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#...E O FERRO FLUTUOU!!!
sidpaula · 1 year
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quinn-mare · 4 years
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Mesmo  tendo se passado oito meses desde que Quinn começara a ensinar no Armstrong Institute, ela ainda era incapaz de acreditar na magnitude do lugar. Toda vez que colocava os pés no teatro refinado, acolchoado de vermelho e dourado, era como se estivesse caminhando para uma espécie de juízo final feito sob medida. Era de se espantar que Quinn não tivesse verbalizado um sonoro “Porra!”.
Naquela segunda-feira, em particular, o teatro se encontrava ainda mais surpreendente. Quinn resistiu ao impulso de bater palmas entusiasmadas quando viu sua “obra-prima” instalada bem no centro do palco. Ela havia pedido para Simon, um dos mais doces e prestativos auxiliares do Armstrong, para trazer o pula-pula extra-largo das aulas de Educação Física para o teatro. Ele não só fez o favor com maestria, como gastou horas de um domingo de sol para ajudá-la a pensar em um mecanismo que permitisse montar uma espécie de cipó, feito de corda, perfeitamente alinhado com o colchão.
E lá estava ele: o primeiro exercício oficial do ano letivo. Seria um sucesso. Desde que nenhum estudante quebrasse a coluna, claro. Ela sabia que não seria o caso, pois se certificara com a direção, dois especialistas e o próprio professor de Educação Física. Mesmo assim, pela segurança dos estudantes, decidiu testar primeiro. Depois de depositar um beijo carinhoso na bochecha de Simon, agradecendo-lhe pela ajuda, subiu pela lateral do palco até se posicionar no andaime de ferro. Pegou a corda e respirou fundo três vezes. Sorriu confiante e pulou. Balançou na corda por alguns minutos, e a liberdade de voar impeliu suas pálpebras a se fecharem. Com um dos braços abertos e as pernas estendidas, flutuou como uma pluma.
Quando soltou a corda, caiu com um baque surdo no colchão abaixo, que amorteceu a queda perfeitamente. Soltou uma risada contida, mas orgulhosa. Foi quando percebeu ruídos de movimento no teatro. Alguém acabara de assistir ao seu pequeno número. Ergueu uma sobrancelha e disse — Bem-vindos! Espero que estejam recuperados daquela festa bafo, porque tenho uma surpresa que dispensa ressacas. Quem quer ser meu voluntário?
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zilmsblog · 3 years
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Eu conheci um crente que foi chamado a realizar uma obra maior do que suas capacidades. Parecia tão difícil, que a simples ideia de realizá-la era absurda. Apesar disso, ele foi chamado, e sua fé cresceu em proporção à circunstância. Deus honrou a fé daquele crente, enviando a ajuda que não foi buscada nos homens, e o ferro flutuou*.
~ C. H. Spurgeon
* 2Reis 6:6
Os instrumentos favoritos de Deus são os "Zé Ninguéns", de forma que ninguém se vanglorie diante de Deus. Em outras palavras, Deus escolhe quem Ele quer para que Ele possa receber a glória. Ele escolhe instrumentos fracos para que ninguém atribua o poder aos instrumentos, mas a Deus que maneja os instrumentos.
~ John MacArthur
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projmysteryclub · 6 years
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Corrupção Fantasma
O fantasma da biblioteca se mecheu instantaneamente ao ouvir o pedido de Vinci, flutuou silenciosamente ao catalogo físico e começou a puxar as fichas com a localização dos jornais da cidade. Enquanto isso Vinci encarava a tela de seu notebook atentamente, relendo a notícia sobre o atentado contra a vida do prefeito Bob, pela milésima vez.
Fonte
"Preciso que você localize no arquivo todas as notícias envolvendo homicídios e os prefeitos da cidade, sem limite cronológico".
"É muito estranho, sem sinais de entrada forçada... interferência nas câmeras de segurança... e ele não conseguiu ver o agressor..." murmurou ele quanto ajeitava o óculos.
Alguns minutos depois uma pilha de jornais antigos flutuava em direção da recepção da biblioteca, onde Vinci estava sentado.
"Valeu Gasparzinho" aquele fantasma realmente era camarada.
Vinci arrastou os objetos da mesa para abrir espaço e conseguir ler os jornais sem problema. E um a um suas suspeitas iam aumentando, após alguns minutos e algumas anotações em seu mystery journal pode traçar um padrão entre casualidades. Mas antes que pudesse murmurar qualquer coisa as portas da frente do prédio foram arregaçadas e ambos os sinos que informavam a chegada de usuários tocaram violentamente.
"Hotel de mofo, doce hotel de mo... ughr tem algum fantasma nesse prédio?!" Disse Charlie após sentir um arrepio descer sua espinha.
"Ah é só..." Gasparzinho desapareceu derrepente. "O ar condicionado provavelmente". Vinci terminou a frase desanimadamente, pois achou que seria dessa vez que apresentaria Gasparzinho a Charlie.
Charlie caminhou em direção ao balcão e jogou sua mochila em cima de um sofa que ficava próximo, se deitando em seguida. Ele estava acostumado a chegar na biblioteca no fim de expediente de Vinci e encontrar o prédio vazio, principalmente pelo fato de que eram aproximadamente 21 horas, ninguém teria o empenho de ainda estar aqui.
"Você precisa escutar isso! Nosso prefeito Bob foi atacado nessa tarde na prefeitura, até ai tudo bem, sua popularidade está baixa. Mas, o agressor não deixou nenhuma pista de sua entrada, passagem nas câmeras de segurança, ou até mesmo foi visto pelo prefeito..." Disse Vinci mais empolgado do que deveria.
"Wow, meu herói..." disse Charlie colocando ambas as mãos no coração e interpretando o que o Vinci imaginou que fosse um ataque de fanboy pelo agressor. "E porque eu deveria me importar mesmo?" Continuou após mudar de voz rapidamente.
"Bom a agressão em si não tinha nada de anormal, só que as circunstâncias sim, enquanto lia a reportagem me lembrei de ouvir meus pais falando sobre o assassinato de um dos ex-prefeito antes de eu nascer, e eles comentaram justamente por ser um caso em aberto até os dias de hoje..." disse Vince se levantando da cadeira para conseguir enchergar Charlie mais claramente.
Charlie estava de olhos fechados, aparentemente não se importando com a história.
"Ah, e eu fiz uma busca rápida no arquivo histórico da cidade buscando jornais que contivessem os termos combinados prefeito e homicídio, e surpresa (mas não) que nos últimos 195 anos oito prefeitos foram assassinados dentro da prefeitura, com uma brecha de mais ou menos 25 anos em cada caso." Continuou Vinci falando tão rápido que apenas Charlie conseguiria entender, após anos de treinamento intensivo.
"Entendi. Por isso eu deveria me importar". Falou Charlie preguiçosamente, mas demonstrando mais interesse que anteriormente.
Ambos ficaram alguns segundos sem dizer nada.
"Acho que deveriamos interrogar o prefeito, podemos dizer que somos so jornal da escola..." disse Vinci diminuído o volume da voz.
"Eu acho que ele não vao cair nesse. Não depois da milésima vez. Onde ele está agora?" Concluiu Charlie mudando de assunto.
"De acordo com a matéria ele está em observação no hospital" disse Vinci relendo a matéria apenas para confirmar.
"Tudo bem, continue sua pesquisa aqui e depois que terminar seu turno vá para meu apartamento e faça comida, eu to com fome." Disse Charlie pegando a mochila e saindo da biblioteca.
"O que... Espera! EU NÃO VOU FAZER COMIDA PRA VOCÊ! ABUSADO!" Gritou Vinci, mas Charlie não desacelerou seu passo.
Alguns minutos depois o fantasma reapareceu em frente a mesa de Vinci, reaparecer era uma expressão forte, uma forma transparente cercada por uma leve luz reapareceu com mais um recorte de jornal em sua mão. Entregou a Vinci e se recolheu as profundezas da biblioteca. Vinci pegou o recorte e percebeu que era mais velho que os outros lidos até o momento. Era uma pequena nota com um retrato simples que dizia: Prefeito foi executado hoje dentro do prédio da prefeitura por população enfurecida após a descoberta do desvio de impostos durante todo o seu mandato.
Mesmo achando muito estranho tirou uma copia rapida da matéria, junto com as outras que já havia feito e colou no journal. Quando percebeu já eram 21h40, 10 minutos pós seu turno terminar. Fechou a biblioteca e foi ao apartamento de Charlie.
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Após passar uma hora cozinhando pasta com brócolis, o limite das habilidades culinárias de Vinci, Charlie chegou e sem dizer uma palavra pegou um de seus pratos fundos, encheu de massa e queijo e se sentou no sofá, começou a comer antes de falar qualquer coisa.
"Agora sim, okay, falei com o prefeito, uhnn isso precisa de sal, ele estava chapado com remédios para dor foi fácil retirar informações dele, ou açúcar talvez isso precise de açúcar, enfim, consegui entrar e sair sem ninguém me ver. Ele está bem quebrado, de acordo com ele uma sombra o atacou, pela descrição era humanoide, provavelmente um encosto." Charlie falou enquanto mastigava.
"Impossivel, encostos não são agressivos fisicamente, só mentalmente... Acho que pode ser um poltergaist, logo após sua saida me deparei com um artigo, publicado em 1823, que reportava a execução do primeiro prefeito de nossa cidade após a população descobrir desvio de dinheiro que ele realizava. Faria sentido ele atacar outros prefeitos, raiva por estarem no lugar dele?" Disse Vinci pensativo enquanto se servia de macarrão.
"Não vamos nos arriscar, prepare exorcismos para ambos os casos. Sairemos daqui as 2 da manhã, e não se preocupe, de acordo com o prefeito nem os seguranças tem coragem de ficar no prédio durante a noite" terminou Charlie com se aquilo fosse a coisa mais divertida que ele já tivesse dito.
Vinci terminou de comer e começou a preparar os rituais, ambos seriam muito parecidos, para espíritos malignos, foi até uma estante que ficava na sala e pegou um livro que parecia muito antigo. Ele dicidiu utilizar uma técnica de banimento de origem oriental, havia esquecido seus escritos de origem celta em casa. Em uma tira de papel copiou cuidadosamente os simbolos que continham no livro para formar o amuleto necessário para enfraquecer o espírito.
"Vamos? Precisamos sair agora, provavelmente o fantasma está o mais físico agora." Disse Charlie enquando retiravava uma fina corrente de ferro e enrolava em seu pulso.
Vinci pegou sua mochila e colocou algumas velas, sal, o amuleto e o livro de onde leria o ritual de exorcismo.
"Vamos".
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"Qual é o plano?" Disse Charlie enquando olhava uma estranha formação de nuvens negras que se localizava apenas em cima da prefeitura.
"Simples. Você destrai o fantasma e coloca esse amuleto na testa dele." Disse Vinci entregando o amuleto a Charlie. "Enquanto isso eu farei um circulo de sal e acenderei as velas, quando você colar o amuleto eu começarei o ritual. E você não deve de jeito nenhum quebrar o círculo até que as velas se apaguem, ou eu posso ficar trancado entre o submundo e aqui" Finalizou Vinci.
"Errr... minha parte é fácil pelo menos. Vamos entrar." Charlie se virou e entrou no prédio.
O prédio estava aberto, e todas as luzes estavam apagadas. Ambos os garotos sentiram a temperatura cair, se olharam, sabiam que o poltergaist estava tentando se manifestar.
"Vou subir, segure ele aqui em baixo!" Sussurou Vinci correndo em direção a escada.
"Parece que está na hora da diversão..." Charlie levantou o punho que estava enrolado com a corrente.
O fantasma começou a tomar forma, sua aparência era putrita, e deformada, ele havia tido uma morte violenta.
"Você está vendo essa belezinha? Fiz questão de benzer ela essa noite, o padre não ficou muito contente em ter que abrir a igreja depois das 22h" Charlie estava falando da corrente enrolada em seu punho.
Charlie lançou-se no fantasma, seu punho o acertou no maxilar, no lugar que entrou em contato com a corrente, foi deixado uma marca em brasas. O fantasma não se moveu. Devia ter acumulado muito ódio durante os anos. O fantasma fez um pequeno movimento com os braços e Charlie foi jogado do outro lado da sala, destruindo uma serie de objetos históricos da cidade. O fantasma virou e foi em direção as escadas.
"Não... mas você já está indo embora?" Disse Charlie levantando-se e tirando a poeira dos ombros.
Numa rápida ação o fantasma voou em direção ao Charlie, que desviou do ataque rolando por baixo de seu ombro esquedo. Ainda no chão desenrolou a corrente de seu punho e rolou mais uma vez mas para a esqueda do fantasma, que ainda estava de costas e com um movimento rápido acertou a corrente fazendo com que enrolasse no espírito, trancando seus braços.
"Parece que agora você não vai a lugar nenhum..." disse Charlie tirando o amuleto do bolso e colocando na testa da criatura com um leve tapa. "AGORA VINCI!".
Alguns segundos depois Charlie podia sentir todo o prédio tremer, uma rachadura vermelha surgiu em baixo do fantasma e ele pode ver uma mão puxar o espírito, fantasma começou a se debater violentamente, mas era uma batalha perdida. Charlie não esperou o show terminar, subiu correndo em busca de Vinci. Após abrir algumas portas o encontrou na sala do prefeito, ele estava de pernas cruzadas dentro de um círculo de sal. As velas que se encontravam ao seu redor espeliam chamas como se houvessem jogado combustível nelas. Vinci murmurava pra si mesmo de olhos fechados como se estivesse tendo um pesadelo, quando Charlie estava prester a entrar no círculo todas as chamas se apagaram, deixando o quarto em um breu extremo. Demorou alguns segundos até Charlie conseguir se mover novamente.
"Urrgh, esse lugar está muito abafado" disse Vinci quebrado o silêncio.
"Onde você estava? Isso demorou mais do que deveria" disse Charlie.
"Eu tive que convencer o deus da morte a me deixar ir, ele achou que o espírito que estava aqui não tinha valor suficiente para recompensar ele de ter saido da cama... ah e ele gosta de filmes de terror, acho que você ia gostar dele..." completou Vinci.
"Tu é muito estranho, da próxima vez vamos fazer um exorcismo católico, menos trabalho, sinceramente..." reclamou Charlie.
"Você sabe que eu não gosto de carregar cruzes..."
"Então você bate no fantasma e eu faço o ritual" disse Charlie de mau humor.
Ambos os garotos sairam da prefeitura suados e sujos, mas não tinham muito o que reclamar. Caminhavam na rua pouco iluminada enquanto garoava, resultado da deformação das nuvens negras. Seguiram para o apartamento de Charlie.
"Vamos amanhã na seção de terror que vai ter no cinema?" Peguntou Vinci esfregando a manga da blusa em sua bochecha manchada de preto.
"Sim, mas não esquece de comprar bala de goma".
Extras:
- O fantasma só atacava prefeitos que não eram corruptos, pois se alimentava da ganância presente nos políticos criminosos.
- o verdadeiro motivo pelo qual o Deus da morte segurou Vinci mais tempo no submundo foi porque ele estava dando em cima dele. Mas o Vinci não percebeu, e achou que ele só queria a alma dele.
- Charlie passou na igreja para abençoar sua corrente após sair do hospital onde interrogou o prefeito. Ele já tinha quase certeza que era um poltergeist.
- Primeiramente o fantasma na verdade seria de uma criança, que teria sido vítima do primeiro prefeito, teria sido morto pois foi usado como moeda de troca pela liberdade do prefeito pela população furiosa, mas teria matado a criança quando viu que não tinha escapatória, a criança então reviveria sua morte mas sempre matando o prefeito pois seria mais forte.
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vida-com-deus-site · 6 years
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O machado que flutua
Acompanhando um devocional sobre a vida de Eliseu, me deparei com algo bem interessante, deixo aqui na íntegra o texto do devocional, depois leiam 2 Reis 6.1-7
“A vida de Eliseu parecia cheia de momentos estranhos e extravagantes. Um dos mais estranhos está em 2 Reis 6:1-7. Nesta passagem encontramos um grupo de profetas cortando árvores com machados que serão usadas para construir novas casas. Um deles deixa cair a parte de ferro do machado na água e fica chateado pois era emprestado. Eliseu responde tomando um galho e jogando-o na água onde o ferro caiu. O ferro imediatamente flutuou para a superfície. Quando você lê esta história pela primeira vez, pode parecer que não há propósito nela, mas há muito a aprender com esta história. Deus se importa com o que você perdeu. Nenhuma preocupação é tão pequena para o nosso Deus, mesmo um ferro de machado perdido. O que você perdeu? Uma bênção, um relacionamento, paz, segurança financeira, sua reputação ou algo mais? A boa notícia é que Deus realmente se importa com o que quer que você tenha perdido e pode ajudá-lo a recuperar isso. Deus pode ajudá-lo a encontrar o que você perdeu olhando para o lugar onde caiu. Volte para onde você saiu dos trilhos e permita que Deus te ajude a retornar ao caminho. Você pode precisar parar algo e começar a fazer alguma coisa diferente. O ferro do seu machado não se perdeu pra sempre.”
Link direto: 2 Reis 6:1-7
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azibomes-blog · 7 years
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Son of the earth {FB} x POV
Saara, 1607
A areia formava um oceano inteiro em suas cores de ouro e ferro, criando redemoinhos e lufadas de vento que mais pareciam ondas fervorosas. De onde a caravana intrusa estava, não era possível enxergar a mais de um palmo de distância, tamanha era a fúria do vento que castigava suas faces, cortando as peles delicadas que tinham o desprazer de estarem descobertas pelos tecidos fortes. Com uma das mãos sobre os olhos semicerrados, o líder da caravana pensou vislumbrar, ao longe, a silhueta de um camelo solitário, sem conseguir distinguir se ele vinha ou não acompanhado por alguém, ou sequer se era um camelo. Em seu coração o medo pulsava junto com a força do ar, rodopiando ao redor de seu corpo despreparado para tamanha intempérie da natureza. Seus homens estavam cansados, famintos, alguns já tinham morrido entre as dunas escaldantes, e os que restavam, confiavam na duvidosa sede por ouro.
A figura deformada começou a ficar mais próxima, e talvez fosse só imaginação de um viajante já no limite entre a sanidade e a desidratação, mas ele tinha a impressão de que quanto mais perto ficava aquele camelo, mais a tempestade se dissipava, trazendo a calma sombria do deserto que ousara cruzar como tantos outros, esperando voltar como ninguém antes fizera. A última gota d’água que restava em seus lábios foi utilizada para umedecê-los quando o animal chegou a sua frente. O silêncio das areias era ainda mais assustador do que seus redemoinhos.
Ruminando, o camelo não parecia se importar com ele, mas a figura que nele vinha montada o encarava com rígidos olhos de grafita não lapidada, a única parte do corpo que se via atrás de tantos tecidos caríssimos. O viajante se animou, na perspectiva de estar frente a frente com um rico comerciante, expondo seus dentes carcomidos pelo tempo e pelo tabaco em um sorriso grosseiro. Antes que pudesse falar, seu interlocutor se adiantou, deixando que sua voz deslizasse pela areia e chegasse por todos os lados, invadindo-o sem pudor. A caravana inteira escutava suas palavras quentes como se ele as sussurrasse nos mais longínquos ouvidos, e ninguém podia notar que seus lábios não se moviam. – A que vêm?
O homem, limpando da face suada os grãos de areia inoportunos, manteve o sorriso, apesar da apreensão que sentia quanto àquela criatura de olhos empedrados, e, animado com a utilização de sua própria língua, respondeu – Viemos à procura de preciosidades, que o senhor, bem aventurado que é, com certeza dispõe. Sou Henrique Filho de James, da Inglaterra, e minha caravana veio com objetivos de descobrir a terra em que pisa. – como o vento da tempestade, a risada do beduíno flutuou ao redor do homem, e ele juraria, daquela vez, que toda a terra respondeu ao seu riso, tremulando antes de se acalmar. Lançando uma das pernas por cima do camelo, o nativo pousou no chão com delicadeza, sem fazer qualquer ruído. Assim que consertou a postura, parado defronte o inglês, a sombra de seus mais de dois metros de altura se fez presente, e o sol o coroou por trás. Em sintonia, três bárbaros levaram as mãos até o punho de suas espadas, se preparando para enfrentar o gigante.
               - Descobrir? Essas terras não têm intenção ou motivo para serem descobertas. E o ouro que procura, aqui não encontrará. Sugiro que voltem para suas caravelas, aportadas tão distante daqui, que me encarregarei de cuidar dos homens que perderam para o sono eterno dos desertos. – um silêncio sepulcral tomou conta da caravana, e nela haviam os que já pensavam em arrumar as coisas e seguir o beduíno, e os que não aceitavam tamanho afronte. Tinham vindo em nome do Rei, em nome da pátria! Como um homem coberto por tecidos tão caros em um fim de mundo como aquele ousava desafiá-los? Fechando a boca de sorriso carcomido, o inglês retirou a própria adaga de dentro das vestes, apontando-a para o negro, que não se importou em mover um único músculo senão o de sua testa, levantando a sobrancelha escura até que sumisse atrás de seu turbante branco. Ele não podia acreditar que aquilo estava acontecendo outra vez. Era isso o que ganhava por cuidar daqueles mortos de sangue ralo e dentes pútridos que sequer tinham bons ossos para sua areia.
               - Escute aqui, seu negro infeliz, você parece ter dinheiro de sobra para andar por aí com esse camelo, essas roupas, e eu escuto no senhor o tilintar do ouro, escuto de longe. Então se não for o superior por aqui, me leve até ele que é só com a senhoria que falarei, me compreende? Não vim de longe para ser destratado por um negro. – e para completar sua desfeita, o homem cuspiu aos pés de seu interlocutor, gastando saliva a toa naquele gesto impensado. Com um suspiro longo, que trouxe novas dunas para vários cantos, o nativo não teve escolha.
               - O ouro que procuras, aqui não encontrarás. – levando uma das mãos ao rosto, o gigante desenrolou o pano que lhe cobria a parte inferior da face, revelando-se mais bonito do que todos esperavam, com sua barba escura e densa abrindo espaço para lábios grossos e viçosos. Havia um brilho doentio em seus olhos tão duros que podiam ver todos os movimentos da caravana: os homens desembainhando as espadas, uma ou duas mulheres protegendo crianças, e aquele ser desprezível ainda a sua frente, com uma faca de tosco minério apontada para seu peito. Docemente, sorriu – O senhor tem duas escolhas, Henrique filho de James, da Inglaterra: ou volta para seu território perdido no mar, ou se perderá para sempre nas areias.
               Com um rosnar oco, o inglês avançou para cima do beduíno, batendo de frente com seu peito rígido e caindo de costas logo em seguida. Da faca que tentara fincar nele, não restara muito, apenas o cabo de marfim e a lâmina torta bem ao meio. O homem ainda de pé olhou para suas vestes, constatando o pequeno rasgo com um suspiro. Sim, era isso o que ganhava. – Que-quem é você? – escutou o homem sussurrar ainda no chão, encolhido. – Eu sou Azibo Mes, o filho da terra.
               E antes mesmo que o outro pudesse proclamar uma última frase, a areia que os circundava voltou ao seu ritmo entorpecente, criando uma nuvem de dourado esquecimento na qual Azibo e seu camelo permaneceram em total calmaria sob os gritos alheios, até que o deserto se tornou pacífico, e da caravana não restou nenhum sinal senão duas criaturinhas de olhos azuis arregalados, avermelhados pela falta d’água e o contato incessante com o pó; pequenas demais para serem adultos ou cruéis, se é que havia alguma distinção entre ambos. O negro se ajoelhou frente a elas, estendendo-lhes uma das grandes mãos escuras e brilhantes como o céu da madrugada – Venham comigo, pequeninos. Darei um lar muito melhor a vocês. – assentindo, porque crianças tem mais medo do escuro do que de desconhecidos, as duas foram aos tropeços para o colo do rei dos desertos, aconchegando-se em seu peito quente. Pelo tamanho que estavam, ele constatou, não deveriam comer a dias. Com um suspiro de ódio e pesar, colocou ambas em cima de seu camelo, cobrindo-as com um pedaço de seda e  decidindo que seguiria o caminho de volta a pé.
               - Eles vêm mais e mais... Cada vez com mais pessoas... – resmungou longamente o camelo, mascando a comida que ainda lhe restava no estômago. Azibo respirou fundo, acariciando o focinho do animal tão grande quanto possível, escutando suas palavras ribombarem dentro de seus ouvidos – Eles querem o seu ouro, seus diamantes, seu visco negro... Quando descobrirem o que o corpo de vocês carrega, escreva o que eu digo, Mes... Quando descobrirem, haverá guerra e dor para todos nós.
               O homem ignorou o que o animal dizia, recolocando o tecido sobre os lábios e voltando para o lugar de onde viera antes de sentir a presença dos intrusos. Sim, eles vinham mais vezes, em maior número, e a cada dia que se passava traziam mais armas e mais dor. Quando fechava os olhos para ouvir os murmúrios da noite, Azibo escutava o barulho da poeira daqueles ossos e o choro daqueles que nunca viram a casa ou o ouro que tanto procuravam. Os filhos da terra. Os filhos da terra já começavam a sentir o peso do mundo nas costas, e o caçula deles, carregando duas crianças para longe, se perguntava se todos os homens seriam iguais, enquanto sumia pelas dunas de seu palácio sem formas.
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kiluary-blog · 7 years
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A lâmina da Assassina #14
Capítulo 14 Celaena odiava precisar reunir coragem para entrar na biblioteca real depois de esbarrar naquela... coisa algumas noites antes. E mais do que isso, odiava que o encontro tivesse transformado seu lugar preferido no castelo em algo desconhecido e possivelmente mortal. Ela se sentia um pouco tola ao empurrar as portas altas de carvalho da biblioteca, armada até os dentes – a maioria das armas escondida da vista. Não precisava que alguém começasse a perguntar por que a campeã do rei ia para a biblioteca parecendo a caminho de um campo de batalha. Sem se sentir inclinada a ir a Forte da Fenda depois da noite anterior, Celaena optou por passar o dia digerindo o que havia descoberto no escritório de Davis e procurando por alguma conexão entre aquele livro das marcas de Wyrd e os planos do rei. E como só vira uma indicação de que algo estava fora do lugar no castelo... Bem, ela reuniu coragem para tentar entender o que aquela coisa estava procurando na biblioteca. Ou se havia algum indício de para onde teria ido. A biblioteca parecia a mesma de sempre: sombria, cavernosa, dolorosamente linda com a antiga arquitetura de pedra e corredores intermináveis alinhados com livros. E totalmente silenciosa. Celaena sabia que havia alguns estudiosos e bibliotecários por ali, mas eles costumavam ficar nos escritórios particulares. O tamanho do lugar era arrebatador; a biblioteca era um castelo em si mesma. O que aquela coisa estivera fazendo ali? Celaena virou a cabeça para trás para avaliar os dois andares superiores, ambos cercados por corrimões ornamentados. Candelabros de ferro projetavam luz e sombras pela câmara principal na qual Celaena estava. Ela amava aquele salão – amava as mesas pesadas espalhadas e as cadeiras de veludo vermelhas, e os sofás gastos estendidos diante de enormes lareiras. Ela parou ao lado da mesa que sempre usava quando pesquisava as marcas de Wyrd – uma mesa na qual passara horas com Chaol. Três andares à vista. Muitos espaços em que se esconder em todos eles – salas e alcovas e escadas quase em ruínas. E abaixo daquele andar? A biblioteca deveria estar longe demais para se conectar aos túneis anexos aos aposentos de Celaena, porém poderia haver mais lugares esquecidos sob o castelo. O piso de mármore polido brilhava sob os pés da assassina. Chaol dissera algo certa vez sobre uma segunda biblioteca subterrânea – em catacumbas e túneis. Se ela estivesse fazendo algo que não quisesse que os outros descobrissem, se fosse alguma criatura maligna que precisasse de um lugar para se esconder... Talvez Celaena fosse uma tola por investigar, mas precisava saber. Talvez aquela coisa pudesse dar algumas pistas sobre o que estava acontecendo naquele castelo. Celaena seguiu para a parede mais próxima e foi rapidamente engolida pela luz fraca das estantes. Ela levou alguns minutos para chegar à parede limítrofe, a qual estava coberta por estantes de livros e escrivaninhas lascadas. Ela pegou um pedaço de giz do bolso e desenhou um X em uma das escrivaninhas. A maior parte da biblioteca pareceria igual depois de um tempo; seria útil saber quando tivesse terminado uma varredura completa do perímetro. Mesmo que levasse horas para percorrer tudo. A assassina passou por pilhas após pilhas de livros, alguns com capas lisas, outros com ornamentos gravados. As luminárias eram poucas e distantes o suficiente para que ela precisasse, frequentemente, dar diversos passos quase na escuridão. O piso tinha passado de um mármore reluzente para blocos cinza antigos, e o raspar das botas contra a pedra era o único ruído. Parecia o único em mil anos. Mas alguém devia ter descido por aquela passagem para acender as luminárias. Então, caso se perdesse, não ficaria perdida para sempre. Não que aquela fosse uma possibilidade, ela se assegurou conforme o silêncio da biblioteca se tornava uma presença viva. Celaena tinha sido treinada para marcar e se lembrar de passagens e saídas e curvas. Ficaria bem. Provavelmente teria que entrar o máximo possível na biblioteca – até um lugar onde nem mesmo os estudiosos se incomodavam em ir. Houve um dia, ela se lembrava – um dia em que estava debruçada sobre Os mortos andam, e sentira algo sob as botas. Chaol mais tarde revelara que estava raspando a adaga no chão para assustá-la, mas a primeira vibração tinha sido... diferente. Como alguém raspando uma garra pela pedra. Pare, falou Celaena para si mesma. Pare agora. Sua imaginação é absurda. Foi apenas Chaol implicando. Não sabia há quanto tempo estava andando quando finalmente chegou à outra parede; um canto. As estantes de livros eram todas talhadas de madeira antiga, as pontas moldadas como sentinelas – guardas sempre protegendo os livros que seguravam entre si. Era ali que acabavam as luminárias – e outro olhar pela parede dos fundos da biblioteca revelou total escuridão. Felizmente, um dos estudiosos deixara uma tocha ao lado da última luminária. Era pequena o bastante para não colocar fogo na maldita biblioteca inteira, no entanto também era pequena demais para durar muito. Celaena poderia acabar com aquilo naquele momento e voltar aos aposentos para contemplar modos de arrancar informações dos clientes de Archer. Uma parede tinha sido explorada – uma parede que não revelou nada. Poderia verificar a parede dos fundos no dia seguinte. Mas já estava ali. Celaena pegou a tocha. Dorian acordou sobressaltado ao ouvir o relógio soando e percebeu que estava suando, apesar do frio violento no quarto. Era estranho o bastante que tivesse caído no sono, mas a temperatura gélida foi o que lhe pareceu mais incomum. As janelas estavam todas seladas, a porta fechada. No entanto, as respirações curtas do príncipe condensavam diante dele. Dorian se sentou, a cabeça doía. Um pesadelo – com dentes e sombras e adagas reluzentes. Apenas um pesadelo. Ele balançou a cabeça, a temperatura no quarto já aumentava. Talvez tivesse sido só uma corrente de ar aleatória. A soneca foi apenas consequência de ter ficado acordado até tarde na noite anterior; o pesadelo provavelmente fora desencadeado por ter ouvido de Chaol sobre o encontro de Celaena. Ele trincou os dentes. O trabalho de Celaena não era desprovido de riscos – e embora Dorian estivesse furioso com o que acontecera, tinha a sensação de que a campeã apenas o afastaria mais se ele gritasse com ela por causa daquilo. Dorian afastou o último resquício de frio e caminhou até o vestiário para tirar a túnica amarrotada. Quando se virou, o príncipe podia jurar ter visto de relance um suave círculo de gelo ao redor de onde seu corpo estivera no sofá. Mas quando se virou para ver com mais facilidade, não havia nada ali. Celaena ouviu um relógio distante soar em algum lugar – e não acreditou muito quando escutou que horas eram. Estava ali havia três horas. Três horas. A parede dos fundos não era como a lateral; ela recuava e se curvava e tinha armários e alcovas e pequenos escritórios cheios de ratos e poeira. E quando estava prestes a desenhar um X na parede e encerrar o dia, reparou na tapeçaria. Ela a viu apenas porque era o único item decorativo que encontrara ao longo da parede. Considerando como os últimos seis meses de sua vida haviam se passado, parte dela simplesmente sabia que tinha que significar alguma coisa. Não havia um retrato de Elena ou de um cervo ou qualquer coisa bonita e verde. Não. Aquela tapeçaria, tecida de fios vermelhos tão escuros que parecia preta, retratava... nada. Celaena tocou os fios antigos, maravilhada com o tom, tão profundo que parecia engolir seus dedos naquela escuridão. Os pelos da sua nuca se eriçaram, e a assassina apoiou a mão na adaga quando empurrou a tapeçaria para o lado. Ela xingou. E xingou de novo. Mais uma porta secreta a cumprimentou. Olhando em volta para as pilhas, ouvindo em busca de pegadas ou do farfalhar de roupas, Celaena a abriu. Uma brisa, almiscarada e espessa, flutuou por ela, saindo das profundezas da escadaria espiralada revelada pela porta aberta. A luz da tocha de Celaena alcançava apenas alguns metros para dentro, iluminando paredes entalhadas com ornamentos que retratavam uma batalha. Havia uma fenda estreita na parede de mármore, um canal com uns 7 centímetros de profundidade. Ele se curvava ao longo de toda a extensão da parede, estendendo-se além dos limites da visão de Celaena. Ela passou o dedo na fenda; era lisa como vidro e continha o leve resíduo de algo viscoso. Uma pequena lâmpada prateada pendia da parede, e, ao retirá-la, Celaena colocou a tocha em seu lugar, agitando o líquido do lado de dentro. — Inteligente — murmurou ela. Sorrindo consigo mesma, certificando-se de que a tocha estava distante o suficiente, Celaena apoiou a fina abertura da lâmpada na fenda e a inclinou. Óleo entornou e desceu pelo canal. Celaena pegou a tocha e a encostou na parede. Instantaneamente, a fenda brilhou com fogo, fornecendo uma linha fina de luz ao longo da escadaria escura e coberta de teias de aranha. Com uma das mãos no quadril, ela olhou para baixo, admirando a superfície entalhada das paredes. Duvidava de que alguém viesse procurá-la, mas ainda assim colocou a tapeçaria de volta no lugar e pegou uma de suas adagas longas. Ao descer, as imagens de batalha mudavam e moviam à luz do fogo, e Celaena poderia jurar que os rostos de pedra viravam para vê-la passar. Ela parou de olhar para as paredes. Um sopro de ar frio roçou seu rosto, e ela, por fim, viu a base da escadaria. Era um corredor escuro com cheiro de coisas velhas e pútridas. Uma tocha estava jogada na base da escada, tão coberta de teias a ponto de revelar que ninguém ia ali havia muito, muito tempo. A não ser que aquela coisa consiga enxergar no escuro. Celaena afastou esse pensamento também e pegou a tocha, acendendo-a na parede iluminada da escadaria. Teias de aranha pendiam do teto arqueado, roçando o piso de paralelepípedos. Estantes de livros bambas alinhavam metade do caminho, as prateleiras lotadas de livros tão gastos que Celaena não conseguia ler os títulos. Rolos e pedaços de pergaminho estavam enfiados em todas as frestas e aberturas ou jogados, abertos, sobre a madeira arqueada, como se alguém tivesse acabado de sair dali após lê-los. De alguma forma, era mais parecido com um mausoléu do que o lugar de descanso de Elena. Celaena desceu o corredor, parando ocasionalmente para examinar os pergaminhos. Eram mapas e recibos de reis havia muito transformados em pó. Registros do castelo. Toda essa andança e preocupação e tudo o que descobriu foram registros inúteis do castelo. Provavelmente era isso que aquela criatura queria: a conta da mercearia de algum rei antigo. Iniciando um cântico de xingamentos realmente desprezíveis, Celaena agitou a tocha diante do corpo até que um corredor surgiu à esquerda. Deveria ser ainda mais baixo do que o mausoléu de Elena – mas quão profundo? Havia uma lanterna e uma fresta na parede, então Celaena mais uma vez acendeu a passagem espiralada. Dessa vez, a pedra cinza retratava uma floresta. Uma floresta e... Seres feéricos. Era impossível não ver aquelas orelhas pontudas delicadas e os caninos longos. Os feéricos saltavam e dançavam e tocavam música, felizes ao gozarem da imortalidade e da beleza etérea. Não, o rei e os companheiros não poderiam saber daquele lugar, porque certamente teriam arrancado as entalhaduras àquela altura. Celaena não precisava de um historiador para saber que aquela escadaria era velha – muito mais velha do que aquela pela qual acabara de descer, talvez mais velha até do que o próprio castelo. Por que Gavin escolhera aquele local para construir o castelo? Será que havia algo ali antes? Ou algo abaixo dele que valia a pena esconder? Um suor frio desceu pela espinha de Celaena quando ela olhou para a escadaria. Contra todas as possibilidades, mais uma brisa soprou de baixo. Ferro. Tinha cheiro de ferro. As imagens na parede piscavam conforme Celaena descia a escadaria espiralada. Quando, por fim, chegou à base, tomou um fôlego curto e acendeu uma tocha em uma arandela próxima. Estava em um corredor longo pavimentado com pedras cinza. Havia apenas uma porta no centro da parede à esquerda, e nenhuma saída, exceto pelas escadas atrás de Celaena. Ela verificou o corredor. Nada. Nem mesmo um rato. Depois de observar por mais um instante, desceu para o corredor, acendendo as poucas tochas na parede conforme seguia. A porta de ferro era pouco notável, apesar de inegavelmente impenetrável. A superfície decorada com pregos era como um pedaço do céu sem estrelas. Celaena estendeu a mão, mas parou antes que os dedos pudessem roçar o metal. Por que era feita toda de ferro? Ferro era o único elemento imune à magia; ela se lembrava disso. Existia tantos tipos de manipuladores de magia dez anos antes – pessoas cujo poder acreditava-se ter originado havia muito tempo dos próprios deuses, apesar da alegação do rei de Adarlan de que a magia era uma afronta ao divino. Não importava de onde viesse, a magia tinha inúmeras variações: habilidades de cura, de mudança de forma, conjuração de chama, água ou tempestade, estímulo ao crescimento de plantações e plantas, visão do futuro e assim por diante. A maioria desses dons tinha sido diluída ao longo dos milênios, porém para alguns mais fortes e raros, quando se atinham ao poder por muito tempo, o ferro no sangue causava desmaios. Ou coisa pior. Ela vira centenas de portas no castelo – portas de madeira, de bronze, de vidro – mas nunca uma de ferro sólido. Aquela era antiga, de um tempo em que uma porta de ferro significava alguma coisa. Então, deveria ser para manter alguém do lado de fora – ou algo do lado de dentro? Celaena tocou o Olho de Elena, avaliando a porta mais uma vez. O objeto não deu respostas sobre o que poderia estar atrás, então ela segurou a maçaneta e puxou. Estava trancada. Não havia uma fechadura à vista. Celaena passou a mão pelas frestas. Talvez tivesse enferrujado e se fechado. Ela franziu a testa. Nenhum sinal de ferrugem também. A assassina deu um passo para trás, avaliando a porta. Por que teria uma maçaneta se não havia como abri-la? E por que usar uma fechadura a não ser que houvesse algo que valesse a pena esconder atrás dela? Celaena se virou, mas o amuleto esquentou em sua pele, e um lampejo de luz brilhou pela túnica. Ela parou. Poderia ter sido o piscar da tocha, mas... Celaena estudou a fenda estreita entre a porta e a pedra. Uma sombra – mais escura do que a escuridão além dela – pairava do outro lado. Devagar, puxando a adaga mais fina e mais achatada com a mão livre, Celaena apoiou a tocha e se deitou de bruços, o mais perto da porta que ousou. Apenas sombras – eram apenas sombras. Ou ratos. De qualquer forma, precisava saber. Em silêncio absoluto, ela passou a adaga brilhante sob a porta. O reflexo na lâmina revelou nada além de escuridão – escuridão e luz de tochas. A assassina girou a adaga, empurrando-a um pouco mais adiante. Duas órbitas reluzentes, verde-douradas, piscaram nas sombras do outro lado. Celaena recuou, puxando a adaga consigo, mordendo o lábio para evitar xingar em voz alta. Olhos. Olhos brilhando no escuro – olhos como os de um... um... Celaena suspirou pelo nariz, relaxando levemente. Olhos como os de um animal. Um rato. Ou um camundongo. Ou algum gato selvagem. Mesmo assim, ela se adiantou de novo, prendendo a respiração enquanto inclinava a lâmina debaixo da porta para avaliar a escuridão. Nada. Absolutamente nada. Celaena observou a lâmina da adaga por um minuto, esperando que aqueles olhos reaparecessem. Mas o que quer que fosse, havia fugido. Um rato. Devia ser um rato. Mesmo assim, Celaena não conseguia afastar os calafrios que haviam tomado conta dela nem ignorar o calor do amuleto no pescoço. Ainda que não houvesse uma criatura atrás daquela porta, as respostas estavam ali. E Celaena as encontraria – mas não naquele dia. Não até que estivesse pronta. Porque poderia haver modos de passar por aquela porta. E considerando a idade daquele lugar, Celaena tinha a sensação de que o poder que havia selado a porta estava conectado às marcas de Wyrd. Mas se houvesse algo do outro lado... ela moveu os dedos da mão direita ao pegar a tocha, avaliando o arco de cicatrizes deixado pela mordida do ridderak. Era apenas um rato. E ela não tinha interesse – nenhum – em que se provasse que estava errada naquele momento.
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