Máquina como se fosse (2008) /// pincel atômico + papel + moeda + balão de festa (bexiga) + beats eletrônicos
máquina como se fosse fazer costura
nada mais fazer do que signos
) p-preto o-preto e-preto
um-m
um-a
tudo diferente de um coser qualquer
que se fechasse em pontilhado branco
máquina como quem quer desfazer
costura de coisas no papel branco
entre um hífen ponte de meditação
dedos-dados dados em lanço de pontos pretos
um lenço um cachimbo
em preto-branco espaço
remate do poema
branco
-Edgard Braga
1
“Máquina como se fosse”: som da escrita do poema homônimo de Edgard Braga (Maceió, Alagoas 1897 - São Paulo SP 1985), publicado no livro Soma, de 1963.
2
Gravei este poema por não conhecer nenhum registro sonoro desse poeta tão visual. Mas minhas tentativas de vocalizá-lo não me agradaram nem um pouco.
3
Optei por um recurso interessante que superou minhas expectativas: gravar o atrito de um pincel atômico (mais sonoro que uma esferográfica) sobre o papel, enquanto escrevia o poema. Essa foi a única maneira que encontrei para materializar através do som um poema do precursor da poesia caligráfica no Brasil. Ao mesmo tempo, o ruído constante da minha escrita “costura” os sons que compõem a peça e lembra o som de uma máquina, que é metáfora utilizada no poema em questão.
Rasgo um papel no exato momento em que escrevo o verso “costura de coisas no papel branco” e lanço uma moeda no exato momento em que escrevo o verso “dedos-dados dados em lanço de pontos pretos”. Optei pelo ruído metálico e pela troca poética de signo, para representar a associação que EB faz, nesse verso, com o “Lance de Dados” de Mallarmé.
Junto aos beats eletrônicos, adicionei o som do ar saindo comprimido de um balão de ar. Qualquer semelhança com as evoluções de um sax ou uma guitarra, não é mera coincidência.
4
A peça foi selecionada para a exposição de radioarte radioCona - Radio Arts Space, organizada por CONA institution, que aconteceu de 7 a 16 de dezembro de 2011, em Ljubljana – Eslovênia.
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"vocábulo" by edgard braga (1966)
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