Tumgik
#A SENHORA ME PAGA COM MUITOS JUROS VIU
marllafelisarda · 7 years
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Mariah É domingo de sol,acordo bem cedo com o som do despertador e a respiração organizada de Austin. Me despreguicei na cama e o beijo delicadamente meu garoto dormindo,um anjo delicado.  Me arrumo calmamente e saio sem fazer barulho para ir trabalhar,aos domingos que a filha de Baker não pode ir,eu tenho que ficar com ela. Chego as 08 horas da manhã,com uma cara amassada e os cabelos molhados. O cheiro do café delicioso de Baker,só faz eu me sentir mais em casa e mais acolhida à ela. Ao som de um eletronico alternativo. Eu arrumo nossa mesa de café com uma broa de ontem e um café com leite. Eu a pergunto. —  Quais eram os seus medos ? —  Coloco uma fatia de pão na boca,mastigando deliciosamente o mesmo. —  Primeiro era ser infeliz. — Da uma golada em seu café e me olha. Assento com a cabeça. É exatamente disso que eu tenha medo,de não ser feliz. —  Mas,depois eu aprendi que não podemos fugir dele quando ele já está acostumado a estar em nossas vidas. —  É verdade. — indago. — Temos que saber administrar isso. — Se não ficaremos loucos. Tenho medo de chegar a não ser suficiente,sabe? As vezes eu mudo para agradar muito algumas pessoas. — Digo o Austin com sua obcessão por roubos e Maycom por provoca-lo. — Você não precisa ser quem você não é para agradar as pessoas. — Passo minhas mãos nas suas mãos envelhecidas. Ela sorri para mim. Acolhida naquela mesa. Eu a admiro. Ela vem sendo a mãe que eu não tenho presente. Depois do almoço Baker foi tirar seu sono da tarde. Espreguicei-me no sofá,liguei a televisão e fiquei trocando de canais como se eu fosse encontrar alguma coisa que prestasse. Pensei em lugar para o Austin,mas ele provavelmente está a ensaio com a banda. E ai eu me lembro das minhas amigas,no ano passado eu estava no terceiro ano. Sem medos e certezas que eu encontraria o caminho para realizar os meus sonhos,dançar balé em Londres e ser feliz.  Só que eu estou com medo e confusa. E aí,a minha melhor amiga,a unica que eu confiava e queria por perto veio a minha mente. Nós quase não nos falamos mais por conta do trabalho,mas eu sei que isso não são motivos suficientes para deixarmos de falar com alguém. Foi ai que eu a liguei. Me lembro que a gente sonha em morar no Rio de Janeiro depois da escola. Me lembro quando minha mãe a viu beijando uma garota quando foi me buscar na festa de carnaval. E me lembro quando ela me disse que garotas era a unica coisa que ela gostava na vida,e que isso era quem era ela. Que saudades dela. Que saudades de suas citações e quando ela revirava os olhos para as garotas da escola,mas uma coisa eu tenho certeza,eu não sinto falta da escola. — Meu amor. — Eu suspiro ao telefone antes de escutar sua voz.—  Que saudades de você. — Sua cow bitch. — Ela fala com essa voz aguda. —  Você poderia parar de sumir de vez em quando. Fico assistindo seus vídeos com o Austin, mas isso não é o suficiente. Eu e o Austin temos um canal no youtube,ele faz videos cantando para mim,já chegamos até 100 mil visualizações em 1 mês. — Ai amiga, que saudades que eu estava de escutar sua voz. — sinto vontade de chorar.— Eu estou trabalhando até nos domingos. Gargalho e ela faz uma voz de choro. — Eu estou com tanta saudade. Não dá para você desistir dessa ideia de fazer faculdade em Londres e voltar não? — Ela ri entre as lágrimas e eu também. —  Como estão as coisas? —  digo enxugando as lágrimas, mas apenas sinto vontade de chorar, chorar e chorar. É muito ruim estar longe das pessoas que amamos. — Uma droga. — Ela desaba. — Tenho um casamento para ir,não quero ir nessa merda. Mas,minha mãe não entende Mariah. —  Ela suspira.— Mas,não é só esse o problema. Você sabe qual é. Cada dia fica pior. Eu fui a primeira pessoa a saber sobre sua sexualidade. Sobre como sua mãe é homofóbica. Sobre como as coisas são complicas. Eu queria muito ajuda-lá,mas eu não sei como. Ela morou até os 14 anos com o irmão mas velho,que hoje mora num apertamento no centro da cidade. Mora ela e a mãe dela. Talvez Michelle(mãe de Anna Carolina) nunca irá querer aceitar que Anne tem sua sexualidade ao inverso que ela pretendia ter. —  Amiga, não fica assim. — Estou sempre fico com o coração na mão. eu queria estar a abraçando como a gente fazia de costume. Eu sempre me inundou em lágrimas. Não me contive,desabo. Como o tempo passa rápido e nos separa das pessoas que amamos. Que saudades dela.Que saudades da minha real vida. Minha casa. Meu quarto. Dos meninos que sempre faziam tatuagem de Henna comigo. Dos meus poemas,das igrejas. Da aula de dança. Do Hip Hop. Do balé. Minha mãe, meu pai, minha irmã,até da minha irmã que eu não gosto muito eu sinto falta. Que saudades do barulho na minha casa, das discussões. Eu não tenho mais uma rotina. Cada hora estou num lugar, dando um porre, sendo feliz com a única pessoa que consegue suprir isso tudo. E mesmo assim,me dopar em drogas,beber até cair ou até mesmo dormir num banco da praça. Droga,eu  sei que esta tudo errado. Porque até 4 meses atrás,eu era a garota que se sentava na mesa de natal com a família e tomava refrigerante no Ano novo. Que beijava alguns garotos por diversão e mantinha a boa aparência de garota bonita e popular na internet. Queria contar para Anne,mas mesmo assim,sua vida seria mais importante,seu problema seria pior. Parece que eu estou pronta para ouvir as pessoas,mas as pessoas não estão prontas para me ouvir. Sinto falta de ser mandada, sinto falta de discutir com meus pais, do cheiro deles. Sinto falta de tanta coisa e eu realmente acho que quando você sonha muito em ir para um lugar e larga tudo para isso,antes você deve pensar nas pessoas que você ama e que te ama. E se você consegue viver sem elas. Se você conseguir tudo bem,mas se não,não vá embora. Não estou arrependida, apenas com saudades. — Vai ficar tudo bem.— Suspiro. É isso que eu tentava encaixar no meu subconsciente. Quando eu falo com ela,é como se eu ficasse carregada,mesmo eu a amando,eu me sinto assim. — Não vai,Mariah. Está tudo tão errado. Eu minto o tempo inteiro para a minha mãe. Só o pela saco do meu irmão que sabe de tudo, mas ele não me ajuda em nada, na verdade ele não está nem aí para mim. — Ela está acabada em lágrimas e eu também — Estou derrotada. —  O Lucas sempre esteve ao seu lado Anne. Ele só não aceita você gostar de mulheres,mas respeita. Minha melhor amiga que esta agora no Brasil. E ela esta triste. Mas,é a unica pessoa que as vezes,mesmo falando muito me da um espaço para falar do Austin. É a unica pessoa que sabe sobre nós. O que ela mais fala é sobre o sotaque dele. Que ele é esquisito e fala demais no amor. — Você tem que tomar cuidado ao dizer tanto isso. —  Talvez ela diga porque nunca amou, ou porque tem medo que eu me machuque. Mas as razões pelas quais falo dele, é porque ele foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida. — Eu nasci,assim Mariah, eu nasci gostando de mulher. E eu não tenho culpa disso e também isso não é uma culpa. Estou cansada de mentir dizendo para o mundo que sigo os padrões. — Eu sei amiga. Eu sei —  sussurro. — Mariah, minha mãe não engole até hoje por eu estava fazendo direito. Ela insiste em dizer que eu deveria ser modelo, que ainda irei ser. Mas, eu não quero,Mariah. — Seja quem você é. Você não precisa mostrar nada a ninguém.— Ela ri. — Eu te amo. —  Eu não vejo a hora de ser independente. Eu tenho 19 anos e mal posso sair de casa. Eu juro que se eu arrumar uma grana,eu meto o pé para Londres. Eu bato palminhas,mesmo não querendo de jeito nenhum que ela venha para este lugar. Aqui é bom demais,mas não para ter as pessoas do Brasil por perto. —  Vou cruzar meus dedos para que isso aconteça. — Sorrimos em conjunto. — Está uma barra mesmo amiga.— Ela suspira. — Você não sabe quem eu encontrei. — Lembro da Eduarda e bato aos mãos. — Quem? — pergunta curiosa. — Duda,lindinha. —  Gargalho. —  A gostosa? — Ela gargalha. —  Como assim ? —  Isso. —  A Paga mico do ensino fundamental. — Gargalho me lembrando do mico que ela pagou certa vez. — Exatamente amiga.—  Gargalho me lembrando e vou até a janela do prédio. — Eu não acredito. Ela está morando aí? — Pergunta curiosa.— Preciso ir logo para Londres. Rimos. — Ela mora em Paris. —  Droga.— Suspiro olhando os carros passarem. — Que coincidência vocês se encontrarem. Como aconteceu? Mudo de assunto. Droga. Ela não precisa saber sobre Austin. — Do nada,na rua da minha casa. Ela estava numa festa a 4 quatro quarteirões. — Minto. Foi quase isso que aconteceu. — Hmmm. Essas coisas não acontecem comigo. —  Aliviada.— Aí amiga. — O que? —  desculpa ficar falando nisso toda hora,mas não consigo esquecer. E para piorar minha vida,sou obrigada à ir no casamento de vestidinho. — Ela sorri e eu reviro os olhos. —  o que eu faço? EU NÃO SEI. — Não vá, seja uma garota má. —  Se fosse eu não iria. Mas na situação dela,não é bom arriscar. —  Você age como se você fosse má. — Talvez agora eu sei,você não me conhece mais.— minha mãe me mataria, nem que ela me levasse pelos cabelos. Credo. —  Se esconde, foge... Sei la, vem para Londres. — digo em meio aos risos. —  meu sonho! —  rimos.— Mariah,bad girl? Você mudou demais. Isso é uma das coisas que eu tenho certeza. Que eu não sou mais a mesma pessoa. —  deixando de ser menos bobinha. —  É? — Você está namorando? — Pergunto-a. — Estou conhecendo uma garota virtualmente. Mas, é chato sabe? — — revira os olhos.—  Quero encontrar a Duda e ter uma história de amor com ela. — Sei bem,meu amor. Então, não fica mal. Invente uma conversa e uma bela desculpa para não ir a esse casamento,ainda mais com um vestido ridículo. — Vejo Baker na sala procurando por algo. —  Amiga, preciso ir,um beijo. — Um beijo, eu te amo.—  E sem dize-la respondo,eu também. Chateada sinto vontade de chorar,meu rosto entristecido e meu estomago revirado. Eu engulo em seco com a garganta já seca,eu não quero chorar e nem posso. Respiro fundo. Senhora Baker esta me encarando. —  Tire essa tristeza do rosto menina. —  Ela cerra a sobrancelha. —  Ela não te pertence. — Não estou triste. — engulo as lágrimas. — Apenas,estava conversando com minha melhor amiga, saudades do Brasil. Saudades até de falar Brasileiro. — Por que não vai visita - los querida? — Ela me pergunta dócil e senta-se ao meu lado. —  Por que a senhora precisa de mim.— Uma lágrima cai do meu rosto.— Porque eu preciso fazer o teste de bailarina em Maio. — Olha essa se o problema sou eu,você pode pegar seu voo ainda amanhã. — Ela brinca. — Você acha que o seu namoro vai ser para sempre? — concordo com a cabeça. —  Tenho medo com o que passa acontecer com você . — Por que,senhora? — Pergunto desanimada. — Porque você tem um coração e se entrega tanto a ele,que pode se machucar de verdade.— Ela dá de ombros.— E isso é perigoso. Ele acaba sendo uma pessoa perigosa. — Mas, ele me ama senhora Baker. — Amar, não é ser uma pessoa de proteção. Isso que quero dizer. — Ela me olha de relance. E sinto vontade de chorar.— Por favor, olha os caminhos para onde ele irá te levar. Mas,se ele te ama,deixa-o te matar de amores. — parece até que a senhora sabe.— começo a chorar. — Sei de que? — Ela entra no esquecimento.  —  esquece senhora.— Ela me olha atônita e seu seco as lágrimas. Eu queria te-la para conversar sem se esquecer. — Por favor,me chame de senhorita... Senhorita Baker. E assim vai, ela diz isso o dia inteiro. Quando me assusta dizendo que sua mãe, está ali e começa a conversar. Fico triste na maioria das vezes com seus esquecimentos,eu queria poder desabafar e dizer para ela o que eu sinto. Mas,o que adianta ela sempre se esquecer?   Ela me ensinou a amar o próximo, a me amar e me aceitar. Me ensinou que não preciso beijar e me apaixonar. E sim curtir o momento e brincar de vez em quanto dizendo sobre os pais dos meus filhos. Ela me ensinou, que não preciso ter 25 anos para ter 25. Ela é boa sem nunca ser má. Ela me ensinou a ser uma boa mãe, se algum dia eu for e que minha irmã não precisa se lembrar de mim para me amar. Me ensinou a valorizar o amor e que o amor pode ser eterno. A eternidade existe sim. E o para sempre existe dentro da gente. Eu amo Baker,apenas do jeito que ela é. Eu a amo demais da conta e ela será minha eterna companhia da tarde,manhã,dos domingos. — Obrigada por cuidar de mim senhorita Baker. — Deito-me em seus ombros. —  Eu que agradeço por ser minha melhor amiga. —  Sorri sem os dentes. —  Não fique triste. — Não estou,estou muito feliz por sinal,mas sinto saudades. — Saudades de que? — Ela novamente não se lembra. —  Da minha família. —  Ah,vai visita-los. — Sou grata a baker pelo nosso tempos juntas,cheio de esquecimentos e energias de amor.
Marlla Felisarda.
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