Tumgik
#especial: frostalia
luvdeathrobots · 9 months
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POV: Raison D'Etre (Parte 2)
*t.w.: possível teor melancólico, seringas, alucinações. clique aqui para ler a versão no google docs.
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   SE HAVIA ALGO que há muito tempo passava pela mente de Ren Yamamoto e pouco o incomodava, essas coisas poderiam ser consideradas suas memórias; memórias não do dia em que perdeu seu pai e tampouco de quando uma lâmina o tatuou o peito, mas sim memórias verdes, como ele mesmo denominava, e que em seu rosto preenchia um sorriso de nostalgia. Eram esverdeadas como o fluorescente de seus pijamas, da tinta de seu velho cabelo ou das plantas de seu quintal quando tinha 10 anos. 
— Yi-sensei — E é claro, eram verdes como os antigos olhos de Mestre Yi. — Qual a arma mais forte do mundo?
   Naquele tempo, Yi e Ren costumavam descansar no jardim de casa. Sentavam-se no banco de madeira frente a cachoeira de carpas, deixavam suas espadas bem guardadas às pedras e então discutiam sobre toda e qualquer dúvida infantil que a criança Yamamoto pudesse ter. 
—  Que pensa que é, meu pequeno espadachim?
— Minha espada! — Ren era sempre certeiro em suas escolhas, até mesmo fadado ao orgulho. Yi sempre ria daquilo. — Wano com toda certeza é a arma mais forte do muuuundo todo! 
— Mais forte que metralhadoras, canhões imperiais e até mesmo as criações? — E claro, seu professor sempre o ensinava a ir além do que sua cabeça mandava. Não adiantava muito. 
— Mais forte que metralhadoras, “caminhões” imperiais e até mesmo as criações! 
— Mais perigoso que tudo isso, marimo, é o conhecimento. — Suave como era a voz de Yi, pelo menos nas lembranças do artífice, era o toque em seu nariz. Tédio, entretanto, era a cara da criança sempre que suas expectativas eram quebradas em aprendizados. — Até mesmo monstros e deuses podem ser esquecidos se não há a quem lembrá-los, meu gafanhoto. Conhecimento é  legado, e um dia você deixará o seu. […]
   E agora, aos 24 anos, memórias verdemar como aquelas levavam Ren Yamamoto a retirar a espada Enma de sua bainha, bater na porta mais estranha do Mercado das Maravilhas e suspirar em alívio ao ver a figura de seu velho professor. Quando falamos do presente, da realidade, não nos referimos ao verde natural e tampouco de filosofias; talvez aquele homem ainda estivesse conhecendo o amarelo, ou quem sabe aos poucos voltava para o melancólico azul em sua vida. Não importava. Quer que cor fosse refletida em sua alma, nenhuma se comparava ao vermelho incessante da lâmina de Enma espelhada aos olhos de Yi, o então crescido Yamamoto e a casa.
   Outra vez, o artífice havia fugido das horas limite de seu castelo para visitar seu velho amigo sangrador, cujos olhos não mais refletiam mais o verde. 
   Yi não estava tão chateado com o atraso de sua visita, mesmo que por todo o percurso até o centro da casa reclamasse do quão precisos eram dez a vinte minutos. E assim como Ren pensava que o tempo deixava as pessoas mais rabugentas, talvez as transformassem em melhores ouvintes; como quem sabe era o caso do próprio gafanhoto, que tomava tempo para escutar melhor seu eterno professor ao invés de constantemente refutá-lo em suas ideias e reclamações.
   Depois de muito ouvir e absorver um monólogo sobre o tempo, o espadachim pôde enfim se sentar ao sofá. O sorriso infantil de eterna crianças às vezes invadia seu rosto, quase como acontecia quando de repente ele pediu:
— Me conte uma história. 
   Não foi negado, apenas enrolado. Yi ainda tinha um trabalho naquela noite — afinal, para que Ren pudesse domar Enma, ajustes em seu corpo eram necessários. 
— Que gostaria de ouvir? — Indagava o senhor.
   Naquele momento em específico, as prateleiras unicamente eram exploradas atrás de seringas; diferentemente da primeira noite de visitas, suturas não eram mais necessárias.
— Quero ouvir sobre Frostalia — Pediu Ren. — E sobre as peças de fim de ano.
   O sangrador sorriu. Inda que seus olhos não passassem do cinza, suas lembranças guardariam eternamente o brilho eterno de Frostalia. 
— Estamos falando aqui de um trio de irmãos, figurinos roubados de armários de seus pais e um ataque nada violento de shibas — Lembrou-se. Pelos sentidos da Essência, o velho homem foi guiado ao sofá. — Estou certo? 
— Sim, senhor. — Foi rapidamente respondido. Ren levantava pouco de sua camiseta, de jeito que seu braço fosse exposto e bem recebido pela ponta da seringa. O vermelho líquido de seu conteúdo era tão cativante quanto o vermelho da espada Enma guardada na mesa em sua frente. — E sobre Volo, Cogita e Cíntia. 
— Uma vez — Era iniciada não só a história quanto a transferência do cinábrio do vidro ao sangue. —, você e seus irmãos decidiram inovar: fariam uma peça teatral no dia de Frostalia. Você não gostou muito. Não queria gravar as falas que Raiden escreveu e tampouco usar as roupas que a Reiko escolheu. Você nunca gostou de muito frufru. — Riu o velho. Em paralelo, mesmo que a história soasse atraente para seus ouvidos, Ren não conseguia muito bem reagir; e não reagir não era bem sua vontade naquele momento.  — Mas de algum jeito, eles te convenceram a entrar nessa. 
   O senhor percebeu a frequência cardíaca de Ren aumentar; era o efeito quase que fixo de quando sua mente e seu corpo se fundiam em um — ou melhor, quando seus sentimentos se revelavam meio ao efeito do cristal então líquido. A garganta travava, sua respiração falhava e o corpo travava. Era perdida a noção de espaço, mesmo que o tempo ainda passasse em seus olhos e ouvidos. Yi, com o auxílio de sua Essência, tocava-o as costas no intuito de acalmá-lo. 
— … E então se dividiram: Cíntia foi o primeiro papel criado, já que era Reiko a precursora de toda ideia. Então, Cogita veio ao script quando Raiden aceitou as ideias de sua irmã. Você, por ser teimoso, ganhou Volo quase no final de todo enredo. — Era retomada a história. — Conhecimento, o sentimento e o querer; respectivamente, da língua antiga estudada por vocês, significavam Cogita, Cíntia e Volo — eu sei, eu sinto e eu quero. Eram juntos os princípios que uma consciência deveria ter para conquistar o espaço-tempo.
   A boca do ouvinte abriu, mas nada saiu. 
— Seus rivais, o Espaço e o Tempo, viviam em guerra; e naquele tempo, nada mais poderiam ser senão seus cachorros. Coitados! — Um riso se ouviu outra vez, mas apenas de uma parte da conversa. Yi estava em um novo monólogo não por vontade própria, mas por paralisia inconsciente de seu ouvinte. Ren o ouvia, ouvia-o como se fosse som único no mundo, mas o fervor em seu sangue era suficiente para que ele travasse no seu espaço-tempo. — E então…
   E então que de repente, não era mais Yi no campo de visão de Ren, mas sim uma Reiko de cabelos ainda pretos bagunçados pela correria, vestido rosa roubado de sua mãe e uma jóia santa pendurada em seu pescoço. Ela gritava algo que ele ainda não era capaz de decodificar, pelo menos não enquanto sua mente criava um borrão entre a realidade e a alucinação — e se podemos aliviar sua situação, talvez aquele borrado fossem apenas memórias. 
   Do outro lado da cena, com um terno de mangas tão grandes quanto os braços poderiam caber, o pequeno Raiden pulava do sofá; ou melhor dizendo, caía do sofá.  Ele ainda era bochechudo, principalmente quando acumulava vento em suas bochechas pela chateação da própria falha de cálculo entre a altura do móvel e o chão. Aquilo com toda certeza não estava em seus planos, mas a admiração breve de seu reflexo no espelho que segurava com toda certeza estava. 
    Eram outra vez pequenos. 
— Vamos, Volo, não temos tempo para perder! — A criança de Ren, ou pelo menos seu estado atual de pertencimento, finalmente pode ouvir uma vez. Raiden estava perto demais, Reiko estava perto demais. As vozes eram sincronizadas em sua mente de jeito que ele não sabia diferenciar quem falava o quê. — O Tempo vai roubar o peito de peru! Corre! 
       E os três involuntariamente correram, mesmo que Ren perdesse tempo em descer os olhos e flagrar uma farpa — ou melhor, uma agulha — em seu braço esquerdo. Ele a tirou sem cuidado algum. 
   O plano dramaturgo infantil era infalível: Cogita (Raiden), o conhecimento, ficaria na linha de trás atento a todos  os movimentos inimigos. Ele saberia a hora exata de gritar partida ou recuada, como ditaria aos outros irmãos alternativas em seus caminhos. Cíntia (Reiko), o sentimento, acompanharia então o duelista Volo (Ren), a vontade, para que assim o pudesse auxiliar na balança de seus sentidos frente a bravura. E realmente foi um bom plano; Cíntia, Volo e Cogita juntos conseguiram deter o Espaço, de jeito que apenas sobrasse o vilão Tempo e seu peito de peru — troféu esse que script escrito por adulto algum poderia pensar em uma noite de Frostalia.  
   A dupla da vontade e do sentimento então ouviu seu conhecimento e partiu para cima do tempo. Com sua espada de madeira, a vontade de sobressaiu frente ao tempo graças ao orgulho exposto de seu sentimento, uma vez que ouvira seu irmão conhecimento. 
   Frente a espada, o Espaço havia sido cortado e o Tempo estremecia. Volo, Cogita e Cíntia começavam a desintegrar e o borrão se fazia outra vez presente em sua mente. 
   E então não existiam mais roupas largas, espadas de madeiras, peitos de peru, cachorros vilões e tampouco historias a serem relembradas do verde. Ainda que tudo deixasse de existir tanto para sua audição quanto para sua visão, Ren não estava tão bem consciente, mas não delirava mais como fazia quando tinha uma seringa em sua pele. 
   Assim como acontecera com Volo e Tempo, o vermelho da espada de Ren cintilava em sua mão e refletia o rosto trêmulo de Mestre Yi, senhor esse que por um momento se encontrava caído ao chão, cercado pela força dos braços de seu eterno aluno e a espada de Enma.
Mas Volo ainda precisava de Tempo. 
Aquele ainda não seria seu legado.
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poisonhxart · 9 months
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#obrpov + #happyfrostalia, parte II: alecto.
▸tw: dopagem em massa.
24 de dezembro de 2016.
A neve caía do lado de fora em contraste às taças de champanhe que tilintavam de dentro. Na sala repleta de pessoas, viscos e mentiras que durariam somente por aquela noite, a música corria como se um tempeste estivesse a controlando a seu bel prazer. Talvez estivesse, de fato. Arianrhod não saberia dizer, já que era de seus dedos finos que as melodias surgiam uma atrás da outra.
Conforme crescia, ouvia a Sra. Houston constantemente dizer que ela deveria dominar ao menos dois instrumentos para que fosse interessante, porque uma moça deveria servir ao menos de entretenimento. Seu pai poderia ter contratado até um coral premiado para aquela noite se intencionasse, mas ter a caçula tocando era mais refinado, era mais discreto, era mais prazeroso. Enquanto a terrarium estivesse ocupada no piano, não estaria por aí se metendo em conversas que ele não queria que ela soubesse. O que ele não sabia era que ela queria estar ali menos que ele, e que não estaria em momentos.
Desde muito nova, ela sempre tinha se interessado por poções. Era a influência mais óbvia da falecida mãe sobre a filha. Farwa, que nunca tinha sido uma artífice notável, recorria às plantas e a Essência que lhe foram negadas sempre que podia. Assim era Aria. Ela tinha a Essência, mas tudo o que dizia respeito à sua educação mágica era mais negligenciado que seus irmãos. Praticamente autodidata, contudo, ela tinha aprendido coisa ou outra no passar dos últimos anos e não tinha muitos dilemas morais em testar com aquelas pessoas – afinal, não gostava delas.
O prato cheio era sempre os jantares. Todos eles comeriam ali e os que não comeriam, beberiam. Aos quinze anos, ela não era ninguém com sede de poder ou com o desejo de fazer os outros sofrerem, só precisava unir o útil ao agradável naquele Frostalia: se livrar de toda aquela gente para que ficasse sozinha e saber se suas poções funcionavam em grande escala.
Mal era meia-noite quando todos já tinham ido embora. O jantar servido às 22h tinha um tempero especial que começou a funcionar por volta de uma hora depois. Foi com prazer que ao som de Carol of the Bells as pessoas que passavam por si, não voltavam da porta de entrada. Talvez Owen tivesse de lidar com os pormenores disso depois, talvez ela mesma apanhasse se fosse descoberta, mas nada foi mais gratificante do que levantar-se do banco do piano e encarar a sala praticamente vazia às 23h45.
Um sorriso genuíno escapou pelos lábios dela no que bocejou. Não estava com sono, havia tomado do antídoto logo após o jantar, mas sentia as consequências de um trabalho bem feito. Fechando o piano e trocando a música que tocava pela que agora ecoava em seus fones de ouvido, ela caminhou em passos tranquilos até o quarto, quase dançando de degrau em degrau naquela felicidade soturna.
Frostalia is here, bringing good cheer to young and old, meek and the bold, ding, dong, ding, dong, that is their song, with joyful ring, all caroling…* — Ela cantarolava. Se vista por outros olhos, a cena era uma tragédia cômica. A garota que tinha espalhado uma praga durante uma festa de Frostalia somente porque queria ficar sozinha. Era completamente egocêntrico de sua parte, mas ela não se importava.
Sentada na janela do quarto, devidamente aquecida com um cobertor grosso, acompanhada de uma caneca de chocolate quente e de A Frostalia Carol**¸ ela sabia das consequências possíveis daquele seu ato. Bem verdade, era quase divertido pensar na cara de Owen quando todos falassem de sua festa que sequer chegou na meia noite; ela ansiava para que o chamassem de entediante, para que falassem mal de tudo, para que o deixassem mal falado. Se isso custaria cicatrizes novas a desaparecer... não era um problema.
Naquele Frostalia, ela estava feliz em estar sozinha. Naquele Frostalia, ela tinha pela primeira vez a certeza de que era ótima dopando pessoas.
[ * e **: Letra de Carol of the bells e o título de  A Christmas Carol foram alterados para obedecer o contexto do Natal no RP. ]
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