Manifesto Anti-Antas
Unam-se poetas sem idade,
Unam-se hoje como nunca!
Que a vossa poesia faça-se cidade,
Que a ergam sob esta espelunca!
Que não vos encha a corrupção e ódio
As medidas desmedidas de aço
Que se erguem até o longínquo pódio
Dos que pereceram deixando o seu traço
Nesta História velhaca e desgraçada
Ergam-se, não morram sem antes traçar
A verde as cabeças da gente despatriada
Pela própria mãe e pai que não sabem amar.
Só assim se vence mais uma guerra,
Só assim se faz do absurdo uma canção,
Não se deixe a arte cair por terra
Viva, viva a poesia da ressurreição!
Façam valer direitos a esses cobardes
Leiam os mestres da suspeita,
A raiva canaliza-se para os reais alardes
Não para os que têm a receita!
Não para o vizinho, não para o do lado
Não mais cobardia! Pim!
Um tão vasto prado
Não se rega e cresce assim!
Dizia Simone: Liberdade é não ter medo
Pois que prevaleçam a calma e conhecimento,
Não vão antes apontar-nos o dedo
Pois o descrédito vê na raiva o seu alimento.
Um desgraçado sem nada, endividado
Com montantes cósmicos que não tem para pagar
Sem alternativa, dá a vida ao diabo,
Que o político sabe bem aproveitar.
Um é vagabundo, o outro doutor,
Engenheiro do cu que não mija nem caga,
Ora, o poeta bem conhece o sabor
Desta mixórdia amarga.
Pandora abriu a caixa do que sabemos
Inspirar e transpirar,
Mas fechou-a a tempo, e assim temos
A esperança, que o mal maior não conseguiu roubar.
Ergam-se Héracles e Prometeus!
Que as montanhas que vos aprisionam
Se façam espírito, e derrotem Zeus
Que se façam a bonomia, que abandonam!
Querem o vosso medo,
O vosso sangue e pranto,
Não se deixem vencer
O povo quer-se morto cedo
Pr'ó poder estender o seu manto
Sob os que não têm nada a perder.
Pim! Não há fim
Quando há poesia. Que viva! Viva a poesia!
- Iva Leão
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