Tumgik
serrando-blog · 8 years
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Sou natureza
O sonho de muitas pessoas é conhecer o mundo. Viajar, conhecer culturas, povos e uma vida diferente. Ter experiências para compartilhar. Não apenas estar vivo, mas viver. Sebastião Salgado é um homem que sem dúvida concretizou esse sonho e suas experiências mudaram não somente a sua visão de vida, mas também a de muitos ao seu redor. Tal visão é mostrada com grande excelência através de suas obras e do documentário realizado em sua homenagem por Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado: O sal da terra (The Salt of the Earth, 2014).
Sebastião Ribeiro Salgado Júnior é um fotógrafo brasileiro, nascido em Minas Gerais, 1944. Casou-se com Lélia Wanick Salgado e teve dois filhos: Juliano Ribeiro Salgado e Rodrigo Salgado. Graduou-se em Economia, porém foi na fotografia que encontrou sua vocação. No documentário O sal da terra, temos a emocionante oportunidade de desfrutar de seu trabalho e ouvir seus próprios comentários sobre as experiências vivenciadas por trás de cada clique. Cada fato é relatado de uma maneira que faz com que o expectador se sinta parte das experiências do fotógrafo, o que dá significado à vida e à arte.
“Photo significa luz, em grego”, Wenders lembra-nos quando está introduzindo sua obra, ”e o fotógrafo é alguém que desenha com a luz no nosso mundo de sombras”. Sem dúvida o trabalho de Sebastião Salgado se aplica à definição de Wenders. Suas fotos são tão profundas que poderíamos lê-las sem o auxílio da narração.
O inicio do filme é retratado com imagens impressionantes de Serra Pelada, Brasil, nos anos 80. Posteriormente vemos fotografias das viagens de Salgado pela América Latina. Também observamos suas experiências no nordeste do Brasil, que são retratadas de forma a fazer com que muitos brasileiros conheçam um Brasil esquecido. Seus relatos sobre a fome devastadora e a guerra impiedosa da África, mostra como o ser humano foi brutal em suas ações. As explosões dos poços de petróleo em Kuwait expõe outra concepção de mundo, onde o que fazemos realmente traz consequências. E depois o seu retorno em Ruanda é relatado, nos trazendo uma das maiores reflexões do documentário.
Logo no inicio do filme, temos referência a seu título. “Afinal as pessoas são o sal da terra”, diz Wim Wenders. Sal é o que tempera. O que dá sabor. Parafraseando, as pessoas serem o sal da terra, significa que elas são a diferença da terra. O que deixa o mundo melhor. Porém, conforme os minutos do documentário se passam, começamos a pensar que as pessoas, na verdade, deixam o mundo pior. Se elas são o sal da terra, então acabaram salgando demais até deixar a terra intragável. O próprio Sebastião nos traz essa ideia quando está relatando a experiência de seu retorno a Ruanda na África: “Eu saí da África pensando como a espécie humana é feroz. Saí de lá sem acreditar mais na salvação da humanidade. Achando  que não merecemos viver“. Conforme imagens dos corpos mortos sendo empilhados para o enterro passavam, o artista ainda diz que “o mundo inteiro deveria ver essas fotos para constatar quão monstruosa é a espécie humana”.
Salgado retorna ao Brasil totalmente desolado e sem esperança na humanidade. Ele e sua esposa Lélia estavam cuidando da fazenda antiga que pertencia ao pai de Sebastião, porém o lugar estava devastado. A fauna e flora que antes o preenchiam tinham desaparecido. Então, Lélia tem a ideia de restabelecer a Mata Atlântica da região replantando a floresta. A ideia funciona e dá esperança a Sebastião. A terra foi a cura de sua incredulidade na humanidade. Graças à esperança que recebeu, o fotógrafo teve forças para começar uma de suas obras mais surpreendentes.
Gênesis foi uma expedição de oito anos em busca de uma natureza até então intocada e a redescoberta da fauna e flora. Dedica-se em mostrar a beleza do planeta e conscientizar de sua preservação. “Quase metade do planeta continua sendo ainda como no dia do Gênesis”, Salgado lembra, “Gênesis é uma carta de amor ao planeta”.
“Durante oito anos dediquei meu tempo a olhar até compreender o mais importante: sou natureza tanto quanto uma tartaruga, uma árvore, ou uma pedra”, comenta o fotógrafo. O Homem devastou, mas também replantou. O sal da terra tem o poder de transformar a natureza, tanto para bem, quanto para mal. Quando alguém como Sebastião Salgado, que vivenciou tudo que poderia fazer desacreditar num futuro melhor, acredita, então também podemos crer. A natureza pode ser salva e nós somos a natureza. Portanto se somos o sal da terra e se somos natureza, a natureza é o sal da terra.
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