Tumgik
#aφροδίτη της mήλου  ♡    ㅤ⠀ ㅤ⸻ ㅤ⠀ ㅤ ( yuliana volkova )
westofeden · 2 years
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ㅤㅤㅤㅤㅤㅤ⸻ Angelia.
ㅤㅤNão havia mais nada para se fazer senão chorar.
ㅤㅤYuliana estava de frente com o túmulo, seus olhos estavam cheios de lágrimas, as roupas eram pretas e a face estava fria como o inverno russo. Estava disfarçada porque não podia estar naquele país como Yuliana Volkova, seria presa no mesmo momento que se revelasse. Presa ou o que quer que fizessem com traidores da pátria, e ela não achava que seria algo bom ou justo. Os cabelos estavam tingidos de castanho escuro para dificultar sua identificação, usava óculos escuros e uma touca. O inverno começava a ir embora lentamente, porém não era algo que a incomodava já que havia nascido ali. O vento gelado a saudava como fazia durante toda a infância. Estava em casa, todavia não se sentia bem-recebida. Olhava para os lados vez ou outra de maneira delicada porque alguns agentes poderiam estar ali à sua espera, no entanto não imaginava que qualquer um dentro do governo russo poderia divagar que ela sabia o que havia acontecido ali e, muito menos, que ela estava se despedindo.
ㅤㅤEkaterina Andrejewna Volkova.
ㅤㅤEra a única coisa que estava escrita ali. Só o nome, sem as datas e qualquer outra informação. Embora ainda fosse algo extremamente vago, se surpreendeu que tinham se dado ao mínimo de trabalho, afinal de contas toda a sua morte havia sido um mistério. Não para ela. Tinha certa ideia do que havia acontecido ali, podia sentir no ar frio que lhe rondava, porém nenhum militar ou político iria admitir tão abertamente que haviam encomendado a morte de uma antiga militar de alta patente. Yuliana sabia e estava de pé olhando para o que agora era sua mãe apenas desejando que onde quer que ela estivesse ao menos tivesse paz.
ㅤㅤ  — Quem é você? — Yuliana virou-se num movimento limpo e fluído, quase como numa pirueta de uma bailarina do Bolshoi, com uma faca pequena na mão quando sentiu a aproximação extremamente leve atrás de si. A arma ficou a centímetros do pescoço de uma mulher elegante, com um sobretudo acinzentado assim como seus olhos e cabelos. A pele era escura e contrastava bem com todo o restante, deixando Yuliana encantada com a beleza que ela possuía. Entretanto, sua face era dura e a mão imóvel, próxima dela. Não iria titubear, não importava quem fosse.
ㅤㅤ — Você tem bons reflexos. — Foi a única coisa que ela lhe disse com uma face serena e um pequeno esboço de sorriso. A russa pode perceber que não estava amedrontada e, pelo seu sotaque, não era da mesma pátria que ela. Tudo nela poderia dizer que não lhe era um risco eminente, no entanto a semideusa aprendeu com a vida que existiam riscos que ela não estava disposta a pagar. 
ㅤㅤNão seria pega.
ㅤㅤ — Eu fui bem treinada. — Comentou, com um sorriso falso no rosto e sem se mover um centímetro sequer. Não iria recuar. — Quem é você?  — Perguntou novamente.
ㅤㅤ — Eu sei disso. Você fez parte da Krasnaya Komnata de 2010 à 2017. Detêm inúmeros talentos, mas combate armado e corpo a corpo sempre foram suas marcas registradas. Você se tornou um mito por lá, a  espiã mais talentosa dos últimos anos que sumiu antes mesmo de completar sua primeira missão sem deixar rastros. Na época que era treinada, a organização tinha como Diretor o camarada Valeriy Nikolaevitch Sokolovsky. Se servir de algum consolo, ele foi morto em 2019 por uma das outras garotas que participou do projeto com você, mas infelizmente a iniciação ainda vive. — A mulher falava com calma e, embora não tivesse o sotaque russo natural que Yuliana poderia detectar facilmente, havia pronunciado o termo russo da Sala Vermelha e o nome do diretor com uma precisão absurda, afinal nada do que ela havia dito era fácil para a pronúncia de quem conhecia pouco da língua. Ela era fluente, conclui, mas não era originária dali.
ㅤㅤ — Quem é você, porra?  — Pronunciou pela terceira vez, com a entonação mais feroz e posicionando a faca na jugular da mulher. Se não fosse respondida, a mataria instantaneamente. Yuliana havia concluído que se ela sabia tantos detalhes da sua vida só poderia significar que trabalhava para a KGB, assim a sua própria segurança era mais importante naquele ponto. Estudou a feição dela que ainda se mantinha com uma calma irritante para a semideusa. Será que ela tinha alguma equipe com ela ali para assegurar sua sobrevivência? Faria sentido, porém Volkov não havia identificado nenhum sinal.
ㅤㅤ — Angelia. — A voz dela soou, revelando seu nome. Não era russo, todavia isso não significava nada. A russa não se moveu e ainda manteve o olhar inquisidor, demonstrando que um simples nome não lhe saciaria nem a faria retroceder. Qualquer um poderia ter qualquer nome. Ela mesma havia entrado na Rússia sobre o nome de Mariya Andreyevna Behrs, porém aquilo não mudava que ela era uma semideusa romana, uma assassina treinada, uma ex-espiã e atual inimiga do governo russo. — Eu sou uma daemon ou, se preferir, a representação viva das notícias e mensagens. Pode abaixar a faca, Yuliana, porque além de não me causar dano algum eu não vim para lhe causar mal. Eu vim lhe trazer uma mensagem importante.
ㅤㅤArqueou o cenho com aquela constatação, porém vivendo no mundo que vivia sabia que aparições como aquelas poderiam ser consideradas normais. Abaixou a faca vagarosamente, ainda ponderando sobre aquilo, mas no momento que percebeu que nenhum membro da KGB usaria uma identificação daquela para lhe enganar guardou-a secretamente e deu alguns passos para trás estudando a figura completa dela. Pensou que ela não tinha aquela aura divina, entretanto sequer sabia o que poderia ser ou significar ‘ter uma aura divina’.
ㅤㅤ — E quem me mandou uma mensagem que precisou ser entregue por uma divindade dentro de um cemitério? — O ar satírico e irônico de Yuliana poderia ser imprudente, porém notando que aquele ser estava ali para uma “missão” entendeu que ela não poderia sair dali sem completá-la, mesmo com as atitudes nada agradáveis da filha de Marte.
ㅤㅤ — Aleteia. A personificação da verdade. Ela quer falar com você, Yuliana, filha de Marte. Revelar aquilo que é de seu direito para que você possa olhar para o futuro. — Ao escutar tais dizeres, a russa não conseguiu controlar a sua própria feição demonstrando que estava insatisfeita. Não gostava de ser chamada daquele jeito. Filha de Marte. Porque deveria ser chamada assim quando Marte apenas havia sido um grande e sobrenatural empecilho em sua vida?
ㅤㅤ — E por que enviar uma mensageira se ela poderia ter vindo pessoalmente e me dizer o que quer que seja? — Ela não havia percebido até aquele momento, todavia toda a conversa estava sendo falada em russo o que deixava com que a semideusa se expressasse com mais facilidade. Ainda assim, a curiosidade havia tomado conta de todo o seu ser porque não parecia haver momento mais impróprio para a personificação da verdade querer conversar com ela do que após a perda da sua progenitora. O que poderia ser? O nome de quem havia feito tudo aquilo? Talvez fosse uma informação que ela gostaria de saber.
ㅤㅤ — Porque é preciso buscar a verdade. — A simplicidade com que Angelia disse aquilo também incomodou, como se fosse algo que todos nascessem sabendo. — Busque por ela onde Fuge foi sua melhor amiga.
ㅤㅤE, num piscar de olhos, Yuliana estava novamente sozinha ali. Ela e o túmulo de sua mãe. Haviam tantas perguntas em sua mente que ela sequer conseguia focar no que fazer. Ficar? Ir embora? Ir atrás de Aleteia? Deixar aquele assunto morrer? O vento gelado cortava o rosto dela, chamando-a de volta para a realidade.
ㅤㅤ — Do svidaniya, mama. — Disse, se despedindo do que restara da mãe e caminhando para fora dali sem saber exatamente para onde ir. Sair dali era a única opção que tinha para evitar que se iludisse e perguntasse para a sua progenitora o que ela deveria fazer, algum conselho.
ㅤㅤEkaterina não lhe responderia.
ㅤㅤAs respostas estavam em Aleteia, mas respostas de que?
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