Don't wanna be here? Send us removal request.
Text
Respira e sinta. Só.
Quinta à noite. O relógio marca 20h43. Ouço vozes na sala. Conversas entrecortadas. A minha atenção consciente foge do caminho lógico que a professora percorre sobre as causas etiológicas do abdome agudo obstrutivo. Sinto o corpo pesar e a cabeça aérea. É isso, o cansaço físico e mental dão as caras e me dizem: oi, você precisa parar. E eu retruco: como parar se a vida é movimento? Provas precisam ser feitas, metas cumpridas e contas precisam ser pagas. Finalmente a aula acaba e busco energia para ir até o carro e me deslocar até casa. Antes disso, um respiro profundo. Ele sempre significa aquela pausa antes da ação. No caminho até o carro, o céu escuro. Olhar o céu me dá aquela sensação de amplitude. Sabe aquele modo x5 da câmera do celular? Aquela abertura de foco que lhe ajuda a ver um cenário maior? Pronto. Nesse exato momento um vazio bate e o sentimento de solidão aparece. Em uma anamnese médica, eu diria que esse sintoma surge em uma escala de 8, com sensação de aperto na região cardíaca, seguida de uma labilidade emocional. Uma respiração profunda. Mais um vez preciso conversar contigo néh solidão? Tu aparece assim, quando o corpo dói e a mente está cansada. Só assim, sem muitas defesas, que você surge, espertinha. Mas dessa vez será diferente: lhe farei companhia. Não vou deixar você reclamar o quanto a vida é difícil e o quanto só você é responsável por cumprir suas obrigações; não lhe permito questionar minhas escolhas profissionais; ou questionar sobre o futuro. Hoje será diferente. Solidão, você não está sozinha. Vamos tomar um banho quente, à luz de velas, escutando um jazz, sentindo o prazer de, digamos... estar só.
0 notes