Vai saber?
Resolvi recepcionar tudo aquilo que não sei.
Tudo que não sei sobre mim, sobre você, sobre o mundo, o universo.
Resolvi, mas não para ficar sabendo, sem a pretenção de saber, apenas recepcionar, dar um cheiro, um calor, um quarto, abrigar.
E abrigar bem, num quarto com lençol cheiro, recém lavado com o cheiro do amaciante que mãe usa, sabe?
Quarto esse sempre de portas abertas, livre circulação, livre da supostamente bendita compreensão, romantizado laço, maldita seja a violência "civilizatória", essa que livremente já iniciou muita história.
E incenso! Incenso com aroma de silêncio... esse eu não conhecia e segue desconhecido, e por isso a tempos já somos íntimos amigos.
Resolvi dar um cházinho para tudo que não sei, afinal, imagina: café agitaria tudo que não sei sobre placas tectonicas, vulcões, você... Imagina a confusão.
Imagina! Porque para conhecer até pode ter limite, mas para imaginar... aí tem também, ainda mais depois de certa idade que ficamos achando que conhecemos coisas demais, que se sabe de algo.
O chá eu faço de hibisco, ou cidreira, ou da primeira coisa que eu veja e não seja o seu olhar. Imagina os riscos de querer mergulhar numa garrafa térmica verde limão de 300 mililitros?
Absurdo, antes mesmo de começar a preparar a bebida eu já teria me perdido em alguma de suas constelações, sem nenhuma previsão de me encontrar, ou ideia de tal pretenção.
E sem saber onde estou eu seguiria estando, porque sem saber quem sou sigo sendo e sem saber quem és eu sigo.
E com tudo que não sei em saudável abrigo, me encontraria despreocupadamente comigo me desencontrando do eu que digo e quem sabe contigo?
Vai saber...
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fantasma
o mistério que posso contar
talvez mais curioso que misterioso
é como fantasmas podem ser nós mesmos
à nos mesmos
numa assombrosa corrida a um sentido que ninguém
repito: ninguém
sabe qual é
nem sequer se ele existe de fato
para mal, para bem
no fim pouco importa a quem
todo o caminho
suspenso alinhamento
fio constituído num único ato:
o esperançar
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conversa
admitir o que sinto por ti
seria dar voz ao vulcão
que, não me pergunte como
descobri submerso
a surpresa de fato
é como tal força não
conseguiu ainda me tomar por todo;
desfazer controverso
arte sensível que vem
ensinando-me com a atenção
de criança a brincar com
diferente universo
achar seus rios
encaminhar, sem barragem ou contenção
o doce, salgado, ácido
dedilhado imerso
aconchegante chegar
não sendo nenhuma contradição
o desembocar sem pressa em
perverso verso
aflito teimoso pulsar
insiste mirar na possível destruição
de olhos fechados o ar consegue entrar
se faz possível o inverso
a verdadeira novidade
saborosa subversão
simples abrir de porta, perna, sentidos
sem preocupar-se com nexo
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y did u go away?
loneliness drunk
what hits most and deepest
screams the lack of proof
hit et nunc
says the tattoo
but here and now
all i've got
are memories
thin air
fading at its best
the faith that kept the belief
of finding arms
and something more
that one true encounter
body and soul
and its trickiest bit
that they would stay
it's so hard to open some doors
to let it flow
just do it
as learning how to breathe
so easy when you just say
but as you act
everything inside and out
reminds you the lack
it dances with the spark
that enlightens the path
of others
towards me
it comes and goes
dangerous waltz
of to be or not to be
playing with no glee
with the - apparent -
impossibility of anyone
truly reaching in
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Mar
e foi nas mãos de fulana, ciclana e também beltrana também
que a frieza que fulano, ciclano e beltrano levaram-me a ver em mim
a ponto de eu pensar que era tudo que havia
pouco a
pouco
se d
e
r
r
e
t
i
a
gota em gota
de repente
(26 de agosto de 2021)
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fogo
Que ninguém me ouça
Mas tenho desejado morrer
Como quem chupa do fruto que lhe foi ensinado ser proibido
E suga ansiosamente toda a sua delícia
Tenho desejado morrer
Para que toda a força da correnteza que desperta por dentro
E desperta ardente, acompanhada de uma tempestade
Se liberte
E na liberdade haja força
Haja coragem e olhares mais demorados
Invejo túmulos em que os olhares milimetricamente acariciam
Avaliam, com todo o peso de ser a última vez
E deve ser a leveza mesmo que me matará
Não para que todo o peso venha em mim
Mas na superfície em que acesso o mundo
É nela que a leveza me aprisiona
E aprisionada por ela sigo desejando a morte
Sigo desejando revirar do avesso
Até que tudo que que sou seja plenamente a chama e tempestade que já é
mas não pode ser, escapa aos dedos e à respiração
Desejo correr até a escola e fugir do que me ensinam
Pois destilando esse desejo
Quero apenas uma coisa mais do que nunca
Viver
(Aprox 27 de agosto 2020)
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Você
Com suas longas melodias
E um certo vício de
desculpas igualmente extensas
Eu
farei tudo que posso para
que teus olhos míopes vejam
que não são necessárias
Seja pelo refrão
Ou súbita decisão pelo silêncio
(Tipo um soluço voluntário, esse aqui de fato me irrita)
Ou desviar os olhos, com um sorriso contido
(Breve observação: não o contenha,
Nem ele, nem tequila,
Nem a dança,
Nem nada em si)
Você
É do tamanho que se permitir ser
Não deixe tal decisão na mão de ninguém mais
Mas que seria agradável
Te ter em minhas mãos e eu nas tuas,
seria, não vou negar
(25 de junho de 2020)
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Did you ever feel what’s like to be loved?
Creio que não
- não por falta de fé -
só que esse escorrer
por minhas paredes, tetos,
e pior: muralhas e portões
tal sútil alerta de inundação
nunca passou pelo quente
de meus olhos
nem penetrou pele,
e melhor: muralhas e portais
esse lícor do cuidar, do afagar,
afogar, chupar, gota a gota se entregar
e então frescor, silêncio do estar
Será que tenho medo da água?
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mínimo
mania essa
do coração
de ter medo de alcançar tudo que deseja
uma missão:
o mostrar todos os dias
um pouquinho mais
de que tudo que ele anseia
é nada além
do mínimo
(26 de agosto de 2021)
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condição do sentir
como alguém prova a si mesma
merecedora do amor
um amor de que fugiu a vida toda
pois seguiam repetindo que era errado
e seguem dizendo
como alguém prova a si mesma
merecedora do mel
que escorre por suas pernas
pois a olhava e via nela algo tão precioso
e sigo vendo
exausta demais para provas
merecer passa a soar pífio
só posso desejar ao amor, mel
e ao que é precioso, uma coisa:
a liberdade
(26 de agosto de 2021)
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lava
como espremer as palavras para fora de mim
como exprimir esse turbilhão informe
urgindo por alguma ordem
não almejo falar de tudo
mas não falar de nada
menos ainda
no peito arde e pulsa
muito mais do que aprendi que podia, conseguia
como me permito extravasar?
não só o pungente
também o extravagante
o que for que denote que quem vaga, sou eu
15/05/2021
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Significados maiores
E se
Eu lhe desejo que o pior dos mundos te encare fundo nos olhos
Para que o encare de volta e saia andando
Firme
De forma que se faça claridade
O que antes era névoa
Não para dizer que nossos olhos nos contam tudo
Mas para mostrar que a envergadura da coluna
Conta muito
E a brevidade da existência é como água quente
Conforta mas também pode queimar
Cuida mas também resseca
Mas que o porém, contudo e entretanto nao nos crie opostos
E sim que dê luz as possibilidades
E enchemos as bocas, bocetas e bolsas delas
A certeza não sequestra a dor
Nem precisa
Morrer todos os dias é confuso
E precisamente sobre o que é viver
—————————/
Se erguer sobre duas pernas
Qualquer animal pode
Ser um humano
Qualquer basculho pode
Ser humano
Eu creio que não
Essa certeza só posso ter após o caixão
A fogueira, cremação
O que for, seja mar seja terra
Aqui e agora
Ainda não
20/07/2021
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clichês sinceros
todas as coisas que não tivemos tempo de fazer
de repente vêm e me levam o ar
já cansei de repetir
não há o que ser dito
(7 de abril de 2021)
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ser ponte
ao descobrir que a cura possui todas as cores
só pude sorrir
o amor nunca esteve tão certo
(1 de abril de 2021)
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comum
ser impossível agir por agir
fala da nossa necessidade de sermos compreendidos
ou da necessidade do outro, de tentar compreender?
ou da constante manifestação impensada
do dentro indo para fora
e pela manifestação do constante pensamento
o fora indo para dentro
(4 de abril de 2021)
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como se expressa o indizível?
há a repetida tentativa
de se compreender a fé
creio eu
e por crer, geram-se mais sentidos
e com mais entendidos
menos se chega ao ponto
(25 de março de 2021)
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