Tumgik
#tem uma pesquisa científica que indica que plantas se comunicam através das raízes delas
juncyoon · 5 months
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𝐒𝐍𝐎𝐖 𝐅𝐋𝐎𝐖𝐄𝐑 𝑚𝑎𝑦 𝑡ℎ𝑒𝑠𝑒 𝑓𝑙𝑜𝑤𝑒𝑟𝑠 𝑓𝑎𝑙𝑙 𝑜𝑛 𝑦𝑜𝑢𝑟 𝑠𝑎𝑑 𝑠𝑚𝑖𝑙𝑒
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— point of view.
menção honrosa: @donnasjo e @swfpetrus
A ligação de Junho com as plantas é algo que sai fora do controle, desde pequeno havia essa forte ligação com o verde, mesmo morando em um apartamento minúsculo, sempre tinha plantas por perto. Então no acampamento não seria diferente, não é a toa que a sua cama sempre fica próxima da janela, porque não tinha espaço suficiente para ele e todo o verde que sempre surgia a sua volta, agora com o quarto de conselheiro, fica mais fácil de manter o seu cantinho bem seu e não interferir no espaço de nenhum de seus irmãos.
E na enfermaria estava da mesma forma, sendo a primeira vez em que Junho estaria na posição de paciente e necessitando de atenção, e de cuidados, os curandeiros precisavam se policiar sempre que uma planta nova surgia naquela parte da enfermaria, acabou sendo colocado em uma cama mais afastada para que houvesse mais espaço. E, de alguma forma, essa necessidade causava uma sensação boa, mesmo que Junho estivesse desacordado por tanto tempo, cada vez que uma folha surgia, era o sinal mais forte que tinham de que tudo estava bem.
E muitos se perguntavam o que estava se passando na cabeça do semideus, se questionando se realmente as coisas estavam bem por ali, quer dizer, desde o momento que retornou naquela forma tão engraçadinha de porquinho da índia, Junho não acordou mais e entendiam o motivo, os ferimentos foram bem mais profundos do que aparentavam, perdeu muito sangue, chegou muito enfraquecido, e se tivessem demorado um pouco mais, sequer teria chegado com vida. Graças a Donna, conseguiram reverter a magia de Circe e a sua forma humana foi recuperada, só então tiveram noção do nível dos ferimentos. A resistência de um semideus tem limites e, no caso dele, estava beirando a linha vermelha. Não foi preciso deixar mensagens de apoio e nem flores na cabeceira, o semideus recebia atenção de todas as formas, as vezes era um beijar-flor, rondando e pousando sobre ele, deslizando suas penas contra o corpo desacordado do filho de Deméter. Até abelhas eram vistas ali, como se buscassem apoia-lo de alguma maneira, havia o boato da benção que ele carregava desde quando nasceu, o presente que Perséfone deixou para que o irmão fosse bem cuidado, mas na prática, era difícil de ser visto, com ele desacordado naquela parte da enfermaria, estava se tornando comum.
E em uma noite fria, muito chuvosa, sem ter nem a iluminação da lua sobre eles, Junho finalmente deu sinais de alguma coisa. Seus dedos se remexiam como se estivesse preso a um pesadelo, espasmos talvez?! O corpo de Junho parecia estar reagindo ao tratamento, enquanto a noite se mantinha silenciosa, a enfermaria quieta e recebendo apenas a brisa gelada que invadia o espaço, com ela vinham vozes, não, não eram as vozes da fenda, Junho ouvia as plantas que finalmente decidiram falar. Uma pena que tenham decidido falar enquanto ele dormia, mas estavam tentando desperta-lo daquele pesadelo.
Junho estava preso a um loop constante, na escuridão do mundo dos sonhos, ele vivia e revivia momentos de sua vida que ele não queria mais lembrar, primeiro foi o que aconteceu com a sua vizinha e babá, depois o que aconteceu com o seu pai e em seguida, as lâminas das aves sendo lançadas nele, acertando-o de todas as formas possíveis, quando isso acontecia ele sumia, virava um pó iluminado e quente, e então tudo voltava a acontecer de novo. Naquela noite, foi diferente, estava no apartamento minúsculo em Nova Iorque, já era adulto e seu pai ainda lhe chamava de a-gi, pedia que ele lavasse a louça e cuidasse de suas plantas, porque ele era o único que conseguia fazer isso.
E então ficava sozinho na casa.
— Juno... Juno... Está ouvindo? - O sussurro invadiu o seu pequeno lar, fazendo ele virar o rosto em busca de quem lhe falava. Nunca ouviu nada tão direto e tão visível, era como se ninfas estivessem brincando com ele.
— Não devíamos falar nada, você sabe disso, Sabugo.
— Pinho, ele precisa saber.
"O que estão falando aí?" Junho se levantou para ir até a janela, que estranho, não era a cidade de pedra fedida a mijo que vivia com o seu pai e sim o vasto verde do acampamento. Chegou a olhar para o cômodo e viu a sala pequena, bem arrumada e com a tv pequena passando uma de suas animações preferidas: Sakura Card Captors. Suspirou, aquilo ainda era um sonho, mas estava diferente naquela noite. "Eu sei quem são... é o pinheiro que fica ao lado da casa grande e o sabugo do lado da enfermaria, estão longe demais para estarem conversando tanto"
— Temos raízes, Juno. Você sabe disso.
— Não seja grosseiro, Sabugo.
— Ele precisa saber, Pinho. Juno, não tente mais se comunicar com Petrus... não se aproxime dele...
— Eu acho crueldade, ele não tem culpa do pai que tem.
— Não seja tolo, Pinho. Aquele menino é perigoso... não devíamos te contar, estamos quebrando um pacto de silêncio...
— Mas é que você tá tão fraquinho... e é tão sensível... amigo de todo mundo... não queremos que seja vítima dele.
— Ouvimos a fenda, Petrus recebeu o pai dele no acampamento...
— Ele não tem alma, Juno. Ele morreu e retornou, como que pode isso? Nem as plantas conseguem fazer isso...
"Shiu!"
Junho ouviu um sopro em seu ouvido e um arrepio percorreu o seu corpo inteiro, focado na discussão que acontecia na extensão de nada, apenas verde, escuridão e frio. Ele acordou, sozinho, na enfermaria após sentir aquela brisa esquisita tocando a sua nuca e despertar como se alguém tivesse falado em seu ouvido, se levantou rapidamente e olhou a sua volta, sentiu uma dor infernal no corpo ao fazer isso e então percebeu as faixas, suas feridas ainda não tinham cicatrizado, nunca demorou tanto para que elas sumissem. Algo estava estranho, fraco, sentindo suas pernas formigarem, ele decidiu se levantar. Praticamente se arrastou até a janela, podia ouvir as plantas lhe chamando, como um vento sonoro dizendo - Juno, Juno, ele acordou.
Andou um pouco mais, haviam muitas pessoas ali, não só aqueles que dormiam em suas macas, como também alguns adormecidos sobre a cadeira ao lado. Mas Juno estava sozinho, não havia ninguém ao seu lado e o sentimento que tomou o seu peito naquele momento foi doloroso, caminhou um pouco mais e parou na varanda, sendo o momento que viu o que parecia ser uma pessoa caminhando na escuridão, ainda não tinha certeza se era o que estava vendo ou se era apenas um delírio. A mão tocou o Sabugo ao lado e quando pensou que tudo parecia uma grande loucura, pôde ouvir o sussurro novamente.
— Juno... você acordou...
— Ele devia estar na cama e não zanzando por aí.
— Cuidado, ele é quem comanda o cão infernal e precisa de uma nova alma.
— Juno, volte pra cama, agora.
— Pinho, não seja grosseiro... já que abriu essa sua enorme rachadura, me deixe falar.
— Não seja estúpido, Sabugo... ele precisa descansar.
— Juno, ele morreu e foi o filho de Apolo que o trouxe de volta, mas agora parece que quer mais alguém...
— É perigoso estar fora da cama, Juno, volte já.
— Ele precisa de uma nova alma... volte e fique seguro.
"Volte pra cama já!" E mais uma vez, aquele sussurro invadindo os seus ouvidos e lhe causando aquele arrepio, Juno não teve forças para voltar, os olhos arregalados pelo temor, não era uma planta que falava com ele e não fazia ideia de quem era... era uma pessoa, ele podia sentir e podia ver no canto do olho, uma silhueta escura e assustadora... parecia... parecia muito... com...
"Pai!" Foi o que ele disse antes de desmaiar no chão gelado da varanda, poderia ter sido apenas um sonho ou um delírio, não tinha como saber, mas definitivamente aquilo ficaria gravado na sua memória para sempre.
@silencehq
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