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growcp:
O convite nem por um momento a abalou em sua própria fé. Seus pais ficaram em êxtase, entretanto, que a filhinha única deles havia sido escolhida para cargo de tamanha liderança da igreja que eles tanto prezavam sob o Deus que adoravam. Aquilo machucava Ana, imaginando o tamanho do baque que tomariam ao descobrir que talvez a filha exemplar que eles pensavam ter não era tão exemplar assim. Ainda assim seria mentira dizer que as dúvidas sobre sua personalidade e sua pessoa não reacenderam após tal revelação. Toda vez em que pisava no chão daquela igreja seu coração batia descompassado e suas mãos tremiam temendo que fosse descoberta pela simples maneira em que andava — embora soubesse que tal ideia não fazia sentido algum.
Mesmo em casa, protegida pelas paredes de seu lar, escondida do mundo pelas cortinas de seu quarto, sentia a pressão em seu peito, talvez por ser uma data tão importante: a comemoração. Os olhos se encontraram no espelho e ela sorriu, abismada com o quanto sua auto-imagem mentia a sua identidade real. O vestido parecia não combinar com os sentimentos bagunçados que aceleravam os batimentos de seu coração, mas pelo menos ainda tinha seu allstar quase sempre sujo como lembrança de quem realmente era. Iria sozinha até o local, seus pais não poderiam lhe acompanhar durante a comemoração, ao menos não no início dela, mas lhe ofereceram uma carona. “Pegou a chave de casa? E dinheiro pro ônibus?”, ouviu sua mãe perguntar, lhe olhando pelo retrovisor e apenas assentiu com um sorriso. “Estão tão feliz por você, minha bebê”, ela ainda continuou e Ana Cecília se fez sorrir, apesar de não concordar em voz alta.
Desejou um bom trabalho aos dois quando desceu do carro com chaves, celular, fones de ouvido e dinheiro na bolsinha lateral que carregava, esta ostentando uma cruz como acessório bem como seu colar que usava apenas em ocasiões especiais. O cabelo escuro amarrado baixo evidenciava seus olhos puxados. Lembrava-se, quando se aproximava do salão de eventos da igreja, de como quis negar o cargo. Os passos eram incerto, as pernas oscilavam com seu peso quase inexistente.
Nem mesmo entrou no lugar e já era abordava pelos mais devotos, que lhe desejam a melhor das sortes, abraçando-a várias vezes. Ela até tentava evitar o contato físico, desconfortável, mas era difícil. Dessa forma, ganhou espaço e avisou aquela que seria sua vice; a mesma que lhe odiava. É claro que tal sentimento era recíproco. Aproximou-se a passos lentos e parou bem ao seu lado, deixando-se ser vista. “E aí, Vi”, cumprimentou e o sorrisinho irônico era difícil de esconder. “Meus parabéns”, continuou ainda, provocadora.
Victoria nunca conseguiria imaginar os verdadeiros sentimentos de Ana. Em sua concepção, a nova líder não passava de uma dissimulada com total intenção de seus atos, logo deveria estar terrivelmente realizada com a conquista e pronta para humilhá-la pela derrota. Quando a viu entrar, não conseguiu segurar a expressão de desgosto, a escaneou com os olhos e ficou ainda mais incomodada por conta de todo aquele look de boa moça. Queria muito saber quem Ana estava tentando enganar com aquele vestidinho e o cabelo preso? O que achava ainda pior era aquela cruz envolta do pescoço. Vic esperava que ela pelo menos a tirasse quando estivesse pecando. Juntou as sobrancelhas e deixou o ar sair com força.
Tentou voltar a atenção ao que fazia e manter a postura serena que tanto almejava ter a todos os momentos. Colocou um lado do cabelo atrás da orelha para que saísse de seu caminho, o fez com cuidado para que não desmanchasse as ondas que arrumou com tanto cuidado antes de sair. Continuou organizando a mesa de lanches, apesar desta já estar arrumada o suficiente, e comia um docinho aqui e ali para acalmar seus sentimentos negativos. Ouviu a voz de Ana Cecília quando tentava disfarçadamente limpar na calça jeans um farelo que pregara na destra. Foi pega de sobressalto e precisou fazer seu melhor para não entortar a boca de maneira amarga.
“Ana Cecília, meus parabéns!” exclamou alto para que todos a ouvissem. Ela não queria dizer aquilo, tinha certeza que nenhuma das duas queria, mas era parte do protocolo, assim o fez com um grande sorriso no rosto e os braços abertos para dar-lhe o mais apertado dos abraços “Estou tão feliz por nós duas.” finalizou baixo num tom que para os mais entendidos transbordava veneno.
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if you're gonna preach for god sakes preach with conviction
paróquia do imaculado coração de maria. curitiba. 17h30.
w: @growcp
A luz da tarde atravessava os vitrais da igreja. O horário mais belo para se visitar o local, um festival de cores banhava os bancos tornando o ar etéreo como se o próprio Deus ali estivesse. Este também era o momento que Victoria considerava o melhor para rezar, gostava de dizer que podia sentir a presença e o os conselhos divinos esplendidamente, falados diretamente a si, ao pé de seu ouvido e no interior de seu coração, e quando o reflexo de seu vitral favorito atingiu-lhe o rosto pode ter certeza que sua padroeira a aconselhava. Aquilo era um sinal.
Bem, para os menos supersticiosos aquilo era apenas a posição solar e para os mais racionais aquele não seria o tipo de conselho que uma divindade cheia de bondade daria. Mas ela tinha certeza, havia recebido uma missão, o todo poderoso não comete injustiças, muito menos erros, então aquele era obviamente o motivo para que àquela garota assumisse posto tão influente. Se é que algu��m pode considerar influente a liderança do grupo jovem de uma paróquia no sul do brasil. Entretanto, o que realmente importa é que a loira o fazia. Achava que com aquele posto Ana Cecília teria a chances de corromper ainda mais jovens do que normalmente fazia. Como ninguém conseguia ver o quão vil aquela garota era? Com todos os rumores rondando tal personalidade, como apenas Victoria enxergava sua real face? Porém agora estava certa que Deus a ajudaria revelar a verdadeira face da líder e ela poderia finalmente livrar sua comunidade.
Meses atrás, ao abandonar da antiga liderança, Vic estava confiante que aquele seria seu momento. Sempre deu seu melhor, tomava a frente de todos os projetos que podia, conhecia todos da igreja, era responsável, proativa e, sem dúvidas, a mais devota de todos. No dia que o padre a convidou para uma reunião, um sorriso enorme não desgrudava da face. Imagine a decepção quando a pecadora carismática foi escolhida para cargo em seu lugar, lhe deixando em segundo plano. Ficou tão cheia de fúria que cometeu pelo menos cinco pecados diferentes apenas em seus pensamentos. Mesmo assim ela se recusou a mudar, ainda tinha que ser a melhor e seguir todas as regras, que cedo ou tarde reconheceriam seu valor. Os humilhados serão exaltados, não é o que diz a bíblia?
A sub-líder estava ali desde cedo, não rezando, aquilo era apenas um ritual rápido para se acalmar antes do evento principal, mas sim organizando a recepção dos novos integrantes e a festinha de comemoração à nova liderança. Foi a primeira a chegar, arrumou a decoração do salão, terminou de embrulhar as lembrancinhas de boas-vindas e foi arrumando as comidas que chegavam junto aos integrantes, dos quais recebia com um abraço apertado e um “muito obrigada” ao ser parabenizada pelo recente cargo. Finalizou sua oração e decidiu que já era hora de voltar, já que estava se aproximando da hora marcada, respirou fundo antes de deixar a construção, fez o sinal da cruz antes de atravessar o portal e logo passou a caminhar calmamente de volta ao salão de eventos da igreja. Sentia-se iluminada com sua recente revelação, decidida a dar início a missão que lhe fora confiada àquele exato momento, mesmo assim ainda rezava pedindo à Deus que não perdesse a compostura ao ver sua nêmesis ocupando seu tão sonhado lugar, mesmo que temporariamente.
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| victoria assis brito | 21 | ♌ | estudante |
Victoria vem de uma família estritamente católica. Filha mais nova. Quatro irmãs. Sempre teve a necessidade de ser a melhor em tudo que fazia, já que que nasceu com uma injusta concorrência a precedendo. A mais devota entre as irmãs, esteve enfiada na igreja desde antes de saber falar. Praticamente a perfeita cristã, caridosa e reservada, está constantemente envolvida nos projetos de sua paróquia e já integrou diversos grupos até chegar na sub-liderança de seu atual. 'Praticamente' apenas por conta das partes mais obscuras de sua personalidade, como a mesquinhez, a arrogância e a inveja. Simpática e de conversa fácil, porém extremamente fechada e certinha nunca se deixa relaxar sequer um milésimo de segundo por medo de desviar do caminho certo. Tenta seguir fielmente o que acredita ser a vontade divina e gosta de dizer que é por causa disso que nunca namorou, apesar de lá no fundo desconfiar que possa ser por um outro motivo.
ama: crianças, diy, youtube.
odeia: mato, lugares claros demais.
medo: cachorros de grande porte.
comida: mousse de limão, qualquer sabor mais cítrico.
faceclaim: manu rodrigues (atriz).
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