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V.Ferreira
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Entre crises de ansiedade e crises de calma, vou escrevendo...
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vcferreira · 4 years ago
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Uma enfermidade invisível, vários distanciamentos...
O nascimento desse desabafo se inicia no terceiro mês de quarentena. Os mais ousados ou tolos (cada qual com sua opinião) fizeram certamente suas próprias festas pois estavamos em Junho,mês de São João.Outras viriam. Provavelmente manterei minha rotina de isolamento até que a ansiedade não permita mais manter a postura (e me manter de pé). Muitos dias tem sido difíceis até pra quem gosta de um período curto de ócio.O que me confirma é que o problema assola o mundo e não se trata só de mim,meu vizinho,amigo, mãe,namorado,todos estão enfrentando uma pandemia.Alguns optam por viver como se não tivesse acontecendo. A maioria das pessoas em suas conversas informais dirão:Ah, mas aqui é Brasil!As pessoas não tem educação e não se importam,outras dirão que a pandemia não existe baseado em alguma crença ou por não aceitar essa ruptura na rotina e suas consequências. Nao importa quem seja julgador ou negacionista, ninguém quer colocar mais um problema na lista de gatilhos mentais,motores da sua própria depressão, ansiedade, angústia ou pânico.Particularmente digo que tem um pouco de sanidade evitaria ir a todo custo ir a um hospital,mas não é sobre uma pandemia viral visivel que eu tratarei nesse texto.
Junto a essa pandemia, se proliferam várias outras existentes. Posso dizer que as portas delas se escancaram.Historicas distorções que nunca foram superadas: Escandalos políticos,racismo estrutural,desigualdades sociais assolam o mundo. Se engana quem pensar que os tempos de "paz" suprimem a disposição humana para a violência. Ela.esta presente sempre de formas veladas. O preço da liberdade não baixou,pode ser subsidiado por um período e depois volta a custar o dobro do valor inicial.Ate a liberdade que conhecemos é comprada.Basta refletir sobre uma situação hipotética:O que aconteceria se eu saísse pelo mundo a pé com uma mochila sem nenhum dinheiro.E provável que sobreviveria mas não teria dignidade. Chegaria a fome mas não teria um pé de fruta disponível no caminho,teria sede mas não teria água potável disponível.Loteamos e dividimos o mundo como s e fosse nosso, porém nada temos. Essa pandemia é a prova. Uma pandemia que escancarou outras doenças já existentes.
O cenário é Recife. Se eu andar pelas ruas de Recife, um hobby antigo,verei a tranquilidade física provocada pela quarentena,todavia, é uma tranquilidade enganosa. As residências tornaram-se panelas de pressão de pessoas e suas tensões.Alguns ainda resistem pois não tem escolha:O que fará o ambulante que não conseguiu o auxílio emergencial? Terá que continuar trabalhando e se expondo à mesma opressão a qual está habituado por causa da informalidade do seu trabalho. Ora, o filho do ambulante não sente fome com a mesma frequência do filho do governador do estado?
Ainda andando pela Recife percebemos os contrastes. O bairro de São José,abriga um mercado popular, o Cais de Santa Rita de,as "torres gêmeas" nas proximidades um novo complexo de favelas na avenida Sul. Poderia fazer ressalva a diversidade cultural e a popularidade do Mercado São José mas o contexto exige falar de outro ponto:As torres gêmeas, símbolo do fascismo construída sobre a polêmica.Chamo-a de símbolo do fascismo pelo pesar de sua própria história,breve mais polêmica:Edifício de luxo construído a contragosto da população,(alguém lembra do movimento "ocupe Estelita"?)em meio a uma série de acordos entre as elites políticas decididos em um ou dois almoços.uma ofensa da elite política aos anseios do povo e ao patrimônio histórico que almejava a revitalização daquela área.Qirm não lembra do #OcupeEstelita que representou a luta pela não usurpação daquela área pela mesma elite que deseja fazer outros Edifícios iguais naquele espaço? Talvez a militância do nosso tempo não pareça tão forte e corajosa quanto àquela que restabeleceu a democracia mas é a que temos Igual ou mais corajosa pois resiste diante de tantos que se omitem ou preferem se esconder nas redes. Talveis os resultados sejam passageiros mas estão durando.
Palco da corrupção política,aquele edifício abriga malas de dinheiro com direito a uns maços jogados pela janela,contrabando chinês a agora carrega a morte de uma criança pelo racismo estrutural. Duas vezes que a pressão da hipocrisia rompe e cai da janela. A primeira quantias de dinheiro ilegal jogadas pela janela para eliminação de provas da corrupção e evitar o iminente flagrante pela Polícia Federal.A segunda, a queda do menino Miguel de 5 anos,morto pela negligência e pelo Racismo estrutural de uma pessoa que podia simplesmente pegar uma criança pela mão e colocar um limite na travessura.
Sobre esse edifício,podemos pensar em várias questões:Foi construído com parte do dinheiro público, conseguinte de acordo entre a construtora e as autoridades, é simples imaginar a situação na qual numa situação hipotética e am mesmo tempo real, vereadores,prefeitos, governador ,deputados estaduais e grandes empresários e suas famílias promovem um jantar no restaurante da ilha do retiro,fazem um brinde com vinhos importados,pratos gourmet que custam R$ 200 cada e em suas conversas decidem decisões que impactam a vida da.maioria da população.O marisco do caldo servido de entrada e a lagosta do prato principal do senhor governador foram pescados por Tião,pescador que mora na palafita do Pina e que certamente não jantou lagosta, aliás Tião não jantou.A pesca de Tião foi ruim nesse dia pois a oferta de frutos do mar diminuiu com a construção da Via Mangue. Assim que chegou em casa,discutiu com Dona Mara,sua mulher,pois a garrafa de pinga está cheia e a dispensa vazia.Na verdade Dona Mara não pode trabalhar pois tem sequelas da filariose nas pernas e agora está com os três filhos em casa pois as aulas nas creches e escolas foram suspensas. Agora ela precisa garantir a refeição dos filhos que antes a creche garantia,e a dela própria. Dona Mara ainda aguarda a aprovação do auxílio emergencial e o kit limpeza e higiene distribuídos nas escolas. Nesse dia as crianças jantaram mas ela e Tião mataram a fome com a pinga.Antes de fazer julgamentos mentais,lembre-se que os vícios e o ópio estão em todos os meio e que não adianta julgar pela qualidade do produto.Toda classe tem seu ópio.Enquanto isso o senhor governador saboreia sua lagosta que o restaurante adquiriu por poucos reais à cooperativa de pescadores a qual Tião presta serviço.O senhor governador nunca soube do valor do prato, pago com o cartão corporativo, portanto pago por Tião.
Boa leitura 👍
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