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—— Droga — pegou-se murmurando sob a respiração. A sala sendo de outro professor complicava seus planos. Era apenas sua sorte encontrar a pessoa certa, no lugar errado. —— Eu devia ter desconfiado, a sala é boa demais — disfarçou o deslize, forçando o corpo a relaxar novamente contra a cadeira e ignorando a reação alheia, como sempre. Vê? Completamente despreocupada. Esse, porém, parecia um papel difícil de assumir no momento.
Inquieta, aproveitou enquanto Sebastian se servia de uma garrafa que apostava não ser sua, para levantar e observar a decoração mais de perto. Não era do seu feitio agir nervosamente, muito menos dar indícios de que algo mais acontecia por trás da sua fachada, mas... Bom, supunha que no fundo desejava que Sebastian descobrisse o que escondia e oferecesse sua ajuda, poupando-a de contar toda a situação. E por "ajuda", queria dizer "problema 100% tirado de suas mãos". Literalmente.
Os dedos passeavam pelas prateleiras ao seu alcance, o toque despretensioso em contraste com o interesse em seus olhos. —— Nada... — respondeu rapidamente ao notar a atenção do Blackwood, vagarosa, mas estrategicamente mudando de posição. —— Você é muito desconfiado, faz mal pro coração. Será que não posso mais visitar meu professor favorito sem ser acusada de algo? — O tom afetado em nada contribuía para sua causa, menos ainda o fato de tê-lo encontrado por sorte.
—— Inclusive, acho um absurdo não darem o mesmo tratamento a todos os professores, você não fica chateado? A administração daqui é inacreditável. Aqui é inacreditável. Acontece cada coisa. É neve, panfletos... — uma leve tensão fez sua voz oscilar na última parte, a mão automaticamente tocando a saliência sob seu casaco, os olhos fixos num nicho em particular. Podia deixar ali, certo? Talvez ninguém percebesse. Talvez ficasse ali para sempre. Duvidava que o escritório recebesse muitas visitas, de qualquer forma. —— Sinto que se me falassem que aquelas bolinhas brilhantes andam perseguindo changelings, nem questionariam, embora os khajols com certeza fossem logo nos acusar de roubo. A cara deles algo assim. — Através do tecido, sentiu uma vibração baixa. Aquilo estava... Concordando?
Despertou do cochilo na cadeira com um sobressalto, o chapéu que usava para cobrir o rosto quase caindo no chão, sendo aparado ainda no ar no desespero. “Que susto, garota! Não tem mais o que fazer não?” Perguntou irritado, colocando o chapéu de volta na cabeça. Por sorte era apenas Raewyn, mas isso não significava menos perturbação para sua cabeça. Com um ronco de reclamação, arrumou a postura torta na cadeira, desfazendo-se do alerta. Aquele era o sorriso de quem estava aprontando, e Sebastian a encarou com a seriedade de quem sabia que acabaria com o problema em seu colo. A conversinha mole não o enganava mais. “Essa sala não é minha. É do Márcio.” Corrigiu, se esticando calmamente para alcançar uma das garrafas de bebida dentro da gaveta. Quando não tinha dinheiro para gastar com bebidas, tinha que apelar aos métodos que tinha ao alcance para resolver o problema rápido, e no momento roubar um professor lhe parecia ser o mais prático e adequado.
Tornou a jogar os pés sobre a mesa, sujando um pouco os papeis com a terra presa nas botas de couro. Então, afundou as costas na cadeira, fazendo a madeira ranger quando inclinada para trás, com Sebastian encarando a garota à sua frente de olhos semicerrados, a enxergando como o que era: a garota problema que ele se sentia responsável ⸺ e também sua parceira do crime, muito embora não se orgulhasse de admitir, pois supostamente deveria ficar na linha. Reparou que ela parecia estar escondendo algo consigo. Seu olhar parou no volume sob o casaco enorme por um momento, fisgando seu interesse. “Vai me contar o que você está aprontando?”
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𝐂𝐎𝐑𝐄 𝐌𝐄𝐌𝐎𝐑𝐈𝐄𝐒: 𝐴 𝐶𝐸𝐼𝐹𝐴
Quem poderia prever que Raewyn Olyrnn viveria o suficiente para tomar do Cálice dos Sonhos? Certamente, não ela! Era uma surpresa que tivesse sobrevivido ao parapeito, tentativas de assassinato, acidentes e… Sinceramente, a ela mesma. Não era a cadete mais disciplinada ou habilidosa de Wülfhere, mas ali estava, prestes a adentrar o Reino dos Sonhos Profundos.
No caminho até o pátio, olhares incrédulos eram lançados em sua direção. Falsas despedidas e palavras desdenhosas enchiam seus ouvidos, os ombros latejando pela força dos tapinhas de consolação recebidos.
“Foi bom conhecê-la, Raewyn.”
“Toda maré de sorte tem fim, não fique triste.”
“Uma pena que nem todos possam viver uma vida longa.”
E o mais ousado: “Saúde a deusa por mim, pequena Olyrnn.”
Escutava as zombarias com um sorriso no rosto, devolvendo as provocações com despreocupação calculada. Sabia não estar preparada para a ceifa e que sua sorte havia durado até demais, que inevitavelmente haveria uma ruptura. Odiava pensar que alguns dos que bateram em suas costas e anteciparam sua morte retornariam, rindo às custas de seu desaparecimento. Enxergar a tensão tomando conta de seus rostos, apagando sorrisos presunçosos conforme o grande momento chegava, foi um verdadeiro consolo.
Raewyn, por sua vez, manteve o brilho no olhar e a postura relaxada. A voz sem titubear ao agradecer pelo cálice entregue em suas mãos, apenas confirmava a impressão de sempre: leviana. Leviana por não levar a ocasião a sério, leviana por não entender a importância do que viria acontecer, leviana por ser tão pouco e não agir como tal.
Infelizmente, não seria seu fim iminente que faria com que começasse a proceder como o esperado. Estava ciente dos riscos e das chances mínimas de uma volta bem sucedida, mas lhe faltava o básico. Medo.
Assim, tomou do Cálice sem hesitação — não com a certeza de quem sabia que iria voltar, mas, sim, com a confiança de quem não temia a morte.
Nunca pensou em como o Reino dos Sonhos Profundos seria, não vendo necessidade de idealizar algo que por tanto tempo imaginou que não conheceria. Entretanto, não esperava que fosse tão… Quieto.
Árvores se erguiam altas a sua frente, a escuridão da floresta sendo quebrada apenas pela luz da lua. Para onde olhava, sombras se estendiam num breu infinito, com partes que nem sua visão superior conseguia penetrar. O som de animais noturnos chegava aos seus ouvidos, mas de maneira longínqua, como se a quilômetros de distância.
O silêncio anunciava a presença de criaturas perigosas, temidas, mas tudo que deixou seus lábios foi uma velha e boa risada. Não uma risada nervosa ou histérica, não. Uma risada genuína. Um riso de animação, antecipação, talvez até loucura.
—— Parece que tenho um verdadeiro desafio em mãos, huh? — sussurrou para a escuridão que parecia encará-la de todos os lados, medindo e avaliando. —— Será que se eu pedir para você facilitar um pouco nossas vidas e aparecer, você faria? — Um som bestial, suspeitosamente semelhante a um bufar exasperado, soou atrás de si.
Acho que não, pensou, virando rapidamente, mas tudo que sua visão captou foi uma silhueta gigante desaparecendo. Num segundo, a criatura estava ali, no outro, não mais.
Puff.
—— Truque legal esse seu! Você vai me ensinar algum dia? Seria extremamente útil — tagarelou, seguindo a direção em que a criatura havia sumido. Quer dizer, dragão. O seu, especificamente.
Diversas criaturas viviam naquela parte do Sonhär, e embora não tenha prestado atenção o suficiente nas aulas para saber o nome de todas, Raewyn sabia que nenhuma delas hesitaria em quebrar seu pescoço ou devorá-la. Poderia ser qualquer uma delas ali. Um centauro, um gigante, outro dragão. Tinha certeza que havia alguma recomendação para uma situação como aquela e correr atrás da criatura não identificada devia estar no topo da lista do que não fazer. Em sua defesa, seu instinto gritava que se tratava do seu dragão — e o danado se movia rápido demais para algo tão grande, não havia outra opção para a Olyrnn.
Minutos se passaram enquanto corria. Flashes de movimento era tudo que tinha como guia, uma trilha de migalhas que estavam começando a ficar cada vez mais esparsas.
—— Você está testando meu folêgo como prova de dignidade? Se eu soubesse, teria me dedicado mais às corridas ao invés do combate — disse para a escuridão, tentando captar o próximo movimento. Um quebrar de galho, o farfalhar de uma folha, o brilho de uma escama.
Nada.
—— Já cansou? Porque eu ainda tenho fôlego para alguns minutos — disse as famosas últimas palavras, porque, de fato, sua aventura não havia terminado.
Dentre as árvores, uma criatura menor que a primeira silhueta que avistara surgiu. O som de cascos contra a terra se aproximando mais e mais. Um centauro em toda sua glória surgiu à sua frente.
—— Droga — foi tudo que teve tempo de falar antes do monstro localizá-la.
Adagas na mão, Raewyn tomou uma posição de ataque, agradecendo a Erianhood por ter embebido suas lâminas em veneno. Caso contrário, não teria sido capaz de escapar do centauro… E então de um troll e, por fim, outro dragão.
Começava a duvidar do seu instinto, ponderando se havia, de fato, visto seu dragão em algum momento. Mas ela ainda sentia seus olhos sobre si, a curiosidade, a diversão.
—— Ok! Já entendi! Você queria brincar, testar meus limites, mas vamos lá! — murmurou, os olhos treinados no dragão vermelho a sua frente, forçando seus músculos a ficarem parados. —— Isso aqui já é um pouco demais! Eu fui atacada, caçada… E estou prestes a virar churrasquinho de dragão! — Tensão e exasperação dominavam suas palavras.
Queria dizer que já havia se provado o suficiente, que passou a vida inteira fazendo isso, mas se conteve. Seu dragão estava se mostrando ser uma criaturinha cruel e implacável — algo que admirava, embora não amasse naquele exato momento.
—— Olha, eu posso não ser a montadora que você esperava, ou mesmo uma boa, but I can handle shit. O que quer que você tenha preparado, eu vou sobreviver. Eu posso provar para você que sou digna o dia inteiro — disse, segurando o fôlego quando o flamion começou a abrir a boca. —— Mas eu gostaria muito, muito mesmo, de não ter que fazer isso.
As palavras mal haviam deixado sua boca quando chamas iluminaram a floresta, envolvendo-a em seu calor. Raewyn se impulsionou para o lado, tentando fugir do fogo que derretia tudo em seu caminho, mas seu corpo foi cercado por algo escuro... E duro. Liso e enorme. Abrindo os olhos que haviam se fechado pelo clarão das chamas, viu que sua proteção era nada mais que a asa de um terrador formidavelmente aterrorizante.
—— É um prazer finalmente conhecê-lo, Themir.
Quando acordou em Wülfhere, Raewyn Olyrnn ainda ostentava um sorriso radiante, vitorioso. Mais uma vez, contra todas as probabilidades, havia sobrevivido.
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Por um segundo preocupante, Wynie teve certeza que Tadgh cederia a violência e a deixaria na mão. Não a entenda mal... Confiaria sua vida ao outro sem pensar duas vezes, mas o chamado da ira frequentemente cegava — ela bem sabia. Além disso, não poderia sequer culpar o amigo caso essa fosse sua escolha. Bastava um olhar para a figura ainda pairando na entrada do estabelecimento para compreender suas motivações. A marra do homem, por si só, era o suficiente para fazer a própria Raewyn ponderar suas chances contra ele, mas sua nuvenzinha carregada parecia estar cheia de surpresas naquele dia.
Deixando a desavença de lado, o montador veio em sua direção. Enquanto se aproximava, não pôde deixar de notar sua aparência bem asseada e... Aquilo era perfume? Um suspiro teatral permitiu que confirmasse a suspeita ao se virar para o khajol indignado a sua frente, ignorando por hora as novidades. —— Feliz? Agora temos uma terceira parte para tirar a prova — o tom petulante foi acompanhado pelo erguer igualmente malcriado do queixo, cada ação adicionando ao seu ato ofendido. O rapaz tentou continuar, mas Tadhg felizmente os alcançou.
—— Certo, cavalheiros, se não houver nenhuma oposição... O prêmio é o de costume em jogos de aposta. Quem ganhar leva tudo. Caso percam, o dinheiro fica para a banca: eu — anunciou, apontando para si com um sorriso. —— A aposta inicial é de uma moeda de prata, nada muito extravagante — disse, como todos ali tivessem moedas sobrando. —— No entanto, nosso amigo aqui está duvidando da veracidade do meu jogo — Num movimento fluído, indicou o khajol e logo depois o montador. —— Por isso, nessa rodada permitirei que você toque nas caixinhas e chacoalhe para verificar se todas tem ou não moedas dentro. Tudo bem? Podemos começar? — indagou, já posicionando as caixas a frente de Tadhg independente das respostas. —— Por favor, fique a vontade para examiná-las.
Encontrando o olhar do amigo, deu um aceno encorajador, mas impessoal. Não era a primeira vez que encenavam aquele teatro juntos, tampouco era esse o único ato que possuíam no repertório compartilhado. Por dentro, porém, tensão tomava sua mente — e não de uma forma negativa. Era a tensão vinda da adrenalina, da possibilidade de ter que recorrer a um plano B ou C e sair por cima. Ainda assim, orava para que a deusa mais uma vez ficasse ao seu lado. Um pouco de sorte nunca era demais.
O Pigg & Blanket não era exatamente o lugar preferido pelos militares de sua laia, que preferiam pagar pela bebida com cobres e não pratas. De maneira geral, costumava ser um dos frequentadores libidinosos do Old Light Saloon mas, com os eventos dos últimos dias ainda frescos em memória, sentia por fim ter algo a comemorar–e a ocasião pedia por uma bebida de menor teor alcoólico, como um bom caneco de cerveja.
Para a surpresa de todos os amigos agora acostumados com seu recente estado deplorável, sua barba tinha sido feita naquela manhã–por mãos que não as suas, detalhe que o acalentava mais que os agasalhos dados pelo Império. Ao pendurar o casaco de inverno junto a entrada e buscar a si mesmo no espelho que adornava a taverna, se sentiu leve por mais motivos que o literal, e arriscou até um sorriso para o reflexo que o encarava de volta.
O azar que o seguia decidiu mostrar as garras da pior maneira possível: captou a atenção de um conhecido com quem partilhava certa animosidade, e que interpretou o sorriso em seu rosto habitualmente sério como deboche. O homem veio em sua direção como uma força da natureza, esbravejando com um milhão de intempéries a que não fez questão de se atentar. Se estivessem no estabelecimento a que era fiel, prontamente teria quebrado uma garrafa em sua cabeça para o silenciar, iniciando uma das brigas que era motivo para sua preferência declarada. Ali, sob risco de expulsão, só o que fez foi pairar diante do rival como uma nuvem tempestuosa, o temperamento contido devido não só ao contexto, mas à confortável sensação de que ninguém poderia estragar aquela noite em particular.
Foi neste momento em que desviou o olhar por apenas um segundo, e encontrou o rosto familiar de Wynie quando ela ergueu a voz para lhe falar. Salvo pelo gongo. Com um último sorrisinho para o homem cujo crânio gostaria de rachar, se desvencilhou da companhia indesejada de modo a se juntar a amiga em um de seus famosos trambiques, sabendo que a escolha do Pigg & Blanket para ela se devia apenas à clientela mais endinheirada. Com casualidade deliberada, se aproximou da mesa em que a loira dispunha as caixas de madeira que já conhecia com a falsa curiosidade de quem analisa um novo truque de mágica. Não era a primeira vez em que aceitava o papel de seu parceiro de crime, e tampouco seria a última. A olhou de cima abaixo como quem avalia um oponente, fingindo cair na armadilha que ela dispunha: a tentação de a subestimar. Não dedicou nenhuma atenção à vítima aborrecida ao seu lado–para que o ato desse certo, toda a sua atenção devia permanecer no jogo, pois precisava ganhar. ❛ Acho que consigo adivinhar a premissa. Qual o prêmio? ❜ Perguntou em vias de cumprimento, focando no que realmente interessaria qualquer um que não a conhecesse como a golpista que era–e que não a admirasse por isso.
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Assassinato não era algo incomum entre montadores — ou entre changelings no geral.
Desde o momento em que eram arrancados das ruas, tudo passava a ser questão de sobrevivência. No parapeito, além do vento, tinham que lidar com a ambição de alguns cadetes, ansiosos para diminuir a concorrência na conquista de um dragão. No dia-a-dia, a tensão continuava com as inimizades coletadas ao longo do percurso. Dormir com um olho aberto era uma habilidade adquirida cedo, um must have it. Raewyn tinha certeza que a falta de políticas para controle de natalidade pelo Império se dava pela competência dos cadetes em controlar seus próprios números.
Embora desejasse que não fosse assim, era esse o mundo em que a Olyrnn cresceu — e ela não fugia a regra. Bem, a não ser que você a considerasse ainda mais leviana e inconsequente que a maioria ao tratar do fim da vida alheia.
—— Mas você sairia na vantagem! — afirmou, como se a possibilidade contrária não fosse sequer cogitável. —— Seu ar ficaria mais puro e sua aula com um aluno a menos para ser avaliado, não é vantagem suficiente? — argumentou, com mais liberdade do que o fazia com outros professores.
Ocupando a cadeira à frente da docente, suspirou. —— Respondendo a sua pergunta, já que quer tanto saber, estamos falando do Illya — esclareceu, tirando os fios de cabelo solto do rosto na mais pura imagem da indiferença. —— Tivemos uma discussão e cheguei a conclusão de que o melhor a fazer é livrar o universo da presença desrepeitosa dele. — Orgulhosa do quão coerente soou, pensou em encerrar por aí, mas se viu adicionando: —— Acredita que ele insinuou... Insinuou não, disse mesmo, que o Themir estaria melhor retornando ao Sonhär que suportando uma montadora como eu? Ha! Só por que o deixamos comendo poeira no nosso rastro, isso sim.
who: @triplicando
prompt: ❛ let’s kill him. right now. ❜
Palavras específicas agiam como gatilhos mentais para Gweyr, despertando nela as mais diversas emoções e reações, mesmo quando desejava manter-se imparcial a respeito de certas questões. Aquelas de caráter mais agressivo ou transgressor nunca falhavam em estimular sua curiosidade, o que era exatamente o que acontecia naquele momento, quando seus ouvidos se eriçaram como verdadeiras antenas quando ouviu um suposto plano de assassinato deixar os lábios da outra changeling. Finalmente desviando o olhar do texto que estudava, encarou Raewyn com uma energia inquisitiva, semicerrando os olhos que exibiam um brilho especial. ── Do que é que você está falando? ── Não havia sinais de julgamento em sua indagação, que mais soava como a mais pura intromissão. Nem sempre se disponibilizava a contribuir ativamente com os planos de vingança de outros indivíduos, mas isso não significava que não gostava de estar inteirada sobre o que acontecia. ── Quem está planejando matar? ── O canto dos lábios se repuxou, modelando neles um sorriso ferino. ── Você já sabe que só compactuo com crimes dos quais eu saia com alguma vantagem. ── Os demais, que não a envolvessem diretamente ou afetassem as pessoas importantes em sua vida, fazia questão de ignorar.
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As festividades de fim de ano haviam sido estranhas o suficiente, mas o Imperador parecia empenhado a se superar a cada decisão tomada. Uma pior que a outra. Não bastasse a Saturnália e o comportamento bizarro dos khajols — que ainda lhe causava pesadelos —, o casamento mais absurdo do ano havia sido anunciado como quem declara a guerra entre "biscoito e bolacha" resolvida com um grande cookie. Podia não ser a criatura mais esperta do mundo ou mesmo de Hexwood, mas até ela conseguia identificar uma baboseira quando esfregada em seu rosto. Sinceramente, inimigos já haviam criado distrações menos óbvias. Mas por que?
A questão vinha assolando Raewyn desde o anuncio real, incomodando e provocando uma reação quase física, como uma alergia. Era mais que uma suspeita. Sentia que estava presa num tabuleiro viciado, com perdedor e vencedor já definidos — e nenhum deles era ela.
Era com a melancolia dessa conclusão que encarava as portas de entrada do salão, observando os poucos resquícios de cola que permaneciam na madeira. E ainda tinha mais essa, pensou, ao mesmo tempo que uma voz grave a alcançou. Virando o rosto para a nova companhia, soube imediatamente se tratar de um khajol.
—— Minha cara não deve estar das melhores se um khajol... Um dirigente? — tentou adivinhar, inclinando a cabeça em curiosidade, —— Decidiu se aproximar — concluiu, oferecendo-o um leve curvar dos lábios.
Apesar de não confiar em khajols, Rae geralmente era mais reativa que preconceituosa, tendendo a devolver a energia que recebia do mundo ao invés de agir com base em estigmas sociais. Isso dito, também não era de desperdiçar oportunidades e a sua frente havia uma fonte em potencial.
—— Para o seu azar... Eu não hesitaria e não hesitarei. Há, sim, algo em que possa ajudar — declarou, apontando com o queixo para a porta... Ou para a área externa, no fim não fazia diferença. —— Que tipo de cola acha que usaram nesses cartazes? Aqui dentro, tudo bem, mas lá fora as paredes estão praticamente uma pedra de gelo — comentou, superficial. —— Supercola ou magia, seria bastante útil ter uma dessas a mão. Você não imaginaria quantas vezes minhas botas abrem.
status: fechado ( @triplicando )
onde: salão principal
Taeron observava a figura à sua frente com atenção cuidadosa. Ele podia compreender, talvez melhor do que muitos, a situação quase impossível que os changelings enfrentavam. Forçados a abandonar suas casas e convivendo agora com nobres que os desprezavam ou os viam como inferiores, as circunstâncias eram desumanas, para dizer o mínimo. Esse pensamento era o que sempre o motivava a tentar soar mais amigável do que talvez fosse natural para ele. Respirando fundo, ele relaxou ligeiramente a postura antes de falar, o tom educado, mas com uma leve dose de empatia sincera. "Espero que a adaptação esteja sendo... manejável," disse, escolhendo as palavras com cuidado. "Se houver algo em que eu possa ajudar, senhorita, por favor, não hesite em me dizer."
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com: @princetwo
A sorte de Raewyn, por vezes, significava o azar de outro. Quer dizer, era apenas como as coisas funcionavam. Toda ação tinha uma reação, para todo mal havia um bem e, para todo sortudo, um azarão. Equilíbrio. Claro, sempre tinha alguém para dizer que era imprudência, irresponsabilidade, negligência... A lista era infinita e complicada demais para lembrar — inclusive, esse sendo um dos motivos para que ignorasse por completo as acusações. A convicção da montadora só titubeava quando o próprio dragão se opunha as suas atitudes. Como agora.
—— Juro, Themir, é só uma manobra! Eu não vou cair e mesmo que esse fosse o caso, preciso treinar — argumentou, adicionando só para reforçar: —— Precisamos treinar. — Um "hmmm" profundo foi a única resposta recebida, o que não era muito encorajador. Porém, o argumento tinha lá seu fundo de verdade, o que fez o terrador sucumbir às vontades da Olyrnn.
Saltar do seu dragão direto para o interior do campo inimigo era sua rota de ação preferida. Era eficiente, ousado e o mais importante: divertido. Com o muro de Hexwood a vista, Raewyn firmou os pés sobre as escamas verdes do dragão, posicionando-se para executar a manobra familiar. Deveria ser fácil, automático até. Mas neve começou a cair no exato momento que saltava, a direção do vento mudando apenas o necessário para tirá-la do caminho. Porra. That was going to hurt like a bitch.
Mas Raewyn nunca atingiu o chão.
Recuperando sua montadora em pleno ar, Themir usou o muro de pedra como freio, sacrificando a discrição em prol da oportunidade de dizer "eu avisei" — ou, no caso, bufar num tom bem esnobe. O som arrancou uma risada sincera da changeling. —— Pelo menos foi emocionante, seu reclamão — declarou, mas sua atenção logo foi atraída por uma comoção abaixo deles. Descendo do dragão com cuidado, ficou em pé ao seu lado, notando os cascalhos que rolaram até o pátio abaixo. Ops... —— Tudo bem aí embaixo?
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com: @tadhgbarakat onde: pigg & blanket
A caixa de madeira contendo duas moedas de bronze estava bem escondida sob a veste mal ajustada de Raewyn.
De início, a montadora achou um desrespeito sem tamanho as "doações" feitas pelo Império, enxergando o ato como uma tentativa mal disfarçada de lembrá-los da posição vulnerável em que se encontravam. Mas... os uniformes de inverno vinham se mostrando cada vez mais úteis do que a Coroa (e certamente os nobres) havia calculado. Afinal, não fosse pelas mangas longas e largas demais, a caixa presa em seu pulso já teria sido descoberta há tempos.
—— I'm not cheating — exclamou. Quem a escutasse, jamais apontaria a ofensa presente em sua voz como falsa. A não ser, talvez, o khajol enraivecido à sua frente. —— Eu não tenho culpa da sua falta de atenção, o jogo é bem simples: ache a caixa sem as moedas e pronto, jogo ganho! Como eu poderia estar roubando? — Com cuidado, usou o braço livre para gesticular em direção à mesa entre eles.
Sobre a superfície, três caixas pequenas de madeira jaziam fechadas. Duas guardavam moedas, e a outra, vazia. Rae as havia usado para atrair o rapaz num jogo de embaralhar, sua pouca estatura e aura tola, vendendo-a como alvo fácil. O que, também, ajudou a garantir que só ela tocasse nas caixas para sacudi-lás. "Khajols são mágicos", "jogo justo", blábláblá. O importante era que a vítima — quer dizer, participante — havia aceitado as regras.
E a Olyrnn teria saído muito feliz com seus espólios, não fosse a obstinação do rapaz.
—— Olha... — iniciou, impaciência exalando tanto pela voz como pela forma que pressionou a ponte do nariz. —— Já que você está tão certo que roubei num jogo que aconteceu na sua frente, bem diante dos seus olhos o tempo inteiro, por que não chamamos alguém para tirar a prova? — Era um movimento arriscado, mas ainda assim, fez um show de olhar ao redor e considerar cada rosto próximo. Quando estava prestes a apontar alguém, um perfil marcado por argolas familiares passou pela porta.
—— Ah, um recém chegado! Ei, você aí na porta! Será que pode fazer um favor pra mim e o meu colega aqui? Não vai tomar muito do seu tempo. — As íris azuladas se fixaram nas mais escuras de Tadhg, um pedido de socorro estampado em cada piscar.
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com: @cacadordeseon
Fora os cartões enviados pelos irmãos, não havia recebido nenhum mimo naquele Yule. Ainda assim, andava pelo instituto envolta num casaco de pele grosso, a qualidade do material evidenciada em cada ondulação causada pelos passos apressados. A peça, obviamente fora do seu orçamento, mantinha longe de olhares curiosos seu novo set de anéis prateados e algo que definitivamente não deveria estar em sua posse. Ok, tudo bem. Pode ser que 80% do que carregava não houvesse sido conquistado por meios legais. Ou honrados. Ou justos.
Porém (e Raewyn não poderia enfatizar isso o suficiente), ela realmente não havia tido a intenção de surripiar nada naquele momento — muito menos um chamariz mágico. Precisava se livrar do objeto indesejado e rápido. Em questão de segundos, viu-se batendo contra uma porta de madeira, abrindo-a em seguida sem esperar um convite. Era raro encontrá-lo ali, mas como sempre, a sorte estava ao seu lado.
—— Sebastian Blackwood! Professor, mestre, sir! — cumprimentou, encarando o mentor com um sorriso contagiante, mas nem de longe inocente. —— Quase não o vejo mais desde que fomos removidos para esse lugar. Pensei que com todo mundo amontoado nossos caminhos fossem se cruzar mais, mas bem, nada acontece como o planejado nesse castelo. Na verdade, começo a achar que a loucura é a regra por aqui. — Tomando a liberdade de puxar uma cadeira para si, observou a saleta enquanto se acomodava. —— Salinha legal deram a você. Vários nichos e estantes... Estão te tratando bem, hein!?
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𝐃𝐔𝐌𝐁 𝐃𝐎𝐋𝐋 𝐑𝐈𝐃𝐄𝐑
a distância não nos permite enxergar melhor, mas achamos que em cima daquele dragão está raewyn olyrnn, um cavaleiro de 26 anos, que atualmente cursa a quarta série e faz parte do quadrante dos montadores. dizem que é sortuda, mas também descompensada. podemos confirmar quando ele descer, não é?
𝑝𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑒𝑠𝑡 ─── 𝑝𝑙𝑜𝑡 𝑖𝑑𝑒𝑎𝑠 ─── 𝑑𝑒𝑣𝑒𝑙𝑜𝑝𝑚𝑒𝑛𝑡
. ୨ৎ 𝑂𝑁𝐶𝐸-𝑂𝑉𝐸𝑅
Apelido — Rae, Wynie
Especialização — Camuflagem tática
Altura — 1,65
Aparência — Mantém o cabelo curto, rente o queixo. Os fios são de um loiro claro que pode variar de cor dependendo da exposição ao sol. Os olhos são azuis bordeados por um anel de prata líquida que os faz brilhar na mais tênue das luzes e as bochechas estão sempre coradas. A única maquiagem que se permite usar é nos lábios, mas compensa nos acessórios, abusando de brincos, anéis e adornos de cabelo.
Marcas — A marca do dragão ocupa seu lado esquerdo desde a lateral do seio até o começo do quadril. A silhueta do terrador é de uma beleza bruta, fazendo parecer que está descansando sobre a pele de Raewyn. Tem também sinais espalhados pelos ombros e um mapa de cicatrizes finas, mal perceptíveis, pelas costas, braços e flancos. Nas orelhas ostenta duas argolas de prata, acentuando o formato pontudo.
Estilo — O guarda-roupa se resume a couros, como todo montador, mas Raewyn nunca é vista com uma peça desgastada ou desajustada. Prefere usar verdes e cremes quando possível, evitando cores escuras tanto quanto pode. Outro detalhe sempre presente são os bolsos. Suas roupas sempre são cheias de bolsos (secretos e aparentes) além dos espaços para suas armas de escolha.
. ୨ৎ 𝐷𝑅𝐴𝐺𝑂𝑁
Themir — é um terrador verde imponente, com cara de poucos amigos mesmo para os padrões dracônicos. É o melhor em sua ninhada em se camuflar, sendo visto só quando deseja. É inesperadamente brincalhão para um dragão de seu tipo, apesar de seu humor ser questionável (como fazer Raewyn cavar vários buracos no Soñar para achar seu ovo ou assustar desavisados ao aparecer do nada para chamuscá-los). Raewyn suspeita que foi escolhida por Themir por funcionarem de maneiras parecidas. Sente que o dragão se diverte com suas travessuras e respeita sua inteligência, complementando e apoiando muitos de seus planos. Mesmo que pudessem falar de fato, não seria necessário, são praticamente uma só alma.
. ୨ৎ 𝐻𝐸𝐴𝐷𝐶𝐴𝑁𝑂𝑁𝑆
Três é um número estranho. Muitos o veem como representação do equilíbrio; símbolo do nascimento, vida e morte. É o céu, o mar e a terra; a donzela, a mãe e a anciã. Um número perfeito, envolto em misticismo e carregado de magia. Para Raewyn, o terceiro elemento da tríade Olyrnn, o número não traz equilíbrio ou qualquer significado profundo. Se muito, é a razão de se sentir descartável e ter se autointitulando the spare. Compartilhava o sangue com os irmãos, mas nenhuma de suas qualidades. Não tinha a determinação do mais velho ou a ferocidade do segundo filho, também não tinha a inteligência nem a destreza que parecia inerente à família, mas por sorte tinha a proteção de todos.
Não tinha dúvida que os irmãos atravessariam o parapeito e sairiam ilesos do outro lado. O que não disse a eles nos momentos anteriores à própria escalada, é que seus abraços eram de despedida. Cada passo dado na estrutura rochosa, era um passo a mais em direção a morte. Morbidamente, contou quantas passadas seriam necessárias até que a deusa a reclamasse. 9, 15, 30… 111. Mas não foi nenhuma divindade do pós vida que encontrou no fim do caminho.
Desde a travessia milagrosa, sorte passou a definir sua existência. Por sorte sobreviveu aos primeiros meses de Wulfhere, por sorte subiu nos rankings semanais do instituto, por sorte foi escolhida por um dragão. Sempre sorte, nunca mérito. A depreciação de seus esforços era como uma farpa sob sua unha, mas que no fim decidiu abraçar. Os anos de estudo provaram que ser subestimada nem sempre era uma desvantagem e, por sorte, Raewyn trilha um caminho promissor na área de espionagem.
O incêndio em Wulfhere foi recebido como algo esperado. Nos últimos dias no instituto, pairava uma aura mais sombria que o normal, com o tipo de tranquilidade que precede tormentas e desgraças. Não tinha o dom da visão como alguns feéricos, mas podia dizer que precisavam se preparar. No fatídico dia, estava de pé no primeiro sinal de fumaça, embora isso não tenha feito diferença no final. O mais preocupante, e que ainda mantém Raewyn alerta, é sua intuição. Mesmo com todo o luxo e aparente acolhimento, a montadora sente que algo profundamente errado ronda Hexwood.
Raewyn se regozija com o título de sortuda sem cérebro. A reputação a livra de dar explicações, afasta os olhos curiosos e possibilita as maiores atrocidades. É vicioso poder culpar o acaso por quase tudo e a ignorância pelo resto. Como resultado, a montadora se diverte, engana e ainda sai ilesa. Sua gama de habilidades aleatórias também contribui para a imagem de sortuda… E um pouquinho descompensada.
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