#AQLUFSC

[linguagemdosgemeos]

Introdução: A aquisição da linguagem em gêmeos

Você já parou para pensar em como crianças gêmeas começam a falar? Será que elas adquirem a linguagem ao mesmo tempo, aprendem as mesmas palavras, as verbalizam da mesma forma? Se elas vivem na mesma casa, têm a aprendizagem mediada pelas mesmas pessoas e estão expostas aos mesmos estímulos, poderíamos supor que a resposta à segunda pergunta é sim. Mas, na prática, será que é isso que acontece? É o que buscamos investigar no conteúdo que publicaremos neste blog.

A equipe é formada por Mariany Silva Santos, Monique Corrêa Luckmann e Stefani Ceolla de Moraes, e como trabalho final da disciplina de Aquisição da Linguagem, do curso de Letras - Língua Portuguesa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), iremos acompanhar, pelos próximos meses, o processo aquisitivo em duas crianças gêmeas, sendo uma menina e um menino, de cinco anos de idade, moradoras de Florianópolis.

Os gêmeos estão na faixa etária que linguistas chamam de “período crítico” para adquirir a linguagem - não apenas a língua materna, mas também outros idiomas. Antes de explicarmos esse conceito, é preciso falar da diferença entre língua e linguagem - sim, elas não são a mesma coisa!

Diferença entre língua e linguagem

Para um estudioso da questão chamado Borges, “a linguagem seria a capacidade de comunicação humana oral, e as línguas seriam as formas particulares por meio das quais cada comunidade, cada sociedade ou grupo social realiza a linguagem”. Já outro grande entendido do assunto, Sapir, explica que a “linguagem é um método puramente humano e não instintivo de se comunicarem ideias, emoções e desejos por meio de símbolos voluntariamente produzidos”. Ou seja: a linguagem representa as formas particulares pelas quais nos comunicamos; a língua é o meio pelo qual um grupo expressa a linguagem.

Gramática Universal

Agora, voltando ao período crítico: diferentes teóricos entendem que temos uma fase que é mais propícia para a aquisição da linguagem, conforme nosso nível de desenvolvimento. Para Lenneberg, o período crítico para a aquisição da linguagem vai dos dois anos até o início da puberdade. Isso ocorre porque, nesse período, nossa Gramática Universal (GU) estará plenamente ativa.

Peraí: Gramática Universal?

Sim, aqui vamos entrar brevemente em uma das teorias que abordaremos nas próximas postagens. Tem um linguista muito famoso chamado Noam Chomsky que desenvolveu uma teoria chamada gerativismo, ou inatismo. Essa teoria supõe que nascemos dotados geneticamente de um aparato que nos permite aprender uma língua humana. Mais que isso: defende que temos um órgão mental específico para a aquisição da linguagem. É dentro deste órgão que está a Gramática Universal.

É louco pensar nisso, né? Mas, acreditem: faz sentido. É isso que justifica, por exemplo, o fato de sabermos, logo cedo, a estrutura das frases. Por exemplo: nenhuma criança diz “preto velho um carro papai o comprou”. A criança pode até não pronunciar as palavras da maneira como fomos ensinados a entender que é a “correta”, mas, em geral, produzirá a frase seguindo a estrutura padrão da língua portuguesa: “o papai comprou um carro preto velho”. A gente vai explicar tudo isso melhor nas próximas postagens!

Mas será que é só essa tal de GU que explica o modo como adquirimos a linguagem? Nascemos assim e pronto? Não! Silva afirma que “É preciso esclarecer que, embora Chomsky afirme que as línguas humanas são parte do código genético humano, parece evidente que as línguas não são só genética, porque se assim fosse não se esperaria que existissem diferentes línguas. Além disso, é fato que, se falamos português com a criança, é português que ela aprende, não chinês. Portanto, é inegável, na aquisição da linguagem, o papel do input (isto é, da língua que a criança ouve à sua volta e que lhe é dirigida), e devemos por isso examinar atentamente quais são suas características e como interage com o aparato genético na aquisição”.

Para explicar tudo isso direitinho, nas próximas postagens vamos contar como a aquisição da linguagem está ocorrendo na vida dos gêmeos, relacionando com teorias sobre o assunto.

Sejam bem-vindas, bem-vindos e bem-vindes ao blog!

Mariany, Monique e Stefani