O costume infantil e divertido, em Outubro, de esvaziar abóboras e cortar olhos, nariz e boca buscando uma expressão medonha e iluminar por dentro, está bem longe de ser uma tradição importada americana.
É uma característica cultural milenar da Península Ibérica, que remonta ao tempo dos 'celtiberos'¹, relacionada com o culto celta das "cabeças cortadas", representando as cabeças dos inimigos que foram cortada durante uma guerra ou batalha, em tempos a.C..
Na antiga Beira Alta (província de Portugal) era costume os rapazes levarem espetada num pau, uma abóbora esculpida em forma de cara, com uma vela acesa dentro, lembrando uma caveira, como símbolo das almas do outro mundo.
Em outras regiões de Portugal, essa abóbora cortada em forma de cara levava o nome de coco, que era nome dado à cabeça (com variações de um coco fruta, que tem três orifícios). Por isso, aqui no Brasil, quando vc era criança pentelha e batia ou machucava a cabeça, a vó ou tia avó vinha e falava: "- Bateu o coco? Tadinho..."
Etimologicamente falando, coco é usada em linguagem coloquial para significar a cabeça humana em português e espanhol. Deriva de "crouca" na Galiza, que significa 'cabeça', que por sua vez deriva de "krowkā" em proto-celta com variante "croca", que significa 'cabeça'. Outros cognatos: "crogen" significa 'crânio' na antiga Península da Cornualha - Inglaterra. E "clocan" também significa 'crânio' em Irlandês.
Unindo todos esses elementos ao longo dos séculos... milênios até (por terem variações históricas antes de cristo), acredito que os antigos começaram a atribuir "coco" para uma coisa do mau.
O nome "coco" era um aviso de um mal iminente nos países de língua castelhana e portuguesa, quando as crianças desobedeciam seus pais, não queriam dormir, não queriam comer, ou mesmo colocar medo para não irem à lugares perigosos ou afastados de casa.
Aos poucos "coco" variou para "coca", a coisa do mau, que comia crianças, ou um sequestrador. A coca vigiava as crianças mal educadas em cima do telhado.
A coca funcionava tão bem para assustar a criançada pentelha, que entrou para o folclore lusitano/castelhano. Até ganhou citações em livros, quadros de pintores, e uma cantiga:
“Vai-te coca vai-te coca, para cima do telhado, deixa dormir o menino, um soninho descansado.”
E, eis que a lenda atravessou o oceano e veio parar no Brasil Colônia... E a coca virou cuca, o bicho-papão, a personificação do medo, um ser mutante que assume qualquer forma monstruosa, para assustar as crianças, um papa-crianças. E tinha que cantar pra botar medo na criança, pro pentelho dormir logo e não atrapalhar o namoro dos pais.
Assim, crescemos com essa cantiga, variação lusitana, unindo a cuca e o bicho-papão numa só:
"Nana nenê, que a cuca vem pegar, papai foi na roça e mamãe no cafezal. Bicho papão, sai de cima do telhado deixe esse menino dormir sossegado."
Aí, veio o Monteiro Lobato, em 1921, e transformou a lenda incrível do cabeça de abóbora num personagem totalmente desconstruído.
No livro O Saci, de Monteiro Lobato, ele descreve a cuca como uma velha amedrontadora, que tem "cara de jacaré e garras nos dedos como os gaviões" (broxante...).
Então, com o passar das décadas, as pessoas se esqueceram da coca/cuca cabeça de abóbora e trouxeram a cuca jacaré para assustar a prole desobediente.
PRONTO!
Quando tiver vontade de pegar uma abóbora, cortar olhos, boca e acender uma vela dentro, LEMBRE-SE, NÃO É SÓ UM COSTUME AMERICANO. Ele viajou milênios entre os povos para chegar em sua forma como vemos hoje.
Sabe, né, aquela velha história: Quem conta um conto, aumenta um ponto.
Maira Macri.
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¹. Celtiberos: Povos ibéricos pré-romanos celtas ou celtizados que habitavam a Península Ibérica desde finais da Idade do Bronze, no século XIII a.C., até à romanização da Hispânia, desde o século II a.C. ao século I.
Outubro chegou, agora, tecnicamente, estamos no Outubro Rosa. Mas lembre-se:
Sempre é necessário de falar sobre saúde mental ou vários tipos de câncer, esses problemas não existem apenas nos meses de conscientização. Usar esse período para fazer um personagem e dizer: "Vamos prevenir o câncer de mama/próstata!" ou "Sua vida importa, não cometa suicídio" e depois que as campanhas acabarem parar de levantar esses tópicos só mostra sua falsidade perante ao assunto.
O ano está praticamente acabando, e dizer adeus para outubro parece assustador, mas não posso ter medo! Ainda sou capaz de fazer todas as coisas que estão pendentes para esse ano, e me sentir realizada por completo.
Por isso, adeus outubro! Pode chegar, novembro, pois eu vou usufruir muito de você.
my papa's hometown is underwater. it was flooded when they built the dam, which he worked on cause it was the only job available. i think of him as i look out at a sky that is less and less full of stars each night. i think of him as i watch every place from my childhood get torn down to become apartment buildings. i think of him as i take a job that means my grandchildren will never see the beautiful place i was born in. i think of him and time eats its own tail; time eats his children and his children are reborn. he died before i was born; i did not know him. i think of him and connect the universe in a place it has not met before. i dont know what it was like in his hometown but i know what it was like when the water started rising.