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#yagomartins
gaudiumartigos · 3 years
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REAÇÃO AO ENSAIO DO YAGO MARTINS
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Li o livro do jovem teólogo e excelente comunicador Yago Martins sobre a Religião do Bolsonarismo (um ensaio teológico). Ele começa muito bem quando organiza a sequência de fatos - de modo quase jornalístico- que vão da facada às resistências opositoras e das manifestações de alguns personagens políticos em redes sociais- relacionando-os com os possíveis indicadores do que seja a tal religião bolsonarista.
Mas quando avança nos outros pontos do ensaio (ainda no primeiro capítulo), explorando o artigo do Rev. Guilherme de Carvalho (L’Abri BR), para em seguida e, nos próximos capítulos, tentar correlacionar pontos essenciais dos dogmas e atitudes cristãos com posturas, falas e observações empíricas da práxis e do modus operandi do governo de Bolsonaro: a narrativa do Yago mostra sua fragilidade essencial para ser teológica.
Antes de destacar alguns pontos dessa fragilidade essencial, convém ressaltar que a tese do ensaio está no artigo do Guilherme de Carvalho, uma vez que o que vai guiar as narrativas desdobradas nos textos é a interpretação objetiva que Carvalho faz quando diz que o governo Bolsonaro não tem um “pathos” cristão, isto é, suas posturas, idiossincrasias, falas e iniciativas não correspondem ao sentimento ou aos valores cristãos. E é aqui onde reside, a meu ver, a falácia da falsa equivalência, quando dois argumentos opostos parecem ser logicamente equivalentes. Explico isto na conclusão do texto.
O primeiro dos pontos dessa fragilidade essencial, é que o Yago Martins erra ao relacionar o bolsonarismo a uma suposta religião civil que tem no evangelicalismo brasileiro sua fonte. Ora, ao fazê-lo, deveria ocupar-se, antes de tudo, em definir o que é o bolsonarismo para em seguida definir a religião civil como fenômeno pressuposto.
Em miúdos: ele pega aspectos do comportamento prático do governo, sem classifica-los adequadamente, ignorando a capitalização eleitoral-partidária e ainda o seu fragmentado discurso ideológico (sim, não há uma unidade de discurso, seja por falta de intenção, seja por deficiência intelectual mesmo) para servir como base às suposições do que seria uma religião civil. Seria mais honesto criticar o apoio dos evangélicos ao governo que elaborar formas de raciocínio baseadas em frases ou falas de personagens situados nos mais diversos contextos. Muito embora essa abordagem sem apego ao detalhamento científico faça parte do gênero escolhido, que é o ensaio: o escritor precisa ser zeloso no escopo proposto, uma vez que pretende comunicar a verdade ou um entendimento.
O segundo ponto está na construção de narrativas para justificar a natureza teológica de seus argumentos. É perceptível uma “forçação de barra”, seja para contrapor ao que ele chama de “sacralização” de Bolsonaro, seja para o que chama de apocalipses, expurgo e gnosticismo ao evocar análise teológica para o que bastava ser observado do ponto de vista da ciência política e da observação pura quanto aos fatos que, talvez, um conceito alemão como o de realpolitik em seus aspectos de realismo político fosse mais adequado.
Digo isto porque desde o Édito de Milão, no terceiro século, com a conversão do Imperador Constantino, a relação Estado-Igreja é o eixo gravitacional à qualquer discussão a respeito - especialmente no mundo ocidental com o Cristianismo- uma vez que é desonesto propor uma separação de Estado-Igreja (ainda que isto tenha ocorrido e graças a Deus que foi assim) e ignorar as razões que emularam essa relação em controversos momentos da história.
Portanto, não seria um nicho como o bolsonarismo a servir como luz para um tema como o da religião civil. Talvez, a discussão mais honesta e digna de algo maior que um ensaio, seja a análise a respeito de como a Igreja deve se relacionar com o Estado- tema de abundante bibliografia.
Sem que eu possa me alongar, pois este texto não tem a pretensão de ser uma refutação em si, eu concluiria que o busílis da questão que o Yago Martins busca apresentar, sendo honesto com os fatos e análise, estaria para uma contextualização sobre o papel do Estado, neste caso, dos últimos governos do Brasil, seu panteão ideológico e sobre como vinha-se construindo uma agenda hegemônica com o objetivo de suprimir qualquer expressão conservadora de valores cristãos, representados, ainda que com deficiências, é verdade, pelos evangélicos no Brasil. Mas, que em última análise busca marginalizar a cosmovisão cristã em espaços acadêmicos através de fomento pulverizado de ideias progressistas. A este tema, o Yago Martins faz silêncio; e, talvez, acabe por delatar a falácia da falsa equivalência quando relaciona política e religião ao fenômeno bolsonarista versus o evangelicalismo brasileiro.
Se o ensaio teológico quis ser um preâmbulo para uma futura obra sobre política e religião, o Yago acaba por fazer um sermão que dispersa seus ouvintes nas duas primeiras premissas do introito.
Fernando Lima.
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vozdodeserto · 3 years
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A live louca de ontem com Yago pode ser vista aqui, meu povo! (Sim, reconheço que em vários momentos a acção na caixa de comentários tem ainda mais graça do que a conversa...)
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julioservo · 5 years
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Sobre Dádiva & Contradádiva.
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