquele dormitório tornou-se barulhento – de amor, tesão e orgasmos – como nunca foi.
(não demoraram a bater na porta e pedir que dessem uma abaixada no volume do pornô.)
[...]
Naquela vida de ter um colega de quarto, Sehun podia concluir que eles eram com certeza uns pestes quando queriam. Às vezes pestes do tipo que furtam suas camisas do guarda-roupa na maior cara dura e te acordam no meio da noite com barulhões estranhos. Noutras, são do tipo que te enchem de beijinhos de madrugada e vários sussurros dengosos no ouvido. Para a felicidade de Sehun, Baekhyun era uma versão de ambos. Ou melhor, tinha passado a ser muito mais do que um colega de quarto empesteado, porque acabou dizendo “sim, eu quero ser seu namorado, Bae” quando o mais velho pediu numa madrugada dessas de tantos beijos e carinhos.
Se ainda brigavam? Sehun continuava bagunceiro e Baekhyun insistia em fazer coisas que deixavam o coraçãozinho do Oh batendo de desespero nas costelas. Mas sempre que se reconciliavam, Sehun realmente agradecia por ter caído naquele clichê de ter se apaixonado por seu colega de quarto e tudo ser recíproco (felizes para sempre, que assim seja). E ainda jogando League of Legends juntos! Porque é aquele ditado: casal que joga LoL junto, permanece junto. Amém? Amém.
E era o que pretendiam fazer no início daquela noite. Tudo estava pronto: os petiscos, a água, os computadores. Sehun fazia os últimos ajustes em seu Campeão, quando se lembrou de algo.
– Baek – chamou.
– Hm? – o namorado respondeu.
– Lembra que você me chamou de bom garoto da outra vez? – falou.
Claro que Baekhyun se lembrava, Sehun tinha conseguido derrotar todos os monstros que entraram em seu caminho no jogo sem sua ajuda, usando as habilidades corretas do seu Campeão e nem quase sofrendo muitos danos.
– E daí?
Sehun deu uma risadinha, virando sua cadeira de frente para o namorado.
– Chamou de bom garoto – Sehun inclinou-se na direção de Baekhyun, beijando-lhe o queixo bem devagarinho –, tem que recompensar.
Baekhyun sorriu de imediato e prometeu que iria recompensar Sehun a noite inteira. E cumpriu, é claro.
17 notes
·
View notes
Text
17 - #38 Um belo (bem) adormecido
Título da fanfic: Um belo (bem) adormecido
Sinopse: Sehun só queria se declarar para Jongin, mas descobriu que iria precisar de muito café, para ajudar seu irmão a parar de roncar, e finalmente o belo adormecido conseguir ter uma noite de sono decente. Assim, finalmente Sehun e Jongin poderia conversar.
Couple: SeKai
Número do plot: #38 Depois de várias semanas indo à biblioteca do colégio apenas para observar Kim Jongin, Sehun finalmente cria coragem para falar com ele. Mas como ele iria começar uma conversar com o seu crush, se ele estava sempre dormindo?
Classificação: Livre
Aviso: -
Quantidade de palavras: 4106
"De onde vinha tanto sono?"
Essa era a pergunta principal que perturbava a vida de Oh Sehun quase todos os dias quando ia à escola. Ele queria saber o porquê de Kim Jongin, o garoto do terceiro ano por quem ele tinha um ABISMO DE PAIXÃO, estar sempre tirando um cochilo na biblioteca.
Eles não estavam na mesma sala e isso dificultava ainda mais as coisas. Se ao menos fosse o contrário, Sehun teria a oportunidade de puxar uma conversa ali, outra acolá, e ao se aproximar do rapaz conseguiria enfim saber se tinha chance ou não.
Só que infelizmente, Jongin era de outra turma e, para piorar a situação, estava sempre DORMINDO. Sim! Ele não podia ver uma parede, uma cadeira... Se apoiasse em qualquer lugar: BAM! Caía ali mesmo. Todas às vezes que Sehun entrara na biblioteca na tentativa de confessar para seu eterno CRUSH, encontrara o mesmo dormindo.
Óbvio que foram apenas TENTATIVAS (se é que podemos chamar de tentativas, visto que ele sempre desistia na hora H). O que também não fazia diferença, visto que Jongin estava sempre jogado num canto, cochilando de todos os jeitos engraçados e possíveis do mundo (e com um rostinho de bebê que fazia Sehun se apaixonar mais e mais). Só restava então observá-lo por entre as prateleiras preenchidas por dezenas de livros.
Sehun não conseguia controlar as risadinhas (era realmente impossível). Como alguém conseguia dormir tanto? E em qualquer lugar? O bom era que Jongin dava conta das matérias e tirava notas boas, afinal dormia tanto no tempo vago que não sentia um pingo de sono durante as aulas.
Na volta pra casa, Sehun sempre torcia para que o menino sonolento caminhasse pela mesma rua que ele. Entretanto era claro que nada daquilo aconteceria.
Sehun sabia que Jongin era cheio de amigos, chegando a ser bem popularzinho no terceirão. Provavelmente o rapaz ficava até mais tarde na escola zoando com os colegas antes de voltar pra casa.
O menino balançou a cabeça em reprovação ao estar pensando no belo adormecido mais uma vez. Ele mal conseguia chegar perto do moreno pra trocar duas palavras.
Naquele dia, ao chegar em casa, se deparou com um caminhão de mudança parado em frente a uma das casas vizinhas.
"Vizinhos novos", pensou; desanimado.
Desanimado, porque sabia que sua mãe o obrigaria a se socializar, algo que resultaria em ele bancando o "bom vizinho que dá as boas vindas aos novos moradores da rua". Com certeza sua mãe faria um bolo e se ele se recusasse a levar o doce até os novos vizinhos, ela o ameaçaria dizendo que ele teria que arranjar trabalho para pagar as aulas de dança.
Ou seja: não havia saída para Oh Sehun.
Entrou em casa, e jogou-se no sofá enquanto a mochila ficou em um canto da sala (ele já sabia o que estava por vir).
- Você viu que temos novos vizinhos? - A mãe de Sehun falou sorridente, caminhando da cozinha até ele.
- É. - Respirou fundo. - Infelizmente.
- Ora, não seja bobo! É uma ótima oportunidade de fazer amigos. - Ela disse, sendo acompanhada pela voz do filho que já havia decorado aquela última frase, sempre usada em situações parecidas com a mesma.
- Eu já sei disso... Nada de novo sob o sol. - O menino revirou os olhos. - O almoço vai demorar? Acho que vou subir e tirar um cochilo.
- Teve um dia ruim? - A mãe perguntou, deixando sua preocupação com o filho aflorar.
- Como eu já disse: nada de novo sob o sol. Vou subir... Se precisar, me chame. – Respondeu; sucinto e desanimado, subindo para o quarto logo em seguida.
De fato, havia algo que desanimava o menino, e esse fato era a sonolência de Jongin. Não realmente a sonolência, e sim a impossibilidade de encontrar Jongin acordado na hora H em que ele queria se declarar, ou ao menos se aproximar.
Será que Sehun teria que colocar Red Bull no café do belo adormecido para enfim conseguirem conversar?
Não que fosse algo que ele ainda não tivesse cogitado, até porque Oh Sehun era mestre em buscar possibilidades.
Abriu a janela para observar o vai e vem dos carros na rua, além do caminhão de mudança ainda parado na casa em frente a sua. De repente, outro carro chegou buzinando, parando perto do caminhão.
Oh Sehun não conseguia crer no que seus olhos viam.
Kim Jongin.
Na sua rua.
Indo em direção à casa dos moradores novos.
E mais surpreendente:
Acordado.
Sehun balançou a cabeça, rindo de sua última conclusão idiota e rezando pra que não fosse Jongin o novo morador da vizinhança.
Voltou para dentro do quarto um tanto quanto sorridente, uma parte de si entrando em colapso ao tentar compreender o acontecimento.
"Talvez se ele for o meu novo vizinho, não vai ser tão ruim assim."
- Idiota. É claro que vai. - Sehun bateu com a mão na testa, tentando se convencer de que não havia chance nenhuma daquilo ser possível.
Bufando inconformado sem saber muito bem o exato motivo, ele jogou-se em sua cama para enfim tirar um cochilo.
O sono resolvia tudo.
Ao menos nos sonhos Sehun conseguia falar com Jongin sem se sentir amedrontado.
Depois de um cochilo bastante profundo, com Sehun tendo pesadelos com os bolos que sua mãe o obrigava a levar aos vizinhos novos, ele acordou.
Desceu as escadas ainda atordoado pelo sono (afinal, bolos gigantes o atacaram em seus sonhos) e sentou-se em frente à mesa da cozinha para enfim se alimentar.
- Conseguiu dormir bem? - a mãe do ainda sonolento Sehun perguntou enquanto colocava a comida sob a mesa.
- Um pouco. Pesadelos... - Ele respondeu, desanimado, mas escondendo o fato de que na verdade os bolos de sua mãe o amedrontaram durante o sono.
- Então trate de se animar! Fiz um bolo e preciso que leve até a casa dos vizinhos novos.
Sehun abaixou os ombros batendo voluntariamente a testa na quina da mesa, porque aquele sim era um pesadelo vivo. Um pesadelo muito real.
E lá foi ele até a casa dos novos vizinhos, segurando o bolo um tanto quanto nervoso e chateado. Não queria estar fazendo aquilo. Só queria voltar pra casa e pensar num jeito de conversar com Jongin.
Foi então, no exato momento em que Sehun estava prestes a dar batidas fortes na porta - visto que já havia tentado a campainha um bilhão de vezes e ninguém havia atendido - que ele sentiu um cheiro forte de queimado. Imaginou que alguém estava a cozinhar algo ali por perto, mas o cheiro estava forte demais e só havia um palpite certeiro que poderia explicar aquilo tudo.
"Saíram e deixaram algo no fogão. Ótimo." Ele pensou. "Logo o primeiro dia deles aqui na vizinhança e o que querem? Causar algum incêndio?"
O menino tinha algumas opções: voltar pra casa e contar para sua mãe que havia algo de estranho, ou tentar ele mesmo resolver as coisas.
"Se eu voltar com esse bolo é capaz dela me atirar de casa junto com ele na cara."
Para evitar mais estresse, resolveu tentar ajudar de alguma forma. Quem sabe se desse sorte, ele entraria facilmente por uma janela e salvaria o que quer que fosse que restasse da receita dos vizinhos.
Esgueirou-se pela lateral da casa a fim de procurar alguma forma de entrar na mesma sem parecer que estava querendo roubá-los, e sim livrá-los de um problema maior.
Quem em sã consciência sai de casa e deixa o fogão ligado?
Bom, alguém bem esquecido ou desatento. Foi o que Sehun concluiu.
Por sorte, ou mais uma vez por descuido dos vizinhos novos, - "O que é que eles querem? Convidar ladrões pra casa deles?" – Sehun encontrou uma janela totalmente aberta que dava para a cozinha, e ao que parecia, não havia nada cozinhando no fogo. Entretanto, o cheiro de queimado ainda pairava no ar.
O rapaz olhou para os dois lados a fim de se certificar de que não havia ninguém o observando, jogou o bolo para uma mesa que havia logo abaixo do parapeito da janela e se jogou logo em seguida, caindo do lado de dentro da casa.
Deu uma geral com o olhar no local e parecia estar mesmo vazio, sem nenhum indício de movimentação.
Foi em direção ao fogão e abriu o forno, colocando o braço em frente ao rosto, precavendo-se de uma possível explosão bem em sua cara.
A fumaça tomou conta do local e Sehun quase ficou sufocado, mas assim que conseguiu enxergar direito sorriu com a surpresa que encontrou na bandeja.
Frango.
Um frango tanto quanto queimado naquele momento.
E ele sabia bem quem amava frango mais do que sua própria vida.
Kim Jongin.
Observar Jongin na biblioteca durante um ano inteiro dera a Sehun grandes habilidades.
Uma delas era saber sem nem precisar perguntar (já que ele tinha vergonha e perguntar algo a Jongin estava fora de cogitação) quando sua paixão platônica havia comido frango.
O humor de Jongin sempre mudava, e é claro que sua camisa ficava cheia de farelos do famoso frango frito do KFC, o qual ele também sabia que era um dos fast food favoritos do dorminhoco.
Sehun balançou a cabeça, afastando os pensamentos apaixonados - e um tanto quanto bobos - e pegou a bandeja, desligando o forno antes que explodisse.
O problema é que ele se esqueceu de que a bandeja estaria quente demais e acabou deixando-a cair no chão devido ao choque de sua pele com a temperatura infernal.
Sehun deu leves gritos de dor e correu para a pia na tentativa de lavar o dedo queimado.
- Quem tá aí? - uma voz que lhe parecia familiar e que até então não tinha dado o ar de sua graça, perguntou.
O menino com o dedo queimado congelou e naquele momento esqueceu totalmente sua dor ou o que quer que estivesse acontecendo. Não pensou duas vezes e correu, pulando a mesma janela pela qual havia entrado; correndo o mais rápido que podia naquele momento em direção a sua própria casa.
...
No dia seguinte, Sehun só queria sumir. Ou continuar dormindo o resto do dia ao menos para fingir que o dia anterior nunca existiu.
Mas é claro que sua mãe não permitiria. Não mesmo.
"Típico de mãe." Sehun pensou.
Na escola, o menino arrastou o corpo pelo corredor até a biblioteca enquanto os outros alunos corriam para a cantina. Era hora do intervalo e por isso o grande ânimo de todos aqueles adolescentes.
Ao chegar à biblioteca, Sehun não deu de cara com a figura sonolenta de Jongin sentada no puff encostado à parede. Estranhou um pouco, mas logo cogitou que o rapaz estivesse na cantina ou no pátio com seus amigos populares.
Mas por que seu sexto sentido e sua anteninha imaginária estavam mais alertas do que nunca?
- Você. - uma voz que lhe parecia familiar falou.
- Foi com você mesmo que eu sonhei ontem. – O Moreno colocou as mãos na cintura e analisou Sehun, que ainda se encontrava um tanto quanto nervoso de costas para ele.
Provavelmente devia estar bolando um plano de fuga para se livrar daquela situação totalmente embaraçosa que se envolveu sem querer querendo.
Dava para vê-lo ficando vermelho a quilômetros de distância.
- E então? Vai me deixar falando sozinho mesmo?
- N-não. - Finalmente Sehun disse algo, mesmo que com uma voz trêmula e nervosa. - É... Eu conheço você? – Tentou fingir que não conhecia o moreno.
- Claro que me conhece. Todo dia você vem aqui na biblioteca me espiar.
- Hã? - Então era aquilo... Jongin sabia de seu amor platônico e que ele o espionava.
- Não precisa ficar com medo. Tô só brincando. - Jongin riu, botando a mão atrás da nuca de uma maneira um tanto quanto acanhada. Era estranho para Sehun ver Jongin daquele jeito, ainda mais sabendo que ele era um garoto muito popular no colégio, despertando suspiros em muitas garotas ali (e em um garoto em especial, é claro).
- Eu sei, haha. - Sehun disse, fingindo estar brincando também. - É... Mas com o quê você sonhou?
- Você. E foi estranho, porque nem somos amigos, mas eu já te vi aqui na biblioteca algumas vezes.
É... Então quer dizer que Jongin também observava Sehun sem ele saber.
Em que momento do dia isso acontecia? Difícil saber já que em 90% das chances que Sehun tinha de vê-lo, o belo adormecido estava lá a cochilar.
- Mas você não lembra como foi? - Uma gota de suor frio desceu pelo rosto de Sehun. O medo de Jongin saber que foi ele quem "invadira" a sua casa era real. Bem real.
Ele podia estar simplesmente jogando os fatos para ver se Sehun se autodenunciaria.
- Só lembro de que quando acordei a janela de casa tava aberta e meu frango queimado... - Esboçou uma carinha triste em direção ao chão.
"Bom, ao menos você não foi uma vítima de incêndio." Sehun riu, pensando distante e se esquecendo de que ainda estava ali, no meio de uma conversa com sua paixão platônica.
- Do que é que você tá rindo? Cuidado que o próximo frango queimado pode ser o seu. - Jongin brincou, tentando chamar a atenção do novo colega.
- Duvido muito. Não sou muito fã de frango. – Sorriu.
- Ótimo... Ao menos assim, quando a gente sair algum dia, eu não precisarei dividir o meu.
Sehun riu com a possibilidade de sair com Jongin. Aquilo era algo distante para ele, mas só o gesto de Jongin em pensar que ele seria uma boa companhia para sair já o deixara feliz.
- Então... Você é do terceiro ano também né? - o amante de frango perguntou, impedindo a conversa de chegar a um fim.
- Sou, mas não sou assim TÃO popular quanto você. - Sehun revirou os olhos, zombando da popularidade de Jongin; reação que fez o mais velho rir.
- Ah, corta essa. Esse lance de popularidade tá ultrapassado. - Jongin respondeu, caminhando lado a lado de Sehun, já que a essa altura o sinal indicando o fim do intervalo havia tocado, e todos deveriam voltar à sala de aula. - Mas se sou tão popular assim, você não negaria uma ajuda a minha pessoa né? - Jongin rodopiou, aproximando o rosto do de Sehun, fazendo o mesmo dar alguns passos para trás com o susto.
- A-a-juda? Eu?
Sehun estava mesmo assustado com aquele pedido de Jongin, fora o fato do sorriso maravilhosamente perfeito do menino estar ali tão perto, e ele simplesmente não saber como reagir.
- Sabe o Chanyeol? Monitor da sala de mídia daqui do colégio? Então, ele ronca muito... Isso me atrapalha.
Naquele instante, uma pontada aguda atingiu o peito de Sehun. Como Jongin sabia que Chanyeol roncava? Por acaso os dois dormiam juntos ou coisa assim?
É... O dia havia acabado por ali.
- Atrapalha? - A dúvida brotou na feição de Sehun e ele queria saber como Jongin tinha contato com o ronco de Chanyeol.
- Você promete que não conta para ninguém? - Jongin aproximou ainda mais seu rosto do alheio. Seus olhos estavam esbugalhados e sua feição séria.
- Prometo.
- Chanyeol é meu meio-irmão. - Jongin soltou, esboçando descontentamento; seu rosto um tanto quanto cansado.
- E isso é ruim? - Sehun tinha de confessar que estava um pouco mais aliviado naquele momento.
- O problema é que Chanyeol ronca muito alto e por dividirmos o quarto fica muito difícil dormir. - Os dois saíram pelo corredor enquanto Jongin continuava a contar sua triste história de vida. - Já tentei de tudo, até mesmo dormir na sala.
Se nem dormir na sala estava adiantando, o ronco de Chanyeol não era alto: era praticamente uma turbina de avião.
E era mesmo.
Antes dos dois novos amigos se separarem para voltarem as suas respectivas salas de aula, combinaram de se encontrar na saída. Sehun havia prometido a Jongin que bolaria uma forma de parar o ronco estrondoso de Chanyeol, ou ao menos ajudá-lo a dormir sem ser incomodado.
Sehun ainda não havia contado que moravam na mesma rua e muito menos que havia ido à casa alheia no dia anterior entregar um bolo. Jongin só se deu conta de que os dois estavam indo pelo mesmo caminho quando já estavam quase de frente a sua casa.
- Mas e você? Onde mora? - Jongin perguntou; curioso.
E antes mesmo que Sehun pensasse em responder, observou a confusão se formar assim que viu sua mãe saindo da casa de Jongin enquanto acenava de volta para uma mulher que provavelmente era a mãe de seu vizinho novo.
- Sehun! Pensei que não chegaria cedo para o almoço. - Sua mãe sorriu; se aproximando dos dois colegiais.
Sehun estava bem encrencado.
Jongin olhou para Sehun sem entender nada, e sorriu ao se dar conta de que na verdade não havia sonhado, e sim estava sonolento demais para separar o que era realidade e fruto da sua imaginação.
- Mãe. - Sehun tremeu. - O que você tá fazendo aqui? - O menino afastou-se de Jongin e arrastou a mãe para o outro lado da rua enquanto entravam em casa.
- Ei, tchau! - Jongin acenou, gargalhando enquanto assistia aquela cena icônica.
Já em casa, Sehun não sabia se enfiava a cara no travesseiro ou se nunca mais saía de seu quarto, pensando em se mudar para o país mais distante da Coréia.
Mas ele não poderia fugir para sempre. Jongin estava contando com sua ajuda para a missão ‘ronco do Chanyeol’ e ele não costumava quebrar promessas. Só covardes faziam isto.
...
Quatro horas da tarde...
Sehun respirou fundo antes de bater na porta da casa de Jongin como haviam combinado antes da situação toda se tornar embaraçosa. Não demorou muito para o dono da casa - e também de seus pensamentos - abrir a porta.
- Oi. - Jongin sorriu. - A propósito, diga a sua mãe que o bolo estava ótimo.
Sehun queria bater em Jongin até ele achar que era um frango. O rapaz parecia sentir prazer em deixá-lo envergonhado.
- Não me lembre disso. Ou melhor, esqueça essa situação trágica e vamos ao que interessa. - Sehun respondeu, entrando na casa sem esperar ser convidado.
- Estou ansioso pra saber qual será o seu plano infalível pra fazer o Chanyeol dormir MUDO. - Jongin sorriu maliciosamente.
- Não tenho planos, mas tenho uma ideia que nunca falha quando preciso passar a noite estudando pras provas. - Sehun respondeu, sentando-se no sofá da sala.
- Café. - Os dois disseram ao mesmo tempo.
- Mas como vamos convencê-lo a tomar tanto café? Ele vai achar estranho. - Jongin fez um biquinho, como um bebê que estava prestes a chorar.
"Por Deus, como ele consegue ser tão fofo?" Sehun sorriu por dentro.
- Ei, pera aí! Chanyeol é um nerd desses com diploma e tudo, não é? - Sehun falou, lembrando-se das vezes em que foi até a sala de mídia da escola e notou o monitor sempre lendo livros sobre astrologia, quadrinhos, entre outras coisas do universo GEEK.
- É... Ele é um nerd que curte quadrinhos e coisas do gênero. Eu também curto, mas não sou tão viciado como o gigante. - Jongin cruzou os braços, encostando-se à parede.
- E se... - Sehun olhou distante, parecendo pensar em algo mirabolante. - Inventássemos que um meteoro vai passar bem pertinho da terra hoje à noite, e vai ser possível vê-lo daqui, da casa de vocês? - Sorriu maliciosamente, como nunca havia feito antes.
- É UMA ÓTIMA IDEIA! Só preciso garantir que ele não ligue a televisão ou procure sobre o meteoro na internet... Ele pode duvidar da veracidade disso.
- Pode deixar que disso eu cuido.
- Não conhecia esse seu lado malvado. - Jongin brincou.
- De fato nem eu.
Os dois caíram na gargalhada.
...
À noite, quando Chanyeol chegou do trabalho, Jongin e Sehun trataram de conversar sobre o tal "meteoro" que passaria bem perto da Terra. Chanyeol ativou seu modo nerd e fascinado por esse tipo de acontecimento e correu até a cozinha onde os dois garotos estavam, enchendo-os de perguntas.
- Meteoro? Mas a que horas será isso? - Os olhos do gigante brilharam ao fazer tal pergunta.
- Ah... Dizem que será mais ou menos a meia noite... Não tenho muita certeza. Por via das dúvidas, já vou me lotar de café, porque não quero perder nenhum detalhe. - Jongin falou, atuando tão verdadeiramente que, por um instante, Sehun começou a achar que ele iria mesmo se encher de café.
- Passa essa xícara pra cá que quem vai se encher de café sou eu! - Chanyeol tomou a xícara do irmão, bebendo com muita vontade a bebida que ali se encontrava.
Aquilo seria mais fácil do que tirar doce da boca de criança.
Para despistar Chanyeol, Sehun pegou o celular do rapaz sem que o mesmo percebesse e o desligou, colocando-o num armário da cozinha. O maior nunca procuraria ali.
Tanto Sehun quanto Jongin não paravam nem por um minuto de oferecer café para Chanyeol. Eles fingiam estar bebendo também, mas de fato só havia água em suas canecas.
Jongin estava ansioso por aquela noite. Finalmente ele teria uma noite de paz, de sono, sem o ronco alto de seu irmão para lhe atrapalhar.
...
Sehun voltou para casa assim que anoiteceu, evitando o estranhamento por parte de sua mãe, e quem sabe também por parte de Chanyeol, apesar do garoto estar totalmente elétrico que pouco estranharia se ele continuasse lá.
É... Nunca duvide do poder da cafeína.
Sehun estava muito ansioso para saber qual seria o resultado de toda aquela armação, e se ao menos Jongin conseguiria dormir direito, mesmo que no outro dia tivesse que aturar o mau-humor e a cara de sono do irmão.
Bom, mas só lhe restava dormir e esperar para que a noite voasse e ele pudesse enfim saber o desfecho daquilo tudo.
...
Um novo dia raiou e Sehun voou para o colégio, um tanto quanto nervoso. Contou carneirinhos durante todas as aulas antes do intervalo, a fim de que assim o tempo passasse mais rápido. E quando o sinal tocou, só se viu o rápido borrão que o menino se tornou ao correr em direção a biblioteca.
Abriu a porta correndo e encontrou a figura de Jongin sentada no mesmo lugar de sempre. Por um momento pensou que talvez o plano tivesse dado errado e que provavelmente Jongin estava a cochilar e sonhar com frango frito.
Por sorte, só passou de uma brincadeira de Jongin, que se virou sorrindo assim que viu Sehun.
Parecia bem feliz, é claro. Uma boa noite de sono resolve tudo.
- E então? - Sehun não conseguia conter o sorriso. - O belo adormecido teve seu sono encantado finalmente?
- Mais do que encantado! Dessa vez a história não precisará de nenhum príncipe ou princesa! - Jongin sorriu mais uma vez, confirmando que tudo havia dado certo (exceto pelo fato de que Chanyeol não conseguira nem se levantar de tão cansado que ficara por esperar o tal "meteoro").
- Brincadeiras a parte, preciso te agradecer. Talvez nada disso tivesse dado certo se não fosse pela sua ajuda. - Jongin disse, enquanto Sehun sentou-se na cadeira ao seu lado. - Muito obrigado. E Chanyeol prometeu tratar do ronco o mais rápido possível.
Os dois estavam perto demais e aquilo deixava o coração de Sehun a mil por hora, mesmo que para ele a possibilidade de Jongin sentir o mesmo fosse distante.
Ou será que não?
De repente, Jongin lembrou-se de algo e puxou do bolso um papel, hesitando antes de passá-lo para o lado. Era para Sehun, mas o garoto não conseguia adivinhar o que poderia estar escrito ali.
- É para você. - Jongin avisou, um tanto quanto nervoso e sorrindo meio de lado.
Abrindo rapidamente o papel (já que era muito ansioso), Sehun arregalou os olhos com a pergunta surpresa escrita ali:
"Se eu estivesse em um sono profundo e só você fosse capaz de me acordar, você me beijaria?"
E logo abaixo estava um "SIM x NÃO", provavelmente para Sehun responder.
O menino procurou rapidamente uma caneta na mesa a frente e circulou uma resposta sem que Jongin visse. Logo depois, passou o papel para o amigo.
Jongin leu com um sorriso nos lábios e logo em seguida olhou para Sehun.
Aquele ‘sim’ era apenas o começo de uma linda história.
Até mesmo mais bonita do que a da Bela Adormecida.
6 notes
·
View notes
Text
16 - #82 Tarde de Estudos
Título da fanfic: Tarde de estudos
Sinopse: A semana de provas se aproximava, mas Sehun e Baekhyun não se sentiam nem um pouco motivados a estudar... Até Baekhyun apresentar um método de estudos incomum.
Couple: SeBaek
Número do plot: #82 Tanto Baekhyun quanto Sehun precisavam estudar para a semana de provas, mas estavam sem motivação nenhuma. Baekhyun, então, sugere um joguinho: para cada resposta certa da lista de revisão de exercícios, uma peça de roupa é tirada. Só que aquela vontade de beijar seu amigo e fazer coisas a mais não era exatamente uma motivação para os estudos, ou era?
Classificação: 18
Aviso: Homossexualidade, Linguagem imprópria, Nudez, Insinuação de sexo
Quantidade de palavras: 3.660
Nota do autor(a): Fiquei muito feliz por participar da fest e estou beeem ansiosa para ler todas as fanfics com o nosso bebê como protagonista! Tomara que a historinha agrade o máximo possível a quem doou esse plot amorzinho e a qualquer um que a ler ♡
Deslizou a ponta do indicador pelo nariz fino, descendo sutilmente para o lábio superior, na intenção do ato não ser percebido pelo amigo que caíra no sono em sua cama. O sol estava forte lá fora, atravessava as cortinas finas do quarto de Sehun e batia contra o corpo alheio adormecido. Mas, apesar do dia ensolarado, os dois garotos não podiam sair; precisavam estudar para a semana de provas que aconteceria em alguns dias.
Levantando-se e tirando a expressão de agrado do rosto – claro que não podia deixar que ninguém o pegasse encarando Baekhyun daquele jeito –, Sehun pegou um livro aleatório jogado em sua escrivaninha e o jogou no chão com força, fazendo o amigo acordar num pulo, abrindo os pequenos olhos sonolentos e os movimentando em volta do quarto, provavelmente tentando lembrar onde estava e o que fazia ali.
– Acordou bela adormecida? Sabe que horas são? – Sehun brincou, com um sorriso no rosto.
– Hum, e que horas são? – Bocejou, bagunçando os cabelos castanhos.
– Não quero nem ver... – Foi no mesmo instante à procura de seu celular, arregalando os olhos ao constatar que já passavam das três da tarde.
Ficando mal-humorado por seu cronograma de estudos não ter saído exatamente como planejara, apressadamente apanhou as apostilas e fichas de revisões com exercícios, enquanto Baekhyun ia ao banheiro lavar o rosto.
– Por que você teve que dormir, hein? A gente nem decidiu o que vai estudar ainda. – Resmungou.
– Ué, por que não me parou mais cedo? Você sabe que eu sinto sono depois do almoço! – Baekhyun gritou do banheiro, o qual ficava ao lado do quarto. – E eu te disse que queria estudar Biologia!
Como poderia negar qualquer coisa a Baekhyun, quando o mesmo o puxava pelo braço escada acima dizendo que queria tirar um cochilo em sua cama? Os cabelos castanhos balançando pelo vento que entrava pela janela e o modo como ele parecia tão frágil ao cair no sono tão rápido detiveram Sehun de acompanhá-lo em seus sonhos, deixando o rapaz numa espécie de encanto ao observar, discretamente, o amigo dormindo. Havia notado todos os mínimos detalhes; dos dedos dos pés contorcendo-se ligeiramente, como se estivesse sonhando com uma escalada numa montanha, até os pequenos sinais espalhados pela pele visível no corpo pequeno, como preciosas constelações de chocolate.
Por isso estava tão irritado. Consigo mesmo, por se abobalhar observando-o como se nunca tivesse o visto antes, e com Baekhyun, por ser a pessoa mais adorável que conhecia. Se acomodaram na cama novamente, desta vez acordados e supostamente dispostos a estudar.
Os minutos seguintes se passaram torturantemente lentos para Sehun, que por algum motivo, sentia-se desconfortável com Baekhyun calado ao ler próximo de si, mordendo a tampa da caneta como hábito. O baixinho trocava os olhos do livro para Sehun, desviando o olhar de modo infantil sempre que era pego pelos seus olhos possantes.
– Para com isso.
– É que – Baekhyun soltou uma de suas risadas carismáticas. – Você fica tão fofinho com essa expressão concentrada.
– A gente tem prova semana que vem e eu aposto que você não sabe nem o que-
– Que merda, Sehun, larga de ser ranzinza. - Interrompeu
O fato era que Sehun estava tentando a todo custo afastar os sorrisos bem-humorados e ensolarados de Baekhyun. Evitando prestar atenção nos lábios avermelhados do garoto ao morder a tampa da caneta e evitando sorrir por causa dos seus pequenos gestos; desviar os olhos rapidamente quando pego, assobiar, bater os pés ritmicamente, morder os lábios. Sehun se sentia orgulhoso o bastante para não ceder àquele magnetismo todo que o amigo emanava, então, do modo mais rabugento que conseguiu, virou-se para a parede e começou a ler um parágrafo qualquer do livro de Biologia.
– O sangue passa pelo átrio direito e daí para o ventrículo direito através da... Está prestando atenção, Baek? – Virou-se para trás novamente, vendo-o apoiando o queixo com o braço enquanto o escutava com uma expressão entediada no rosto.
– Pelo amor de Deus, isso não vai dar certo. – Baekhyun suspirou de modo dramático. – Olha, eu tive uma ideia antes mesmo de apagar na sua cama, mas estava com medo de contar por que você está um saco hoje. Mas pelo visto, vai ser necessário.
– Do que você está falando? – Sehun endireitou a postura, se virando para o amigo.
– De uma ideia que eu tive sobre esse lance de estudo e tal...
– Sei – Sehun riu soprado. – Esse lance de estudo.
– Ok. Então, é mais do que óbvio que essa festa virou um enterro, aí que tal-
– Festa? Eu te chamei pra estudar!
– Que tal a gente fazer um joguinho pra animar as coisas? – Baekhyun disse com um brilho nos olhos.
– A gente precisando estudar e tu querendo fazer joguinho...?
– Porra, não me julgue antes da minha explicação, pode ser? – Limpou a garganta. – A brincadeira é essa: a gente tenta resolver a ficha de exercícios, aí se eu acertar uma questão, você tira uma peça de roupa. Se você acertar uma questão, eu tiro uma peça de roupa. É simples.
– O que...? Baek, você... Não.
– Ahn? Mas... – Seus ombros caíram e seu rosto murchou.
– Como você espera que nudez nos ajude a estudar, gênio? – Sehun perguntou.
– Nudez ajuda em muita coisa caso você não saiba, gênio. – Baekhyun cruzou os braços e franziu a testa.
– Ah, claro, se estivéssemos numa daquelas praias de nudismo ou se a gente fosse hippie nos anos 70, sim. Ou quem sabe a gente possa tomar banho enquanto estuda? – Sarcasmo foi sua arma usada num momento como esses, onde não conseguia nem olhar o amigo nos olhos. Seu rosto pegava fogo num vermelho vivo e era capaz de sentir gotículas de suor se formando em sua têmpora.
– Sehun... – Baekhyun se aproximou do amigo e agarrou seu braço, fazendo a bendita carinha de cachorro que caiu da mudança – Vai, o que poderia dar errado?
– Ah, por favor, Baekhyun. – Puxou o braço para longe do amigo.
Não conseguia ver como Baekhyun nu em seu quarto pudesse terminar do jeito como deveria. Já fazia um longo tempo desde que começara a reparar em Baekhyun – e sim, era de um modo diferente em comparação a como os amigos deveriam se sentir uns com os outros. O garoto sempre foi muito extrovertido, animado e comunicativo, e quanto mais os anos se passavam, mais Sehun se atraía pelos sorrisos simpáticos, os sorrisos maliciosos, os olhares e abraços calorosos e o cheiro de casa que se desprendia de seus cabelos e corpo, que protegiam Sehun numa sensação nostálgica de segurança.
Percebeu o súbito silêncio no ambiente e virou o rosto para saber por que o amigo se calou. Baekhyun estava com a cabeça baixa e uma expressão verdadeiramente triste no rosto. Sehun xingou a si mesmo de todos os palavrões que conhecia naquele momento.
– Se o medo de ficar sem roupa é o problema, pode esquecer. Não vou acertar nenhuma. – Aquilo foi uma chantagem emocional? Seja lá o que fosse, deu certo.
– Ah... tá bom. – Sehun cedeu, encolhendo os ombros. – Se isso é tão importante para você assim...
Os olhos pequenos se iluminaram como duas estrelinhas e o garoto exibiu o sorriso mais largo que podia, derretendo Sehun como mel.
– Ótimo! – Foi em direção à escrivaninha, onde estavam as listas de exercícios, até então esquecidos. – Vamos começar? Já passam das três horas. – Mostrando um interesse repentino pelos exercícios de revisão, pôs uma almofada no chão e sentou-se encima dela, de pernas cruzadas, sendo acompanhado por Sehun.
– Quem começa? – O mais alto perguntou, com as costas largas retas apoiadas na parede.
– Eu? – Sugeriu Baekhyun.
– Certo... Ei, espera! -–Lembrou-se das regras do jogo. – Se você acertar eu tiro a roupa?
– Sim.
– Logo na primeira partida? Não é melhor esperar o jogo esquentar mais um pouquinho ou-
– Mais do que isso? – Riu, abrindo a ficha. – Esse jogo já é o aquecimento.
– Como assim? – Sehun franziu a testa.
Baekhyun passou os exercícios rapidamente para ele, o mandando ler antes que fizesse outra pergunta.
Enquanto lia uma questão sobre corrente sanguínea, percebia Baekhyun se concentrando em cada palavra. O castanho olhou para o chão por pelo menos um minuto, claramente pensando em todas as alternativas.
– Eu acho que é letra B – O menor disse sem olhar para cima. Talvez por isso não pôde ver Sehun boquiaberto enquanto tentava se lembrar de como pronunciava a palavra "Certo". – Não é?
– É sim... Letra B, certo. – Sehun afirmou.
– Há! Tira a roupa, tira a roupa, tira a roupa! – Baekhyun exclamava infantilmente enquanto Sehun ficava de joelhos, tirando a camisa de modo apressado.
– Minha vez então... – Sehun passou os exercícios para o amigo.
– As aulas de natação estão fazendo efeito, não é? – Foi olhado de cima para baixo por Baekhyun, com praticamente expressão nenhuma no rosto. – Ou faz tanto tempo assim que eu não te vejo sem roupa? – Logo, deu um de seus típicos sorrisos, apertando os olhos pequenos.
Sehun sentiu o estômago revirando de nervosismo. O que era aquilo? Baekhyun estava flertando?
– É, faz um tempinho sim. Também já faz tempo que a gente 'tá tentando estudar então você poderia continuar com o exercício, por favor?
– Claro senhor, vamos continuar com a brincadeira.
Baekhyun começou a ler uma questão sobre as camadas que constituíam o coração, e essa era fácil demais para errar; o professor falava o tempo todo sobre isso na sala de aula, não havia saída.
– Letra E, é o pericárdio que envolve a parte interna do coração.
– Ah, você errou de propósito! - Baekhyun acusou, apontando a caneta azul em direção ao seu rosto. – A resposta é letra C.
– O que? Eu errei? – Estava incrédulo. – Impossível!
– Sim! – Baekhyun pegou a ficha e deu uma analisada novamente. – É, o pericárdio é na parte de fora. Você errou Sehun! Que merda!
– Por que você está irritado? – Sehun começou a achar que o amigo certamente não estava ali com os estudos em mente. – Se queria tanto tirar a roupa, podia fingir que eu acertei ou sei lá.
– Verdade... – Baekhyun fez beicinho, arrancando uma risada de Sehun. Aproximou-se do amigo, chegando perto de seu pescoço e o entorpecendo com o perfume de shampoo em seu cabelo. Então sussurrou: Posso tirar a roupa mesmo assim?
Se Sehun estivesse bebendo alguma coisa, cuspiria toda a bebida como um chafariz.
– Vo-você quer tirar... – Riu de nervoso, tapando a boca no ato. – Tirar a roupa?
– Não acho justo você ficar sem camisa e eu ficar aqui completamente vestido...
Ali era, na frente de Sehun, Baekhyun, o seu melhor amigo, o seu romance secreto, pedindo para tirar a roupa na sua frente, em seu quarto. Não era algo a ser ignorado, e Sehun sabia disso. Resolveu deixar de lado qualquer bloqueio mental que o impedisse de se aproximar de Baekhyun.
– Tira a roupa, então.
Sem hesitar, o castanho se pôs de joelhos, esticou o corpo e tirou a camisa num segundo, sem mudar o famoso sorriso caloroso do rosto. Mas quem passou a rir foi Sehun, contagiado pelo humor radiante do menor. Escancarou seu sorriso mais lindo no rosto ao passo que reparava com atenção cada pequeno detalhe do amigo, pela milésima vez. Não era musculoso, era magrinho e fazia dobrinhas adoráveis quando o garoto se inclinava para frente conforme ria.
– Minha vez! – Baekhyun exclamou, se inclinando até Sehun para lhe passar a ficha de exercícios.
Prontamente o mais alto começou a ler: “Qual das situações seguintes estimularia a maior produção de hemácias...”
– Só pode ser letra E, Sehun, porque a altitude deixaria o ar rarefeito e-
– Tá bom Baekhyun. Já posso tirar a calça? – Sehun interrompeu, se levantando.
– Deve.
Foi aí que as coisas realmente começaram a esquentar. No sentido literal da palavra. Sehun sentia a pele do rosto em brasa sob o olhar nada discreto do amigo. Sentia-se diferente, mais confiante. Talvez, era isso o que Baekhyun queria. Observá-lo de modo que notasse a admiração recíproca.
Bom, sendo ou não sendo essa a intenção, ambos estavam com os rostos parecendo tomates. Sentiam o sangue fervendo e a adrenalina mais alta do que nunca. Sehun, só de imaginar a chance de Baekhyun o querer assim como ele o queria, sentia vontade de subir pelas paredes. Era cauteloso e a última coisa que queria era se machucar, mas não iria se privar de aproveitar o momento, enquanto durasse.
O estudo com certeza já não era mais prioridade para nenhum dos dois ali. E a maior prioridade de Sehun era se livrar das calças de Baekhyun.
– Anda – Disse, um tanto rouco, depois de respirar fundo para acalmar o coração acelerado. – Lê a próxima.
– Ih, pra quê tanta pressa? – Baekhyun tentou fazer uma piada, porém o desconforto devido aos batimentos descompassados e o fracasso ao tentar acalmar a respiração o impediram de pronunciar mais uma palavra sequer.
– Você sabe muito bem o porquê. – Passou os exercícios para o amigo com agilidade.
Baekhyun pôs no rosto uma expressão de quem não acreditou no que ouviu, porém sorriu pequeno logo em seguida. Limpou a garganta algumas vezes antes de começar a ler a questão.
– Quais desses órgãos estão diretamente ligados ao sistema linfático? Letra A...
– Ei, não! – Sehun clamou antes mesmo de Baekhyun terminar a leitura. – Eu não estudei sobre isso ainda, pula para a próxima.
– Ah, mas a partir daqui, aparentemente as questões só são sobre sistema linfático. – Disse, checando as outras questões da ficha. – A gente devia mudar para história, então?
– Eu mereço... – Sehun reclamou; impaciente. Era pedir demais o amigo sem calças de uma vez por todas?
– Só chuta uma então! Vou dar uma dica, é em algum lugar entre B e E.
– Letra C – Na dúvida, Sehun sempre chutava letra C.
Baekhyun exibiu uma expressão decepcionada e suspirou, fazendo um biquinho de falso contentamento. E observando aquela ação, Sehun fez algo que sinceramente não tinha mais condições de controlar (pelo menos até aquele ponto): se inclinou contra o rosto pequeno, mordendo de leve o lábio avermelhado do amigo. Não chegou nem perto de ser um beijo, porém, só de senti-lo entre seus lábios por um curto momento foi o bastante para acendê-lo de vez. Sentiu o garoto prender a respiração durante aquele mero segundo, e se afastou para encarar sua face corada.
– Porra, Sehun! – Baekhyun exclamou, e só Deus sabe como encontrou forças para conseguir gritar com o garoto. – É letra D.
– Você vai tirar essa calça de qualquer jeito... – Sehun avisou.
Ficando de joelhos lentamente, enquanto a tensão entre os dois aumentava, Sehun se posicionou na frente de Baekhyun, o conduzindo a ficar de pé, deixando o zíper de sua calça a poucos centímetros de seu rosto. Viu que Baekhyun tinha os olhos presos em suas ações. Estava inegavelmente submerso em cada movimento de seus dedos, ficando visivelmente excitado.
– Eu não esperava essa reação. – Sehun disse baixinho, num sussurro sensual, olhando para o volume do amigo a menos de um palmo do seu rosto.
– Eu não esperava que você errasse todas as questões. – Baekhyun sussurrou de volta.
– Acho que estava ocupado demais prestando atenção em você para escutar o que o professor falou nas aulas sobre sistema sanguíneo...
Logo, os dois garotos estavam apenas usando uma única peça de roupa. Baekhyun não tirava os olhos da boxer do amigo, e então Sehun se aproximou, levando a destra ao seu maxilar. E quando estava prestes a lembrá-lo de que ainda havia algo para estudar, na intenção de provocá-lo – agora que sabia as reações que causava no outro, queria aproveitar –, Baekhyun avançou por cima dele, grudando os lábios desajeitadamente nos seus e sentando por cima de suas coxas, numa velocidade tão grande que Sehun só percebeu o que estava acontecendo quando o garoto distanciou o rosto o bastante para se encararem.
Não pensou no nervosismo que sentia ao tocar e ser tocado pelo amigo daquela forma. Simplesmente apagou de sua mente qualquer coisa que não fosse o corpo de Baekhyun sobre o seu naquele momento. Olharam nos olhos um do outro por alguns segundos, sentindo que nada devia ser verbalizado. Sehun capturou no olhar brilhante e curioso do amigo a coragem que a pouco sentira e envolveu sua cintura com as mãos, finalmente sentindo o garoto se acomodar mais em seu colo, o fazendo enrolar as pernas em seu quadril e se levantando do chão para sentar-se na cama.
O mais baixo ficou por cima, com o corpo quente tremendo e suando sobre as mãos grandes de Sehun, que foi descendo e subindo por suas costas, sentindo cada cantinho de sua pele, enquanto Baekhyun se posicionava de joelhos, fechando os olhos em deleite ao sentir Sehun descer e subir intensamente as mãos por cada canto possível de seu corpo.
Baekhyun desceu o rosto e o tronco sob Sehun, sentando-se sob seu colo novamente e grudando-se ao rapaz num beijo quente; seus lábios necessitados dos alheios.
Não foi como nenhuma sensação que Sehun sentira antes. Claro, já havia beijado algumas pessoas antes de Baekhyun, porém beijar o amigo foi como achar o El Dorado. O entrelaçar gentil de lábios intercalado com gemidos contidos... Às vezes eles paravam o beijo para se olharem, reparando no brilho inseguro e ao mesmo tempo curioso que seus olhos continham. Logo voltavam com os beijos recheados de risadinhas e ofegos, as mordidinhas nos lábios inferiores e os beijinhos de esquimó que duravam tempo o bastante para recuperarem a respiração... Tudo foi tão único que Sehun poderia jurar que nunca foi beijado ou tocado antes.
Sentia que aquele momento era mais infinito do que uma eternidade.
Baekhyun deu uma trégua para os próprios lábios inchados, resvalando o rosto pelo de Sehun, o qual fechou os olhos para sentir os toques.
– Você beija tão bem... - Foi o que conseguiu dizer.
– Eu já esperava por isso há muito tempo... Ah... Você não sabe o quanto eu gosto de você, Sehun...
– Meu Deus, Baek... – Sehun abriu os olhos e pôs a mão em seu próprio pescoço. - Sabe que eu gosto de você na mesma intensidade, não é?
– Sim, eu-
– Não... Você não faz ideia do quanto eu queria isso. – Sehun falou, puxando o menor, trazendo o rosto alheio para próximo do seu. Sorrindo, passou a ponta da língua vagarosamente pelos lábios de Baekhyun, distanciando a boca quando o amigo tentava juntá-la à sua, o provocando.
Sentindo-o duro embaixo de si, Baekhyun resolveu rebolar no colo alheio, fazendo seu melhor amigo gemer alto em surpresa. Pôs a mão sobre a boca do rapaz, sorrindo e sussurrando para o mesmo não fazer barulho.
– Baekhyun... Meu deus. – Sehun chiou, quase que inaudivelmente.
Logo, os movimentos circulares foram substituídos por movimentos de vai e vem, e Sehun deixou escapar do fundo da garganta um gemido rouco que fez Baekhyun suspirar contra sua boca e tremer mais ainda nas palmas de suas mãos, as quais se ocuparam em maltratar a bunda rechonchuda com beliscões e apertos.
Os movimentos estavam indo rápido demais, e Sehun, percebendo o quão sensível Baekhyun estava, controlou seus quadris com as mãos, pressionando-os para baixo, aumentando a pressão do corpo alheio contra o seu membro. Passou a insinuar uma masturbação por cima da boxer do menor, testando a paciência do mesmo.
Sehun deixou o amigo apoiado sobre os joelhos e abaixou a única peça de roupa que o impedia de sentir Baekhyun completamente, e quando o garoto pensava que agora finalmente teria seu alívio, Sehun envolveu apenas sua glande com a mão, fazendo ali movimentos circulares.
Baekhyun pedia num sussurro acalentado para o amigo parar de brincar com sua sanidade, recebendo uma mordida em um lugar diferente do abdômen sempre que tentava movimentar o quadril contra a mão alheia.
Sehun movimentou seu quadril contra o de Baekhyun quando o mesmo voltou ao seu colo, calando seus gemidos com um beijo superficial. O quarto estava tomado pelos suspiros e os sons dos toques de peles. O rapaz sentia que não era possível ficar mais próximo de Baekhyun, mesmo sabendo que sim, era possível, apesar de ambos não estarem preparados para ir tão longe. Ele se sentia completo apesar de tudo, e esperava que o amigo sentisse o mesmo enquanto estava envolto por seus braços.
– Sehun... Eu... – Baekhyun grunhiu entredentes. – Eu quero gozar, por favor...
– E acabar com toda a diversão tão cedo? – Sehun provocou, quase revirando os olhos ao sentir os dedos longos de Baekhyun tocando-o por cima da boxer, a qual estava extremamente molhada e apertada.
– É sério... Para com isso... – Baekhyun pediu.
– Ah, você quer que eu pare? – Sehun parou imediatamente de massagear o membro rígido do menor.
– Não para! – O garoto praticamente gritou, fazendo Sehun levar uma mão à sua boca.
Envolveu o amigo num abraço apertado, com o ouvido colado em seu peito, escutando seus batimentos cardíacos como se apreciasse sua música preferida. Ergueu-se e deitou na cama o corpo pequeno e iluminado pela luz fraca do sol que escapava entre as cortinas, inclinando-se sobre ele. Deixou Baekhyun beijar cada parte de seu rosto, apreciando os carinhos que o mesmo depositava em seus cabelos escuros. Não sabia se fingiriam que nada aconteceu e voltariam a se falar como antes, se agiriam estranhos um com o outro ou quem sabe até cogitassem namorar, mas aquilo não importava no momento. Os dois estavam aproveitando um ao outro de forma tão intensa que, se por algum motivo apenas estivessem confundindo tudo com amor, no mínimo, a paixão e o desejo inegável os manteria unidos. Tentaria a todo custo mostrar ali, através de seus toques, o quanto estava feliz por descobrir a reciprocidade do amigo.
Baekhyun deslizou os pés pelas costas largas de Sehun, o fazendo se arrepiar e respirar fundo enquanto mantinha a sanidade. O dedão direito alcançou a barra de sua boxer e a deslizou para baixo, deixando-o finalmente nu. Impulsionou o quadril para cima, sentindo o membro rígido do amigo contra o seu.
– Vem Sehun... Você também quer se aliviar... – Sussurrou enquanto distribuía beijos estalados pelo pescoço alheio.
O quarto ficava mais escuro à medida que o sol sumia de vista e dava lugar para a noite, e naquele momento, Sehun estava disposto a fazer Baekhyun enxergar estrelas apenas usando as mãos.
t-align:justify���
8 notes
·
View notes
Text
15 - #29 7 Wonders of You
Título da fanfic: 7 Wonders of You
Sinopse: Onde Sehun faz uma pequena lista das maravilhas de seu namorado, Jongin, porém o moreno tinha muitas maravilhas a mais que compunham o ser incrível que ele era além destas sete citadas.
Couple: SeKai
Número do plot: #29 7 Wonders Of You: uma lista que o Sehun faz sobre as 7 maravilhas de Kim Jongin.
Classificação: +18
Aviso: Yaoi, insinuação de sexo, nudez, sexo
Quantidade de palavras: 4.215
Não lembro o dia, a data ou o mês em que comecei a apreciar mais Jongin; quando comecei a apreciar suas manias - algumas estranhas, admito - e seus defeitos. Digo, a prestar mais atenção nas pequenas coisas que o moreno fazia, seja o pequeno sorriso que esboçava em seu rostinho quando alguém conhecido lhe cumprimentava ou quando servia alguém na cafeteria.
Jongin e eu nos conhecemos em uma cafeteria, aliás. Era um dia frio de inverno, eu havia recém saído da faculdade e fui em direção à cafeteria, que ficava apenas duas quadras adiante.
Ao entrar naquele lugar tão aconchegante por causa do aquecedor e o cheirinho de café recém-pronto, sentei em uma das mesas perto da janela, pedindo apenas um chá gelado. Não havia prestado atenção em quem me atendia, mas sua voz era doce e aveludada, quase como uma melodia perfeita, fazendo com que eu desviasse meu olhar em direção ao dono da voz, vendo um moreno com um pequeno sorriso nos lábios fartos e os cabelos castanhos muito bem penteados para trás em um pequeno topete.
Se afastando da mesa em que eu estava sentado, alegou que meu pedido já viria, sorrindo bonito. Foi exatamente naquela hora que eu me apaixonei por Kim Jongin sem perceber.
Sem que eu percebesse, me tornei próximo de Jongin em muito pouco tempo. Ele era um rapaz tão gentil e amável, que permitiu que eu me aproximasse de si sem problema algum.
Em dias conturbados, em que eu me sentia estressado com a faculdade e explodia com todos ao meu redor por nada, o único que me acalmava era Jongin com sua voz doce. Bastava ele falar comigo que eu me acalmava. Era instantâneo e confesso que eu não entendia, mas era Jongin e ele tinha um efeito sobre mim que chegava a ser estranho.
Chegava bravo à cafeteria e nem ao menos cumprimentava Jongin; apenas me sentava na mesma mesa de sempre e ficava ali, aguardando que ele viesse anotar meu pedido. Mas, quando ele vinha em minha direção, não vestia mais o avental preto personalizado, não tinha o sorriso doce de sempre, e sim um semblante preocupado - e fofo, devo admitir. Ele nem ao menos tinha o bloquinho de anotações em mãos!
Então ele se sentou ao meu lado e me olhou bem nos olhos. Levou sua mão morna de encontro ao meu rosto, tocando minha bochecha com ternura e tamanho carinho, apenas me dizendo: “O que aconteceu? Conversa comigo”, e era ali, naquele momento que eu me sentia compreendido, pois Jongin era o único que me ouvia realmente, o único que perguntava o que estava acontecendo e não me criticava de primeira. E toda essa compreensão e gentileza dele me faziam amá-lo cada vez mais.
A primeira maravilha de Kim Jongin era sua voz
Em meados de outubro, os encontros entre Jongin e eu se tornaram mais frequentes, -sendo estes fora da cafeteria - de uma maneira que eu não conseguia mais me afastar do moreno. Por causa disso, combinávamos de ir ao apartamento do mais velho toda sexta-feira à noite e o mesmo me pedia para que dormisse ali - com direito a biquinhos e aegyos -, para lhe fazer companhia já que ele dava a desculpa de sempre se sentir sozinho.
Eu saia da faculdade, ia em direção ao apartamento simples do mais velho que ficava em um bairro nobre da cidade e, sempre que abria a porta de entrada, sentia o gostoso cheiro de macarronada, o meu prato favorito que o moreno insistia em fazer para mim, mesmo eu lhe dizendo que não precisava.
Nos sentávamos à mesa pequena e redonda, Jongin se servia e eu lhe repetia no ato. Conversávamos sobre qualquer coisa banal que passasse por nossas cabeças, mais rindo e conversando do que comendo.
Ao terminarmos nossa refeição, eu insistia para que o moreno me deixasse lavar a louça e, mesmo relutante, ele cedia, mas apenas se eu lhe deixasse enxugar as louças já lavadas.
Contudo, naquele dia em especial, Jongin se encontrava mais pensativo, fazendo quase tudo em modo automático. Eu, ao perceber o que estava acontecendo com o moreno, lhe perguntei o que lhe afligia e a resposta veio com rapidez:
“Sehun-ah, eu quero que você me beije.”
Ao ouvir sua resposta, meu coração falhou uma batida e minha boca ficou seca de repente. Larguei o prato que estava em mãos, percebendo que o apertava com força e estava prestes a quebrar. Deixei o objeto sobre a pia e fechei o registro da torneira. Peguei um guardanapo e sequei minhas mãos, me virando ao moreno, que evitava a todo custo me olhar; as bochechas com uma leve vermelhidão e os lábios bonitos sendo maltratados por seus dentes.
“Desculpe, o que disse?", perguntei de forma cautelosa e calma, olhando o garoto a minha frente.
“Quero que me beije”, insistiu Jongin, voltando seus olhos bonitos a mim. “Quero descobrir o real gosto de teus lábios. Quero descobrir se realmente tens um gosto doce assim como o teu cheiro. Quero descobrir se teus lábios são viciantes assim como você por inteiro é. Quero descobrir se realmente estou apaixonado por você.”
Jongin tomou um passo à frente, cauteloso com a minha próxima reação. E eu simplesmente larguei o pano de prato que estava em mãos, levando estas em direção à cintura fina do mais velho, puxando seu corpo sem muito esforço ao meu, aproximando nossos rostos e colando nossos lábios em um beijo cheio de ternura e carinho.
Seu beijo era como se fosse a melhor coisa do mundo; seus lábios tinham um leve toque de mel, como eu sempre presumi. Sua língua se encontrava com a minha, formando uma dança lenta que só nós dois podíamos acompanhar e ditar. As sensações que sentia naquele momento eram deveras clichê; as famosas borboletas no estômago e o pequeno frio na barriga, o que deixava o momento ainda mais memorável. Jongin tinha um gosto doce, porém não enjoativo, e nunca que eu iria enjoar de beijar os seus lábios.
A segunda maravilha de Kim Jongin era os seus lábios.
Naquela mesma noite, lembro-me de, depois de ter tomado seus lábios, terminarmos de arrumar a cozinha entre sorrisos e suspiros apaixonados.
Jongin, com um pequeno sorriso em seus lábios, me chamou para dormir ao seu lado na cama, com a mesma desculpa de que não queria ficar sozinho, já que eu sempre dormia no quarto ao lado do seu.
Ao estender sua mão, entrelacei meus dedos nos seus, percebendo a forma harmoniosa em que nossas mãos se encaixavam como se fossem feitas uma para a outra.
Subimos as escadas, lado a lado, indo em direção ao quarto do mais velho. O mesmo me ofereceu uma camiseta para eu poder dormir, e fui em direção ao banheiro, tomando meu banho e, minutos depois, Jongin fez o mesmo, tomando o seu.
Nos deitamos sobre a cama grande, um de frente para o outro, observando o rosto do outro, ouvindo apenas o barulho de nossas respirações.
“Eu acho que te amo…”, Jongin segredou em meio ao breu escuro, seu quarto sendo iluminado por apenas um abajur com uma luz fraca, parecendo que a qualquer momento iria queimar. “Na verdade, eu tenho a total certeza de que te amo.”
Ao ouvir seus dizeres, senti um friozinho correr por minha espinha, mas num sentido bom, fazendo com que eu abrisse um sorriso terno, sendo correspondido logo em seguida.
“Eu também acho que te amo, Jongin…”, murmurei de volta, esticando uma de minhas mãos, levando em direção ao seu rosto e fazendo um pequeno carinho em sua bochecha. Continuei como se fosse um segredo: “Na verdade, eu te amo mais do que eu poderia imaginar.”
E, com os meus dizeres, Jongin abriu o sorriso mais lindo que eu já vi em toda a minha vida. Seus olhos se tornaram pequenos, iguais meia-lua enquanto seu sorriso me iluminou por inteiro, e eu percebi que os seus sorrisos me enchiam de vida e de alegria, como se fossem de um anjo.
A terceira maravilha de Kim Jongin era seu sorriso.
Era um dia qualquer, de uma tarde qualquer. Naquele dia eu lembro-me de não ter tido aulas por causa de alguma greve e Jongin estava em seu período de folga.
Estávamos os dois sentados no sofá de seu apartamento. As pernas do mais velho estavam sobre o meu colo enquanto o mesmo mantinha sua cabeça jogada para trás em puro tédio. Eu mantinha o controle remoto da televisão em minha mão, passando por vários canais.
“Desista, meu amor”, Jongin resmungou, levantando sua cabeça para me olhar. “Não tem nada de interessante para assistir agora.”
“E o que você tem em mente?”, lhe devolvi, vendo o moreno abrir um pequeno sorriso de lado, notando a pequena malícia em seu ato.
“Eu sei de algo muito mais interessante para se fazer…”, Jongin retirou suas pernas de meu colo, engatinhando sobre o sofá até se sentar em meu colo. Seus braços rodearam o meu pescoço e os meus a sua cintura.
“E o que seria? Posso saber?”, perguntei-lhe da forma mais sedutora que conseguia e parece que surtiu efeito no moreno, pois sentia o mesmo tremer sobre meu colo.
Jongin não me respondeu. Apenas se inclinou sobre mim, tomando meus lábios com os seus em um beijo lento e gostoso. Eu pude sentir o seu desejo, assim como eu sabia que ele podia sentir o meu.
Comecei a explorar o seu corpo por debaixo de sua blusa com minhas mãos, arranhando sua pele macia, fazendo com que ele gemesse baixinho para mim.
Conforme eu tirava as roupas de Jongin, mais maravilhado por seu corpo eu ficava. Ele era lindo.
Sua pele morena contrastava-se com a minha tão clara, suas curvas eram as mais perfeitas que eu já havia visto; os sinais distribuídos por sua pele complementavam o quadro tão bonito que Jongin era. Quadro este que eu fiz questão de pintar com meus lábios, demarcando cada pedaço como meu.
Suas coxas eram macias, assim como todo seu corpo, o que me deu mais vontade ainda de ficar acariciando-o por incontáveis minutos enquanto meus lábios ainda brincavam por toda a sua pele. Sua barriga se contraía toda vez que eu depositava um beijo próximo de seu membro rijo, por sua virilha.
Quando Jongin, por conta própria, se pôs de bruços no sofá, pude admirá-lo de outro ângulo. E ele era ainda mais bonito daquela forma. As costas eram bem malhadas e sua cintura era desenhada, na mais perfeita curva. Quando eu coloquei um dígito em seu interior, ouvi-o gemer contra o estofado, naquela voz que eu amava tanto.
Depois de achar que Jongin estava pronto, eu o virei de frente novamente e ele me olhou confuso, apesar de seus olhos estarem transbordando de prazer. Eu queria vê-lo enquanto fazíamos amor, queria poder contemplar suas expressões entregues ao prazer.
Minha mão foi de encontro ao membro de Jongin assim que me posicionei entre suas pernas, pronto para penetrá-lo. Porém, parei mais uns instantes para admirá-lo. Fitei todo seu corpo novamente, tudo no seu mais perfeito lugar. Beijei seu pescoço e logo em seguida seu maxilar, sussurrando-lhe o quão lindo ele era, vendo-o sorrir pequeno e roubar um selar de meus lábios.
Aquela noite, Jongin permitiu que eu o tocasse por completo, visse toda sua beleza. Kim Jongin era uma obra de arte única, que eu pude tocar, ver de perto e almejar ainda mais.
A quarta maravilha de Kim Jongin era seu corpo.
Jongin suspirou novamente em frente à prateleira da farmácia, a qual continha vários tipos de tintas de cores diferentes. O moreno mantinha, em suas duas mãos, duas caixinhas diferentes: uma de tinta loira e outra de rosa.
Jongin sempre reclamou de seu cabelo sempre estar “do mesmo jeito” e sempre dizia que a cor castanha estava lhe dando nos nervos. Até que o meu namorado teve a brilhante ideia de ir a uma farmácia comprar uma tinta. Só não contava que o mesmo iria ficar parado em frente à prateleira durante minutos, sem saber qual cor levar.
Ouvi Jongin novamente suspirar, formando um biquinho em seus lábios cheinhos, deixando-o extremamente adorável.
Até que, com um grande pesar, ele deixou a caixinha de tinta loira sobre a prateleira, ficando com a caixinha de tinta rosa em mãos.
“Você tem certeza?”, perguntei-lhe assim que caminhamos em direção ao caixa, entrando na pequena fila que tinha.
Ouvi Jongin suspirar antes de me responder.
“Tenho 90% de certeza… Só espero que eu não fique parecendo um algodão doce ambulante”, resmungou, me fazendo rir. “Ah... E você vai pintar o meu cabelo.”
Parei de rir abruptamente. Já podia prever Jongin correndo atrás de mim com o pincel cheio de tinta rosa, brigando comigo por ter deixado cair a tinta no chão e em si mesmo.
“Tem certeza?”, lhe perguntei novamente e ouvi uma risadinha.
“Certeza absoluta.”
Posso dizer que aquela tarde foi – quase – um total desastre. E vou lhes falar o porquê.
Depois de irmos à farmácia, chegamos à casa do moreno, o qual foi direto lavar seus cabelos para poder pintá-los, me deixando encarregado de misturar a tinta com a água oxigenada.
Eu já comecei deixando tudo cair de dentro da sacolinha da farmácia. Depois derrubei um pouco da tinta na mesa e fiquei desesperado tentando limpar. Poxa vida, a mesa era branca!
Então, como se nada tivesse acontecido, cobri a mancha que ficou na mesa com a caixinha da tinta. Misturei tudo, sujando meus dedos, porque eu havia me esquecido de por a porcaria das luvas.
Quando Jongin voltou, secava os cabelos castanhos com uma toalha vermelha. Ele não demorou a se sentar na cadeira disposta bem no meio da cozinha, me estendendo um pente.
Eu penteei seus cabelos lentamente, sentindo a maciez de seus fios. Reparti o cabelo e, desta vez, coloquei as luvas, pegando o pincel. Deixei-o resvalar por meus dedos várias vezes antes de conseguir pintar um fio castanho, arrancando risinhos do meu namorado.
“Tchauzinho cabelo castanho”, Jongin sussurrou assim que - finalmente - comecei a pintar seus fios.
Eu fiz uma lambança no chão da cozinha, e levei muitos esporros de Jongin pela mancha que ficou na mesa e pelas que ficariam no chão, mas foi só eu fazer um biquinho que Jongin me beijou e disse que estava tudo bem (mas ele me deu uma pincelada rosa na cara como forma de castigo.)
Nós limpamos tudo (inclusive o meu rosto) antes que desse o tempo de Jongin retirar a tinta do cabelo e, assim que terminamos, o moreno correu para o banheiro, me obrigando a ficar esperando no quarto, porque era para ser uma surpresa.
Ouvi o barulho do chuveiro sendo ligado, resmungos de Jongin, algumas coisas caindo no chão, mais resmungos e escutei, finalmente, o chuveiro sendo desligado.
Não demorou muito e eu ouvi o barulho do secador de cabelos.
Me deitei para trás na cama e fiquei mexendo no celular. Não havia percebido o barulho do secador ser cessado e não ouvi Jongin caminhando pela casa.
Só voltei ao mundo real quando o ouvi pigarrear e atirar a escova de cabelos em mim. Assim que ergui meu olhar, só tive mais uma certeza:
Jongin conseguia ficar mais lindo a cada dia que se passava.
“E ai, o que você achou?”, ele perguntou baixinho, um pouco acanhado enquanto mordia seu lábio inferior, provavelmente com medo de minha reação.
Levantei-me da cama e fui a sua direção. Segurando suas mãos – que estavam um pouquinho róseas – abri um sorriso.
“Você consegue ficar lindo de qualquer forma, meu amor. Você está lindo assim.”
Ao falar isso, Jongin ficou completamente vermelho, fazendo com que eu segurasse seu rosto e depositasse um pequeno selar em seus lábios.
A quinta maravilha de Kim Jongin era conseguir ficar lindo com qualquer cor de cabelo.
Uma das tardezinhas que passei no café em que Jongin trabalhava, fiquei por lá terminando alguns trabalhos da faculdade enquanto esperava o moreno terminar sua carga horária.
Toda hora que algum cliente conhecido chegava e elogiava o cabelo do mais velho, ele ficava com as bochechas coradas e sorria largo logo em seguida. Qualquer um podia ver o quanto ele estava contente com sua escolha.
E Jongin quase se derreteu todo quando uma menininha e um menininho, aproximadamente de cinco anos, elogiaram seu cabelo, dizendo que lhe lembrava um docinho que os dois amavam.
Pude perceber de longe, enquanto segurava uma caneta em uma mão e um copinho de chá gelado na outra, o quanto Jongin ficava lindo em volta de crianças. Principalmente com aquele sorriso doce que exibia nos lábios fartos.
Depois de algumas horas, Jongin me chamou para irmos embora. Então eu guardei tudo e entrelacei nossos dedos, saindo da cafeteria.
“Preciso passar em dois lugares antes de irmos para nossa casa”, ele me disse. Eu acenei com a cabeça e não pude conter o enorme sorriso que se abriu em meu rosto, afinal, Jongin referiu-se à minha casa como nossa casa.
Seguimos andando pela calçada, eu sendo guiado por Jongin. Em meio a conversas, nem percebi que havíamos entrado em um beco, onde Jongin, mesmo com meus protestos, me arrastou para dentro daquela ruazinha sem saída.
Ele se ajoelhou no chão e chamou um cachorrinho todo marronzinho, peludinho e dócil. Assim que viu Jongin, o animalzinho sacudiu o rabo e se enfiou nos braços do moreno.
“Encontrei ele ontem, deixei comida e água o suficiente para ele aguentar mais um dia antes de eu vir buscá-lo”, com os olhinhos brilhantes, ele dizia, acariciando os pelos sujinhos do cachorro.
“Para onde vai leva-lo?”, me aproximei e acariciei o bichinho, o sentindo lamber a palma da minha mão, retribuindo o carinho.
“Para o segundo lugar que vamos ir.”
E ele começou a andar para a saída do beco, conversando com o cachorrinho e brincando com ele. Sem mais perguntas para fazer, segui Jongin. Nem andamos muito e logo já estávamos parados em frente a um canil.
Ele entrou no local e cumprimentou todos os que estavam lá como se fossem amigos.
Jongin disse que encontrou o cachorrinho em um beco próximo dali e também falou que pagaria caso o animalzinho precisasse de alguma coisa; como cirurgia por exemplo.
“Quer conhecer um cachorrinho muito fofo que eu também resgatei?”, ele me perguntou animado, com um sorriso tão lindo que eu não conseguiria dizer-lhe não.
Então fui arrastado para outro lugar, onde tinha muitos animais, desde hamsters a um camaleão (bichinho sinistro). Paramos em frente a um cachorrinho em específico. Ele tinha olhinhos negros, assim como seu focinho, e seus pelos eram branquinhos e enroladinhos. Era um Bichon Frisé segundo um funcionário.
Depois de muito insistirmos, nos deixaram pegar o peludinho. Ele era muito agitado e gostava de latir, ainda mais quando estávamos brincando com ele.
Infelizmente, a hora de ir embora havia chegado, então deixamos o cachorrinho e fomos para a entrada do local. Porém os olhinhos úmidos de Jongin me diziam que ele não queria deixar o pet lá e eu me sentia tão vazio sem o peludinho nos meus braços que, em um impulso, perguntei a Jongin o que ele achava de termos um animal de estimação.
Nini sorriu tão contente para mim que eu senti meu coração aquecer aos pouquinhos. O moreno pulou animado, bagunçando seus cabelos completamente. Me abraçou forte e me deu um selinho, dizendo que me amava e que queria ter, não um animalzinho de estimação, mas sim mais um integrante na nossa pequena família.
Naquele dia, voltamos com três roupinhas de cachorro, duas coleiras diferentes, ração, potinhos e, claro, Vivi, um Bichon Frisé que era minha preciosidade e de Jongin.
A sexta maravilha de Kim Jongin era seu amor por cachorros.
Certo dia, quando acordei com Jongin nos meus braços e com o rosto no vão de meu pescoço, seu corpo quente junto ao meu; eu percebi uma coisa:
A única coisa que faltava para eu ser feliz por inteiro era ver o rostinho amassado de Jongin todas as manhãs e dormir com um beijinho com gosto de pasta de dente todas as noites.
Queria morar com o moreno de cabelos rosados e com o nosso filhote Vivi, que passava alguns dias na minha casa, outros na de Jongin. O pobrezinho ficava nesse pingpong, se confundia até em que casa podia deitar no sofá e em qual não (Não me levem a mal, mas é que o Vivi soltava pelinhos demais!)
Em uma manhã, a qual eu não tinha Jongin no aconchego dos meus braços, acordei com Vivi lambendo o meu pé. Brinquei um teco com ele, e depois me levantei e coloquei ração em seu potinho amarelo. Vi o filhote - que parecia uma bolinha de neve bem branquinha - caminhar pelo quarto até ir ao seu potinho, comendo sua ração.
Aproveitei e tomei um banho rápido, me trocando de roupa, pondo uma simples. Eu tinha um plano em minha cabeça: convidar Jongin para morar junto comigo. Estava nervoso? Estava claro, e muito.
Depois de me arrumar, peguei Vivi e coloquei uma corrente em sua coleira, partindo rumo ao apartamento de Jongin.
Pedi para que o porteiro não avisasse Jongin, e ele acatou meu pedido, liberando minha entrada, afinal, já me conhecia.
Entrei com Vivi no colo e peguei o elevador, e quando as portas se abriram, voltei a ficar mais nervoso. Andei até a porta de madeira escura, e procurei as chaves dentro do bolso de minha calça. Felizmente Nini havia me dado uma cópia.
Abri a porta devagar, ouvindo uma música animada soar pelo apartamento. Retirei os sapatos e larguei Vivi no chão, retirando a corrente de si. Olhei em volta, procurando pelo moreno e a cena que vi era, no mínimo, engraçada.
Jongin dançava no meio da sala enquanto tinha um paninho em uma mão e na outra um tubinho, provavelmente um lustra-móveis. Ele pipocava pela sala de estar com uma animação evidente, nem ao menos percebendo que eu estava ali.
Ele só se deu conta de que estávamos ali quando Vivi começou a latir, empolgado com a agitação do moreno. Ele então parou em cima do sofá, onde pulava, e olhou surpreso para mim.
Dei um oizinho com a mão e ele caiu de bunda no sofá, sorrindo largo para mim. Bateu no estofado e chamou Vivi, mas ao invés de ir até Jongin, o cachorrinho desviou o caminho e foi para o potinho de comida que ficava na cozinha.
Eu ri de seu biquinho emburrado e andei até ele no sofá, sentando-se ao seu lado.
“Por que não disse que viria?”, beijou meus lábios, se acomodando ao meu lado. “Teria evitado essa cena toda”, referiu-se à sua dança desengonçada.
“Surpresa!”, ri e ele me acompanhou.
Me escorei no estofado e logo tinha Jongin acomodado em mim, manhoso que só, pedindo carinho.
“Senti sua falta essa noite”, ele murmurou.
“Também senti a sua, amor”, beijei seus cabelos, entrelaçando nossos dedos. “Você gosta de morar aqui?”
“Gosto”, ele me olhou confuso. “Por quê?”
“Sabia que uma das coisas que eu mais gosto é de dormir agarradinho contigo e acordar com uma dorzinha nas costas por você ter me chutado quase a noite inteira? Mas seus beijinhos fazem com que eu me esqueça dos chutes, sabia?”, falei e ele riu, me abraçando mais apertadinho. “Amor, eu quero que isso aconteça todos os dias, sabe? Não só às vezes”, sussurrei.
“Dormir abraçado a ti é muito confortável e ver a sua carinha amassada logo que acordo me deixa feliz”, ele se sentou direitinho no sofá e se virou para mim, segurando meu rosto com suas mãos quentinhas.
“Quer morar comigo? Ou eu venho morar contigo, tanto faz, eu só quero te ter perto de mim sempre”, confessei, vendo Jongin sorrir de forma bonita em minha direção e seus olhinhos brilharem em amor.
“Eu quero, meu amor”, e ele riu todo feliz, beijando meu rosto inteiro e depois juntando nossos lábios. Quando nos afastamos, Jongin estava sentado em meu colo e então eu não pude perder a oportunidade de enchê-lo de cosquinhas na cintura, sendo presenteado com sua gargalhada gostosa.
Ouvi o latido de Vivi e o olhei. Ele estava com as patinhas apoiadas no sofá, balançando o rabinho em felicidade próximo a mim, tentando morder minhas mãos quando eu tentava dar uns tapinhas em Jongin, como forma de defendê-lo.
“Você vai me morder, é, danadinho?”, o puxei para o meu colo junto a Jongin e comecei a brincar com a bolinha de pelos.
O moreno sorria doce enquanto acariciava os cabelos de minha nuca.
“Ei...”, ele me chamou baixinho, fazendo com que eu o olhasse. “Você me faz feliz”, sorri pequeno. “E eu te amo.”
E ele me beijou. Mas não durou muito, pois Vivi era ciumento demais com Jongin e logo já estava se enfiando entre a gente para ter a atenção do moreno.
E a sétima maravilha de Kim Jongin era: ele era Kim Jongin e por ser ele mesmo, o rapaz era uma dádiva e eu tinha a maior sorte de tê-lo ao meu lado.
Jongin era o amor da minha vida e Vivi nosso frutinho de amor. Minha casa passou a ser meu lar, de Jongin e do pimpolho Vivi; um lar onde só a felicidade e o amor entravam (as coisas ruins que ficassem longe dali).
�W��;
2 notes
·
View notes
Text
14 - #91 Give Way
Título da fanfic: Give Way
Sinopse: Kyungsoo estava tentando ensinar para Sehun que ele não deveria, de forma alguma, baixar sua guarda. Mas era difícil o rapaz loiro não ceder à Kyungsoo quando este o provocava de forma suja. E também, amando o moreninho como amava, ficava difícil não se perder nele e em seu sorriso tão bonito e contagiante.
Couple: SeSoo
Número do plot: #91 "Jamais baixe sua guarda, Sehun" Kyungsoo lhe repreendeu outra vez. Mas como era possível Sehun não baixar a guarda quando era o seu hyung a estar tão próximo de si, por cima do seu corpo e, pra piorar, entre as suas pernas?
Classificação: 18
Aviso: Lemon, Linguagem imprópria, Nudez, Sexo, Insunuação de sexo, Álcool, Homossexualidade.
Quantidade de palavras: 3468
Nota do autor(a): Adorei escrever essa fanfic! Por mais que eu tenha deixado-a para última hora e tive que correr contra o tempo, consegui terminar. Fiquei nervosa ao me dar conta que o mínimo de palavras era 2000, por que normalmente minhas fanfics são curtinhas, mas, felizmente, me saí bem. Espero que a doadora do plot tenha gostado da fanfic e que os demais seguidores também. Espero voltar aqui!
Sehun, em meio a tropeços e esbarrões, corria pelo campus da faculdade, arrastando a mochila pelo chão e arrumando os cabelos vez ou outra, para poder enxergar melhor.
— Sehun! — Junmyeon, um amigo do loiro, gritou assim que o viu correndo pelo campus. — Não corre, idiota!
Mas Sehun nem ao menos o ouviu, continuando a correr. Estava atrasado, muito atrasado. E sabia que seu treinador de judô ficaria irritado, mas ao mesmo tempo não, pois, além de ser seu treinador, era seu melhor amigo.
Quando chegou à sala de aula, abriu a porta com força, fazendo-a bater contra a parede e voltar, em um estrondo.
Kyungsoo, que mexia no celular, levou um susto, dando um pulo no chão, onde estava sentado. Ergueu o olhar para a porta e, ao conferir quem entrava, sorriu, bloqueando o celular e se erguendo do chão.
— Está atrasado. — Cantarolou, andando até Sehun com um sorrisinho de lado nos lábios cheinhos.
— Sério? Nem sabia. — Com deboche, Sehun respondeu. Largou a mochila no chão e se jogou nele, fitando Kyungsoo vindo até si. Sentiu-se bobo quando o moreninho sorriu largamente para si, andando todo contente até estar ao seu lado.
— Sabe o que acontece quando se atrasa, não sabe? — Se sentou ao lado do outro.
— Sei, bosta. Sei. — Resmungou, se sentando no chão.
— Ótimo. — Kyungsoo bateu palmas, se ergueu do chão com um pulo e retirou a blusa cinza que vestia. — Vai se trocar.
Sehun estava em transe. Bem, Kyungsoo não era malhado, mas era forte. Tinha o peito firme, e braços grossos, assim como as coxas. Um homão da porra, como sua amiga Yixing falava.
— Que saco.
— Fica quieto e vai.
— Não tenho chances com você!
— Por isso que eu estou te treinando, porra. — Kyungsoo puxou o outro pelo braço. — Hoje você vai tentar me derrubar usando a técnica Ouchi-gari.
— Mas essa é difícil, hyung — Fez bico —, ainda mais sem a parte de cima do kimono.
— Você que chegou atrasado!
— Você que sugeriu essa coisa de sempre que eu chegar atrasado termos que ficar a tarde toda lutando sem a parte de cima do kimono!
— Tive que arrumar alguma desculpa para te ver sem blusa. — Kyungsoo sorriu sapeca, empurrando o outro pelas costas para dentro do vestiário.
— Ah, mas para isso é só você pedir que eu tiro. — Risonho, disse.
— Então tira agora.
— Tirar o que?
— Tudo.
Sehun sorriu descrente, mas ao perceber que o outro entrou no vestiário consigo e escorou-se na parede assim que fechou a porta, com um olhar sério fitando-lhe o corpo, percebeu que ele falava sério.
Deu de ombros, retirando a blusa vermelha, seguindo para a calça, deixando tudo no chão.
— Você é tão bonito, Sehun-ah. — Kyungsoo desencostou-se da parede e andou até o outro lentamente, parando em suas costas e abraçando-o por trás.
— Obrigado hyung. — Sehun suspirou ao sentir o toque quente do outro em suas costas, se arrepiando todo quando os dígitos de Kyungsoo serpentearam por seu tronco, tocando-o devagar, alisando-o em um carinho sutil. — O que está fazendo?
— O que parece? — Do distribuiu alguns beijos pela pele clara, ouvindo um arfar de Sehun, sentindo-o se arrepiar sob seus toques, apertando as mãos nas próprias coxas. — Vire-se para mim, Sehun.
Sehun se virou lentamente para seu hyung, o vendo com um pequeno sorriso sedutor em seus lábios róseos.
E então Kyungsoo segurou Sehun fortemente em seus braços, passando sua perna direita entre as do mais novo, fazendo o mesmo afastá-las uma da outra e, em um piscar de olhos, ser derrubado no chão com Kyungsoo entre suas pernas, segurando seus pulsos ao lado de seu rosto.
— Nunca baixe sua guarda, Sehun. Nunca. — Kyungsoo lhe repreendeu com a voz firme e Sehun ofegou mais uma vez. Como não abaixar a guarda quando seu hyung estava entre suas pernas e, ainda pior, com o peitoral desnudo?
Estava fora de questão não ceder quando era Kyungsoo ali, perto de si daquela forma.
Gostava do rapaz moreno há quase dois anos, mas nunca o falou apenas por não conseguir. Simplesmente não saíam de sua boca os sentimentos que sentia. Tinha setenta e cinco por cento de certeza que Kyungsoo gostava de si também, por que, uma vez em uma festa, podre de bêbado, o Do veio com palavras que expressavam o amor que sentia por si e carinhos doces, assim como o beijo que trocaram no meio da pista de dança.
Claro que havia o fato de que Kyungsoo estava muito bêbado, mas Sehun preferia se lembrar da vez em que houve, também, na rodinha de amigos, a pergunta sobre Kyungsoo gostar de alguém, porque o moreno nunca havia apresentado uma pessoa para os amigos. E ele respondeu, com as mãos juntas às de Sehun e o olhar fixo ao dele, que sim, ele gostava de alguém.
Minseok, a namorada de Junmyeon, fora a primeira a sacar as coisas, fazendo todo mundo rir quando se ergueu da cadeira e gritou em alto e bom tom no meio da cafeteria: “Meu shipp é real!” Caindo de volta no assento e dizendo: “Eu amo vocês dois e vocês dois se amam, casem”, enquanto apontava para Kyungsoo e Sehun, fazendo o loirinho corar todinho, procurando esconderijo no pescoço de Kyungsoo assim que este o abraçou.
— Eu topo casar com você, sabe? — Fora o que Kyungsoo murmurou àquela vez em seu ouvido, bem baixinho, fazendo Sehun se encolher ainda mais envergonhado.
Kyungsoo deixou Sehun ali no chão perdido em pensamentos.
Assim que se ergueu do chão, Sehun tratou de vestir as calças do kimono e voltou para a sala de treino, vendo Kyungsoo tomando um pouco de água antes de virar para si e sorrir. Maldito sorriso que deixava as pernas de Sehun bambas!
— Pronto? — Arqueou a sobrancelha, fechando a garrafinha de água, a jogando no chão, ao lado da mochila.
— Não. — Sehun desceu o olhar pelo corpo do outro e depois os voltou para seu rosto, fixando os olhos na boca carnuda que minutos atrás estava colada em seu pescoço.
Kyungsoo riu.
— Vem, Sehun. — Mandou.
O Oh se aproximou do tatame com lentidão, curvando-se para Kyungsoo, que fazia o mesmo do outro lado. Pisou no tatame e se aproximou do moreno. Frente a frente com Kyungsoo, Sehun respirou fundo, posicionando-se.
[...]
— Não ceda tão fácil às provocações. Não baixe sua guarda. — Kyungsoo ditou novamente, colado ao mais novo assim que o derrubou no chão, vendo que este estava desconcertado consigo tão próximo.
Sehun, respirando pesado, ficou confuso quando o outro se afastou de si, saindo do meio de suas pernas e se erguendo do chão.
— De novo. — Kyungsoo estendeu a mão para Sehun e o puxou do chão assim que ele deu-lhe a mão.
Posicionaram-se novamente frente a frente e, tão rápido quanto recomeçaram o treino, Sehun já estava no chão, com Kyungsoo sobre si.
Era impossível se concentrar com Kyungsoo suado, de cenho franzido e concentrado. Agora imagine com um Kyungsoo suado, de cenho franzido, concentrado, enquanto mordia os próprios lábios propositalmente? Era demais para Sehun, isso o fazia perder as forças e ceder facilmente a Kyungsoo.
— Jamais baixe sua guarda, Sehun. — Kyungsoo lhe repreendeu novamente.
— Como?
Kyungsoo franziu o cenho, pronto para falar para o loiro que este não deveria deixar-se ceder com facilidade, mas antes que falasse o outro o interrompeu.
— Você é lindo demais, Kyungsoo. Porra, eu não consigo nem me concentrar. E sei que você morde os lábios por pura provocação! — Desabafou, deitando a cabeça no tatame. Não viu quando Kyungsoo sorriu de lado, tampouco o viu o fitar com desejo transbordando do olhar. Apenas sentiu um beijo em seu peito, um em seu pescoço e um último no canto de sua boca.
O loiro lamentou quando Kyungsoo ergueu-se antes que pudesse aprisioná-lo entre suas pernas, caminhando para o vestiário.
— Vá para casa e se arrume. Vamos sair de noite com Junmyeon e a Minseok, lembra? — Antes de ver Kyungsoo sumir para o vestiário, o ouviu dizer.
Sehun bateu a cabeça contra o tatame e se levantou do chão, colocando sua blusa no corpo e pegando a mochila, pendurando-a em um só ombro desleixadamente.
Depois de chegar em casa, tomou um banho, sentindo-se relaxado com o contato da água morna em seus ombros largos, mas sem conseguir tirar a imagem de seu hyung entre suas pernas, com o peitoral desnudo e o corpo bonito parcialmente coberto de suor.
Porra, Kyungsoo era uma perdição total para o mais novo e não estava sendo fácil lidar com isso.
Sehun saiu do chuveiro antes que se excitasse com seus pensamentos, desligando o mesmo e se enrolando na toalha, indo até o seu quarto para se trocar.
Ao terminar de se arrumar, recebeu uma mensagem em seu celular, esta sendo de Junmyeon, alegando que ele estava lhe esperando na frente do apartamento.
Sehun pegou sua carteira e seu celular, saindo do apartamento e fechando a porta. Pegou o elevador e desceu para o térreo, seguindo para o carro do amigo.
— Está cheirosinho, hein, Sehun. — Minseok brincou com o mais novo assim que ele entrou no carro, fazendo-o revirar os olhos. — Tá arrumadinho assim só para o Kyungsoo, garanto.
— Amor, deixa ele. — Junmyeon falou calmo e um tanto risonho, ouvindo a risadinha da namorada e vendo Sehun ficar vermelho através do retrovisor. — Senão o coitado vai morrer de vergonha.
— Parem vocês dois! — Sehun reclamou, a voz quase desafinando por conta da vergonha. O mais novo cruzou seus braços, mantendo um pequeno bico nos lábios.
Não era segredo que Sehun gostava de Kyungsoo e vice versa, mas Minseok, sempre que podia, gozava com o mais novo deixando o mesmo parecendo uma pimenta de tão corado que ficava.
Ao finalmente chegarem ao seu destino — que era uma casa noturna bem frequentada na cidade —, saíram do carro, se deparando com Kyungsoo encostado em sua Harley, com uma jaqueta de couro cobrindo seu corpo enquanto se distraia com seu celular. Faltava pouquinho para Sehun ficar duro só por encarar o mais velho. Na opinião de Sehun, Kyungsoo era fodidamente sexy daquele jeito, completamente de preto.
Ao ouvir a voz de Minseok, Kyungsoo ergueu o olhar procurando pelos três amigos, mas perdeu-se encarando Sehun, observando bem suas vestes, que se tratavam de uma jaqueta em um tom de azul escuro, uma blusa branca sem estampa, uma calça jeans surrada com rasgos nos joelhos e um boné virado para trás. Os cabelos loiros estavam escondidos dentro do boné, de forma que deixasse o rosto de Sehun totalmente à mostra, e o rapaz mais novo tinha um semblante sério, o que o deixava mais gostoso ainda, fazendo Kyungsoo ficar todo perdido.
— Vamos entrar? — Minseok questionou em meio ao silêncio que se instalou, percebendo a troca de olhares entre Kyungsoo e Sehun.
— Eu escolho uma mesa. — Kyungsoo respondeu, desencostando-se da moto.
Então os quatro seguiram para dentro da casa noturna, sendo cegados pelos LEDs que se moviam freneticamente dentro do local, seguindo o ritmo da música eletrônica.
— Que mesa você quer, Kyungsoo? — Junmyeon perguntou ao moreno.
— Uma perto do bar. — Minseok sorriu, estava mais próxima das bebidas, afinal.
— Essa noite quem volta dirigindo é você, lembra? Quem vai beber sou eu. — Junmyeon disse para a namorada, fazendo-a desmanchar o sorriso na hora.
— Cacete.
Sehun não ouvia a conversa, assim como Kyungsoo, mas ambos riram da expressão emburrada da coreana.
Kyungsoo acabou por escolher uma mesa encostada à parede, que, em um lado eram duas cadeiras e do outro uma poltrona. Obviamente que se sentou na poltrona, mas não antes de puxar Sehun consigo e o por sentado no canto.
Junmyeon foi logo para o bar, pedindo as bebidas, as entregando para os outros quando retornou à mesa.
— Eu já vou. — Com a garrafa na mão, Minseok se afastou da mesa. Empurrando a cadeira para trás, se levantou e andou em direção ao aglomerado de pessoas que dançavam animadamente. Junmyeon a seguiu.
Sehun olhou Kyungsoo e o viu virando a garrafa de uma bebida provavelmente forte, ao julgar pela careta que o moreno fez.
— Aí, vem. — Kyungsoo largou a garrafa de volta na mesa e chamou Sehun com a cabeça.
O loiro riu, entornando a garrafa.
— Do que adiantou você escolher uma mesa? — Debochou.
Kyungsoo se aproximou mais do outro, levando a mão para a perna coberta pelo jeans grosso, alisando ali.
— Não sei também. — Riu-se — Mas, por que você não fica quietinho e vem dançar comigo?
O Oh sorriu e se levantou, seguindo com Kyungsoo para a pista.
Juntos, envolveram-se com a batida da música, colando os corpos sempre que podiam. Kyungsoo fazia bom proveito da cintura de Sehun, segurando-o por ali, balançando-se junto ao outro.
Sem que percebesse, Sehun fora levado para um canto da pista.
Sehun gemeu manhoso assim que o moreninho o empurrou contra a parede e segurou sua cintura com uma mão, enquanto a outra lhe segurava pelo maxilar, observando sua face rubra.
Kyungsoo deixou um selinho no canto da boca de Sehun e logo em seguida, bem nos lábios rosados, pressionando os seus próprios lábios calmamente contra os do outro.
— Senti falta da sua boca. — Murmurou, sorrindo assim que sentiu o aperto de Sehun em seus braços.
— Você se lembra da festa? — Sentindo os beijos de Kyungsoo por seu pescoço, Sehun perguntou. Tombava a cabeça para os lados, deixando o outro explorar sua pele com beijos sutis.
— Claro que lembro. — Kyungsoo riu. — Não estava tão bêbado assim e, escuta — sussurrou —, não tinha como esquecer esse teu beijo tão gostoso.
E não deu outra... Sehun mesmo puxou Kyungsoo para um beijo, selando os lábios e logo sentindo o moreno intensificar o aperto em sua cintura, passando a língua por seus lábios pedindo, mudamente, passagem. E, quando as línguas tocaram-se dentro das bocas, Sehun abraçou Kyungsoo pelo pescoço e puxou-o mais para si.
Kyungsoo se sentia no mais perfeito paraíso. O corpo de Sehun era a mais bela escultura que já havia visto e tocado; seus lábios, o mais belo gosto por si já provado.
Sehun não saberia descrever o que sentia. Os lábios de Kyungsoo eram macios e o outro beijava tão bem; sem pressa alguma, explorando cada cantinho de sua boca. E o aperto dele em sua cintura? Ah, Sehun gemia contra os lábios do outro a cada aperto que ele dava no local.
Kyungsoo mordeu o lábio inferior do outro e o sugou, tudo naquele ritmo lento, separando ambos os corpos, mesmo não querendo.
— Kyung-
— Shh… — Pousou o indicador nos lábios inchadinhos do loiro.
— Quero ir embora. — Kyungsoo sorriu maroto.
O moreno olhou para trás, procurando por Junmyeon e Minseok e, ao encontrar o casal, puxou Sehun pelo pulso e andou até eles.
— A gente ‘tá indo embora. — Disse próximo ao ouvido de Minseok.
— Mas já? — A Kim olhou-os. — Ah. — Sorriu divertida. — Tá, tá! Aproveitem!
Sehun sorriu de lado. Com certeza Kyungsoo e ele iriam aproveitar.
[...]
Sehun, assim que colocou os pés dentro do apartamento de Kyungsoo, sentiu seu corpo ser encostado contra a porta já fechada, e o corpo quente do moreno colado ao seu.
Seus lábios foram colados pelo mais velho e um beijo fora iniciado. Era lento, mas bruto.
O loiro nem ao menos sabia onde por suas mãos. Estava tão perdido em sensações; Kyungsoo apertava sua bunda e lhe beijava ferozmente ao mesmo tempo, não deixando espaço para outros pensamentos na cabeça do loiro além dos que o faziam gemer.
Gemer em desejo.
Em expectativa.
Ofegante, Sehun cessou o beijo, se deixando ser guiado por Kyungsoo até o quarto deste.
Fora deitado na cama com lentidão. Sua blusa fora removida com habilidade e beijos começaram a ser depositados por seu tronco, beijos quentes e demorados.
Kyungsoo tentava demonstrar seu sentimento a Sehun por meio de seus toques. Mostrar que gostava dele e que ele não se arrependeria de ter se entregado. Mostrar que o amaria da forma certa, como outros não foram capazes de fazê-lo.
Sehun abraçou Kyungsoo pelos ombros, apertando o local levemente. Kyungsoo retirou as últimas vestes que sobravam em ambos os corpos, podendo, finalmente, sentir pele com pele, fazendo com que delirasse ainda mais.
O Do começou a distribuir selinhos molhados pelo corpo bonito de Sehun, indo de seu pescoço até sua virilha. Sehun mexia a própria cintura, murmurando para que Kyungsoo tocasse o seu membro necessitado.
Kyungsoo não pensou duas vezes antes de segurar o membro do mais novo pela base, colocando-o na boca depois de lamber a glande inchada lentamente, provocando o loiro. Ouviu um gemido contido vindo de Sehun, este que soava como a mais bela canção para seus ouvidos.
O mais velho começou a chupar Sehun com maestria, enquanto acariciava as coxas com adoração, ouvindo os arfares do que estava sob si.
Sehun levou suas mãos aos cabelos de Kyungsoo, o obrigando a parar de lhe chupar. Kyungsoo, ao erguer o olhar para o outro, achou que iria gozar só em ver a cena diante de si; os cabelos de Sehun estavam espalhados por sua cama, suados, enquanto sua boca estava entreaberta e suas bochechas encontravam-se vermelhas em excitação.
— Lindo. — Kyungsoo disse, o elogio saindo em um sussurro, como um segredo, beijando a barriga lisa com carinho.
Kyungsoo fez com que Sehun flexionasse as pernas e deixasse a entrada à mostra. Gemeu em ansiedade.
Pegou uma embalagem de lubrificante que guardava no criado-mudo ao lado da cama e a abriu. Passou o gel por dois de seus dígitos e também na entrada que se contraia em expectativa.
Quando pôs um dos dígitos, tratou de beijar os lábios de Sehun e seu pescoço, dando-lhe carinho para distrai-lo do incômodo. Começou a mover os dedos com lentidão, vendo as expressões de Sehun variarem entre o incômodo e o prazer quando tocava em sua próstata. Depois de inserir o segundo dígito, percebeu Sehun se masturbar e um tempo depois, começar rebolar em seus dedos e gemer entregue.
Retirou os dígitos do interior do mais novo e sentiu-se ser empurrado para o lado, sendo obrigado a se deitar quando Sehun se colocou sobre si.
O loiro o beijou com calma, mordendo seu lábio inferior enquanto acariciava seus cabelos. Sehun passou lubrificante na mão e levou-a para o pênis do outro, masturbando-o ao mesmo tempo em que espalhava o gel pelo membro teso.
Se ajeitou no colo de Kyungsoo e segurou o membro deste, levando-o à sua entrada, se sentando devagar na extensão do mais velho, este que tinha as mãos em sua cintura, apertando levemente o local.
Ambos soltaram um gemido de satisfação por, finalmente, terem um ao outro como tanto almejavam. Depois de Sehun se acostumar com o volume em seu interior, começou a se mexer lentamente sob Kyungsoo, arrancando gemidos abafados pela parte do mais velho.
Sehun subia e descia lentamente sobre o membro de Kyungsoo, espalmando suas mãos no peito do mais velho, podendo ter melhor equilíbrio.
Vendo que o mais novo estava ficando cansado, retirou-se do interior que o abrigava tão bem e virou-os na cama, ficando entre as pernas de Sehun.
Penetrou o outro novamente, saciando-se com o choramingo de Sehun ao tê-lo novamente em seu interior. Tratou de mover os quadris, sentindo o suor que já tomava conta de seu corpo escorrer por sua testa. Sehun começou a masturbar-se e a se contrair, inconscientemente, em torno de Kyungsoo.
Sehun se desfez no próprio abdômen, tendo espasmos por todo o corpo, perdido nos gemidos de Kyungsoo a cada vez que se contraia sem querer.
O aperto em sua cintura era forte, e só se intensificou quando Kyungsoo se aproximou do próprio ápice, se retirando do interior do loiro, começando a se masturbar.
O Oh guiou as mãos para o membro alheio e tomou o lugar das mãos de Kyungsoo, começando a masturbar o moreno até que este atingisse o próprio ápice.
Este que veio forte, arrebatador.
Se deitaram juntos, lado a lado, um pouco atravessados na cama, com os dedos entrelaçados e os corações unidos.
Por mais que as ações de Kyungsoo demonstrassem para Sehun o que ele sentia, o loiro ainda tinha suas dúvidas. Queria ouvir Kyungsoo falar para saná-las.
— Espero que isso não tenha sido só mais um sexo casual para você, Kyungsoo. — Sehun falou.
— Não é. Eu gosto pra caralho te ti, Sehun. — Kyungsoo acariciou a mão do mais novo, virando de lado na cama, ficando frente a frente com o loirinho. — Eu te amo, na verdade.
E Sehun sorriu bonito, sentindo o coração aquecer no peito.
— Porra, tu é muito lindo. — Kyungsoo retirou os fios suados do rosto do outro e beijou-lhe os lábios novamente.
— Para hyung. — Sehun se escondeu no abraço do outro.
— Parar com o que? — Kyungsoo o abraçou pela cintura.
— Para de me fazer te amar cada vez mais. — Sehun beijou o pescoço dele, vendo-o se arrepiar com o contato tão simples, porém com grande sentimento expressado. — Eu também te amo, seu idiota.
Kyungsoo riu abobalhado, não demorando a beijar Sehun mais uma vez.
�
6 notes
·
View notes