javier despertou um de seus demônios pessoais;
seu espaço de conforto já não era confortável.
w. @artem-o
alguns eventos sociais eram cansativos até para si - e aquele tinha um motivo ainda mais particular. javier o encabulava.
comumente, andar pelos corredores e salões de museus o faz deslizar para o melhor da solitude - gostava de arte, e gostava de vê-las da sua forma, no seu tempo, com somente os gritos e violência que aconteciam em sua mente. o evento em um museu havia lhe sido convidativo. . . até deparar-se com um DJ e batidas que poderia ser ouvida à distâncias. primeiro, sorveu com espírito aberto, poderia chamar aquilo tudo como uma experiência, mas as horas não passavam no mesmo ritmo frenético da música que já se tornava ruído em sua cabeça e, em algum momento, sua energia havia começado a ser drenada. mas ortega sabia mais que procurar e apontar culpados inofensivos e inanimados.
faltava ainda uma hora para as dez quando ele, ortega gong-pujol, usuário da virtude da paciência, se mantinha se segurando no único fiozinho que sobrou do saco. não, não era a música porra nenhuma; não era um de seus ambientes favoritos por sua silêncio e espaço estando abarrotado de pessoas e seus sorrisos diplomáticos e o cheiro de salgadinhos porra nenhuma. era a presença de um fantasma que se arrastava entre as pessoas como se não tivesse sido elas quem o matou. aquilo alcançava as suas piores vozes, os demônios de sua orquestra pessoal. em troca de ser o tipo de pessoa que as outras não deveriam confiar, ortega naturalmente era também desconfiando.
o que passava na mente daqueles que olhavam javior caminhar entre esculturas e pinturas de forma tão mundana?
uma troca de olhares acidental por ambas as partes - ou assim preferia pensar - foi o que o levou para fora do salão; para o caminho que levaria à outro andar. ortega enfiou o dedo por dentro do turtleneck e puxou, como se isso fosse ajudá-lo engolir seu incômodo. encontrou em uma das paredes majestosas um painel de algum material metálico bem lustrado e brilhoso - usou-o como espelho para arrumar as vestes e recompor-se. ali também enxergou o reflexo de outra figura. ortega virou-se; reconheceu-o. e até ele deslizou sutilmente.
— veio arriscar as exposições de sempre? — abordou-o como veludo. ortega olhou ao redor como se pudesse encontrar mais alguém. não que esperasse realmente encontrar alguém, visto que mais comum assistia artem acompanhado de somente sua sombra e carinha fechada. — está aqui para a própria companhia mesmo, príncipe?
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