taietantofaz
taietantofaz
o maior tubérculo do mundo
1 post
acervo pessoal de uma raíz
Don't wanna be here? Send us removal request.
taietantofaz · 2 years ago
Text
como carne ou cicatriz
me render a forma e função da comunicação e escrita é um serviço terapêutico e pedagógico muito duro.
e eu ainda prefiro o calor do silêncio. mas meu bloco dê notas já está inflamado, perdido, bem solto e ainda enxergo uma certa lógica, me sinto mais confortável diante dos registros entre homéricos erros e desamores e algum tipo de fé, entre grafias e memórias, a literatura e leitura é meu melhor espelho.
meus escritos é o que vai restar atravessar o tempo, mas não quero minha intimidade exposta, então aposto que a terra generosamente vai comer meu corpo, a de-com-posição é um ato lindo, organizado e orgânico. 
enquanto escrever é um imersão vulcânica, e eu nunca sei onde vou parar. não escrevo por necessidade, nem por indicação médica. eu ainda prefiro o calor do silêncio.
ultimamente muitos conhecidos relatam o desejo de algum dia escrever um livro, minha maior curiosidade silenciosa é: sobre o que, afinal? e aí caiu no meu pecado, a poética. 
graças ao divino, não vim sofisticada para entender e saborear os clássicos, nem ambiciosa para decifra-los, me comovo com muito pouco, talvez por isso não existe a menor responsabilidade ou lógica neste exercício em me revelar. escrevo o que dá, Lacan diz que a gente alcança a verdade que é capaz de suportar.
meus relatos deslizam entre a difusa busca de Neruda, Chorão, Manuel de Barros e Derrida em um parágrafo. e esse caldo, desagua em mim.
minha terapeuta sempre pergunta coisas como “me explica melhor..” e o recurso da literatura aparece, vivo, como carne ou cicatriz.
demorei décadas para compreender que o choro é minha melhor linguagem. eu estou certa que a literatura é minha melhor resposta, é o tempo se comunicando com minha alma e minhas melhores perguntas ao mundo. 
cheguei em uma fase que não tem volta, aquela depois da juventude, onde algumas opções são grandes, mas você já está sem tanta energia para isso. tenho a opção de cuidar das próximas etapas ou não. comecei escrever para não esquecer, quando mais nova eu tinha um diário divertido sobre detalhes que eu não queria esquecer sobre mim, talvez seja assim as próximas fases. divertida, nostálgica e cheia de pormenores. 
sempre disse que quero morrer de frente para o mar, mas acho que assim vou querer resistir. então, tenho anunciado que desejo morrer em uma cama grande, confortável, recheada com meus melhores livros e quem sabe, na minha imagética, vem voz de nietzsche (aquela que eu mesma criei) anunciando: “mudei-me da casa dos eruditos e bati a porta ao sair.”  e sem emoção, me desligando de toda materialidade possível, sem arrependimentos ainda ouço “amo a liberdade. amo o ar sobre a terra fresca. é melhor dormir em meios às vacas, que em meio às suas etiquetas e respeitabilidades.”
5 notes · View notes