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TACET
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  Um projecto de Leonor Castro Nunes (leitura) & João Alegria (música)
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tacet-tacet · 7 years ago
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O que é Tacet
Um projecto de Leonor Castro Nunes (leitura) e João Alegria (música)
Em You Are Welcome to Elsinore, Cesariny põe “entre nós e as palavras o nosso dever de falar”. E se o nome do projecto é Tacet, de algo que se cala, assim o é porque o silêncio existe para que nele se possam ouvir as coisas.
E neste caso as coisas são palavras, são poesia, de muitos e de muitas, que encontram na música uma expansão natural para aquilo que nos querem dizer.
Isto é um assunto sério. Quando falamos no dever de falar, falamos de uma coisa grave e sólida e lenta. O dever de pegar no que nos foi dito e voltar a dizê-lo, a repeti-lo, a transformá-lo até à exaustão. Até voltar ao início. De alguma forma, falamos de dignificar uma série de poemas que nos fizeram sentido tendo em conta o formato em que Tacet se apresenta.
É um esforço físico. Existe o braço, a mão, os dedos, o corpo que ampara a guitarra e cria sonoridades novas onde as palavras possam encontrar caminhos, também eles novos. E que o tom aparentemente sombrio da guitarra não engane ninguém. Porque do escuro é de onde vemos melhor a luz, e é por aí que andam estes poemas. Empurrados pela música, a procurarem janelas por onde assomar.
É um esforço físico também da boca, da garganta, dos pulmões, dos dentes, e de novo das mãos. De dizer as palavras da forma que se nos afiguram melhor, mais crua, mais verdadeira, pelo menos no momento em que são ditas.
A música a criar um espaço de respiração para as palavras, a criar um espaço de explosão, uma imagem mental. Aqui também a ideia de pulso, de batimento, de batimento cardíaco, até. Deixar que seja o coração a ditar a cadência do som, tanto da música como das palavras.
Tacet é recusar a ideia de que andamos melhor calados. É pegar nas coisas e fazê-las vivas outra vez.
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tacet-tacet · 7 years ago
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tacet-tacet · 7 years ago
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dorme deita-te neste espaço e dorme as gerações que passam a teu lado debruçam-se no rio que tu és e bebem dele e mergulham seus membros na corrente e jogam-se em seu leito caudaloso e quem de ti recebe direcção e frescura contigo se encaminha para o mar que o teu cantar desperta e o teu corpo reclama avidamente
Luís Amorim de Sousa,  Mera Distância
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tacet-tacet · 7 years ago
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tacet-tacet · 7 years ago
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Construí a casa sobre um chão de angústia mas fi-la de modo a caber lá eu e tudo o que trouxer de fora o coração.
António Rebordão Navarro
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tacet-tacet · 7 years ago
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tacet-tacet · 7 years ago
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quantos dias teus estiveram de pousio, no que foi o terceiro dia de deus?
quantas sementes colocaste de infusão dentro do silo onde se guarda o tempo? a quantas árvores deste o nome da terra?
quantas vezes a cor foi, na tua mão, a prece lavada do silêncio do mundo?
o lume dos regressos, esse estrondo de pétala que põe claridade na cinza do brilho, esteve, sempre, dentro dos teus olhos.
dizer da criação, nunca te foi estranho, como nenhum segredo branco de uma ferida de luz.
que idade tinhas quando a primeira árvore te disse para subires?
Emanuel Jorge Botelho
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tacet-tacet · 7 years ago
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tacet-tacet · 7 years ago
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Tenho uma folha branca e limpa à minha espera: mudo convite tenho uma cama branca e limpa à minha espera: mudo convite tenho uma vida branca e limpa à minha espera.
Ana Cristina César, Poética
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tacet-tacet · 7 years ago
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tacet-tacet · 7 years ago
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Estar vivo é abrir uma gaveta na cozinha, tirar uma faca de cabo preto, descascar uma laranja. Viver é outra coisa: deixas a gaveta fechada e arrancas tudo com unhas e dentes, o sabor amargo da casca, de tão doce, não o esqueces.
Luís Filipe Parrado
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tacet-tacet · 7 years ago
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tacet-tacet · 7 years ago
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De repente como uma flor violenta um homem com uma bomba à altura do peito e que chora convulsivamente um homem belo minúsculo como uma estrela cadente e que sangra como uma estátua jacente esmagada sob as asas do crepúsculo um homem com uma bomba como uma rosa na boca negra surpreendente e à espera da festa louca onde o coração lhe rebente um homem de face aguda e uma bomba cega surda muda
António José Forte,  Edoi Lelia Doura: Antologia das Vozes Comunicantes da Poesia Moderna Portuguesa
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tacet-tacet · 7 years ago
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tacet-tacet · 7 years ago
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Este é o dia novo. Sei-o pelo desejo De o transformar. Este é o dia transformado Pelo modo como apoio este dia no chão. Coloco-o na posição humilde dos meus joelhos na terra Abro-o com os olhos que retiro de todas as coisas quando os fixo Na atenção.
E fico atento, fico deitado porque não sei crescer Num terreno que se levante. Cresço na clareira de um homem que é uma palavra Na sua túnica inteira Porque este é o sítio do dia sem horário
Sem divisões
E ponho-me de frente no seu lado, Nos seus braços abertos para me unir E entro pelo lado aberto e ardo – como Elias Em chamas subindo para o céu.
Daniel Faria
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tacet-tacet · 7 years ago
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tacet-tacet · 7 years ago
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quem és pergunto outra vez à soleira do mundo que desta maneira nos fez. sei quem sou sozinho a passear em mim como um regato que corre para um fim. faço perguntas e grito tantas vezes parado no meio do mundo e desta maneira pergunto: quem és?
António Cândido Franco,  Murmúrios do Mar de Peniche
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