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Eu não preciso me moldar para caber no desejo de ninguém.
O MEU tempo,
MEU corpo,
MINHA realidade,
de mãe e de mulher que estou construindo,
é tudo muito bonito por ser de verdade.
Nesse todo, cabe afeto, no presente,
não depois que “tudo melhorar”.
Dizem que amor precisa de tempo, de leveza, de disponibilidade.
Mas olhem:
Eu cuido, educo, protejo, sustento emocionalmente uma infância inteira.
Eu seguro essa barra,
sem convite pra festa,
sem agradecimentos,
sem espaço pra descanso.
Ainda assim, continuo criando, sonhando, desejando.
E ouço que eu exijo demais, ninguém vê que dou conta de mais do que muitos homens aguentariam.
Será que eu, com as mãos cheias de cuidado e o coração cheio de esperança, não posso afetar o mundo na volta? Se a minha caneca está vazia, ou quase, eu que vou enchê-la novamente. Me alimentarei do banquete que preparei e vocês não sentarão à mesa.
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A gente sempre espera alguma coisa
Você me perguntava se eu te queria
Eu queria, além do sexo, dos idiomas, das neuroses, mas eu só entendia do meu jeito.
Ainda nos quero, tirando a camiseta roxa e acendendo o passado.
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Farinha só serve pra espinha
Quem tem limite é município, a minha criança não
a minha criança tem repertório, horário, oratória,
e supervisão para tomar a melhor decisão.
Quem tem limite é cartão de crédito, a minha criança não
a minha criança tem direito, respeito, acompanhamento,
e orientação para tomar a melhor decisão.
Quem é limitado é você.
Quem é desorientado é você.
E quem é mal educada sou eu, pra tirar você do seu lugar
E te fazer pensar, que ele é mais autêntico que você, que é só invejoso
E se morde todo, quando vê alguém vivendo o que você não consegue viver, nem ser.
Engula as suas expectativas, o seu moralismo,
Engula os seus privilégios, o seu capacitismo,
Engula sua heteronormatividade compulsória, as suas contradições, Engula tudo porque você vai ter que nos engolir,
E não vai ter farinha que desintale.
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Eu não tenho pressa por quem não sabe esperar, até porque já corremos demais, estou cansada demais, somos adultos demais e a vida é doida demais.
Eu não tenho pressa além da comida no horário, do sono regulado, do dinheiro acumulado, do conhecimento alcançado.
Eu não tenho pressa do que só atravessa minha carne, já que sou preta e não posso ser vista apenas como isso, você não pode querer só isso, não posso oferecer só isso, ninguém pode comprar mais isso.
Eu não tenho pressa além de viver sonhos, estar com quem amo, secar o meu pranto, estar no meu canto.
Desculpa vida, não vou dar pra você hoje e na real não tô com pressa.
Bate uma punheta.
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Eu quero que você arrume uma desculpa pra vir me ver.
Vou te separar uma gaveta e colocar todas as coisas que você perdeu dentro da minha vida.
Camisetas, cuecas, pares de meias, lembranças dos últimos anos, búzios, isqueiros, fogo, seda, a vontade de ficar mais, tudo o que for possível e impossível, ainda que importante.
Eu quero que você arrume uma desculpa pra vir me ver.
Ainda tem yamasterol no banheiro, um óleo corporal cheiroso e banho quente pra amolecer as filosofias da vida dura.
Eu quero que você arrume uma desculpa pra vir me ver.
Pra que você enxergue nas minhas linhas de expressões espaço para escrever certos em linhas tortas, novas poesias de amor. Quero que me veja mesmo, olhe além do meu corpo, além da minha história, além do meu humor, quero que você arrume uma desculpa pra me ver e veja bem esse todo que é só amor por você.
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No lado esquerdo do meu pescoço têm um espaço livre, onde rostos se encaixam e permitem que nossas bochechas se apertem pra dividir o espaço dos sorrisos, meus cabelos são amassados pelos corpos alheios e não me sinto menor.
Nossas fotos são muito bonitas quando estamos juntos.
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Passarinho que gosta de brilho
Num sabe o que é jóia ou vidro
Cai no papo de quem só tem bico
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Racismo ambiental
Caiu uma gota de chuva nos olhos dos meus antepassados
Derreteu felicidades, sonhos, passados, presentes e futuros
Meu pai chorou
Minha vó chorou
Eu chorei, quando acordei pra vida
E quis guardar vocês no coração do Pietro
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Não quero competir e só
Quero ganhar uma vez e sentir que o meu corre parece tão grande quanto ele realmente é
Eu quero ganhar
O direito ao carro na garagem da única mulher da família que é habilitada
Quero ganhar
O direito à casa própria que nos foi roubada
À horta própria
À vida propria
À narrativa crua, original e grandiosa
Eu quero ganhar
Não pelas minhas vulnerabilidades aos olhos daqueles que tokenizam existências de corpos como essa construção que hábito
Não quero a história triste como carro chefe, porra
Minhas cicatrizes não são troféus e se fosse eu faria a mesma coisa, cuidava
Não vou puxar saco, não vou abrir as pernas, não quero rezar, acender vela, tampar o umbigo, não vou fazer simpatia, não quero recorrer a outra existência pra responsabilizar sobre o que pinta e o que vinga
Quero poder escolher sem que os critérios estejam relacionados a traumas, a preços, a tempos, heróis, santos ou entidades.
Quero recortar o céu também Carolina e fazer um vestido pra dançar sozinha na rua e que isso não seja estranho, seja só a vida se movimentando.
Eu quero ganhar
Pagar os boletos, construir castelos, mas qual o valor do meu afeto?
Qual o valor da minha poesia?
Qual o valor eu recebo?
Se eu pago o preço de chorar a cada punshline que eu escrevo, será que eu ganho ou perco?
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Hoje eu flertei com a morte de novo,
romântica, iludida
Sentada na mesa do bar com a esperança
Que não me assume
Que não me diz um "eu te amo"
Mas que me exibe na roda dos amigos pra mostrar sua força
E que não tá comigo quando eu preciso
Aí que eu cogito mergulhar no perigo de me tornar invisível,
Me diluir na natureza
Não ouvir mais nada
Não sofrer mais nada
Não me importar com mais nada
Não resolver mais nada
Não ser nada
Nem ter sonhos com a esperança que bate na minha porta e me chama de covarde.
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A única verdade da vida é ser bonita quando ser querida.
Ser amada é mó gostoso.
- Irenita Lopes
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Mamãe, não quero ser poeta
Pode ser que eu lance um livro
E alguém queira comprar
Vou receber mensagens agressivas
Vão dizer que minhas verdades são mentiras
Não quero ir de encontro ao azar
Papai, não quero provar nada
Eu já corri nesses slams
E todo mundo sabe que poesia de amor não faz sucesso
Oh, coitada, nem rimou
Deus me livre, eu tenho medo
Morrer dependente das estruturas, trocar de verso usando a mesma conjunção adversativa e rimar só com verbos no gerúndio
Eu não sou besta pra tirar onda de artista
Sou marginal, eu sou comunista
Comum de tudo
De Alberto Caeiro só existe numa noite
E quem quiser que fique aqui
E crie essa escola literária com vocês
prontos pra virar material de pesquisa, pessoal?
(parodiando Cowboy fora da lei de Raul Seixa)
Irenita Ferreira
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Não fui convidada pra festa da minha amiga
mesmo que fosse convidada, não iria
era 20 conto de condução que eu não tinha
arrumaria uma desculpa pra fugir da humilhação de ter que relembrar às pessoas que eu sou pobre e vivo em periferia
Reclamaram que troquei de número novamente
meu chip foi cancelado por falta de recarga
se essas pessoas soubessem o mínimo que é a pobreza não perderiam seu tempo me dizendo que estou errada por ter escolhido ao invés do whatsapp, ter pão dentro de casa
Me pintaram de irresponsável, instável e imatura
fico tempos sem responder, saio dos grupos e acham que é frescura
o aparelho trava, quebra, tela escura
e eu acabo lendo os xingamentos em tom de piada porque é cansativo explicar pras pessoas que minha renda só me permite comprar celulares de segunda mão e que ficar sem enquanto junto dinheiro pra comprar um na loja diante das minhas condições parece loucura
Quando as crianças chegaram, essas amizades me ofereceram cesta básica
afinal eu sou pobre e deve faltar comida em casa
não sabem de nada, nem da luta, nem do sofrimento, nem da barriga cheia, alimentada pelos nosso sacrifícios, sim, sem pedir ajuda a mesa é farta
Não sabem onde eu tô porque eu vivo me mudando
é que eu não tenho casa própria pra viver no mesmo canto
é que ninguém aluga pra quem tem filho porque acham que criança vive aos prantos
é que o meu dinheiro é menos que o seu mas o meu corre por melhores condições de moradia eu que banco
Adoram me ver na revoada, adoram quando eu tô chapada, gostam do meu conhecimento, mas pra aprender não se jogariam nessa caminhada. Nenhuma dessas amizades entrou na minha casa, nem bebeu da minha água, da torneira é claro.
Falam pra eu aparecer, mas se eu pudesse fazer algo eu sumia com vocês tudo e com suas hipocrisias.
Irenita Ferreira
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IRENITA
Em qualquer mesa Tiro as argolas e ergo meu copo de cerveja Isso é sinônimo de leveza Sendo leve me faço bonita Desse jeito mágico me esqueço Dos quilos, do crespo Dos pêlos Da pele marcada e manchada de vida Do espelho. Não sei passar base Gosto mais de batom cremoso Do que efeito mate O número 38 já não me cabe Minhas calcinhas favoritas são grandes E beges Nunca acerto o tom de pele Minhas camisetas largas Com estampa de RAP E ainda assim vocês me veem incrivelmente sexy. Fico bem careca Corte certo Rosto descoberto Peito aberto Longe de perreco O combo perfeito pro meu ego Tudo ao contrário. Confeço Ainda não desisti do rímel Utilizo como lembrete Guardo as lágrimas Só deixo borrar com a felicidade E me sinto bem bonita Secando as verdades dos olhos Com delicadeza. Uso o mesmo tênis Depois de comprar um novo Uso o mesmo jeans Apesar de ter outro Repito tudo Pelo apego ao que respeita esse corpo gostoso. Ainda assim É difícil me amar É dificil não acreditar nas construções sociais que me atravessam e me arrastam pro fundo do corpo. Um ex falou que o cabelo em coque me deixa feia ao fazer eu parecer uma empregada doméstica Mas o meu cabelo em coque destaca perfeitamente meus olhos puxados, meu nariz redondo, meus lábios carnudos e minha bela testa Como explicar? Que feio é o que fizeram de mim E que eu sou bem bonita Pra rimar com o meu nome. Eu preciso acreditar nisso. Preciso honrar meu batismo.
Irenita Ferreira
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Azul Turquesa
Fiz acontecer
sempre atacante
me pintei de você
fiquei cintilante
Azul
da cor do mar,
Não é marinho,
Pra me acalmar
É você juntinho
três breja
nois dois
uma deixa
Nos corpos
beleza
Os copos
na mesa
E antes que eu esqueça
Você fica lindo
de azul turquesa
E essa blusa é linda pq tem seu cheiro
Entre o azul e verde ainda tem seu cheiro
Desacelero ao sentir seu cheiro
- Irenita Ferreira
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*Ainda tenho saudades*
Te vi na estação
Quis te dar oi, contar uma novidade, dar um sorriso
Só tinha tristeza
E isso lá é presente?
Passei reto.
- Irenita Ferreira
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