soraww
soraww
𝑒𝑣𝑖𝑙 𝑡𝑤𝑖𝑛.
1 post
Don't wanna be here? Send us removal request.
soraww · 16 days ago
Text
Tumblr media
𝐼 𝐷𝐼𝐷𝑁'𝑇 𝐻𝐴𝑉𝐸 𝐼𝑇 𝐼𝑁 𝑀𝑌𝑆𝐸𝐿𝐹 𝑇𝑂 ��𝑂 𝑊𝐼𝑇𝐻 𝐺𝑅𝐴𝐶𝐸 .
meet sora whitewillow.
o sobrenome whitewillow nunca foi deles por direito. foi enfiado goela abaixo, como todos os outros nomes bonitos que a capital deu aos miseráveis depois da guerra. chamavam de recomeço, de igualdade, de progresso, mas ninguém que tinha um sobrenome como o seu era confundido com gente importante.
sora nasceu em par. ela e tyla vieram ao mundo com poucos minutos de diferença, e passaram a vida dividindo. quando a mãe adoeceu e o pai começou a voltar cada vez mais tarde, as gêmeas aprenderam a preencher o vazio cuidando dos irmãos. o amor vinha antes da escolha, e assumir a responsabilidade que não as cabia era a única opção.
a mãe, evelynn, tinha um sopro no coração. deitada contra o peito dela, sora podia jurar ouvi-lo e, mesmo sem entender direito, sabia que podia perdê-la a qualquer momento. por isso não deixavam que ela lavasse roupa, subisse escada, carregasse peso. ela e tyla carregavam o fardo. era o que podiam fazer.
freid, o pai, trabalhava numa planta solar e odiava cada segundo do ofício. dizia que não havia luz alguma naquele maldito distrito e ria com desprezo, amaldiçoava a capital e os pacificadores aos sussurros, e contaminava as ideias de sora com os monólogos envenenados pela bebida.
elyas nasceu quando sora tinha oito. mesmo quando bebê, chorava pouco e sorria muito. era fácil gostar dele. syen veio logo depois, cheio de energia e pronto para dominar o mundo. a casa era apertada, mas cheia de vida. dividiam brinquedos e comida, e cuidavam da mãe como cuidavam uns dos outros.
dylla nasceu três meses antes do aniversário de catorze anos das gêmeas, e veio como um raio. o jeito com que o pai olhou pra ela, cheio de encanto, doeu. doeu porque não sora não se lembrava de já ter sido olhada daquela maneira.
foi só quando a recém-nascida dylla ficou doente que sora entendeu o transbordar daquele amor. ficou a madrugada inteira trocando panos frios, contando segundos, repetindo baixinho que ela ia ficar bem. descobriu que a amava muito a contragosto.
oito meses depois, o pai foi encontrado morto. os pacificadores alegaram ter sido suicídio, mas algo a dizia que ele tinha pecado pela boca. sabia que ele falava demais quando bebia, e talvez tivesse morrido porque incomodava. aquilo, mais do que a dor do luto, a deixou com o gosto amargo do ódio na boca.
a primeira vez que sora e tyla pegaram tesserae foi naquele mesmo ano. duas por nome, como se isso equilibrasse alguma coisa. sora foi trabalhar na represa. tyla, na cozinha dos pacificadores. quatro anos passaram em um piscar de olhos, e então veio a colheita.
chamaram o nome de tyla.
sora ainda lembra do som. da voz da mãe falhando ao tentar gritar. de como se viu congelada ao chão, sem conseguir se mover, enquanto a irmã caminhava na direção da própria morte. tyla subiu ao palco de cabeça erguida, e sem olhar pra trás.
ela venceu e, como todos os vitoriosos, voltou quebrada. o dinheiro e a mansão pareciam uma recompensa ínfima em comparação com o que tinha sacrificado.
sora tentou seguir a vida e cuidar dos irmãos como podia. agora que não precisavam se preocupar com como colocar comida na mesa, tinha tempo para trançar o cabelo de dylla, ensinar syen a consertar coisas, ajudar elyas com o dever de casa. tyla era não mais que um fantasma. pouco falava, e parecia viver atrás de uma parede de vidro.
passaram-se sete anos, e sora achou que tinha escapado. que aquele era seu novo normal, e que a colheita seria como todas as outras: injusta, mas previsível.
então veio o massacre quaternário e, com ele, a regra nova: irmãos de vitoriosos. o nome chamado esse ano foi o dela.
quando subiu no palco, olhou pra tyla em meio à multidão. não havia lágrima alguma nos olhos da irmã, apenas a mesma expressão vazia de sempre.
a de quem já sabe que vai te enterrar antes mesmo de te perder.
11 notes · View notes