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Fica

Ele se virou levantando uma de suas sobrancelhas, parecia ter ouvido muito bem o que eu disse, mas mesmo assim soltou um:

         - Hum?

         - Eu to com um pouco de medo de ficar sozinha... Você podia ficar... pelo menos até eu dormir... - Eu disse com um pouco de timidez.

Ele fez uma cara de quem estava pensando no assunto, coçou a cabeça e disse:

         - Ta bom, eu já volto.

Quando ele voltou estava com um saco de dormir e travesseiro. Eu achei estranho, pois ao meu lado na cama havia bastante espaço sobrando, mas não era como se eu quisesse me deitar com ele ou algo assim... eu só queria companhia. Ele se arrumou no chão e depois me olhou com aqueles grandes olhos azuis, tudo o que eu pude dizer foi:

        - Boa noite... e obrigada por ficar.

        - De nada... mas não é como se eu tivesse escolha. Preciso ficar de olho em você, você pode ser perigosa - Ele disse e deu risada, eu continuei séria, mesmo achando engraçado - Você não ri nunca?

         - Eu não sei...

         - Ta bom... Boa noite Sun

         - Sun ? ... - Ele fingiu que estava dormindo e não me respondeu mais. E com os olhos deles fechados, eu esbocei um pequeno sorriso. Depois de poucos minutos meus olhos começaram a ficar pesados, meu corpo relaxou e eu consegui cair em um sono profundo.

                                                             ...

      - Estes três pacientes já estão sedados e prontos para os procedimentos - Dizia uma voz fina e irritante.

      - Coloque-os em uma mesa de cirurgia, hayaku! - Disse outra que era um pouco anasalada e igualmente irritante.

O que está acontecendo? Olho para o lado e vejo um tubo na boca de um homem que estaria sugando todo seu interior, tripas, órgãos e muito sangue.

Alguém me pega e joga no mato, junto com mais dois outros corpos. Era difícil me mexer. Mas eu consegui levantar e olhar para aquela coisa enorme de metal, diferente de tudo que eu já vi.  E de repente eu ouço alguém berrando:

       - Aquele tem o prolidimus no organismo, pegue de volta!

E então eu comecei a correr e correr no escuro. E me vinham imagens de seres que mal sei descrever e coisas ruins, como pessoas sem membros, sem olhos… Isso não pode ser real, não pode ser real.

       - AAAH! - Acordei com um grito.

       - O que houve? - Me assustei com a presença daquele homem. Ele estava com uma bandeja em suas mãos.

       - Eu tive um pesadelo.

       - Ah... - Ele pareceu não ligar - Você deve estar com fome, come um pouco - Ele disse e se aproximou com frutas, chá e pão. Eu estava sem fome até ver aquilo, parecia estar delicioso. Depois de comer, ele resolveu olhar meu tornozelo e para nossa surpresa não estava mais inchado e pouco doía.

        - Que estranho, ontem eu achei que seu pé podia estar quebrado, hoje ele está novinho em folha - Ele disse - Seria bom ir no médico mesmo assim, afinal você parece ter perdido a memória de curto prazo, não sabe me dizer nem seu nome e também nem tentou ligar para nenhum parente.

      - Eu não quero ir no médico - Aquele sonho havia me deixado com medo de hospitais e seus tubos, seringas e mesas de cirurgia.

      - Então me diz, o que eu faço com você? - Disse fixando seus olhos nos meus.

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